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INTENSIVO I

Renato Brasileiro
Direito Processual Penal
Aula 4

ROTEIRO DE AULA

10. Interpretação da lei processual penal

✓ Interpretar é buscar o sentido da lei.

O art. 3º, CPP, diz:


CPP, art. 3o: “A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito.”

Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, no Processo Penal, admite-se a interpretação extensiva, a aplicação analógica
e o suplemento dos princípios gerais do direito.

10.1. Interpretação quanto ao resultado


Quanto ao resultado, a doutrina afirma que se pode ter:

a) Interpretação declaratória: neste caso, não se amplia nem se restringe o alcance da norma. O significado na norma
corresponde exatamente à sua literalidade. Limita-se, pois, a declarar a vontade da lei.

b) Interpretação extensiva: neste caso, a lei disse menos do que pretendia dizer. Assim, é possível fazer a interpretação
extensiva para abranger o que a lei não abarcou.
Exemplo: art. 581, CPP.

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Este artigo cita as hipóteses de cabimento do RESE. No inciso I, há a informação de que caberá RESE da decisão que não
receber a denúncia. Assim, é possível interpretar que cabe RESE da rejeição do aditamento da denúncia, mas não cabe
RESE da decisão que recebe a denúncia.
✓ Em suma: é perfeitamente possível a interpretação extensiva, desde que ocorra no mesmo sentido previsto em
lei.

c) Restritiva: é aquela em que o legislador disse mais do que queria dizer. Neste caso, o intérprete diminui, restringe o
alcance da lei.

Exemplo: algumas pessoas têm feito uma interpretação restritiva em relação ao art. 3º-C, §3º do CPP, alegando que o
legislador disse mais do que queria dizer, ou seja, não foi a intenção da lei excluir do juiz processo o acesso ao inquérito
policial, pois, se fosse essa a intenção, outros artigos do CPP deveriam ter sido modificados.

CPP, art. 3º-C, §3º: “A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial
ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria desse
juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da
instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou
de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019).

d) Progressiva: neste caso, o intérprete busca ajustar a lei às transformações que a sociedade experimentou (sociais,
jurídicas, científicas).

Exemplo: art. 68 do CPP1. Tal dispositivo cita que, caso a pessoa seja pobre, o MP pode promover a ação civil ex delicto
em seu favor. Entretanto, com o advento da CF/1988, afirma-se o MP não pode atuar em interesses individuais de
natureza disponível (interesses patrimoniais).
O tema foi levado ao STF, o qual decidiu que o dispositivo seria dotado de inconstitucionalidade progressiva, ou seja, de
modo a viabilizar o direito à assistência jurídica e judiciária dos necessitados, enquanto não houvesse a criação de
Defensoria Pública na Comarca ou no Estado em que reside o necessitado, o MP continuaria podendo ingressar com a
ação civil ex delicto.

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CPP, art. 68: “Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença
condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.”

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10.2. Analogia

Analogia não é forma de interpretação, mas sim método de integração.


✓ Integrar significa suprir lacunas.

Quando houver lacuna, aplica-se o dispositivo legal para situações semelhantes.


✓ A analogia pressupõe uma lacuna/omissão.

Ex: não existia procedimento probatório para interceptação ambiental. Dessa forma, por analogia, aplicava-se o mesmo
procedimento da Lei 9.296/1996 (interceptação telefônica) aos casos de interceptação ambiental.
Observação: apesar de a Lei 12.850/2013 por muito tempo autorizar a interceptação ambiental, a referida lei não
dispunha sobre procedimento probatório. Diante dessa omissão/lacuna quanto ao procedimento probatório a ser
adotado na interceptação ambiental, buscava-se o procedimento da interceptação telefônica.
A novidade é que o Pacote Anticrime alterou a Lei 9.296/1996 e regulamentou, no art. 8º-A2, o procedimento para o
deferimento da interceptação ambiental.

Atenção: não confunda a analogia com a interpretação analógica.


• A analogia é método de integração que pressupõe lacuna da lei.

