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CAPOEIRA

A capoeira é uma expressão cultural brasileira que compreende os


elementos: arte-marcial, esporte, cultura popular, dança e música.
Ela constrói relações de sociabilidade e familiaridade entre mestres e
discípulos, sendo difundida de modo oral e gestual nas ruas e academias.
A capoeira foi criada no século XVII pelo povo escravizado da etnia banto
e se difundiu por todo o Brasil. Hoje é considerada um dos maiores símbolos da
cultura brasileira.
Características da Capoeira
 acompanhamento de música: berimbau, canto e palmas;
 formação em roda: roda de capoeira;
 graduação do capoeirista feita por cordas de cores diferentes atadas na
cintura.

Uma característica que distingue a capoeira de outras lutas é o fato de a


mesma ser acompanhada por música.
É a música que decide o ritmo e o estilo do jogo, que é praticado no
decorrer da roda de capoeira, um círculo de pessoas onde a capoeira é jogada.
Assim, os capoeiristas se alinham na roda de capoeira batendo palmas no
ritmo do berimbau enquanto cantam para os dois praticantes jogarem.
O berimbau é um instrumento musical de corda feito de madeira, bambu,
arame e uma cabaça.
O jogo pode terminar ao comando do capoeirista no berimbau (normalmente um
capoeirista mais experiente), ou com o início de um novo combate entre uma nova
dupla.
A música, por sua vez, é composta de instrumentos e canções, onde o ritmo
varia de acordo com o 'toque de capoeira', que varia de lento (Angola) ao
bastante acelerado.
Nos grupos de capoeira regional ou de capoeira angola, a graduação é
simulada pelas cores de cordas atados na cintura do jogador.
Golpes de Capoeira
A capoeira é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e intricados.
Utiliza principalmente de movimentos feitos junto ao chão ou de cabeça para
baixo.
Os golpes mais comuns são:
 chutes;  joelhadas;
 rasteiras;  cotoveladas;
 cabeçadas;  acrobacias em solo ou aéreas.

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Portanto, a capoeira é uma luta de defesa e ataque em que os oponentes
utilizam, sobretudo, os pés e a cabeça.
Tipos de Capoeira
Os dois principais tipos de capoeira são Angola e Regional.
Capoeira Angola
A Angola é o estilo original praticado pelos escravos. Essa maneira de
jogar capoeira é caracterizada por ser mais lenta, composta de movimentos
furtivos e executados de modo rasteiro.
O componente básico desse estilo é a malícia. Essa “malandragem”
consiste em simular movimentos que sirvam de engodo ao oponente em combate.
Capoeira Regional
A capoeira Regional é o estilo contemporâneo de capoeira. Ela possui
atributos de outras artes-marciais em sua prática.
Esse estilo foi criado pelo Mestre Bimba e difundiu-se rapidamente pelo
mundo. Isso contribuiu para melhorar a imagem do capoeirista ao mesmo tempo que
favoreceu o aumento de seus adeptos.
Origem e História da Capoeira
A palavra capoeira significa "o que foi mata", por meio da conexão dos
termos ka'a ("mata") e pûer ("que foi"). Alude às áreas de mata rasa do interior
do Brasil, onde era feita a agricultura indígena.
Tem origem com os fugitivos da escravidão, os quais utilizavam
frequentemente a vegetação rasteira para fugirem do encalço dos capitães-do-mato.
Esses foram os primeiros capoeiristas.
Mais adiante, ainda no período colonial, os negros irão disfarçar a
capoeira introduzindo-lhe mímicas, danças e músicas. Tudo isso servia para
resistir à repressão da Polícia Imperial e da Milícia Republicana.

Negros lutando (1824), de Augustus Earle. Aquarela

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A capoeira foi uma prática proibida no Brasil até 1930, quando passa a ser
reconhecida como um símbolo da identidade brasileira. Em 2014, a Roda de Capoeira
foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Curiosidades sobre a Capoeira: Você Sabia?
 Um capoeirista experimentado que ignora a musicalidade é considerado
incompleto. Ele deve ser capaz de tocar os instrumentos típicos, cantar e
aplaudir durante o jogo de capoeira.
 Outras demonstrações culturais, como o maculelê e o samba de roda, são
muito associadas à capoeira, embora tenham ascendência e significados
distintos.
Música de Capoeira
Que navio é esse
que chegou agora
é o navio negreiro
com os escravos de Angola
vem gente de Cambinda
Benguela e Luanda
eles vinham acorrentados
pra trabalhar nessas bandas
Que navio é esse
que chegou agora
é o navio negreiro
com os escravos de Angola
aqui chegando não perderam a sua fé
criaram o samba
a capoeira e o candomblé
Que navio é esse
que chegou agora
é o navio negreiro
com os escravos de Angola
acorrentados no porão do navio
muitos morreram de banzo e de frio

