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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Sumário faltam boa-fé, primazia e cooperação e cofiança

1. INSTITUTOS E NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. 2

2. PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL. 3

2.1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 3


2.2. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO 5
2.3. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA 7
2.4. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO 7
2.5. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO 8
2.6. PRINCÍPIO (OU GARANTIA) DO JUIZ NATURAL 9
2.7. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE 9
2.8. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO 10
2.9. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 10
2.10. PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL OU PARIDADE DE ARMAS 11
2.11. PRINCÍPIO DA DEMANDA (PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO DO JUIZ AO PEDIDO) 12
2.12. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE 12
2.13. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA 13
2.14. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ PROCESSUAL 13
2.15. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO 14
2.16. PRINCÍPIO DA PROMOÇÃO DA SOLUÇÃO CONSENSUAL DO CONFLITO 15
2.17. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO 15
2.18. PRINCÍPIO DO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE NO PROCESSO 15
2.19. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO 16
2.20. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA 16
2.21. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS 17

3. REGRAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. 18

3.1. REGRA DA INSTAURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO 18


3.2. RESPEITO À CRONOLOGIA 18

4. AUTONOMIA DO PROCESSO CIVIL. 18

4.1. SINCRETISMO (OU PRAXISMO) 19


4.2. PROCESSUALISMO (FASE DA AUTONOMIA OU CIENTÍFICA) 19
4.3. INSTRUMENTALISMO 19
4.4. NEOPROCESSUALISMO 19

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5. DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL. 20

5.1. RECONHECIMENTO DA FORÇA NORMATIVA DA CF 20


5.2. SURGIMENTO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 20
5.3. DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL 21

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL.


GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL. AUTONOMIA DO
DIREITO PROCESSUAL. INSTITUTOS E NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO
CIVIL. DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL.

1. INSTITUTOS E NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

i) Norma fundamental (gênero) = regras ou princípios


ii) As normas fundamentais estão no NCPC e também na CF (ex: vedação de prova ilícita).
iii) Há normas fundamentais no capítulo específico (I) e também espalhadas por todo o
NCPC.

Características das normas fundamentais:

i) norma que estrutura o modelo de processo brasileiro;


ii) possui função hermenêutica (ajudam na compreensão e aplicação de outras normas).

Ainda, segundo Fredie Didier, o fenômeno do neoconstitucionalismo exerceu influência no


direito processual civil, verificada em três vértices principais:

i. teoria das fontes: aplicação da teoria dos princípios como espécie normativa;
jurisprudência como fonte do Direito, principalmente no que diz respeito à força
vinculativa dos precedentes; adoção mais frequente, na técnica legislativa, de cláusulas
gerais e conceitos jurídicos indeterminados.
ii. teoria da hermenêutica: distinção entre texto e norma; criatividade do julgador;
proporcionalidade e razoabilidade.
iii. relação do direito processual civil com o direito constitucional : força normativa da
Constituição (CPC, art. 1º); aplicação dos postulados da teoria dos direitos fundamentais
(dimensões objetiva e subjetiva); expansão da jurisdição constitucional.

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2. PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL.

Princípios e garantias constitucionais:

i) devido processo legal (expresso);


ii) contraditório (expresso);
iii) ampla defesa (expresso);
iv) inafastabilidade (expresso);
v) duração razoável do processo (expresso);
vi) juiz natural (expresso);
vii) publicidade (expresso);
viii) motivação (expresso);
ix) duplo grau de jurisdição (implícito);
x) isonomia ou igualdade processual (expresso).

Princípios e garantias infraconstitucionais:

i) dispositivo;
ii) efetividade;
iii) eficiência ou economia processual;
iv) boa-fé e lealdade processual;
v) cooperação;
vi) promoção da solução consensual do conflito;
vii) primazia do julgamento de mérito;
viii) autorregramento da vontade das partes no processo;
ix) adequação;
x) proteção da confiança;
xi) instrumentalidade das formas.

2.1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

CF – ninguém será processado / perderá seus bens ou liberdade sem o DPL.

Origem: Idade média – premissa de uma reação ao exercício desmedido do poder (combate à
tirania), de submeter o poder a um controle (submissão da autoridade ao Direito). Autolimitação do
Estado-juiz no exercício da própria jurisdição. A noção remonta ao Édito de Conrado II (Decreto Feudal
Alemão de 1.037, sec. XI) que inspirou a Magna Carta de 1215, na qual foi consagrada como “law of the
land”.

Conceito: cláusula geral consistente em um conjunto de garantias mínimas que foram sendo
incorporadas com o tempo, necessárias à noção de um processo justo (série de exigências para que o
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processo seja considerado devido). Esse conjunto de garantias decorre de um acúmulo histórico: foram
conquistas paulatinas ao longo do tempo, das quais não cabe retrocesso (proibição do retrocesso). Não
há um consenso sobre quais postulados efetivamente integram o conceito de devido processo legal.

Dinamarco: é um sistema de limitações ao poder, imposto pelo próprio Estado de Direito para a
preservação de seus valores democráticos. A doutrina tem muita dificuldade em conceituar o devido
processo legal e precisar os contornos dessa garantia - justamente porque vaga e caracterizada por uma
amplitude indeterminada e que não interessa determinar.

