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Bibliografia
Código de Processo Penal – Coletânea AAFDL
Novos Elementos de Estudo – Direito Processual Penal
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de – Comentário do Código de Processo Penal à luz da
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, 4.ª ed., Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2011
MENDES, Paulo de Sousa – Lições de Direito Processual Penal, Coimbra: Almedina (9.ª reimp.,
2022)
ANTUNES, Maria João – Direito Processual Penal, Coimbra: Almedina (1.ª reimp. da 2.ª ed.,
2020)
DIAS, Jorge Figueiredo – Direito Processual Penal, Coimbra: Coimbra Editora (1.ª reimp., 2004)
Bibliografia específica Dropbox
NOTA: Para fazer melhoria, o Regente aconselha a realização de um trabalho escrito sobre um
tema específico (seguindo o template facultado na Dropbox) será enviado um Power Point
com uma lista de temas sugeridos
Programa
INTRODUÇÃO
1. Os modelos de processo penal: acusatório, inquisitório e misto. Sistemas históricos.
Direito comparado comparação entre os dois modelos (common law e civil law)
2. A relevância constitucional do processo penal. A articulação entre as garantias penais
substantivas e as garantias processuais.
3. O Direito Penal e o Direito Processual Penal.
3.1. A relação de complementaridade funcional entre o Direito Penal e o Direito
Processual Penal. O princípio da reserva de juiz (art. 27.º, n.º 2, artigo 29.º, n.º 1,
e artigo 32.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa).
3.2. Pressupostos substantivos e pressupostos processuais da responsabilidade
criminal. As condições de procedibilidade.
3.3. A natureza processual dos crimes: crimes públicos, semipúblicos e particulares.
4. Apresentação do Código de Processo Penal de 1987.
4.1. A estrutura essencialmente acusatória do processo penal.
4.2. Análise do Acórdão do Tribunal Constitucional (Plenário) n.º 7/87, de 9 de janeiro
de 1987 (fiscalização preventiva da constitucionalidade do CPP) fiscalização
preventiva do Código de 1987
5. Alterações ao CPP (Lei n.º 59/98, de 25 de agosto, Lei n.º 105/2003, de 10 de
dezembro, Decreto-Lei n.º 324/2003, de 27 de dezembro, Lei n.º 48/2007, de 29 de
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agosto, Lei n.º 26/2010, de 30 de agosto, Lei n.º 20/2013, de 21 de fevereiro, Lei n.º
27/2015, de 14 de abril e Lei n.º 94/2021, de 21 de dezembro, entre outras).
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Parte dinâmica (dada nas aulas teóricas)
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Parte estática (dada nas aulas práticas e desenvolvida nas aulas teóricas)
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V. A PROVA
1. As definições de prova.
1.1. O papel da prova no processo penal.
1.2. Prova, meios de prova e meios de obtenção da prova.
2. O regime dos meios de prova.
2.1. Os meios de prova típicos.
2.2. Meios de prova atípicos.
2.3. A pessoa coletiva e a prova
2.4. A livre apreciação e os meios de prova de valor reforçado.
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NOTA: Em Portugal o Réu é o arguido ou suspeito (quando ainda não foi constituído
formalmente como arguido) pois devido ao Princípio da presunção da inocência, que só é
revertida através de uma decisão final transitada em julgado, a pessoa presume-se inocente
até ao fim devendo ter sempre a mesma designação e se, por exemplo, numa decisão da 1.ª
instância fosse designado como Réu estaríamos a dar a imagem de que estava mais próximo
de uma condenação do que na fase anterior quando o Princípio em questão presume a
inocência sempre até que o processo se reverta numa condenação.
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OU
Notícia crime (adquirida a notícia do crime, porque entre nós vigora o Princípio da
legalidade e oficiosidade, em regra, deve dar lugar à abertura de um inquérito
artigo 241.º e 242.º do CPP);
Inquérito (serve para descobrir se houve crime e quem o cometeu) titularidade do
MP (artigo 262.º, n.º 2 do CPP) com a assistência dos OPC (têm autonomia técnica e
tática e detêm as suas tutelas não recebendo ordens do MP);
Possibilidade de instrução (fase facultativa – requerida pelo arguido ou pelo
assistente) titularidade do Juiz de Instrução (o Juiz de Instrução também pode
intervir na fase de inquérito como Juiz das garantias);
Despacho de pronúncia para julgamento (se houver indícios suficientes de autoria e
materialidade na instrução);
Julgamento (dependendo da gravidade do crime):
o Juiz singular (1 Juiz Sentença);
o Tribunal Coletivo (3 Juízes Acórdão);
o Tribunal de Júri (3 Juízes que constituem o Tribunal Coletivo, 4 jurados efetivos
e 4 suplentes – DL 387-A/87, de 29 de dezembro Acórdão).
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Inquérito
Em sistemas como o português em que vigora o Princípio da legalidade e da
oficiosidade em que o MP não tem opção, perante a notícia de um crime, salvo se a
natureza processual for pública ou semipública vem o artigo 262.º, n.º 2 do CPP frisar
que “ressalvadas as exceções previstas neste Código, a notícia de um crime dá sempre
lugar à abertura de inquérito” sendo as exceções a natureza processual do crime;
O inquérito serve para investigar se houve crime e o papel do MP deve ser imparcial e
se as provas não forem recolhidas dentro dos prazos e feitas com as diligencias
necessárias o MP deve arquivar (o arquivamento no nosso sistema só depende do MP
não tendo de ir a Juiz);
Se o MP juntar indícios suficientes, antes de acusar deve preferir outras soluções
(diversão processual universal) como, por exemplo, a suspensão provisória do
processo (artigo 281.º do CPP) que consiste numa espécie de arquivamento; um
arquivamento em caso de dispensa de pena (artigo 280.º do CPP); também pode
enviar para outras formas de processo, designadamente, processo sumaríssimo (artigo
392.º do CPP – forma especial de tramitação do inquérito porque nenhum processo
começa nesta forma sendo, de certa forma, uma alternativa ao inquérito) e a
mediação
penal,
embora
existe na
Lei,
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Fim do inquérito
Se o crime for particular, o MP não pode acusar pois o crime particular é um crime
com um regime diferente, designadamente, a queixa;
O RAI do assistente (ofendido/que se constituiu como sujeito processual), em caso de
arquivamento ou de acusação, ocorre quando o assistente não concorda com a
decisão de arquivamento requerendo ao Juiz a abertura da Instrução pois o MP não é
uma entidade judicial, mas sim uma entidade judiciária ou quando o assistente não
concorde com alguns factos da acusação requerendo, também, ao Juiz a abertura da
Instrução;
O RAI do arguido só pode ocorrer, em princípio, quando exista acusação pois, à
partida, será quando tem interesse nisso.
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Instrução
Existindo RAI do assistente ou do arguido, dá-se a abertura da Instrução que irá
terminar com um Despacho do Juiz de Instrução que pode ser de pronúncia (artigo
308.º e seguintes do CPP); de não pronúncia (artigo 308.º e seguintes do CPP);
arquivamento em caso de dispensa de pena (artigo 280.º, n.º 2 do CPP) ou pode ser
uma suspensão provisória do processo (artigo 281.º do CPP).
Julgamento
É uma fase do processo comum que, por sua vez, se subdivide em três subfases:
Atos preliminares (artigo 311.º e seguintes do CPP);
Audiência de discussão e julgamento (artigo 321.º e seguintes do CPP);
Sentença (artigo 365.º e seguintes do CPP) que distingue dois momentos:
questão da culpabilidade do artigo 368.º do CPP e a questão da determinação
da Sentença, ou seja, o Juiz decide separadamente a questão da culpabilidade
e só depois é que vai determinar a sanção e ter acesso a informações como a
reincidência para evitar que existam pré-juízos.
Recursos
Recursos ordinários (de decisão ainda não transitada em julgado) que abrangem quer
a matéria de facto, quer a matéria de direito e, regra geral, é a recorribilidade das
decisões judiciais (artigo 399.º do CPP) e a exceção é a irrecorribilidade prevista no
artigo 400.º do CPP;
Recursos extraordinários (de decisão transitada em julgado):
Recurso de fixação de jurisprudência;
Recurso de revisão da decisão.
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verdade (todas estas fórmulas legais omitem qualquer referência ao grau de probabilidade
necessário para a tomada de decisão).
Na Europa Continental os países da Escandinávia aproximaram-se muito do modelo
americano e o CPP italiano é também o mais próximo do modelo adversarial. O CPP brasileiro
tem mais estrutura europeia do que americana, embora a ligação do CPP brasileiro
contemporâneo seja muito forte ao CPP italiano.
Para o Regente ainda faz sentido continuar a falar-se em dois modelos e no cerne da
distinção entre os dois está o facto de o Juiz ter ou não ter poderes autónomos de
investigação, além da iniciativa dos sujeitos processuais, e a diferença entre esses modelos é
tão forte que até no Processo Civil existem traços do modelo inquisitório.
Jurisprudência do TEDH
Falamos na grande Europa que tem atualmente 46 Estados-membros e não da
pequena Europa que é a UE (a Federação Russa foi expulsa devido à invasão à
Ucrânia);
O Conselho da Europa foi fundada em 1949, pouco depois do final da II Guerra
Mundial, adotando uma série de instrumentos dos quais o mais é emblemático é a
Convenção Europeia dos Direitos Humanos (1950) e os guardiães da CEDH, em
primeira linha, são os Estados-membros e os seus órgãos de aplicação do Direito e, em
última análise, é o TEDH que está sediado em Estrasburgo;
O TEDH tem características únicas porque é um Tribunal internacional regional que
decide sobre casos concretos mediante uma queixa apresentada por parte de
qualquer pessoa singular, organização não governamental ou grupo de particulares
que se considere vítima de violação de direitos humanos (artigo 34.º da CEDH) e não
verifica as invalidades processuais de direito interno (o TEDH não é uma instância de
recurso – o processo tem de estar transitado em julgado na ordem jurídica interna o
que não quer dizer que a decisão do TEDH não tenha impacto na ordem jurídica
interna e no caso concreto), assim, o TEDH apenas verifica se o processo foi no seu
todo conforme aos princípios convencionais (Fair Trial) seguindo uma orientação
particularista (do caso em concreto), pragmática (vê o processo como um todo) e
informal (faz muitas avaliações de tipo material sobre a justiça do caso), ao contrário
dos tribunais nacionais sejam eles de case law ou de civil law. Apesar destas
características singulares, as decisões do TEDH obrigam os Estados-membros tendo
uma autêntica função decisória (artigo 46.º, n.º 1 da CEDH);
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O n.º 2 do artigo 6.º da CEDH trata da presunção da inocência que também é vista
como uma expressão do pocesso equitativo;
No n.º 3 do artigo 6.º da CEDH temos uma série de requisitos concretos de processo
equitativo, mas não são exaustivos sendo apenas uma enunciação exemplificativa;
Assim, o n.º 1 é uma ideia geral; o n.º 2 consagra a presunção da inocência, mas não
esgota a ideia geral e o n.º 3 elenca, nas suas diversas alíneas, um feixe de Direitos de
defesa, mas menos ainda do que no n.º 2 esgota a ideia de processo equitativo. Na
prática significa que se o TEDH concluir que foi violada alguma das alíneas do artigo
6.º, n.º 3 da CEDH basta para dizer que o processo não foi equitativo no seu todo, mas
pode concluir que nenhuma dessas alíneas foi violada e ainda assim o processo não foi
equitativo por causa do n.º 2 e, em última análise, por causa do n.º 1.
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Sustentou que o uso da força pelos polícias e pelo médico para lhe retirar a cápsula do
organismo constituía uma ofensa à integridade física praticada por funcionário, (Kö
rperverletzung im Amt), nos termos do §340 StGB.
Em 23 de março de 1994, o Tribunal de primeira instância condenou Jalloh por tráfico
de drogas na pena de 1 ano de prisão efetiva. Além disso, decretou a perda de 100 marcos
alemães que tinham sido apreendidos ao arguido, no momento da detenção.
O arguido recorreu da decisão para o Tribunal da Relação, em 17 de maio de 1995, que
confirmou a sentença condenatória, mas reduziu a pena para 6 meses, suspendendo a sua
execução.
O Tribunal considerou que as provas obtidas por ordem do procurador do MP eram
admissíveis no processo. Salientou que a expulsão natural da cápsula poderia acabar sendo
demorada, o que poderia prejudicar as investigações. Considerou ainda que, nos termos do
§81a do StPO, a ministração das substâncias, mesmo contra a vontade do arguido, era uma
medida legalmente admissível.
O §81a StPO dispõe que «O exame físico do arguido pode ser ordenado com a
finalidade de estabelecer factos de relevância para o processo. Para este fim, podem ser
retiradas amostras de sangue e são admissíveis outras intrusões corporais realizadas por um
médico, a menos que haja risco para a saúde do arguido».
Jalloh recorreu para o Tribunal Constitucional, mas este não admitiu o recurso
transitando em julgado e Jalloh apresentou queixa no TEDH alegando que, ao contrário dos
casos já decididos pelo TEDH, em que tinha havido autorização para obtenção de amostras de
sangue para exames de ADN, no seu caso a polícia utilizara substâncias químicas que
provocaram uma reação involuntária do seu organismo, como forma de obtenção de prova
para o processo-crime dizendo ainda que a prova obtida não tinha existência independente da
sua vontade, mas que fora obrigado a contribuir para a sua própria condenação.
O Governo alemão argumentou que provocar uma reação orgânica de expulsão
através da ministração de substância medicinal deveria ser considerado como mera reação do
corpo humano, impossível de ser controlada pela mente do sujeito, o que, por conseguinte,
não afetava a vontade do agente. O Governo alemão sustentou ainda que a recusa do arguido
em submeter-se ao uso da medicação não poderia ser considerada legítima, pois isso iria
colocar em risco várias outras medidas de investigação que desconsideram a vontade do
suspeito de esconder provas, tais como a recolha coativa de amostras de sangue ou mesmo a
realização de buscas domiciliárias.
Num acórdão muito disputado, o TEDH deu razão a Jalloh, considerando ter havido
violação do artigo 3.º da CEDH (por 10 votos contra 7). Ademais, o TEDH considerou (por 11
votos contra 6) ter havido violação do artigo 6.º, n.º 1 da CEDH. O TEDH indicou, pela primeira
vez, os critérios gerais que contam para a decisão da questão da violação do nemo tenetur,
enquanto elemento integrante do processo equitativo «Para determinar se o direito à não
autoincriminação do queixoso foi violado, o Tribunal, por sua vez, terá de considerar os
seguintes fatores: a natureza e o grau de coerção empregado para obter a prova, a
importância do interesse público na investigação e punição da infração em apreço, a existência
de garantias
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relevantes no processo e a utilização prevista dos meios de prova obtidos dessa forma». No
caso concreto, o TEDH considerou que (tradução nossa): «[...] a medida impugnada visava um
traficante de rua que vendia drogas à sua pequena escala e que foi, afinal, condenado numa
pena suspensa de seis meses de prisão. Nas circunstâncias do caso, o interesse público em
assegurar a condenação do queixoso não podia justificar o recurso a tão grave interferência na
sua integridade física e mental».
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Nemo tenetur
O artigo 6.º da CEDH não menciona o privilégio contra a autoincriminação (nemo
tenetur), mas este pertence ao cerne do processo equitativo consagrado no referido preceito.
Em especial, o privilégio contra a autoincriminação relaciona-se com a presunção de inocência
que integra a garantia do processo equitativo, nos termos do artigo 6.º, n.º 2 da CEDH.
O privilégio contra a autoincriminação faz recair sobre a acusação o ónus de provar a
sua tese sem recurso a elementos de prova obtidos através de métodos coercivos ou
opressivos e com desrespeito pela vontade.
O privilégio contra a autoincriminação não é um princípio absoluto, mas admite
ponderações no confronto com outros interesses tutelados, desde que se preserve um núcleo
essencial daquele privilégio.
A proibição de constrangimentos e enganos para obrigar o arguido a declarar contra si
mesmo constitui o núcleo essencial do privilégio contra a autoincriminação.
O privilégio contra a autoincriminação não proíbe a autoincriminação, já que ninguém
está impedido de confessar ou apresentar provas contra si mesmo, desde que o faça
livremente.
O privilégio contra a autoincriminação engloba não só o direito ao silêncio, mas
também o direito de não facultar meios de prova.
Em princípio, o arguido não pode obstar à recolha de elementos de prova que possam
extraídos através de coação física, contanto que existam independentemente da sua vontade.
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Apresentação do CPP
O CPP foi aprovado pelo DL n.º 78/87, de 17 de fevereiro, substituindo o CPP de 1929
(CPP da ditadura) e a massa de diplomas que o foram complementando, designadamente o DL
n.º 35.007, de 13 de outubro de 1945 (autoria do Professor Cavaleiro Ferreira).
CPP de 1929
Caraterizava-se por toda a instrução ser da competência de um Juiz, cabendo ao MP
apenas promover as diligências concretas de instrução (artigo 159.º), atualmente o MP só tem
de promover as medidas altamente lesivas da esfera os Direitos, liberdades e garantias das
pessoas.
DL n.º 35.007
Introduziu profundas alterações na instrução separando-a em duas:
Uma fase de instrução preparatória da competência do MP, com vista à descoberta
dos indícios da existência de um crime e do seu agente;
Uma fase de instrução contraditória da competência de um Juiz, obrigatória nos
processos de querela (mais graves), devendo o MP requerer a instrução contraditória
no mesmo ato em que deduzia a acusação, ou seja, o processo não seguia se não
existisse um controlo por parte do Juiz nesta fase.
Na altura esta reforma trouxe bastante polémica existindo grandes Advogados que a
criticaram precisamente por causa do estatuto do MP pois, segundo estes, esta separação em
duas partes, atribuindo a primeira ao MP, traduzia-se numa administrativação da instrução
preparatória, ou seja, como o MP não era Magistratura sendo parte do poder executivo com
uma tutela do Ministério da Justiça estávamos a entregar a condução da ação penal ao
Governo e, portanto, estávamos a retirar a garantia judiciária da condução da instrução por
um Juiz que esse sim era um Magistrado independente considerando que a reforma não era
um avanço, mas sim um retrocesso.
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Para o Regente, esta reforma traduz uma visão autoritária do Processo Penal pois esta
separação da instrução em duas fases aproxima-se muito da separação do Código de 1987
entre uma fase de inquérito da titularidade do MP e uma fase de instrução facultativa da
titularidade de um Juiz de instrução.
O pós-25 de abril
Logo no programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) fazia parte a reforma do
CPP pois a matéria Penal e Processual Penal é altamente política criminal do Estado de Direito
democrático e liberal e saiu o DL n.º 605/75, de 3 de novembro, que criou, pela primeira vez, o
inquérito policial para crimes puníveis com pena correcional (crimes menos graves). O artigo
32.º, n.º 4 da CRP de 1976 dispõe que toda a instrução é da competência de um Juiz e
questiona-se a que instrução se refere (se a de 1929, das duas instruções do CPP reformado
em 1945 ou numa instrução abstrata em que significa investigação e inquirição) e se esta
redação quer dizer que queremos voltar ao sistema do CPP de 1929 em que toda a instrução
era da competência de um Juiz o que significa que o MP não pode ser titular de uma fase de
investigação ou há aqui a possibilidade de outras interpretações. O DL n.º 377/77, de 6 de
setembro substitui o inquérito policial pelo inquérito preliminar, pelo menos, o legislador não
queria ter um inquérito no Processo Penal que fosse da competência da política. Mas houve
quem defendesse como, por exemplo, o Professor Germano Marques da Silva, a
inconstitucionalidade não só do inquérito policial, mas também do próprio inquérito
preliminar que lhe sucedeu.
CPP de 1987
Colocou-se a questão, em abstrato, em sede da fiscalização preventiva da
constitucionalidade sobre se o CPP de 1987 seria, ou não, contrario ao artigo 32.º, n.º 4 da
CRP, na medida em que atribuiu o domínio da fase de inquérito, na forma de processo comum,
ao MP, parecendo reavivar os vínculos com o sistema do DL n.º 35.007.
Antigamente, os cargos superiores no MP eram controlados pelo regime,
designadamente pelo Ministério da Justiça porque o MP não era uma Magistratura e, após o
25 de abril, mitigou-se a capacidade de interferência por parte o Governo politico de tal forma
que a revisão do estatuto do MP eliminou os poderes interventivos e diretivos do Ministério da
Justiça que ainda persistiam mantendo-se apenas o poder de emitir instruções em ações cíveis
em que o Estado é defendido pelo MP, portanto, não há tutela do Governo nem do Ministro
da Justiça sobre o MP que não pode dar quaisquer indicações sobre processos concretos e
investigações que estejam a decorrer, salvo as ações cíveis em que o Estado é defendido pelo
MP.
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Podemos ter OPC com competência para realizar diligências e investigações durante o
inquérito não tendo de ser o titular do inquérito a realizar as próprias diligências
(artigo 270.º, n.º 1);
Podemos admitir que o MP decida a suspensão provisória do processo que se tornaria
definitiva no máximo ao fim de 2 anos sem intervenção de um Juiz.
O Presidente da República alegou o seguinte «[A]s diligências processuais que a lei inclui
sob a designação de ‘inquérito’ são, materialmente, instrutórias – portanto, da competência
de um juiz (artigo 32.º, n.º 4 CRP)», ou seja, a Lei chama inquérito, mas o cabe dentro do
inquérito é materialmente uma atividade instrutória e se a CRP diz que toda a instrução é
da competência de um Juiz, logo, estas diligencias são provavelmente contrárias à CRP.
O Professor Figueiredo Dias escreveu um artigo sobre os sujeitos processuais penais em
que defendeu que a questão do artigo 32.º, n.º 4 da CRP não pode ser visto isoladamente
tendo de ver o artigo e a CRP no seu conjunto para perceber que razões é que estão por detrás
do motivo da CRP exigir que toda a instrução seja da competência de um Juiz, pois não se trata
de saber se o domínio do inquérito pelo MP contraria o preceito constitucional, mas sim se vai
contra a estrutura do sistema de garantias que a CRP concede aos cidadãos em matéria de
processo. O Professor Figueiredo Dias defende que é para salvaguardar a liberdade e a
segurança dos cidadãos no decurso do processo, designadamente no inquérito e para garantir
que a obtenção da prova durante as investigações se faça com respeito pelos direitos
fundamentais dos cidadãos. Para se garantir a intervenção do Juiz, o MP tem de promover a
intervenção do Juiz para que este autorize, portanto, o MP pode dirigir o inquérito, mas nas
medidas mais invasivas da esfera dos Direitos, liberdades e garantias do cidadão tem de
promover a intervenção do Juiz e isso está garantido na arquitetura do CPP.