Capoeira
A capoeira ou capoeiragem é uma expressão cultural afro-brasileira que
mistura arte marcial, esporte, cultura popular, dança e música. Desenvolvida
no Brasil por descendentes de escravos africanos, é caracterizada por golpes e
movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além
de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas. Uma
característica que distingue a capoeira da maioria das outras artes marciais é a
sua musicalidade. Praticantes desta arte marcial brasileira aprendem não apenas a
lutar e a jogar, mas também a tocar os instrumentos típicos e a cantar. Um
capoeirista que ignora a musicalidade é considerado incompleto.
Considera-se que a capoeira tenha surgido em fins do século
XVI no Quilombo dos Palmares, situado na então Capitania de Pernambuco.

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A Roda de Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN no ano
de 2008, com base em inventário realizado nos estados da Bahia, de Pernambuco e
do Rio de Janeiro. E em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
A capoeira praticada na atualidade possui duas grandes vertentes:
a angola, que apresenta movimentos mais rasteiros e teve como principal expoente
o mestre Pastinha; e a regional, que possui movimentos mais aéreos e teve como
principal expoente o mestre Bimba. Esta última foi criada em Salvador, cidade
onde foi fundada a primeira academia de capoeira do Brasil, em 1937.

Etimologia
O lexicógrafo Antônio Geraldo da Cunha aponta como origem provável o termo
homónimo capoeira, em uso em data anterior a 1583, significando tanto
o galinheiro, como os cestos onde os capões e outras aves domésticas eram
transportados para venda em mercados e porta a porta, tarefa muitas vezes
executada por escravos antes da abolição da escravatura. Escravos bantos levados
de Angola para o Brasil trouxeram com eles um tipo caraterístico de luta
corporal, ainda nos tempos coloniais, com a qual se entretinham nos intervalos do
trabalho nos mercados para onde transportavam as capoeiras, chamando a atenção
dos assistentes, pela graça e beleza das exibições. O termo acabou ganhando
igualmente uso pejorativo, documentado já em 1824, significando vadio, malandro
ou malfeitor, caraterísticas que se atribuíam aos indivíduos destros nesse tipo
de luta. O termo capoeira, por sua vez, é uma variação de capão, significando
o galo castrado, derivado do latim vulgar cappare, castrar, deduzido
secundariamente por cappõ-õnis.
Outra vertente sustenta que o termo é oriundo do tupi-guarani, derivando
da palavra kapu'era.

História
Origem
A partir do século XVI, Portugal começou a enviar escravos para o Brasil,
provenientes primariamente da África Ocidental. Os povos mais frequentemente
vendidos no Brasil faziam parte dos povos iorubá, jeje e hauçá e do
grupo banto (incluindo os congos, os quimbundos e os Kasanjes), provenientes dos
territórios localizados atualmente em Angola e Congo.
No século XVII, era costume dos povos pastores do sul da atual Angola,
na África, comemorar a iniciação dos jovens à vida adulta com uma cerimônia
chamada n'golo (que significa "zebra" em quimbundo). Durante a cerimônia, os
homens competiam numa luta animada pelo toque de atabaques em que ganhava quem
conseguisse encostar o pé na cabeça do adversário.O vencedor tinha o direito de
escolher, sem ter de pagar o dote, uma noiva entre as jovens que estavam sendo
iniciadas à vida adulta. Com a chegada dos portugueses e a escravização dos povos
africanos, esta luta foi introduzida no Brasil.
É proposto que a capoeira surgiu na época colonial do Brasil, por
aculturação como uma saída para expressar desejos para a liberdade da raça negra
e pela necessidade de se defender de senhores inimigos. Este povo, na grande

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parte, era desarmado e usavam seus próprios corpos como seu método de combate,
aproveitando-se as danças, cantigas e movimentos manifestados por culturas
africanas ao mesmo tempo.

