Você está na página 1de 12

OS USOS POLÍTICOS DO

PASSADO E AS DISPUTAS
PELA MEMÓRIA DA
DITADURA MILITAR
BRASILEIRA
por Aurélio Henrique
PAUL RICŒR
Paul Ricœur (1913-2005), filósofo francês influente,
dedicou-se ao estudo do uso político do passado. Sua
teoria nessa área concentra-se na ideia de que a
memória coletiva é fundamental para a construção da
identidade de uma sociedade e que a interpretação do
passado pode ser manipulada com fins políticos. Ricœur
alertou sobre os riscos do revisionismo histórico e
destacou a importância de uma abordagem crítica e ética
ao lidar com a memória histórica, a fim de evitar
distorções e conflitos.
PAUL RICŒR
Principais conceitos estudados pelo autor:

Memória
Esquecimento
Perdão
Uso político do passado
A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO
Para Ricoeur, a memória é fundamental para a constituição da identidade e da
história. Ela é uma atividade complexa que envolve não apenas a retenção de
informações do passado, mas também o processo de seleção, interpretação e
reconstrução dessas informações. A memória é uma das bases para a
compreensão da história e é inerentemente ligada à narrativa.
Já o esquecimento desempenha um papel igualmente importante, pois nem tudo
o que é lembrado é igualmente significativo para a construção da identidade e do
sentido histórico. O esquecimento é uma forma de filtrar e selecionar o que é
relevante, permitindo a criação de uma narrativa coerente e significativa.
O PERDÃO
Para Ricoeur, o perdão é um processo complexo que envolve a aceitação da
ofensa, a superação do ressentimento e a disposição de liberar a culpa e a
punição associadas à transgressão. Ele enfatiza que o perdão não é uma simples
amnésia do passado, mas uma forma de reconstruir as relações e restaurar a
dignidade das partes envolvidas.
O perdão é um ato de superação das feridas do passado, permitindo que as
pessoas sigam em frente com uma compreensão mais profunda da humanidade e
da responsabilidade mútua. É uma importante dimensão ética que pode
promover a cura e a reconciliação nas comunidades e sociedades em conflito.
O USO POLÍTICO DO PASSADO
O uso político do passado é um conceito abordado por Paul Ricoeur em sua obra "A Memória, a
História, o Esquecimento". Nesse contexto, ele explora como o passado é manipulado e
instrumentalizado para fins políticos, tanto por indivíduos quanto por grupos e governos.

O uso político do passado pode envolver a reinterpretação de eventos históricos para reforçar
determinadas narrativas ideológicas, a glorificação de heróis nacionais ou figuras históricas
para promover um senso de identidade coletiva, bem como a manipulação seletiva de memórias
para reforçar divisões sociais e perpetuar conflitos.

Ricoeur destaca que a memória, como fonte essencial para a construção da história, é
vulnerável a manipulações e apropriações políticas. Essas manipulações podem levar à
distorção dos fatos históricos e à criação de narrativas tendenciosas que servem a interesses
específicos.
Narrativas do Regime
TÓPICOS Políticas de memória
DE Uso político do passado pela
ANÁLISE nova direita
NARRATIVAS DO REGIME
Ditadura militar brasileira de 1964
Golpe que fez com que os militares permanecessem no poder durante
1
cinco mandatos presidenciais
Atualmente prevalece na comunidade acadêmica uma narrativa histórica
que escancara os horrores do período, evidenciando o seu caráter
opressor, violento e antidemocrático
Uma outra narrativa que favorece o regime.
A NARRATIVA MILITAR
Narrativa defendida pelos militares que defendem e justificam o regime
Teoria dos dois demônios
1
Não negam a violência, mas sim a justificam e defendem um caráter brando
Ditabranda
Papel das forças armadas como linha de frente no combate aos inimigos externos
Brasil x comunismo.
Como essa narrativa ganhou força?
AS POLÍTICAS DE MEMÓRIA
1. Presidente José Sarney (1985-1990):
Em 1985, Sarney sancionou a Lei da Anistia, que permitiu a anistia ampla, geral e irrestrita aos crimes políticos
cometidos durante o regime militar. A lei visava promover a reconciliação nacional, mas também gerou debates sobre
a impunidade dos agentes do Estado envolvidos em violações de direitos humanos.
2. Presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992):
Em seu governo, pouco foi1realizado em termos de políticas específicas de memória em relação ao regime militar.
3. Presidente Itamar Franco (1992-1995):
Durante seu mandato, foi criada a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) em 1995, com
o objetivo de investigar e identificar casos de mortos e desaparecidos durante o período da ditadura militar.
4. Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002):
Em 1995, Cardoso estabeleceu a Lei nº 9.140, que reconheceu oficialmente a responsabilidade do Estado brasileiro
pelas mortes e desaparecimentos ocorridos durante o regime militar. Essa lei criou uma pensão vitalícia para os
familiares das vítimas reconhecidas pela CEMDP.
5. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010):
Em 2003, Lula criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos (Cemdp), que ampliou o trabalho da CEMDP e
continuou investigando casos de violações de direitos humanos durante o regime militar.
6. Presidente Dilma Rousseff (2011-2016):
Em 2011, Dilma Rousseff, que foi uma das vítimas da ditadura, criou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), com o
objetivo de investigar e esclarecer os crimes e violações de direitos humanos cometidos pelo Estado durante o
período militar.
AS POLÍTICAS DE MEMÓRIA
Promoção do esquecimeto por parte do Estado
Reconciliação x Impunidade
Ampliou o espaço
1 para a memória militar
Memória revisionista ganhou cada vez mais espaço,
tendo destaque para a eleição presidencial de 2018
USO POLÍTICO DO PASSADO
PELA NOVA DIREITA
Relação Bolsonaro x Ditadura (saudosismo)
Formação do Bolsonaro durante o regime
Tendo como base 1 as análises das obras de Ricœr, a ditadura
militar brasileira ainda é uma ferida aberta, um trauma que
ainda não foi superado. Por isso, ainda sofrendo com
revisionismos
Reforçar o papel do exército brasileiro como instituição de
defesa em momentosde crise
Política de ''constante guerra'' do Bolsonaro
Descredibilização das instituições de memória pelo Estado

Você também pode gostar