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Conceito. Fontes. Interpretação.

Princípios
Arquivo revisado e atualizado até 12/01/2023
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios

SUMÁRIO

SUMÁRIO .......................................................................................................................................................... 3
DIREITO PROCESSUAL CIVIL ...................................................................................................................... 5
QUAL DEVE SER O FOCO? ....................................................................................................................................5
1. CONCEITO DE PROCESSO................................................................................................................................5
2. CONCEITO DE PROCESSO CIVIL ....................................................................................................................6
3. RELAÇÃO ENTRE DIREITO PROCESSUAL E DIREITO MATERIAL. INSTRUMENTALIDADE
DO PROCESSO ...........................................................................................................................................................6
3. PROCESSO CIVIL CONSTITUCIONAL ...........................................................................................................8
4. FONTES DA NORMA JURÍDICA PROCESSUAL ...................................................................................... 11
5. INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO CIVIL .................................................................................................. 13
5.1. Principais métodos de interpretação da norma ................................................................................ 14
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO ..................................................................................... 15
7. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO .................................................................................. 17
8. NORMAS FUNDAMENTAIS ........................................................................................................................... 18
9. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL .............................................................................................................. 19
9.1. Devido Processo Legal ............................................................................................................................. 19
9.2. Princípio da dignidade da pessoa humana ......................................................................................... 20
9.3. Contraditório ................................................................................................................................................ 21
9.4. Ordem cronológica de julgamento........................................................................................................ 35
TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO ................................................................................................................ 38

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TEMA DO DIA
Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios
FILTRO DO TEMA NO BUSCADOR DO DIZER O DIREITO:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PRINCÍPIOS

QUAL DEVE SER O FOCO?

1. Constitucionalização do Processo Civil


2. Princípios Processuais
3. Aplicação da Lei Processual no Tempo

1. CONCEITO DE PROCESSO

Conceito de processo: há várias definições diferentes para processo, a depender da


perspectiva de análise realizada. Assim, pode ser, segundo Fredie Didier Jr.1,:

a) método de criação de normas jurídicas;


b) ato jurídico complexo; e
c) relação jurídica.

Processo como método de produção de normas jurídicas: sob o enfoque da Teoria da Norma
Jurídica, o processo é método de produção fontes normativas e, por consequência, de normas
jurídicas. Lembrando que o poder normativo só pode ser exercido processualmente, seja pelo:

a) Processo legislativo: criação de normas gerais pelo Poder Legislativo;


b) Processo administrativo: produção de normas gerais e individualizadas pela
Administração Pública;
c) Processo jurisdicional: produção de normas pela jurisdição. Nesse caso, para ser válido, o
processo deve seguir o modelo previsto na Constituição Federal com todos seus institutos
e direitos fundamentais
d) Processo negocial: criação de normas decorrentes do princípio da autonomia da vontade.

Processo como ato jurídico complexo: Para essa acepção, o processo seria sinônimo de
procedimento. É considerado um ato jurídico complexo, formado por vários atos jurídicos, em que

1
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 33-34.

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temos o ato final que o caracteriza, mas também ato ou atos condicionantes do ato final, que se
relacionam entre si, ordenadamente no tempo, de modo que constituem partes integrantes de um
processo. É, assim, o conjunto ordenado de atos destinados a um fim; um “ato compexo de formação
sucessiva”: os vários atos que compõem o tipo normativo sucedem-se no tempo

Processo como relação jurídica: o processo é o conjunto das relações jurídicas que vão sendo
estabelecidas entre os sujeitos processuais, que envolvem o juiz, as partes, os auxiliares da justiça,
dentre outros. Assim, o conjunto de relações jurídicas formam uma relação jurídica maior,
denominada processo. Nesse sentido, processo é uma relação jurídica complexa, composta por um
feixe de relações jurídicas.

2. CONCEITO DE PROCESSO CIVIL

De acordo com Marcus Vinicius Rios Gonçalves2, o Processo Civil pode ser conceituado como
“o ramo do direito que contém as regras e os princípios que tratam da jurisdição civil, isto é, da
aplicação da lei aos casos concretos, para a solução dos conflitos de interesses pelo Estado-juiz. O
conflito entre sujeitos é condição necessária, mas não suficiente para que incidam as normas de
processo, só aplicáveis quando se recorre ao Poder Judiciário apresentando-se-lhe uma pretensão.
Portanto, só quando há conflito posto em juízo.”

Por sua vez, Fredie Didier3 conceitua como o “conjunto de normas que disciplinam o processo
jurisdicional civil – visto como ato-jurídico complexo ou como feixe de relações jurídicas. Compõe-se
das normas que determinam o modo como o processo deve estruturar-se e as situações jurídicas
que decorrem dos fatos jurídicos processuais.

Em resumo, o Processo Civil é o ramo do Direito que disciplina as normas da jurisdição civil,
estabelecendo o procedimento e as relações jurídicas dele decorrentes, podendo ser entendido,
ainda, como método do exercício da jurisdição.

3. RELAÇÃO ENTRE DIREITO PROCESSUAL E DIREITO MATERIAL. INSTRUMENTALIDADE DO


PROCESSO

2
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 84.
3
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 34.

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Para a doutrina4, há diferenças entre direito material e processual e uma relação íntima entre
eles (“relação circular entre o direito material e o processo”), o que, em última análise, leva, como
veremos, a uma ideia de “instrumentalidade do processo”:

A) Direito Material: são normas que indicam os direitos das pessoas. Corresponde a uma
situação jurídica da vida (bem da vida tutelado juridicamente).
B) Direito Processual: são normas instrumentais, que pressupõem o desrespeito às
normas de direito material, permitindo que seu titular possa recorrer ao Poder Judiciário
para fazer cumprir seu direito. O Processo não é um fim em si mesmo, mas um meio para
fazer valer o direito.

E, assim, diante da clara e necessária relação existente entre direito material e processual, tem-
se o que convencionou denominar de “instrumentalidade do processo”: “O processo é o
instrumento da jurisdição, o meio de que se vale o juiz para aplica a lei ao caso concreto. Não é um
fim em si, já que ninguém deseja a instauração do processo por si só, mas meio de conseguir
determinado resultado: a prestação jurisdicional, que tutelará determinado direito, solucionando o
conflito.”5

A instrumentalidade do processo é indispensável para a compreensão de diversos institutos


do direito processual, como a causa de pedir, o conteúdo da sentença, a intervenção de terceiros, as
defesas do acusado, dentre outras.

Em resumo: “O direito material sonha, projeta; ao direito processual cabe a concretização tão
perfeita quanto possível desse sonho”6.

Nas palavras do Superior Tribunal de Justiça, “o direito processual é, a um só tempo, um ramo


jurídico autônomo, mas também um instrumento específico de atuação a serviço do direito material,
haja vista que seus institutos básicos são concebidos e se justificam para garantir a efetividade do
direito substancial ou material, na hipótese de uma determinada controvérsia jurídica ser sujeita à
apreciação do juiz.” (STJ, Informativo 673, REsp 1.770.863/2020)

O processo, enfim, realiza o direito material, e o direito material confere sentido ao processo,
que não pode ser visto como um fim em si mesmo.

4
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 86.
5
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 86.
6
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 39.

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No concurso da PGM Itapevi - SP (VUNESP - 2019), o tema foi cobrado da seguinte
forma:

Assinale a alternativa que apresenta o princípio e sua respectiva característica.

“Esse princípio preza pela observação e conhecimento do conteúdo e não somente da


forma, já que essa não deve aniquilar aquela.”

O princípio do processo civil coletivo mencionado é, doutrinariamente, chamado de


princípio

A) da instrumentalidade das formas.


B) da indisponibilidade.
C) da não taxatividade.
D) do impulso oficial.
E) do amplo acesso à Justiça.