"Jogar Capoeira" ou Danse de la Guerre, de Johann Moritz Rugendas, de 1835


A capoeira ainda é motivo de controvérsia entre os estudiosos de sua
história, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu
surgimento e o início do século XIX, quando aparecem os primeiros registros
confiáveis com descrições sobre sua prática.
Debate do origem da capoeira
A capoeira ainda é um motivo de controvérsia entre os estudiosos de sua
história e sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu
surgimento e o início do século XIX, quando aparecem os primeiros registros
confiáveis com descrições sobre sua prática. Por isso, a origem da capoeira está
em debate se a capoeira começou inicialmente na África ou nasceu no Brasil.
Alguns pensam que a capoeira já existia como uma forma de dança ritualística
na Angola, trazida ao Brasil durante o comércio de escravos. Enquanto outros
consideram que a capoeira tenha surgido em fins do século XVI no Quilombo dos
Palmares, situado na entãoCapitania de Pernambuco.
Nos quilombos
Não tardou para que grupos de escravos fugitivos começassem a estabelecer
assentamentos em áreas remotas da colônia, conhecidos como quilombos.
Inicialmente assentamentos simples, alguns quilombos evoluíam atraindo mais
escravos fugitivos, indígenas ou até mesmo europeus que fugiam da lei ou da
repressão religiosa católica, até tornarem-se verdadeiros estados multiétnicos
independentes. A vida nos quilombos oferecia liberdade e a oportunidade do
resgate das culturas perdidas à causa da opressão colonial. Neste tipo de
comunidade formada por diversas etnias, constantemente ameaçada pelas invasões
portuguesas, a capoeira passou de uma ferramenta para a sobrevivência individual
a uma arte marcial com escopo militar.
O maior dos quilombos, o Quilombo dos Palmares, resistiu por mais de cem
anos aos ataques das tropas coloniais. Mesmo possuindo material bélico muito
aquém dos utilizados pelas tropas coloniais e, geralmente, combatendo em menor
número, resistiram a pelo menos 24 ataques de grupos com até 3 000 integrantes
comandados por capitães do mato. Foram necessários dezoito grandes ataques de
tropas militares do governo colonial para derrotar os quilombolas. Soldados
portugueses relataram ser necessário mais de um dragão (militar) para capturar
um quilombola, porque se defendiam com estranha técnica de ginga e luta. O

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governador-geral da Capitania de Pernambuco declarou ser mais difícil derrotar os
quilombolas do que os invasores holandeses.
A urbanização
Com a transferência do então príncipe regente dom João VI e de toda a
corte portuguesa para o Brasil em 1808, devido à invasão de Portugal por tropas
napoleônicas, a colônia deixou de ser uma mera fonte de produtos primários e
começou finalmente a se desenvolver como nação. Com a subsequente abertura dos
portos a todas as nações amigas, o monopólio português do comércio colonial
efetivamente terminou. As cidades cresceram em importância e os brasileiros
finalmente receberam permissões para fabricar no Brasil produtos antes
importados, como o vidro.
Já existiam registros da prática da capoeira nas cidades de Salvador, Rio
de Janeiro e Recife desde o século XVIII, mas o grande aumento do número de
escravos urbanos e da própria vida social nas cidades brasileiras deu à capoeira
maior facilidade de difusão e maior notoriedade. No Rio de Janeiro, as aventuras
dos capoeiristas eram de tal jeito que o governo, através da portarias como a
de 31 de outubro de 1821, estabeleceu castigos corporais severos e outras medidas
de repressão à prática de capoeira.
Libertação dos escravos e proibição
No fim do século XIX, a escravidão no Brasil era basicamente impraticável
por diversos motivos, entre eles o sempre crescente número das fugas dos escravos
e os incessantes ataques das milícias quilombolas às propriedades escravocratas.
O império Brasileiro tentou amenizar os diversos problemas com medidas como a lei
dos Sexagenários e a lei do Ventre Livre, mas o Brasil inevitavelmente
reconheceria o fim da escravidão em 13 de maio de 1888 com a lei Áurea,
sancionada pelo parlamento e assinada pela princesa Isabel.
Livres, os negros viram-se abandonados à própria sorte. Em sua grande
maioria, não tinham onde viver, onde trabalhar e eram desprezados pela sociedade,
que os via como vagabundos. O aumento da oferta de mão de obra europeia e
asiática do período diminuía ainda mais as oportunidades e logo grande parte dos
negros foi marginalizada e, naturalmente, com eles a capoeira.
Foi inevitável que diversos capoeiristas começassem a utilizar suas
habilidades de formas pouco convencionais. Muitos começaram a utilizar a capoeira
como guardas de corpo, mercenários, assassinos de aluguel, capangas. Grupos de
capoeiristas conhecidos como maltas aterrorizavam o Rio de Janeiro. Em pouco
tempo, mais especificamente em 1890, a República Brasileira decretou a proibição
da capoeira em todo o território nacional, vista a situação caótica da capital
brasileira e a notável vantagem que um capoeirista levava no confronto corporal
contra um policial. Código Penal da República, adapto pelo estado brasileiro em
1890, considerou a capoeira ilegal debaixo o artigo 402 que disse que uma pessoa
vista participando da capoeira pode pegar de dois a seis anos de prisão. Devido à
proibição, qualquer cidadão apanhado praticando capoeira era preso, torturado e
muitas vezes mutilado pela polícia.
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza
corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em correrias, com armas ou
instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordem,