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Lei 9.296/96, art. 8º-A: “Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento da
autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos,
quando: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do dispositivo de captação
ambiental. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por iguais
períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal permanente,
habitual ou continuada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na legislação específica para a interceptação
telefônica e telemática. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)”

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• A interpretação analógica é um método de interpretação. Trata-se de fórmula casuística seguida de uma fórmula
genérica. Apesar de não ser explícita, a hipótese em que a norma será aplicada está prevista no seu âmbito de
incidência, já que o próprio dispositivo legal faz referência à possibilidade de aplicação de seu regramento a casos
semelhantes aos por ele regulamentados.
Exemplo 1: art. 121, §2º, I do CP - Homicídio qualificado pela “paga ou promessa de recompensa, ou por outro
motivo torpe”. Torpe é algo tão repugnante quanto a paga e a promessa de recompensa, ou seja, o Código Penal
traz duas formas de homicídio qualificado e, por fim, utiliza uma forma genérica (“por outro motivo torpe”).
Exemplo 2: o art. 185, § 2º do CPP3 traz a possibilidade de utilização da videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real.

10.3. Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal.

O CPC pode ser aplicado no âmbito processual penal desde que haja lacuna.

CPC, art. 15: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições
deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.”

✓ O art. 15 do CPC deve ser objeto de interpretação extensiva, pois ele pode ser aplicado aos processos penais de
modo supletivo e subsidiário.

Obs. 1: etimologicamente, existe uma diferença entre aplicação supletiva e aplicação subsidiária. A primeira se destina a
suprir algo que não existe em uma determinada legislação, enquanto a subsidiária serve de ajuda ou de subsídio para a
interpretação de alguma norma ou mesmo um instituto.

Exemplo de aplicação supletiva do novo CPC no âmbito processual penal:

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CPP, art. 185, §2º: “Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá
realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de
sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou
de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento
em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento
destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.”

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CPC, art. 43: “Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão
judiciário ou alterarem a competência absoluta.”

Exemplo de aplicação subsidiária do novo CPC no âmbito processual penal:

CPC, art. 382: “Na petição, o requerente apresentará as razões que justificam a necessidade de antecipação da prova e
mencionará com precisão os fatos sobre os quais há de recair.”

Obs. 2: lacuna involuntária da lei como pressuposto para o emprego da analogia e consequente aplicação supletiva e
subsidiária do novo CPC no âmbito processual penal.

✓ Atenção: Não é possível usar a analogia como método de revogação de dispositivos vigentes na legislação
processual penal.

Conclusão: o emprego da analogia permitido pelo art. 3º do CPP pressupõe a inexistência de lei disciplinando matéria
específica, constatando-se, pois, a lacuna involuntária da lei. Por ser a analogia recurso de autointegração, e não
instrumento de derrogação de texto ou de procedimento legal, o emprego da analogia só pode ser admitido quando a lei
for omissa.

Exemplo 1: Contagem dos prazos exclusivamente em dias úteis.

CPC, art. 219: “Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.”

✓ Essa regra não é aplicável ao processo penal, pois o CPP traz regramento em sentido diverso.

CPP, art. 798: “Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias,
domingo ou dia feriado.
§1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
(...)
§3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato.”

Lei 9.099/95, art. 12-A. “Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, para a prática de qualquer ato
processual, inclusive para a interposição de recursos, computar-se-ão somente os dias úteis. (Incluído pela Lei n.
13.728/18)”

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✓ A alteração na Lei 9.099/95 ocorreu na parte processual civil do JEC e, portanto, não se aplica ao processo penal.

INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR

1. Conceito de inquérito policial

É o procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de
identificar fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e a materialidade da infração penal, a fim
de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

O inquérito policial funciona como um procedimento administrativo e tem uma dupla função (preparatória e
preservadora).

2. Natureza jurídica do inquérito policial.

O inquérito policial é um procedimento administrativo, ou seja, não é processo penal e tampouco é processo
administrativo.
Segundo a doutrina, o inquérito é um procedimento pois dele não resulta, pelo menos diretamente, a imposição de
nenhuma sanção.
✓ Quando um crime é cometido, o Estado desencadeia um conjunto de atividades objetivando a punição do autor
do fato delituoso (persecução penal).

A persecução penal é composta de duas fases bem distintas:


(i) fase investigatória;
(ii) fase judicial propriamente.