Conteúdo

i) Devido: conceito aberto. É o conteúdo incorporado ao princípio das garantias de proteção


contra a tirania. Sinônimo de processo equitativo (Portugal), fair trial (Inglaterra), processo
justo. No Brasil, hoje, o devido processo legal garante ao cidadão: contraditório, ampla
defesa, motivação, publicidade, juiz natural, proibição de prova ilícita, igualdade, duração
razoável, duplo grau, efetividade, boa-fé (mínimo para que o processo seja devido).
Muitas dessas garantias, que são corolários do devido processo legal, ganharam
autonomia, inclusive com “inciso próprio” na CF.
ii) Processo: abrange o processo legislativo, administrativo e jurisdicional. Também se aplica
aos processos privados (eficácia horizontal dos direitos fundamentais), já tendo decidido o
STF pela incidência do devido processo legal quando do procedimento de exclusão de
associado (RE 201.819, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 11.10.2005).
iii) Legal: conformidade com o direito (não apenas com a lei). Por isso, alguns autores
preferem se referir ao “devido processo constitucional”. Processo conforme a CF, a lei,
costumes, negócios jurídicos, precedentes etc.

Dimensões:

i) Formal: respeito às garantias formais impostas pelo direito para que o processo seja devido
(contraditório, juiz competente, motivação).
ii) Material (substancial/substantivo): exigência de que não apenas o processo, mas também a
decisão que dele resulta seja devida. Está ligada á proporcionalidade e razoabilidade, como
bvem entendendo o STF, e é corroborada pelo art. 8 do CPC/15.
a) Concepção norte-americana: necessidade de amparar constitucionalmente novos
direitos diante do rol diminuto de direitos fundamentais. DPL da CF americana
atribuía outros direitos – fonte implícita de direitos fundamentais.
b) Concepção brasileira (STF): a dimensão substancial do devido processo legal significa
ser este fonte dos deveres de proporcionalidade e razoabilidade (CPC, art. 8º). Assim,
abre caminho para uma função de controle de conteúdo dos atos do Poder Público.

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Súmula Vinculante 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União


asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder
resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão.
Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa.
Súmula Vinculante 21: É inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso
administrativo.
Súmula Vinculante 28: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como
requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a
exigibilidade de crédito tributário.
Súmula 708 do STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação
nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado
para constituir outro.

2.2. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Pauta todo o NCPC.

CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes

Dimensões:

i) Formal: caracteriza-se pelo binômio ciência e reação. Às partes deve ser garantida a
ciência dos atos decisórios bem como a possibilidade de reação.
ii) Substancial: direito de influenciar na decisão (participação efetiva). Inclui o direito à
prova (não adianta deixar alegar, mas não deixar provar). Por isso, mesmo em questões de
ordem pública, não pode o juiz decidir sobre elas sem antes oportunizar manifestação das
partes (não surpresa).

Por essa razão o STJ já decidiu que Ministro que não acompanhou o início do julgamento com
sustentação oral não pode participar de sua continuação (EREsp 1.447.624).

O STJ entende que o fundamento ao qual se refere o art. 10 do CPC/15 é o fundamento jurídico e
não o fundamento legal (STJ, EmbDcl no Resp 1.280.825)

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Ampla defesa: direito de acesso aos instrumentos para influenciar na decisão. Integra o
contraditório.

Contraditório e motivação das decisões: a motivação é a resposta às alegações que evidencia o


diálogo entre os sujeitos processuais. O juiz acolhe ou rejeita as alegações com motivação, concretizando
o contraditório.

Contraditório x princípio dispositivo: o juiz decide nos limites do pedido, pois apenas nesse
campo há contraditório.

Processo administrativo: a CF/88 exige contraditório no PA, uma inovação no ordenamento.

Liminares inaudita altera pars: não ferem o contraditório, porque são decisões provisórias.
Contraditório postergado.

Art. 9º do NCPC: não se proferirá decisão CONTRA uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida (mas pode-se decidir a favor de alguém sem ouvi-lo). Isso não se aplica às tutelas
provisórias, às tutelas de evidência previstas no art. 311, II e III e ao art. 701 (ação monitória) . O rol de
exceções do art. 9º é exemplificativo, existindo outras hipóteses no CPC, art. 77/81 (imposição de ofício
de multa), 332 (improcedência liminar do pedido), 335 (julgamento antecipado do mérito). Nesses casos
não há inconstitucionalidade, pois a intenção é privilegiar a efetividade da jurisdição.

Juris STF: é inconstitucional o §2º do art. 22 da Lei 12.016/2019 (MS) quando prevê a necessidade
de oitiva prévia do representante da pessoa jurídica de direito público como condição para a concessão
de liminar em mandado de segurança coletivo, pois isso contrariaria o sistema referente à tutela de
urgência (ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes
julgado em 9/6/2021 (Info 1021)

Função do juiz – zelar (art. 7º do NCPC): compete ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Contraditório paritário. Partes devem ter as mesmas possibilidades de participação e influência. Juiz
tem o dever de equalizar desequilíbrios (dilata prazos e altera ordem das provas – art. 139, VI, NCPC).

Desconsideração da personalidade jurídica (art. 133): agora exige contraditório prévio.


Efetivação do princípio do contraditório.

Prova emprestada (CPC, art. 372): exigência expressa de observância do contraditório.

Vedação da decisão surpresa


Art. 10º do NCPC: consagra o dever de consulta e a proibição da decisão surpresa. Para respeitar o
contraditório o juiz não pode decidir com base em questão a respeito da qual as partes não se manifestaram,
mesmo se tratando de questões cognoscíveis ex officio. É uma concretização do contraditório. Qualquer decisão
deve ter seus fundamentos submetidos ao contraditório. Toda questão deve ter oportunidade de ser debatida.

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Art. 932 do NCPC: se o relator constatar a existência de fato superveniente ou questão cognoscível de
ofício, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 dias. Se a constatação ocorrer durante a sessão
de julgamento, esta será imediatamente suspensa.

Súmula Vinculante 3 do STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da


União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder
resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão.
Súmula Vinculante 5 do STF: A falta de defesa técnica por advogado no
processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
Súmula 196 do STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos.
Súmula nº 312 do STJ: No processo administrativo para imposição de multa de
trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração.
Súmula nº 373 do STJ: É ilegítima a exigência de depósito prévio para
admissibilidade de recurso administrativo.