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ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal. Pena: de
prisão celular por dois a seis meses. Parágrafo único. É considerada
circunstância agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes
ou cabeças, se imporá a pena em dobro.
— Código Penal dos Estados Unidos do Brasil
Getúlio Vargas tomou o poder na década de 1930, depondo o presidente
Washington Luis, e posteriormente proibiu a prática da capoeira, permitindo-a
apenas dentro e com licença policial. Isso mostra as grandes mudanças nas
concessões sociais da Capoeira. A capoeira, após um breve período de liberdade,
via-se mais uma vez malvista e perseguida. Expressões culturais como a roda de
capoeira eram praticadas em locais afastados ou escondidos e, geralmente, os
capoeiristas deixavam alguém de sentinela para avisar de uma eventual chegada da
polícia.
A luta regional baiana
Em 1932, um período em que a perseguição à capoeira já não era tão
acentuada, mestre Bimba, exímio lutador no ringue e em lutas de rua ilegais,
fundou em Salvador a primeira academia de capoeira da história. Bimba, ao
analisar o modo como diversos capoeiristas utilizavam suas habilidades para
impressionar turistas, acreditava que a capoeira estaria perdendo sua eficiência
como arte marcial. Dessa forma, Bimba, com auxílio de seu aluno José Cisnando
Lima, enxugou a capoeira, tornando-a mais eficiente para o combate e inseriu
alguns movimentos de outras artes marciais, como o batuque. Mestre Bimba também
desenvolveu um dos primeiros métodos de treinamento sistemático para a capoeira.
Como a palavra capoeira ainda era proibida pelo código Penal, Bimba chamou seu
novo estilo de Luta Regional Baiana.
Em 1937, Bimba fundou o centro de Cultura Física e Luta Regional, com
alvará da secretaria da Educação, Saúde e Assistência de Salvador. Seu trabalho
obteve aceitação social, passando a ensinar para as elites econômicas, políticas,
militares e universitárias. Finalmente, em 1940, a capoeira saiu do código Penal
brasileiro e deixou definitivamente a ilegalidade. Começou, então, um longo
processo de desmarginalização da capoeira.
Em pouco tempo a notoriedade da capoeira de Bimba demonstrou ser um
incômodo aos capoeiristas tradicionais, que perdiam espaço e continuavam a ser
malvistos. Esta situação desigual começou a mudar com a inauguração do Centro
Esportivo de Capoeira Angola, em 1941, por mestre Pastinha. Localizado
no Pelourinho, em Salvador, o centro atraía diversos capoeiristas que preferiam
manter a capoeira em sua forma mais original possível. Em breve, a notoriedade do
centro cunhou em definitivo o termo "capoeira angola" como nome do estilo
tradicional de capoeira. O termo não era novo, sendo, já na época do império, a
prática da capoeira apelidada, em alguns locais, de "brincar de angola" e
diversos outros mestres que não seguiam a linha de Pastinha acabaram adotando-o.
Atualmente
Hoje em dia, a capoeira se tornou não apenas uma arte ou um aspecto
cultural, mas uma verdadeira exportadora da cultura brasileira para o exterior.
Presente em dezenas de países em todos os continentes, todo ano a capoeira atrai
ao Brasil milhares de alunos estrangeiros e, frequentemente, capoeiristas

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estrangeiros se esforçam em aprender a língua portuguesa em um esforço para
melhor se envolver com a arte. Mestres e contra-mestres respeitados são
constantemente convidados a dar aulas especiais no exterior ou até mesmo a
estabelecer seu próprio grupo. Apresentações de capoeira, geralmente
administradas em forma de espetáculo, acrobáticas e com pouca marcialidade, são
realizadas no mundo inteiro.
O aspecto marcial ainda se faz muito presente e, como nos tempos antigos,
ainda é sutil e disfarçado. A malandragem é sempre presente, capoeiristas
experientes raramente tiram os olhos de seus oponentes em um jogo de capoeira, já
que uma queda pode chegar disfarçada até mesmo em um gesto amigável. Símbolo da
cultura afro-brasileira, símbolo da miscigenação de etnias, símbolo de
resistência à opressão, a capoeira mudou definitivamente sua imagem e se tornou
fonte de orgulho para o povo brasileiro. Atualmente, é considerada patrimônio
Cultural Imaterial do Brasil.

