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Nesta segunda-feira, 04, o Mestre de capoeira Changuinha, Edgar Francisco das

Chagas, 71 anos, ministrou uma aula para os alunos de Educação Física no hall do G2,
Unidade 5 da Fametro.
Tendo início das 9:00 às 11:30h no período da manhã e às 19:00 às 21h na da noite,
Changuinha contextualizou a história da capoeira e desmembrou suas características, como
músicas e instrumentos utilizados em sua composição.
A aula servirá de avaliação para os alunos do curso, e também foi sua atividade
Transversal, contemplando todos os períodos vigentes do semestre.
A capoeira é um elemento da cultura brasileira que combina e sintetiza os elementos de
dança, luta, acrobacia e música. Nesta estranha dança, os dançarinos imitam movimentos e
atitudes de certos animais com performance específica, utilizando sobretudo as pernas.
Além da música que acompanha sua prática, é a arte de defesa pessoal que utiliza a
totalidade do corpo humano: perna, pé, mão, joelho, calcanhar, braço, cotovelo, ombro,
cabeça, dedos.
A capoeira surgiu com a chegada dos escravos ao Brasil, que deu início a um período
triste de nossa história: a escravidão. A escravização de pessoas oriundas da África
começou nesse país ainda por volta do século XVI e deixou sequelas no âmago da
sociedade brasileira que na atualidade ainda persistem, como o preconceito racial. Naquele
período, os escravos eram obrigados a trabalhar nos engenhos de açúcar e nas minas, bem
como executar tarefas penosas, difíceis e perigosas. Essas pessoas escravizadas recebiam
péssimo tratamento e quando apresentavam seu descontentamento recebiam castigos
físicos por parte dos colonizadores brasileiros. Como passar do tempo os escravos foram
percebendo a necessidade de elaborar maneiras de se proteger e contestar as repressões
sofridas, pois eram constantemente alvos de práticas violentas. Sabe-se que como herança
cultural os escravos traziam consigo os costumes de seus países africanos, entre os quais
suas crenças e tradições, sua culinária e idiomas e principalmente suas danças que
posteriormente contribuíram para formar a diversidade cultural brasileira. Quando era
possível, muitos escravos se reunião em locais conhecidos na época como capoeiras ou
capoeirões para realizar movimentos de suas danças sob o som de instrumentos musicais
como o berimbal, movimentos estes que se configuravam como uma espécie de danças
guerreiras realizadas com o objetivo de criar formas de defesa pessoal. Acredita-se que a
partir dessa conjuntura histórica os negros desenvolveram e aprimoraram uma espécie de
luta ritualística de autodefesa, conhecida como Capoeira, uma arte marcial utilizando
apenas seus recursos corporais, que serviam como uma forma de resistir as violências em
que eram submetidos. Capoeiras eram áreas semidesmatadas onde os escravos treinavam
seus golpes, portanto, acredita-se que o nome desta luta apresenta relação com as
referidas áreas. Podem existir outras interpretações sobre as origens da Capoeira durante a
escravidão. Uma delas afirmaria que a Capoeira seria um estilo de luta que se mascarou
como forma de dança para poder escapar a perseguição dos feitores da época. Quando era
necessário avisar que os senhores do engenho estavam por perto, os capoeiristas
realizavam determinados toques e ritmos de instrumentos musicais como o berimbal para
trocar o estilo de jogo de luta para dança. Contudo, acredita-se ser pouco provável essa
afirmação, pois as danças africanas também foram reprimidas. Após a abolição da
escravatura em 1888, muitos escravos, detentores das habilidades da capoeira, começaram
a chegar aos grandes centros urbanos sem emprego. Desse modo realizavam algumas
apresentações com essa arte marcial em praças públicas como meio de sobrevivência.
A capoeira passou a figurar no rol das atividades esportivas por meio do seu
reconhecimento legitimado pela Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP), em 1973. Em
outubro de 1992 foi fundada a Confederação Brasileira de Capoeira que, a partir daí,
incrementa a prática da capoeira pelo viés desportivo. O tratamento desportivo dispensado
à capoeira fora fomentado por algumas ações institucionais como, por exemplo, os
campeonatos organizados pela Confederação Brasileira de Pugilismo, pela Confederação
Brasileira de Capoeira, nos Jogos Escolares Brasileiros e no Programa Nacional de
Capoeira. Apesar da crescente esportivização da capoeira, com o aval do Estado, sua
inserção no contexto esportivo não foi unânime entre as lideranças e os grupos de capoeira.
Argumenta-se contrariamente à essa esportivização, pelo fato da capoeira estar sendo
decodificada, regrada e normalizada, desviando-se do contexto histórico-cultural e negando
alguns dos seus elementos essenciais, como a ludicidade e espontaneidade. A capoeira
não é – como nos desejam fazer crer – uma técnica de luta apenas, nem tão somente outra
manifestação esportiva. Ela, enquanto técnica, enquanto forma de luta, vista de forma
restrita a esses dois elementos, acaba por matar tudo o que a fez nascer, crescer e
sobreviver ao longo de toda uma época. Ao separarmos a capoeira de sua história, nós a
destruímos enquanto elemento de cultura brasileira e a transformamos em mais um
elemento de alienação através da prática esportiva.
A capoeira é uma expressão indiscutível da cultura brasileira e devemos valoriza-la em
todos os seus aspectos, por isso a importância de trazer para dentro das universidades o
debate dela é essencial e agrega imenso valor cultural para todas as partes.

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