Assim, o TC entendeu não ser inconstitucional a direção do inquérito pelo MP pois no
artigo 224.º da CRP (atual artigo 219.º, n.º 1 da CRP) cabe ao MP exercer a ação penal e, para
o Professor Figueiredo Dias, só pode significar dirigir a investigação; apesar de a direção do
inquérito estar cometida ao MP, os atos que contendem com a esfera de Direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos são da competência exclusiva do Juiz de Instrução, na própria fase de
inquérito e o arguido pode sempre requerer a abertura da instrução quando houver acusação,
garantindo assim um controlo jurisdicional dessa decisão do MP.
O TC também não considerou inconstitucional o carácter facultativo da instrução (pois
não ofende Direitos do arguido, na medida em que podia sempre requer a abertura da
instrução só não podendo fazê-lo se houvesse arquivamento), nem a delegação de
competências do MP nos OPC (porque não implica propriamente uma perda de controlo no
inquérito pelo MP, mas apenas aproveitar a formação específica que esses órgãos têm para a
investigação), mas considerou inconstitucional que a suspensão provisória do processo fosse
apenas decidida pelo MP que não estava previsto no CPP de 1987 que tivesse a intervenção de
um Juiz podendo ser decidida somente pelo MP com o arguido e o seu defensor ouvido o
assistente (atualmente, o artigo 281.º do CPP já prevê que o MP determine com a
concordância do Juiz de instrução sendo imposto pelo TC que passasse a ser uma medida
jurisdicional3 porque considerou que estas medidas materialmente são autênticas penas só
3
O CP distingue entre garantia judiciária (abrange MP, Juiz de instrução e Juiz de julgamento), judicial
(abrange só os Juízes) e jurisdicional (é uma competência própria dos Juízes porque só eles é que podem
exercer o Direito)
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Dois agentes policiais disfarçados de toxicodependentes andavam atrás de Teixeira de Castro já há
algum tempo. Um dia foram a casa dele à noite e disseram que pretendiam comprar haxixe e, após a
insistência dos polícias disfarçados, foi a casa de um amigo buscar e no momento em que lhes ia
fornecer foi detido em flagrante delito e só ele é que foi acusado e condenado.
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Atualmente, com a Lei n.º 101/2001, o relatório do agente infiltrado (AI) é obrigatório nos
termos do artigo 3.º, n.º 6 e o regime legal distingue o relatório do auto e discute-se se o
relatório do AI deve ser junto aos autos ou não por não ser prova, existindo Doutrina que
defende que, embora não seja prova, pode ser importante para efeitos de contraditório em
que a defesa saiba que houve uma gente infiltrado naquele caso. Em Portugal, pode ser um
particular a exercer o papel de agente infiltrado, ao contrário do Brasil que não permite que os
particulares participem em ações desta natureza. Também se discute se o agente infiltrado
deve ser chamado, ou não, a prestar depoimento em julgamento (mesmo que com proteção
de identidade) porque a Lei dá ao Juiz a competência para decidir se é, ou não, indispensável
as declarações do infiltrado.
O Professor Germano Marques da Silva sempre defendeu que as ações encobertas
facilmente se transformam em pré-averiguações policiais sem direção efetiva do MP sendo
muito crítico deste tipo de ações. O Regente não é tão crítico, defendendo que certos
fenómenos criminais só podem ser prevenidos ou reprimidos através deste tipo de atuação.
Averiguações preliminares
Há outras espécies de pré-averiguações em domínios que já seriam, em princípio, de
pura investigação criminal:
DL n.º 486/99, de 13 de novembro – Nos crimes contra o mercado de valores
mobiliários (e.g., abuso de informação privilegiada e manipulação do mercado), a
CMVM tem competência para a realização de averiguações preliminares, cujas
conclusões e elementos relevantes, caso se traduzam na notícia de um crime, devem
ser remetidas à autoridade judiciária competente, nos termos dos artigos 383.º e 386.º
do CdVM crimes mobiliários. Por norma, a competência para investigar é do MP e a
CRP não prevê que uma autoridade administrativa investigue crimes (artigo 219.º, n.º
1 da CRP) sendo isto possível pois a atividade de supervisão permite muitas vezes a
deteção de ilícitos, que tanto podem ser contraordenações como crimes. Em especial,
as averiguações preliminares visam “apurar a possível existência da notícia de um
crime” (artigo 383.º, n.º 2 CdVM apurar a possibilidade da possibilidade de um
crime, ou seja, a CMVM vai apurar a primeira possibilidade da segunda possibilidade
sendo uma ginástica do legislador para vencer a resistência de que a CMVM não pode
fazer investigação criminal), mas não constituem um inquérito em processo-crime.
Assim, temos de distinguir materialmente as duas investigações: quando se investiga a
possível existência de um crime o MP pode estar a ouvir pessoas e se dessa inquirição
resultarem indícios de um crime o MP para a inquirição e constitui a pessoa como
arguido, enquanto a CMVM não pode ouvir pessoas suspeitas da prática de um crime
só podendo analisar os elementos documentais recolhidos na sua atividade de
supervisão e verificar se contêm indícios da existência de um crime contra o mercado
de valores mobiliários daí existirem muitos Autores que defendem que as
averiguações preliminares constituem um mero filtro técnico especializado. No final, o
MP receberá as conclusões e documentos das averiguações preliminares, evitando-se
assim que sejam remetidos para investigação criminal elementos inconsistentes e
obstando-se a que o cidadão seja desnecessariamente objeto de um processo-crime à
partida votado ao insucesso por razões técnicas pois se alguém que seja participante
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Direito Processual Penal 2022/2023
Proposta
Aplicação do princípio nemo tenetur se ipsum accusare, em função do artigo 32.º, n.º 1
da CRP, seja no âmbito do processo de supervisão preventiva, do processo sancionatório de
mera ordenação regulatória ou das averiguações preliminares, não obstante os deveres de
informação e de colaboração de quaisquer pessoas sujeitas aos poderes de supervisão do
regulador. Sempre que o regulador solicitar, por escrito, documentos e outras informações a
intermediários financeiros ou quaisquer outras pessoas, singulares ou coletivas, o pedido deve
ser instruído com os seguintes elementos:
A base jurídica, a qualidade em que o destinatário é solicitado a transmitir informações
e o objetivo do pedido;
A indicação de que o incumprimento do pedido constitui desobediência;
A indicação de que a informação e a documentação assim obtidas podem ser utilizadas
como meio de prova em eventual processo contraordenacional ou penal.
Tradição dos autos das averiguações preliminares para o MP, caso concluam pela notícia do
crime, além de se “remete[r] os elementos relevantes à autoridade judiciária competente”
(artigo 386.º do CdVM) e possibilidade de controlo externo pelo MP das decisões de
arquivamento de averiguações preliminares, em obediência aos princípios da separação de
poderes e da legalidade. Adoção pelo regulador de sistemas de controlo interno (compliance
systems) de boas práticas processuais, com vista a maximizar o respeito das garantias
processuais e a minimizar o risco de declaração de nulidade dos atos processuais e de
proibição de valoração de meios de prova em fase de controlo judicial a posteriori.
Informação de segurança
Este é outro tema bastante polémico e a intelligence & security ocupa-se de ameaças,
não faz investigação criminal e a questão é saber como é que podemos fazer circular esta
informação:
Branqueamento de capitais – provavelmente á área mais regulada dentro da
prevenção criminal (temos, por exemplo, as recomendações de soft law do GAFI que
têm formas de prevenção fortíssimas) e a prevenção do branqueamento de capitais
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Direito Processual Penal 2022/2023
implica uma atitude proactiva por parte das autoridades administrativas e pressupõe o
concurso das entidades reguladas na conceção e implementação das medidas
adequadas, no entanto, a prevenção do branqueamento faz-se num plano que está
muito aquém dos indícios da prática do próprio crime porque a prevenção é feita
através de deveres preventivos que se baseiam em tipologias (agentes, cliente e
operações) que estão nas Diretivas e nas recomendações do GAFI e as entidades
obrigadas (financeiras e não financeiras) têm treinos específicos para identificar os
agentes, clientes e operações. O artigo 43.º da Lei n.º 99-A/2021, de 31/12) cuja
epígrafe é “Comunicação de operações suspeitas” determina que «[a]s entidades
obrigadas, por sua própria iniciativa, informam de imediato o Departamento Central
de Investigação e Ação Penal da Procuradoria-Geral da República (DCIAP) e a Unidade
de Informação Financeira sempre que saibam, suspeitem ou tenham razões suficientes
para suspeitar que certos fundos ou outros bens, independentemente do montante ou
valor envolvido, provêm de atividades criminosas ou estão relacionados com o
financiamento do terrorismo», assim, nos termos da Lei portuguesa, comunica-se à
UIF (uma unidade de intelligence) e o facto de se fazer esta comunicação levanta
problemas quanto à natureza da própria comunicação e, portanto, questiona-se qual é
função do UIF e em que medida é que o tratamento de informação vital para a
prevenção de ameaças à segurança interna ou externa é uma atividade de polícia
criminal.
Concluindo, estas atividades de prevenção têm de fazer parte da nossa realidade, mas há
pontos que têm de ser esclarecidos e trabalhados.
Inquérito
No CPP de 1987 a ideia era que não houvesse nada antes do inquérito e, atualmente,
na fase de processo comum o inquérito é uma fase de investigação obrigatória. O inquérito,
em Portugal, é da titularidade do MP, já no Direito Comparado não é sempre assim.
Abertura
A aquisição da notícia de um crime por parte dos OPC determina a obrigação de a
comunicar ao MP no mais curto prazo, não podendo exceder 10 dias (artigo 248.º, n.º 1 do
CPP). Por sua vez, a notícia do crime acarreta para o MP a obrigação de, ressalvadas as devidas
exceções, abrir o inquérito (artigo 262º, n.º 2 do CPP) obrigatoriedade de ação penal que
tem como oposto o princípio da oportunidade. As exceções previstas no CPP são,
fundamentalmente, os crimes semipúblicos e particulares em que não basta a notícia do crime
sendo precisa a queixa e as formas especiais de processo (sumário e abreviado, não se
incluindo o sumaríssimo porque, na verdade, nenhum processo começa nesta forma).
O artigo 262.º, n.º 2 do CPP contém uma consagração do princípio da legalidade. O
conceito de legalidade utlizado consiste na ideia de que a atividade do MP se desenvolve sob o
signo da estrita vinculação à Lei, não obedecendo a razões políticas, económicas ou outras, por
exemplo, não se pode dizer que não foi instaurado um processo porque está em causa um alto
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Direito Processual Penal 2022/2023
titular político a menos que a Lei estabeleça limites à investigação nesses casos. O fundamento
do princípio é a igualdade na aplicação do Direito.
Quanto ao princípio da oportunidade refere que não cabe ao MP fazer considerações
de oportunidade sobre abrir ou não inquérito. O princípio da oportunidade é definido à custa
do seu contrário, que é o princípio da legalidade. O princípio da oportunidade, entre nós, não
tem definição legal, até porque, num sistema norteado pelo princípio da legalidade, a
oportunidade só pode surgir com carácter excecional e esta oportunidade consiste na
atribuição de discricionariedade ao MP para a promoção da ação penal (prosecutorial
discretion).
Existem temas que ainda se discutem e, em 2007, foi muito discutido se sempre que o
MP recebe uma denúncia tem de instaurar um processo porque existia o receio de que o MP, à
luz do CPP de 1987, se não instaurasse um processo perante uma denuncia se tornasse
responsável pela prática do crime de denegação de justiça e, por isso, na reforma de 2007
tornou-se bastante claro que a denúncia e notícia da infração não é a mesma coisa podendo
existir denúncias que não tenham notícia da infração tendo de se distinguir as duas, portanto,
o MP perante qualquer denúncia tem de ver se ela constitui, ou não, a notícia de uma infração
e a seguir é que decide se abre um inquérito, ou não, conforme artigo 58.º, n.º 1, alíneas a) e
d), e 246.º, n.º 6, alínea a) do CPP (esta última norma foi introduzida em 2007 e esclareceu que
a denúncia anónima pode constituir a abertura de um inquérito)
Despacho
O início do Despacho foi sempre muito discutido entre nós e um inquérito não pode
começar sem despacho do MP pois este é o titular do processo, designadamente do ato de
inquérito, é necessário um ato formal do MP o que não quer dizer que não existam diligências
cautelares e de polícias anteriores ao Despacho, no entanto, o Despacho é o primeiro ato do
procedimento e sem ele o processo é nulo nos termos do artigo 119.º, alínea b) do CPP (este
artigo trata de nulidades insanáveis), por falta de promoção do MP, que é quem tem
legitimidade para promover o processo penal, nos termos do artigo 48.º do CPP. Discute-se
muito a este propósito se a nulidade é insanável ou se é dependente de arguição nos termos
do artigo 120.º do CPP, ou seja, se esse Despacho pode surgir posteriormente. Antes de 2007,
podíamos considerar o ato de abertura do inquérito por parte do MP como um ato tácito e o
Professor Germano Marques da Silva sempre defendeu que nunca poderia existir um ato
tácito. Feita a comunicação pelos OPC da notícia de um crime (artigo 248.º, n.º 1 do CPP), se o
magistrado do MP competente não avocasse o inquérito seria considerada delegada a
competência para a prática dos atos de inquérito pois o MP pode delegar em concreto ou em
geral os atos de inquérito nos OPC de acordo com o seu estatuto próprio e com a Lei, logo, se
o MP não chamasse o inquérito para si considerava-se delegada a competência só que não
nenhum artigo no CPP que preveja atos tácitos e, portanto, esse entendimento não parece ser
de admitir estando o Regente de acordo com o Professor Germano Marques da Silva, assim, a
não promoção do processo pelo MP constitui uma nulidade insanável, que pode ser
oficiosamente declarada em qualquer fase do processo (artigo 119.º, alínea b) do CPP) e o
mesmo acontece na falta de inquérito no caso dos crimes semipúblicos ou particulares (artigo
119.º, alínea d) do CPP).
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Direito Processual Penal 2022/2023
Diligências
O inquérito é a fase em que o processo comum adquire o máximo dramatismo porque
pode envolver um conjunto de diligencias muito amplo e, muitas vezes, são restritivas dos
Direitos fundamentais dos suspeitos e arguidos como, por exemplo, a perseguição dos
próprios agentes do crime, até para efeito de aplicação de medidas de coação inclusive a mais
grave de todas que é a prisão preventiva. Implica também a descoberta e conservação das
provas. Estas provas podem não ser apenas relativas ao facto punível, mas também relativas à
personalidade do agente, nos termos da perícia de personalidade que consta do artigo 160.º
do CPP. Ainda para mais o inquérito é uma fase inquisitiva porque pode decorrer em segredo
de justiça externo (público) e interno (pode alguém estar a ser investigado e não souber).
Em 2007 o CPP mudou o regime porque o princípio regra era que o inquérito era
secreto passando a ser público (artigo 86.º, n.º 1 do CPP) sem segredo de justiça.
O CPP permite que o segredo de justiça seja decretado no inquérito ou pelo Juiz de
instrução ou pedido pelo MP confirmado pelo Juiz de instrução por decisão irrecorrível ou até
pelo arguido, mas mesmo que seja decretado o segredo de justiça não impede, em certos
casos, o acesso aos autos pelo arguido (artigo 86.º, n.º 2, 3, 4 e 5 e 89.º do CPP).
Segundo o Observatório Permanente da Justiça Portuguesa (Relatório, 2009), na
maioria da criminalidade, a publicidade constitui um mecanismo de transparência, que facilita
o controlo do desenrolar da investigação e a própria participação do assistente, que assim se
pode transformar num verdadeiro coadjutor do MP no desfecho do inquérito, embora o MP
nem sempre aproveite esta possibilidade, ou seja, a publicidade do inquérito pode não só não
prejudicar a investigação como às vezes até ajudar na investigação.
Prazos
O processo, em fase de inquérito tem prazos que estão no artigo 276.º do CPP e, em
regra, são de 6 meses, mas em situações excecionais podem ir de 8 a 18 meses (artigo 276.º,
n.º 2 e 3 do CPP), mas na prática, Portugal já foi várias vezes condenados pelo TEDH por ter
processuais penais com duração excessiva, portanto, a fase de inquérito pode durar tanto
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Direito Processual Penal 2022/2023
Prazos ordenadores
Não advém qualquer efeito para a validade do processo da circunstância de o MP não
dar por encerrado o inquérito nos correspondentes prazos, ou seja, a ultrapassagem dos
prazos não constitui sequer uma irregularidade. Na verdade, costuma dizer-se que tais prazos
são meramente ordenadores.
Direção
A direção do inquérito cabe exclusivamente ao MP, assim, o MP é dominus do
inquérito (artigo 48.º e 263.º, n.º 1 do CPP). Por razões de eficácia, o MP tem de contar na sua
ação com a colaboração dos OPC (artigo 263.º, n.º 2 do CPP), mas há atos que só o MP é que
pode praticar (artigo 267.º do CPP) e atos que podem ser delegados pelo MP nos OPC (artigo
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Direito Processual Penal 2022/2023
270.º, n.º 1 do CPP) e a delegação genérica por despacho de natureza genérica que indique os
tipos de crime ou os limites das penas (artigo 270.º, n.º 4 do CPP), mas também pode ser para
um ato específico de um processo concreto ou para uma atividade investigatória de um
processo concreto nos termos do n.º 2 do artigo 270.º do CPP Diretiva n.º 1/2002 –
Ministério Público – PGR (delegação genérica na Polícia Judiciária e nos OPC) e esta delegação
genérica não dispensa o Despacho de abertura do inquérito do MP.
A relação entre o MP e os OPC não é uma relação de superioridade hierárquica pois o
MP não dá ordens (salvo os referidos no artigo 270.º, n.º 2 do CPP), apenas dirige o inquérito e
os OPC atuam sob a orientação e dependência funcional MP (artigos 53.º, n.º 2, alínea b) e
263.º, n.º 2 do CPP), mas têm autonomia técnica e tática e decidem o método, quando e como
da realização das diligencias solicitadas pelo MP.
Garantias
O inquérito interfere com a esfera dos Direitos, liberdades e garantias fundamentais e,
certos atos do inquérito, só podem ser autorizados pelo Juiz (artigo 268.º e 269.º do CPP a
Lei fala em ordenar (fase de instrução) ou autorizar (fase de inquérito)) como, por exemplo,
medidas de coação (artigo 194.º, n.º 1 do CPP).
Nulidade de insuficiência
A nulidade de insuficiência do inquérito está prevista no artigo 120.º, n.º 2, alínea d)
do CPP). É nulidade relativa (120.º, n.º 3, alíneas c) e d) do CPP) que deve ser arguida até ao
encerramento do debate instrutório ou, não havendo instrução, até 5 dias após a notificação
do despacho que tiver encerrado o inquérito.
Encerramento do inquérito
Conclusão do inquérito
Despacho de arquivamento (artigo 277.º do CPP);
Despacho de acusação (artigo 283.º (crimes públicos e semipúblicos e 285.º, n.º 4
(crimes particulares) do CPP).
Entre o arquivamento e a acusação há imensas possibilidades e o CPP prevê uma série de
medidas de diversão5 processual:
Arquivamento em caso de dispensa de pena (artigo 280.º do CPP);
Suspensão provisória do processo (artigo 281.º do CPP);
Envio para processo sumaríssimo (artigo 392.º do CPP) no CPP vem tratado como
uma forma de processo especial, mas nenhum processo começa na forma sumaríssima
e, portanto, do ponto de vista sistemático, faz sentido dizer-se que é uma forma de
encerramento do inquérito sendo necessário haver acordo entre o arguido , o MP e o
Juiz e, por isso, é uma forma de justiça consensualizada;
5
Diverge da tramitação normal que seria um despacho de acusação para que o processo fosse
submetido para a fase subsequente e, neste caso, existe uma diversão no sentido em que o processo
diverge da tramitação normal
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Direito Processual Penal 2022/2023
Mediação penal (Lei n.º 21/2007, de 12 de junho) é uma ideia que vem da justiça
restaurativa e a que está por detrás da mediação penal é procurar estabelecer o
encontro entre o ofensor e a vítima de maneira a sanar a ferida aberta por causa da
prática do ilícita e esta forma de justiça restaurativa procura fazê-lo de fora dos
Tribunais de maneira a que haja um ambiente extra judicial para esse confronto e isso
começou recentemente com experiencias que foram feitas sem base legal em países
como a Nova Zelândia, Austrália e Canadá e, por terem dado resultado, foram
transportadas para outros países e começaram a ser feitas em Portugal sem base legal
pela Procuradoria Geral Distrital do Porto e, depois, foi publicada a Lei referente à
mediação penal que, estando em vigor, tem tido pouca expressão prática porque
precisa de recursos humanos; recursos materiais; etc.
Despacho de acusação
Quando o MP, titular do inquérito, está em condições de acusar não pode acusar
devendo dar preferência às medidas de diversão processual e, a partir da reforma de 2007,
estas medidas são mandatórias pois verificados os requisitos para aplicação de uma das
medidas o MP deve promover as medidas de diversão sendo o despacho de acusação a última
hipótese.
Quando o MP tiver recolhido indícios suficientes de que foi cometido crime e tiver
identificado os seus agentes, tem de deduzir acusação (artigo 283.º, n.º 1 do CPP), mas não
bastam os indícios suficientes quanto à existência de crime e à intervenção do arguido na sua
prática.
O artigo 283.º, n.º 2 do CPP tem a definição legal de indícios suficientes (é mais do que
fortes porque, se fosse menos, no momento em que se aplicava uma medida de coação tinha
logo de se ajustar e não é o caso) dispondo que se consideram «suficientes os indícios sempre
que deles resultar uma possibilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada, por força deles,
em julgamento, uma pena ou uma medida de segurança» e esta definição é difícil de
interpretar por ter duas componentes e sempre foram muito discutidas na Doutrina: 1.