A alternativa considerada correta foi a letra C.

3. PROCESSO CIVIL CONSTITUCIONAL

O processo é o instrumento pelo qual a Democracia é exercida e, em um Estado Democrático


de Direito, todo e qualquer ato estatal de poder deve ser construído através de processos, sob pena
de não ter legitimidade democrática, e, por conseguinte, ser incompatível com o Estado
Constitucional.

Sob essa perspectiva, o processo civil brasileiro é construído – e deve ser entendido - a partir
de um modelo estabelecido pela CF/88. É o chamado modelo constitucional de processo civil,
formado pelos princípios do devido processo legal, da isonomia, do juiz natural, da inafastabilidade
da jurisdição, do contraditório, da motivação das decisões judiciais, da duração razoável do processo,
entre outros.7 Nesse sentido:

“A coerência substancial há de ser vista como objetivo fundamental, e


mantida em termos absolutos no que tange à Constituição Federal da
República. Afinal, é na lei ordinária e em outras normas de escalão inferior

7
Outros princípios que são expressamente referidos como normas fundamentais do processo civil são os da dignidade
da pessoa humana, proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, publicidade e eficiência (art. 8º, CPC).

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que se explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos
princípios constitucionais.” [Exposição de Motivos do CPC/15]
Art. 1º, CPC. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos
na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as
disposições deste Código.

Como se percebe, não é possível compreender o processo civil de forma desvinculada da


Constituição Federal, que serve ao processo como fonte de validade, influenciando a interpretação
de seus dispositivos.

As normas processuais não podem conflitar com as normas constitucionais, sobretudo no que
tange ao devido processo legal. Em resumo, todas as normas processuais devem ser interpretadas
de acordo com a CF.

Destaque-se que “O que hoje parece uma obviedade, era quase revolucionário numa época
em que a nossa cultura jurídica hegemônica não tratava a Constituição como norma, mas como pouco
mais do que um repositório de promessas grandiloquentes, cuja efetivação dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantão.” (SARMENTO, Daniel. O
neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais. Belo Horizonte, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009.)

O modelo constitucional de processo, a propósito, impõe um processo


COMPARTICIPATIVO/COOPERATIVO, POLICÊNTRICO, não mais centrado na pessoa do juiz, mas
que é conduzido por diversos sujeitos (partes, juiz, MP), todos igualmente importantes na construção
do resultado da atividade processual.8 Consequência disso é o princípio da cooperação, previsto no
art. 6º do CPC.

Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Nesse sentido, “o princípio da cooperação tende a transformar o processo civil numa


comunidade de trabalho, na qual se potencializa o franco diálogo entre todos os sujeitos processuais
[...] fazendo com que o contraditório, como direito de informação/reação, ceda espaço a um direito

8
[...] a atividade de aplicação do ordenamento jurídico passa a exigir um recinto de procedimentalidade discursiva,
marcado pela efetiva atuação das partes na construção do ato estatal, de forma que elas se identifiquem não apenas
como destinatárias, mas, também, como coautoras das decisões judiciais. (FARIA, Gustavo. Jurisprudencialização do
Direito: reflexões no contexto da processualidade democrática. Arraes. 2012, p. 61)

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de influência. Nele, a ideia de democracia representativa é complementada pela de democracia
deliberativa no campo do processo, reforçando, assim, o papel das partes na formação da decisão
judicial.” (THEODORO JR., Humberto. Curso...v. I, 2018, p. 82/83)

Dito por outras palavras, [...] a atividade de aplicação do ordenamento jurídico passa a exigir
um recinto de procedimentalidade discursiva, marcado pela efetiva atuação das partes na construção
do ato estatal, de forma que elas se identifiquem não apenas como destinatárias, mas, também,
como coautoras das decisões judiciais. (FARIA, Gustavo. Jurisprudencialização do Direito: reflexões
no contexto da processualidade democrática. Arraes. 2012, p. 61)

Todos os sujeitos processuais devem agir de modo a alcançar uma solução (de mérito) tão
justa e rápida quanto possível, inclusive o juiz.9 Esse novo princípio processual ganha autonomia em
face do princípio da boa-fé. Nesse contexto, a doutrina disciplina a existência de alguns deveres de
conduta do juiz, segundo o modelo cooperativo:

● Dever de esclarecimento: que se divide em dois aspectos: 1) O juiz tem o dever de esclarecer
seus posicionamentos/decisão para as partes. 2) Dever do juiz de pedir esclarecimento para
as partes, sanando dúvidas quanto às suas alegações e evitando, assim, proferimento de
decisões equivocadas;
● Dever de consulta: o juiz tem o dever de consultar as partes acerca de qualquer ponto de fato
ou de direito relevante para sua decisão, mesmo que este ponto possa ser conhecido de ofício
pelo juiz. A decisão do juiz não pode estar lastreada em ponto em que as partes não tiveram
oportunidade de se manifestar. (busca evitar que a parte seja surpreendida); Sobre o tema,
vide art. 10/CPC, acerca do qual voltaremos a falar.
● Dever de prevenção: se o juiz identifica alguma falha no processo, ele tem o dever de indicar
a falha processual e o modo como ela deve ser corrigida, evitando o proferimento de decisões
meramente formais (relação com o princípio da primazia da resolução de mérto). Ademais,
deve o magistrado, quando constatar deficiências postulatórias das partes, indicá-las,
precisamente, a fim de evitar delongas desnecessárias e a extinção do processo sem
julgamento do mérito. (STJ, RHC 37587/2016)
● Dever de auxílio: deve o juiz colaborar com as partes para a superação de dificuldades que
comprometam o exercício de seus direitos, como se pode perceber, a título exemplificativo,
da análise dos artigos 256, § 3º, 319, § 1º, 321, caput, entre outros.

9
“Observação importante que merece ser feita é que a cooperação prevista no dispositivo em comento deve ser
praticada por todos os sujeitos do processo. Não se trata, portanto, de envolvimento apenas entre as partes (autor e
réu), mas também de eventuais terceiros intervenientes (em qualquer uma das diversas modalidades de intervenção de
terceiros), do próprio magistrado, de auxiliares da Justiça e, evidentemente, do próprio Ministério Público quando atue
na qualidade de fiscal da ordem jurídica”. (BUENO, Celso Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São
Paulo: Editora Saraiva. pág. 45).

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No concurso da PGE RS (FUNDATEC - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

NÃO constitui manifestação do princípio da colaboração no processo civil:

A) O dever de o juiz, antes de proferir decisão sem resolução de mérito, conceder à parte
oportunidade para, se possível, corrigir o vício processual.
B) O dever de o juiz diligenciar, a pedido do autor, a fim de que se obtenham informações
capazes de individualizar o demandado e viabilizar a sua citação.
C) O dever de as partes celebrarem convenções processuais.
D) O dever de o juiz, em sendo o caso, distribuir de forma dinâmica o ônus da prova.
E) O dever de o juiz dialogar com a parte mediante fundamentação concreta, estruturada
e completa.

A alternativa considerada correta foi a letra C.

Adiante, a propósito, trataremos de outros princípios relacionadas à estrutura constitucional


do Direito Processual Civil.

https://youtu.be/598k_-6LTyg

Processo de constitucionalização do direito


processual civil com a Procuradora do Estado
de Sergipe Maria Tereza Hora

4. FONTES DA NORMA JURÍDICA PROCESSUAL

Parte da doutrina divide as normas jurídicas processuais em formais e não formais, embora
tal distinção não seja de grande relevância prática.