Persecução penal
Fase investigatória Fase processual
Procedimento administrativo Processo penal

Questão:
Eventuais vícios da fase investigatória poderão contaminar o processo com alguma nulidade?
Em regra, não. Eventuais vícios ou ilegalidades na fase investigatória não têm o condão de contaminar o processo penal
subsequente, salvo se se tratar de provas ilícitas. Sobre o tema, seguem trechos de julgados dos Tribunais Superiores:

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STF: “(...) Os vícios existentes no inquérito policial não repercutem na ação penal, que tem instrução probatória própria.
Decisão fundada em outras provas constantes dos autos, e não somente na prova que se alega obtida por meio ilícito”.
(STF, 2ª Turma, HC 85.286, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 29/11/2005, DJ 24/03/2006).

STJ: “(...) No caso em exame, é inquestionável o prejuízo acarretado pelas investigações realizadas em desconformidade
com as normas legais, e não convalescem, sob qualquer ângulo que seja analisada a questão, porquanto é manifesta a
nulidade das diligências perpetradas pelos agentes da ABIN e um ex-agente do SNI, ao arrepio da lei. Insta assinalar, por
oportuno, que o juiz deve estrita fidelidade à lei penal, dela não podendo se afastar a não ser que imprudentemente se
arrisque a percorrer, de forma isolada, o caminho tortuoso da subjetividade que, não poucas vezes, desemboca na odiosa
perda da imparcialidade. Ele não deve, jamais, perder de vista a importância da democracia e do Estado Democrático de
Direito. Portanto, inexistem dúvidas de que tais provas estão irremediavelmente maculadas, devendo ser consideradas
ilícitas e inadmissíveis, circunstâncias que as tornam destituídas de qualquer eficácia jurídica, consoante entendimento já
cristalizado pela doutrina pacífica e lastreado na torrencial jurisprudência dos nossos tribunais”. (STJ, 5ª Turma, HC
149.250/SP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 07/06/2011, DJe 05/09/2011).

Procedimento inquisitório: no curso do inquérito policial, não há contraditório nem ampla defesa. Segundo a
doutrina majoritária, mesmo após a edição da Lei 13.245/16, o inquérito policial continua sendo inquisitório.

Procedimento preparatório: o inquérito policial é procedimento preparatório para um possível processo penal,
que ocorrerá caso haja justa causa (art. 395, III, CPP).

Dupla função do inquérito policial:


a) preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo, além
de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo;
b) preservadora: a existência prévia de um inquérito inibe a instauração de um processo penal infundado,
temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado.

A autoridade policial citada no conceito é o delegado de polícia.


Observação: A Lei 12.830/2013 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado. Tal lei informa que o
delegado de polícia é a autoridade policial.
✓ O MP, excepcionalmente, pode investigar. Neste caso, ele não presidirá o inquérito policial e haverá a abertura
de um PIC (procedimento investigatório criminal – regulamentado pela Resolução 181 do CNMP).

As fontes de prova mencionadas no conceito são todas as pessoas ou coisas que têm algum conhecimento sobre
o delito. São exteriores ao processo e sua existência independe do processo penal.
Exemplo: pessoas que ouviram tiros advindos de uma sala onde ocorreu um assassinato (fontes de prova).
Quando essa fonte de prova (testemunhal) for introduzida no processo, haverá prova.

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✓ Assim sendo, há distinção entre fonte de prova e prova.

Elemento de informação também é diferente de prova.


✓ Quando a fonte de prova é introduzida ao processo penal, ela se torna elemento de informação. Dessa forma,
trata-se de elementos documentados em um procedimento investigatório, trazendo informações quanto à
autoria e/ou materialidade do delito.
✓ Em suma, existe grande diferença entre elemento de informação e prova. A distinção pode ser verificada a partir
da leitura do art. 155 do CPP:

CPP, art. 155: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.” (ver tópico 3.1 deste material).

Autoria e a materialidade: O art. 395, CPP, exige, para o início de um processo, a justa causa. Trata-se de um
lastro probatório mínimo para o início de um processo.

3. Finalidade do inquérito policial

- Identificar fontes de prova;


- Colheita de elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal;
- Inibir a instauração de um processo penal temerário.

