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Arquivo revisado e atualizado até 12/01/2023
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios
SUMÁRIO
SUMÁRIO .......................................................................................................................................................... 3
DIREITO PROCESSUAL CIVIL ...................................................................................................................... 5
QUAL DEVE SER O FOCO? ....................................................................................................................................5
1. CONCEITO DE PROCESSO................................................................................................................................5
2. CONCEITO DE PROCESSO CIVIL ....................................................................................................................6
3. RELAÇÃO ENTRE DIREITO PROCESSUAL E DIREITO MATERIAL. INSTRUMENTALIDADE
DO PROCESSO ...........................................................................................................................................................6
3. PROCESSO CIVIL CONSTITUCIONAL ...........................................................................................................8
4. FONTES DA NORMA JURÍDICA PROCESSUAL ...................................................................................... 11
5. INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO CIVIL .................................................................................................. 13
5.1. Principais métodos de interpretação da norma ................................................................................ 14
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO ..................................................................................... 15
7. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO .................................................................................. 17
8. NORMAS FUNDAMENTAIS ........................................................................................................................... 18
9. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL .............................................................................................................. 19
9.1. Devido Processo Legal ............................................................................................................................. 19
9.2. Princípio da dignidade da pessoa humana ......................................................................................... 20
9.3. Contraditório ................................................................................................................................................ 21
9.4. Ordem cronológica de julgamento........................................................................................................ 35
TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO ................................................................................................................ 38
TEMA DO DIA
Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios
FILTRO DO TEMA NO BUSCADOR DO DIZER O DIREITO:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PRINCÍPIOS
1. CONCEITO DE PROCESSO
Processo como método de produção de normas jurídicas: sob o enfoque da Teoria da Norma
Jurídica, o processo é método de produção fontes normativas e, por consequência, de normas
jurídicas. Lembrando que o poder normativo só pode ser exercido processualmente, seja pelo:
Processo como ato jurídico complexo: Para essa acepção, o processo seria sinônimo de
procedimento. É considerado um ato jurídico complexo, formado por vários atos jurídicos, em que
1
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 33-34.
Processo como relação jurídica: o processo é o conjunto das relações jurídicas que vão sendo
estabelecidas entre os sujeitos processuais, que envolvem o juiz, as partes, os auxiliares da justiça,
dentre outros. Assim, o conjunto de relações jurídicas formam uma relação jurídica maior,
denominada processo. Nesse sentido, processo é uma relação jurídica complexa, composta por um
feixe de relações jurídicas.
De acordo com Marcus Vinicius Rios Gonçalves2, o Processo Civil pode ser conceituado como
“o ramo do direito que contém as regras e os princípios que tratam da jurisdição civil, isto é, da
aplicação da lei aos casos concretos, para a solução dos conflitos de interesses pelo Estado-juiz. O
conflito entre sujeitos é condição necessária, mas não suficiente para que incidam as normas de
processo, só aplicáveis quando se recorre ao Poder Judiciário apresentando-se-lhe uma pretensão.
Portanto, só quando há conflito posto em juízo.”
Por sua vez, Fredie Didier3 conceitua como o “conjunto de normas que disciplinam o processo
jurisdicional civil – visto como ato-jurídico complexo ou como feixe de relações jurídicas. Compõe-se
das normas que determinam o modo como o processo deve estruturar-se e as situações jurídicas
que decorrem dos fatos jurídicos processuais.
Em resumo, o Processo Civil é o ramo do Direito que disciplina as normas da jurisdição civil,
estabelecendo o procedimento e as relações jurídicas dele decorrentes, podendo ser entendido,
ainda, como método do exercício da jurisdição.
2
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 84.
3
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 34.
A) Direito Material: são normas que indicam os direitos das pessoas. Corresponde a uma
situação jurídica da vida (bem da vida tutelado juridicamente).
B) Direito Processual: são normas instrumentais, que pressupõem o desrespeito às
normas de direito material, permitindo que seu titular possa recorrer ao Poder Judiciário
para fazer cumprir seu direito. O Processo não é um fim em si mesmo, mas um meio para
fazer valer o direito.