4.1. FONTES FORMAIS

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São fontes formais as que expressam o direito positivo, as formas pelas quais ele se manifesta.
A fonte formal por excelência é a lei (fonte formal primária). Além dela, podem ser
mencionados a analogia, o costume e os princípios gerais do direito, necessários porque o
ordenamento jurídico não pode conter lacunas, cumprindo-lhes fornecer os elementos para supri-
las. Podem ser citadas também as súmulas do Supremo Tribunal Federal (STF), com efeito
vinculante, bem como as decisões definitivas de mérito, proferidas também pelo STF, em controle
concentrado de constitucionalidade, nas ações diretas de inconstitucionalidade e declaratórias de
constitucionalidade (fontes formais acessórias ou indiretas) e, as demais hipóteses de precedentes
vinculantes, enumeradas no art. 927 do CPC10.

As fontes formais, nesse contexto, podem ser divididas em:

Fonte formal primária – Lei decorrência do sistema romano germânico que prevalece no
ordenamento jurídico brasileiro. É importante ressaltar que o
CPC/15 será a principal lei em direito processual civil. No entanto,
existem outras leis esparsas que serão abordadas ao longo das
rodadas. Ex.: Lei do Mandado de Segurança, Lei da Ação Civil
Pública etc.
Fontes formais acessórias i) analogia, costume e princípios gerais do direito (art. 4º da Lei
de Introdução às Normas do Direito brasileiro);
ii) Súmula vinculante do STF nos termos do art. 103-A da
Constituição Federal: são criadas pelo Supremo Tribuna Federal,
mediante votação por quórum qualificado e, vinculam as decisões
judiciais e a Administração Pública. Essa súmula deve versar
sobre matéria constitucional e deve existir controvérsia atual que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre idêntica questão;
iii) Decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em
controle direto de constitucionalidade (art. 102, § 2º, da
Constituição Federal);
iv) os demais precedentes vinculantes, enumerados no art. 927,
III, IV e V do CPC

4.2. FONTES NÃO FORMAIS

As fontes não formais são diversas, mas é possível destacar, especialmente:

10
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 100.

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● Doutrina: consiste no conjunto de princípios, ideias e ensinamentos que são
transmitidos por estudiosos do ramo do Direito em análise.

● Precedentes jurisprudenciais não vinculantes. Ex.: acórdão de tribunal sobre


determinada matéria sem que se enquadre nas hipóteses do art. 927 do CPC.

O julgador, ao examinar controvérsia relacionada a determinada norma processual, pode


socorrer-se de precedentes judiciais, ou da opinião dos estudiosos da ciência do processo civil.

Numa visão mais contemporânea,11 podemos identificar como rol de fontes da norma
processual:

a. Constituição Federal;
b. Lei federal. Nesse particular, vale lembrar que compete privativamente à União legislar
sobre direito processual,12 cabendo aos estados legislar sobre procedimento em matéria
processual.13 Legislar sobre procedimento é disciplinar a forma e o encadeamento dos atos
processuais, como, por exemplo, sobre “algum tema que permitiria o ajuste do procedimento a uma
peculiaridade circunscrita a uma dada região (por exemplo, sobre lugar onde a petição pode ser
protocolada).” (MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento...RT, 2017)
c. Tratados e convenções internacionais;
d. Medidas provisórias editadas antes da EC 32/2001 (que proibiu a edição de MPs em matéria
processual);
e. Precedentes;
f. Negócios jurídicos (v. art. 190/CPC);
g. Regimentos Internos;
h. Resoluções do Conselho Nacional de Justiça;
i. Costumes; “Há um exemplo corriqueiro: as comunidades indígenas têm capacidade de ser
parte e a sua representação processual será feita pelo seu respectivo cacique; a fonte normativa
dessa representação é o costume.” (DIDIER, Fredie. Ob. cit., 2022, p. 91)

5. INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO CIVIL

11
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 24. ed. Salvador: Juspodivm,
2022. p. 85.

12
CF, art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
13
CF, art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] XI -
procedimentos em matéria processual;

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Interpretação: consiste na técnica de analisar as normas, que são gerais e abstratas, e buscar
o seu sentido e alcance para posterior aplicação ao caso concreto. A interpretação envolve a tarefa
de alcançar a finalidade pela qual a norma foi editada e compreendê-la no conjunto do ordenamento
jurídico14.

Interpretação das normas processuais com fulcro na Constituição Federal: diante da


constitucionalização do processo e do disposto no art. 1º do CPC/15, toda interpretação da norma
processual deve ser pautada pelos princípios fundamentais do processo previstos no texto
constitucional.

Interpretação do Processo civil no CPC/15: O próprio CPC estabelece regras de interpretação


que devem ser seguidas pelos juízes:

Art. 8º, CPC/15: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”.

5.1. Principais métodos de interpretação da norma15

INTERPRETAÇÃO CONFORME AS FONTES


a) Autêntica: é aquela realizada pelo próprio legislador que criou a norma e que, diante da
dificuldade de sua compreensão, edita outra, que lhe aclara o sentido. Ex.: Norma que traz os
principais conceitos que serão abordados ao longo da lei.

b) Jurisprudencial: feita pelos tribunais no julgamento reiterado de casos por ele julgados. A
reiteração de julgados é uma importante ferramenta que se valem os magistrados e demais
operadores do direito para fundamentar suas posições quanto ao alcance e sentido de uma norma.

c) Doutrinária: são elaboradas por especialistas e estudiosos na área do ramo do direito em


questão e é fundamental para o aprofundamento das discussões. Podem servir para embasar
decisões judiciais na interpretação da norma.

INTERPRETAÇÃO DE ACORDO COM OS MEIOS

14
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 109.
15
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 110-
111.

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a) Gramatical ou literal: é a interpretação que se baseia fundamentalmente no próprio texto da
norma, buscando seu sentido por meio de análise gramatical e linguística. O intérprete deve
examinar as palavras, o supor linguístico e o sentido semântico, extraindo o significado do
enunciado. Costuma constituir o primeiro passo do processo interpretativo.

b) Sistemática: deve haver harmonia no ordenamento jurídico na aplicação de seus diplomas


normativos. É, portanto, tarefa do intérprete, examinar a norma em seu conjunto e não apenas
isoladamente, para buscar a integração com as demais normas do ordenamento jurídico,
especialmente em relação ao contexto constitucional que possui hierarquia superior, buscando
harmonizá-las e extrair um sentido global, de conjunto.

c) Teleológica ou finalística: é a interpretação que busca a finalidade da norma, visando à


obtenção do bem comum e respeitando os objetivos sociais a que se destina. Cabe ao intérprete
estar atento ao texto constitucional, no qual são indicadas as finalidades últimas do Estado e da
ordem jurídica, social e política.

d) Histórica: busca interpretar a norma de acordo com a sua evolução histórica, o que inclui o
processo legislativo e as discussões que a precederam. É a análise do contexto de criação da
norma jurídica.

INTERPRETAÇÃO CONFORME OS RESULTADOS

a) Extensiva: concluindo que a norma disse menos do que deveria, o intérprete estende a sua
aplicação para outras situações, que não aquelas originariamente previstas.
b) Restritiva: atribui à norma um alcance menor do que aquele que emanava originariamente do
texto.
c) Declarativa: não é nem restritiva, nem ampliativa. Dá à norma uma extensão que coincide
exatamente com o seu texto, nem estendendo nem reduzindo a sua aplicação.

6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO

Vigência: A vigência é o lapso temporal em que a norma tem força obrigatória. O início da
vigência marca o começo de sua exigibilidade. A lei passa por três fases fundamentais para que
tenha validade e eficácia: elaboração, promulgação e publicação. Depois vem o prazo de vacância,
geralmente previsto na própria norma.

“Vacatio legis”: É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Pode ser
definido como o tempo necessário para que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e

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variará de acordo com a repercussão social da matéria. O CPC de 2015 teve “vacatio legis” de 1 ano
por previsão expressa em seu art. 1.045 nas Disposições Finais e Transitória.