Significa que o MP pode acusar com dúvidas sobre a autoria e a materialidade e a resposta
deve ser NÃO pois o MP deve estra convencido categoricamente tal como estaria o Juiz no
momento do julgamento, se fosse o caso, de que o arguido em questão será condenado com
base na prova recolhida, ou seja, o MP tem de ter um grau de convicção igual ao que teria o
Juiz se tivesse de julgar o caso e 2. Ao referir-se a possibilidade razoável no artigo parece
contraditório ao primeiro ponto, mas a expressão “possibilidade razoável” significa que não
basta estar convencido sendo necessário ter provas sólidas. Assim, para acusar exige-se ao MP
um grau de convicção equivalente/semelhante ao do Juiz no momento da sentença, embora
com base no material probatório recolhido na fase do inquérito, que nunca é tão completo
quanto o disponível no momento do julgamento. Obtido este grau de convicção, o MP deve
acusar, exceto nos crimes particulares que têm um regime especial pois nestes, em princípio, o
MP não pode atuar.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Despacho de arquivamento
O MP pode decidir-se, na falta de indícios suficientes, pelo arquivamento do inquérito
(artigo 277.º do CPP):
Arquivamento assertivo (artigo 277.º, n.º 1 do CPP) – se recolheu prova bastante de se
não ter verificado o crime ou de o arguido o não ter praticado a qualquer título;
Arquivamento dubitativo (artigo 277.º, n.º 2 do CPP) – falta de indícios suficientes da
verificação de crime ou de quem foram os seus agentes funcionando o Princípio in
dúbio pro reo.
Intervenção hierárquica
Face ao arquivamento há a possibilidade de intervenção hierárquica (artigo 278.º, n.º 1
do CPP) pois o MP é uma magistratura hierarquizada (artigo 219.º, n.º 4 e 5 da CRP e artigo 2.º,
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Direito Processual Penal 2022/2023
n.º 2; 12.º, n.º 2, alínea b) e f) e n.º 3 do Estatuto do MP – Lei n.º 47/86, 15 de outubro). Com a
revisão do Código de 2007, o assistente e o denunciante com a faculdade de se constituir
assistente passaram a poder requerer a intervenção hierárquica, como já era defendido por
alguma doutrina passando a ter um prazo de 40 dias que inclui os 20 dias a contar da
notificação do arquivamento do MP em que o assistente poderia ter requerido a abertura de
instrução (artigo 287.º, n.º 1, alínea b) do CPP) e os 20 dias do artigo 278.º, n.º 1 do CPP.
Reabertura do inquérito
Se não existir intervenção hierárquica, o processo fica arquivado, mas a Lei prevê que o
inquérito possa ser reaberto nos termos do artigo 279.º do CPP, ou seja, quando houver novos
elementos de prova que invalidem os fundamentos invocados pelo MP para o arquivamento,
sob pena de violação do princípio ne bis in idem.
CPP 1929
Na anterior Lei, o regime da falta de acusação do MP no fim da instrução preparatória
era dualista. Na vigência do CPP de 1929, mas com as alterações trazidas pelo DL n.º 35.007,
de 13.10.1945, o MP, incluída a sua hierarquia (artigo 23.º, 27.º, 28.º e 29.º do DL), passou a
ser a entidade competente – ocupando agora o lugar do Juiz, contra o que sucedia
originariamente no CPP de 1929 – para, independentemente de decisão judicial (artigo 29.º do
DL), ordenar o arquivamento simples ou então despachar no sentido de o processo ficar a
aguardar melhor prova.
No caso de o arquivamento ser ulterior à instrução contraditória, o juiz continuava a
ser a entidade competente para proferir a decisão de arquivamento (artigo 44.º do DL), que
então faria caso julgado material, obstando à reabertura do processo-crime com a mesma
prova contra qualquer arguido.
Segundo a Doutrina então dominante, a decisão de arquivamento proferida pelo MP
tinha eficácia de caso julgado (material), apesar de usualmente se dizer que só às decisões
jurisdicionais (i.e., proferidas por um juiz) é que se pode atribuir essa força.
Tal doutrina questionava “se o valor [preclusivo do processo penal] que o Código [de
1929] atribuía à decisão de arquivamento não se continua[ria] a justificar pelas mesmas razões
– pelos mesmos fundamentos normativos, não obstante a substituição da entidade que é
chamada a proferi-la [no CPP29: o Juiz; no Decreto-Lei 35 007: o MP]” (Eduardo Correia e
Castanheira Neves).
A não atribuição ao arquivamento ordenado pelo MP de um efeito preclusivo da ação
penal significaria “que o arguido veria sempre suspensa sobre a sua vida a possibilidade de
uma acusação com base na [...] reapreciação da prova anterior, na requalificação dos factos
que anteriormente se haviam considerado como não cons8tuindo crime, ou de uma
reabertura da instrução preparatória pelos mesmos factos” (Eduardo Correia e Castanheira
Neves).
Ora, os valores da liberdade e da segurança do arguido deveriam merecer idêntica
garantia tanto em face do arquivamento decidido pelo juiz, como em face do arquivamento
decidido pelo MP (Eduardo Correia e Castanheira Neves).
Para esta Doutrina, a decisão de arquivamento do MP, pondo fim à instrução
preparatória, deveria ter um efeito absolutamente preclusivo do processo penal, quando MP
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Direito Processual Penal 2022/2023
concluía que não se teria verificado o crime ou, pelo menos, que o arguido não o teria
praticado a qualquer título .
A consistência do caso julgado seria diferente, no caso de o MP despachar no sentido
de o processo ficar a aguardar melhor prova. Agora a decisão seria relativamente preclusiva da
ação penal, pois apenas impediria que o processo viesse a prosseguir com a mesma prova
contra qualquer arguido (como sucedia com a decisão análoga do juiz, nos termos do § único
do artigo 148.º do CPP de 1929).
CPP 1987
Atualmente, o conceito de arquivamento (artigo 277.º do CPP) inclui também os casos
em que, no Direito anterior, o processo ficava a aguardar a produção de melhor prova
(arquivamento dubitativo – artigo 277.º, n.º 2 do CPP). Aliás, perante o artigo 279.º, n.º 1 do
CPP, pode dizer-se que todo o arquivamento passa agora a ser um arquivamento à espera de
melhor prova, pois, com base numa mera interpretação declarativa deste preceito, o inquérito
só pode (leia-se: pode sempre) ser reaberto se surgirem novos elementos de prova que
invalidem os fundamentos invocados pelo MP no despacho de arquivamento.
Quer isto dizer que, mesmo naqueles casos em que o MP tenha porventura concluído
que não houve crime ou que não foi o arguido a praticá-lo (artigo 277.º, n.º 1 do CPP:
arquivamento assertivo), o inquérito poderia, à primeira vista, ser reaberto com novos
elementos de prova.
Que é feito então, na lei vigente, do interesse em assegurar a paz jurídica ao arguido?
No cenário legal vigente, tornou-se difícil de defender a antiga doutrina que via no
arquivamento assertivo (negador da responsabilidade do arguido – mutatis mutandis, atual
artigo 277.º, n.º 1 do CPP) um arquivamento definitivo (obviamente, se não tiver sido
requerida a abertura da instrução pelo assistente, nem revogado o despacho de arquivamento
pelo superior hierárquico).
Não se pode vedar a possibilidade ao arguido de requerer diligências idóneas a pôr
cobro à indefinição da sua situação.
Tais diligências não podem ser coisa diversa de um requerimento para abertura da
instrução, com vista à obtenção de um despacho de não pronúncia, o qual, sendo um ato
jurisdicional, deve ter a força de caso julgado (artigo 308.º, n.º 1, parte final do CPP), embora
nunca surja no atual CPP qualquer alusão ao caso julgado penal (contrariamente, ao que
sucedia no 148.º e seguintes do CPP de 1929).
Contudo, o CPP não reconhece ao arguido qualquer meio de reação contra o despacho
de arquivamento do MP.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Instrução
A instrução é uma fase facultativa de controlo judicial da decisão de acusação ou de
arquivamento (artigo 286.º do CPP) e é dirigida por um Juiz de Instrução, assistido pelos OPC
(artigo 288.º, n.º 1 e 55.º, n.º 1 do CPP), exceto quando são atos pessoais que ele realiza que
são a inquirição de testemunhas e interrogatório do arguido.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Início da instrução
A instrução inicia-se com o Requerimento para Abertura da Instrução (RAI):
Do arguido (artigo 287.º, n.º 1, alínea a) do CPP) havendo acusação, por entender que
não deve ser submetido a julgamento, por razões de facto ou de direito, ou para
restringir o objeto do processo;
Do assistente (artigo 287.º, n.º 1, alínea b) do CPP) havendo arquivamento ou
acusação, se o procedimento não depender de acusação particular, e o assistente
entender que deve o arguido ser submetido a julgamento, por razões de facto ou de
direito, ou pretender alargar o objeto do processo no caso de alteração substancial
dos factos da acusação (artigo 1.º, alínea f) do CPP)
Exemplo
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Direito Processual Penal 2022/2023
Requisitos do RAI
Legitimidade do arguido e assistente nos casos previstos (artigo 287.º, n.º 1, alínea a) e
b) do CPP);
Prazo de 20 dias a contar da notificação da acusação ou do arquivamento (artigo 287.º,
n.º 1 do CPP) [sobre a notificação da acusação ou do arquivamento – artigo 283.º, n.º
5 e 6 e 277.º, n.º 3 e 4 do CPP];
Conteúdo – não obedece a formalidades especiais porém o objeto da instrução tem
que ser delimitado (artigo 287.º, n.º 2 do CPP), pelo que deve conter:
Razões de facto e de Direito de discordância face à decisão final do inquérito; e
Tratando-se do RAI do assistente deve conter ainda uma “acusação em sentido
material”, cumprindo os requisitos previstos no artigo 283.º, n.º 3, alínea b) e
c) ex vi artigo 287.º, n.º 2 do CPP.
Representação judiciária (artigo 64.º e 70.º do CPP).
Rejeição do RAI
O RAI, em princípio, só pode ser rejeitado por extemporâneo, por incompetência do
juiz ou por inadmissibilidade legal da instrução (artigo 287.º, n.º 3 do CPP).
Atos de instrução
Os atos que o requerente (arguido ou assistente) pretende que o Juiz de Instrução leve
a cabo, a análise dos meios de prova que não tenham sido considerados no inquérito e
dos factos que, através de uns e de outros, se espera provar (finalidade da instrução).
Não podem ser indicadas mais de 20 testemunhas (artigo 287.º, n.º 2 do CPP);
Os atos concretos que o Juiz entenda necessários sem ser a requerimento (artigo
288.º, n.º 4; 289.º, n.º 1 e 290.º, n.º 1 do CPP);
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Direito Processual Penal 2022/2023
Debate instrutório
O debate instrutório é obrigatório, oral, contraditório e público (artigo 289.º, n.º 1 do
CPP) e é conduzido pelo Juiz de Instrução e participam o MP, o arguido, o defensor, o
assistente e o seu advogado, mas não as partes civis.
O debate instrutório é semelhante a uma audiência de julgamento, mas tem a
finalidade do artigo 298.º do CPP (apreciar a bondade da decisão do inquérito).
No artigo 302.º e 305.º do CPP temos a tramitação do debate instrutório em que o Juiz
de Instrução:
Faz uma exposição introdutória sobre os atos de instrução a que tiver procedido e
sobre as questões de prova relevantes para a decisão instrutória que apresentem
carácter controverso (artigo 302.º, n.º 1 do CPP);
Dá a palavra aos restantes sujeitos processuais para requererem produção de prova
indiciária suplementar que se proponham apresentar ou requerer sobre pontos
concretos controversos (artigo 302.º, n.º 2 do CPP);
Procede à eventual produção de prova suplementar (artigo 302.º, n.º 3 do CPP);
Dá a palavra novamente aos sujeitos processuais para formularem as suas conclusões
sobre a suficiência ou insuficiência dos indícios recolhidos e sobre questões de direito
de que dependa o sentido da decisão instrutória (artigo 302.º, n.º 4 CPP);
Encerrado o debate, o Juiz de Instrução dita logo a decisão para a ata, salvo em causas
complexas, nas quais a decisão pode ser proferida no prazo de 10 dias (artigo 305.º,
n.º 1 do CPP);
Do debate é lavrada ata, assinada pelo Juiz e pelo funcionário de justiça (artigo 305.º,
n.º 2 do CPP).
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Direito Processual Penal 2022/2023
NOTA: se o Despacho de pronúncia for nulo é irrecorrível porque a nulidade deve ser arguida e
o Juiz vai decidir se defere ou indefere a arguição de nulidade e se indeferir recorre-se do
indeferimento da nulidade (artigo 399.º e 310.º, n.º 3 do CPP). Se o Despacho de pronúncia for
válido (artigo 310.º, n.º 1 do CPP – norma excecional) só é recorrível se não houver uma dupla
conforme, ou seja, se existirem duas decisões de duas entidades judiciárias no mesmo sentido
não é recorrível.
Direito ao confronto
Existindo uma acusação ou uma pronúncia passamos para a fase de julgamento que é
composta, essencialmente, por três subfases: 1. Atos preliminares e saneamento do processo,
portanto, uma fase muito inicial em que o que o Juiz vai fazer é apreciar a legalidade da
acusação ou da pronúncia que lhe chegou (esta fase é mais importante quando não existe a
fase de instrução pois essa fase serve precisamente para comprovar judicialmente a decisão e
acusar ou arquivar e quando não há essa fase de instrução, chega-se ao julgamento apenas
com a acusação do MP). Nesta fase são desenvolvidas algumas diligências, designadamente de
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Direito Processual Penal 2022/2023
marcação de audiência, notificação do arguido para contestar, etc., no fundo, é uma fase
preparatória para ocorrer a subfase seguinte; 2. Audiência de julgamento (é a fase mais
importante) e está sujeita a alguns princípios, designadamente, o princípio do contraditório, o
princípio da concentração e da continuidade da audiência de julgamento (a ideia de que a
audiência deve ser marcada o mais rapidamente possível e as sessões devem ter pouco tempo
entre elas porque a produção e a apreciação de prova é tanto mais eficiente quanto menor for
o tempo que permeia cada uma das audiências que são agendadas) e o princípio da
publicidade da audiência sob pena de nulidade. Na audiência de julgamento temos a produção
de prova que é muito importante no processo penal (a prova rainha do processo penal é a
prova testemunhal e é nesta audiência que se ouvem as testemunhas e outras declarações
como as do arguido, assistente e partes civis) e é aqui que também pode acontecer a confissão
do arguido e, para os efeitos do artigo 344.º do CPP, tem de ocorrer na audiência de
julgamento, ou seja, se o arguido confessar em momento anterior e na audiência de
julgamento não o fizer isso não vale como declaração em termos técnicos e 3. Prolação de
uma decisão que pode ser condenatória ou absolutória (Inquérito decisão de acusação ou
de arquivamento; Instrução decisão de pronúncia ou não pronúncia). A Sentença deverá ser
dividida em três partes: 1. Relatório em que temos a identificação do arguido, assistente e
partes civis, qual é que foi o crime imputado ao arguido e a posição assumido pelo arguido no
processo; 2. Fundamentação em que temos a enumeração dos factos que são dados como
provados e não provados e a exposição dos motivos de facto e de Direito que servem de base
à decisão que será tomada 3. Dispositivo que contém, essencialmente, a decisão propriamente
dita e as normas jurídicas que são aplicáveis aquela decisão.
O Direito ao confronto é um Direito que não existe propriamente no nosso
ordenamento jurídico, mas que é possível estabelecer algum paralelismo com algumas normas
que temos. O Direito ao confronto surgiu nos EUA e não tendo uma correspondência exata
com o nosso ordenamento há uma norma que usualmente é imediatamente convocada
quando falamos de Direito ao confronto que consta no artigo 355.º do CPP que dispõe que não
podem servir de fundamentação à decisão quaisquer provas que não tiverem sido produzidas
ou examinadas em audiência (o Juiz não pode utilizar na sua fundamentação não pode utilizar
essas provas), salvo provas contidas em atos processuais cuja leitura, visualização ou audição
em audiência sejam permitidas, nos termos do artigo 356.º e 357.º do CPP.
O artigo 356.º do CPP fala acerca da reprodução ou leitura permitida em audiência e
este artigo só se aplica aos casos em que não existem declarações do arguido, ou seja, sempre
que um auto tiver declarações do arguido nunca se pode aplicar o regime deste artigo, mas
sempre e só o do artigo 357.º do CPP. No artigo 356.º, n.º 2 do CPP temos os casos em que a
leitura de declarações do assistente, das partes civis e de testemunhas são permitidas em que
na alínea a) temos as declarações para memória futura (artigo 271.º e 294.º do CPP); na alínea
b) temos o acordo entre os sujeitos processuais em que determinados autos ou declarações
sejam lidas e na alínea c) temos as declarações obtidas mediante rogatórias (dirigida a
autoridades estrangeiras) ou precatórias (dirigida aos Tribunais ou autoridades portuguesas)
legalmente permitidas e o STJ e o TEDH têm vindo a entender que podem ser estas
declarações desde que tenha existido respeito pelo princípio do contraditório.
O artigo 355.º do CPP consagra uma ideia de garantia de defesa estando subjacente a
ideia de que o arguido tem de ter oportunidade de ver as provas a serem produzidas perante o
julgador sob pena deste não as poder valorar, mas a verdade é que o TC, nomeadamente no
Acórdão 1052/96, já entendeu que o artigo 355.º do CPP acaba por ser uma garantia da
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Direito Processual Penal 2022/2023
própria sentença e esta acaba por ser diferença relevante que existe relativamente ao Direito
ao confronto.
Por outro lado, este princípio da imediação não abrange prova documental ou outros
meios de prova que sejam obtido como, por exemplo, perícias, exames, etc. o que significa que
se houver 1000 documentos juntos ao processo para eu respeitar o princípio da imediação não
tenho de estar a analisar em audiência de julgamentos os 1000 docuemntos, assim, o que o
legislador entendeu é que as garantias de defesa não são postas em causa se eu não analisar
aqueles documentos em audiência de julgamento porque elas já constam no processo e, por
isso, a defesa tem a oportunidade de posteriormente suscitar questões relativas à
admissibilidade ou veracidade daqueles documentos juntos ao processo daí não existir a
necessidade de analisar documento a documento na audiência de julgamentos para efeitos de
se valorar aquela prova na decisão final.
O artigo 6.º da CEDH consagra o princípio do processo equitativo e no n.º 3, alínea d)
vem dispor que o acusado (para nós é arguido) tem o Direito de interrogar ou fazer interrogar
as testemunhas de acusação e obter a convocação e o interrogatório das testemunhas de
defesa nas mesmas condições que as testemunhas de acusação e, portanto, na CEDH temos
plasmado de forma mais evidente, relativamente ao que temos no nosso ordenamento
jurídico, deste Direito ao confronto que está disperso no nosso Código, mas não há nenhuma
disposição que preveja especicamente este Direito a convocar e interrogar as testemunhas.
O TEDH, nos casos Al-Khawaja e Tahery contra Reino Unido, de 15 de dezembro de
2011, estabeleceu alguns critérios para a utilização de declarações de testemunhas obtidas
anteriormente ao julgamento, tais como:
i. Se é necessário admitir tais declarações em cada caso;
ii. Não serem tais declarações a única ou decisiva prova para a condenação – juízo de
concatenação entre a necessidade de ter aquela prova, mas não se pode
necessitar assim tanto, ou seja, tem de se necessitar mais numa lógica
prorrogativa e não numa lógica de essencialidade ou de fundamentalidade porque
se só for possível fundamentar a condenação naquela prova específica ela não
pode ser admitida;
iii. Se existiam mecanismos de proporcionalidade, incluindo garantias processuais que
assegurassem um julgamento justo e equitativo, como um todo conforme o artigo
6.º, n.º 1 e n.º 3, d), CEDH.
Assim, o TEDH acabou por estabelecer um critério de que a ausência de controlo não
prejudica necessariamente a existência de um processo justo e equitativo se, no caso concreto,
existirem as tais medidas que permitem que essas declarações sejam utilizadas,
designadamente, a credibilidade da declaração da testemunha.
O Direito ao confronto foi positivado na sexta adenda à Constituição Norte Americana
onde se dispõe que em todas as ações penais, o acusado terá o direito a ser confrontado com
as testemunhas apresentadas contra si, portanto, aqui temos a positivação do Direito ao
confronto que é um Direito que, no fundo, encerra em si mesmo um fecho de Direitos (os
Direitos compreendidos neste Direito ao confronto são (i) a produção da prova testemunhal
em audiência pública; (ii) a presenciar a produção da prova testemunhal (salvo justificações
plausíveis); (iii) a produção da prova testemunhal na presença do julgador do mérito da causa
(princípio da imediação – a ideia de quem vai julgar o mérito da causa deve ter um contacto
direito com a prova); (iv) a imposição às testemunhas do juramento de dizer a verdade; (v) a
desvendar a verdadeira identidade das testemunhas; (vi) a inquirição das fontes de prova
testemunhal desfavoráveis, no momento da sua produção (mais ligado ao Direito ao
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Direito Processual Penal 2022/2023
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Direito Processual Penal 2022/2023
é a relação entre a defesa (acusado) e a testemunha para poder contrainterrogar. Por outro
lado, o Direito ao confronto no sistema americano serve essencialmente para garantir o Direito
ao contrainterrogatório, mas o contrainterrogatório é um Direito de todos os sujeitos
processuais ao passo que o Direito ao confronto é exclusivamente do acusado. Por outro lado,
o contraditório da tradição europeia continental assemelha-se à promoção do Direito ao
confronto, mas o contraditório é de todos os sujeitos processuais e o contraditório não é
necessariamente contrainterrogatório.
Por sua vez, na tradição jurídica matriz anglo americana a acusação e a defesa podem
dirigir perguntas específicas diretas às testemunhas que indicaram cabendo à outra parte
contrainterrogar (cross-examine) diretamente as testemunhas que não indicaram e na matriz
continental europeia não está excluída a possibilidade de o Juiz intervir na inquirição das
testemunhas, ao abrigo dos seus próprios poderes de investigação, embora também se
pratique a inquirição direta pela acusação e pela defesa e o contraditório, no sentido de
contrainterrogatório (o normal é que seja o Advogado a fazer diretamente as perguntas às
testemunhas podendo o Juiz pedir esclarecimentos no exercício de investigação ou pode ele
próprio fazer as perguntas às testemunhas).