2.3. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

Tradicionalmente, a doutrina distinguia a ampla defesa e o contraditório, que seriam figuras


conexas, sendo que a ampla defesa qualifica o contraditório, pois não há contraditório sem defesa.

Atualmente, tendo em vista o desenvolvimento da dimensão substancial do princípio do


contraditório, pode-se dizer que eles se fundiram, formando uma amálgama de um único direito
fundamental. A ampla defesa corresponde ao aspecto substancial do princípio do contraditório.

2.4. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Origem: tradicionalmente extraído do mero direito de ingresso em juízo (garantia constitucional


da ação). Sofreu alteração substancial de seu conteúdo, representando a garantia de outorga, a quem
tiver razão, de uma tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva (Kazuo Watanabe), além de
impedir a imposição de óbices ilegítimos à concessão da tutela eventualmente devida (Dinamarco), essa
visão é chamada de processo civil de resultados.

Possui dois aspectos:

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i) Relação entre a jurisdição e a esfera administrativa: o interessado em provocar o Poder


Judiciário não é obrigado a procurar antes disso os possíveis mecanismos administrativos
de solução de conflito, e mais, não é necessário esgotar a via administrativa. Entretanto, o
controle judicial dos atos administrativos deve estar restrito à observância das
formalidades do processo administrativo, da legalidade e dos princípios jurídicos, sob
pena de esvaziar a própria função do órgão administrativo.
ii) Acesso à ordem jurídica justa: entendimento de que a inafastabilidade somente existirá
concretamente por meio do oferecimento de um processo que efetivamente tutele o
interesse da parte titular do direito material.

Doutrina considera que há uma única exceção, no próprio texto constitucional: Justiça
Desportiva.

A exigência de preenchimento das condições da ação não implica violação ou exceção ao


princípio da inafastabilidade, mas verdadeiro pressuposto para a existência do próprio direito de ação
(teoria eclética adotada pelo NCPC).

Assim, não são consideradas exceções a este princípio (doutrina):

i) Habeas Data e prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício previdenciário


(embora se exija o prévio requerimento administrativo sob pena de carência de ação por ausência de
interesse de agir, não se exige o esgotamento da via administrativa); Se não houve pedido
administrativo anterior e a negativa, não é possível falar em lesão ou ameaça de lesão (STF, RE 63.240).

ii) Reclamação (embora se exija o esgotamento da via administrativa e das vias ordinárias
judiciais, não impede o acesso do interessado ao Poder Judiciário, mas somente inabilita o ingresso de
uma espécie de ação; o acesso à jurisdição está garantido, não pelo caminho mais fácil da reclamação,
mas por meio de ação ou recurso impugnativo, conforme o caso). O mesmo raciocínio é aplicado ao MS,
no que diz respeito à proibição do seu manejo quando couber recurso com efeito suspensivo, sem
necessidade de preparo ou caução do lesado.

Súmula Vinculante 28: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como


requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a
exigibilidade de crédito tributário.
Súmula 667 do STF: Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa
judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.
CJF – I Jornada de Direito Processual Civil - Enunciado 35: Considerando os
princípios do acesso à justiça e da segurança jurídica, persiste o interesse de agir
na propositura de ação declaratória a respeito da questão prejudicial incidental,
a ser distribuída por dependência da ação preexistente, inexistindo
litispendência entre ambas as demandas (arts. 329 e 503, § 1º, do CPC).
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2.5. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

CF - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os


meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela EC nº 45/2004)
CADH - Artigo 8º - Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas
garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na
determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza
(vigente no Brasil desde 1992).

Conceito: o processo deve durar o tempo adequado para resolução da lide.

Critérios para aferição da razoabilidade na tramitação: i) complexidade da matéria; ii)


comportamento dos litigantes, iii) comportamento do juiz; iv) estrutura do órgão judiciário.

Lei do Processo Eleitoral (9504): reputa-se razoável o prazo de 1 ano para a duração de processo
para perda de mandato eletivo (art. 97-A), contado de sua apresentação à Justiça Eleitoral e
compreendida a tramitação em todas as instâncias da Justiça Eleitoral.

Consequências da demora desarrazoada: i) responsabilidade civil do Estado, se causar dano à


parte e eventual direito de regresso contra o magistrado (art. 143CPC); ii) representação contra o juiz
(235 CPC) e redistribuição dos autos para o substituto legal; iii) privação do juiz de promoção (art. 93 ,
II, “e”, da CF, e art. 7º, §único, da Lei de Ação Popular), iv) Mandado de Segurança.

Se a demora advém das partes, há inúmeras medidas previstas pelo CPC, tais como: imposição
de multa por litigância de má-fé, o deferimento de tutela de evidência nos termos do art. 311 do CPC, o
indeferimento de medidas protelatórias e etc...

2.6. PRINCÍPIO (OU GARANTIA) DO JUIZ NATURAL

CF - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;


CF - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Conceito: exigência de que os atos de exercício da função estatal jurisdicional sejam realizados
por juízes instituídos pela própria Constituição e competentes segundo a lei, que deve adotar critérios
prévios e gerais para esse fim (Dinamarco). Juiz competente, independente, imparcial e aleatório.

Dimensão material: não basta que o juiz seja competente, é preciso que criar mecanismos que
garantam a sua imparcialidade. Por esse motivo existem as regras de distribuição dos processos, as
quais derivam de critérios prévios, objetivos e gerais.