Roda de capoeira
A roda de capoeira é um círculo de capoeiristas com uma bateria musical em
que a capoeira é jogada, tocada e cantada. A roda serve tanto para o jogo,
divertimento e espetáculo, quanto para que capoeiristas possam aplicar o que
aprenderam durante o treinamento. Os capoeiristas se perfilam na roda de capoeira
cantando e batendo palmas no ritmo do berimbau enquanto dois capoeiristas jogam
capoeira. O jogo entre dois capoeiristas pode terminar ao comando do tocador de
berimbau ou quando algum outro capoeirista da roda "compra o jogo", ou seja,
entra entre os dois e inicia um novo jogo com um deles.
Em geral, o objetivo do jogo da capoeira não é o nocaute ou destruir o
oponente. O maior objetivo do capoeirista ao entrar em uma roda é a queda, ou
seja, derrubar o oponente sem ser golpeado, preferencialmente com uma rasteira.
Na maioria das vezes, entre o jogo de um capoeirista mais experiente e um novato,
o capoeirista experiente prefere mostrar sua superioridade "marcando" o golpe no
oponente, ou seja, freando o golpe um instante antes de completá-lo. Entre dois
capoeiristas experientes, o jogo poderá ser muito mais agressivo e as
consequências mais graves.
A ginga é o movimento básico da capoeira, mas além da ginga, também são
muito comuns os chutes em rotação, rasteiras, floreios (como o aú ou a
bananeira), golpes com as mãos, cabeçadas, esquivas, acrobacias (como o salto
mortal), giros apoiados nas mãos ou na cabeça e movimentos de grande
elasticidade.

 

Roda de capoeira
Roda de capoeira

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 

roda de capoeira roda de capoeira

O batizado
O batizado é uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos
recebem sua primeira corda e demais alunos podem passar para graduações
superiores. Em algumas ocasiões, podem-se ver formados e professores recebendo
graduações avançadas, momento considerado honroso para o capoeirista. O batizado
parte ao comando do capoeirista mais graduado do grupo, seja ele mestre,
contramestre ou professor. Os alunos jogam com um capoeirista formado e devem
tentar se defender. Normalmente, o jogo termina com a queda do aluno, momento em
que é considerado batizado, mas o capoeirista formado pode julgar a queda
desnecessária. No caso de alunos mais avançados, o jogo poderá ser com mais de um
formado, ou até mesmo com todos os formados presentes, para as graduações
avançadas.
O apelido
Tradicionalmente, o batizado seria o momento em que o capoeirista recebe
ou oficializa seu apelido, ou nome de capoeira. A maioria dos capoeiristas passa
a ser conhecida na comunidade mais pelos seus respectivos apelidos do que por
seus próprios nomes. Apelidos podem surgir de inúmeros motivos, como uma
característica física, uma particular habilidade ou dificuldade, uma ironia, a
cidade de origem, entre outros.
O costume do apelido surgiu na época em que a capoeira era ilegal.
Capoeiristas evitavam dizer seus nomes para evitar problemas com a polícia e se
apresentavam a outros capoeiristas ou nas rodas pelos seus apelidos. Dessa forma,
um capoeirista não poderia revelar os nomes dos seus companheiros à polícia,
mesmo que fosse preso e torturado. Hoje em dia, o apelido continua uma forte
tradição na capoeira, apesar de não ser mais necessário.
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
Em 24 de novembro de 2014, durante a 9ª Sessão do Comitê
Intergovernamental para a Salvaguarda, que é realizada na sede da Unesco,
em Paris, teve a inscrição para recebimento do título aprovada. Em 26 de
novembro, a Unesco declara que a Roda de Capoeira é Patrimônio Cultural Imaterial
da Humanidade.