Aplicação imediata e irretroatividade: De acordo com o art. 14 do CPC/15, a norma


processual não retroage e é aplicada aos processos em curso (princípio do “tempus regit actum”).
Além disso, devem ser respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas
consolidadas sob a vigência da norma revogada anterior (“isolamento dos atos processuais”).

No concurso da PGE AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

As normas processuais civis

A) têm aplicação imediata.


B) facultam às partes refazer os atos praticados.
C) retroagem se mais benéficas.
D) aplicam-se somente aos processos futuros.
E) regulam-se pela ultratividade.

A alternativa considerada correta foi a letra A.

Regra: normas de processo têm incidência imediata, atingindo os processos em curso. Nenhum
litigante tem direito adquirido a que o processo iniciado na vigência da lei antiga continue sendo por
ela regulado, em detrimento da lei nova16.

Nesse contexto, vale lembrar que o art. 1.046/CPC estabelece que, quando da entrada em
vigor do código, suas disposições se aplicam desde logo aos processos pendentes, ficando revogado
o CPC/73, mas as disposições do código revogado, relativas ao procedimento sumário e aos
procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas
até o início da vigência deste Código.

No mesmo sentido, vide enunciado 568 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis
(FPPC): As disposições do CPC-1973 relativas aos procedimentos cautelares que forem revogadas
aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência do CPC/2015.

Atos jurídicos perfeitos: atos já praticados devem ser respeitados na forma realizada pela lei
anterior. Exemplo: recurso que tiver sido impetrado na vigência da lei anterior, quando ainda era

16
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 112.

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cabível, deve ser recebido e processado, mesmo que a lei posterior o tenha excluído ou restringindo
a incidência, pois trata-se de situação consolidada.

Teoria do isolamento dos atos processuais17: os atos processuais são sucessivos e ordenados
no tempo. Assim, há a necessidade de ser verificar a fase em que se encontra cada ato: a) já
realizados; b) que serão ainda realizados; e c) situações pendentes.

a) Atos já realizados: a lei nova não atinge esses atos. Aquilo que foi realizado com base na
lei anterior deve perdurar até o fim do processo, não sendo atingido pela nova legislação;
b) Atos que serão ainda realizados: serão completamente regidos pela lei nova;
c) Situações pendentes: é o ponto mais complexo na análise. Prevalece que a lei nova não
pode prejudicar o direito processual já adquirido da parte.
Exemplo: se, no curso de um prazo recursal, sobrevém lei nova que extingue o recurso, ou
modifica o prazo, os litigantes que pretendiam recorrer ficarão prejudicados? Não, pois a
lei não pode prejudicar o direito adquirido processual. Desde o momento em que a decisão
foi publicada, adveio para as partes o direito de interpor o recurso que, então, estava
previsto no ordenamento, o NCPC não alcança os prazos em curso.

Por fim, uma observação em relação ao princípio do “tempus regit actum” e o direito probatório:
dispõe o art. 1.047/CPC que as disposições de direito probatório adotadas no Código de 2015
aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da data de início de sua
vigência.

Em complemento à citada regra, vale lembrar que o enunciado 366 do FPPC dispõe que o
protesto genérico por provas, realizado na petição inicial ou na contestação ofertada antes da
vigência do CPC, não implica requerimento de prova para fins do art. 1047.

E, ainda, ressalte-se que há quem defenda que “o que define a aplicação do CPC 1.047 é o
momento do deferimento ou determinação da prova (visto que o direito à prova surge com seu
deferimento). Se a prova foi requerida na vigência do CPC/73, mas deferida na vigência do CPC/15,
será regida pelo procedimento previsto neste último.” (NERY JR, Nelson. Ob. cit., p. 2.241)

7. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

17
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 112.

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Aplicação espacial: versa sobre o espaço territorial que serão aplicadas as normas
processuais. De acordo com o art. 16, do CPC/15, as normas de Processo Civil têm aplicação em
todo território nacional:

Art. 16 do CPC/15. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais


em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

ATENÇÃO! Não confunda aplicação das normas de Direito Material e de Direito Processual. Um
juiz brasileiro pode aplicar normas de direito material estrangeiro, mas as normas processuais
seguirão o rito do processo civil brasileiro.

Sentença e processos estrangeiros: como regra, não tem eficácia no território nacional, salvo
se houver a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça18.

8. NORMAS FUNDAMENTAIS

Normas fundamentais do processo civil ou Direito Processual Fundamental19: compõe a


estrutura do modelo do processo civil brasileiro e orienta a interpretação das demais normas
processuais. Essas normas dividem-se em princípios e regras.

Processo Fundamental Constitucional: são normas estruturais previstas expressamente no


texto constitucional.

Legislação infraconstitucional: também tem previsão de normas fundamentais com destaque


para o Capítulo I do Título Único do CPC/15 que versa sobre Normas Fundamentais do Processo
Civil e abrange os art. 1º ao 12º.

Atenção! Caro(a) aluno(a), é fundamental e indispensável para seu concurso, a leitura atenta aos
dispositivos previstos nos art. 1º a 12 do CPC, pois orientam todo o processo civil e serão abordados
ao longo de toda a disciplina!

Vale ressaltar, também, que algumas normas fundamentais se encontram dispostas em outros
dispositivos do CPC/15 e serão devidamente abordadas ao longo das rodadas.

18
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 111.
19
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador: Juspodivm,
2015. p. 61-62.

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9. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL

9.1. Devido Processo Legal

Com inspiração na Carta Magna Inglesa, de 1.215,20 o due processo of law funciona como um
princípio-base ou supraprincípio, norteador de todos os demais. Está associado à ideia de processo
justo com ampla participação das partes e a efetiva proteção de seus direitos 21. Por exemplo, os
princípios do contraditório, da ampla defesa, da isonomia, da motivação das decisões, decorrem do
devido processo legal. A Carta Magna dispõe, em seu art. 5º, LIV, da CF/88 que “ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

É importante destacar que o processo deve se conformar com o Direito considerado em seu
todo e não apenas com a previsão em lei22.

Divisão do devido processo legal:

● Devido processo legal substancial (ou material): Forma de controle de conteúdo das
decisões (razoabilidade e proporcionalidade), para evitar abusividades. A interpretação das normas
jurídicas deve ser realizada de forma a observar os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Nesse sentido, prevê expressamente o art. 8º do CPC/15:

Art. 8º do CPC/15: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins


sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (grifos acrescidos)

O “substantive due processo of law” também pode ser visto sob a perspectiva de limites ao
poder legislativo, evitando que normas de direito material eivadas de desproporcionalidade
e irrazoabilidade ofendam os direitos dos cidadãos.

Sobre o tema, a propósito, já destacou o Supremo Tribunal Federal que "a essência do
substantive due process of law reside na necessidade de proteger os direitos e as liberdades
das pessoas contra qualquer modalidade de legislação que se revele opressiva ou, como no

20
Carta Magna (Inglaterra, 1215), art. 39. Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade,
ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém
contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra.
21
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 176-177.
22
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 63.

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caso, destituída do necessário coeficiente de razoabilidade. Isso significa que o Estado não
dispõe de competência para legislar ilimitadamente, de forma imoderada e irresponsável,
gerando, com o seu comportamento institucional, situações normativas de absoluta distorção
e, até mesmo, de subversão dos fins que regem o desempenho da função estatal". (STF, ADI
1.158-8/AM/1994)

● Devido processo legal formal (processual): Diz respeito ao conjunto de garantias


processuais mínimas. É voltado ao processo, especialmente ao juiz para que observe os princípios
processuais na condução dos atos processuais. De caráter instrumental, o “procedural due processo
of law” significa o direito a um processo regular e justo, que legitima a atividade estatal (pela via do
processo) e, em última análise, protege o cidadão contra abuso de poder.