Concluindo, não podemos fazer equiparações funcionais plenas entre os dois modelos de
Direito pois é não fácil e os modelos apresentam diferenças assinaláveis, daí a importação
muitas vezes de conceitos anglo saxónicos para o nosso Direito ser feito com cautela, mas seria
interessante valorizar o Direito ao confronto também entre nós enquanto Direito autónomo
do princípio da imediação e da oralidade enquanto Direito do arguido de confrontar as
testemunhas que contra si são indicadas.
Declarações anteriores
As declarações processuais do arguido prestadas antes do julgamento constituem uma
oportunidade de audição e defesa concedida ao arguido antes da acusação, mas nada obsta a
que possam servir de meio de investigação e de informação estratégica dos sujeitos
processuais.
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Antes de 2013
Artigo 357.º
Reprodução ou leitura permitidas de declarações do arguido
1. A leitura de declarações anteriormente feitas pelo arguido só é permitida:
a) A sua própria solicitação e, neste caso, seja qual for a entidade perante a qual
tiverem sido prestadas; ou
b) Quando, tendo sido feitas perante o juiz, houver contradições ou discrepâncias entre
elas e as feitas em audiência.
2. É correspondentemente aplicável o disposto nos n.os 7 a 9 do artigo anterior.
Imparcialidade
A solução legal impunha que as declarações processuais do arguido, em princípio, não
pudessem ser valoradas no julgamento, carecendo de ser renovadas ou produzidas de novo
nesta fase perante o juiz, para que este pudesse formar a sua convicção independentemente
da investigação criminal, com total imparcialidade.
Direito ao silêncio
Este princípio, que se aplica aos depoimentos das testemunhas, às acareações e aos
reconhecimentos, deve igualmente valer para as declarações do arguido, aliás por maioria de
razão, se considerarmos que este goza do Direito ao silêncio e pode não querer produzir
quaisquer declarações na audiência de julgamento.
Depois de 2013
Artigo 357.º
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Artigo 141.º
Primeiro interrogatório judicial de arguido detido
4. Seguidamente, o juiz informa o arguido:
a) [...];
b) De que não exercendo o direito ao silêncio as declarações que prestar poderão ser
utilizadas no processo, mesmo que seja julgado na ausência, ou não preste
declarações em audiência de julgamento, estando sujeitas à livre apreciação da
prova.
Estrutura acusatória
Para o Regente a alteração legislativa de 2013 põe em crise a estrutura acusatória do
processo penal porque compromete a imparcialidade do Juiz pois fica de alguma maneira
comprometido por um juízo feito por terceiros. Do mesmo passo, ameaça um conjunto de
princípios congruentes, desde a igualdade de armas, passando pelo Direito ao silêncio, até à
oralidade e à imediação.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Redução de garantias
O Regente também defende que existe redução de garantias pois o arguido pode ficar
limitado nas suas garantias de defesa, pois saberá que, se falar durante os interrogatórios,
tudo o que disser poderá ser usado contra si em julgamento, o que pode retirar-lhe qualquer
vantagem de tentar esclarecer o seu envolvimento nos factos em curso de investigação. Tal
redunda numa restrição do seu Direito de audiência e defesa em geral, nomeadamente, a
possibilidade do arguido poder utilizar as declarações prévias ao julgamento para explicar
como meio para justificar o seu comportamento levando à antecipação do silêncio o que leva a
um problema na eficácia.
Antecipação do silêncio
Não está demonstrado que o sacrifício dos princípios possa ser compensado por
ganhos de eficácia no processo penal. Pelo contrário, é provável que a alteração legislativa
possa desencadear, na prática, a reação do arguido de antecipar o silêncio para uma fase
anterior ao julgamento, retirando assim à investigação criminal um importante instrumento de
recolha de informação para o esclarecimento da verdade material.
NOTA: A nossa alteração legislativa parece ser melhor, mas, provavelmente, não coincide com
nenhum efeito benéfico porque, do ponto de vista da investigação, os arguidos sabendo que
tudo o que disserem pode ser usado contra eles passaram a antecipar o silêncio.
Provas repetíveis
Para o Regente o reforço da estrutura acusatória do processo penal português deveria
passar antes pela adoção de um sistema inspirado no modelo italiano de desentranhamento
das provas repetíveis dos autos que seguem para a fase de julgamento. Designadamente,
desentranhamento das declarações processuais de arguido anteriores ao julgamento. Assim,
defende a criação de duas partes do processo em que a primeira parte seria todo o processo
até à audiência de julgamento e o que é necessário na audiência de julgamento seria,
basicamente, a acusação e o julgamento só com base na acusação e nas chamadas provas
irrepetíveis, ou seja, aquelas que não se podem mesmo repetir como, por exemplo, a autópsia.
Já as provas repetíveis são do conhecimento do MP e de todos os sujeitos, mas não são do
conhecimento do Juiz de julgamento para garantir a imparcialidade deste. No Direito italiano
as provas repetíveis não podem ir para o Juiz de julgamento ficando este como tábua rasa
garantindo-se a imparcialidade e imediação total em que tudo o que possa ser repetido é
desentranhado do processo ficando no fascículo preliminar que não é sujeito a julgamento.
A posição do Regente defende esta estrutura deve-se ao facto de considerar
inconstitucional o artigo 357.º, n.º 1, alínea b) do CPP tal como está por violação do princípio
das garantias de defesa do arguido e, sobretudo, da estrutura acusatória pois
constitucionalmente está garantida a estrutura acusatória em que a entidade que julga tem de
ser independente da entidade que investiga, mas a partir do momento em Juiz de julgamento
está condicionado a usar provas prestadas perante a entidade que investiga deixa de existir a
separação total de quem julga e quem investiga. Este juízo de inconstitucionalidade implica a
repristinação do regime anterior a 2013 pois numa posição como a do Regente só é conforme
à CRP as declarações prestadas em fase anterior ao julgamento se estiverem verificadas as
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condições do regime anterior a 2013 (1. Que o arguido não use o Direito ao silêncio; 2.
Existência de discrepâncias e 3. Que tenham sido prestadas perante o Juiz de Instrução).
Modelo italiano
O Direito italiano consagra a separação, na audiência preliminar (udienza preliminare),
dos autos destinados ao julgamento (fascicolo per il dibattimento), nos termos do artigo 431.º
do CPP, relativamente aos autos do Ministério Público (fascicolo del pubblico ministero), nos
termos do artigo 433.º do CPP. Os autos do Ministério Público são conhecidos das partes, mas
não do Juiz de julgamento, a fim de garantir a imparcialidade do último.
Dever de fundamentação
O dever de fundamentação da sentença é uma garantia de um julgamento equitativo
(fair trial), como tem sido afirmado pelo TEDH, por exemplo, nos casos Hadjianastassiou v.
Greece, Acórdão do TEDH de 16.12.1992 (Queixa n.º 12945/87) (1992) e Salov v. Ucrânia,
Acórdão do TEDH de 06.09.2005 (65518/01) (2005), entre outros, isto é, não é aceitável que
uma Sentença condenatória possa não conter os elementos necessários a que qualquer
destinatário compreenda em como se chegou aquela decisão, ou seja, é necessário conter a
fundamentação para que qualquer pessoa estranha ao processo ao ler consiga seguir um
método racional utilizado pelo julgador para chegar aquela decisão e a estruturada própria
Sentença assegura essa ideia porque a fundamentação é a parte mais importante porque é
nessa parte que o Juiz tem de sustentar as razões que podem ser cognoscíveis por um terceiro
incluindo o Juiz de recurso, ou seja, a fundamentação tem de ser tão exata que permita a
quem esteja a rever a decisão também consiga fazer uma repetição do percurso do Juiz de 1.ª
instância (artigo 374.º do CPP).
Na fundamentação da Sentença penal, o julgador (i) enumera os factos provados e não
provados; (ii) expõe completamente, mas de maneira concisa, os motivos de facto e de direito
que justificaram a decisão e (iii) indica, examinando-as criticamente, as provas que serviram
para formar a convicção do Tribunal.
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provados quais são os elementos do típico que estão preenchidos e, estando preenchidos
totalmente, o arguido deve ser condenado fazendo, então a dosimetria da sanção e do tipo de
sanção e tudo isto assenta numa distinção entre factos e Direito.
Uma terminologia desde há muito consolidada no domínio processual chama questões
de direito às conclusões suscetíveis de reexame por um tribunal de revista com poderes de
cassação ou de substituição da sentença recorrida e questões de facto àquelas que não são
reexamináveis, no entanto, não há uma distinção entre a questão de facto e a questão de
direito não implica que haja uma separação entre conceitos fácticos pré-jurídicos e conceitos
jurídicos e o Professor Castanheira Neves defendia que a distinção entre factos e Direito dava
jeito para efeitos de recurso de revista em que a matéria de facto assente no primeiro Tribunal
não admite recurso perante outro Tribunal, a não ser que a matéria de facto seja
manifestamente contraditória. A revista fica assim limitada aos vícios de legalidade, seja por
verificação de alguma nulidade, seja por desaplicação ou por incorreta aplicação de normas
jurídicas, por exemplo, o conceito de dolo eventual é seguramente um conceito jurídico, ainda
que tenha de ser preenchido com factos e a decisão sobre o dolo eventual revelado pelo
agente, ora arguido, durante a prática do facto punível é da competência exclusiva das
instâncias não porque a questão não seja jurídica, mas porque se entende que o tribunal de
revista não deve revisitar a prova dos factos.
Artigo 374.º
(Requisitos da sentença)
1. A sentença começa por um relatório, que contém:
a) As indicações tendentes à identificação do arguido;
b) As indicações tendentes à identificação do assistente e das partes civis;
c) A indicação do destino a dar a animais, coisas ou objetos relacionados com o crime,
com expressa menção das disposições legais aplicadas;
d) A indicação sumária das conclusões contidas na contestação, se tiver sido
apresentada.
2. Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos factos
provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível
completa, ainda que concisa, dos motivos, de facto e de direito, que fundamentam a
decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a
convicção do tribunal.
3. A sentença termina pelo dispositivo que contém:
a) As disposições legais aplicáveis;
b) A decisão condenatória ou absolutória;
c) A indicação do destino a dar a coisas ou objetos relacionados com o crime, com
expressa menção das disposições legais aplicadas;
d) A ordem de remessa de boletins ao registo criminal;
e) A data e as assinaturas dos membros do tribunal.
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No CPP italiano, nos requisitos da Sentença, obriga o Tribunal à «exposição concisa dos
motivos de facto e de direito sobre os quais se fundou a decisão, com a indicação das provas
utilizadas na própria decisão e a enunciação das razões pelas quais o Juiz considera não
atendíveis as provas contrárias», no fundo, não só tem de dizer porque é que ignorou a prova
como tem de demonstrar não acredita naquela prova, em bom rigor, é o exame crítico da
prova.
Os processos especiais
Existem três formas especiais de processo penal:
Sumário (artigo 381.º e seguintes do CPP);
Abreviado (artigo 391.º-A e seguintes do CPP);
Sumaríssimo (artigo 392.º e seguintes do CPP).
Caraterísticas
Todos eles são formas mais céleres e não há instrução nos processos especiais (artigo
286.º, n.º 3 do CPP) e, eventualmente, não haverá o inquérito pois pode ser suprimido
e o julgamento é acelerado;
São subsidiariamente aplicáveis as regras do processo comum (artigo 386.º, n.º 1 e
391.º-E do CPP);
São prioritários relativamente à forma de processo comum (subsidiário) que
consubstancia um direito do arguido à forma especial do processo.
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Prioridade
A não verificação dos pressupostos legais da forma especial obriga à aplicação
subsidiária do processo comum (forma aplicável em todos os casos em que a lei não
imponha o processo comum), sob pena de nulidade insanável (artigo 119.º, alínea f)
do CPP);
O emprego indevido da forma de processo comum é cominado com nulidade sanável e
dependente de arguição, mais solene, quando a lei determine a aplicação de processo
especial (artigo 120.º, n.º 2, alínea a) do CPP).
NOTA: As nulidades processuais podem ser insanáveis (artigo 119.º do CPP) conhecida a todo
o tempo sanando-se com o transito em julgado e é de conhecimento oficioso e sanáveis (artigo
120.º do CPP) que carecem de ser arguidas sob pena de se convalidarem passado determinado
tempo e quando a Lei não qualifique a nulidade entende-se que é dependente de remissão.
Processo sumário
Requisitos cumulativos
1. Detenção em flagrante delito em qualquer modalidade (artigo 381.º, n.º 1, alínea a) ou
b) do CPP);
2. Punível com pena de prisão e não apenas com multa;
3. Efetuada por entidade policial (artigo 255.º, n.º 1, alínea a) do CPP), autoridade
judiciária ou particular e, neste caso desde que tenha sido lavrado auto sumário de
entrega do detido até 2h após a detenção (artigo 255.º, n.º 1, alínea b) e 381.º, n.º 1,
alínea b) do CPP);
4. Competência do tribunal singular.
NOTA: Não se aplica a crimes particulares (artigo 255.º, n.º 4 do CPP), pois não há detenção
em flagrante delito por crimes particulares, mas apenas identificação do suspeito (artigo 250.º
do CPP).
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Casos especiais
Crime permanente (artigo 256.º, n.º 3 do CCP – executa-se imediatamente, mas a
consumação perdura no tempo) – visibilidade da prática do crime e do envolvimento
do agente só flagrante delito stricto sensu.
Dificuldades
Crimes que careçam de prova pericial: v.g., tráfico de estupefacientes. Antes da prova
pericial pode haver lugar à detenção em flagrante delito? Sim (artigo 387.º, n.º 7 e 8 e
389.º, n.º 4 do CPP).
A detenção em flagrante delito não serve só para julgar o detido em processo sumário,
tendo outras finalidades como o artigo 254.º, n.º 1, alínea a) do CPP.
Jurisprudência obrigatória
Acórdão Tribunal Constitucional n.º 174/2014, DR, I Série de 13-03-2014:
«Declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, da norma do artigo 381.º, n.º 1,
do Código de Processo Penal, na redação introduzida pela Lei n.º 20/2013, de 21 de fevereiro,
na interpretação segundo a qual o processo sumário aí previsto é aplicável a crimes cuja pena
máxima abstratamente aplicável é superior a cinco anos de prisão, por violação do art. 32.º/1
e 2 CRP», ou seja, o TC declarou que este limite não é conforme às garantias do processo penal
porque «Como o Tribunal Constitucional tem reconhecido, o julgamento através do tribunal
singular oferece ao arguido menores garantias do que um julgamento em tribunal coletivo,
porque aumenta a margem de erro na apreciação dos factos e a possibilidade de uma decisão
menos justa (entre outros, os acórdãos n.ºs 393/89 e 326/90). É desde logo a maior abertura
que a intervenção de órgão colegial naturalmente propicia à ponderação e discussão de
aspetos jurídicos e de análise da prova que permite potenciar uma maior qualidade de decisão
por confronto com aquelas outras situações em que haja lugar ao julgamento por juiz singular»
e ainda «Não subsiste motivo para que, em caso de flagrante delito, o recurso ao processo
sumário se não mantenha dentro do limite abstrato máximo de competência do juiz singular
quando intervenha em processo comum. Ainda que não haja obstáculo a que o âmbito de
aplicação do processo sumário se estenda aos casos em que a pena a aplicar em concreto não
deva ultrapassar os cinco anos por via do funcionamento de um mecanismo equivalente ao
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Direito Processual Penal 2022/2023
previsto no artigo 16.º, n.º 3, do CPP, que o Tribunal considerou já não ser inconstitucional
(acórdão n.º 296/90)».
Detenção
Entidade policial ou autoridade judiciária – poder/dever de detenção (artigo 255.º, n.º
1, alínea a) do CPP); ou
Particular, em caso de impossibilidade de recurso em tempo útil à força pública –
poder/direito de detenção (artigo 255.º, n.º 1, alínea b) do CPP) com dever de entregar
imediatamente o detido a uma das entidades da alínea a), que tem de lavrar auto
sumário da entrega e comunicar ao MP (artigo 255.º, n.º 2 e 259.º, alínea b) do CPP).
Prazos
O Julgamento deve iniciar-se até 48h (artigo 387.º, n.º 1 do CPP) ou até 20 dias após a
detenção (artigo 387.º, n.º 2, alínea c) do CPP). Se não for respeitado o prazo (artigo
390.º, n.º 1, alínea b) do CPP) dá lugar a reenvio do processo para outra forma, mas o
MP decide qual a nova forma (artigo 390.º, n.º 2 do CPP).
Questão
Qual a invalidade decorrente da preterição do prazo?
Nulidade insanável (artigo 119.º, alínea f) do CPP)?
Mera irregularidade (artigo 118.º, n.º 2 e 123.º do CPP)?
Ou prazo meramente ordenador?
Segundo o Acórdão do TRE de 30/06/2015, proc. n.º 267/10.6GTABF.E1 (Relatora: Isabel
Duarte) «Impõe-se discernir entre os requisitos essenciais do processo sumário, expressos no
art. 381.º do C.P.P., e as meras regras de marcação de audiência, expressas no art. 387.º, 2 - As
consequências do seu incumprimento são diferentes. O incumprimento dos primeiros origina
nulidade insanável, prevista no art. 119.º al. f), do citado CPP. O incumprimento do disposto no
art. 387.º, n.ºs 1 e 2, constitui mera irregularidade».
Decisão do MP
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Questão
Podendo a suspensão provisória do processo durar entre 2 a 5 anos (artigo 282.º, n.º 1
e 5 do CPP), será compatível com a celeridade do processo sumário?
O arquivamento em caso de dispensa de pena e a suspensão provisória do processo
precedem a fase do julgamento em processo sumário, mas não prescindem da intervenção do
Juiz de Instrução nos termos gerais.
Constituição de arguido
Constituição de arguido do detido em flagrante delito (artigo 58.º, n.º 1, alínea c) do
CPP) e quando se constitui alguém como arguido deve-se imediatamente comunicar os
seus Direitos e deveres;
Apresentação imediata ao MP para interrogatório sumário, se este assim entender
(artigo 382.º, n.º 2 do CPP), em ordem a apurar se se verificam os pressupostos e
requisitos de aplicação do processo sumário;
Apresentação ao Tribunal competente para julgamento em processo sumário, se o MP
não promover o arquivamento em caso de dispensa de pena ou a suspensão provisória
do processo (artigo 382.º, n.º 2 e 384.º, n.º 1 e 2 do CPP);
Em regra, tem de haver libertação se o detido não for apresentado ao Juiz em ato
seguido à detenção, com notificação para as finalidades previstas no artigo 385.º, n.º 2
do CPP (artigo 385.º, n.º 1 e 3 do CPP).
Manutenção da detenção
A manutenção da detenção pode verificar-se até ser presente à autoridade judiciária
(artigo 385.º, n.º 1, alínea a), b) ou c) do CPP);
Arguido pode exercer o direito ao prazo para preparar a sua defesa – direito de defesa
(artigo 382.º, n.º 2 e 383.º, n.º 2 do CPP);
O modo de funcionamento da acusação e audiência vem no artigo 389.º do CPP;
Não é obrigatório que haja acusação do MP podendo ser substituída pela leitura do
auto de notícia da autoridade que tiver procedido à detenção, ainda que completado,
desde que respeite os requisitos do artigo 283.º, n.º 3 do CPP.
Julgamento
Diligências de prova
As diligências de prova requeridas pelo arguido serão compatíveis com a audiência
de julgamento na forma sumária (artigo 387.º, n.º 4 do CCP)?
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Processo abreviado
Requisitos cumulativos
1. Pena de prisão até 5 anos (abstrata ou limitada pelo MP) ou multa, podendo ser mais
do que 5 anos (artigo 16.º, n.º 3 do CPP);
2. Evidência probatória (artigo 391.º-A, n.º 1 e 3 do CPP), mas é incompatível com os
prazos curtos do processo sumário daí o legislador ter tido a necessidade de criar uma
forma intermédia, também acelerada, mas que preenchesse o vazio entre o processo
sumário que tem um prazo de duração muito curto e o processo comum com todas as
suas fases.
Processo que assenta na especial simplicidade e evidência da prova, da qual,
porém, têm de resultar indícios suficientes no sentido do artigo 283.º, n.º 1 e 2
do CPP, ou seja, «a prova não apresenta, do ponto de vista dos factos e do
direito, qualquer dificuldade e pode ser facilmente esclarecida».
Questiona-se se o n.º 3 é taxativo pois desapareceu a menção
“nomeadamente”.
Prazos
Sucedâneo mais moroso do processo sumário (artigo 384.º, n.º 4 e 391.º-A, n.º 3,
alínea a) do CPP).
A fase de inquérito não é obrigatória, pois a acusação pode ser deduzida por remissão
para o auto de notícia ou para a denúncia (artigo 391.º-B, n.º 1 do CPP);
Havendo inquérito, a acusação autónoma terá de ser deduzida no prazo de 90 dias a
contar da notícia do crime ou da apresentação de queixa (artigo 391.º-B, n.º 2 do CPP).
A preterição deste prazo é uma irregularidade ou é apenas ordenador?
Tramitação
Tratando-se de crime particular, a acusação do MP para julgamento em processo
abreviado só possível depois de deduzida a acusação particular (artigo 285.º e 391.-B,
n.º 3 do CPP);
A suspensão provisória do processo é compatível com o processo abreviado (artigo
391.º-B, n.º 4 do CPP)? Mutatis mutandis, a discussão sobre a suspensão provisória do
processo quanto ao processo sumário também vale para o processo abreviado;
Saneamento do processo (artigo 391.º-C do CPP), com possibilidade de rejeição da
acusação do MP ou do particular, nos termos do artigo 311.º do CPP;
É possível o reenvio do processo ao MP para promoção sob outra forma de processo
só se for inadmissível no caso o processo abreviado (artigo 391.º-D, n.º 1 do CPP);
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Conclusão
Garante parte do formalismo do processo comum, com algumas alterações de
natureza formal (não obrigatoriedade do inquérito/inexistência de instrução);
Finalidade do processo abreviado é submeter o arguido a julgamento o mais
rapidamente possível, nos casos de pequena e média criminalidade fortemente
indiciados porque sustentados em provas evidentes e de fácil produção;
Sucedâneo do processo sumário quando, apesar da detenção em flagrante delito, não
seja possível o julgamento em processo sumário dentro do prazo legal.