E, assim, diante da clara e necessária relação existente entre direito material e processual, tem-
se o que convencionou denominar de “instrumentalidade do processo”: “O processo é o
instrumento da jurisdição, o meio de que se vale o juiz para aplica a lei ao caso concreto. Não é um
fim em si, já que ninguém deseja a instauração do processo por si só, mas meio de conseguir
determinado resultado: a prestação jurisdicional, que tutelará determinado direito, solucionando o
conflito.”5
Em resumo: “O direito material sonha, projeta; ao direito processual cabe a concretização tão
perfeita quanto possível desse sonho”6.
O processo, enfim, realiza o direito material, e o direito material confere sentido ao processo,
que não pode ser visto como um fim em si mesmo.
4
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 86.
5
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 86.
6
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 39.
Sob essa perspectiva, o processo civil brasileiro é construído – e deve ser entendido - a partir
de um modelo estabelecido pela CF/88. É o chamado modelo constitucional de processo civil,
formado pelos princípios do devido processo legal, da isonomia, do juiz natural, da inafastabilidade
da jurisdição, do contraditório, da motivação das decisões judiciais, da duração razoável do processo,
entre outros.7 Nesse sentido:
7
Outros princípios que são expressamente referidos como normas fundamentais do processo civil são os da dignidade
da pessoa humana, proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, publicidade e eficiência (art. 8º, CPC).
As normas processuais não podem conflitar com as normas constitucionais, sobretudo no que
tange ao devido processo legal. Em resumo, todas as normas processuais devem ser interpretadas
de acordo com a CF.
Destaque-se que “O que hoje parece uma obviedade, era quase revolucionário numa época
em que a nossa cultura jurídica hegemônica não tratava a Constituição como norma, mas como pouco
mais do que um repositório de promessas grandiloquentes, cuja efetivação dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantão.” (SARMENTO, Daniel. O
neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais. Belo Horizonte, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009.)
8
[...] a atividade de aplicação do ordenamento jurídico passa a exigir um recinto de procedimentalidade discursiva,
marcado pela efetiva atuação das partes na construção do ato estatal, de forma que elas se identifiquem não apenas
como destinatárias, mas, também, como coautoras das decisões judiciais. (FARIA, Gustavo. Jurisprudencialização do
Direito: reflexões no contexto da processualidade democrática. Arraes. 2012, p. 61)
Dito por outras palavras, [...] a atividade de aplicação do ordenamento jurídico passa a exigir
um recinto de procedimentalidade discursiva, marcado pela efetiva atuação das partes na construção
do ato estatal, de forma que elas se identifiquem não apenas como destinatárias, mas, também,
como coautoras das decisões judiciais. (FARIA, Gustavo. Jurisprudencialização do Direito: reflexões
no contexto da processualidade democrática. Arraes. 2012, p. 61)
Todos os sujeitos processuais devem agir de modo a alcançar uma solução (de mérito) tão
justa e rápida quanto possível, inclusive o juiz.9 Esse novo princípio processual ganha autonomia em
face do princípio da boa-fé. Nesse contexto, a doutrina disciplina a existência de alguns deveres de
conduta do juiz, segundo o modelo cooperativo:
● Dever de esclarecimento: que se divide em dois aspectos: 1) O juiz tem o dever de esclarecer
seus posicionamentos/decisão para as partes. 2) Dever do juiz de pedir esclarecimento para
as partes, sanando dúvidas quanto às suas alegações e evitando, assim, proferimento de
decisões equivocadas;
● Dever de consulta: o juiz tem o dever de consultar as partes acerca de qualquer ponto de fato
ou de direito relevante para sua decisão, mesmo que este ponto possa ser conhecido de ofício
pelo juiz. A decisão do juiz não pode estar lastreada em ponto em que as partes não tiveram
oportunidade de se manifestar. (busca evitar que a parte seja surpreendida); Sobre o tema,
vide art. 10/CPC, acerca do qual voltaremos a falar.
