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PETIÇÃO INICIAL

1a EDIÇÃO/2022

1. INTRODUÇÃO 2
1.1. CONCEITO 2

2. EFEITOS E FUNÇÕES 2

3. ELEMENTOS INTEGRANTES DA PETIÇÃO INICIAL 3


3.1 ELEMENTOS POSITIVOS 3
3.2 ELEMENTOS NEGATIVOS 3

4. ELEMENTOS EM ESPÉCIE 4
4.1 O JUÍZO A QUEM É DIRIGIDA 4
4.2 QUALIFICAÇÃO DAS PARTES 4
4.3 CAUSA DE PEDIR 5
4.3.1 CONCEITO 5
4.3.2 SUBDIVISÃO (ELPÍDIO DONIZETTI) 6
4.3.3 FINALIDADES 6
4.3.4 TEORIAS SOBRE A CAUSA DE PEDIR 7
4.4 PEDIDO 8
4.4.1 CONCEITO 8
4.4.2 CLASSIFICAÇÃO 9
4.4.3 LIDE PROJETADA E LIDE SOCIOLÓGICA 9
4.4.4 FORMALIZAÇÃO DO PEDIDO 9
4.4.5 PROCEDIMENTOS 10
4.4.6 MODALIDADES DE PEDIDOS 11
4.4.7 ALTERAÇÃO DO PEDIDO 16
4.5 VALOR DA CAUSA 16
4.6 PROVAS COM QUE O AUTOR PRETENDE DEMONSTRAR A VERDADE DOS FATOS ALEGADOS 18
4.7 MANIFESTAÇÃO QUANTO AO INTERESSE NA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO 20

5. CONTROLE DE ADMISSIBILIDADE DA PETIÇÃO INICIAL 22

PETIÇÃO INICIAL - 1
1. INTRODUÇÃO

1.1. CONCEITO

Segundo o professor Marcus Vinícius, a petição inicial “é o ato que dá início ao processo, e define os

contornos subjetivo e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar. É por meio dela que será

possível apurar os elementos identificadores da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir”.1

A Petição inicial pode ser analisada por meio de três óticas:

1. TODOS TÊM DIREITO À PETIÇÃO INICIAL: O direito de se exercer a demanda em decorrência do

princípio da inafastabilidade/ubiquidade (art. 5º, XXXV, CF e Art. 3º, CPC);

2. EXERCÍCIO DA DEMANDA: ela viabilizar o direito de demandar;

3. É ATO FORMAL: Quando estudamos o formalismo do processo (tipicidade processual), fazemos a

divisão entre 2 grandes atos: os atos judiciais (atos do juiz e seus auxiliares) que são atos formais/solenes. Já os

atos das partes não possuem forma própria em regra, pois no caso da petição inicial, mesmo sendo

considerado um ato da parte, a lei estabelece forma própria.

Quanto à formalidade da exordial, nos ensina o professor Daniel Amorim Assumpção Neves2:

“Por tratar-se de peça que inicia o processo, permitindo o seguimento do

procedimento mediante a citação do réu, e gerando todos os efeitos referidos, a lei

processual exige que tal peça preencha alguns requisitos formais, o que torna a

petição inicial um ato processual solene. A ausência de quaisquer deles pode gerar

uma nulidade sanável ou insanável, sendo na primeira hipótese caso de emenda da

petição inicial e, na segunda, de indeferimento liminar de tal peça.”

2. EFEITOS E FUNÇÕES

A petição inicial gera ao menos três grandes efeitos no mundo processual:

1. Nascimento ao processo (art. 2º): na medida em que rompe com a inércia do poder

judiciário;

2. Delimita o julgamento (arts. 141 e 492): Pois quem decide o que vai ser objeto da análise do

judiciário será a parte;

1
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 468.
2
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - Volume único, 11ª ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 586.

PETIÇÃO INICIAL - 2
3. Estabiliza a competência.

Ainda, a petição inicial tem duas funções precípuas, quais sejam: (1) provocar a instauração do processo

e (2) identificar a demanda. Em virtude desta segunda função, na qual serão mencionadas as partes, a

causa de pedir e pedido, há o surgimento de interessantes efeitos processuais, como nos ensina o

professor Cândido Rangel Dinamarco3:

“a) permite a aplicação do princípio da congruência, indicando os limites objetivos e

subjetivos da sentença;

b) permite a verificação de eventual litispendência, coisa julgada ou conexão, quando

comparada com outras ações;

c) fornece elementos para a fixação da competência;

d) indica desde logo ao juiz a eventual ausência de alguma das condições da ação;

e) pode vir a influenciar na determinação do procedimento.”