3.1. Distinção entre elementos informativos e provas.

CPP, art. 155: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

Elementos informativos
- Colhidos na fase investigatória (PIC e inquérito policial);
- Não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa;
- O juiz deve intervir apenas quando necessário, e desde que seja provocado nesse sentido;
- Finalidade: a) úteis para a decretação de medidas cautelares; b) auxiliam na formação da opinio delicti;

Observações:
1) O fumus comissi delicti (fumaça do cometimento do delito) é fornecida pelos elementos informativos.
2) Opinio delicti é a convicção do titular da ação penal.

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Questão: será que os elementos informativos podem ser usados para a fundamentação do convencimento do juiz?
Para responder a essa questão, é necessário analisar o art. 155 do CPP com cautela.

CPP, art. 155: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

A partir da análise do art. 155, CPP, é possível perceber que os elementos informativos podem ser usados para
fundamentar o convencimento do juiz, desde que o juiz não se valha apenas desses elementos.

Em suma:
“Exclusivamente”: elementos informativos, isoladamente considerados, não podem fundamentar uma sentença. Porém,
tais elementos não devem ser desprezados durante a fase judicial, podendo se somar à prova produzida em juízo para
auxiliar na formação da convicção do magistrado.

Cuidado: o tema enfrentará sérias controvérsias diante do art. 3º-C do CPP (suspenso por ordem do Ministro Fux). Em
relação a esse dispositivo, há duas correntes:
1ª) Realiza uma interpretação sistemática para afirmar que o juiz da instrução e julgamento não mais poderá ter contato
com os elementos informativos colhidos no inquérito. De acordo com essa visão, portanto, os elementos informativos
nem mesmo subsidiariamente serão usados para formar o convencimento do julgador, salvo nos casos de provas
irrepetíveis, provas antecipadas e meios de obtenção de prova.
2ª) Entende que o art. 3º-C do CPP deve ser interpretado restritivamente, ou seja, segundo essa corrente, o dispositivo
se refere apenas aos autos da competência do juiz das garantias.

CPP, art. 3º-C, §3º: “Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na
secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo
enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de
obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado.”

STF: “(...) Padece de falta de justa causa a condenação que se funde exclusivamente em elementos informativos do
inquérito policial. Garantia do contraditório: inteligência. Ofende a garantia constitucional do contraditório fundar-se a
condenação exclusivamente em testemunhos prestados no inquérito policial, sob o pretexto de não se haver provado,
em juízo, que tivessem sido obtidos mediante coação”. (STF, 1ª Turma, RE 287.658/MG, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
03/10/2003).

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Provas
- Em regra, produzidas na fase judicial*;
- É obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa;
- A prova deve ser produzida na presença do juiz4;
- Durante o curso do processo, ao juiz também não é dada nenhuma iniciativa probatória (CPP, art. 3º- A5) - Trata-
se de tema polêmico: antes do Pacote Anticrime, entendia-se que o juiz poderia agir de ofício na fase processual.
Entretanto, diante do art. 3º-A do CPP, este tema tornou-se controverso.
Na opinião do professor, o juiz não pode agir de ofício em nenhuma fase da persecução penal.
- Finalidade: auxiliar na formação da convicção do juiz.

Atenção: O art. 155 do CPP diz que existem provas que não necessariamente são produzidas em juízo. Assim, em regra, a
prova é produzida na fase judicial.
*Exceções:
1) Provas cautelares;
2) Provas não repetíveis; e
3) Provas antecipadas.

CPP, art. 155: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

✓ Atenção: quando se tratar de provas cautelares, não repetíveis ou antecipadas, ainda que tais provas sejam
colhidas na investigação, podem ser usadas de forma exclusiva para o convencimento do juiz.

CPP, art. 3º-C, §3º: “Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na
secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo
enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de
obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado.”

Distinção entre provas cautelares, não repetíveis e antecipadas:

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Em regra, o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (princípio da identidade física do juiz – CPP, art. 399,
§2º).
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CPP, art. 3º-A: “O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)”

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Provas cautelares: São aquelas em que há um risco de desaparecimento da fonte de prova em razão do decurso do tempo.
Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o
contraditório será diferido (postergado).
✓ A prova cautelar é medida de natureza urgente.