● Dever de prevenção: se o juiz identifica alguma falha no processo, ele tem o dever de indicar
a falha processual e o modo como ela deve ser corrigida, evitando o proferimento de decisões
meramente formais (relação com o princípio da primazia da resolução de mérto). Ademais,
deve o magistrado, quando constatar deficiências postulatórias das partes, indicá-las,
precisamente, a fim de evitar delongas desnecessárias e a extinção do processo sem
julgamento do mérito. (STJ, RHC 37587/2016)
● Dever de auxílio: deve o juiz colaborar com as partes para a superação de dificuldades que
comprometam o exercício de seus direitos, como se pode perceber, a título exemplificativo,
da análise dos artigos 256, § 3º, 319, § 1º, 321, caput, entre outros.
9
“Observação importante que merece ser feita é que a cooperação prevista no dispositivo em comento deve ser
praticada por todos os sujeitos do processo. Não se trata, portanto, de envolvimento apenas entre as partes (autor e
réu), mas também de eventuais terceiros intervenientes (em qualquer uma das diversas modalidades de intervenção de
terceiros), do próprio magistrado, de auxiliares da Justiça e, evidentemente, do próprio Ministério Público quando atue
na qualidade de fiscal da ordem jurídica”. (BUENO, Celso Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São
Paulo: Editora Saraiva. pág. 45).
A) O dever de o juiz, antes de proferir decisão sem resolução de mérito, conceder à parte
oportunidade para, se possível, corrigir o vício processual.
B) O dever de o juiz diligenciar, a pedido do autor, a fim de que se obtenham informações
capazes de individualizar o demandado e viabilizar a sua citação.
C) O dever de as partes celebrarem convenções processuais.
D) O dever de o juiz, em sendo o caso, distribuir de forma dinâmica o ônus da prova.
E) O dever de o juiz dialogar com a parte mediante fundamentação concreta, estruturada
e completa.
https://youtu.be/598k_-6LTyg
Parte da doutrina divide as normas jurídicas processuais em formais e não formais, embora
tal distinção não seja de grande relevância prática.
Fonte formal primária – Lei decorrência do sistema romano germânico que prevalece no
ordenamento jurídico brasileiro. É importante ressaltar que o
CPC/15 será a principal lei em direito processual civil. No entanto,
existem outras leis esparsas que serão abordadas ao longo das
rodadas. Ex.: Lei do Mandado de Segurança, Lei da Ação Civil
Pública etc.
Fontes formais acessórias i) analogia, costume e princípios gerais do direito (art. 4º da Lei
de Introdução às Normas do Direito brasileiro);
ii) Súmula vinculante do STF nos termos do art. 103-A da
Constituição Federal: são criadas pelo Supremo Tribuna Federal,
mediante votação por quórum qualificado e, vinculam as decisões
judiciais e a Administração Pública. Essa súmula deve versar
sobre matéria constitucional e deve existir controvérsia atual que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre idêntica questão;
iii) Decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em
controle direto de constitucionalidade (art. 102, § 2º, da
Constituição Federal);
iv) os demais precedentes vinculantes, enumerados no art. 927,
III, IV e V do CPC
10
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 100.
Numa visão mais contemporânea,11 podemos identificar como rol de fontes da norma
processual:
a. Constituição Federal;
b. Lei federal. Nesse particular, vale lembrar que compete privativamente à União legislar
sobre direito processual,12 cabendo aos estados legislar sobre procedimento em matéria
processual.13 Legislar sobre procedimento é disciplinar a forma e o encadeamento dos atos
processuais, como, por exemplo, sobre “algum tema que permitiria o ajuste do procedimento a uma
peculiaridade circunscrita a uma dada região (por exemplo, sobre lugar onde a petição pode ser
protocolada).” (MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento...RT, 2017)
c. Tratados e convenções internacionais;
d. Medidas provisórias editadas antes da EC 32/2001 (que proibiu a edição de MPs em matéria
processual);
e. Precedentes;
f. Negócios jurídicos (v. art. 190/CPC);
g. Regimentos Internos;
h. Resoluções do Conselho Nacional de Justiça;
i. Costumes; “Há um exemplo corriqueiro: as comunidades indígenas têm capacidade de ser
parte e a sua representação processual será feita pelo seu respectivo cacique; a fonte normativa
dessa representação é o costume.” (DIDIER, Fredie. Ob. cit., 2022, p. 91)
11
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 24. ed. Salvador: Juspodivm,
2022. p. 85.
