Você está na página 1de 20

ORVIL:

Justificativas para o auto-perdão em tempos de transição política1

Marta Gouveia de Oliveira Rovai*


Lincoln Felipe Salomon Costa**

RESUMO: O texto tem como objetivo apresentar e analisar o projeto Orvil, que resultou numa
publicação, organizado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), no período de transição de-
mocrática no Brasil. A obra, concluída em 1987, foi uma resposta – ainda hoje usada por setores
militares – para a série de denúncias e cobranças de punição quanto às violações aos Direitos Huma-
nos, perpetradas durante a ditadura. Baseados em autores como Paul Ricoeur e Michael Pollak, pro-
curamos compreender o discurso construído pelos agentes da repressão, a partir das justificativas para
suas ações e da elaboração de imagens sobre si e a esquerda, como parte da disputa por memórias e
usos sobre o passado. O trabalho nos permitiu perceber como a narrativa e os argumentos apresenta-
dos contribuíram como estratégias revisionistas de legitimação política para as intervenções repressi-
vas em torno do imaginário de ameaça de agressão comunista, assim como para a defesa do auto-
perdão aos perpetradores, preocupados em selecionar as memórias proibidas e consentidas no con-
texto de enfrentamento político e de “dever da memória”.

PALAVRAS-CHAVE: Orvil; Revisionismo; Auto-perdão.

ORVIL: JUSTIFICATIONS FOR SELF-FORGING IN TIMES OF


POLITICAL TRANSITION
ABSTRACT: The text aims to present and analyze the Orvil project, which resulted in a publication,
organized by the Army Information Center (CIE), during the period of democratic transition in Brazil.
The work, completed in 1987, was a response - still used today by military sectors - for the series of
denunciations and charges of punishment regarding human rights violations perpetrated during the
dictatorship. Based on authors such as Paul Ricoeur and Michael Pollak, we sought to understand the
discourse constructed by the agents of repression, from the justifications for their actions and the
elaboration of images about themselves and the left, as part of the dispute over memories and uses
about the past. The search allowed us to understand how the narrative and the arguments presented
contributed as revisionist strategies of political legitimation for the repressive interventions around
the threatened imagery of communist aggression, as well as for the defense of the self-forgiveness of

1 O texto é resultado da pesquisa PIBICT/FAPEMIG, desenvolvida no ano de 2017.


* Professora Adjunta na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG). Pós-Doc pela Universidade Federal Fluminense
(UFF). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Líder do grupo de Pesquisa História do Brasil:
158

memória, cultura e patrimônio. E-mail: marta.rovai@unifal-mg.edu.br.


** Lincoln Felipe Salomon Costa. Concluinte do curso de Licenciatura em História na Universidade Federal de Alfenas

(UNIFAL/MG. Bolsista do PIBICT/FAPEMIG). Membro do grupo de Pesquisa História do Brasil: memória, cultura e
patrimônio. E-mail: lincolnfelipesc@gmail.com.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
the perpetrators, preoccupied in selecting the prohibited and allowed memories in the context of
political confrontation and memory duty.

KEYWORDS: Orvil; Revisionism; Self-forgiveness.

***

159

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Apresentação

O
objetivo deste texto é mostrar como parte dos militares procurou defender certo
esquecimento e também certa memória sobre o papel dos militares e também dos
opositores ao regime militar, na transição entre o autoritarismo e o “acerto de
contas” que os opositores cobravam junto às denúncias de violações dos direitos humanos naqueles
últimos 20 anos. Por meio da produção do livro Orvil (anagrama da palavra “livro”, em português),
no início dos anos de 1980, segmentos das forças armadas entraram para a disputa em torno das
“leituras do passado”, buscando legitimar suas ações e apresentar suas versões2.
Os protestos e questionamentos, por parte da sociedade civil – principalmente os militantes,
exilados e presos políticos – sobre a legitimidade da Lei de Anistia, de 1979 (Lei nº 6.683/1979), e seu
caráter conciliatório e desigual, e a defesa da punição de perpetradores confrontou o manifesto ex-
presso pelos militares, também, por um suposto compromisso com a verdade, contribuindo para a
sociedade no sentido de revelar o que “realmente havia acontecido”, rebatendo e respondendo às
acusações sobre a violência.
Nesse sentido, procuramos apresentar e analisar alguns argumentos e imagens construídas pe-
los autores de Orvil acerca da esquerda e das Forças Armadas e de suas ações, nos 20 anos da ditadura,
como “avaliação” do momento em que se findava o regime e se projetavam medidas democratizado-
ras3. O processo de pressão civil para o fim do regime ditatorial e para a criação de uma democracia
constitucional, que havia se iniciado em meados da década de 1970 por meio de diferentes movimen-
tos, teve sua efetivação somente uma década depois. No entanto, o ocaso da ditadura não significou
uma conclusão histórica das sucessivas demonstrações de autoritarismo e violações dos direitos hu-
manos, orquestradas pelo Estado. Do conflito entre aqueles que compuseram e operaram um aparato
repressivo, e os que reivindicam justiça para aqueles cujas vozes foram silenciadas nos porões da dita-
dura, permanece uma disputa de memórias e discursos ainda em aberto e bastante frágil.

2 A partir de 2007, parte da documentação que compôs o livro Orvil foi disponibilizada no site TERNUMA (Terrorismo
Nunca Mais), fazendo parte, ainda, do processo de “ajustes de contas” no debate atual sobre a ditadura, a memória, a
verdade e o direito às reparações.
3 Optamos aqui por trabalhar a versão original de Orvil, concluído em 1987. Porém, nova versão foi publicada em 2012,

provavelmente em resposta ao debate reforçado pela criação da Comissão Nacional da Verdade, no mesmo ano, pela
160

presidenta Dilma Rousseff. Nesta versão, o livro é assinado, diferente da primeira, em que os militares envolvidos não
foram nomeados. Sobre a nova versão ver MACIEL, Lício; NASCIMENTO, José Conegundes do (orgs.). Orvil: tentativas
de tomada do poder. Brasília: Schoba, 2012.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
O “acerto de contas”: o passado que não passou