Desse princípio resultam as seguintes garantias: i) impossibilidade de escolha do juiz para


julgamento de determinada demanda (a escolha será sempre aleatória de acordo com as regras abstratas
e gerais de competência); ii) proibição da criação de tribunais de exceção (o juízo deve ser prévio ao

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acontecimento de determinado fato); iii) julgamentos por juiz e não por outras pessoas ou funcionários,
sendo considerados juízes somente os integrantes dos órgãos enunciados pela Constituição Federal em
numerus clausus (art. 92 da CF);

Não violam o princípio do juiz natural: a) a covocação de juízes de 1º grau para substituírem
desembargadores, mutirão de julgamento, criação de Varas e Câmaras especializadas; Foro por
prerrogativa de função desde que decorram de regras abstratas, genéricas e impessoais: Varas e
Câmaras especializadas; Foro por prerrogativa de função.

Didier Jr. defende que o princípio também se aplica no âmbito administrativo (aos tribunais
administrativos e ao julgadores de requerimentos).

2.7. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

CF – art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos (...)

Conceito: imposição constitucional (11 NCPC e 93 CF) que garante o processo público com duas
dimensões:

i) Interna: para as partes, a qual não pode sofrer restrição;

ii) Externa: para a sociedade (fiscalização social, decorrente do interesse público à


informação). Pode sofrer restrição a) nos casos em que houver interesse público; b) como forma de
proteção da intimidade das partes. Segredo de justiça (189, CPC).

Acordo de sigilo: vedado. Há um objeto ilícito, pois a publicidade externa é garantia da


sociedade.

Procedimento arbitral: pode ser sigiloso desde que a confidencialidade estipulada seja
comprovada perante o juízo. Não pode haver cláusula de confidencialidade na arbitragen que
envolvam o poder público (art. 2º, §3º lei 9.307/96).

Publicidade x motivação: relação íntima. A motivação demonstra como o poder é exercido, ali
está a prestação de contas para a sociedade.

Publicidade x precedentes: o sistema de precedentes do NCPC exige publicidade para que a


sociedade conheça a orientação dos tribunais. Traz segurança jurídica diante da norma do precedente.
Dever de publicidade adequada – art. 927, §5º e 979.

2.8. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO

CF – art. 93, IX –(...) e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade (...)

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Conceito: imposição constitucional (93, IX, CF, e arts. 11 e 489, §1º, NCPC) que garante a
obrigatoriedade da exteriorização das razões de decidir (motivação, fundamentação), ou seja, da
exposição da conclusão formada pelo juiz a partir da cognição. Visa a conferir transparência ao exercício
do poder pelo juiz, para conhecimento pelas partes e possível controle pelos órgãos superiores da
Magistratura e pela própria opinião pública. Sua ausência gera nulidade absoluta (contudo, a coisa
julgada se impõe, porque a res judicata é a sanatória geral das nulidades do processo).

Origem: constitui meio de controle da atividade jurisdicional, forma de legitimação política da


atuação do Judiciário, além de ser essencial ao direito de recurso.

Art. 489, §1º, do NCPC: descreve as hipóteses em que, a senso contrário, uma decisão não se
considera adequadamente motivada.

Fundamentação per relationem x art. 489, §1º do CPC : “[...] a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, bem assim a do Supremo Tribunal Federal, admitem a motivação per relationem, pela qual se utiliza a
transcrição de trechos dos fundamentos já utilizados no âmbito do processo. Assim, descaracterizada a alegada
omissão e/ou ausência de fundamentação, tem-se de rigor o afastamento da suposta violação do art. 489 do
CPC/2015, conforme pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça [...]” (AgInt no AREsp n.
1.440.047/SP, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 11/6/2019, DJe de
14/6/2019.)

Súmula nº 123 do STJ: A decisão que admite, ou não, o recurso especial deve
ser fundamentada, com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais.

2.9. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Conceito: tem dois significados distintos e desdobra-se em dois aspectos de especial relevância
na disciplina do exercício da jurisdição: (i) oferta de recursos a serem manejados pelo vencido,
possibilitando o acesso aos tribunais com suas irresignações em relação a decisões desfavoráveis, e (ii)
imposição, salvo casos excepcionais de competência originária dos tribunais, do processamento inicial
das causas por juízes inferiores, de 1º grau, para só depois, se houver recurso, legitimar-se o exercício da
jurisdição pelos tribunais (Dinamarco).

Embora não expressamente previsto na CF, decorre da estruturação do Poder Judiciário em dois
ou mais níveis ou graus, representados pelos juízes inferiores e pelos tribunais de várias posições na
hierarquia judiciária.

Apesar de o duplo grau ser a regra, há exceções, que, desde que legalmente previstas, não
padecem de inconstitucionalidade. Exemplos: causas de competência originária do STF; embargos
infringentes na execução fiscal (cabível contra sentença proferida nos embargos de valor pequeno,
julgados pelo mesmo juízo que prolatou a sentença); hipótese do art. 1.013, § 3°, CPC, em que, havendo

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apelação contra a sentença que julgou o processo extinto sem resolução de mérito, o tribunal,
encontrando nos autos todos os elementos necessários à sua convicção, poderá promover o julgamento
de mérito (teoria da causa madura).

2.10. PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL OU PARIDADE DE ARMAS

Art. 7º NCPC: É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e


faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Conceito: equilíbrio da disputa processual. Cabe ao juiz zelar por esse tratamento no tocante aos
direitos e faculdades processuais.

Concretizações: i) imparcialidade do juiz ou equidistância do juiz às partes; ii) acesso à justiça


igual, sem discriminação; iii) reduzir diferenças pessoais no acesso com a justiça gratuita, sustentação
oral à distância, língua de sinais; iv) igualdade no acesso à informação para o contraditório efetivo.

O NCPC tenta, em vários momentos, concretizar a igualdade. Exs.: prioridade para idosos,
competência do foro do alimentando, atuação do MP em favor do incapaz, dever de uniformizar a
jurisprudência, inversão do ônus da prova, prerrogativa do MP e Defensoria, Suspensão de prazo para
advogada gestante etc.