12
CF, art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
13
CF, art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] XI -
procedimentos em matéria processual;
Art. 8º, CPC/15: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”.
b) Jurisprudencial: feita pelos tribunais no julgamento reiterado de casos por ele julgados. A
reiteração de julgados é uma importante ferramenta que se valem os magistrados e demais
operadores do direito para fundamentar suas posições quanto ao alcance e sentido de uma norma.
14
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 109.
15
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 110-
111.
d) Histórica: busca interpretar a norma de acordo com a sua evolução histórica, o que inclui o
processo legislativo e as discussões que a precederam. É a análise do contexto de criação da
norma jurídica.
a) Extensiva: concluindo que a norma disse menos do que deveria, o intérprete estende a sua
aplicação para outras situações, que não aquelas originariamente previstas.
b) Restritiva: atribui à norma um alcance menor do que aquele que emanava originariamente do
texto.
c) Declarativa: não é nem restritiva, nem ampliativa. Dá à norma uma extensão que coincide
exatamente com o seu texto, nem estendendo nem reduzindo a sua aplicação.
Vigência: A vigência é o lapso temporal em que a norma tem força obrigatória. O início da
vigência marca o começo de sua exigibilidade. A lei passa por três fases fundamentais para que
tenha validade e eficácia: elaboração, promulgação e publicação. Depois vem o prazo de vacância,
geralmente previsto na própria norma.
“Vacatio legis”: É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Pode ser
definido como o tempo necessário para que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e
Regra: normas de processo têm incidência imediata, atingindo os processos em curso. Nenhum
litigante tem direito adquirido a que o processo iniciado na vigência da lei antiga continue sendo por
ela regulado, em detrimento da lei nova16.
Nesse contexto, vale lembrar que o art. 1.046/CPC estabelece que, quando da entrada em
vigor do código, suas disposições se aplicam desde logo aos processos pendentes, ficando revogado
o CPC/73, mas as disposições do código revogado, relativas ao procedimento sumário e aos
procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas
até o início da vigência deste Código.
No mesmo sentido, vide enunciado 568 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis
(FPPC): As disposições do CPC-1973 relativas aos procedimentos cautelares que forem revogadas
aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência do CPC/2015.
Atos jurídicos perfeitos: atos já praticados devem ser respeitados na forma realizada pela lei
anterior. Exemplo: recurso que tiver sido impetrado na vigência da lei anterior, quando ainda era
16
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 112.
Teoria do isolamento dos atos processuais17: os atos processuais são sucessivos e ordenados
no tempo. Assim, há a necessidade de ser verificar a fase em que se encontra cada ato: a) já
realizados; b) que serão ainda realizados; e c) situações pendentes.
a) Atos já realizados: a lei nova não atinge esses atos. Aquilo que foi realizado com base na
lei anterior deve perdurar até o fim do processo, não sendo atingido pela nova legislação;
b) Atos que serão ainda realizados: serão completamente regidos pela lei nova;
c) Situações pendentes: é o ponto mais complexo na análise. Prevalece que a lei nova não
pode prejudicar o direito processual já adquirido da parte.
Exemplo: se, no curso de um prazo recursal, sobrevém lei nova que extingue o recurso, ou
modifica o prazo, os litigantes que pretendiam recorrer ficarão prejudicados? Não, pois a
lei não pode prejudicar o direito adquirido processual. Desde o momento em que a decisão
foi publicada, adveio para as partes o direito de interpor o recurso que, então, estava
previsto no ordenamento, o NCPC não alcança os prazos em curso.
Por fim, uma observação em relação ao princípio do “tempus regit actum” e o direito probatório:
dispõe o art. 1.047/CPC que as disposições de direito probatório adotadas no Código de 2015
aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da data de início de sua
vigência.