Desde a Lei da Anistia, aqueles que a defenderam e criaram trataram também de garantir que
a “distensão política” decretada pelo então presidente, General João Batista Figueiredo, evitasse tocar
nos crimes cometidos pelos agentes responsáveis por mortes e torturas em seus órgãos de repressão.
A impunidade precisava ser garantida, não apenas pela omissão das inúmeras violações, mas também
pela elaboração de uma memória militar, capaz de desmoralizar e desqualificar aqueles que reivindica-
vam justiça para vivos, desaparecidos e mortos e que passavam a publicizar suas histórias por meio de
livros e projetos.
Já em 1975, 35 presos políticos do presídio do Barro Branco, em São Paulo, ainda sob o perigo
de morte, redigiram coletivamente a primeira denúncia pública de torturas sofridas por eles e compa-
nheiros, apontando o nome de 233 torturadores. Intitulado Bagulhão ou Carta à OAB4, o documento,
que mais tarde virou livro, publicado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), foi enviado ao
presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Dr. Caio Mario da Silva
Pereira, numa das primeiras tentativas de descrever instrumentos e órgãos de tortura e de nomear seus
perpetradores, exigindo providências. Obras como Batismo de Sangue 5 , de Carlos Alberto Libânio
Christo, mais conhecido como Frei Betto, publicado em 1982, também apontavam a violência sem
medida ordenada pelo Estado, no caso contra guerrilheiros e frades dominicanos. Talvez a mais im-
pactante delas, naquele momento, devido à sua dimensão, tenha sido o projeto Brasil: Nunca Mais,
desenvolvido clandestinamente com o apoio da Arquidiocese de São Paulo e que resultou na publica-
ção de um livro6, no ano de 1985, em que se reuniram depoimentos de pessoas submetidas à tortura
durante o regime, além da disponibilização de documentos de denúncia sobre a violação dos direitos
humanos, hoje sob custódia do Arquivo Edgard Leuenrouth, na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP).
As denúncias foram acompanhadas da reação dos agentes da ditadura, preocupada não apenas
em rebater, mas produzir um processo de esquecimento, marcado não apenas pelo negacionismo a
essas acusações, mas elaborando uma memória positiva do regime. Membros do alto escalão, organi-
zados a partir da Seção de Informações do Centro de Informações do Exército (CIE), desenvolveram
161

4 COMISSÃO DA VERDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO (CEV) “RUBENS PAIVA”. Bagulhão: A voz dos pre-
sos políticos contra os torturadores. São Paulo, 2014.
5 CHRISTO, Carlos Alberto Libânio. Batismo de Sangue. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
6 ARNS, D. Paulo (org.) Brasil: nunca mais. Petrópolis: Vozes, 1985.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
um levantamento sobre os discursos e práticas de setores que atuaram em oposição à ditadura, dentre
eles o movimento estudantil, a Igreja, os sindicatos e os grupos armados. Como “respostas” à me-
mória dos perseguidos, dois livros foram publicados, Brasil: Sempre (1986)7, de Marco Pollo Giordani,
e A verdade sufocada (1987)8, do Coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ambos agentes do
Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi),
órgão de repressão do Estado. Segundo seus autores, essas obras seriam voltadas aos jovens, “enga-
nados” por “meias verdades” ou mentiras sobre as quais a esquerda marxista estava procurando ali-
cerçar o futuro do país.
Tratava-se aí da tentativa de constituição de uma “memória enquadrada” sobre o passado,
conceito tratado por Michael Pollak, no debate sobre como as memórias políticas estão em constante
disputa:

O trabalho de enquadramento da memória se alimenta do material fornecido pela história.


Esse material pode sem dúvida ser interpretado e combinado a um sem-número de referên-
cias associadas; guiado pela preocupação não apenas de manter as fronteiras sociais, mas
também de modificá-las, esse trabalho reinterpreta incessantemente o passado em função
dos combates do presente e do futuro9.

Para esse trabalho necessário de reinterpretação do passado – pois o tempo não seria suficiente
para produzir o esquecimento e o perdão esperados pelos militares pela Lei da Anistia – os agentes da
repressão trataram de controlar a memória por meio de seus profissionais (os “historiadores da casa”,
como chamaria Pollak), ou seja, aqueles autorizados a acessar arquivos e documentos e gerar a “ver-
dadeira história”, numa tentativa de combater, desqualificar e silenciar as outras versões, “antipatrio-
tas” e “perigosas” à conciliação nacional proposta pela anistia.
Neste sentido também foi elaborado o projeto Orvil, na procura, pelos agentes do Estado
militar, em construir uma narrativa capaz de legitimar uma memória social, por meio da constituição
coerente de diversos discursos que pudessem representar outra imagem e outros sentidos para a atu-
ação de militares e civis, selecionando lembranças legítimas e promovendo o “dever do esquecimento”
162

7 GIORDANI, Marco Pollo. Brasil sempre. Porto Alegre: Tchê, 1986.


8 USTRA, Carlos Alberto Brilhante. A verdade sufocada. Campinas: Papirus, 1987.
9 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 8.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
em relação àquelas tidas como “mentiras da esquerda. Seria o que Paul Ricoeur10 chamou de “a má-
gica” da anistia, um processo em que determinados sujeitos se atribuem o direito de contar um acon-
tecimento sob certo enfoque, para fazer cair no esquecimento outras leituras, outras memórias.
O “dever do esquecimento”, lembrado por Ricoeur como uma prescrição seletiva, opõe-se ao
“dever da memória”, a fim de impedir as desordens políticas e promover o descaso e a negligência
institucional de um passado proibido e a reconciliação que proíbe o ressentimento. Orvil nasceu com
este significado, não de promover o encontro de versões, a acareação, o julgamento, a comprovação e
a reparação, próprios de um processo de justiça de transição, mas permitir a omissão, a negligência, o
negacionismo e a ocultação de documentos que pudessem, inclusive, colocar no jogo da comprovação,
os seus próprios argumentos.

Orvil – “a verdade enquadrada”

De acordo com Priscila Carlos Brandão e Isabel Cristina Leite11, o projeto Orvil foi planejado
ainda no último ano de governo do general-presidente, João Batista Figueiredo, por um analista do
Centro de Informações do Exército (CIE), buscando a construção de uma narrativa capaz de rebater
a versão de “terroristas” que usavam de um “trabalho de massa” para fornecer entrevistas, publicar
autobiografias que deturpavam a “verdadeira história” dos últimos vinte anos do país. Mais do que
isso, era preciso denunciar todo o projeto de tentativa de tomada de poder dos “subversivos” desde
o governo de Getúlio Vargas, com a chamada Intentona Comunista, de 1935, numa empreitada para
destruir a “democracia”, defendida vigorosamente pelos militares.
Por se tratar de um projeto secreto, a palavra Orvil era um código utilizado pelos militares.
Mais do que representar a palavra livro, ao contrário, a escolha do nome “livro” remete quase a um
sentido sagrado de verdade, uma vez que Bíblia e Alcorão também apresentam o mesmo significado,
Livro, remetendo a uma ideia de verdade inquestionável e quase sagrada que, inclusive, remeteria à
ideia de redenção e perdão. Era preciso desmistificar os heróis glorificados pela esquerda com suas
biografias e entrevistas - na verdade “traidores e terroristas”, como Carlos Marighella, líder da Ação