No concurso da PGE AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Assinale a opção que apresenta ato atentatório à dignidade da justiça, que enseja
aplicação de multa, de acordo com o CPC.

A) provocar incidente manifestamente infundado


B) alterar a verdade dos fatos
C) opor resistência injustificada ao andamento do processo
D) criar embaraços ao cumprimento de decisão judicial
E) usar do processo para conseguir objetivo ilegal

A alternativa considerada correta foi a letra D.

9.2. Princípio da dignidade da pessoa humana

Conceito de dignidade da pessoa humana: é “um direito fundamental de conteúdo complexo,


formado pelo conjunto de todos os direitos fundamentais, previstos ou não no texto constitucional.23”
Note-se, portanto, que a dignidade humana não é princípio exclusivo do Processo Civil, mas permeia
todos os ramos do direito invariavelmente e deve ser observado entre Estado e indivíduo e entre os
próprios indivíduos nas suas relações particulares.

Promoção da dignidade da pessoa humana no Processo: A promoção da dignidade da pessoa


humana é fundamento da República Federativa do Brasil e serve como pilar interpretativo e
orientativo dos direitos e garantias fundamentais. No âmbito do Processo Civil, o art. 8º do CPC/15

23
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 75.

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estabelece expressamente que o juiz ao conduzir o processo deve resguardar e promover a
dignidade da pessoa humana.

Atuação proativa do juiz em prol da dignidade da pessoa humana: é possível a adoção de


medidas de ofício que resguardem a dignidade da pessoa humana, como exemplo, a prioridade de
tramitação processual de pessoa com doença grave não elencada no rol do art. 1.048 do CPC.

9.3. Contraditório

É princípio que encontra previsão constitucional no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a
ampla defesa, como os meios e recursos a ela inerentes.”

Contraditório tradicional e o binômio informação e reação (“contraditório estático”;


dimensão formal do contraditório): Tradicionalmente, é formado pelo binômio informação e
possibilidade de reação. As partes devem ser devidamente comunicadas de todos os atos
processuais, para que possam se manifestar em juízo, acaso desejem.

CONTRADITÓRIO TRADICIONAL
Informação: a parte toma conhecimento do processo para se posicionar a respeito.
Reação: o contraditório é assegurado ainda que a parte não reaja efetivamente, desde que tenha
tido oportunidade para fazê-lo. Nos processos envolvendo direitos indisponíveis a reação é
obrigatória.

Críticas ao modelo tradicional de contraditório e contraditório efetivo (também conhecido


como substancial ou dinâmico; dimensão substancial do contraditório): indo além da mera
possibilidade de informação + reação, prevê que para sua real efetividade seria necessário exigir que
a reação no caso concreto tenha real poder de influenciar o juiz em seu convencimento24. Voltado
para a concepção democrática atual do processo justo, entende-se que reagir sem obter a “atenção”
do juiz não é suficiente para o respeito à garantia fundamental do contraditório. É necessário que o
juiz efetivamente leve em consideração o que as partes manifestaram na formação de seu
convencimento.

A dimensão substancial do contraditório também implica no contraditório como não


surpresa25, de acordo com o qual, nos termos do art. 10/CPC, o juiz não pode decidir, em grau
algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes

24
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 179.
25
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 180.

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oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
A decisão que desrespeita a citada norma é conhecida como decisão surpresa (ou decisão de terceira
via), como se vê, inclusive, da orientação do STJ, ao dispor que “a proibição de decisão surpresa -
também conhecida como decisão de terceira via - com obediência ao princípio do contraditório,
assegura às partes o direito de serem ouvidas de maneira antecipada sobre todas as questões
relevantes do processo, ainda que passíveis de conhecimento de ofício pelo magistrado.” (STJ,
REsp 1.676.027/2017)

Contraditório inútil26: não há necessidade de se ouvir previamente a parte quando a decisão


for proferida a seu favor, que se manifesta como a dispensa do contraditório inútil. Está
indiretamente previsto no art. 9º do CPC, pois somente há vedação para que as decisões sejam
proferidas contra uma das partes sem que ela seja ouvida. Não há proibição para decisões favoráveis
à parte:
Art. 9º do CPC/15: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que
ela seja previamente ouvida (grifo acrescido)

ATENÇÃO:
Embora a regra seja o contraditório prévio (art. 9º, caput), em algumas hipóteses, o contraditório
pode ser diferido, a exemplo do que ocorre nas tutelas de urgência, situações de extrema
necessidade, nas quais a decisão judicial precede informação e possibilidade de reação da parte
adversa. Um exemplo para ilustrar diz respeito à concessão de tutela antecipada para cobertura de
planos de saúde.
O contraditório diferido somente deve ser aplicado quando o contraditório prévio representar risco
grave à tutela jurisdicional pleiteada27. É o caso, por exemplo, do réu que, tomando ciência do pedido,
pode efetuar atos para impedir que a tutela ocorra como o esvaziamento de contas bancárias etc.

OBSERVAÇÃO: Para parcela da doutrina28, o princípio da ampla defesa está inserido na necessidade
de se observar o contraditório substancial por meio da possibilidade de influenciar a decisão judicial
e evitar decisões surpresas. Em outras palavras, “o contraditório é o instrumento de atuação do
direito de defesa, ou seja, esta se realiza através do contraditório. (MENDONÇA Jr. Delosmar.
Princípios da ampla defesa e da efetividade no processo civil brasileiro. 2001, p.55)

9.3.1. Princípios dispositivo e inquisitivo29

26
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 182-183.
27
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 185.
28
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 87.
29
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 186.

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Sistema inquisitivo: o juiz é a figura central do processo e cabe a ele a condução sem a
necessidade de provocação das partes. O juiz tem ampla liberdade de atuação.

Sistema dispositivo: o juiz tem participação condicionada à vontade das partes, que vão definir
desde a existência até a extensão do processo. Depende para seu prosseguimento da manifestação
das partes.

Sistema misto: adotado pelo sistema processual brasileiro e prevê uma mistura entre sistema
inquisitivo e dispositivo. Prevalece, contudo, o princípio do dispositivo. “Sistema misto temperado
com toques de inquisitoriedade”. Juiz está vinculado à causa de pedir (dispositivo), mas poderá
determinar provas de ofício (inquisitivo).

Previsão no CPC/15 (art. 2º): “O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por
impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.”

9.3.2. Motivação das decisões

Previsão constitucional: Dispõe o art. 93, IX, da CF/88 a necessidade de motivação das
decisões judiciais, a fim de demonstrar a correção e imparcialidade do julgador, além de possibilitar
o controle da decisão pela coletividade.

Previsão no art. 11 do CPC/15: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.” (grifos acrescidos)

Razões para a motivação das decisões judiciais30:


1) Sucumbente: deve ter conhecimento das razões da decisão para poder elaborar seu
recurso (função endoprocessual da motivação das decisões);
2) Órgão jurisdicional recursal: deve ter conhecimento das razões da decisão para apreciar e
julgar o recurso interposto (função endoprocessual da motivação das decisões);
3) Motivo político: serve para demonstrar a imparcialidade e lisura do julgador na decisão
judicial (função exoprocessual da motivação das decisões).

Decisões que não são consideradas fundamentadas (art. 489, § 1º, CPC/15): o CPC/15
estabeleceu hipóteses em que a decisão judicial não é considerada fundamentada. Diante da

30
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 189.