Em complemento à citada regra, vale lembrar que o enunciado 366 do FPPC dispõe que o
protesto genérico por provas, realizado na petição inicial ou na contestação ofertada antes da
vigência do CPC, não implica requerimento de prova para fins do art. 1047.
E, ainda, ressalte-se que há quem defenda que “o que define a aplicação do CPC 1.047 é o
momento do deferimento ou determinação da prova (visto que o direito à prova surge com seu
deferimento). Se a prova foi requerida na vigência do CPC/73, mas deferida na vigência do CPC/15,
será regida pelo procedimento previsto neste último.” (NERY JR, Nelson. Ob. cit., p. 2.241)
17
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 112.
ATENÇÃO! Não confunda aplicação das normas de Direito Material e de Direito Processual. Um
juiz brasileiro pode aplicar normas de direito material estrangeiro, mas as normas processuais
seguirão o rito do processo civil brasileiro.
Sentença e processos estrangeiros: como regra, não tem eficácia no território nacional, salvo
se houver a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça18.
8. NORMAS FUNDAMENTAIS
Atenção! Caro(a) aluno(a), é fundamental e indispensável para seu concurso, a leitura atenta aos
dispositivos previstos nos art. 1º a 12 do CPC, pois orientam todo o processo civil e serão abordados
ao longo de toda a disciplina!
Vale ressaltar, também, que algumas normas fundamentais se encontram dispostas em outros
dispositivos do CPC/15 e serão devidamente abordadas ao longo das rodadas.
18
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 111.
19
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 61-62.
Com inspiração na Carta Magna Inglesa, de 1.215,20 o due processo of law funciona como um
princípio-base ou supraprincípio, norteador de todos os demais. Está associado à ideia de processo
justo com ampla participação das partes e a efetiva proteção de seus direitos 21. Por exemplo, os
princípios do contraditório, da ampla defesa, da isonomia, da motivação das decisões, decorrem do
devido processo legal. A Carta Magna dispõe, em seu art. 5º, LIV, da CF/88 que “ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
É importante destacar que o processo deve se conformar com o Direito considerado em seu
todo e não apenas com a previsão em lei22.
● Devido processo legal substancial (ou material): Forma de controle de conteúdo das
decisões (razoabilidade e proporcionalidade), para evitar abusividades. A interpretação das normas
jurídicas deve ser realizada de forma a observar os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Nesse sentido, prevê expressamente o art. 8º do CPC/15:
O “substantive due processo of law” também pode ser visto sob a perspectiva de limites ao
poder legislativo, evitando que normas de direito material eivadas de desproporcionalidade
e irrazoabilidade ofendam os direitos dos cidadãos.
Sobre o tema, a propósito, já destacou o Supremo Tribunal Federal que "a essência do
substantive due process of law reside na necessidade de proteger os direitos e as liberdades
das pessoas contra qualquer modalidade de legislação que se revele opressiva ou, como no
20
Carta Magna (Inglaterra, 1215), art. 39. Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade,
ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém
contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra.
21
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 176-177.
22
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 63.
Assinale a opção que apresenta ato atentatório à dignidade da justiça, que enseja
aplicação de multa, de acordo com o CPC.
23
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 75.
9.3. Contraditório
É princípio que encontra previsão constitucional no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a
ampla defesa, como os meios e recursos a ela inerentes.”
CONTRADITÓRIO TRADICIONAL
Informação: a parte toma conhecimento do processo para se posicionar a respeito.
Reação: o contraditório é assegurado ainda que a parte não reaja efetivamente, desde que tenha
tido oportunidade para fazê-lo. Nos processos envolvendo direitos indisponíveis a reação é
obrigatória.
24
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 179.
25
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 180.
ATENÇÃO:
Embora a regra seja o contraditório prévio (art. 9º, caput), em algumas hipóteses, o contraditório
pode ser diferido, a exemplo do que ocorre nas tutelas de urgência, situações de extrema
necessidade, nas quais a decisão judicial precede informação e possibilidade de reação da parte
adversa. Um exemplo para ilustrar diz respeito à concessão de tutela antecipada para cobertura de
planos de saúde.