10 RICOEUR, Paul. Memória, história e esquecimento, Campinas: Unicamp, 2007.


163

11 BRANDÃO, Priscila Carlos; LEITE, Isabel Cristina. Nunca foram heróis! A disputa pela imposição de significado em
torno do emprego da violência na ditadura brasileira, por meio de uma leitura do Projeto ORVIL. Anos 90, Porto Alegre,
v. 19, n. 35, p. 299-327, jul. 2012.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Libertadora Nacional (ALN) e o capitão e guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) -
mostrando seus crimes, na tentativa incansável de levar o Brasil ao comunismo.
Em suas quase mil páginas, Orvil foi estruturado com depoimentos de presos políticos, entre-
vistas, trechos de jornais e revistas, gravações de programas de televisão e de livros escritos por ex-
militantes da luta armada. Por ser sigiloso e restrito às forças armadas, a autoria exata do projeto não
foi declarada e boa parte da documentação que lhe deu origem permanece ocultado, mesmo depois
da atuação da Comissão Nacional da Verdade, criada em 2012, exigindo a colaboração de militares e
da decisão do Supremo Tribunal pela entrega desse material12. Finalizado no ano de 1987, recebeu o
primeiro titulo de As Tentativas De Tomada Do Poder, não sendo publicado de imediato. Após concluído
e apresentado ao então ministro do exército, General Leônidas Pires Gonçalves, este vetou sua publi-
cação sob o argumento de que a conjuntura política em que o país se encontrava não era propícia.
Eram tempos de “abertura” e de “reconciliação”, não de confrontos e desunião. O livro teve diversos
de seus trechos divulgados em sites pela internet e sua versão na íntegra foi divulgada para download
no site da esposa do coronel reservado do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. No ano de 2012,
só então, o livro tornou-se público sob a revisão e organização dos Tenente Coronel Lício Augusto
Ribeiro Maciel e do Tenente José Conegundes Nascimento, no contexto da instituição da Comissão
Nacional da Verdade e como resposta ao “acerto de contas” exigido por segmentos da sociedade
civil13.
A primeira parte do livro tem como título Uma explicação necessária, no intuito expresso de,
assim como A verdade sufocada, escrita pelo Coronel Ustra, mostrar “a verdade” aos jovens sobre a luta
armada entre 1969 e 1973, demonstrando as razões pelas quais as Forças Armadas tiveram que agir
em defesa da democracia ameaçada pelo comunismo e pela violência da esquerda guerrilheira; também
por instituições “corrompidas” moralmente, como o movimento estudantil, os sindicatos e a própria
Igreja, na figura de padres franceses e os dominicanos que deram guarida a Carlos Marighella, perigoso
terrorista. Diante de tamanho perigo à ordem nacional, poderiam os militares terem agido de outra
forma?

12 O livro Lugar Nenhum: militares e civis na ocultação de documentos da ditadura, de Lucas Figueiredo (São Paulo: Cia.
das Letras, 2015), aponta que desde 1985, houve sucessivas tentativas de abrir os arquivos do Exército, da Marinha e da
164

Aeronáutica por parte do Ministério Público e da Justiça, encontrando-se inúmeras dificuldades de colaboração no
acesso a eles por parte das Forças Armadas.
13 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 2-3.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Assim, a “verdade sufocada” ou “invertida”, que teria sido desvirtuada e deturpada pelos co-
munistas seria “revelada” às novas gerações, de forma a justificar as práticas perpetradas pelos agentes
do Estado entre os anos 1964 e 1984. Aliás, segundo seus autores, as intervenções do exército se
justificariam muito antes, em momentos históricos em que a nação teria sido colocada em perigo.
Atingidas pelo impacto de tentativas comunistas de tomada de poder, desde 1935, as forças armadas
sempre defenderam a existência da ordem democrática. A “revolução” de 1964 teria sido, então, uma
resposta imediata às diversas ações de terroristas para tomarem o poder – estes sim golpistas – pro-
curando devolver ao povo o poder pela reinstitucionalização. Povo que, segundo o livro, jamais teria
se reconhecido nas ações de esquerda e que, portanto, nunca teria apoiado de fato aqueles militantes
que ora se apresentavam como vítimas do Estado militar.
O próprio livro é estruturado de maneira a mostrar as diferentes etapas das tentativas de to-
mada de poder por movimentos de esquerda armados desde a década de 1930. O início do processo
de abertura, nos anos 1980, é caracterizado pelos militares como o momento em que se teria dado o
desmantelamento de grupos, ora denominados “terroristas”, ora “esquerda revolucionária”. Isso fica
claro em uma, dentre as tantas passagens do livro, que expressam a mesma ideia:

Tendo o Brasil se livrado da agressão armada comunista, seu novo governo propunha-se a
“reinstitucionalizar” gradativamente o País, pois esse era o desejo da sociedade brasileira que
legitimamente pressionava nesse sentido. Essa era, também, uma meta da revolução de
1964.14

A primeira tentativa da “agressão comunista” teria ocorrido entre 1922 e 1954, mas com ênfase
nos acontecimentos de 1935, quando, sob a liderança de Luís Carlos Prestes e o Partido Comunista,
os “subversivos” teriam procurado derrubar o presidente Getúlio Vargas, trazendo caos ao país. Sobre
esta diligência, os autores de Orvil afirmam:

Passados 50 anos, não há uma explicação lógica e coerente para a Intentona Comunista de
35, a primeira tentativa de tomada do poder. Sua análise nos conduz às palavras de Lenin –
ao referir-se à doença infantil do esquerdismo – de que ela foi "não só uma estupidez, mas
também um crime".
Um crime que ceifou dezenas de vidas e que se poderia repetir no momento em que seus
“idealizadores julgassem haver "amadurecido o processo revolucionário" e chegada a hora
de empreender nova tentativa de tomada do poder. Os comunistas iriam insistir no caminho
da luta armada.15
165