Na linha da igualdade em sua vertente material, pode haver tratamento diferenciado entre as
partes quando verificada determinada hipossuficiência que o justifique. Ex: distribuição dinâmica ou
inversão do ônus da prova (CPC, art. 373, §1º e CDC, art. 6º VIII); prerrogativas da Fazenda Pública
(desnecessidade de adiantamento das custas processuais – CPC, art. 91; prazo em dobro – CPC, art. 183;
remessa necessária – CPC, art. 496); prerrogativas do MP e da Defensoria Pública (citação e intimação
pessoal e prazo em dobro – CPC, art. 180 e 186); tramitação prioritária (CPC, art. 1048).

Cabe ressaltar que o código, em atenção à igualdade como reconhecimento, estabeleceu a


necessidade de intérprete de libras para depoimento de pessoas com deficiência auditiva (art. 162, III,
CPC).

IMPORTANTE: no que se refere à tramitação prioritária, houve a inserção recente de novas


hipóteses legais:

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das
enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988 ;
II - regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente) .

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III - em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar, nos
termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).
(Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
IV - em que se discuta a aplicação do disposto nas normas gerais de licitação e
contratação a que se refere o inciso XXVII do caput do art. 22 da Constituição
Federal. (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)

2.11. PRINCÍPIO DA DEMANDA (PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO DO JUIZ AO PEDIDO)

Conceito: A movimentação inicial do processo fica adstrita à provocação pelo interessado. De


acordo com o princípio da demanda, o juiz está vinculado ao pedido formulado, ficando a sentença
adstrita aos limites objetivos propostos pelas partes (CPC, art. 141).

Existem 3 motivos para isso: O juiz que inicia a demanda fica com a imparcialidade
comprometida, sacrificaria os meios alternativos de resolução de conflitos e o Juiz naõ pode transformar
um potencial conflito jurídico em um conflito social.

Há exceções: a) restauração de autos; b) herança jacente; c) arrecadação de bens do ausente; d)


coisa vaga; e) alienação judicial; f) conflito de competência e etc…

Sistema inquisitivo puro: o juiz é colocado como figura central do processo, cabendo a ele a sua
instauração e condução sem a necessidade de qualquer provocação das partes.

Sistema dispositivo: o juiz tem uma participação condicionada à vontade das partes, que
definem não só a existência e extensão do processo, como também o seu desenvolvimento.

No Brasil, em relação à jurisdição contenciosa, adota-se o sistema misto, com preponderância do


princípio dispositivo. Segundo Daniel Assumpção, essa opção tem os seguintes fundamentos:

i) há necessidade de provocação do interessado para que exista o processo (dispositivo) a ser


desenvolvido por impulso oficial (inquisitivo);
ii) o juiz está vinculado aos fatos jurídicos componentes da causa de pedir (dispositivo), mas
as provas a respeito dos fatos podem ser determinadas de ofício (inquisitivo);
iii) o juiz deve observar o princípio da congruência ou da demanda (dispositivo), mas se
admite pedidos implícitos e a aplicação do princípio da fungibilidade (inquisitivo).

Desdobramento do princípio da demanda: O juiz deve julgar a lide nos limites do objeto do
processo delimitado pelo autor (492 CPC). Regra da adstrição ou congruência. Também se aplica em
matéria recursal (1.013 CPC).

2.12. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE

Conceito: o processo tem que produzir resultados e realizar o direito material. Processo devido é
processo efetivo. Impõe a necessidade de efetivação da decisão judicial. Relacionado ao direito à
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

obtenção da solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa (art. 4º do NCPC). Solução +
Satisfação.

Fundo constitucional: apesar de não ter previsão na CF, é direito fundamental sucedâneo do
DPL.

Direito à dignidade do executado x Direito à efetividade: conflito entre dois direitos


fundamentais a ser objeto de ponderação e resolução no caso concreto. Ex: impenhorabilidade de bens –
mitigação (possibilidade de penhora do valor acima de 50 SM – 833, §2º, CPC).

2.13. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Conceito: boa gestão do processo. O juiz deve obter o máximo possível dos recursos humanos e
financeiros disponíveis para administrar o processo e atingir o melhor resultado. Versão atualizada do
princípio da economia processual. Reforça a premissa de que o serviço jurisdicional é um serviço
público e, desse modo, deve ser prestado de modo eficiente. Previsão – art. 37, CF e art. 8º, NCPC.

Inclui instrumentos gerenciais (ciência da administração) para conduzir o processo obtendo o


máximo que se busca com o mínimo de recursos, com as técnicas de administração.

Dimensões

i) Administrativa: voltada aos tribunais (entes da administração). CNJ criado para otimizá-
la.

ii) Dimensão processual: dirigido ao juiz que, ao conduzir o processo, é o gestor deste.

Função hermenêutica: as normas processuais devem ser interpretadas consoante a eficiência,


buscando a prática do menor número de atos para atingir o melhor resultado. Ex. regras de conexão –
probatória; poder do juiz escolher o meio executivo; prova emprestada.

Efetividade X Eficiência: processo efetivo é aquele que realiza o direito material. É possível ser
efetivo e não eficiente. Processo eficiente é o processo efetivo com o menor uso de recursos possível.

2.14. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ PROCESSUAL

Art. 5º, CPC: aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a
boa-fé.

Conceito: dever de lealdade de quem participa do processo. Processo devido é aquele pautado
por comportamentos éticos dos sujeitos processuais (inclusive o juiz). Não tem previsão expressa na CF,
mas é um corolário do devido processo legal (devido processo leal).Art. 5º, CPC.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

É cláusula geral que foi sendo concretizada pela doutrina e pela jurisprudência. Abrange: i)
proibição de comportamentos dolosos; ii) impedimento do abuso de direito; iii) proibição de
comportamento contraditório (venire contra factum proprium – ex: juiz diz que é caso de julgamento
antecipado e julga improcedente por falta de provas); iv)interpretação de postulações e decisões (322,
§2º, e 489, §3º, CPC); v) fonte do princípio da cooperação (art. 6º); vi) influência na condução dos
negócios jurídicos processuais.