O contraditório diferido somente deve ser aplicado quando o contraditório prévio representar risco
grave à tutela jurisdicional pleiteada27. É o caso, por exemplo, do réu que, tomando ciência do pedido,
pode efetuar atos para impedir que a tutela ocorra como o esvaziamento de contas bancárias etc.
OBSERVAÇÃO: Para parcela da doutrina28, o princípio da ampla defesa está inserido na necessidade
de se observar o contraditório substancial por meio da possibilidade de influenciar a decisão judicial
e evitar decisões surpresas. Em outras palavras, “o contraditório é o instrumento de atuação do
direito de defesa, ou seja, esta se realiza através do contraditório. (MENDONÇA Jr. Delosmar.
Princípios da ampla defesa e da efetividade no processo civil brasileiro. 2001, p.55)
26
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 182-183.
27
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 185.
28
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 87.
29
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 186.
Sistema inquisitivo: o juiz é a figura central do processo e cabe a ele a condução sem a
necessidade de provocação das partes. O juiz tem ampla liberdade de atuação.
Sistema dispositivo: o juiz tem participação condicionada à vontade das partes, que vão definir
desde a existência até a extensão do processo. Depende para seu prosseguimento da manifestação
das partes.
Sistema misto: adotado pelo sistema processual brasileiro e prevê uma mistura entre sistema
inquisitivo e dispositivo. Prevalece, contudo, o princípio do dispositivo. “Sistema misto temperado
com toques de inquisitoriedade”. Juiz está vinculado à causa de pedir (dispositivo), mas poderá
determinar provas de ofício (inquisitivo).
Previsão no CPC/15 (art. 2º): “O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por
impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.”
Previsão constitucional: Dispõe o art. 93, IX, da CF/88 a necessidade de motivação das
decisões judiciais, a fim de demonstrar a correção e imparcialidade do julgador, além de possibilitar
o controle da decisão pela coletividade.
Previsão no art. 11 do CPC/15: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.” (grifos acrescidos)
Decisões que não são consideradas fundamentadas (art. 489, § 1º, CPC/15): o CPC/15
estabeleceu hipóteses em que a decisão judicial não é considerada fundamentada. Diante da
30
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 189.
31
Na verdade, a ratio será o que a Corte afirma como como interpretação correta da lei. [...] É a tese jurídica ou
interpretação da norma consagrada na decisão. [...] Regra cuja ausência o caso seria decidido de outra forma. (In
MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos
determinantes da decisão).
No concurso da PGM São José do Rio Preto - SP (VUNESP - 2019), o tema foi cobrado
da seguinte forma:
OBSERVAÇÃO!
32
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 195-196.
Previsão constitucional (art. 5º, LX, CF/88): “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;” Note-se, portanto, que
há um limite constitucional expresso à possibilidade de restrição da publicidade dos atos processuais
pela legislação.
Previsão no CPC/15 (art. 8º e 11): infere-se dos dispositivos legais que todos os julgamentos
dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, o que, também, é confirmado pelo art. 189, caput, do
CPC.
a) Proteção das partes: evita que sejam praticados atos arbitrários e secretos em desfavor
das partes (aspecto interno);
b) Proteção da sociedade: Possibilita o controle da opinião pública sobre o comportamento
dos sujeitos processuais, guardando relação direta, portando, com o princípio da
fundamentação34 (aspecto externo).
Atenção! O princípio NÃO é absoluto, pois é possível a limitação da publicidade, nas hipóteses de
exigência do interesse público ou de respeito ao princípio da intimidade. Nesse sentido, o art. 189
do CPC estabelece as hipóteses admitidas de tramitação em segredo de justiça:
33
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 86.
34
A publicidade é instrumento de eficácia da garantia da motivação (DIDER, Fredie. Ob. cit., p. 88)
Terceiro com interesse jurídico: pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem
como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação (art. 189, § 2º, do CPC/15).
