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Disciplina: OFICINA DE ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL E AMÉRICA

Aluno: Luís Fernando Oliveira Campos


Professora: Profª Drª Alessandra Gasparotto
Texto: Aniversários do golpe de 1964: debates historiográficos, implicações políticas
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O texto de Mariana Joffily é um convite para uma análise mais aprofundada e


historicizada do golpe empresarial civil militar ocorrido no Brasil em 1964. No
decorrer do artigo, a autora busca abordar alguns debates sobre o tema a partir de
cinco questões principais: o caráter do golpe, a natureza do regime, a relação da
sociedade civil com a ditadura, o papel da luta armada e a periodização da ditadura
(JOFFILY, 2018 p. 207).
No primeiro subcapítulo do texto, a autora expõe os debates ocorridos nos
anos de 1980, um período ainda muito latente relacionado ao golpe. Para realizar
essa exposição e análise desses debates, serão utilizados três textos base. O
primeiro texto, 1964: A conquista do Estado : ação política, poder e golpe de classe,
de René Armand Dreifuss discute a participação efetiva da classe burguesa
nacional no golpe, também com a articulação de interesses multinacionais e
empresariais. A autora também destaca a relevância da Doutrina de Segurança
Nacional (DSN), sendo responsável pela criação de uma ideologia que daria
sustentação ao regime. A autora, no entanto, busca complexificar a abordagem de
Dreifuss, mostrando outros autores que também entendem a ascensão do regime
militar a partir de outras vias que não somente o corpo do exército, como por
exemplo o trabalho de Maria Helena Moreira Alves intitulado Estado e oposição no
Brasil. No final do primeiro sub-capítulo, a autora nos apresenta e discute a obra
Brasil: Nunca mais (BNM) que categoriza o golpe como uma coalizão civil-militar, o
trabalho também ressalta o uso sistemático e estruturado de tortura e violência
como parte funcamental do funcionamento do Estado repressivo.
A autora passa então para uma análise decorrente na década de 1990,
observado os 30 anos do golpe e também sob a constituição de 1988. As produções
na década de 90 foram diversas, mas muito centradas nas ciências políticas e na
imprensa, também é importante ressaltar que a maior parte desse “retorno” à
memória do golpe ocorreu nas décadas seguintes, no entanto, a autora nos mostra
alguns trabalhos do período, como o de Maria Celina D'Araujo e Gláucio Ary Dillon
Soares, 21 anos de regime militar: balanços e perspectiva (1994). Este importante
trabalho defende também, a agência dos militares no golpe, sendo peças centrais
nessa movimentação. O texto perpassa por outros autores relacionados ao tema, e
que publicaram seus escritos em um evento realizado na UNICAMP, aqui vale
destacar a armadilha de se observar os espectros políticos da época como
equivalentes, como no trabalho de Argelina Maria Cheibub Figueiredo.
Aos 40 anos do golpe (2004) a autora retorna a realizar um apanhado das
produções sobre o regime, que ganharam proporção antes nunca vista, com a
participação da academia, imprensa, sociedade civil, produzindo discursos distintos
sobre o acontecimento. Alguns fatores nos ajudam a entender esse aumento de
produções, no âmbito acadêmico, a abertura de arquivos e o distanciamento
temporal podem ser citados. A autora cita ainda as produções culturais e o cenário
político da época. A autora destaca o trabalho de Caio Navarro de Toledo que
buscou entender a mudança de abordagem da grande imprensa com relação ao
golpe, assim como o antagônico discurso entre a posição oficial e institucional do
Exército, com relação a de seus membros. O capítulo busca também uma dinâmica
de exposição de abordagens sobre o golpe a partir de diferentes meios de
comunicação e de produções culturais. Essas narrativas são múltiplas e abordam,
por exemplo, o caráter da luta da esquerda armada, a teoria dos "dois demônios"
adaptada a um contexto brasileiro, a relação entre história, mídia e debates sobre o
golpe, etc. A autora também aborda a periodização proposta por Elio Gaspari,
dividindo o momento em uma “ditadura temporária” (1964 e 1967), sistema
constitucional (1967 a 1968), ditadura “escancarada” (1968 a 1974) e a saída (1974
a 1979).
A abordagem do tema em 2014 é marcada então por um boom de produções
sobre o período, e produções distintas. No meio acadêmico houve uma grande
ampliação dos temas e abordagens sobre o assunto, assim como um aumento de
produções que circundam o tema. Em um período de crescente polarização política,
é importante ressaltar que houveram tentativas de deixar impune os torturadores do
Estado. A autora ressalta que 2014 foi o ápice da discussão sobre a ditadura, mas
também foi o início do processo que culminaria no golpe de 2016.
O texto se encerra com a pergunta: o golpe de 2016 mudará o golpe de
1964?. A autora ressalta que se faz necessário (naquele período e hoje) lembrar e
(re)descobrir o período, comunicar e se fazer ouvido, se aproximar de um debate
com um público mais amplo, mesmo com todas as dificuldades, evitando ao máximo
cair na armadilha de simplificação, abuso do passado, tudo que vá na contramão
dos valores éticos do universo do historiador.

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