14 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 840.
15CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 22.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Derrotados pela ação eficiente dos militares à chamada Intentona Comunista, em 1935, os
comunistas teriam agido nos momentos anteriores a 1964, apoiando o governo de João Goulart e se
dividindo em diferentes organizações clandestinas, com infiltrados nos sindicatos e nas próprias forças
armadas. Para evitar que figuras como Leonel Brizola tomassem a simpatia do povo e que a esquerda
enganasse o povo com suas promessas marxistas é que os militares precisaram intervir, com a revolu-
ção de 1964.
Orvil aborda, ainda, várias formas de reorganização dos grupos de guerrilha, entre os anos de
1964 a 1973, como a atuação da Política Operária (Polop), do Partido Comunista do Brasil (PC do B),
a Ação Popular (AP) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dentre outras, na arregimentação
de pessoas entre estudantes, operários e religiosos, “denunciando” seus programas e táticas, suas re-
lações com o comunismo castrista e suas ações violentas de assaltos a banco, sequestros de embaixa-
dores, terrorismo e atentados, o que justificaria novas estratégias militares de desbaratamento do
“golpe comunista” para impor a “ditadura do proletariado”. Esta teria sido a mais longa e difícil missão
das forças armadas, ocupando quase toda narrativa das páginas do livro, a fim de “enquadrar” a me-
mória sobre o que valorizar e o que desqualificar na história do país. Dentre o que deveria ser lembrado
e justificado estaria a “necessidade” de medidas como o Ato Institucional n.º 5 (AI-5), como defesa
da ordem e da pacificação do país. Contra a “agressão da esquerda”, a “salvação militar”.
Escrito nos anos 1980, Orvil ainda indicava a possibilidade próxima de uma quarta investida
dos comunistas: quase como “Os Protocolos dos Sábios de Sião”16, a conspiração histórica e perma-
nente de tomada de poder pelos comunistas ainda estaria em andamento e não teria terminado. Apesar
de isolados e derrotados pela falta de apoio ao seu projeto castrista, os “subversivos” ainda se faziam
presentes. Prova disso seria a própria participação de membros do MR8 no governo do presidente
José Sarney (embora ele tivesse pertencido à Arena, o partido situacionista da ditadura), as eleições de
1982 e a procura, agora pela via legal, da defesa de uma Constituição e da propaganda em massa pelos
opositores do regime:

As eleições realizadas em novembro de 1982, dando seguimento ao processo de abertura


política, contribuíram consideravelmente para o desenvolvimento do período de contra-
166

16O livro Protocolos dos Sábios de Sião foi traduzido pelo historiador integralista Gustavo Barroso, nos anos de 1930. Trata-
se de um texto de caráter antissemita, provavelmente redigido no final do século XIX, mas que circulou no século XX,
principalmente entre os alemães nazistas, atribuindo a existência de uma conspiração judia para a dominação do mundo
e que deveria ser combatida.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
ofensiva das OS17, não só pela livre pregação política – através de participação de políticos
contestadores, ex-asilados, ex-cassados, simpatizantes e mesmo militantes estruturados de
organizações subversivas que se filiaram e concorreram nas legendas dos partidos legais de
oposição – mas, principalmente por ter propiciado eleição de parte desses elementos para
diversos cargos políticos, em diferentes níveis da estrutura governamental. 18

As demandas políticas, desde a revisão da Lei da Anistia e a defesa de uma constituinte, seriam
consideradas, pelos autores de Orvil como perigos à própria democracia porque artimanhas “subver-
sivas” para que novo projeto comunista fosse colocado em prática:

[...] as organizações subversivas levantariam bandeiras que variariam em ênfase e na forma


de expressão, mas todas diriam respeito à possibilidade de se prepararem para a tomada do
poder, com segurança, com a garantia do direito, valendo-se da prerrogativa que só esse
regime paradoxal – a democracia, sem aspas e adjetivos – oferece: a possibilidade de seus
inimigos prepararem-se para a tomada do poder sob o amparo da lei.
As “bandeiras”
Foram fixadas então as “bandeiras” com as quais iniciariam o seu trabalho de massa:
– anistia geral aos presos e condenados políticos;
– revogação do AI-5 e toda a legislação de exceção;
– liberdade democrática (ou política);
– respeito aos direitos humanos;
– livre organização de todos os partidos políticos, inclusive os comunistas;
– punição de todos os responsáveis pelos crimes no período da ditadura;
– extinção de todos os órgãos de opressão.
Algumas incluíram, desde logo, entre suas bandeiras, a convocação de uma Assembleia Cons-
tituinte”. 19

Bandeiras e slogans defensores dos direitos humanos e de uma nova constituinte seriam for-
mas de manipular, agitar, iludir, conduzir a massa de manobra para que os partidos de esquerda pu-
dessem tramar e investir contra a própria democracia, reduzida ao fim das classes sociais e à ditadura
do proletariado. A Anistia ampla e irrestrita seria a oportunidade do ressentimento e de acusações
infundadas, impedindo a possibilidade de uma conciliação, tão defendida pelos militares. Fazendo
parte deste “plano subversivo”, ainda, estaria todo o processo articulado pela esquerda de fazer a
população “desacreditar” dos militares e desqualificar a “Revolução de 1964”, a partir de publicações
e usos dos meios de comunicação de massa para vitimizar os membros das organizações guerrilheiras,
heroicizar terroristas e culpabilizar militares, além de negar os benefícios trazidos pelo “milagre eco-
nômico”, nos anos 1970.
167

17 Organizações Subversivas.
18 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 853.
19 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 368.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
A expansão econômica era apontada no discurso militar, embora em menor grau, com a fina-
lidade de legitimar a permanência do regime. Aqui, no entanto, é importante demonstrar algumas das
contradições que se fazem presentes: os autores de Orvil afirmam que “o ano [de 1973], no dizer dos
comentaristas políticos não se iniciara bem”, e em seguida apontam que o país seguia com tranquili-
dade, e atribuem essa tranquilidade ao “milagre econômico”. Graças a esse desenvolvimento, apenas
comprável ao Japão, o Brasil teria chegado à situação de “9º país ocidental de maior renda bruta naci-
onal no exato momento em que se tornara a 7º nação em número de habitantes”20. Tal afirmação,
entretanto, omite dados sobre a centralização da renda nas mãos de poucos e as defasagens na área de
educação, dos salários e as disparidades entre projetos astronômicos, dívida externa e desigualdade
social. Discursos como estes trazem somente aspectos relacionados a um desenvolvimento econômico
imediatista, negligenciando todo o corolário das medidas impostas durante a ditadura. O objetivo
dessa retórica consistia menos em uma análise geral da sociedade, e concentrava-se mais na busca de
uma legitimação de uma memória engrandecedora do regime.
David Maciel afirma que o enfraquecimento desse mesmo “milagre econômico brasileiro”, já
sentido em 1973, sobretudo em decorrência da crise do petróleo, diminuiria consideravelmente as
condições vantajosas dos financiamentos externos da economia brasileira21. Mesmo com o Brasil se-
guindo em “tranquilidade”, de acordo com o discurso militar, “Começam a se tornar mais candentes
as críticas à distribuição de renda”. Sobre tais críticas, os militares propõem a seguinte questão: “Re-
clama-se da falta de liberdade política, mas todas essas críticas que se liam e ouviam não faziam parte
dessa liberdade? Não era evidentemente, ainda, o estágio da liberdade com que a revolução compro-
metera-se desde suas origens e por isso essa ‘cobrança’ era uma atitude compreensível”22. Essa justifi-
cativa dos autores negligenciava o fato de que em 1973 o AI-5 ainda estava em vigor com diversas
ações arbitrárias que cerceavam as liberdades políticas e individuais, tais como suspender por dez anos
direitos políticos de qualquer cidadão, decretar confisco de bens considerados “ilícitos”, suspender a
garantia de habeas-corpus e cassar mandatos parlamentares.
Ignorando a repressão e as inúmeras formas de cerceamento à autonomia, sem contar os ins-
trumentos de tortura, de desaparecimento forçado e de morte aos que “reclamavam”, a questão da