Previsão na Constituição: art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Previsão no art. 139/CPC: O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: [...] I – assegurar às partes igualdade de tratamento;
Aspecto material do princípio: Não basta tão somente a garantia formal da isonomia, em que
todos são colocados, indistintamente, em posição de igualdade, desprezando-se eventuais
disparidades no plano do direito material ou processual. Nesses casos, alguns sujeitos processuais
possuem tratamento diferenciado no processo, seja pela qualidade de parte ou pela natureza do
direito discutido, a exemplo da assistência judiciária gratuita, da possibilidade de inversão do ônus
da prova do consumidor (art. 6º, VIII, CDC), da representação processual do incapaz, entre outros.
Em outras palavras, o princípio da isonomia processual não deve ser entendido abstrata e sim
concretamente, garantindo às partes manter paridade de armas, como forma de manter equilibrada
ATENÇÃO
Outra hipótese de tratamento diferenciado diz respeito às prerrogativas da Fazenda Pública no
processo civil, a exemplo do prazo em dobro para se manifestar36, remessa necessária, isenção do
recolhimento de custas, vedação à concessão de liminar em algumas matérias 37, justificáveis pelos
interesses da coletividade e pela burocracia inerente à atividade estatal.
Necessário destacar ainda que decorre da isonomia a previsão no art. 12 do NCPC, pela qual
os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão (norma que será tratda adiante).
Art. 8º, CPC/15: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
35
Fundação Carlos Chagas. Concurso da Magistratura – 2020, prova objetiva.
36
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito
público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da
intimação pessoal.
37
Vide, p.ex., lei nº 8.437/92.
38
DIDIER, Fredie. Ob. cit., p. 151.
OBSERVAÇÃO: Há, ainda, o entendimento de que esse princípio abrange a tentativa de tornar o
processo o mais barato possível para as partes. É o caso da Assistência Judiciária Gratuita e dos
Juizados Especiais39.
Busca preservar a celeridade processual. No entanto, deve haver uma harmonização, haja vista
que o operador do Direito NÃO pode sacrificar direitos fundamentais das partes com o escopo de
obter a celeridade processual, "assegurando-se que o processo demore todo o tempo necessário
para a produção de resultados legítimos” (CÂMARA, Alexandre Freitas).
Em outras palavras, “Duração razoável tanto pode significar aceleração da marcha processual,
a bem do princípio da celeridade, como desaceleração, em homenagem a garantias como o
contraditório e a ampla defesa.” (SOUSA, José Augusto Garcia de. A tríade constitucional da
tempestividade do processo (em sentido amplo). Revista Eletrônica da PGE. V. 2, nº 1, 2019)
Previsão constitucional (art. 5º, LXXVIII, CF/88) – “a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”
Previsão no CPC/15 (art. 4º e 6º): No âmbito do Código de Processo Civil, a duração razoável
do processo é associada à necessidade de se buscar uma decisão justa e efetiva em tempo razoável.
Há também determinação para que haja a solução integral do mérito, inclusive em âmbito da
atividade satisfativa. Note-se, portanto, que há relação intrínseca entre esse princípio e o princípio
da primazia do julgamento de mérito que será abordado nos próximos tópicos. Instrumentos para
a razoável duração do processo previstas no CPC/15:
Vale lembrar, por fim, que antes mesmo da EC 45/2004 introduzir a garantia fundamental no
rol do art. 5º da CF, já havia previsão do princípio no Pacto de São José da Costa Rica (do qual o
39
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 204.
Dispõe sobre a possibilidade de sanar eventuais falhas processuais que não maculem o
processo, para buscar, sempre que possível, o julgamento do mérito. Nesse sentido, os arts. 4º e 6º
do CPC:
Vale lembrar, ainda, que tal princípio também deve ser aplicado no julgamento de recursos,
ocasião em que se fala do “princípio da primazia do julgamento do mérito recursal”. Como exemplo,
é possível citar a concessão de prazo para o recorrente trazer peças eventualmente ausentes no
recuso, antes de o relator inadmiti-lo por ausência de tais peças:
Segundo o STF (ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 7/6/2016), o prazo de 5 dias
previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário
sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura e não à complementação da
fundamentação. Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos
os fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a
complementação das razões do recurso, o que não é permitido.