Processo sumaríssimo
Requisitos cumulativos
1. Crime punível com pena de prisão até 5 anos, mesmo em caso de concurso efetivo, ou
só com pena de multa (artigo 392.º, n.º 1);
2. Requerimento do MP, ouvido o arguido, ou por iniciativa do arguido;
3. Avaliação do MP da conveniência do processo sumaríssimo quando entender que a
pena ou medida de segurança a aplicar não deve ser privativa de liberdade (artigo
392.º, n.º 1 do CPP):
a) Sendo crime particular, exige-se a concordância do assistente quanto ao
conteúdo do requerimento do MP (artigo 392.º, n.º 2 do CPP).
b) Desde que não haja rejeição pelo juiz (artigo 395.º do CPP), nem oposição do
arguido (artigo 396.º e 398.º do CPP), segue-se de imediato a decisão
condenatório (artigo 397.º do CPP).
Tramitação
Requerimento do MP não pode limitar-se a remeter para o auto de notícia ou para a
denúncia;
Forma que contempla fase preliminar de inquérito, destinada a recolher prova
indiciária dos factos e da sua autoria, bem como os elementos de facto necessários à
escolha da pena ou medida de segurança não privativas da liberdade.
O que implica:
a) Constituição do suspeito como arguido;
b) Realização do respetivo interrogatório;
c) Nos crimes particulares, no final do inquérito, concordância do assistente
prévia ao requerimento do MP para julgamento em processo sumaríssimo.
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Conclusão
Esta forma de processo visa a pacificação social em torno do consenso obtido. Trata-se de
um processo expedito, aplicável à pequena e média-baixa criminalidade, alicerçado nas ideias
de consenso e dissuasão da prática futura de crimes, que prescinde da instrução na fase inicial,
e da audiência na fase do julgamento.
Sujeitos processuais
Arguido
O processo criminal assegura todas as garantias de defesa a todas as pessoas como,
por exemplo, arguido, suspeito, testemunhas, etc. (artigo 32.º, n.º 1 da CRP) e o CPP distingue
as figuras de suspeito e de arguido contendo uma definição material de suspeito no artigo 1.º,
alínea e) do CPP, mas não contém nenhuma definição material de arguido porque o legislador
partiu do princípio de que não teria utilidade pois só se é arguido quando se assume
formalmente esse instituto, ou seja, o suspeito não é arguido se não estiver constituído como
tal, no entanto, aponta simplesmente os casos de constituição de arguido, nos termos do
artigo 57.º, 58.º e 59.º, indicando os direitos e deveres processuais que lhe correspondem,
enquanto sujeito processual.
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d) Não responder a perguntas feitas, por qualquer entidade, sobre os factos que lhe
forem imputados e sobre o conteúdo das declarações que acerca deles prestar.
3. Recaem em especial sobre o arguido os deveres de:
b) Responder com verdade às perguntas feitas por entidade competente sobre a sua
identidade.
Testemunha
O artigo 342.º, n.º 1 do CPP diz que as garantias de defesa do processo são de toda a
gente, não dizendo quem e isto é muito importante para perceber qual é o estatuto da
testemunha porque esta não tem Direito ao silêncio e se mentir comete o crime de falso
testemunho, ao contrário do arguido, mas a “testemunha não é obrigada a responder a
perguntas quando alegar que das respostas resulta a sua responsabilização penal” (artigo
132.º, n.º 2 do CPP).
Jurisprudência do TEDH
Artigo 6.°, n.º 2 da CEDH (Direito a um processo equitativo)
«Qualquer pessoa acusada de uma infração presume-se inocente enquanto a sua
culpabilidade não tiver sido legalmente provada» e, relativamente ao Direito ao silêncio, uma
pessoa que fique calada, em princípio, não se presume culpada.
Nemo tenetur
A principal dimensão da ideia de processo equitativo é até mais vasta do que o Direito ao
silêncio que se designa por nemo tenetur se ipsum accusare (ninguém pode ser obrigado a
culpar-se) e este princípio de que ninguém deve ser obrigado a contribuir para a sua própria
incriminação engloba:
O direito ao silêncio;
O direito de não facultar meios de prova.
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como única fonte para a descoberta de possíveis indícios da prática de crime, o que constituía
violação do direito a um processo justo e equitativo (artigo 6.º, n.º 1 da CEDH).
Para o Regente, a decisão do TEDH parte dos seguintes princípios: 1. Ter contas no
estrangeiro não são indícios e há muitas razões para se ter contas no estrangeiro sem ser para
fugir aos impostos; 2. Não sendo indício não é implícita a prática de um crime; 3. Se ele é
suspeito da prática de um crime não tem de colaborar com a justiça por ter o Direito ao
silêncio e a não entregar provas; 4. Estamos à espera que uma pessoa que se presume
inocente seja a principal fonte contra si o que é contra uma espécie de Princípio da liberdade.
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Outros acórdãos
Acórdão 21/03/2001 (Heaney e McGuinness vs. Ireland), sobre o direito ao silêncio;
Acórdão 03/08/2001 (J.B. vs. Suíça), sobre a entrega de documentos que fazem prova
de evasão fiscal;
Acórdão 21/01/2009 (Bykov vs. Rússia), sobre a necessidade de se preservar o núcleo
essencial do direito ao silêncio;
Balanço
Não há uma teoria geral do nemo tenetur com base no TEDH, tanto mais que os casos
decididos revelam inúmeras particularidades, além de que têm motivações muito concretas e
focadas nos argumentos apresentados pelos sujeitos processuais. A Jurisprudência do TEDH só
autoriza a conclusão de que o nemo tenetur não é absoluto, mas admite ponderações no
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confronto com outros interesses juridicamente tutelados, desde que se garanta a preservação
do núcleo essencial daquele direito.
O nemo tenetur não consta expressamente do texto da CRP, mas a Doutrina e a
jurisprudência portuguesas são unânimes não só quanto à vigência daquele princípio no direito
processual penal português, como quanto à sua natureza constitucional. Há quem baseie o
princípio nas garantias processuais consagradas nos artigos 20.º, n.º 4, in fine e 32.º, n.º 1 da
CRP. Outros, porém, consideram que o princípio carece ainda de uma fundamentação última
de carácter não processualista, mas antes de ordem material ou substantiva, ligando-o aos
direitos fundamentais e à dignidade da pessoa humana, nos termos do artigo 1.º da CRP.
Âmbito de aplicação
A presente Diretiva aplica-se às pessoas singulares que são suspeitas da prática de um
ilícito penal ou que foram constituídas arguidas em processo penal e a todas as fases do
processo penal, isto é, a partir do momento em que uma pessoa é suspeita da prática de um
ilícito penal ou é constituída arguida ou é suspeita ou acusada de ter cometido um alegado
ilícito penal, até ser proferida uma decisão final sobre a prática do ilícito penal e essa decisão
ter transitado em julgado.
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Objeto do processo
Nesta matéria importa o artigo 1.º, alínea f) do CPP para saber se existiu alteração
substancial de factos utilizando para o efeito dois critérios: 1. Critério qualitativo (crime
diverso) e 2. Crime quantitativo (quando existe aumento da penalidade), portanto, se a
questão não for da alteração substancial de factos não vamos a este artigo. Se não se tratar de
uma alteração substancial de factos temos de resolver a questão aquém e se for na Instrução
vamos ao artigo 303.º do CPP, se for no Julgamento temos de ir ao artigo 358.º e 359.º do CPP.
O artigo 303.º, n.º 1 do CPP trata da alteração não substancial de factos; o n.º 3 trata
da alteração substancial de factos não autonomizáveis; o n.º 4 da alteração substancial de
factos autonomizáveis e o n.º 5 trata de alteração de qualificação jurídica.
No Julgamento esta matéria está dividida em dois artigos e no artigo 358.º, n.º 1 do
CPP temos a alteração não substancial de factos e no n.º 3 temos a alteração da qualificação
jurídica. No artigo 359.º do CPP temos a alteração substancial de factos, no n.º 1 temos
alteração substancial de factos não autonomizáveis; no n.º 2 os factos autonomizáveis e no n.º
3 temos uma solução de consenso entre o arguido, o assistente e o MP.
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material, estando limitado pelo tema que foi constituído como objeto do processo e que pré-
fixado à sua intervenção.
Alteração de factos
Depois de fixado o objeto do processo (acusação consolidada) podem aparecer factos
novos. Se surgirem factos novos podem ser: 1. Factos totalmente independentes o que, em
termos substantivos, daria lugar a um concurso efetivo real de infrações (concurso efetivo são
vários factos pelos quais ele vai ser punido podendo ser ideal ou real (através de ações
independentes cometeu vários crimes)) com o objeto do processo em curso tendo de ser
punido pelos crimes numa pena única, mesmo que seja em processos diferentes, mas do
ponto de vista processual se se descobrirem estes factos inteiramente novos deve-se extrair
certidão do processo e comunicar à entidade competente que é o MP que deverá abrir um
outro inquérito quanto aos factos totalmente novos, nos termos do artigo 262.º, n.º 2 do CPP;
2. Factos que são “apenas” uma variação dos mesmos factos, ou seja, quando os factos são os
mesmos, mas passaram por uma alteração segundo novos elementos que integram a narrativa
e só quando chegamos à conclusão que há uma alteração de factos é que temos de questionar
se alteração de factos é, ou não, substancial (artigo 1.º alínea f) do CPP dois critérios: crime
diverso o que não significa que é um tipo legal de crime diferente porque o tipo legal pode ser
o mesmo e o crime ser diferente como, por exemplo, o arguido está acusado de homicídio,
mas entretanto descobre-se que a vítima era sua ascendente (critério qualitativo) e agravação
dos limites máximos da penalidade (critério quantitativo)). Se verificarmos que existe uma
alteração substancial de factos temos, ainda, de questionar se essa alteração substancial de
factos implica, ou não, uma alteração na qualificação jurídica, mas, segundo a Doutrina
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dominante, a inversa não é verdadeira, ou seja, não podemos dizer que uma mera alteração
da qualificação jurídica corresponde a uma alteração substancial de factos.
Jurisprudência
Não há factos novos
ACRL 947/10.6PEAMD.L1-5 Alteração não substancial dos factos
Relator: LUÍS GOMINHO
Data do Acórdão: 31.01.2012
I. Não é qualquer modificação da factualidade provada, em relação ao que se
mostre vertido na redação da respetiva acusação ou pronúncia, que é
merecedora de ser qualificada como alteração não substancial dos factos;
II. A prova de aspetos circunstanciais da conduta do agente, que conduzem a
precisões ou concretizações dos factos imputados, que em nada alteram o objeto
do processo, no sentido de constituírem uma surpresa relevante para a defesa ou
de tornarem diferente os eventos fenomenológicos que são objeto da acusação,
não constituem alteração que mereça o enquadramento justificativo do artigo
358.º, n.º 1, do Código de Processo Penal.
O Regente concorda com a decisão do Tribunal pois não é qualquer alteração que merece
ser qualificada como alteração de factos ainda que seja na modalidade não substancial porque
são aquelas alterações que afetam a estratégia da defesa ou que afetam o conhecimento dos
factos sob Júdice e que justificam a aplicação do regime da alteração não substancial de factos.
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X. Sendo certo que o arguido tem que defender-se dos factos que lhe são imputados,
não podendo ser surpreendido com factos novos, diferentes daqueles que lhe
foram imputados na acusação, a verdade é que a alteração da hora nem sequer
“alarga” o objeto do processo, não o faz perder a sua identidade – não se passa a
um diferente objeto do processo, que assim se mantêm, pois os crimes por que o
recorrente vinha acusado – roubo do artigo 210.º, n.º 1 e 2, alínea b) do CP – são
os mesmos pelos quais veio a ser condenado, sendo a pena, em abstrato,
também a mesma, pelo que não houve, alteração substancial ou até mesmo não
substancial dos factos descritos na acusação por via da alteração da hora dos
factos, pelo que não se verifica a apontada nulidade da sentença.
Nunca em abstrato se pode dizer que a diferença das 21 horas para as 17 horas não
constitui sequer uma alteração não substancial de factos, pode ser que não constitua.
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exigência demasiado forte porque pode haver fatos novos que afetam a estratégia da defesa,
mas que não depende a condenação ou absolvição, mas só a agravação da pena
concretamente aplicada.
Autonomização
Existem dois quadros de situações em que os factos são autonomizáveis:
Concurso ideal de infrações – no concurso efetivo enquadram-se aqueles casos em
que a pessoa comete vários crimes dos quais deve ser efetivamente punida se se fizer
a prova (artigo 30.º, n.º 1 do CP) podendo ter o concurso efetivo real (várias ações
separadas) ou ideal (uma única ação que produz vários crimes) e pode-se dividir o real
e ideal em homogéneo e heterogéneo consoante seja várias vezes o mesmo tipo de
crime ou crimes diferentes. Um concurso ideal ocorre, por exemplo, quando o arguido
através de uma única ação pode ter cometido ofensas à integridade física grave de
duas ou três pessoas devendo ser punido, mas descobre-se que através da mesma
ação produziu crimes de dano no património de outra pessoa distinta deste catálogo
de vítimas e a questão é sabermos se podemos autonomizar os factos novos que
constituem uma alteração substancial. Se for um concurso real podemos dizer que são
factos completamente novos pois são várias ações separadas no tempo e no espaço;
Casos duvidosos crimes complexos – costuma-se falar em crimes complexos
quando temos uma composição de dois ou mais crimes, por exemplo, existe uma
acusação de um furto e descobre-se na Instrução ou no Julgamento que existiu
violência e o Regente tem muitas dúvidas que um crime complexo possa ser desfeito
em dois e dar origem a dois processos porque depois não se consegue fazer prova nem
de um nem de outro porque não se consegue fazer duas histórias separadas.
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Repetição do inquérito
A tese da repetição do inquérito foi a que se tornou mais conhecida de início e a
primeira pessoa que tratou do assunto entre nós foi o Professor Frederico Isasca na sua tese
de Mestrado e dizia que o CPP, antes de 2007, não tem solução para isto existindo uma lacuna,
então a lacuna deve ser integrada pois não conseguimos fazer analogia legis e, por isso, vamos
ao CPC (artigo 4.º do CPP) buscar o regime da suspensão da instância (artigo 276.º, n.º 1,
alínea c) e 279.º, n.º 1, in fine, do CPC à data de 2003), assim, o Juiz de Instrução que descobre
factos novos e constituem uma alteração substancial suspende a instância, envia para trás e
fica a aguardar que o MP incorpore os novos factos.
Esta solução foi muito criticada por muitos autores pois a suspensão da instância, em
princípio, é uma figura em que o processo fica parado e aqui, em rigor, não fica parado e,
depois, este regime também se esquece que a relação entre o Juiz de Instrução e o MP não é
hierárquica pois o Juiz não manda no MP.
Novo processo
De seguida, o Dr. Souto de Moura criticou e arrasou a tese do Dr. Frederico Isasca
defendendo que a solução tem de passar pelo arquivamento do processo com decisão formal
através do regime da absolvição da instância do artigo 288.º do CPC porque faltam
pressupostos processuais e a absolvição da instância não impede a abertura de um novo
processo porque não faz caso julgado material sendo uma decisão estritamente formal.
Esta solução teve bastante sucesso e tornou-se a Jurisprudência dominante.
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Continuação do processo
Existia uma terceira posição que era da Professora Teresa Pizarro Beleza e do Regente
que, talvez, seja a posição mais impopular em que a resposta compatível com a estrutura
acusatória do processo penal, no qual a função do Juiz de Instrução é materialmente judicial (e
não materialmente policial ou de averiguações), era a última das três: nada a fazer quando
ocorresse, na fase de instrução (por maioria de razão, o mesmo valia na fase de julgamento),
ou seja, segundo a estrutura acusatória do processo e o Princípio da vinculação temática cabia
à averiguação descobrir esses factos e integrá-los no despacho de acusação ou o assistente na
abertura de instrução e, se não o fizeram, precludiu essa hipótese não podendo o Juiz fazer
esse trabalho mesmo que descubra e, por outro lado, isto não é assim tao grave porque só
acontece nos casos relativamente a quantidade de pena e não à punição em si porque, pr
exemplo, se não se julgar um indivíduo por ter matado o pai, ainda assim vai ser julgado por
ter matado uma pessoa estando em causa a quantidade de pena, portanto, são circunstâncias
modificativas agravantes especiais nominadas em que não é um sacrifício total da verdade
material, mas sim uma ponderação equilibrada entre princípios e os exemplos-padrão
referidos a uma cláusula agravante determinada (artigo 132.º do CP) nunca teriam, por
definição, a relevância suficiente para sustentar sozinhos um objeto de processo à parte.
O problema da alteração substancial de factos já não se punha quanto ao
conhecimento das circunstâncias modificativas agravantes comuns nominadas (a reincidência,
artigo 75.º e 76.º do CP) porque, embora não se tenha optado entre nós pelo sistema da
césure, o CPP confere autonomia às operações de determinação da sanção no contexto da
deliberação e votação da decisão, sem, contudo, constituir com elas uma particular fase do
julgamento, sendo só nessa altura que se deverá dar relevo ao conhecimento dos
antecedentes criminais do arguido (e, portanto, à efetiva consideração da reincidência), nos
termos do artigo 369.º do CPP.
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não autonomizáveis e no n.º 4 os factos novos autonomizáveis, já no artigo 359.º, n.º 1 do CPP
temos os factos novos não autonomizáveis e no n.º 2 os factos novos autonomizáveis.
Problemas de interpretação
Para o Regente, o regime da alteração substancial de factos tem de respeitar a
estrutura acusatória do processo penal e a revisão de 2007 do CPP contribuiu para tornar isso
claro, ao afastar explicitamente as soluções Doutrinárias e Jurisprudenciais que punham isso
em causa. O fragmento textual “nem implica a extinção da instância” tem de ser interpretado
no sentido de que a Lei afasta agora qualquer decisão meramente formal de extinção da
instância, designadamente a solução da absolvição da instância. A Lei consagra agora a solução
do prosseguimento da instrução ou do julgamento, com sacrifício dos factos novos não
autonomizáveis.
Todavia não é a posição dominante na Doutrina, mesmo os autores que não
concordam com esta solução entendem que o legislador afastou as teorias de regresso ao
inquérito ou de absolvição da instância e preferiu a ideia de que o processo se mantém
limitada aqueles factos.
Tribunal Constitucional
O Acórdão do TC n.º 226/2008, de 21 de abril de 2008 (Vítor Gomes), concluiu «pela
não inconstitucionalidade da norma do artigo 359.º do Código de Processo Penal, na redação
resultante da Lei n.º 48/2007, de 29 de agosto, interpretada no sentido de, perante uma
alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia, resultante de factos
novos que não sejam autonomizáveis em relação ao objeto do processo – opondo-se o arguido
à continuação do julgamento pelos novos factos –, o tribunal não pode proferir decisão de
extinção da instância em curso e determinar a comunicação ao Ministério Público para que
este proceda pela totalidade dos factos».
Para o Regente a solução que se chegou não é a ideal, mas é razoável e foi considerada
conforme à CRP pelo TC.
Problemas difíceis
Existe um problema que não foi resolvido pela reforma de 2007 nem em nenhuma das
reformas posteriores que são os crimes alternativos (crimes cujos tipos legais têm elementos
comuns, mas têm um ou vários elementos distintos) como, por exemplo, o arguido é acusado
de furto e descobre-se na Instrução (artigo 303.º do CPP) ou no Julgamento (artigo 359.º do
CPP) que não podia ter subtraído a coisa porque a mesma já antes lhe tinha sido entregue,
embora depois se tivesse apropriado dela, portanto, existiu uma apropriação e não uma
subtração. A questão é que a ação típica faz parte dos elementos sujeitos a prova e se tivermos
numa situação destas e se partirmos do princípio que todos os elementos do tipo têm de ser
provados, o Juiz não pode substituir a subtração pela apropriação e não provado um elemento
tem de decidir em conformidade absolvendo do furto o que significa que se pode formular
uma decisão definitiva que transite em julgado o que significa que aplicar o regime legal da
alteração não substancial de factos não autonomizáveis aos crimes alternativos implica um
sacrifício total da verdade material.
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Crimes alternativos
Na falta de solução legal expressa para o problema da alteração substancial de factos
que implique a subsunção dos factos num tipo de crime alternativo por comparação com o
objeto do processo em curso, a verdade é que o problema não deixará de se pôr na prática.
Critério de decisão
Para o Regente existe aqui um problema que carece de solução e não pode esperar
por uma reforma legislativa para ser resolvido e propõe que, no mínimo, deve exigir-se que a
imputação alternativa conste já do despacho de acusação ou do despacho de pronúncia sendo
uma solução menos má e muito discutível.
Escutas
O regime está regulado no artigo 187.º e 188.º do CPP 6 e segue depois um modelo
paradigma porque é estendido a outros meios por via do artigo 189.º do CPP, portanto, o
regime das escutas telefónicas é, simultaneamente, um regime paradigmático para outros
métodos similares.
Trata-se de um método oculto na medida em que é realizado com o
desconhecimento/ignorância do visado e, sendo oculto, é mais evasivo dos Direitos
fundamentais (Diretos materiais) pois, por exemplo, a CRP estabelece no artigo 34.º da CRP
inviolabilidade do domicílio e da correspondência e de outros meios de comunicação, ou seja,
estabelece como Direito fundamental o Direito à palavra, autodeterminação comunicacional,
integridade e inviolabilidade dos sistemas comunicacionais e tem maior probabilidade de lesar
nemo tenetur se ipsum accusare, garantias de defesa, contraditório.
Origem
Na República Alemã nasce a regulamentação ao abrigo do «estado de necessidade
constitucional» como prevenção face às intrusões, nomeadamente, por via dos países do Leste
sendo necessário escutas telefónicas devido à diversidade e complexidade de certa
6
Há quem defenda que o artigo 190.º do CPP só se aplica a falhas menos graves relativamente
aos requisitos do artigo 187.º e 188.º do CPP.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Direito comparado
O regime alemão é bastante mais extenso que o nosso e no Brasil existe um regime
que é uma espécie de uma mistura do regime alemão com o português. Em Portugal temos o
regime do artigo 187.º do CPP a 188.º do CPP distinguido pelo artigo 189.º do CPP.