3. ELEMENTOS INTEGRANTES DA PETIÇÃO INICIAL

A Petição Inicial possui elementos positivos e elementos negativos.

3.1 ELEMENTOS POSITIVOS

▷ Elementos identificadores da causa (art. 319, II, III, IV): Partes, causa de pedir e o pedido;

▷ Elementos ligados aos pressupostos processuais (art. 319, I, V, VI): Endereçamento, valor da causa

e provas;

▷ Elementos ligados ao procedimento (art. 319, VII): designação da audiência de conciliação.

3.2 ELEMENTOS NEGATIVOS

estão presentes no art. 330, cp, que trata das hipóteses de indeferimento, sendo assim, é necessário

que a petição inicial não preencha os requisitos do art. 330, sob pena de indeferimento:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta;

II - a parte for manifestamente ilegítima;

III - o autor carecer de interesse processual;

IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 .

3
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001. v. 2, n. 989, p. 355.

PETIÇÃO INICIAL - 3
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:

I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o

pedido genérico;

III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de

empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de

inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que

pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.

§ 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo

e modo contratados.

4. ELEMENTOS EM ESPÉCIE

4.1 O JUÍZO A QUEM É DIRIGIDA

O professor Marcus Vinícius4 destaca que como esse elemento “contém um requerimento dirigido ao

Poder Judiciário, e como este é composto por inúmeros órgãos, entre os quais é dividida a competência, o autor

deve indicar para quem a sua petição é dirigida”.

E se o autor errar o endereçamento? Nesse caso, um eventual erro não enseja o indeferimento da

inicial, mas apenas a remessa da inicial ao destinatário correto.

4.2 QUALIFICAÇÃO DAS PARTES

A petição deve indicar:

✓ os nomes e os prenomes (necessários para identificar as partes);

✓ o estado civil e a existência de união estável

OBSERVAÇÕES

■ São relevantes naquelas ações em que se exige outorga uxória.

■ A união estável consta expressamente no código e o próprio STJ tem entendido que é necessária a

indicação na petição inicial. Essa inserção não exige que união estável seja formalizada);

✓ a profissão

4
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 468.

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✓ o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa

Jurídica;

✓ o endereço eletrônico (uma importante observação é o fato de que hoje pessoas jurídicas de direito

público e grandes e médias empresas de direito privado são obrigadas a fazer cadastro para que sejam citadas

preferencialmente pelo meio eletrônico);

✓ o domicílio e a residência do autor e do réu (para viabilizar a comunicação dos atos processuais);

O professor Marcus Vinícius5 destaca que “a qualificação são indispensáveis para que as partes

sejam identificadas. Nenhuma dificuldade existirá em relação ao autor, mas é possível que o réu, no momento

da propositura, não esteja identificado ou seja incerto”.

O que ocorre se os dados do réu forem desconhecidos? A lei prevê que, na falta de dados, o órgão

jurisdicional providenciará diligência aos órgãos públicos ou parapúblicos (Detran, Bacen, cartórios de registro

etc.) .

➔ Se, ainda assim, os dados não for possível a obtenção dos dados, estabelece-se uma

instrumentalidade no seguinte sentido: a falta de informações não gera indeferimento da

inicial se puder citar o réu por outros meios (arts. 4º e 277, CPC). Nesse ponto, é necessário

relembrar o princípio orientador do CPC/2015 que dá preferência à resolução do mérito da lide

trazida ao Judiciário.

ATENÇÃO

Trata-se da fixação da parte e não da legitimidade. Pois a legitimidade é aferida pelo juiz (lembre-se da

teoria da asserção neste ponto).

4.3 CAUSA DE PEDIR

4.3.1 CONCEITO

Segundo o professor Elpídio Donizetti “ o fato e os fundamentos jurídicos do pedido (inciso III), isto é,

a causa petendi, são o nexo que existe entre ela e o efeito jurídico afirmado (o pedido), ou, em outras palavras,

a razão por que ao fato narrado se deve atribuir esse efeito”6.

Marcus Vinícius7 simplifica esse conceito ao afirmar que “o autor deve indicar quais são os fatos e os

fundamentos jurídicos em que se embasa o pedido, a causa de pedir. Esse é um dos requisitos de maior

5
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 468.
6
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 484.
7
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 468.

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importância da petição inicial, sobretudo a descrição dos fatos, que, constituindo um dos elementos da ação,

vincula o julgamento (teoria da substanciação)”.

4.3.2 SUBDIVISÃO (ELPÍDIO DONIZETTI)

Elpídio Donizetti realiza a seguinte subdivisão da causa de pedir:

Se relaciona aos fatos e fundamentos jurídicos.