Música

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O berimbau foi introduzido à roda de capoeira no século XX. Antes, a
prática era acompanhada apenas por palmas e toques de tambores.
A música é um componente fundamental da capoeira. Foi introduzida como
forma de ludibriar os escravizadores, fazendo-os acreditar que os escravos
estavam dançando e cantando, quando na verdade estavam desenvolvendo e treinando
uma arte marcial para se defenderem. Componente fundamental de uma roda de
capoeira, ela determina o ritmo e o estilo do jogo que é jogado. A música é
criada pela bateria e pelo canto (solista ou em coro), geralmente acompanhados de
um bater de palmas.
A bateria é, tradicionalmente, composta por três berimbaus,
dois pandeiros e um atabaque, mas o formato pode variar excluindo-se ou
incluindo-se algum instrumento, como o agogô e o ganzuá. Um dos berimbaus define
o ritmo e o jogo de capoeira a ser desenvolvido na roda. Desta maneira, é a
música que comanda a roda de capoeira, não só no ritmo mas também no conteúdo.
Canções
As canções de capoeira são divididas em partes solistas e respostas do
coro, formado por todos os demais capoeiristas presentes na roda. Dependendo do
seu conteúdo, podem ser classificadas como ladainhas, chulas, corridos ou
quadras. A ladainha ou lamento é utilizada unicamente no início da roda de
capoeira. É parte do longo grito "iê", seguido de uma narrativa solista cantada
em tom solene. Geralmente, é cantada pelo capoeirista mais respeitado ou graduado
da roda. Neste momento, não existe jogo, não se bate palmas e alguns instrumentos
não são tocados. A narrativa é seguida pelas homenagens tradicionais feitas pelo
solista (a Deus, ao seu mestre, a quem o ensinou e mais qualquer personagem
importante ou fator relevante à capoeira, como a malandragem), respondidas
intercaladamente pela louvação do coro e pelo início das palmas e dos
instrumentos complementares. O jogo de capoeira somente pode iniciar após o fim
da ladainha.
A chula é um canto em que a parte solista é muito mais longa do que a
resposta do coro. Enquanto o solista canta dez, doze, ou até mais versos, o coro
responde com apenas dois ou quatro versos. A chula pode ser cantada em qualquer
momento da roda. Ocorrido, forma musical mais comum da roda de capoeira, é um
canto onde a parte solista e a resposta do coro são equivalentes, em alguns casos
o número de versos do coro superando os versos solistas. Pode ser cantado em
qualquer momento da roda e seus versos podem ser modificados e improvisados

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durante o jogo para refletir o que está acontecendo durante a roda, ou para
passar algum aviso a um dos demais capoeiristas.
A quadra é composta de um mesmo verso repetido quatro vezes, seja três
versos solistas e uma resposta do coro, seja a parte solista e a resposta
intercalada. Pode ser cantada em qualquer momento da roda. As canções de capoeira
têm assuntos dos mais variados. Algumas canções são sobre histórias de
capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano da comunidade. Algumas
canções comentam o que está acontecendo durante a roda de capoeira, outras
divagam sobre a vida ou um amor perdido. Outras ainda são alegres e falam de
coisas tolas, cantadas apenas por diversão. Basicamente não existem regras e
alunos são encorajados a criar suas próprias canções.
Os capoeiristas mudam as canções frequentemente de acordo com o que ocorre
na roda ou fora dela. Um bom exemplo é quando um capoeirista novato demonstra
notável habilidade durante o jogo e o solista canta o verso "e o menino é bom",
seguido pelo coro com o verso "bate palma pra ele". A letra da música é
constantemente usada para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria
das vezes de maneira velada e sutil.
Toques de capoeira
O toque de capoeira é o ritmo tocado pelos berimbaus, seguidos pelos
demais instrumentos. Podem ser executados desde bem lentamente (como no toque de
Angola), induzindo a um jogo mais lento e estratégico, até bastante acelerados
(como em São Bento Grande), induzindo a um jogo rápido, ágil e acrobático. Podem
também ter outros significados que vão além do jogo ou comandar uma roda
restrita, como o toque de Iúna.

Berimbaus. Da esquerda para direita: viola, médio e gunga ou berra-boi


Em uma roda de capoeira, a forma mais usual é iniciar com o toque de
Angola e subir o ritmo gradualmente, encerrando com o toque São Bento Grande em
alta velocidade. Contudo não existem regras, uma roda pode manter sempre o mesmo
toque ou mesmo inverter, começando de modo acelerado e terminando de modo lento.
Alguns dos toques mais comumente utilizados:

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 Toque de Angola  São Bento Grande da  Samango
 São Bento Pequeno Regional  Benguela
 São Bento Grande de  Iúna  Amazonas
Angola  Cavalaria

 Idalina

A dança e a capoeira
Devido a sua origem e história, existiu sempre a necessidade de se
esconder ou disfarçar o aprendizado e a prática da capoeira. Na época
da escravidão, era um risco enorme aos senhores de engenho possuir escravos
hábeis em uma arte-marcial. Para evitar represálias por parte de seus senhores,
os escravos praticavam enquanto seus companheiros cantavam e batiam palmas. Os
golpes e esquivas eram praticados durante uma falsa dança que seria o embrião da
atual ginga.
Da falsa dança da época dos engenhos de açúcar até os tempos mais atuais,
a ginga evoluiu até se tornar uma estratégia de combate, cujo objetivo principal
é não oferecer ao oponente um alvo fixo. Mesmo hoje em dia, a maioria dos leigos
à primeira vista acredita tratar-se da capoeira de uma coreografia, ou de uma
dança acrobática. Outras manifestações culturais como o batuque, o maculelê,
a puxada de rede e o samba de roda são danças fortemente ligadas à capoeira, por
também terem nascido da mesma cultura.