Portugal
O artigo 187.º do CPP diz-nos os pressupostos de substância e o artigo 188.º do CPP
encontram-se os pressupostos de formalidade e poderá ser útil por causa das respetivas
violações atenderem a diferentes tipos de nulidades.
O artigo 187.º, n.º 1 do CPP diz-nos que só podem ser realizadas escutas telefónicas
para investigação de crimes catálogo, ou seja, não podem existir escutas telefónicas fora do
objeto definido por esse catálogo. Tem o âmbito subjetivo, ou seja, quem pode ser visado
pelas escutas telefónicas que se encontram no n.º 4. O âmbito temporal encontra-se definido
no n.º 6 (três meses renovável). Quanto ao âmbito funcional, as escutas telefónicas apenas
podem ser utilizadas na fase de inquérito, conforme o n.º 1 e, de acordo com o cumprimento
do Princípio da judicialidade (por despacho fundamentado do Juiz de Instrução e mediante
requerimento do Ministério Público) e da proporcionalidade
(indispensabilidade/impossibilidade de recurso a outros meios menos evasivos, assim, o Juiz
deve demonstrar porque é que a escuta telefónica é necessária (inexistência de outros meios),
adequada (ponderação com correspondência entre meio e fim) e proporcional stricto senso
(demonstração de que é o único possível) não podendo ser requerido outro meio não oculto
como, por exemplo, buscas ou oculto menos evasivo como, por exemplo, vigilância pontual),
assim, as escutas telefónicas não são o meio normal de investigação.
O artigo 188.º do CPP tem uma tramitação criticada por alguns autores por ser
demasiado excessiva e detalhada que acaba por ser um manual de procedimentos para os OPC
e não um artigo verdadeiro do CPP, mas o legislador pretendeu acautelar e, por isso,
consagrou um conjunto de procedimentos que são simultaneamente garantias, assim, o artigo
188.º do CPP consagra a forma de se realizar uma escuta telefónica em que o Juiz autoriza, ao
abrigo do artigo 187.º do CPP, e o OPC concretiza a realização dessa escuta telefónica:
1. OPC lavra o auto e elabora relatório no qual indica as passagens relevantes para a
prova, etc.;
2. ...
3. De 15 em 15 dias apresenta ao MP a transcrição do que lhe pareceu mais relevante;
4. O MP leva ao conhecimento do juiz... no prazo máximo de quarenta e oito horas para
que este valide a transcrição das escutas relevantes, ou seja, não há um automatismo
entre o OPC e MP acompanhamento judicial efetivo;
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Direito Processual Penal 2022/2023
5. ...
6. Sem prejuízo do disposto no n.º 7 do artigo anterior, o juiz determina a destruição
imediata dos suportes técnicos e relatórios manifestamente estranhos ao processo;
7. ...
8. ...
9. Só podem valer como prova as conversações ou comunicações que ...
10. O tribunal pode proceder à audição das gravações ...
11. As pessoas cujas conversações ou comunicações... podem examinar...
12. Os suportes técnicos referentes a conversações ou comunicações... são guardados em
envelope lacrado... e destruídos após o trânsito em julgado da decisão que puser
termo ao processo.
13. Após o trânsito em julgado..., os suportes técnicos que não forem destruídos são
guardados em envelope lacrado, junto ao processo, e só podem ser utilizados em caso
de interposição de recurso extraordinário.
Revisão de 2007
Esta revisão trouxe algumas criticas devido ao artigo 188.º do CPP ser considerado um
manual e não uma norma do CPP, mas na verdade é uma garantia dos visados da escuta
telefónica e, nos termos do Acórdão do STJ 3/2017 de fixação de jurisprudência afirma que
nada pode ser destruído até ao termo dos prazos referidos no n.º 8 do artigo 188.º do CPP
(prazo do RAI ou da Contestação) pois o arguido pode, querendo, ter acesso ao conteúdo
integral das escutas para ponderar utilizar para a demonstração da sua inocência.
Princípio da subsidiariedade
Há quem defende que este Princípio já decorre da proporcionalidade e o Professor
considera que tem um conteúdo autónomo, ou seja, está para além da própria
proporcionalidade. A subsidiariedade é a tal demonstração de que, por um lado, não é possível
realizar outros métodos menos evasivos do que a escuta telefónica e, por outro lado, proibir-
se a cumulação de métodos ocultos de maneira que isso gere uma vigilância total, isto é, a
subsidiariedade impõe que haja limites de cumulação de métodos abertos ou ocultos pois tem
de haver um espaço mínimo reservado à dignidade da pessoa humana, assim, por exemplo,
encobertos, escutas telefónicas e escutas ambientais é uma mistura excessiva tendo de se
optar por algum.
71
Direito Processual Penal 2022/2023
Que seja um dos visados do âmbito subjetivo nos termos do artigo 187.º, n.º 4 do CPP;
Que se demonstre a indispensabilidade (artigo 187.º, n.º 7 do CPP = artigo 187.º, n.º 1
do CPP);
Validação pela autoridade judiciária, ou seja, é necessário que no processo de origem
o MP solicite extração de certidão e no processo de destina seja validada essa escuta.
O artigo 187.º, n.º 7 do CPP afirma que já pode valer como notícia de infração, isto é,
poderá ser aberto um inquérito, mas como o crime de furto simples depende de queixa é
válido que a extração da certidão sirva como denúncia aguardando que o titular apresente
queixa para ser aberto o processo crime.
Proibição de provas
A não verificação dos requisitos de substância gera a proibição de prova, isto é, uma
escuta telefónica ilegal por violação do artigo 187.º do CPP (violação de substância) gera uma
proibição de prova nos termos do artigo 126.º, n.º 3 do CPP.
Os métodos absolutamente proibidos não admitem nenhuma ponderação nem com
consentimento nem com permissão legal, por exemplo, mesmo que a Lei dissesse que a
tortura era válida, esse método é sempre proibido (artigo 126.º, n.º 1 e 2 do CPP).
Os métodos relativamente proibidos só são proibidos se não cumprirem um regime
legalmente previsto ou se não houver consentimento do visado, por exemplo, uma escuta
telefónica viola o artigo 34.º da CRP quando não é respeitado o regime legal do artigo 187.º do
CPP.
O artigo 188.º do CPP como é um artigo procedimental gera uma nulidade dependente
de arguição (artigo 120.º do CPP).
Sendo prova proibida por desrespeito a uma condição de substância gera uma
proibição de prova seja um método absolutamente proibido ou relativamente proibido.
A proibição de prova consiste em:
Proibição de produção: não devem ser obtidas, isto é, o OPC não o devia fazer;
Proibição de valoração: não devem ser utilizadas para a condenação do visado;
Não devem ser repetidas;
Devem ser desentranhadas, ou seja, são retiradas do processo e colocadas num
envelope à parte ficando como apenso ao processo lacrado porque pode o arguido
futuramente vir a considerar que aquela escuta que era proibida é o único meio de
prova que poderá provar a sua inocência;
Têm efeito-à-distância;
Permanecem além do transito em julgado e são fundamento do recurso extraordinário
de revisão (artigo 449.º, n.º 1, alínea e) do CPP);
Tem a característica única de nunca se sanar nem com o transito em julgado, ao
contrário das nulidades insanáveis do artigo 119.º do CPP que na realidade se sanam
como transito em julgado;
Só têm um efeito que é servir de prova contra os autores da prova ilícita.
Efeito à distância
É tão proibido a escuta como aquilo a partir da qual se obteve essa mesma escuta, por
exemplo, se a escuta diz onde se encontra o cadáver e se esta for ilegal, as perícias feitas ao
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Direito Processual Penal 2022/2023
cadáver não podem ser consideradas porque a nulidade das escutas contamina as provas
subsequentes desde que exista uma relação cronológica, lógica e valorativa.
Questões
1. A busca domiciliária seria legítima para pesquisar e apreender dados informáticos e
e-mails?
A busca domiciliária vem prevista no artigo 177.º do CPP e tem uma proteção
constitucional no artigo 34.º, n.º 1 da CRP em que se prevê que há uma inviolabilidade do
domicílio e, portanto, só pode ser ordenada ou autorizada pelo Juiz nos termos do artigo 34.º,
n.º 2 da CRP, do artigo 174.º, n.º 3 (o artigo 174.º do CPP é o regime geral para todas as
buscas); 177.º, n.º 1 e 269.º, n.º 1, alínea c) e 2 do CPP.
Para que a busca seja ordenada ou autorizada, é necessário, de acordo com o n.º 2 do
artigo 174.º do CPP, que haja indícios de que objetos relacionados com um crime ou que
possam servir de prova, ou o arguido ou outra pessoa que deva ser detida, se encontram em
lugar reservado ou não livremente acessível ao público.
O despacho judicial de autorização deve delimitar concretamente a finalidade daquela
busca, o que se pretende com a busca, que objetos é que se espera que sejam apreendidos
para impedir que seja dada uma carta branca ao MP que poderia gerar fishing expeditions, em
função da promoção do MP.
O juízo a efetuar pelo Juiz de Instrução exige uma fundamentação relevante, sustentada
em indícios, não sendo necessário que os mesmos atinjam o grau de indícios suficientes (pois
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Direito Processual Penal 2022/2023
se fossem indícios suficientes o MP já poderia acusar), mas também não podendo ser simples
suspeitas.
As proibições de prova decorrem do artigo 32.º, n.º 8 da CRP que estabelece as
garantias do processo criminal e este artigo determina que «[s]ão nulas todas as provas
obtidas mediante [...] abusiva intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência
ou nas telecomunicações” e, por sua vez, o artigo 126.º, n.º 3 do CPP comina que «nulas, não
podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no domicílio,
na correspondência ou nas telecomunicações sem o consentimento do respetivo titular»,
portanto, se entrarmos numa habitação sem despacho de autorização para que se possa
proceder à busca e apreensão de determinados objetos que se considerem estar relacionados
com o crime, as provas obtidas estão sujeitas ao regime das proibições de prova.
Quanto aos requisitos da busca domiciliária só pode ser efetuada entre as 7 e as 21
horas, sob pena de nulidade (artigo 177.º, n.º 1 do CPP), contudo, nem todas as nulidades têm
o mesmo regime pois as nulidades processuais são diferentes das proibições de prova o que
significa que se pode ter no mesmo artigo previsão sob pena de nulidade e essa nulidade não
ser sempre a mesma dependendo do regime aplicável (nulidade processuais e proibições de
prova) e uma das bases legais que permite identificar que as nulidades processuais e as
proibições de prova têm um regime diferente é o artigo 118.º, n.º 3 do CPP cabendo ao
interprete perceber quando a Lei diz sob pena de nulidade se é uma nulidade processual em
que se aplica o regime do artigo 118.º e seguintes do CPP ou se estamos perante uma
verdadeira proibição de prova que tem um regime diferente que emana do artigo 32.º, n.º 8
da CRP.
Relativamente a formalidades antes de se proceder a busca, é entregue, salvo nos
casos do n.º 5 do artigo 174.º do CPP, a quem tiver a disponibilidade do lugar em que a
diligência se realiza, cópia do despacho que a determinou, na qual se faz menção de que pode
assistir à diligência e fazer-se acompanhar ou substituir por pessoa da sua confiança e que se
apresente sem delonga (artigo 176.º, n.º 1 CPP).
Quando se realiza uma busca é com vista a proceder a uma apreensão e os órgãos de
polícia criminal podem efetuar apreensões no decurso de buscas (artigo 178.º, n.º 4 do CPP).
Assim, não é ilegítimo, nem invulgar que uma diligência de busca domiciliária sirva
também para a pesquisa e apreensão de dados informáticos e mensagens de correio
eletrónico desde que sejam respeitados todos os requisitos.
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Direito Processual Penal 2022/2023
1. Com exceção do disposto nos artigos 18.º e 19.º, as disposições processuais previstas
no presente capítulo aplicam-se a processos relativos a crimes:
a) Previstos na presente lei;
b) Cometidos por meio de um sistema informático (vale para qualquer crime
como, por exemplo, crime de homicídio através de acesso informático); ou
c) Em relação aos quais seja necessário proceder à recolha de prova em suporte
eletrónico (é a alínea mais utilizada).
2. As disposições processuais previstas no presente capítulo não prejudicam o regime
da Lei n.º 32/2008, de 17 de julho.
A autoridade judiciária (artigo 1.º, alínea b) do CPP – Juiz de Instrução enquanto Juiz das
liberdades e garantias ou MP enquanto titular do inquérito penal) é competente para autorizar
ou ordenar por despacho que se proceda a uma pesquisa de dados informáticos num
determinado sistema informático, devendo, sempre que possível, presidir à diligência (artigo
15.º, n.º 1 da Lei n.º 109/2009 que versa sobre a pesquisa de dados informáticos e o artigo
16.º da Lei n.º 109/2009 que versa sobre a apreensão de dados informáticos e o artigo 17.º da
Lei n.º 109/2009 sobre a apreensão de mensagens de correio eletrónico e registos de
comunicações de natureza semelhante). O Regente entende que numa busca domiciliária a
realizar no âmbito de um inquérito penal, deve ser o juiz de instrução a autorizar a pesquisa de
dados informáticos, que tem de ser promovida pelo Ministério Público, na qualidade de titular
do inquérito penal e o Juiz de Instrução deve, sempre que possível, presidir à diligência porque
entende que se para a busca domiciliária é necessário um despacho do Juiz de Instrução, então
para se pesquisar dados informáticos que estão alojados em algum sistema informático que
está, por sua vez, contido nessa casa ou dependência da casa, numa interpretação conjugada
dos preceitos deve ser o Juiz de Instrução a autorizar ou ordenar a diligência.
Quanto ao despacho de autorização, a pesquisa de dados informáticos pode ocorrer no
quadro de uma busca domiciliária e se a pesquisa de dados informáticos não constar do
despacho de autorização da busca domiciliária, pode ser emitido um despacho complementar.
Quando, no decurso de uma pesquisa informática forem encontrados dados ou
documentos informáticos necessários à produção de prova, tendo em vista a descoberta da
verdade, a autoridade judiciária competente autoriza ou ordena por despacho a apreensão
dos mesmos (artigo 16.º, n.º 1 da Lei n.º 109/2009) e no âmbito de uma busca domiciliária a
realizar no âmbito de um inquérito penal, deve ser o Juiz de Instrução a autorizar a apreensão
de dados informáticos, que tem de ser promovida pelo Ministério Público, na qualidade de
titular do inquérito penal seguindo a mesma linha de raciocínio da pesquisa, mas o órgão de
polícia criminal pode efetuar apreensões, sem prévia autorização da autoridade judiciária, no
decurso de pesquisa informática legitimamente ordenada e executada nos termos do artigo
anterior, bem como quando haja urgência ou perigo na demora (artigo 16.º, n.º 2 da Lei n.º
109/2009).
Caso sejam apreendidos dados ou documentos informáticos cujo conteúdo seja suscetível
de revelar dados pessoais ou íntimos, que possam pôr em causa a privacidade do respetivo
titular ou de terceiro, sob pena de nulidade esses dados ou documentos são apresentados ao
Juiz, que ponderará a sua junção aos autos tendo em conta os interesses do caso concreto
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Direito Processual Penal 2022/2023
(artigo 16.º, n.º 3 da Lei n.º 109/2009) sendo esses dados ou documentos apresentados ao Juiz
encapsulados.
Esta ideia de proteção dos dados pessoas e íntimos assenta no artigo 8.º da CEDH e no
artigo 26.º da CRP.
No caso em apreço, podiam ser pesquisados e apreendidos dados informáticos se o Juiz de
instrução assim o tivesse autorizado no âmbito da diligência de busca domiciliária, a que, em
princípio, deveria ter presidido. Se a pesquisa de dados informáticos não constasse do
despacho de autorização da busca domiciliária, podia ser emitido um despacho judicial
complementar. Se o juiz de instrução presidisse à diligência, como deveria ter acontecido, a
apreensão cautelar pelo órgão de polícia criminal ainda assim poderia fazer sentido,
dependendo das condições concretas de realização da busca domiciliária.
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Direito Processual Penal 2022/2023
O legislador tentou alterar a redação do artigo 17.º do CPP e aproximá-la ao artigo 16.º,
designadamente, de poder ser a autoridade judiciária competente a autorizar ou ordenar, por
despacho, a apreensão de mensagens de correio eletrónico contrariamente ao estipulado no
artigo 17.º que dispõe que é o Juiz. O TC no Acórdão 687/2021 pronunciou-se pela
inconstitucionalidade destas normas e entendeu que não poderia ser o MP a autoridade
judiciária competente para proceder à apreensão das mensagens de correio eletrónico
argumentando que:
1. A Lei do Cibercrime versa sobre quaisquer crimes (não se circunscrevendo à
investigação de práticas criminosas de especial gravidade);
2. O sistema informático objeto da pesquisa pode vir a revelar-se bastante alargado,
considerando que poderá versar também sobre “outro [sistema informático] a que
seja permitido o acesso legítimo a partir do primeiro”;
3. Acedem-se a dados de tráfego que extravasam os dados de conteúdo;
4. Para além de existir uma ingerência nas comunicações, é possibilitado o conhecimento
de uma serie de dados pessoais; e
5. Estamos perante uma matéria com um grau significativo de indeterminabilidade, uma
vez que nos encontramos num contexto de permanente evolução tecnológica;
6. A intervenção do Juiz de Instrução, enquanto juiz das garantias, justifica-se uma vez
que o seu escrutínio constitui uma “garantia adicional de ponderação dos direitos e
liberdades atingidos no decurso de uma investigação criminal”.
Nos termos do artigo 17.º da Lei do Cibercrime, só o Juiz pode autorizar ou ordenar, por
despacho, a apreensão de e-mails que se afigurem ser de grande interesse para a descoberta
da verdade ou para a prova, aplicando-se correspondentemente o regime da apreensão de
correspondência previsto no Código de Processo Penal.
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Direito Processual Penal 2022/2023
fazer uma diferenciação da forma como a pesquisa é efetuada porque se for efetuada através
de key words consegue-se apreender em bloco aquelas mensagens e enviar ao Juiz de
Instrução, se não já não será possível pois a apreensão será realizada consoante se vai vendo.
Uma questão muito debatida na Doutrina e Jurisprudência é saber se faz sentido haver
uma diferenciação entre mensagens de correio eletrónico abertas e fechadas porque o artigo
179.º do CPP só se aplica às cartas fechadas e a Doutrina entende que só é correspondência,
para efeitos deste artigo, as cartas que estejam fechadas sendo uma carta aberta tratada como
documento (artigo 178.º do CPP) e o TRL já proferiu Acórdãos em sentido contrário,
ultimamente tinha vinda a proferir uma Jurisprudência razoável no sentido de dizer que não
faz sentido a distinção e, há pouco tempo, proferiu um Acórdão em que distingue mensagens
de correio eletrónico abertas e fechadas «O artigo 17.º da Lei do Cibercrime não faz qualquer
distinção entre mensagens de correio eletrónico abertas e não abertas»; «O aberto ou não
aberto ou, mais corretamente, lido ou não lido, não é uma qualquer forma de proteção do
conteúdo da mensagem, contrariamente ao que sucede com os envelopes no correio
corpóreo»; «“a questão apenas se pode colocar relativamente a mensagens que estão nos
servidores dos ISP, não as já ́ descarregadas para os sistemas informáticos dos seus
destinatários. Isto porque a CCiber apenas distingue entre dados informáticos em trânsito (a
recolher em tempo real – artigos 20.º e 21.º) e dados informáticos armazenados (artigo 19.º)»
e, para Rogério Bravo, «[A mensagem de correio electrónico] por natureza, não é fechada, não
é envelopável, não é unívoca quanto ao número de destinatários e não circula em ambiente
seguro [...]. E, sobretudo, é, no seu estado natural imaterial». Para o Procurador Rui Cardoso
«o artigo 17.º determina a correspondente aplicação do regime de apreensão de
correspondência do CPP, não a aplicação integral. Esta só deve ser feita naquilo que não
contrariar o já previsto na própria LCC; a remissão para o CPP não pode sobrepor-se ao regime
especial de prova eletrónica previsto na LCC», assim «Se fosse intenção do legislador aplicar
integralmente o regime de apreensão da correspondência do CPP, bastar-lhe-ia ter dito que “à
apreensão de mensagens de correio eletrónico ou registos de comunicações de natureza
semelhante é aplicável o regime de apreensão de correspondência previsto no CPP”. Não o
fez. Porquê selecionar e repetir no artigo 17.º da LCC apenas um dos requisitos já previstos no
artigo 179.º do CPP (grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova)? Nessa
interpretação, seria redundante», assim, «durante o inquérito, o Ministério Público, depois de
tomar conhecimento do seu conteúdo, deve apresentar ao juiz suporte com as mensagens de
correio eletrónico ou semelhantes cautelarmente apreendidas (ou melhor, os dados
informáticos que as constituem), juntamente com requerimento fundamentado para
apreensão daquelas que considere de grande interesse para a descoberta da verdade ou para
a prova, após o que o juiz apreciará, tomando conhecimento do seu conteúdo, e decidirá
autorizar ou não autorizar a apreensão formal», «[n]o inquérito, o Juiz de instrução autoriza a
apreensão, mas é o Ministério Público que a ela procederá (ou, por regra, determinará OPC a
fazê-lo). Note-se que a apreensão poderá não ser de tudo o requerido pelo Ministério Público
e assim haverá necessidade de proceder à apreensão apenas daquilo que for autorizado
através da forma prevista no artigo 16.º, n.º 7, alínea b) (realização de uma cópia só com esses
dados), para que será necessário conhecimentos técnicos e ferramentas informáticas que os
magistrados dificilmente possuirão», portanto, na opinião do Procurador, o Juiz de instrução
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Direito Processual Penal 2022/2023
não tem de ser o primeiro a tomar conhecimento das mensagens sendo o MP que deve fazer
essa triagem.