O fato da causa de pedir é dividido em:

● Fato Jurídico: aquele que delimita a pretensão da parte; possui suporte


CAUSA REMOTA próprio.

● Fato Simples: aquele que auxilia na identificação do fato jurídico, não

possuindo suporte próprio. Não se pode ir ao Judiciário apenas com base

no fato simples. (Exemplo: chuva no caso de um acidente – a chuva em si

não é fato que por si só confere elemento jurídico).

CAUSA PRÓXIMA Se relacionada com as consequências jurídicas desse fato.

Exemplo: A propriedade do bem, numa ação reivindicatória, constitui a causa remota, já as

consequências jurídicas da propriedade, ou seja, o direito de reaver o bem do poder de quem quer que

injustamente o possua, caracterizam a causa próxima.

4.3.3 FINALIDADES

A causa de pedir possui três finalidades principais:

a) Ajudar na identificação da demanda: para fins de conexão, coisa julgada, litispendência,

perempção;

b) Auxiliar no contraditório: Quando o autor narra a causa e estabelece os elementos que integra o

seu direito, o réu poderá contrapor esses argumentos;

c) Controlar a decisão judicial (art. 489, §1º, IV): Esse dispositivo numera em 6 incisos as situações em

que a decisão não se considera fundamentada. O inciso IV do §1º do art. 489 dispõe sobre o dever de o juiz

enfrentar todos os argumentos trazidos pelas partes, especialmente para infirmar a decisão. O juiz só é

obrigado a enfrentar tudo que a parte falar para negar o que ela está pretendendo; para conceder não é

necessário. Assim, negando uma causa de pedir, deverá necessariamente enfrentar todas as demais.

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4.3.4 TEORIAS SOBRE A CAUSA DE PEDIR

Ao longo do tempo se discutiu se havia entre o fato e fundamento jurídico uma diferença quanto à

relevância. Ou seja, se debatia se um era mais importante que o outro. Diante disso, surgiram algumas teorias

sobre a causa de pedir:

🔴 TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO: Estabelece que os fatos são mais importantes que o fundamento
jurídico, pois a alteração dos fatos gera nova demanda. Se aplica nas demandas heterodeterminadas (são

aquelas identificadas prioritariamente pelos seus fatos).

🔴 TEORIA DA INDIVIDUALIZAÇÃO/INDIVIDUAÇÃO: A fundamentação jurídica é mais importante que


os fatos, sendo estes meramente secundários ou acidentais apenas para a compreensão do direito (da

fundamentação jurídica). Se aplica nas demandas autodeterminadas (são aquelas prioritariamente

identificadas pelos seus fundamentos jurídicos). Exemplo: reivindicatória, pois quem tem a matrícula

dificilmente perderá a ação tendo em vista o fundamento no qual a ação está fundada.

No panorama doutrinário, quase toda doutrina mundial segue a teoria da substanciação. Contudo, há

autores (BOTELHO DE MESQUITA, TUCCI, ARAKEN DE ASSIS) que defendem a tese no sentido de que o Brasil

adota as duas concepções.

Todavia, para a maior parte da doutrina, o Brasil adota unicamente a Teoria da Substanciação.

Nesse sentido, vejamos os fundamentos:

► O CPC adota um sistema rígido de preclusões somente em relação aos fatos (arts. 329, 336 e

1014, CPC): estes artigos formam uma espécie de microssistema de preclusões e criam um limite sobre os

fatos.

► Iura Novit Curia: o juiz conhece o Direito. Assim, seria possível uma petição narrando apenas os

fatos.

ATENÇÃO: o juiz não está adstrito ao fundamento jurídico, mas apenas aos fatos jurídicos!

► A alteração do fato gera nova causa, a alteração do direito mantém a mesma causa, mas com

novos fundamentos: é por isso que a ação de alimentos não faz coisa julgada, pois o juiz fixa os alimentos

com base na situação fática daquele momento. Se depois, a parte que dá alimentos não tem mais condições

financeiras de prestá-los, poderá ingressar com REVISIONAL dos alimentos. Ou seja, uma alteração fática que

permite uma nova causa sem que se ofenda a imutabilidade já ocorrida.

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Segundo nos ensina o professor Fredie Didier Jr.8:

"Adotou o nosso CPC a chamada teoria da substancialização da causa de pedir, que

impõe ao demandante o ônus de indicar, na petição inicial, qual o fato jurídico e qual

a relação jurídica dele decorrente que dão suporte ao seu pedido. Não basta a

indicação da relação jurídica, efeito do fato jurídico, sem que se indique qual o fato

jurídico que lhe deu causa – que é o que prega a teoria da individualização.