Funções da boa-fé (Judith Martins Costa – direito civil): i) interpretativa; ii) limitativa ou de
controle; iii) criativa (criação de deveres anexos/laterais).

Boa-fé objetiva X Boa-fé subjetiva: boa-fé objetiva é uma norma que impõe comportamentos
éticos (exame objetivo do comportamento, não da intenção). Boa-fé subjetiva é um fato, é o ânimo
interno da parte, a crença de agir corretamente.

Funções reativas da boa-fé/Aspectos parcelares

i) Supressio: supressão de um direito pelo seu não exercício, gerando na outra parte a
legítima expectativa de que não o exerceria. Ex.: nulidade de algibeira –parte, embora
tenha o direito de alegar nulidade, mantem-se inerte durante longo prazo, de modo que a
sua alegação extemporânea viola a boa-fé processual. Art. 278, CPC.
ii) Surrectio: surgimento de um direito diante da supressão do direito de outrem. É o outro
lado da moeda da supressio.
iii) Exceptio doli: defesa da parte contra ações dolosas da outra. Boa-fé em matéria de defesa.
iii) Venire contra factum proprium: proibição do comportamento contraditório a violar
confiança e lealdade. Art. 1.000, CPC.
iv) Tu quoque: vedação ao comportamento inesperado. Parte não pode criar situações que
viciem o processo para alegar, após, a nulidade. Art. 276, CPC.

2.15. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

Conceito: todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 6º do CPC.

A cooperação envolve (considerando que esse dever se estende a todos os sujeitos do processo):

i) das partes com o juiz: essa cooperação já se dá naturalmente no desenrolar do processo,


na medida em que, quanto mais a parte exerce sua defesa (dentro da boa-fé e sem abusos),
mais auxilia o juiz na formação do seu convencimento
ii) do juiz com as partes: a doutrina identifica quatro vertentes do princípio nesse ponto:
dever de esclarecimento (requerer às partes esclarecimentos sobre suas manifestações e
pedidos); dever de consulta (consultar as partes antes de decidir); dever de prevenção
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

(apontar eventuais deficiências e permitir correções); dever de adequação (o juiz deve


adequar o procedimento às especificidades do caso concreto).
iii) entre as partes: não significa que as partes devem cooperar com a outra em detrimento de
seus próprios interesses, mas sim, que devem ser, também, responsáveis pelo
desenvolvimento processual.

2.16. PRINCÍPIO DA PROMOÇÃO DA SOLUÇÃO CONSENSUAL DO CONFLITO

Conceito: afasta a solução por adjudicação para buscar o consenso derivado do acordo entre as
partes. O Estado tem o dever de buscar primeiro a solução amistosa dos conflitos em relação à
adjudicação judicial. Art. 3º, §2º, CPC (repete o que antes dizia a Resolução 125 do CNJ). Base para o
desenvolvimento de políticas públicas de solução consensual de conflitos.

Premissa: prefere-se a solução consensual dos conflitos, ainda que haja a intermediação estatal. É
Política Pública que gera pacificação, diminui a reincidência e diminui custos processuais. O NCPC é
estruturado sob esse princípio. A primeira audiência é de autocomposição, antes de contestação.

2.17. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO

Conceito: prioriza a solução do conflito, ou seja, a busca pela decisão de mérito com prioridade
sobre a extinção do feito por causas processuais, que devem ser corrigidas e sanadas. A solução de
mérito deve preponderar sobre a decisão que não é de mérito. Princípio espalhado por todo CPC. Art.
4º, CPC.

Manifestações: relator não pode deixar de conhecer recurso por questões formais (art. 932);
recurso especial recebido como recurso extraordinário (art. 1032); antes de indeferir a inicial, abre-se
oportunidade para emendá-la (art. 321); STF e STJ podem desconsiderar vício formal de recurso
tempestivo ou determinar a sua correção desde que não o reputem grave (art. 1028, §3º).

2.18. PRINCÍPIO DO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE NO PROCESSO

Conceito: o processo deve ser um ambiente propício para o exercício da autonomia privada
(poder de regular a própria vida, dimensão da liberdade). Processo devido é aquele em que não há
restrições irrazoáveis ou injustificadas ao exercício da autonomia da vontade. Transforma o processo em
um ambiente em que há liberdade negocial, sendo a vontade das partes fonte de norma. Não expresso
na primeira parte do CPC.

Limites: a extensão da autonomia privada possui limites, pois o processo é exercício de poder, da
jurisdição.

Manifestações no CPC: i) NCPC estruturado para estimular uma solução consensual (prestigia a
vontade); ii) postulações (ato de vontade) devem ser interpretadas – reconhece que postulação é um ato
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

de vontade; iii) previsão de diversos negócios jurídicos consensuais (ex: escolha consensual do perito,
calendário processual); iv) art. 190 – cláusula geral de negócios processuais atípicos; v) expansão da
arbitragem.

2.19. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO

Conceito: o processo devido é o adequado ao objeto, aos sujeitos e à finalidade.

i) Adequação objetiva: o processo deve ser adequado ao direito material discutido. Ex:
tratamento diferenciado entre crédito alimentar e outros créditos comuns; existência de
procedimentos especiais.
ii) Adequação subjetiva: adequação do processo às peculiaridades dos sujeitos. Também é
imposição do princípio da isonomia. Ex: prazos diferenciados para o poder público;
tramitação prioritária para os idosos.
iii) Adequação teleológica: processo deve ser adequado ao fim pretendido. Ex: fase de
produção de provas no processo de conhecimento, mas não na execução. As finalidades
distintas justificam a diferença no procedimento.