Estilos
Falar sobre estilos na capoeira é um argumento difícil, visto que nunca
existiu uma unidade na capoeira original, ou um método de ensino antes da década
de 1920. De qualquer forma, a divisão entre dois estilos e um sub-estilo é
amplamente aceita.
Angola
A capoeira Angola refere-se a toda a capoeira que mantém as tradições da
época anterior à da criação do estilo Regional. Em outras palavras, é a capoeira
mais tradicional. Existindo em diversas áreas do país desde tempos mais remotos,
notadamente no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife, é impossível precisar
onde e quando a capoeira Angola começou a tomar sua forma atual.
O nome "Angola" já começa a aparecer com os negros que vinham para o
Brasil oriundos da África, embarcados no Porto de Luanda, que, independente de
sua origem, eram designados na chegada ao Brasil de "negros de Angola". Em alguns
locais, a população se referia ao jogo de capoeira como "brincar de Angola" e, de
acordo com Mestre Noronha, o "Centro de Capoeira Angola Conceição da Praia",
criado pela nata da capoeiragem baiana, já utilizava ilegalmente o nome "capoeira
Angola" no início da década de 1920.
O nome "Angola" foi finalmente imortalizado por Mestre Pastinha, ao
inaugurar em 23 de fevereiro de 1941 o "Centro Esportivo de capoeira Angola"
(CECA). Pastinha foi conhecido como grande defensor da "capoeira tradicional",
prestigiadíssimo por capoeiristas de renome como Mestre João Grande e Mestre

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Moraes. Com o tempo, diversos outros grupos de "capoeira tradicional" passaram a
adotar o nome Angola para seus estilos.
A Angola é o estilo mais próximo de como os escravos lutavam ou jogavam
capoeira. Caracterizada por ser estratégica, com movimentos furtivos executados
perto do solo ou em pé dependendo da situação a enfrentar, ela enfatiza as
tradições da malícia, da malandragem e da imprevisibilidade da capoeira original.
Alguns angoleiros afirmam que seu domínio é muito complicado, envolvendo não só a
parte mecânica do jogo mas também características como sutileza, o subterfúgio, a
dissimulação, a teatralização, a mandinga ou mesmo a brincadeira para superar o
oponente. A bateria típica em uma roda de capoeira Angola é composta por
três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um agogô e um ganzuá.
Regional
A capoeira regional começou a nascer na década de 1920, durante o encontro
do mestre mestre Bimba com seu futuro aluno, José Cisnando Lima. Ambos
acreditavam que a capoeira estaria perdendo seu valor marcial e chegaram à
conclusão de que uma reestruturação era necessária. Bimba criou,
então, sequências de ensino e metodologias para o ensino de capoeira. Aconselhado
por Cisnando, Bimba chamou sua capoeira de Luta Regional Baiana, visto que a
capoeira ainda era ilegal na época.
A base da "capoeira regional" é a capoeira tradicional mais enxuta, com
menos subterfúgios e maior objetividade. O treinamento era mais focado no ataque
e no contra-ataque, com muita importância para a precisão e a disciplina. Bimba
também incorporou alguns golpes de outras artes marciais, notadamente o batuque,
antiga luta de rua praticada por seu pai. O uso de acrobacias e saltos era
mínimo: um dos fundamentos era sempre manter ao menos uma base de apoio. Como
dizia Mestre Bimba, "o chão é amigo do capoeirista". A capoeira regional também
introduziu, na capoeira, o conceito de graduações. Na academia de mestre Bimba,
existiam três níveis hierárquicos: calouro, formado e formado especializado. As
graduações eram determinadas por um lenço amarrado na cintura.
As tradições da roda e do jogo de capoeira foram mantidas, servindo para a
aplicação das técnicas aprendidas em aula. A bateria, contudo, foi modificada,
sendo composta por um único berimbau e dois pandeiros. Uma das maiores honras
para um discípulo era a permissão para jogar iúna. O jogo de iúna tinha a função
simbólica de promover a demarcação do grupo dos formados para o grupo dos
calouros. A única peculiaridade técnica do jogo de iúna em relação aos jogos
realizados em outros momentos da roda de capoeira era a obrigatoriedade da
aplicação de um golpe pré-estabelecido no desenrolar do jogo. O jogo também
destacava-se pela maior habilidade dos capoeiristas que o executavam. O jogo de
iúna era praticado apenas ao som do berimbau, sem palmas ou outros instrumentos,
o que reforçava seu caráter solene. Ao final de cada jogo, todos os participantes
aplaudiam os capoeiristas que saíam da roda.
A luta regional baiana tornou-se rapidamente popular, levando a capoeira
ao grande público e finalmente mudando a imagem do capoeirista, tido no Brasil
até então como um marginal. Das muitas apresentações que mestre Bimba fez com seu
grupo, talvez a mais conhecida tenha sido a ocorrida em 1953 para o então
presidente da república Getúlio Vargas, ocasião em que teria ouvido do
presidente: "A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional".