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importância, recomendamos que o candidato leia atentamente o dispositivo! A seguir, inserimos o
texto do dispositivo com breves comentários para facilitar a fixação do conteúdo:

Art. 489, § 1º, CPC/15: Não se considera fundamentada qualquer decisão


judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,


sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
Comentário: não basta ao julgador indicar o ato normativo, mas deve ser
realizada a correlação da norma com o caso concreto;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo


concreto de sua incidência no caso;
Comentário: os conceitos indeterminados e as cláusulas gerais dão margem
à interpretação do julgador. No entanto, é necessário que haja
fundamentação de sua aplicação ao caso concreto.
“Em obra clássica enfrentando o tema, bem ensina Karl Engisch ser conceito
jurídico indeterminado um conceito cujo conteúdo e extensão são em larga
medida incertos, causando insegurança e relativa desvinculação na aplicação
da lei.” (GAIO JR. Antônio Pereira. Considerações iniciais sobre a sentença
nos juizados especiais cíveis: olhares a partir do CPC/2015. RePro, n.282,
agosto de 2018);

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão


Comentário: vedação a decisões genéricas ou às decisões retiradas de
modelos. Nas palavras da professora Tereza Alvim, “decisão vestidinho preto
[...] a significar algo que pode se usar em diferentes situações, sem risco de
incidir em erro grave.” (WAMBIER, Tereza. CPC Comentado, p. 795)
Sobre o tema, tangenciando os incisos II e III, decidiu o STJ que “incorre em
negativa de prestação jurisdicional o tribunal que prolata acórdão que, para
resolver a controvérsia, apoia-se em princípios jurídicos sem proceder à
necessária densificação, bem como emprega conceitos jurídicos
indeterminados sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso.”
(STJ, Informativo 745, REsp 1.999.967/2022);

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes


de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

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Comentário: o juiz deve se pautar em fundamentação exauriente, na qual
deverá demonstrar porque os argumentos contrários à sua conclusão não
estão corretos e não poderão ser aplicados.
Todavia, vale lembrar, o STJ, por decisão da Corte Especial, já consignou que
"O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas
pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir
a decisão. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a
jurisprudência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça,
sendo dever do julgador apenas enfrentar as questões capazes de infirmar a
conclusão adotada na decisão recorrida.” (STJ, Corte Especial, EDcl no AgRg
nos EREsp 1.483.155/2016).

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar


seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
Comentário: assim como o dispositivo legal, as súmulas e precedentes
devem ser usados desde que se demonstre a pertinência com o caso em
julgamento. É necessário identificar a “ratio decidendi”31 (fundamentos
determinantes) do precedente, para demonstar que ele se ajusta ao caso
concreto.;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente


invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento;
Comentário: o dispositivo versa sobre a técnica do distinguishing e do
overrruling que são ferramentas para que o julgador deixe de aplicar
determinado precedente judicial diante das particularidades do caso
concreto, que demonstrem que o caso é diferente daquele versado no
precedente – distinguishing - ou que o precedente se encontra superado –
overruling.
A propósito: “A regra do art. 489, §1º, VI, do CPC, segundo a qual o juiz, para
deixar de aplicar enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, deve demonstrar a existência de distinção ou de
superação, somente se aplica às súmulas ou precedentes vinculantes, mas

31
Na verdade, a ratio será o que a Corte afirma como como interpretação correta da lei. [...] É a tese jurídica ou
interpretação da norma consagrada na decisão. [...] Regra cuja ausência o caso seria decidido de outra forma. (In
MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos
determinantes da decisão).

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não às súmulas e aos precedentes apenas persuasivos, como, por exemplo,
os acórdãos proferidos por Tribunais de 2º grau distintos daquele a que o
julgador está vinculado.” (STJ, Informativo 679, REsp 1.698.774/2020).

No concurso da PGM São José do Rio Preto - SP (VUNESP - 2019), o tema foi cobrado
da seguinte forma:

Assinale a alternativa que apresenta o princípio e sua respectiva característica.

A) Princípio do livre convencimento motivado: o poder do juiz de decidir,


fundamentadamente, de acordo com sua convicção jurídica, observando os fatos e as
provas existentes no processo.
B) Princípio da instrumentalidade: determina que todos os atos processuais devem ser
informados aos envolvidos e aos seus respectivos procuradores.
C) Princípio da disponibilidade: o direito de ação não pode ser negado àqueles que se
sentirem lesados em seus direitos.
D) Princípio do juiz natural: cabe ao juiz dar continuidade ao procedimento, em cada uma
de suas etapas, até a conclusão.
E) Princípio do direito de ação: possibilidade que os cidadãos têm de exercer, ou não, os
seus direitos, perante à Administração Pública e ao Poder Judiciário.

A alternativa considerada correta foi a letra A.

OBSERVAÇÃO!

Fundamentação “per relationem”: é a técnica de fundamentação em que o julgado faz remissão a


outra decisão anterior ou a parecer do Ministério Público, incorporando esses textos em sua própria
motivação. O STJ admite essa forma de fundamentação. Há, entretanto, posicionamento doutrinário
que entende que essa fundamentação não preenche os requisitos de decisão devidamente
fundamentada32.
Sobre o tema: Não há falar em nulidade do aresto monocrático por ausência de fundamentação, pois
o STJ possui jurisprudência no sentido de que a fundamentação per relationem, por referência ou
remissão, na qual são utilizadas pelo julgado, como razões de decidir, motivações contidas em
decisão judicial anterior ou, ainda, em parecer proferido pelo Ministério Público, tem sido admitida
no âmbito do STJ. (STJ, AgInt no REsp 1.302.993/2019)

32
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 195-196.

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9.3.3. Publicidade dos atos processuais

Previsão constitucional (art. 5º, LX, CF/88): “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;” Note-se, portanto, que
há um limite constitucional expresso à possibilidade de restrição da publicidade dos atos processuais
pela legislação.

Previsão no CPC/15 (art. 8º e 11): infere-se dos dispositivos legais que todos os julgamentos
dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, o que, também, é confirmado pelo art. 189, caput, do
CPC.

Funções do princípio da publicidade33:

a) Proteção das partes: evita que sejam praticados atos arbitrários e secretos em desfavor
das partes (aspecto interno);
b) Proteção da sociedade: Possibilita o controle da opinião pública sobre o comportamento
dos sujeitos processuais, guardando relação direta, portando, com o princípio da
fundamentação34 (aspecto externo).

Atenção! O princípio NÃO é absoluto, pois é possível a limitação da publicidade, nas hipóteses de
exigência do interesse público ou de respeito ao princípio da intimidade. Nesse sentido, o art. 189
do CPC estabelece as hipóteses admitidas de tramitação em segredo de justiça:

Art. 189, CPC/15. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em


segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social [dica de memorização:
interesse público];

II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,


união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes [dica
de memorização: direito de família];

III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade


[dica de memorização: direito à intimidade];

33
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 86.
34
A publicidade é instrumento de eficácia da garantia da motivação (DIDER, Fredie. Ob. cit., p. 88)

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IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo [dica de memorização: arbitragem].

Direito de consultar os autos em segredo de justiça: é garantido às partes e aos seus


procuradores (art. 189, § 1º, do CPC/15);

Terceiro com interesse jurídico: pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem
como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação (art. 189, § 2º, do CPC/15).

9.3.4. Princípio da isonomia ou paridade de armas

Princípio da isonomia: O princípio está pautado na “paridade de armas”, a fim de manter


equilibrada a disputa judicial entre as partes. Nesse sentido, serve também para reafirmar a
imparcialidade do juiz na condução do processo.

Previsão na Constituição: art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Previsão no art. 7º do CPC/15: “É assegurada às partes paridade de tratamento em relação


ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.”