Na Jurisprudência estão publicadas algumas decisões sobre esta matéria e no Acórdão do
TRL de 06.02.2018, processo 1950/17.0 T9LSB-A.L1-5 (Relator: João Carrola) considerou-se que
«a LCC remete expressamente para o regime geral previsto no CPP, sem redução do seu
âmbito, antes se impondo a sua aplicação na sua totalidade, pelo que, sob pena de nulidade,
se exige que seja o juiz de instrução o primeiro a tomar conhecimento do conteúdo das
comunicações», assim, neste Acórdão entendeu-se que não poderia ser o MP a tomar
conhecimento em primeiro lugar tendo de ser, obrigatoriamente, o Juiz de Instrução. Em
sentido contrário existe o Acórdão do TRG de 29.03.2011, processo 735/10.0GAPTL- A.G1
(Relatora: Maria José́ Nogueira), em que se considerou ser de aplicar à apreensão de uma SMS
o disposto no artigo 17.º da LCC, mas podendo o Ministério Público aceder ao seu conteúdo
antes da decisão de apreensão [formal] do juiz de instrução.
Concluindo, para o Regente, o Ministério Público, depois de tomar conhecimento do seu
conteúdo, deve apresentar ao Juiz suporte com as mensagens de correio eletrónico ou
semelhantes cautelarmente apreendidas (ou melhor, os dados informáticos que as
constituem), juntamente com requerimento fundamentado para apreensão daquelas que
considere de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova, após o que o Juiz
apreciará, tomando conhecimento do seu conteúdo, e decidirá autorizar ou não autorizar a
apreensão formal.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Proibições de prova
Prova ilícita
A atividade probatória no Processo Penal não poder exercida a qualquer preço,
designadamente, respeitando as garantias de defesa e violando Direitos fundamentais dos
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Direito Processual Penal 2022/2023
visados, mas ainda se discute qual é a justificação para a existência de limitações à atividade
probatória e se forem violadas essas limitações quais são os “remédios”.
As diferenças estruturais entre os modelos de processo penal de cunho inquisitivo
(europeu continental) e adversarial (anglo-americano), especialmente em relação ao conceito
de verdade (verdade material ligada aos poderes autónomos de investigação do Juiz ou
verdade formal dependente da iniciativa probatória das partes), fazem com que seja mais fácil
de impor uma regra de exclusão probatória nos sistemas adversariais do que nos sistemas de
cunho inquisitivo.
Prova irregular
A prova é irregular quando forem ignoradas normas que regulam o procedimento para
a sua obtenção ou produção, mas sem chegar a afetar direitos fundamentais e trata-se de
hipóteses em que as evidências assim obtidas ou produzidas podem ser declaradas nulas ou
convalidadas, nos termos das nulidades processuais do artigo 118.º e seguintes do CPP. Em
princípio, seguem o regime das nulidades dependentes de arguição, nos termos do artigo
120.º do CPP.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Prova ilícita
A prova é ilícita naqueles casos em que a sua obtenção ou produção se tornou possível
através da violação de valores ou Direitos fundamentais consagrados nas Constituições
políticas dos Estados de Direito.
EUA
Nos EUA esta matéria começa por ter sede constitucional, designadamente, nas
adendas a Constituição como a 4.ª emenda que trata das buscas e apreensões. A
Jurisprudência vinculativa norte-americana (case law) começou por afirmar que as provas
ilícitas devem ser excluídas (exclusionary rule) como forma de disciplinar a atividade dos
agentes de investigação criminal perante o risco de violação de direitos fundamentais dos
cidadãos, especialmente os previstos na 4.ª Emenda à Constituição Norte-Americana (Bill of
Rights).
Esta regra surgiu na Jurisprudência norte-americana por finalidades de disciplina, ou
seja, para controlar as polícias e os Procuradores de Justiça (equivalente ao nosso MP) com o
objetivo de referir que não vale tudo para obterem provas e se fizerem as coisas com violação
da 4.ª emenda as provas obtidas têm de ser excluídas.
A 4.ª Emenda proíbe as buscas e apreensões sem que haja motivo razoável e mandado
judicial baseado em causa provável, suportado por informações fundamentadas transmitidas
ao Tribunal emissor, geralmente por um agente da justiça. O Supremo Tribunal dos EUA
(Supreme Court of the United States) adotou, pela primeira vez, a regra de exclusão relativa a
buscas e apreensões ilegais (search and seizure exclusionary rule) no caso Weeks v. United
States (1914) e tornou-a aplicável não apenas ao nível federal, mas também ao nível estadual
no caso Mapp v. Ohio (1961).
Alemanha
Na Alemanha esta matéria não se chama regra de exclusão probatória, mas sim
proibição de prova e vem regulado nos §136 e 136ª do CPP alemão, embora não venha
regulada genericamente, mas apenas por causa dos interrogatórios. A Lei processual penal
alemã estabelece regras para o interrogatório de indiciados, nos termos do § 136 e, em
comparação com o UK Police and Criminal Evidence Act (PACE) 1984 ou com os precedentes
vinculativos dos tribunais dos EUA, a StPO alemã tem um sistema menos detalhado quando se
trata de disciplinar o poder de investigação da polícia, a salvaguarda das garantias processuais
do visado em cada etapa da investigação e as sanções contra a má conduta policial.
O §136A StPO proíbe técnicas de interrogatório agressivas e extrai as devidas
consequências para a valoração das evidências porventura recolhidas dessa forma.
A expressão proibições de prova (Beweisverbote) foi inventada por Beling, que a
utilizou pela primeira vez numa conferência inaugural proferida no ano de 1902, em Tübingen.
Beling pretendia através dessa designação referir que existem limitações à descoberta da
verdade material no processo penal que o Estado se impõe a si mesmo, em parte como forma
de respeitar a esfera da personalidade do cidadão investigado, noutra parte também como
forma de preservar certos interesses públicos. Atualmente, a doutrina alemã subdivide
atualmente as proibições de prova em proibições de produção de prova
(Beweiserhebungsverbote) e proibições de valoração de prova (Beweisverwertungsverbote) e
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Direito Processual Penal 2022/2023
impõe um princípio de independência entre as duas espécies de proibições o que significa que
nem sempre uma proibição de produção gera uma proibição de valoração e podem existir
proibições de valoração que não tenham na sua origem nenhum vício na obtenção da prova.
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Direito Processual Penal 2022/2023
Jurisprudência do TEDH
O TEDH, sobre esta matéria, segue a CEDH e a interpretação que faz da Convenção à
luz dos Direitos dos 46 Estados-membros tendo, pelo menos, três artigos muito importantes
nesta matéria: o artigo 6.º da CEDH (Direito a um processo equitativo – a questão a fazer a
este propósito é se a prova obtida em violação dos Direitos fundamentais quer por entidades
públicas, que por particulares compromete o Princípio do processo equitativo e, se a resposta
for afirmativa, quais são as consequências); artigo 3.º da CEDH (Proibição da tortura – a
proibição da tortura e dos maus-tratos é considerada pelo TEDH uma proibição absoluta cuja
violação ofende também o princípio do processo equitativo estabelecido pelo artigo 6.º da
CEDH e implica a proibição de valoração de evidências obtidas por esse modo, assim,
provavelmente o Estado condenado seria obrigado a reabrir o processo para decidir excluindo
toda a prova (direta e sequencial) que resultasse da utilização desses meios) e artigo 8.º da
CEDH (Direito ao respeito pela vida privada e familiar – esta ingerência é proibida salvo quando
estiver prevista na Lei e constituir uma providência que, numa sociedade democrática, seja
necessária para a segurança nacional, para a segurança pública, para o bem-estar económico
do país, a defesa da ordem e a prevenção das infrações penais, a proteção da saúde ou da
moral, ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros, portanto, o TEDH exige uma
norma habilitante nas ordens jurídicas internas. No tocante à violação do artigo 8.º da
Convenção, a Jurisprudência do TEDH, valendo-se de um raciocínio de ponderação de
interesses, acaba não extraindo consequências dessa violação para o funcionamento do
processo equitativo como um todo, à luz do artigo 6.º da Convenção, desde que ao acusado,
no caso concreto, tenham sido dadas oportunidades de contestar a prova em questão, tenham
sido respeitados os seus outros direitos de defesa e não haja dúvidas sobre a fiabilidade da
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prova – o que é, genericamente, o caso para as provas obtidas em violação do artigo 8.º da
Convenção, ou seja, se a prova for obtida através de uma busca ilegal o TEDH não diz que ela
tem de ser desentranhada e que todas as provas dela derivada não possam ser utilizadas, o
TEDH questiona se, apesar disso, o acusado teve oportunidade de se pronunciar sobre aquela
prova (garantias de controlo da veracidade da prova obtida). Sendo assim, a Jurisprudência do
TEDH parece não fornecer quaisquer regras de exclusão da prova, as quais, enquanto critérios
operativos a nível nacional, possam constituir remédios efetivos contra a utilização de provas
obtidas em violação do artigo 8.º da Convenção).
Portugal
A prova aqui é utilizada apenas em dois sentidos: como métodos de obtenção de prova
e como meios de prova.
Os métodos de prova são os procedimentos usados pelas autoridades judiciárias e
pelas polícias criminais para a aquisição de evidências ou meios de prova com vista à sua
utilização no processo penal tendo o artigo 126.º da CPP como epígrafe os métodos proibidos
de prova (não inclui só o interrogatório pois é um artigo mais geral). No caso do artigo 126.º,
n.º 1 e 2 do CPP vigora uma proibição absoluta de obtenção de provas através dos meios ali
indicados, ainda que sejam obtidas a coberto do consentimento do titular dos direitos em
causa, já no n.º 3 do mesmo artigo a proibição é afastada pelo acordo do titular dos direitos
em causa, ou então é removida mediante as ordens ou autorizações emanadas de certas
autoridades, nos termos da Lei. Assim sendo, a busca domiciliária (artigo 177.º do CPP), a
apreensão de correspondência (artigo 179.º do CPP), a apreensão de documentos em
escritório de advogado ou consultório médico (artigo 180.º do CPP) e as escutas telefónicas
(artigo 187.º do CPP) ou equiparadas (artigo 189.º do CPP) são permitidas nas condições
expressamente previstas na Lei (proibições relativas), ou seja, existe uma norma habilitante
conforme exigência da CEDH
Os meios de prova não devem ser obtidos mediante procedimentos contrários aos
Direitos fundamentais de liberdade, salvo nos casos expressamente previstos na Constituição
e, comparando com o artigo 3.º e 8.º da CEDH, podemos dizer que temos meios de obtenção
de prova absolutamente proibidos (artigo 32.º, n.º 8, 1.ª parte da CRP) e temos meios de
obtenção de prova relativamente proibidos (artigo 32.º, n.º 8, 2.ª parte e 34.º, n.º 2, 3, e 4 da
CRP)
Quando se discute o significado e o alcance do artigo 32.º, n.º 8 da CRP e do artigo
126.º do CPP vem à baila a discussão de saber se são normas de tutela de Direitos
fundamentais ou se são normas de disciplina porque o nosso sistema não é exatamente igual
nem ao sistema alemão nem ao americano. Para o Regente são normas de disciplina porque a
proibição de certos métodos de obtenção de prova dirige-se preferencialmente aos órgãos de
perseguição penal, a começar pelas autoridades judiciárias (e.g., Ministério Público) e a
terminar nos OPC, mas também ao Juiz de Instrução; ao Juiz de Julgamento; aos restantes
sujeitos processuais e também aqueles que atuam ao abrigo de poderes concedidos por Lei,
mas não se dirigem aos particulares defendendo que a ilicitude na obtenção de provas por
particulares consubstancia uma proibição de valoração e não de produção de prova, sendo
destinatários do artigo 126.º do CPP, enquanto norma de disciplina, apenas os órgãos de
perseguição penal, ao passo que a conduta dos particulares é regulada pelos normativos
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Autonomia técnica
Na verdade, a nulidade mencionada nos artigos 32.º, n.º 8 da CRP e 126.º do CPP não é
uma nulidade em sentido técnico processual, mas uma ‘nulidade’ dotada de uma autonomia
técnica completa em face do regime das nulidades processuais. Acontece, porém, que o
legislador português não quis levar a autonomia técnica das proibições de prova tão longe a
ponto de prescindir do emprego da palavra ‘nulidade’ neste contexto. Mas poderia e deveria
tê-lo feito, simplesmente cominando, com muito mais rigor, que: “São proibidas, não podendo
ser utilizadas, as provas...”. As nulidades insanáveis sanam com o trânsito em julgado, mas as
violações das proibições de prova não se sanam com o transito em julgado.
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EUA
A origem da Doutrina jurisprudencial da mácula foi o caso Silverthorne Lumber Co. v.
United States, decidido pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, em 1920 em
que os agentes federais apreenderam ilegalmente documentos nas instalações da sociedade
comercial Silverthorne e que um Tribunal de comarca mandou devolver, tendo o promotor de
justiça promovido perante um grande júri a notificação dos arguidos para produzirem os
mesmos documentos, sob cominação de multa. Em recurso, o Supremo Tribunal dos Estados
Unidos da América decidiu que as referidas intimações eram nulas.
Juiz Conselheiro Oliver Wendell Holmes, Jr. (Relator):
«A essência de uma norma de proibição de aquisição de provas de certa maneira não se limita
a determinar que as provas assim adquiridas não poderão ser utilizadas em tribunal, mas
também que não poderão ser usadas de maneira nenhuma. É claro que isto não significa que
os factos assim obtidos se tornem sagrados e inacessíveis. Se a informação acerca dos mesmos
for obtida através de uma fonte independente, então esses factos podem ser provados tal
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como quaisquer outros, mas o conhecimento obtido pelo Estado por meios ilícitos não pode
ser por si usado da maneira pretendida».
A expressão frutos da árvore envenenada surgiu pela pena do igualmente famoso Juiz
Conselheiro Felix Frankfurter, no caso Nardone v. United States, de 1939 e a fundamentação
utilizada foi que o efeito à distância é a única forma de impedir que os investigadores policiais,
os procuradores e os juízes menos escrupulosos se aventurem à violação das proibições de
produção de prova na mira de prosseguirem sequências investigatórias às quais não chegariam
através dos meios postos à sua disposição pelo Estado de Direito. Como o efeito à distância
tem um impacto dramático no processo e na prova, a partir do momento em que se
estabeleceu o efeito à distância também se começaram a procurar as exceções do efeito à
distância e há uma série de exceções Jurisprudenciais que são case law vinculativo tendo como
raciocínio que o efeito à distância pode ser atenuado por uma série de exceções, que se
reconduzem à ideia de saber se as provas secundárias poderiam ter sido obtidas na falta da
prova primária maculada.
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Exceção da boa-fé
Há quem defenda que ainda existe uma quinta exceção que é a boa-fé, mas tem
muitas reservas e a proteção da 4.ª Emenda contra buscas e apreensões injustificadas permite,
em via de regra, que um arguido consiga a exclusão das provas de um julgamento se forem
apreendidas de forma inconstitucional. Como já vimos, existem várias exceções à regra de
exclusão probatória. Uma delas envolve as evidências que as autoridades legais apreendam de
boa-fé. Se a polícia cometer um erro razoável ao conduzir uma busca, as evidências de um
crime que encontrar poderão ser admitidas. O Supremo Tribunal dos EUA decidiu que um juiz
pode considerar as evidências obtidas numa busca que parecia ter uma base legal como uma
busca apoiada por um mandado.
Devido à controvérsia em torno da exceção de boa-fé, alguns Estados não a aplicam
nos seus Tribunais e outros Estados aplicam uma versão limitada dessa exceção. Tal ocorre
porque os Estados têm o direito de conceder maiores liberdades aos seus cidadãos de acordo
com suas próprias Constituições para além das contidas na Constituição dos Estados Unidos da
América.
Alemanha
A Jurisprudência norte-americana tende a usar o raciocínio hipotético que é
comparável ao critério lícito alternativo que, por vezes, se usa no direito Penal material e que,
em certa medida, é parecido com as exceções norte-americanas da descoberta inevitável, por
exemplo, vão ver o que aconteceria se não tivesse sido obtida a prova daquela forma proibida
e se, ainda assim, por meios lícitos teriam lá chegado; se não fosse impossível chegar por
meios lícitos com determinado grau de probabilidade a prova pode ser aproveitada, portanto,
também têm Doutrina do efeito à distancia e também têm exceções quase todas as exceções
são contidas numa ideia geral de raciocínio hipotético para ver o que aconteceria se a atuação
fosse lícita e, para o Regente, são menos desenvolvidas do que as exceções norte-americanas.
TEDH
Também segue a Doutrina do efeito à distância, por exemplo, no caso Schenk vs. Suíça
(12.07.1988) em que o Senhor Schenk contratou o Senhor Pauty para matar a Senhora Schenk,
através de anúncio anónimo num jornal francês. Porém, o Senhor Pauty avisou a Senhora
Schenk e ambos se dirigiram às autoridades. Já na pendência do processo-crime adrede
instaurado, o Senhor Pauty procedeu à gravação do telefonema efetuado pelo Senhor Schenk,
que havia combinado ligar para confirmar se o trabalho já estaria efetuado, tendo tal servido
de prova para a condenação do Senhor Schenk. O TEDH apreciou à luz do artigo 6.º da CEDH e
considerou que o processo-crime em que foi utilizada a gravação de chamada telefónica
realizada por Pauty foi considerado justo no seu todo (fair as whole), considerando os
seguintes fatores:
I. Todos os direitos de defesa de Schenk foram respeitados;
II. Schenk teve oportunidade de sindicar a autenHcidade da prova;
III. Schenk solicitou diligências de investigação contra Pauty, que foram realizadas;
IV. Schenk teve oportunidade de sujeitar Pauty a contrainterrogatório;
V. Schenk foi condenado também com base noutras provas.
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No caso Gäfgen vs. Alemanha (01.06.2010) foi feita uma análise e fundamentação a dois
níveis:
I. Violação de direitos fundamentais da CEDH?
II. Uso da prova obtida através da violação de direitos fundamentais infringe o artigo
6.º da CEDH?
A prova obtida por tortura torna o processo injusto como um todo, não dependendo
do impacto da prova ilícita na condenação. Havendo maus-tratos não constitutivos de tortura,
exige-se a demonstração do impacto da utilização da prova para a condenação para que haja
violação do artigo 6.º da CEDH, assim, para o TEDH se houve tortura a proibição é absoluta e a
prova não pode ser utilizada, se houve maus-tratos que não sejam tortura tem de se ver a
importância que teve para a condenação e só se tiver sido absolutamente determinante em
que haverá violação do artigo 6.º da CEDH.
Portugal
O efeito à distância foi reconhecido pela primeira vez pelo Tribunal Judicial de Oeiras
(Sentença do 3.º Juízo, de 5 de março de 1993, Proc. n.º 777/91, 2.ª Secção) «a nulidade do
primeiro dos meios de prova é extensiva ao segundo, impossibilitando, da mesma forma, o
julgador de extrair deste último qualquer juízo valorativo».
Jurisprudência
Acórdão do TC n.º 198/2004
No Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 198/2004, de 24 de março de 2004 (Moura
Ramos) tratava-se de apreciar a questão de inconstitucionalidade normativa de saber se a
norma do artigo 122.º, n.º 1 do CPP (efeito à distância – “bem como os dele dependerem”)
pode ser interpretada como autorizando, face à nulidade de escutas telefónicas, a utilização
de outras provas, distintas das escutas e subsequentes, tais como confissões dos arguidos que
não teriam existido se soubessem da nulidade das escutas. O TC afirmou a inteira vigência
entre nós da Doutrina do efeito à distância, mas, no caso em apreciação, invocando a
doutrina estabelecida pelo Supremo Tribunal dos EUA no caso Wong Sun v. United States,
considerou que a invalidade da prova primária não afetava uma posterior confissão voluntária
e esclarecida quanto às suas consequências, tratando-se de um ato independente praticado
de livre vontade. Em referência ao artigo 122.º do CPP, o TC considerou que «esta norma
abre um espaço interpretativo no qual há que procurar relações de dependência ou de
produção de efeitos (o artigo 122.º, n.º 1 do CPP fala em atos dependentes ou afetados pelo
ato inválido) que, com base em critérios racionais, exijam a projeção do mesmo valor que
afeta o ato anterior». O TC decidiu que «o entendimento do artigo 122.º, n.º 1 do CPP,
subjacente à decisão recorrida, segundo o qual este abre a possibilidade de ponderação do
sentido das provas subsequentes, não declarando a invalidade destas, quando estiverem
em causa declarações de natureza confessória, mostra-se constitucionalmente conforme,
não comportando qualquer sobreposição interpretativa a essa norma que comporte ofensa
ao disposto nos preceitos constitucionais invocados».
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distância da «inutilização» das provas imediatamente obtidas através dos demais meios
proibidos de obtenção de provas (ofensivos não do «valor absoluto da dignidade do homem»,
mas de «interesses individuais não diretamente contendentes com a garantia da dignidade da
pessoa», como a «intromissão sem consentimento do respetivo titular» na «vida privada»,
«no domicílio», na «correspondência» ou nas «telecomunicações»)».
Concluindo que devido à preterição de requisitos de forma das escutas (188.º CPP), poderia
limitar-se o efeito à distância mediante juízos de ponderação e proporcionalidade:
«[…] não se afiguram «desproporcionados» os limitados efeitos sequenciais que as instâncias
possam ter retirado das escutas anuladas (com base, aliás, «não nos seus “requisitos e
condições de admissibilidade” - art. 187.º - mas nos “requisitos formais” das correspondentes
“operações”»), tendo em conta, por um lado, a própria «limitação – em função dos interesses
conflituantes – do efeito à distância da «inutilização» das provas (i)mediatamente obtidas
através dos meios proibidos de obtenção de provas previstos no n.º 3 do art. 126.º do CPP (já
que ofensivos não do «valor absoluto da dignidade do homem», mas de «interesses
individuais não diretamente contendentes com a garantia da dignidade da pessoa») e, por
outro, a «necessidade» de «otimização da concordância prática dos interesses em conflito)
(“inviolabilidade das comunicações telefónicas” versus “verdade material” e “punição dos
culpados”).»
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como lógica e valorativa, entre a prova inquinada e a que se lhe seguiu. VII - Importa distinguir
entre interesses individuais que contendem diretamente com a dignidade humana (tortura,
coação, ou, em geral, ofensa da integridade física ou moral das pessoas) e a violação de
interesses sem esse estigma, como pode ser o caso de simples intromissão na vida privada,
domicílio, correspondência ou comunicações. Se no primeiro caso está posta de lado qualquer
transigência em relação à prova subsequente, já no segundo é possível uma concordância
prática entre interesses conflituantes, com respeito pelos parâmetros da necessidade e
proporcionalidade (vide Ac. do STJ de 31-01-2008, Proc. n.º 4805/06 - 5.ª)».