Exemplos: meios de obtenção de prova - procedimentos de natureza extrajudicial que visam localizar fontes de prova
(interceptação telefônica, infiltração, ação controlada etc.).

Provas não repetíveis:


É aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada em razão do desaparecimento da fonte
probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Não dependem de autorização judicial, sendo
que o contraditório será diferido.
A prova não repetível é aquela que já foi produzida e que, em virtude do desaparecimento da fonte probatória, não pode
ser repetida. Essa prova não depende de autorização judicial e esta característica a diferencia da prova cautelar.

Exemplos: prova documental e exames periciais (em regra).

Atenção ao art. 3º-B, VII do CPP:

CPP, art. 3ºB, VII: “O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário,
competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...)
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados
o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

✓ O art. 3º-B do CPP trata das competências do juiz de garantias.


✓ O professor destaca que, como a prova não repetível não depende de autorização judicial, a leitura que é feita do
art. 3º-B, VII do CPP é que a autorização judicial é necessária para a prova antecipada. Este dispositivo, portanto,
deve ser interpretado restritivamente.

Provas antecipadas: São aquelas produzidas com a observância do contraditório real em momento processual distinto
daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância.
Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o
contraditório será real (contraditório para a prova).

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O contraditório, neste caso, deve ser observado durante a produção da prova antecipada, ou seja, o contraditório é real
e não diferido.

Exemplo 1: a única testemunha de uma chacina é uma pessoa muito doente, a qual corre sério risco de morte. Assim, o
delegado pode ir até o hospital, acompanhado do escrivão, para ouvir a testemunha. Neste caso, o depoimento terá o
valor de elemento informativo, não podendo ser utilizado como fundamento exclusivo para uma condenação criminal
(lembrar da controvérsia existente com o surgimento do Pacote Anticrime e citado anteriormente).
No caso do exemplo, o delegado deveria invocar o art. 225, CPP, requerendo ao juiz das garantias e sugerindo a colheita
antecipada do depoimento da testemunha.

CPP, art. 225: “Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de
que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento.”

Exemplo 2: depoimento especial (depoimento sem dano).


Lei n. 13.431, de 4 de abril de 2017 (vigência 1 ano após a publicação oficial)
“Art. 8o -Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência
perante autoridade policial ou judiciária.”

“Art. 11. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível, será realizado uma única vez, em sede
de produção antecipada de prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado.
§ 1o O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova:
I - quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos;
II - em caso de violência sexual.
§ 2o Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando justificada a sua imprescindibilidade pela
autoridade competente e houver a concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal.”

✓ O exemplo 2, referente ao art. 8º e ao art. 11 da Lei 13.431/2017 (depoimento sem dano), é relativo ao caso em
que o excesso de depoimentos da mesma pessoa pode levá-la à revitimização.

4. Atribuição para a presidência do inquérito policial

Conforme já mencionado, a atribuição para a presidência de inquérito policial é do delegado de polícia. Assim, promotor
de justiça jamais preside o inquérito policial, sendo possível que ele também investigue, mas por meio do PIC
(procedimento investigatório criminal).
A Lei nº 12.830/2013 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia:

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Lei n. 12.830/13 (vigência em 21/06/13): “Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.”

Antes do advento da Lei 12.830, havia pessoas que diziam que a função de delegado de polícia não era de natureza
jurídica. A citada lei, entretanto, afasta qualquer controvérsia neste sentido, dispondo que a função de polícia judiciária e
a apuração de infrações exercidas pelo delegado têm natureza jurídica.

O art. 1º da Lei 12.830/13 afirma que o delegado de polícia é a autoridade policial:

Lei n. 12.830/13 “Art. 2º. § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação
criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei (exemplo: Termo Circunstanciado) , que
tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.”

✓ Observação: o professor destaca que há muita polêmica sobre a possibilidade ou não de um policial militar lavrar
termo circunstanciado de ocorrência. O professor ressalta que, para concurso público, o ideal é defender que,
mesmo havendo simplicidade na lavratura do termo circunstanciado, este somente pode ser feito por delegado
de polícia.

O art. 2, §2º, Lei nº 12.830, traz um dispositivo que trata dos poderes do delegado frente a uma investigação criminal:

Lei n. 12.830/13 “Art. 2, § 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia,
informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.”