20 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 756.
168

21 MACIEL, David. A Aliança Democrática e a transição politica no Brasil. In: Milton Pinheiro. (org.). Ditadura: O que resta da
transição. São Paulo: Boitempo Editorial, v. 1, 2014, p. 201.

22 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 756.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
liberdade é levantada em diversos pontos do livro a fim de legitimar a ideia de que a ditadura foi uma
defesa dela contra o perigo de uma tomada de poder pelos comunistas, o que levaria a uma ditadura
do proletariado, este sim sinônimo de perda da liberdade. O próprio livro afirma que:

No dia em que a população aceitar viver sem liberdade, em nome de uma utópica igualdade,
será o fim da justiça social – cuja aproximação só tem sido possível nos países livres – e não
haverá Força Armada que impeça a realização desse desígnio. Pelo menos nos países até
então democráticos, cujas Forças Armadas estejam impregnadas pelos seus princípios, estas
acatarão a Vontade da maioria. Mas é preciso que sejam, antes, a maioria da nação. 23

A forma como é tratado o conceito de liberdade, no livro, nos faz lembrar Vladmir Safatle,
para quem um governo só pode se considerar legitimo quando fundado sobre a vontade soberana do
povo, fazendo valer a multiplicidade de interpretações a respeito da noção de liberdade. Um governo
nos quais a cassação de direitos políticos e partidos, censura, violação sistemática de direitos humanos,
exílios de adversários políticos, são práticas recorrentes e institucionalizadas se contradiz ao discursar
em defesa da liberdade da nação24.
A imposição do AI-5, em 1968, sem prazo de vigência, não é apresentado por Orvil como
aquilo que permitiu e facilitou atos de violação dos direitos humanos, inclusive da própria liberdade,
mas procurou reforçar o discurso militar da necessidade política em “agir com rigor” em vistas do
perigo subversivo: “Embora o Ato possa ter respondido, à semelhança da crise de outubro de 1965,
à necessidade de restabelecer a unidade militar, que, de qualquer modo, dava sustentação ao Governo,
sua razão fundamental foi a preocupação com a subversão”25. Nos argumentos militares, os ministros
civis que aprovaram o AI-5, “tinham pleno conhecimento da situação, muito melhor que os brasileiros
em geral”, portanto aprovaram as medidas do ato institucional em um momento de necessidade, em
que as forças subversivas atentavam com fanatismo contra o governo Costa e Silva.
Os militares alegavam que o AI-5, mesmo tendo eficiência no combate a subversão, havia
trazido como seus efeitos problemas ao regime, por diminuir a cada crise o apoio civil à “revolução”.
Como uma estratégia emergencial, fundamental e salvacionista, o AI-5 deveria combater as forças em
movimento e que colocavam a nação em perigo: “Inviabilizavam-se, assim, as desejadas alternativas
169

23 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 919.
24 SAFATLE, V. P.; TELES, Edson (Org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 246.
25 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 296.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
para as Forças Armadas desembaraçarem-se do poder, particularmente, porque a guerra revolucionária
estava, agora, em pleno desenvolvimento”26.
Ainda discutindo as consequências do AI-5, o Centro de Informações do Exército argumen-
tava que, apesar da vigência do ato institucional, as vias do processo democrático não estavam fecha-
das, pois a “revolução” se mantinha fiel aos seus compromissos e pretendia apenas “remover o entu-
lho da ‘má política’ e da ameaça subversiva”27. Percebe-se, porém, uma nítida incoerência no que diz
respeito a um sistema político democrático. Democracia não necessariamente prediz “má política” ou
“boa política”, mas pressupõe direito ao dissenso, aspecto negado à maioria da população e conside-
rado “crime”.
Ao abordar o recrudescimento das manifestações estudantis e ações dos movimentos armados
de esquerda no ano de 1968 (com o intuito de justificar os excessos da ação policial nas ruas), a noção
de uma ditadura militar é negada entusiasticamente em Orvil, apregoando a existência de liberdades
democráticas no período. O termo ditadura, na perspectiva defendida pelos autores, seria uma
invenção dos movimentos de esquerda com o objetivo de ludibriar as massas de modo a criar um
cenário propício para a insatisfação popular generalizada e aversão ao regime:

Apesar desse clima de liberalização [...], esses segmentos de oposição conseguiram impor
uma ideia-força – a da existência de uma “ditadura militar” –, criando um condicionamento
psíquico favorável à aceitação de suas teses pela população e concorrendo para o desgaste da
imagem do País no exterior28.

Todavia, esse “condicionamento psíquico” parece ter surtido efeito mesmo sobre Costa e
Silva, conforme Ata da continuação da 41ª sessão de 11 de julho de 1968 do Conselho de Segurança
Nacional, em 16 de julho de 1968, no qual o ditador assevera: “devo dizer-lhes, fruto de uma convicção
sincera, decorrente ela de alguns dias de ditador nesse país, que a ditadura jamais será uma solução
para o Brasil”29. Carlos Fico aborda esse documento para demonstrar que muito mais do que uma
invenção, a ditadura foi uma realidade material reconhecida pelos próprios detentores do poder.

26 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 296.
170

27CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 306.
28 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 287.
29 FICO, CARLOS. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas. TEMPO E ARGUMENTO, v.

