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Universidade Estadual de Feira de Santana

Colegiado do Curso de História


Disciplina/Ano: História do Brasil IV/2017.1
Docente: Profa. Dra. Maria Aparecida P. Sanches
Discente: Lucas Carvalho Santa Barbara

Ficha de Leitura
Autor: Lucilia de Almeida Neves Delgado
Título: “O Governo João Goulart e o golpe de 1964: memória, história e historiografia”,
Tempo, n. 28.
Local e data da Edição: jun. 2010. p. 123-143.
Estrutura Externa:
O texto é um artigo de uma revista acadêmica, que está dentro de um dossiê intitulado “1946-
1964: a experiência democrática no Brasil”, organizado e apresentado pelo historiador Jorge
Ferreira, da UFF. O artigo está dividido em oito tópicos.
Tema:
O tema do texto é o Governo João Goulart e o golpe de 1964.
Resumo:
A tese da autora é de que há um esquecimento/silenciamento em torno da figura e da trajetória
política de João Goulart, tanto no que respeita a memória quanto a historiografia. O
argumento principal é de que há pouca menção ao ex-presidente fora da Academia e pouca
produção sobre o mesmo dentro dela. Para demonstrar sua tese, a autora faz uma análise
classificatória das menções e produções historiográficas sobre João Goulart. Assim se resume
o exposto nos tópicos do texto: 1) a partir de discussões teóricas, a autora expõe rapidamente
sobre a trajetória histórica de João Goulart e analisa as menções sobre o mesmo em espações
e veículos fora da academia, como na grande imprensa, encontrando ora uma desqualificação
ora um silenciamento; 2) partindo de uma discussão sobre história e temporalidade, expõe-se
a forma como serão classificadas ao longo do texto as produções acadêmicas sobre João
Goulart e o golpe de 1964; 3) apresenta as “Visões estruturalistas e funcionais” sobre o golpe,
que predominaram na década de 1970, e que utilizaram a dimensão de tempos longos e
médios e explicaram-no relacionando-o aos problemas atávicos do Brasil, como o
subdesenvolvimento e o atraso da industrialização; 4) apresenta as interpretações, vigentes
nas décadas de 1980 e 1990, do golpe como tendo um caráter preventivo, sendo seu principal
motivo o descontentamento de setores conservadores com a crescente autonomia e
organização da sociedade civil, isso através de uma longa duração mesclada com elementos
conjunturais; 5) apresenta as análises empreendidas entre o fim da décadas de 1970 e na de
1980 utilizando o tempo curto e de caráter conjuntural, que interpretam o golpe como fruto de
uma ação conspiratória de setores anticomunistas das forças armadas, parte do empresariado
nacional, latifundiários e outros proprietários rurais, seguimentos conservadores da Igreja
Católica, capital internacional e partidos políticos, principalmente a UDN; 6) apresenta as
interpretações conjunturais de tempo curto e quase contextual, produzidas entre as décadas de
1980 e de 2000, que sobrevalorizam aspectos políticos do pré-1964, principalmente a questão
democrática, identificando a radicalização política e recusa à um consenso para a
governabilidade como responsáveis pelo Golpe; 7) apresenta as produções de um novo ciclo
produtivo, a partir dos anos 2000, que tiveram acesso a documentação inédita, foram
produzidas por causa de efemérides ou centraram na relação entre memória e história, e que
se caracterizam por dar ênfase a figura de João Goulart, dialogar com as diversas produções
historiográficas precedentes, trazer novas informações a partir de novas fontes e discutir sobre
a relação memória, história e esquecimento; 8) a autora conclui defendendo que deve-se
mesclar variáveis estruturais e conjunturais para entender o pré-1964 e o golpe, convicta de
que os responsáveis por este último foram os militares, apoiados internacionalmente e por
partidos políticos e organizações e segmentos da sociedade civil.
Citações Relevantes
“[...] João Goulart, que tem sido relegado a um segundo plano pela produção historiográfica e
também pela memória coletiva nacional” (p. 125).
“Analisar os fatores que engendram rupturas de ordens democráticas é tarefa complexa, supõe
identificação e compreensão da multiplicidade de variáveis presentes nas conjunturas que
precedem essas rupturas e supõe também compreensão da realidade da longa duração que
nelas se atualiza. Somente nas relações entre variáveis estruturais e conjunturais encontram-se
explicações consistentes para processos e acontecimentos históricos” (p. 143).
“Finalmente cabe registrar que este balanço não deve ser encerrado sem o registro de nossa
convicção de que os responsáveis pela deposição de João Goulart forma militares, respaldados
por apoio internacional e em parceria com partidos políticos, segmentos e organizações da
sociedade civil que se opunham à opção política do presidente e de seus aliados históricos” (p.
143).
“Foram os grupos conservadores, históricos opositores do trabalhismo e de João Goulart, os
responsáveis pela interrupção da experiência democrática brasileira em 1964. Foram eles
também que, à frente do governo federal, reproduziram por vinte anos uma prática
discricionária, autoritária, arbitrária e excludente. Inauguraram e reproduziram o tempo da
ditadura no Brasil pós-1964” (p. 143).
Comentários Pessoais
O texto, produzido por uma historiadora com larga experiência no tema abordado, parece
reunir as principais tendências interpretativas do mesmo. Mas sentimos falta da citação de
interpretações mais alternativas e por assim dizer radicais sobre o golpe, que produzem um
arrefecimento do período ditatorial, como se poderia caracterizar a visão do historiador Marco
Antônio Villa.
Apesar do apontado, o texto fez um bom balanço da memória e da historiografia sobre o João
Goulart e o golpe de 1964, muito importante para se ter uma visão panorâmica das
interpretações e se localizar política, teórica e metodologicamente neste campo em disputa.

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