✓ Obs.1: o professor ressalta que é necessário interpretar a Lei 12.830/2013 com certo cuidado, pois, no caso do
art.2º, §2º, o legislador poderia ter acrescentado, no final do dispositivo, a expressão “salvo se houver
necessidade de autorização judicial prévia.”
Exemplo: em regra, o delegado pode determinar qualquer perícia. Exceção: não é possível determinar o exame
de insanidade mental. Neste caso, é necessária a autorização judicial.

✓ Obs.2: em relação aos “dados” citados no art.2º, §2º, Lei 12.830/2013, o delegado não pode, por exemplo,
requisitar diretamente dados bancários.
• Dados referentes à qualificação não dependem de autorização judicial prévia.

Lei n. 12.830/13“Art. 2, § 4o O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser
avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público

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ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia
da investigação.”

✓ Avocar é trazer para si a solução de um problema.


✓ A necessidade de despacho fundamentado (por interesse público ou por inobservância de procedimentos
previstos em regulamento) para avocar o procedimento investigatório é para tentar evitar pressão de superiores.

Lei n. 12.830/13 “Art. 2, § 5o A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.”

✓ Obs.: o delegado de polícia não goza de inamovibilidade. Assim, a Lei 12.830/2013 prevê que a remoção do
delegado só pode ocorrer por ato fundamentado.

4.1. Natureza do crime e atribuição para as investigações

Atenção: é a natureza do crime que define a polícia judiciária que irá investigá-lo. Veja a divisão abaixo:

a) Crime militar da competência da Justiça Militar da União;


Neste caso, quem investiga é o encarregado de inquérito policial militar. Trata-se de um oficial das Forças Armadas.
b) Crime militar da competência da Justiça Militar Estadual;
No caso em questão, as funções serão exercidas por oficial da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros.
c) Crime eleitoral;
Em relação a crimes eleitorais, a investigação é feita, em regra*, pela Polícia Federal.
*Atenção: o TSE afirma que, se na comarca em questão não houver Delegacia de Polícia Federal, as investigações poderão
ser feitas pela Polícia Civil.
d) Crime “federal”;
Os crimes federais são de competência da Polícia Federal.
e) Crime comum da competência da Justiça Estadual:
Os crimes comuns de competência da Justiça Estadual são, em regra*, investigados pela Polícia Civil.
*Atenção: segundo a Constituição Federal, o crime comum também pode ser investigado pela Polícia Federal, desde que
haja o cumprimento de dois requisitos:
• Quando crime for dotado de repercussão interestadual ou internacional; e
• Quando o crime demande uma repressão uniforme, conforme previsão legal.

CF, art. 144, §1: “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de

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bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei6;

✓ A lei mencionada pelo art. 144, §1º da CF é a Lei nº 10.446/2002, a qual versa sobre crimes que podem ser
investigados pela Polícia Federal. Entretanto, o aluno deve se atentar para o fato de que há também a Lei do
Terrorismo (Lei 13.260/2016), que diz que a Polícia Federal tem atribuições investigatórias no crime de terrorismo.

Lei n. 10.446/02
“Art. 1o Na forma do inciso I do §1 do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional
que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias
Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido
por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei n. 8.137/90); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em
decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e
IV - furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou
internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.
V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e venda,
inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do
CP). (inciso V acrescentado pela Lei n. 12.894/13).
VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou caixas eletrônicos, quando
houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de um Estado da Federação (inciso VI acrescentado pela Lei
n. 13.124/15, com vigência em 22/05/2015).
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros
casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.”

Lei n. 13.260/16
“Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da
União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu
processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.”

5. Características do inquérito policial.

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Nota: o que está grifado em amarelo não necessariamente será julgado pela Justiça Federal.

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5.1. Procedimento escrito:
Em regra, o inquérito policial deve ser reduzido a termo, conforme art. 9º, CPP:

CPP, art. 9º: “Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste
caso, rubricadas pela autoridade.”

Questão: podem ser feitas gravações durante o inquérito policial?


Sim, a gravação pode ser feita, conforme autorizado pelo art. 405, § 1º, do CPP.