09, p. 05-74, 2017.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Aspectos ideológicos de Orvil

Thiago Vieira Pires30, em um estudo de caso e análise de discurso com ex-militares, afirma que
existe uma estrutura de significação ideológica arquitetada deliberadamente por eles e que se apoia em
quatro eixos. São eles: a) Superioridade (forças armadas acima de qualquer poder democrático); b)
hierarquia (respeito ao que está “acima”); c) disciplina (obediência inquestionável); d) doutrina (ele-
mento de sustentação ideológica). Segundo Pires, tal estrutura se apoia na Doutrina de Segurança
Nacional (DSN), criada em 1935, sob o governo Vargas e na ideologia da Escola Superior de Guerra
(ESG), instituída em 1947, pelo governo do General Eurico Gaspar Dutra31. Esta última, por sua vez,
se desenvolvera nos padrões estipulados pela doutrina de segurança estadunidense, ou seja, num apa-
rato defensivo cujo objetivo era conter o comunismo, no calor da chamada Guerra Fria. A DSN,
segundo Pires, tinha um viés mais político e ideológico que propriamente econômico, pois sua inten-
ção era assegurar que o projeto econômico fosse executado por meio da ação política de segurança
contra a “ameaça subversiva”. A DSN se constituía também como uma amostra de alinhamento com
o bloco capitalista32.
O autor argumenta que a ditadura brasileira atuou em dois sentidos: primeiramente como ide-
ologizada, reproduzindo parcialmente a ideologia da segurança nacional dos EUA por meio da DSN
(elemento doutrinário) e da ESG (que agia como instituição de formação técnica, política e ideológica),
e, segundo, como ideologizadora, ao propor intencionalmente uma interpretação da realidade que
atendia à ideologia da segurança nacional e do capitalismo33.
Destarte, é possível afirmar uma ideologização nos moldes estadunidenses ao longo do dis-
curso militar presente em Orvil, cujo tema central refere-se a um posicionamento de setores militares
de que a saída dos centros de poder constitucional e a consequente volta aos quarteis significaria
fragilizar a armadura da nação perante o inexorável avanço comunista, apesar de a chamada Guerra
Fria estar em processo de crise.

30 PIRES, T. V.. Ditadura militar brasileira e produção ideológica: Um estudo de caso com militares que atuaram no período
ditatorial. Cantareira (UFF), v. 1, p. 16-35, 2014.
31 PIRES, T. V.. Ditadura militar brasileira e produção ideológica: Um estudo de caso com militares que atuaram no período

ditatorial. Cantareira (UFF), v. 1, 2014, p. 34.


171

32 PIRES, T. V.. Ditadura militar brasileira e produção ideológica: Um estudo de caso com militares que atuaram no período

ditatorial. Cantareira (UFF), v. 1, 2014, p. 20.


33 PIRES, T. V.. Ditadura militar brasileira e produção ideológica: Um estudo de caso com militares que atuaram no período

ditatorial. Cantareira (UFF), v. 1, 2014, p. 22.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Podemos observar o apego à hierarquia nos argumentos de seus autores, ao defenderem que
os ministros e forças armadas eram mais aptos à tomada de decisões, subestimando assim a capacidade
de escolha dos “brasileiros em geral”. A lógica da superioridade hierárquica no que diz respeito ao
entendimento da conjuntura do país se mostrava presente em vários trechos do livro. A despeito da
superioridade ideológica a que nos remete Pires, podemos destacar uma das diversas passagens do
Orvil em que as forças armadas se colocam acima de qualquer democracia (por si mesma frágil) justa-
mente com o argumento de defendê-la:

Pode-se alegar – e os puristas e inocentes úteis o farão com veemência – que essas medidas
podem ser mal utilizadas ou que não correspondem aos princípios democráticos. No entanto,
é por medo de ser acusadas de trair os próprios princípios que as democracias têm perecido.
Como diz Revel: “a democracia inclina-se a ignorar ou mesmo negar as ameaças de que é
objeto, tanto lhe repugna adotar medidas adequadas e dar-lhes a réplica. E só desperta
quando perigo se torna mortal, iminente, evidente. Mas, então, como lhe falta-lhe tempo para
conjurá-lo ou o preço a pagar pela sobrevivência torna-se insuportável”.34

Essa mesma estrutura ideologizadora dos militares, segundo Pires, se concretiza por meio do
falseamento intencional da realidade, atendendo diretamente aos interesses da classe dominante e a
manutenção de seus privilégios. Sob o véu da defesa da pátria ante o perigo comunista, se escondem
os interesses de uma elite militar e civil. Para Marcos Napolitano35, seguindo pensamento semelhante
sobre os discursos das Forças Armadas acerca da “abertura política”, os militares precisavam constituir
um discurso que justificasse sua retirada estratégica do governo, nos anos 1980, sem que isso trouxesse
ameaças aos princípios da “revolução” – segurança, controle e impunidade:

[...] era preciso iniciar uma normalização da vida política, que no jargão político da época
significava consolidar o espírito de tutela do AI-5 em princípios constitucionais, abrandar o
controle da sociedade civil, sem necessariamente dar a ela espaço político efetivo no processo
decisório, e, em um futuro incerto, devolver o poder a civis identificados com as doutrinas
que inspiraram 1964 ou que, ao menos, não lhes fossem hostis. Em outras palavras, os mili-
tares sonhavam um regime com um partido oficial hegemônico, chancelado pelo voto, ma-
joritariamente civil e um Estado blindado contra “crises”, sejam oriundas da extrema direita
militar, sejam advindas das pressões da esquerda nas ruas e movimentos sociais 36.
172

34 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 297.
35 NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo, SP: Contexto, 2014, p.203.
36 NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo, SP: Contexto, 2014, p. 203.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Posta as questões acima, é possível dizer que o processo de abertura lento e gradual estava
ancorado em um projeto de controle do processo político pelo governo com a finalidade de instituci-
onalizar o regime de exceção e fazer ignorar os confrontos e graves violações aos direitos humanos,
ainda sob a tutela dos militares. As denúncias e exigências de medidas que levariam ao enfrentamento
de “verdades” opostas, no espaço político e institucional não interessa aos agentes da repressão.
Mais do que uma tentativa de tornar hegemônica uma narrativa sobre a ditadura, o objetivo
da escrita de Orvil foi o de eximir os militares da culpa pelos excessos do Estado brasileiro, e, por
conseguinte, indicar caminhos possíveis para um novo modelo de nação que não representasse uma
pungente ruptura com os valores construídos pelos detentores do poder durante o regime militar.
Desde meados de 1970, os militares no poder começaram a esmiuçar a questão da transição em busca
de executá-la do modo mais oportuno para a manutenção de seus interesses, assegurando certas con-
tinuidades.
Sobre a violência cometida durante os 20 anos de ditadura, os agentes da repressão tratavam
de responder e inverter o sentido do lema defendido pela esquerda “Brasil Nunca Mais”, numa estra-
tégia de culpabilizar, responsabilizar e acusar os próprios mortos e “desaparecidos” por seu próprio
“destino”. Negando-se a reconhecer a violência de Estado como “terrorista” e violadora dos direitos
humanos, Orvil assume o direito das forças armadas ao monopólio de uma violência “necessária e
pacificadora” contra o ódio, a prática e a “característica violenta” da esquerda. Depois de narrar vários
fatos relacionados aos sequestros, assaltos, ações de ataque a quartéis e “combates” que provocaram
a morte de civis, dentre eles os próprios guerrilheiros, os autores apropriam-se da bandeira da esquerda
“Brasil, nunca mais!”:

Essas ações degradantes, que acabam de ser narradas, são tidas como atos heroicos pelos
seguidores da ideologia que considera a violência como o “motor da história". Para essas
pessoas, todos os meios são válidos e justificáveis pelos fins políticos que almejam alcançar.
Acolitados por seus iguais, seus nomes, hoje, designam ruas, praças e até escolas no Rio de
Janeiro e em outros locais do País. Os inquéritos para apuração desses atos criminosos contra
a pessoa humana também transitaram na Justiça Militar entre abril de 1964 e março de 1979.
Porém, essas pessoas mortas e feridas onde se incluem mulheres e até crianças e, na maioria,
completamente alheias ao enfrentamento ideológico, por serem inocentes e não terroristas,
não estão incluídas na categoria daquelas protegidas pelos "direitos humanos" de certas sine-
curas e nem partilham de urna "humanidade comum" de certas igrejas.
Nem parece que a imagem de Deus, estampa destampada na pessoa humana, e sempre única.
A razão, porém, é meio simples. Essa Igreja está sabidamente infiltrada, assim como o Mo-
173

vimento de Direitos Humanos”, dominado por agentes dessa mesma ideologia, como ficará
documentado ao longo deste livro.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
Corno gostaríamos de poder crer que esses atos cruéis de assassinatos premeditados, assaltos
a mão armada', atentados e seqüestros com fins políticos e qualquer tipo de violência à pessoa
humana não viessem ocorrer no Brasil, nunca mais!37

Orvil acusa uma memória que se espalha pela sociedade, de “homenagear terroristas”, ocu-
pando espaços públicos e midialógicos. Memória esta que deve ser esquecida. A Anistia e a grande
missão dos militares em defender “a democracia” são suficientes para selecionar o que deve ser lem-
brado ou esquecido e ordenar uma memória legítima. Como afirmou Paul Ricoeur (2000) sobre o
“dever do esquecimento”, Orvil é o esquecimento manifesto, exercido e pervertido em torno da di-
mensão da violência praticada pelo regime militar, promovendo o apagamento e a omissão, inven-
tando e impondo leituras sob o aparente direito de também dizer. Para isso usa de artifícios, como
podemos notar no trecho acima, como o apelo a Deus – contra uma Igreja infiltrada por ideais comu-
nistas – à imagem da fragilidade de “mulheres e crianças inocentes” atacadas por guerrilheiros, mani-
pulando para ocultar a própria barbaridade cometida contra mulheres e crianças dentro dos porões da
ditadura.
Aos oponentes submetidos a sevícias e que, muitas vezes, recorreram ao suicídio, os militares
de Orvil chamam de “energúmenos fanáticos” aos quais tinham que “pajear” e tentar salvar. Uma
inversão de valores e de reconhecimento teria sido instalada pelos sobreviventes da “guerra política”
fazendo valorizar os “infratores e assassinos”, tratando-os como “incompreendidos” pelo regime, e
querendo acusar os que cumpriram com seu dever: “Enquanto os insurgentes tiveram sempre quem
lhes cantasse as façanhas em que foram vitoriosos ou mártires, os legalistas calaram-se e amargaram
os apodos injuriosos”38. Nesse sentido, o projeto faria “cair suas máscaras” de injustiçados e promo-
veria a compreensão da sociedade civil quanto aos atos dos militares.
Segundo os mentores da obra, os militantes da esquerda, ainda no período de transição, con-
tinuariam a se valer da propaganda de massa no intuito de convencer a população – uma categoria
deles apartadas e também passível de tutela dos militares – de uma verdade unilateral e distorcida
relativo ao processo terrorista por eles desencadeado, produzindo heróis. Apelando à emoção irraci-
onal e utilizando de expressões “propositalmente genéricas” como “direitos humanos”, “tortura, tor-
turados e torturadores”, “liberdades democráticas”, “estado do direito”; “ditadura militar”; “órgão de
174

37 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. XXIX.
38 CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987, p. 918.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
repressão”, estes teriam atingido a população em sua fragilidade, convencendo-a a colocar-se contra
os militares.
Seus autores, ainda, apropriavam-se do conceito de Direitos Humanos, para desmerecer seus
defensores, no contexto da Anistia e da transição democrática, argumentando ser a sua defesa uma
manobra do próprio comunismo. O esmagamento da vida, da dignidade; o direito de dizer, manifestar-
se, e discordar é reduzido ao “crime” do comunismo, diluindo a importância da vida à necessidade de
se combater o “mal”. Trata-se, de forma semelhante, à teoria argentina dos “dois demônios”, procu-
rando igualar a violência cometida pelos grupos armados e os órgãos do regime; ou, mais ainda, hi-
perbolizar e demonizar as ações dos militantes para reforçar a memória salvacionista dos militares,
justificando a intensidade da repressão e suas formas, a intervenção exterminista de seus agentes pela
paranoia preventiva contra a conspiração comunista histórica e poderosa. Nesse sentido, os mentores
de Orvil procuravam construir argumentos e imagens sobre si mesmos e sobre “os outros” a fim de
reforçar o que já haviam tentado fazer com a Lei da Anistia, em 1979: promover o seu auto-perdão.