Forma do ato: Como regra geral, os atos e os termos processuais independem de forma
determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir (art. 188/CPC). Se houver forma prevista
em lei para a realização do ato, é necessário que ela seja observada, sob pena de nulidade.
Finalidade do princípio: Busca aproveitar o ato viciado, ainda que praticado em desrespeito à
forma legal, desde que:
Nas palavras do STJ, “Segundo o princípio da instrumentalidade das formas, não se deve
decretar a nulidade do ato quando este não houver gerado prejuízo para as partes e tiver alcançado
sua finalidade.” (STJ, REsp 873.043/2007)
Ou, ainda, segundo as lições do professor Humberto Theodoro Jr.: “A preocupação maior do
aplicador das regras e técnicas do processo civil deve privilegiar, de maneira predominante, o papel
da jurisdição no campo da realização do direito material, já que é por meio dele que, afinal, se
compõem os litígios e se concretiza a paz social sob comando da ordem jurídica” (THEODORO JR.,
Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 33)
A boa-fé é regra de conduta que deve nortear o comportamento das partes, bem como a
interpretação da postulação e da sentença. Sua previsão consta do art. 5º do CPC, segundo o qual
aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
A boa-fé, nas palavras do STJ, se apresenta como uma exigência de lealdade, modelo objetivo
de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria
conduta a esse modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal.” (STJ, REsp
803.481/2007).
Destaque-se que a boa-fé a que se refere o CPC é a boa-fé objetiva, ou seja, aquela em que
não se analisa a intenção do sujeito ao praticar certo ato, sendo relevante, apenas, o seu
comportamento.
Além disso, são aplicadas ao processo civil algumas figuras parcelares da boa-fé objetiva
(comumente vistas no âmbito do direito material), tais como a:
Não tem interesse recursal o autor que, requerendo desistência do processo, argui, contra a
decisão homologatória, haver mudado de opinião. (STF, MS 25.742/2006)
Diante da prática de ato que macule o processo, o NCPC tutela mecanismos para coibir a
litigância de má-fé, a exemplo:
Sobre tal princípio, remetemos o leitor ao item 3 (“Processo Civil Constitucional”), onde
lançamos explicações sobre o assunto. Prevê que todos os sujeitos processuais devem cooperar
entre si para obter, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (art. 6º).
Ordem cronológica de julgamento: O CPC/15 estabelece em seu art. 12 uma ordem que deve
ser observada pelo juiz para conclusão do processo destinado a proferir a decisão final. É a
concretização dos princípios da igualdade e da duração razoável do processo, na medida em que
evita que processos conclusos há um bom tempo permaneçam sem julgamento40:
40
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015.
Ordem preferencial: A Lei nº 13.256/2016 modificou o art. 12 do CPC para prever que a ordem
cronológica deve ser seguida preferencialmente pelos juízes. Ainda assim, a ordem prevista
estabelece, como regra, a necessidade dos julgadores de decidirem os processos mais antigos.
41
Art. 1.040. Publicado o acórdão paradigma: II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o
processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido
contrariar a orientação do tribunal superior;
1) Processos que devem ocupar o primeiro lugar da fila (art. 12, § 6º, CPC):
a) tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de
diligência ou de complementação da instrução;
Convém destacar, ainda, que o art. 153 trata de assunto conexo, indicando que o escrivão ou
o chefe de secretaria atenderá, preferencialmente, à ordem cronológica de recebimento para
publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais, excluídos da regra geral os atos urgentes,
assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado e as preferências legais.42
Referências Bibliográficas:
Alexandre Freitas Câmara. O Novo Processo Civil Brasileiro.
Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil.
Fredie Didier Júnior. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil.
Marcus Vinicius Rios Gonçalves. Direito Processual Civil Esquematizado.
Mozart Borba. Diálogos sobre o novo CPC.
42
Art. 153, § 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de recebimento entre os atos
urgentes e as preferências legais.
§ 4º A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos próprios autos, ao juiz do processo,
que requisitará informações ao servidor, a serem prestadas no prazo de 2 (dois) dias.
§ 5º Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a instauração de processo
administrativo disciplinar contra o servidor.
Conforme as Fontes
Interpretação de
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Resultados
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