Previsão no art. 139/CPC: O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: [...] I – assegurar às partes igualdade de tratamento;

Aspecto material do princípio: Não basta tão somente a garantia formal da isonomia, em que
todos são colocados, indistintamente, em posição de igualdade, desprezando-se eventuais
disparidades no plano do direito material ou processual. Nesses casos, alguns sujeitos processuais
possuem tratamento diferenciado no processo, seja pela qualidade de parte ou pela natureza do
direito discutido, a exemplo da assistência judiciária gratuita, da possibilidade de inversão do ônus
da prova do consumidor (art. 6º, VIII, CDC), da representação processual do incapaz, entre outros.

Em outras palavras, o princípio da isonomia processual não deve ser entendido abstrata e sim
concretamente, garantindo às partes manter paridade de armas, como forma de manter equilibrada

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a disputa judicial entre elas; assim, a isonomia entre partes desiguais só pode ser atingida por meio
de um tratamento também desigual, na medida dessa desigualdade.35

ATENÇÃO
Outra hipótese de tratamento diferenciado diz respeito às prerrogativas da Fazenda Pública no
processo civil, a exemplo do prazo em dobro para se manifestar36, remessa necessária, isenção do
recolhimento de custas, vedação à concessão de liminar em algumas matérias 37, justificáveis pelos
interesses da coletividade e pela burocracia inerente à atividade estatal.

Necessário destacar ainda que decorre da isonomia a previsão no art. 12 do NCPC, pela qual
os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão (norma que será tratda adiante).

9.3.5. Princípio da economia processual ou eficiência

Objetivo do princípio: obtenção de menos atividade judicial e mais resultados (“obter o


máximo de um fim com o mínimo de recursos”38). Encontra previsão expressa no art. 8º do CPC/15:

Art. 8º, CPC/15: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Exemplos de manifestações do princípio da economia processual:

1) Redução da multiplicidade de processos por meio de ações coletivas;


2) Formação de litisconsórcio e de intervenções de terceiro;
3) Eficácia vinculante dos entendimentos dos Tribunais Superiores previstas no art. 927 do
CPC/15;
4) Conexão ou continência;
5) Prova emprestada;
6) Julgamento por amostragem em recursos repetitivos e incidente de demandas repetitivas.

35
Fundação Carlos Chagas. Concurso da Magistratura – 2020, prova objetiva.
36
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito
público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da
intimação pessoal.
37
Vide, p.ex., lei nº 8.437/92.
38
DIDIER, Fredie. Ob. cit., p. 151.

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OBSERVAÇÃO: Há, ainda, o entendimento de que esse princípio abrange a tentativa de tornar o
processo o mais barato possível para as partes. É o caso da Assistência Judiciária Gratuita e dos
Juizados Especiais39.

9.3.6. Razoável duração do processo

Busca preservar a celeridade processual. No entanto, deve haver uma harmonização, haja vista
que o operador do Direito NÃO pode sacrificar direitos fundamentais das partes com o escopo de
obter a celeridade processual, "assegurando-se que o processo demore todo o tempo necessário
para a produção de resultados legítimos” (CÂMARA, Alexandre Freitas).

Em outras palavras, “Duração razoável tanto pode significar aceleração da marcha processual,
a bem do princípio da celeridade, como desaceleração, em homenagem a garantias como o
contraditório e a ampla defesa.” (SOUSA, José Augusto Garcia de. A tríade constitucional da
tempestividade do processo (em sentido amplo). Revista Eletrônica da PGE. V. 2, nº 1, 2019)

Previsão constitucional (art. 5º, LXXVIII, CF/88) – “a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”

Previsão no CPC/15 (art. 4º e 6º): No âmbito do Código de Processo Civil, a duração razoável
do processo é associada à necessidade de se buscar uma decisão justa e efetiva em tempo razoável.
Há também determinação para que haja a solução integral do mérito, inclusive em âmbito da
atividade satisfativa. Note-se, portanto, que há relação intrínseca entre esse princípio e o princípio
da primazia do julgamento de mérito que será abordado nos próximos tópicos. Instrumentos para
a razoável duração do processo previstas no CPC/15:

1) Possibilidade de representação por excesso de prazo com a possível perda da


competência do juízo pela demora (art. 235 do CPC/15);
2) Mandado de segurança contra omissão judicial com ordem para se proferir a decisão;
3) Ação de reparação de danos com o Estado em razão da demora do julgamento;
4) Vedação à promoção do juiz que retiver os processos além do prazo legal.

Vale lembrar, por fim, que antes mesmo da EC 45/2004 introduzir a garantia fundamental no
rol do art. 5º da CF, já havia previsão do princípio no Pacto de São José da Costa Rica (do qual o

39
NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de Direito Processual Civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 204.

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Brasil é signatário), nos termos do artigo 8º - Garantias judiciais. 1. Toda pessoa terá o direito de ser
ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

9.3.7. Primazia do julgamento do mérito

Dispõe sobre a possibilidade de sanar eventuais falhas processuais que não maculem o
processo, para buscar, sempre que possível, o julgamento do mérito. Nesse sentido, os arts. 4º e 6º
do CPC:

Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral


do mérito, incluída a atividade satisfativa.
Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Outros dispositivos do CPC homenageiam tal princípio, como, por exemplo:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe: [...] IX – determinar o suprimento de pressupostos
processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
Art. 282. [...] § 2º Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem
aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará
repetir o ato ou suprir-lhe a falta.
Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá
conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício.
Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão
for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos
termos do art. 485.

Vale lembrar, ainda, que tal princípio também deve ser aplicado no julgamento de recursos,
ocasião em que se fala do “princípio da primazia do julgamento do mérito recursal”. Como exemplo,
é possível citar a concessão de prazo para o recorrente trazer peças eventualmente ausentes no
recuso, antes de o relator inadmiti-lo por ausência de tais peças:

Art. 932, CPC/15. Incumbe ao relator:

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(.)
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator
concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício
ou complementada a documentação exigível.

O princípio NÃO é absoluto, pois eventuais falhas que maculem o processo


irremediavelmente não poderão ser sanadas.

Segundo o STF (ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 7/6/2016), o prazo de 5 dias
previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário
sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura e não à complementação da
fundamentação. Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos
os fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a
complementação das razões do recurso, o que não é permitido.

9.3.8. Princípio da instrumentalidade das formas:

Forma do ato: Como regra geral, os atos e os termos processuais independem de forma
determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir (art. 188/CPC). Se houver forma prevista
em lei para a realização do ato, é necessário que ela seja observada, sob pena de nulidade.

Finalidade do princípio: Busca aproveitar o ato viciado, ainda que praticado em desrespeito à
forma legal, desde que:

● O ato tenha preenchido a sua finalidade;


● NÃO haja prejuízo à parte contrária ou ao processo (pas de nullité sans grief).

Previsão no CPC/15: os atos serão considerados válidos, especialmente se forem preenchidas as


finalidades pelas quais foram desenvolvidos:

Art. 188, CPC/15. Os atos e os termos processuais independem de forma


determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se
válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade
essencial.
Art. 277, CPC/15. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade.

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Art. 283. [...] Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados
desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte.

Nas palavras do STJ, “Segundo o princípio da instrumentalidade das formas, não se deve
decretar a nulidade do ato quando este não houver gerado prejuízo para as partes e tiver alcançado
sua finalidade.” (STJ, REsp 873.043/2007)

Ou, ainda, segundo as lições do professor Humberto Theodoro Jr.: “A preocupação maior do
aplicador das regras e técnicas do processo civil deve privilegiar, de maneira predominante, o papel
da jurisdição no campo da realização do direito material, já que é por meio dele que, afinal, se
compõem os litígios e se concretiza a paz social sob comando da ordem jurídica” (THEODORO JR.,
Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 33)

9.3.9. Princípio da boa-fé e lealdade processual

A boa-fé é regra de conduta que deve nortear o comportamento das partes, bem como a
interpretação da postulação e da sentença. Sua previsão consta do art. 5º do CPC, segundo o qual
aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.