CPP, art. 405, §1º: “Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas
será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinada a obter maior fidelidade das informações.”

5.2. Procedimento dispensável

O inquérito policial não é imprescindível para que uma pessoa seja denunciada. Assim sendo, o inquérito poderá ser
dispensado se a justa causa necessária (materialidade e autoria) para o início do processo penal for ministrada por outra
peça de informação.
Exemplo 1: a sindicância realizada nas Forças Armadas é um exemplo de peça de informação.
Exemplo 2: crime contra a honra cometido pela internet.

CPP, art. 39, § 5º: “O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.”

5.3. Procedimento sigiloso

Na aula passada, foi trabalhado o princípio da publicidade, o qual está previsto no art. 93, IX, CF. Este dispositivo está
inserido no capítulo que trata do Poder Judiciário. Assim sendo, tal princípio é válido para a fase judicial da persecução
penal.

Na fase investigatória, em regra, o procedimento é sigiloso. Isto porque o elemento do sigilo e da surpresa são essenciais
para a eficácia das investigações.

CPP, art. 20: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.”

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A despeito de o sigilo ser a regra quanto à investigação, em algumas hipóteses, a publicidade pode ser útil para a
elucidação dos fatos. Trata-se, entretanto, de exceção.
Exemplo: divulgação de retrato falado de um criminoso.

5.3.1. Acesso do advogado aos autos do procedimento investigatório.

O acesso do advogado ao inquérito é assegurado pela Constituição Federal. O Estatuto da OAB (Lei 8.906/94) também
versa sobre o tema:

Previsão normativa:

Constituição Federal, art. 5º, LXIII: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”

Lei n. 8.906/94 (redação antiga)


“Art. 7º São direitos do advogado: (...)
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos.”

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)


“Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;”

✓ O acesso do advogado não se limita aos inquéritos policiais. Hoje, o defensor deve ter acesso a qualquer
documento de natureza investigativa.

Amplitude do acesso do advogado aos autos da investigação preliminar


O advogado não pode ter acesso às diligências em andamento, pois isso poderia colocar em risco a eficácia da
investigação.

Súmula vinculante n. 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

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✓ A súmula em questão permite o acesso do advogado àquilo que já foi documentado no procedimento
investigatório. Assim sendo, podemos concluir que, se o elemento não foi documentado no procedimento
investigatório, o advogado não terá acesso a ele.
✓ Quem determina se se trata ou não de diligência em andamento é a autoridade policial e, portanto, há certa
discricionariedade da autoridade. Entretanto, o professor ressalta que discricionariedade não pode ser
confundida com arbitrariedade, ou seja, a autoridade policial, no caso concreto, decidirá se se trata ou não de
diligência em andamento.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)


“Art. 7º. São direitos do advogado: (...)
§11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de
prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.”

Procuração:
Em regra, não há necessidade de que o advogado tenha procuração para ter acesso aos autos. A exceção ocorre quando
o procedimento investigatório envolve segredo de justiça.
Exemplo: quebra de sigilo bancário.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)


“Art. 7º. São direitos do advogado:
(...)
§10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o inciso
XIV.”

Consequências decorrentes da negativa de acesso aos autos da investigação preliminar e instrumentos processuais a
serem utilizados pelo defensor:

O §12º, Lei 8.906/94, cita:

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)


“Art. 7º. §12. A inobservância dos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o
fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização
criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de
prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz
competente.”

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✓ Se o advogado não conseguir acesso aos autos da investigação preliminar, ele poderá requerer acesso aos autos
ao juiz competente. Caso o juiz não defira o pedido, é possível ingressar com uma reclamação perante o STF sem
prejuízo do manejo de MS e HC.
✓ As consequências da negativa de acesso envolvem a responsabilização criminal e funcional por abuso de
autoridade.

Lei n. 13869/19, art. 32: “Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar,
ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou
administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou
que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

(Des) necessidade de autorização judicial para o acesso do advogado aos autos do inquérito policial:
Em regra, não é necessária a autorização judicial para que o advogado tenha acesso aos autos do IP. A exceção ocorre nos
casos da Lei de Organização Criminosa.

Lei n. 12.850/13
(Nova Lei das Organizações Criminosas)
“Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial competente, para garantia da celeridade
e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.”

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