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Capoeira contemporânea
A partir da década de 1970 um estilo misto começou a adquirir notoriedade,
com alguns grupos unindo os fatores que consideravam mais importantes
da Regional e da Angola. Notadamente mais acrobático, este estilo misto é visto
por alguns como a evolução natural da capoeira, por outros como descaracterização
ou até mesmo má-interpretação das tradições capoeiristas. Com o tempo, toda
capoeira que não seguia as linhas da Regional ou da Angola, mesmo as amalgamadas
com outras artes marciais, passou a se denominar "Contemporânea".
Golpes e movimentos
A capoeira usa primariamente os pés como ataque. Golpes podem ser diretos,
como no caso do Martelo, ou giratórios, como no caso da Meia-lua de compasso.
A rasteira é de suma importância, considerada por muitos como a melhor arma
disponível para o capoeirista. Desenvolvida para o combate em desvantagem, o
ataque do capoeirista deve ser aplicado no momento oportuno e de forma
definitiva.
A defesa usa o princípio da não resistência, isto é, evitar um golpe com
uma esquiva em vez de apará-lo. Esquivas podem ser executadas tanto em pé quanto
com os apoios das mãos no chão. No caso de impossibilidade da esquiva, o
capoeirista se defende aparando ou desviando o golpe com as mãos ou as pernas. A
ginga é importantíssima para a defesa e para o ataque do capoeirista, tornando o
capoeirista imprevisível durante o ataque e dificultando um possível contra-
ataque, além de evitar que o capoeirista se torne um alvo fixo. Completam a
técnica as cabeçadas, floreios (acrobacias no solo), tesouras, cotoveladas e
outras.
Quadro com os nomes dos golpes
Mortais Traumatizantes Desequilibrante Esquivas Fugas Floreios
s
Meia-lua de Rasteira Aú Negativa
compasso
Rabo de Martelo Vingativa Macaco Relógio
arraia
Aú chibata Meia-lua de Banda Esquiva S-Dobrado Pião de
frente mão
Armada Arrastão Cocorinha Aú de Saca-rolha
cabeça
Queixada Tesoura Rolé Aú sem mão Mortal
Ponteira Queda de Parafuso
quatro
Bênção Queda de Folha seca
rins
Cotovelada
Cabeçada
Palma
Joelhada

Graduação

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Devido à sua vastidão e à sua origem, a capoeira nunca teve unidade ou
consenso. O sistema de graduação segue o mesmo caminho, nunca tendo existido um
sistema padrão que fosse aceito pela maioria dos grandes mestres. Dessa forma, o
sistema de graduação varia muito de grupo para grupo. A própria origem do sistema
é recente, tendo partido com a Luta Regional Baiana de Mestre Bimba, na década
de 1930. Bimba utilizava lenços de seda para diferenciar seus alunos entre aluno
formado, aluno especializado e mestre. Alunos novos não possuíam graduação.
Atualmente, o sistema de graduação mais comum é o de cordas (também
chamadas cordéis ou cordões) de diferentes colorações amarradas na cintura do
jogador. Alguns grupos usam diferentes sistemas, ou até mesmo nenhum sistema.
Existem várias entidades (Ligas, Federações e Confederações) que tentam organizar
e unificar a graduação na capoeira. O sistema mais comum é o da Confederação
Brasileira de Capoeira, que adota o sistema de graduação feito por cordas
seguindo as cores da bandeira brasileira, de fora para dentro (iniciado na época
em que a capoeira oficialmente era considerada parte da Federação Brasileira de
Pugilismo).
Apesar de muito difundido com diversas variações, muitos grupos grandes e
influentes utilizam cores diferentes ou mesmo graduações diferentes. A própria
Confederação Brasileira de Capoeira não é amplamente aceita como representante
principal da capoeira.

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