Considerações finais

No processo de transição democrática é justo que forças contrárias se enfrentem na disputa


de memórias e usos do passado. No “acerto de contas” sobre um passado traumático, aqueles que
foram atingidos pela violência defendem formas de acesso à verdade que amenizem as feridas e con-
tribuam para “seguir em frente”. Para a busca da justiça, no entanto, é necessário que documentos,
narrativas e arquivos possam ser colocados em pauta, para serem comparados, cruzados, acareados.
O Brasil, desde o encerramento do regime militar não conseguiu, no entanto, colocar frente a
frente perpetradores e vítimas, colaborando para que versões possam ser confrontadas e que crimes e
abusos possam ser punidos. Desde a Lei de Anistia, decretada em 1979, pelos próprios agentes da
repressão, uma forma de silenciamento foi instaurada. O silêncio imposto por uma anistia, sem apon-
tar autores para as barbaridades cometidas nos porões das ditaduras, aparece ainda revestido do auto-
perdão, um imperativo militar que tentou relegar ao esquecimento incontáveis crimes e arbítrios de
um Estado de exceção.
Assim, embora seja justo ouvir também aqueles que governaram em suas versões, não foi a
175

isto que eles se dispuseram. Ao contrário de se estabelecer o diálogo ou o enfrentamento franco, a

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
partir da abertura de documentos e de depoimentos dos mais diferentes sujeitos acerca do passado
coletivo, o preço da conciliação sustentada pela anistia proposta pelos militares foi não julgar os crimes
em sua devida justeza, dado que não raramente as violências perpetradas pelo Estado e a violência das
guerrilhas foram genericamente aproximadas no discurso militar oficial, especialmente aqui no livro
Orvil, legitimando o uso da força contra ameaças subversivas. O discurso percebido no texto do pro-
jeto aponta para uma insustentabilidade teórica, coloca-se em conflito conceitos como democracia,
eliminando do conteúdo discussões aprofundadas e primando por uma constante autoafirmação, além
de contradições perceptíveis ao longo do texto que fragilizam o próprio discurso militar oficial.
O discurso apresentado na obra em questão se sustenta nos níveis ideológicos estratégicos,
apontados por Paul Ricoeur39: o que se manifesta pela distorção da realidade (vende-se a ideia de uma
necessária intervenção militar contra a constante ameaça comunista), pela legitimação do sistema de
poder (a ditadura para a defesa da frágil democracia) e de integração do mundo comum (fazer-se
aceitável e inteligível à sociedade civil). A produção de Orvil procurou legitimar a autoridade da ordem
e justificar todo e qualquer ato de violação aos direitos humanos, praticado pelo regime. Sobre esses
abusos e distorções que pretendem impor certa lembrança e promover certo esquecimento, Ricoeur
nos lembra que estes “são táticas de quem almeja o domínio do status quo, pois uma memória exercida
é, no plano institucional, uma memória ensinada” ou um “querer não-saber”, conveniente para se
evitar o conflito direto e necessário à reconstituição da democracia e para se produzir o auto-perdão
dos algozes40.
Este tipo de ação dos militares – que ainda hoje se apropriam da obra para combater a justiça
de transição (o que prevê o direito à verdade, à memória e à reparação) procuram se contrapor (desde
as décadas de 1970 e 1980) ao que Ricoeur chamou de “dever da memória”, o que significaria, do
ponto de vista ético e político, o enfrentamento do passado e o trabalho de luto coletivo. Pelo con-
trário, embora os autores e apoiadores de publicações como Orvil defendam o direito a uma “verdade
sufocada”, eles buscam apagar os vestígios das discórdias públicas, impedindo outras memórias. Com
sua versão, pretendem calar, findar. Não iniciar um debate. Querem o auto-perdão. Mas como perdoar
se não é possível acusar, nomear os autores e acessar informações?
O negacionismo ou a defesa da violência a qualquer custo não pode ser a solução para um
passado tão traumático. É dever do Estado democrático colocar em evidência as diferentes versões,
176

39 RICOEUR, Paul. Memória, história e esquecimento, Campinas: Unicamp, 2007, p. 94.


40 RICOEUR, Paul. Memória, história e esquecimento, Campinas: Unicamp, 2007, p. 98.

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com
não restritas a publicações, mas confrontá-las no cenário político, público e jurídico. Projetos ou livros
como Orvil, que propõem teses reviosinistas, desqualificando sujeitos, confundindo e acusando pes-
soas e grupos, sem que isso seja acompanhado da apresentação de documentos e acesso a arquivos;
sem que permitam à sociedade ter a liberdade ao conhecimento para somente, depois disso, decidir
coletivamente pelo perdão, contribuem para a lógica perversa do esquecimento seletivo e da impuni-
dade.

Bibliografia

ARNS, D. Paulo (org.) Brasil: nunca mais. Petrópolis: Vozes, 1985.


BRANDÃO, Priscila Carlos; LEITE, Isabel Cristina. Nunca foram heróis! A disputa pela imposição
de significado em torno do emprego da violência na ditadura brasileira, por meio de uma leitura
do Projeto ORVIL. Anos 90, Porto Alegre, v. 19, n. 35, p. 299-327, jul. 2012.
CENTRO de Informações do Exército (CIE), Orvil: tentativas de tomada do poder. 1987 (sem demais
referências).
COMISSÃO DA VERDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO (CEV) “RUBENS PAIVA”. Bagu-
lhão: A voz dos presos políticos contra os torturadores. São Paulo, 2014.
CHRISTO, Carlos Alberto Libânio. Batismo de Sangue. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
FIGUEIREDO, Lucas. Lugar nenhum: militares e civis na ocultação de documentos da ditadura. São
Paulo: Cia. das Letras, 2015.
GIORDANI, Marco Pollo. Brasil sempre. Porto Alegre: Tchê, 1986.
MACIEL, David. A Aliança Democrática e a transição politica no Brasil. In: Milton Pinheiro. (Org.).
Ditadura: O que resta da transição. 1ed., São Paulo-SP: Boitempo Editorial, v. 1, p. 269-301,
2014.
MACIEL, Lício; NASCIMENTO, José Conegundes do (orgs.). Orvil: tentativas de tomada do poder.
Brasília: Schoba, 2012.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.
PIRES, T. V. Ditadura militar brasileira e produção ideológica: Um estudo de caso com militares que atuaram
no período ditatorial. Cantareira (UFF), v. 1, p. 16-35, 2014.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3,
1989, p. 3-15.
RICOEUR, Paul. Memória, história e esquecimento, Campinas: Unicamp, 2007.
SAFATLE, V. P.; TELES, Edson (Org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boi-
tempo, 2010.
USTRA, Carlos Alberto Brilhante. A verdade sufocada. Campinas: Papirus, 1987.

Artigo recebido em: 04/06/2017 ♦ Artigo aprovado em: 30/06/2017


177

Revista Poder & Cultura, Rio de Janeiro, Vol. 4, Nº 7, pp. 158-177, Jan.-Jun. 2017 | www.poderecultura.com

Você também pode gostar