Quem deve adequar o processo?

i) Adequação legal ou abstrata: o legislador traça as regras adequadas para a construção do


processo. É prévia, em abstrato, de diretrizes gerais.

ii) Adequação jurisdicional (princípio da adaptabilidade do processo): o juiz adequa o


processo a partir das nuances do caso concreto. A lei prevê um modelo geral e o juiz flexibiliza.
Expressa: o próprio legislador autoriza o juiz a fazer uma adequação. Ex: dilação de prazos (art. 139, IV,
CPC). Atípicas: o juiz faz sem previsão legislativa expressa. Tema polêmico. O art. 7º CPC reforça diante
do dever de zelar pelo contraditório – que não é apenas formal.

iii) Adequação negocial: feita pelas partes a partir da cláusula de negociação sobre o
processo. Autorregramento. Art. 190, CPC.

2.20. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA

Conceito: dimensão do princípio da segurança jurídica, tem como objetivo proteger alguém que
confiou na observância de uma norma jurídica ou ato do poder público (expectativa legítima).

Pressupostos de aplicação: i) base da confiança: ato normativo produzido por quem tenha
competência; ii) confiança na base: alguém que tenha confiado naquele ato; iii) exercício da confiança:
sujeito se comportou a partir daquela confiança; iv) frustração da confiança: o poder público frustra, por
outro ato, a confiança gerada.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Relação com o processo: o processo produz atos normativos, logo, produz a base da confiança.
Deve atuar a partir dos precedentes anteriores, ou seja, não praticar ato que confronte confiança gerada.
As pessoas se comportam de acordo com aquele precedente.

Manifestações: impõe que os tribunais uniformizem sua jurisprudência (estável, íntegra e


coerente – art. 926); impõe o dever da modulação de efeitos da mudança jurisprudencial (justiça de
transição para minimizar o impacto e proteger a confiança).

O STJ possui entendimento de que “[...] havendo alteração de entendimento jurisprudencial, o novo
posicionamento aplica-se aos recursos pendentes de análise, ainda que interpostos antes do julgamento que
modificou a jurisprudência.” (AgInt no AREsp 870.997/AL, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 22/08/2017, DJe 06/09/2017).

2.21. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS

Conceito: ainda que a formalidade para a prática do ato processual seja importante em termos de
segurança jurídica, não é conveniente considerar o ato nulo somente porque praticado em
desconformidade com a forma legal. O essencial é verificar se tal desconformidade o afastou de sua
finalidade processual e se houve algum prejuízo para as partes.

Origem: a despeito da reconhecida autonomia da ação e do direito processual em relação ao


direito material, há que se ter em mente que o processo não é um fim em sim mesmo; o processo tem
por finalidade a aplicação concreta do direito material. Assim, importante enxergar o processo sob
prisma finalista, pois o processo e suas formalidades são instrumento para a obtenção de decisão de
mérito.

Questão da Oral – 188

Há distinção entre conceitos de efetividade e celeridade?

O que é efetividade?

Celeridade está ligada a que escopo da jurisdição?

 “Processo tem raízes constitucionais” – como se projeta essa frase para que não seja apenas uma
frase de efeito? Concretamente falando. Qual é o desdobramento? 

Princípio da demanda – Ação judicial de usuários de planos de saúde. Ficou determinado que uma
certa prática seria ilegal. Se você fosse o juiz e havendo outros interessados em situação igual, aplicaria a
medida de ofício a esses interessados? (Considerando o Princípio da demanda).   

Pedido de indenização/obrigação de fazer ou não fazer – em que credor não pediu astreintes. Como
juiz você pode de ofício estabelecer adoção da multa diária? (Considerando também o Princípio da demanda).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Execução fiscal – pedido de penhora – Devedor justifica onerosidade excessiva e pede substituição
do bem por outro de menor liquidez. Credor não se opõe a esse pedido. Juiz – considerando atos já praticados
– poderia se opor que esse bem fosse penhorado?

ART. 932, parágrafo único: esta norma positiva algum princípio do Processo Civil? Aplica-se aos
tribunais superiores? Conhece posicionamento do tribunal a respeito disso?

3. REGRAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL.

3.1. REGRA DA INSTAURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO

Instauração: demanda a provocação/iniciativa do jurisdicionado. Art. 2º CPC.

i) Inventário: CPC/73 - juiz iniciava de ofício. NCPC – não mais.


ii) Execução em obrigações de fazer/não fazer/diversa de dinheiro: instauração de ofício
(mas execução de obrigação de dar – R$ - não executa de ofício).
iii) Incidentes processuais: algumas são iniciados de ofício. Conflito de competência, IRDR
etc.

Desenvolvimento: se dá por impulso oficial (Art. 2º CPC),

i) salvo para a fase recursal (na fase recursal só há impulso oficial em remessa necessária);
ii) não impede a desistência;
iii) negócio processual: pode modular o impulso oficial em determinadas situações (ex:
suspensão negocial do processo).

3.2. RESPEITO À CRONOLOGIA

Conceito: as sentenças/acórdãos devem respeitar a ordem cronológica de conclusão (ato do


escrivão que encerra o processo para a decisão judicial). Arts. 12 e 153 do CPC.

i) Não aplicado para decisões interlocutórias. Ex. liminar.


ii) “Preferencialmente”: juiz pode, por ato motivado, afastar a ordem da lista.
iii) Controle: publicidade da lista de processos a julgar.

Caráter republicano – norma prestigia a igualdade e a duração razoável com tratamento


igualitário aos jurisdicionados.