A boa-fé, nas palavras do STJ, se apresenta como uma exigência de lealdade, modelo objetivo
de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria
conduta a esse modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal.” (STJ, REsp
803.481/2007).

Destaque-se que a boa-fé a que se refere o CPC é a boa-fé objetiva, ou seja, aquela em que
não se analisa a intenção do sujeito ao praticar certo ato, sendo relevante, apenas, o seu
comportamento.

Nesse sentido: enunciado 1, CJF – A verificação da violação à boa-fé objetiva dispensa a


comprovação do animus do sujeito processual.

Além disso, são aplicadas ao processo civil algumas figuras parcelares da boa-fé objetiva
(comumente vistas no âmbito do direito material), tais como a:

Supressio, que indica a possibilidade de um redimensionamento da obrigação pela inércia


qualificada de uma das partes em exercer um direito ou uma faculdade, criando para a outra parte
a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. (STJ, AgInt no AREsp
296.214/2018).

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Exemplo clássico de aplicação da supressio é a aplicação da teoria da “nulidade de algibeira”,
entendida como “aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata da defesa após ciência
do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor conveniência futura. Observe-
se que tal atitude não encontra ressonância no sistema jurídico vigente, pautado no princípio da boa-
fé processual, que exige lealdade de todos os agentes processuais. (STJ, Informativo 741, AgRg no
HC 732.642/2022)

Venire contra factum proprium, que decorre da adoção de comportamentos contraditórios no


processo, quebrando a expectativa de coerência gerada na parte contrária e no próprio Poder
Judiciário: “Situação em que se cria expectativa por uma das partes, em razão de conduta indicativa
de determinado comportamento futuro do outro litigante, na qual haverá desrespeito injustificado
do princípio da boa-fé, quando vier a ser praticado ato contrário ao previsto, com surpresa e prejuízo
à contraparte". (STJ, AgInt nos EDcl nos EDcl no AREsp 366.050/2018)

São exemplos de comportamentos contraditórios – venire contra factum proprium – violadores


da boa-fé objetiva:

Não tem interesse recursal o autor que, requerendo desistência do processo, argui, contra a
decisão homologatória, haver mudado de opinião. (STF, MS 25.742/2006)

A atuação jurisdicional veda a adoção pela parte de comportamentos contraditórios - venire


contra factum proprium -, pelo que, tendo o recorrente atuado em juízo efetuando o pagamento das
custas processuais, evidencia-se a dispensa do benefício da gratuidade anteriormente deferido. (STJ,
AgRg no AREsp 646.158/2015)

Lembrar, por fim, que a vedação do comportamento contraditório aplica-se ao órgão


jurisdicional (En. 376, FPPC)

Diante da prática de ato que macule o processo, o NCPC tutela mecanismos para coibir a
litigância de má-fé, a exemplo:

Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se


serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por
lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de
ofício, as penalidades da litigância de má-fé.

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de


obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento,

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para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente.
§ 3o O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de desobediência.

Art. 184. O membro da Advocacia Pública será civil e regressivamente


responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas funções.

9.3.10. Princípio da cooperação

Sobre tal princípio, remetemos o leitor ao item 3 (“Processo Civil Constitucional”), onde
lançamos explicações sobre o assunto. Prevê que todos os sujeitos processuais devem cooperar
entre si para obter, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (art. 6º).

9.4. Ordem cronológica de julgamento

Ordem cronológica de julgamento: O CPC/15 estabelece em seu art. 12 uma ordem que deve
ser observada pelo juiz para conclusão do processo destinado a proferir a decisão final. É a
concretização dos princípios da igualdade e da duração razoável do processo, na medida em que
evita que processos conclusos há um bom tempo permaneçam sem julgamento40:

Nas palavras da doutrina, “A imposição de julgamento em ordem cronológica visa a promoção


da duração razoável do processo e o respeito à impessoalidade – evitando, assim, que determinadas
pessoas tenham seus processos julgados de forma mais rápida de maneira indevida”. (MARINONI,
CPC Comentado, RT, 2022)

Art. 12 do CPC Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à


ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão.
§ 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente
à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de
computadores.
§ 2º Estão excluídos da regra do caput :
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de
improcedência liminar do pedido;

40
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2015.

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II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica
firmada em julgamento de casos repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de
demandas repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932 ;
V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional
de Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham
competência penal;
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada.
§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das
conclusões entre as preferências legais.
§ 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento
formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto
quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em
diligência.
§ 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à mesma
posição em que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso,
no § 3º, o processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade
de realização de diligência ou de complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.41

Ordem preferencial: A Lei nº 13.256/2016 modificou o art. 12 do CPC para prever que a ordem
cronológica deve ser seguida preferencialmente pelos juízes. Ainda assim, a ordem prevista
estabelece, como regra, a necessidade dos julgadores de decidirem os processos mais antigos.

Publicidade da lista de processos aptos a julgamento: deve estar à disposição pública em


cartório e na rede mundial de computadores.

41
Art. 1.040. Publicado o acórdão paradigma: II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o
processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido
contrariar a orientação do tribunal superior;

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Requerimento em processo já incluído na ordem de julgamento: não altera a ordem
cronológica, exceto se implicar na reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em
diligência. Ademais, decidido o requerimento, o processo volta à mesma posição em que se
encontrava anteriormente na lista.

Exceções à ordem cronológica:

1) Processos que devem ocupar o primeiro lugar da fila (art. 12, § 6º, CPC):

a) tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de
diligência ou de complementação da instrução;

b) reexame de causa pelo tribunal quando submetido a julgamento repetitivo de recurso


especial ou extraordinário que tiver fixado entendimento contrário ao do tribunal de segundo grau.

2) Outros processos que tramitam fora da ordem cronológica: remetemos o leitor ao § 2º


do art. 12 do CPC transcrito acima para memorização dessas hipóteses excepcionadas.

Convém destacar, ainda, que o art. 153 trata de assunto conexo, indicando que o escrivão ou
o chefe de secretaria atenderá, preferencialmente, à ordem cronológica de recebimento para
publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais, excluídos da regra geral os atos urgentes,
assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado e as preferências legais.42

Referências Bibliográficas:
Alexandre Freitas Câmara. O Novo Processo Civil Brasileiro.
Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil.
Fredie Didier Júnior. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil.
Marcus Vinicius Rios Gonçalves. Direito Processual Civil Esquematizado.
Mozart Borba. Diálogos sobre o novo CPC.

42
Art. 153, § 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de recebimento entre os atos
urgentes e as preferências legais.
§ 4º A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos próprios autos, ao juiz do processo,
que requisitará informações ao servidor, a serem prestadas no prazo de 2 (dois) dias.
§ 5º Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a instauração de processo
administrativo disciplinar contra o servidor.

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TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO

01. O que é “instrumentalidade do processo”?

02. Quais são as fontes da norma jurídica processual?

FONTES FORMAIS FONTES NÃO-FORMAIS

03. Explique os principais métodos de interpretação da norma:


Interpretação

Conforme as Fontes

Interpretação de

acordo com os meios

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Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios
Interpretação

Conforme os

Resultados

04. Explique a teoria do isolamento dos atos processuais.

05. Explique, sucintamente, cada um dos princípios do processo civil:

- Devido processo legal

- Dignidade da pessoa humana

- Contraditório

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- Publicidade dos atos processuais

- Paridade de armas

- Economia processual

- Razoável duração do processo

- Primazia do julgamento do mérito

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Conceito. Fontes. Interpretação. Princípios

- Instrumentalidade das formas

- Boa-fé e lealdade processual

- Cooperação

- Ordem cronológica de julgamento

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