Concluindo que, devido à preterição de requisitos de forma das escutas telefónicas (188.º
CPP), poderia limitar-se o efeito à distância, não operando um “efeito dominó”:
«[…] estão em confronto a inobservância dos requisitos formais das escutas (não da sua
admissibilidade) e a verdade material ao serviço da justiça penal. A impossibilidade de ser
utilizado como prova o resultado das escutas efetuadas, ficou a dever-se ao postergar do
princípio do contraditório, que por sua vez está ao serviço dos direitos da defesa. Acontece é
que as provas ulteriormente conseguidas estiveram abertas a todo o contraditório. Não custa
pois, aqui, negar o pretendido ‘efeito dominó’».
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considerou ser de excluir o efeito à distância por se estar perante uma "fonte independente"
e um caso de "mácula dissipada".»
Doutrina portuguesa
Figueiredo Dias, já antes do Código de Processo Penal atual, defendia como
claramente inscrita no artigo 32.º da CRP a “doutrina que os alemães cognominam do
Fernwirkung des Beweisverbots e os americanos do fruit of the poisonous tree”.
Costa Andrade, em Proibições de Prova, afirma que a doutrina da independent source
“legitima a valoração de provas secundárias sempre que elas foram ou poderiam ter sido
obtidas por via autónoma e legal, à margem da exclusionary rule que impende sobre a prova
primária. Cabendo, contudo, precisar as exigências particularmente apertadas de que os
tribunais americanos fazem depender a valência duma causalidade hipotética. Tal só ocorrerá
nos casos em que a produção da prova secundária, por via independente e legal, se possa, em
concreto, considerar como ‘imminent, but in fact unrealized source of evidence’ (‘inevitable
discovery exception’)”.
Helena Morão trata do efeito remoto das proibições de prova e da sua limitação, mas
critica a relevância dos percursos hipotéticos de investigação.
Paulo Pinto de Albuquerque aceita limitações ao efeito à distância, mas recusa a
invocação de percursos hipotéticos de investigação e, em especial, a doutrina da descoberta
inevitável.
O Regente já sustentou que a invocação de percursos hipotéticos de investigação não
pode ser aceite sem reflexão, sob pena de se tornar ineficaz o sentido preventivo das
proibições de prova, mas, com as limitações que a jurisprudência norte-americana tem vindo
paulatinamente a impor à doutrina da descoberta inevitável, esta acaba sendo a mais
adequada aos juízos de ponderação envolvidos no caso concreto.
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Base legal
Tem sido frequente a referência ao artigo 122.º, n.º 1 do CPP: «As nulidades tornam
inválido o ato em que se verificarem, bem como os que dele dependerem e aquelas puderem
afetar». Esta referência é duvidosa, atendendo à autonomia técnica das proibições de prova e,
portanto, à sua independência relativamente ao regime das nulidades processuais, no âmbito
do qual se inscreve o próprio artigo 122.º do CPP.
A jurisprudência constitucional, no Acórdão do TC n.º 198/2004, de 24 de março de
2004 (Moura Ramos), já teve ocasião de demonstrar que a afirmação genérica das garantias de
defesa que está contida no artigo 32.º, n.º 1 da CRP «bastaria para que entre esses direitos de
defesa se considerasse incluído o de ver excluídas do processo (tornadas ineficazes, inválidas
ou nulas) as próprias provas ilegais reportadas a valores constitucionalmente relevante».
«Assim, o n.º 8 do mesmo artigo 32.º, mais não faz do que sublinhar e tornar indiscutível esse
direito à exclusão, enquanto dimensão específica e indissociável do direito a um processo
penal com todas as garantias de defesa. Não teria sen6do, estando em causa valores (os
elencados no artigo 32.º, n.º 8) a que a Constituição confere tal importância, que a prova que
os atingisse e fosse obtida com inobservância das regras que permitem a compressão desses
mesmos valores, produzisse consequências processuais que ficassem aquém da nulidade
dessas provas”.
Helena Morão considera que o recurso à norma do artigo 122.º, n.º 1 do CPP é
desnecessário para a fundamentação de uma sede normativa reguladora de um princípio de
efeito à distância das proibições de prova no nosso sistema processual penal, pois basta o
fundamento constitucional contido no artigo 32.º, n.º 8 da CRP.
Em escritos anteriores procurei amparar o efeito à distância das proibições de prova
no artigo 122.º, n.º 1 do CPP, mas esta posição não era, de facto, congruente com a minha
defesa de uma independência técnica completa das proibições de prova em face do regime
das nulidades processuais. Por conseguinte, creio que a referência ao artigo 122.º, n.º 1 do CPP
só pode servir de argumento a fortiori, considerando que se a lei reconhece o efeito à
distância das nulidades processuais quando poderá estar em causa, por exemplo, a violação de
formalidades de prova, então por maioria de razão ter-se-á de reconhecer o efeito à distância
das proibições de prova quando está em causa a violação de direitos de liberdade.
Buscas
Hipótese
Na residência de Salomé, sita em..., funciona um lar ilegal, que acolhe três idosas (com
idades aproximadas de 74, 85 e 94anos).É frequente os vizinhos ouvirem as referidas pessoas
de idade avançada a gritar. Salomé já recusou algumas vezes as visitas dos familiares das
pessoas idosas. Também não permitiu a entrada na mencionada casa à Segurança Social, nem
prestou qualquer informação.
O Ministério Público abriu inquérito contra Salomé por suspeita da prática de crime de
abandono e/ou de maus-tratos, previsto(s) e punido(s), respetivamente, pelos artigos 138.º,
n.º 1, alínea b) e 152°-A, n.º 1, alínea a) ambos do CP. O MP promoveu a realização de busca
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domiciliária, para obtenção de prova, suspeitando que na casa de Salomé pudessem ser
encontradas provas dos crimes.
O Juiz de Instrução indeferiu a promoção do Ministério Público no sentido de ser
realizada a referida busca domiciliária. O Juiz de Instrução sugeriu antes a audição prévia da
médica do Centro de Saúde.
Recurso do MP
O Ministério Público interpôs recurso da decisão para o Tribunal da Relação:
“[D]as duas uma: esta diligência levaria à confirmação dos indícios, sendo, por isso, inútil.”
“Ou, no caso de a médica do Centro de Saúde não vislumbrar elementos de prova indiciários
de abandono e/ou maus-tratos, também daqui não resultaria uma negação dos indícios já
existentes (gritos das idosas, recusa por parte dona do ‘lar ilegal’ em permitir o acesso aos
elementos da Segurança Social e até mesmo a familiares das idosas que as querem visitar).”
“A busca domiciliária é, pois, a única forma de descobrir a verdade, seja ela qual for”.
Segundo o Ministério Público: o Juiz de Instrução, ao indeferir a promovida busca, teria violado
o disposto nos 174.º, n.º 1 a 4, e 177.º, n.º 1, do CPP, no sentido de que existiam indícios,
suspeitas da prática, por parte de Salomé, de eventual crime de abandono e/ou de maus-
tratos.
Problema jurídico
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Formalidades
Antes de se proceder à busca, deve ser entregue, salvo nos casos do n.º 5 do artigo
174.º do CPP, a quem tiver a disponibilidade do lugar em que a diligência se realize, cópia do
despacho que a determinou, na qual se faz menção de que pode assistir à diligência e fazer-se
acompanhar ou substituir por pessoa da sua confiança e que se apresente sem delonga (artigo
176.º, n.º 1 do CPP).
Dever de fundamentação
O juízo a efetuar pelo Juiz exige uma fundamentação relevante, sustentada em
‘indícios’, não sendo necessário que os mesmos atinjam o grau de ‘indícios suficientes’, mas
também não podendo ser simples ‘suspeitas’.
Acórdão do TRL
O Tribunal da Relação decidiu revogar a decisão de primeira instância e ordenou que
fosse efetuada nova decisão, agora deferindo a requerida busca domiciliária nos termos
legalmente admissíveis:
“[O] que está em causa, nos autos, é saber se existem indícios a que se refere o artigo 174.º,
n.os 1 e 2, do CPP, ou seja, ‘de que os objetos relacionados com um crime ou que possam
servir de prova, ou o arguido ou outra pessoa que deva ser detida, se encontrem em lugar
reservado ou não livremente acessível ao público’”.
Face ao conjunto factual disponível em que se sustenta o despacho em apreciação, existem
neste caso os seguintes indícios:
a) Está identificada uma pessoa [Salomé] em cuja habitação funcionará um lar onde se
encontram pelo menos 3 idosos a quem é paga uma contraprestação (cf. relatório da
ocorrência efetuada pela GNR e declarações prestadas por uma participante e informação da
Segurança Social ao Ministério Público);
b) Tal ‘lar’ é ilegal, na medida que não tem autorização da Segurança Social (cf. doc. da
Segurança Social);
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a presunção de inocência (artigo 32.º, n.º 1 da CRP) até ao trânsito em julgado da decisão
condenatória.
Medidas de coação
Existem quatro aspetos que devemos ter em atenção relativamente às medidas de
coação:
Condições gerais de aplicação (artigo 192.º do CPP);
Pressupostos gerais (artigo 204.º e 192.º, n.º 6 do CPP);
Princípios gerais (artigo 191.º, 193.º e 194.º do CPP);
Requisitos específicos de cada medida (artigo 196.º e 202.º do CPP).
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Princípio da legalidade
Só podem ser aplicadas as medidas de coação previstas na Lei, porque só a Lei pode
restringir Direitos, liberdades e garantias (artigo 18.º, n.º 2 da CRP e artigo 61.º, n.º 6, alínea
d), e 191.º, n.º 1 do CPP).
A legalidade implica a tipicidade/taxatividade das medidas de coação (artigo 191.º do
CPP), que só podem ser as seguintes (por ordem crescente de gravidade):
Termo de identidade e residência – TIR (artigo 196.º do CPP);
Caução “carcerária” (artigo 197.º e 205.º a 208.º do CPP) – medida de coação
destinada a assegurar a presença em atos processuais ou o cumprimento de
obrigações derivadas de outra medida de coação (conforme artigo 208.º do CPP) ≠
caução “económica”= medida de garantia patrimonial (artigo 227.º do CPP);
Obrigação de apresentação periódica (artigo 198.º do CPP);
Suspensão do exercício de profissão, função, atividade ou direitos (artigo 199.º do
CPP);
Proibição e imposição de condutas (artigo 200.º do CPP) – medida de coação que,
mediante consentimento, inclui o tratamento de dependência que favoreceu a prática
do crime. Exceção: artigo 55.º do DL n.º 15/93 – Medida de coação de obrigação de
tratamento de toxicodependência em estabelecimento adequado;
Obrigação de permanência na habitação (artigo 201.º do CPP);
Prisão preventiva (artigo 202.º do CPP).
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Princípio da subsidiariedade
Só podem ser aplicadas as medidas de coação mais gravosas, quando outras medidas
menos intrusivas se revelarem, no caso, inadequadas ou insuficientes face às concretas
exigências processuais cautelares.
A prisão preventiva é duplamente subsidiária (artigo 28.º, n.º 2 da CRP):
Por ser privativa da liberdade (artigo 193.º, n.º 2 do CPP) e
Por ser subsidiária da Obrigação de permanência na habitação (artigo 193.º, n.º 3 do
CPP).
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Audiência prévia
O artigo 194.º, n.º 7 e 8 do CPP dispõe que, em regra, não podem ser considerados, para
fundamentar a aplicação ao arguido de medida de coação ou garantia patrimonial, quaisquer
factos ou elementos que lhe não tenham sido comunicados durante a audição; e o arguido e o
seu defensor podem consultar os elementos do processo determinantes da aplicação da
medida de coação ou garantia patrimonial, durante o interrogatório judicial e no prazo
previsto para a interposição de recurso da decisão de aplicação da medida de coação (artigo
219.º e 411.º do CPP).
Princípio da precariedade
Manifestações:
Artigo 212.º, n.º 4 do CPP – toda e qualquer medida de coação é, a todo o tempo,
oficiosamente ou a requerimento do MP ou do arguido:
a) Imediatamente revogada quando se verificar que desapareceram as
circunstâncias que justificaram a sua aplicação [n.º 1, alínea b) do CPP];
b) Substituída por outra menos grave, ou por forma menos gravosa da sua
execução, se se atenuarem as exigências cautelares que a determinaram (n.º
3).
Artigo 213.º do CPP – reexame oficioso obrigatório dos pressupostos da prisão
preventiva e da obrigação de permanência na habitação:
a) No prazo máximo de três meses a contar da data da sua aplicação ou do
último reexame;
b) Se tiverem sido proferidos despachos de acusação, pronúncia ou decisão que,
a final, conheça do objeto do processo e não determinem a extinção da
medida aplicada.
Existe uma controvérsia no reexame obrigatório previsto artigo 213.º do CPP)
que consiste no momento de discussão ampla sobre os pressupostos de
aplicação da prisão preventiva ou da obrigação de permanência na habitação,
independentemente de existir ou não alteração das circunstâncias? Ou apenas
deve alterar-se a medida de coação se se tiverem modificado as circunstâncias,
atenuando-se as exigências cautelares, como parece decorrer do preceito
vizinho, o artigo 212.º, n.º 3 do CPP? Ou seja, não existindo alteração de
circunstâncias, o dever de reexame cumpre-se mediante remissão para a
decisão anterior que aplicou ou manteve a medida de coação? (ver adiante)
Artigo 214.º do CPP – extinção em caso de proferimento de decisões que infirmem a
existência de exigências processuais cautelares (remissão).
Artigo 215.º e 218.º do CPP – submissão das medidas de coação a prazos máximos de
duração, findos os quais se extinguem ou são substituídas por outra(s) (artigo 217.º,
n.º 2 do CPP).
Princípio da judicialidade
Judicialidade/reserva de Juiz (mediante despacho fundamentado) e prévia promoção
pelo MP na fase de inquérito/princípio do pedido (artigo 194.º, n.º 1 do CPP), devendo
distinguir-se consoante a fase processual:
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Apreciação crítica
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Preterição ou violação de normas “sob pena de nulidade” (artigo 194.º, n.º 1, 3, 4 e 6 do CPP)
Não integrando o catálogo do artigo 119.º do CPP, prima facie não constitui nulidade
insanável. Parece que só integrariam a previsão do artigo 120.º, n.º 2, alínea d) do CPP, a
preterição do artigo 194.º, n.º 1 do CPP, durante o inquérito; a falta de audição do arguido,
mas não a violação das disposições do número 3 e 6.
Será a nulidade do artigo 120.º, n.º 1 do CPP dependente de arguição, sob pena de sanação
(artigo 118.º, n.º 1 do CPP)?
Quanto à falta de audição do arguido, conforme o Acórdão do TRL, de 19.10.2017,
processo n.º 3110/13.OJFLSB-B.L1-9 “(...) uma vez que a lei impõe a audição pessoal do
arguido, antes da aplicação da medida de coação ou de garantia patrimonial, a sua falta há-de
constituir a nulidade insanável prevista no artigo 119.º, alínea c) do CPP ...” (ausência do
arguido quando a lei impõe a sua presença).
Nulidade que atinge o procedimento de aplicação da medida de coação e,
consequentemente, o despacho que a aplicou (artigo 122.º do CPP), sempre que, sendo
possível a audição do arguido, este não tenha sido pessoalmente ouvido, não obstante a
presença do defensor, conforme NUNO BRANDÃO.
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Parece que, além disso, ainda pode haver revogação ou substituição da medida,
oficiosamente ou mediante requerimento:
Revogação nos termos do artigo 212.º, n.º 1, alínea a) do CPP, por a medida de coação
ter sido aplicada fora das hipóteses e condições previstas na Lei;
Substituição da medida, ao abrigo do artigo 212.º, n.º 3 do CPP.
Também deve ser admissível o recurso nos termos do artigo 219º do CPP.
Se o artigo 194.º, n.º 4 do CPP estabelece que a regra é o arguido ser ouvido previamente,
a violação dessa regra corresponde à não audição do arguido quando era obrigatória essa
audiência, assim, era necessário que o Juiz fundamentasse a impossibilidade do artigo 194.º,
n.º 4 do CPP, logo, se o Juiz não fundamentar a impossibilidade e aplicar uma medida de
coação, exceto o TIR por ser de aplicação obrigatória, o Juiz estará a praticar um ato nulo
insanável aplicando-se o artigo 119.º, alínea c) do CPP por não ter sido previamente ouvido.
O artigo 194.º, n.º 1 do CPP tem como primeira regra a judicialidade pois menciona o
“despacho do Juiz” no seu texto, assim, a aplicação da medida de coação mais grave necessita
sempre de despacho do Juiz, na fase de inquérito o Juiz de Instrução (artigo 268.º, n.º 1, alínea
b) do CPP; na fase de instrução o Juiz que presida a fase de instrução, portanto, o Juiz de
Instrução e na fase de julgamento o Juiz de julgamento (artigo 375.º, n.º 4 do CPP). O
problema ocorre quando o inquérito se coaduna com a decisão da medida de coação do Juiz
de Instrução e sempre que, durante o inquérito, o Juiz decidir aplicar medida de coação
depende de prévia promoção pelo MP (artigo 194.º, n.º 1 do CPP), ou seja, o Juiz de Instrução
nunca pode aplicar medida de coação mais grave que o TIR se não tiver sido promovido pelo
MP.
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Punível com pena de prisão superior a 5 anos (artigo 202.º, n.º 1, alínea a) do
CPP ou crimes expressamente constantes das alíneas b) a e) do artigo (artigo
202.º, n.º 1 do CPP) – crimes de catálogo.
o Casos especiais: artigo 203.º, n.º 2 do CPP (atenuação dos requisitos
gerais para aplicação da PP).
Periculum libertatis (remissão);
Fumus comissi delicti (remissão).
Questiona-se qual é o crivo/critério de “fortes indícios”:
o A aplicação da medida de coação pode ser anterior à acusação, para a
qual são exigidos “indícios suficientes”. Como compatibilizar os dois
critérios? “Suficientes” é mais exigente que “fortes”?
Se o crivo de “indícios suficientes” é exigido para a acusação
(artigo 283.º do CPP) e para a pronúncia (artigo 308.º do CPP),
e se tal exigência é similar à convicção do julgador, então,
“suficientes indícios” corresponde à totalidade, e “fortes
indícios” será um crivo menor (um “minus”) face aos
“suficientes” (J. Noronha Silveira);
Atendendo aos progressivos níveis de exigência (suspeita
fundada, indícios suficientes, fortes indícios e convicção para a
condenação), que estão na proporção direta da restrição
intensa de Direitos, liberdades e garantias: indícios suficientes
(probabilidade maioritária?) serão um “minus” face aos fortes
indícios (probabilidade qualificada?).
Também se questiona se, em caso de concurso de crimes dolosos puníveis,
cada um, com pena de 3 anos (v.g., artigo 203.º, n.º 1 do CP), poderá aplicar-se
a prisão preventiva e existem duas soluções possíveis:
o Sim: a pena é superior a 5 anos em cúmulo;
o Não: o crime doloso não é punível com pena de prisão superior a 5
anos;
o Uma solução possível: em caso de concurso, só poderá justificar a
prisão preventiva o crime doloso punível com pena mais grave.
Impedimentos: o artigo 40.º, alínea a) do CPP estará preenchido caso o Juiz
de Julgamento aplique a prisão preventiva no decurso do julgamento?
o Interpretação literal do artigo 40.º, alínea a) do CPP o Juiz que aplique
a prisão preventiva fica impedido, a partir desse momento, de
(continuar a) participar no julgamento.
Haverá impedimento, devendo o juiz ser substituído com as
consequências ao nível da perda de eficácia da prova já
produzida e necessidade de repetição da mesma… repetição
do julgamento;
Mais grave: como o Juiz terá de proceder ao reexame
obrigatório (artigo 213.º do CPP) da prisão preventiva ou da
obrigação de permanência na habitação, no máximo de 3 em 3
meses, se o julgamento ainda não estiver encerrado, qualquer
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Modos de impugnação
1. Recurso (artigo 219.º do CPP):
Recorribilidade geral;
A inexistência de inutilidade superveniente do recurso do despacho que
aplicou a medida de prisão preventiva ou de obrigação na permanência na habitação,
quando tenha havido reexame e manutenção da prisão preventiva ou da obrigação de
permanência na habitação seguida de recurso desta última (artigo 213.º, n.º 5 do CPP).
Ratio - não haver na prática irrecorribilidade da decisão prévia, em especial da
decisão que aplicou as medidas mais gravosas, que, por isso, estão sujeitas ao
reexame obrigatório, no máximo, de 3 em 3 meses.
Quem tem legitimidade para recorrer?
Arguido;
MP, mesmo contra o interesse do arguido.
o Acórdão do STJ (de fixação de jurisprudência) n.º 16/2014 «É
admissível recurso do Ministério Público de decisão que indefere,
revoga ou declara extinta medida de coação por ele requerida ou
proposta».
E o Assistente, poderá?
o Discussão sobre a admissibilidade, maxime tendo em conta os
requisitos gerais do artigo 204.º do CPP.
2. Providência de “habeas corpus” por prisão ilegal – (artigo 222.º do CPP):
Providência directamente perante o STJ (artigo 222.º, n.º 1 do CPP);
Urgente;
Qualquer pessoa tem legitimidade para a requerer «qualquer cidadão no gozo
dos seus direitos políticos» (artigo 222.º, n.º 2 do CCP)
Requisitos – ilegalidade da prisão, porquanto:
Efetuada ou ordenada por entidade incompetente;
Motivada por facto pelo qual a lei a não permite; ou
Manter-se para além dos prazos fixados pela lei ou por decisão judicial (artigo
222.º, n.º 2 do CPP).
Questiona-se o que seja prisão ilegal por “ser motivada por facto pelo qual a Lei a não
permite”?
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Jurisprudência do STJ: interpretação restritiva, pois o “habeas corpus” não é o
meio adequado à verificação dos fortes indícios do crime – que devem ser
suscitados através de recurso.
Não havendo litispendência/caso julgado entre o recurso e a providência de “habeas
corpus” – artigo 219.º, n.º 2 do CPP.
3. Pedido de revogação/substituição perante o próprio Juiz de Instrução (artigo 212.º, n.º
4 do CPP)
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