4. AUTONOMIA DO PROCESSO CIVIL.

A ciência do processo passou por três fases: i) sincretismo (praxismo); ii) processualismo; e iii)
instrumentalismo. Hoje: os autores consideram que a ciência vive a 4ª fase: neoprocessualismo.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.1. SINCRETISMO (OU PRAXISMO)

Pré-história do processo. Durou até a segunda metade do século 19.

Processo não era visto como fenômeno distinto do direito material. As preocupações eram
eminentemente práticas (ex.: como fazer um recurso, uma petição inicial).

Segundo Dinamarco, nesta primeira fase não haveria verdadeira ciência do processo civil, “[...]
pois no sincretismo inicial os conhecimentos eram puramente empíricos, sem qualquer consciência de princípios,
sem conceitos próprios e sem a definição de um método.”

4.2. PROCESSUALISMO (FASE DA AUTONOMIA OU CIENTÍFICA)

Surgimento da ciência processual e da percepção de que o processo é um fenômeno distinto do


direto material. Iniciada com a obra de Oskar von Bulow (1868).

Buscou-se a afirmação da necessidade de uma consolidação teórica da ciência do processo, cujas


categorias deveriam ser distintas das do direito material (autonomia).

4.3. INSTRUMENTALISMO

Fase de maturidade da ciência processual. Surge em torno de 1960 (Livro clássico do Dinamarco:
“A Instrumentalidade do Processo”; “Acesso à Justiça”, de Mauro Cappellettti e Brian Garth). Neste último,
os autores sustentam uma reaproximação entre o direito material e o processual, com vistas a, sem
perder a autonomia do processo, torná-lo instrumento de acesso à justiça.

Não nega o processualismo e suas premissas, mas vê o processo como um instrumento de


satisfação/realização do direito material. Preocupa-se com a justiça, a efetividade, a acessibilidade e os
aspectos sociais do processo. Reaproximação do processo com o direito material e com o acesso à
justiça.

Para muitos autores, essa seria a fase atual da ciência processual.

4.4. NEOPROCESSUALISMO

Para Fredie Didier, a ciência vive hoje uma quarta fase, que não nega as duas últimas, mas que se
vale das transformações da ciência jurídica contemporânea, incorporando repertório teórico novo.

Há uma reconstrução da ciência do processo a partir da reconstrução da ciência do direito. Sob a


influência do neoconstitucionalismo, interage com a ideia de que o direito processual civil venha a
consagrar a teoria dos direitos fundamentais, bem como a força normativa da Constituição. Processo
como mecanismo de afirmação dos direitos reconhecidos na CF.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Os autores do Rio Grande do Sul desenvolveram uma terminologia própria para designarem o
neoprocessualismo: formalismo-valorativo ou ético (ou seja, um formalismo com conteúdo).

5. DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL.

Para DINAMARCO, o direito processual constitucional “é o método consistente em examinar o


sistema processual e os institutos do processo à luz da Constituição e das relações mantidas com ela. O método
constitucionalista inclui em primeiro lugar o estudo das recíprocas influências existentes entre Constituição e
processo – relações que se expressam na tutela constitucional do processo e, inversamente, na missão deste como
fator de efetividade dos preceitos e garantias constitucionais de toda ordem; inclui também o arsenal de medidas
integrantes da chamada jurisdição constitucional das liberdades (mandado de segurança, ação popular, ação civil
pública etc).” [...] “Em resumo: a) o direito processual constitucional é um método de exame do sistema processual
à luz dos preceitos contidos na Constituição; b) ele inclui a tutela constitucional do processo e a jurisdição
constitucional das liberdades; c) operam em dois sentidos as relações entre a Constituição e o processo: a
Constituição cercando o sistema processual de princípios e garantias, o sistema processual servindo de
instrumento de atuação dos preceitos contidos na Constituição.”

O direito constitucional passou por diversas transformações. Três pontos merecem destaque:

5.1. RECONHECIMENTO DA FORÇA NORMATIVA DA CF

O processo concretiza as normas constitucionais e as normas processuais devem ser interpretadas


de acordo com a CF. Constitucionalização do processo: várias normas processuais alcançaram patamar
de norma constitucional.

Qual a relação entre processo e constituição?

Há, pelo menos, 3 relações: i) o processo concretiza as normas constitucionais; ii) as normas
processuais devem ser interpretadas segundo a CF; iii) a constitucionalização do processo.

5.2. SURGIMENTO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Nos últimos 50 anos se desenvolveu uma teoria jurídica dos direitos fundamentais. Passou a ser
uma disciplina autônoma e ganhou destaque a eficácia horizontal (entre os cidadãos).

Dimensão objetiva: direitos fundamentais são normas (constitucionais) que orientam a produção
de todas as outras normas inferiores a elas.

Dimensão subjetiva: além de serem normas, são direitos, atribuíveis a sujeitos.

Qual a relação disso com o processo? Hoje se sabe que há normas processuais que têm natureza de
direito fundamental (direitos fundamentais processuais. Ex: contraditório, juiz natural). As normas
processuais têm de ser compatíveis com as normas de direitos fundamentais (dimensão objetiva). No
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

que toca à dimensão subjetiva, por serem direitos, os direitos fundamentais podem constituir o objeto
de um processo. Quando isso acontece, o processo tem de ser adequado para a tutela de direitos
fundamentais.

5.3. DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL

Houve significativa expansão da jurisdição constitucional. Isto é, o papel do STF no controle de


constitucionalidade teve sua importância elevada, bastando ver o aumento exponencial do número de
julgamentos de ADINs nos últimos anos.

Questões do oral – 188

“Processo tem raízes constitucionais” – como se projeta essa frase para que não seja
apenas uma frase de efeito? Concretamente falando. Qual é o desdobramento?

Violação à norma constitucional enseja recurso extraordinário? Conhece jurisprudência do


STF sobre isso?

Para que servem as “raízes constitucionais”?

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