Com isso, a pluralidade de fatos jurídicos implicará a pluralidade de demandas -

hipótese muito comum em ação rescisória, quando o demandante pede a rescisão do

julgado com fundamento em mais de uma das hipóteses previstas no art. 966 do CPC.

Por vezes, a causa de pedir é composta. Diz-se composta a causa de pedir "na

hipótese em que corresponde a uma pluralidade de fatos individuadores de uma

única pretensão". Se um dos elementos do suporte fático não estiver presente na

narrativa do autor (“in statu assertionis”) a causa de pedir não se completa e,

portanto, a petição não pode ser admitida".

ATENÇÃO

É possível ao magistrado alterar a fundamentação jurídica eleita pelo autor para a estruturação de sua

causa (mas não pode alterar os fatos). Igualmente é possível ao autor alterar a fundamentação jurídica desde

que mantenha os fatos.

Contudo, em atenção à nova dimensão do contraditório (arts. 9º e 10)! A alteração da fundamentação

jurídica somente poderá ser efetivada com a prévia oitiva das partes.

4.4 PEDIDO

4.4.1 CONCEITO

Para Marcus Vinícius9, pedido “é pretensão que o autor leva à apreciação do juiz. . É desnecessário

realçar a sua importância, já que, sendo um dos três elementos da ação, forma, com a causa de pedir e as

partes, o núcleo central da petição inicial”.

O pedido de improcedência da ação se enquadra nesse conceito? O pedido de improcedência da

causa seria um pedido no sentido formal, mas não no sentido material. No entanto, se o réu formula, por

exemplo, pedido quando da reconvenção, da denunciação da lide ou pedido contraposto, ele pode, em

algumas situações, assumir a posição ativa. Frise-se que, em regra, ele apenas resiste, ele não quer pedir, mas

sim impedir. (“A tutela do réu se satisfaz quando o jogo acaba zero a zero” – AMARAL SANTOS).

8
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil, vol. 1. 21ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019, p. 644-645.
9
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 469.

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4.4.2 CLASSIFICAÇÃO

Os pedidos podem ser classificados como:

a) Imediato: o tipo de provimento jurisdicional (condenatório, constitutivo, declaratório); e

b) Mediato: bem da vida almejado.

Há ainda outra classificação:

a) Material: direito; ou

b) Processual: a exemplo de uma rescisória, Mandado de Segurança, Impugnação ao valor da causa,

Impedimento/suspeição.

4.4.3 LIDE PROJETADA E LIDE SOCIOLÓGICA

Como cunhado de forma célebre por Francesco Carnelutti, trata-se a lide de um “conflito de interesses

qualificado por uma pretensão resistida.” Este seria o conceito de “lide sociológica”, no qual há uma solução no

mundo dos fatos que deve ser resolvida e, para tanto, uma das partes socorre-se ao Poder Judiciário (ou outro

terceiro agente).

Porém, o nosso Código de Processo Civil, ao determinar no art. 141 que “o juiz decidirá o mérito nos

limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei

exige iniciativa da parte”, concluiu a doutrina majoritária que o Brasil adotou a denominada “lide projetada” (ou

lide processual), cunhada por Liebman, em detrimento da lide sociológica. Isso porque, ao vincular a decisão do

magistrado aos elementos trazidos nos autos, as partes trarão para dentro do processo apenas um recorte da

realidade onde o conflito se originou, o que pode resultar em um julgamento que não vislumbra todo o

panorama tal qual se dá. Por isso se diz lide projetada: as partes projetam aos autos uma “pintura” de como é a

situação que deve ser resolvida, tal qual é a sua visão da realidade.

4.4.4 FORMALIZAÇÃO DO PEDIDO

A primeira grande novidade no CPC/15 quanto ao tema é que o pedido deve ser certo e

determinado.

A primeira determinação - pedido certo (art. 322, caput) - diz respeito à necessidade de pedido

expresso, explícito. Todavia, temos aqui uma exceção, na qual será possível um pedido implícito.

➔ PEDIDO IMPLÍCITO: é aquele que não precisa ser pedido para que seja apreciado (ex: juros,

correção monetária, honorários advocatícios). Neste ponto, importante saber o teor das

súmulas destacadas abaixo que, apesar de antigas, permanecem válidas:

PETIÇÃO INICIAL - 9
◆ Súmula 254, STF: Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o

pedido inicial ou a condenação.

◆ Súmula 256, STF: É dispensável pedido expresso para condenação do réu em

honorários, com fundamento nos arts. 63 ou 64 do CPC10.

Prosseguindo, segundo o professor Elpídio Donizetti, “o pedido também deve ser determinado, mas

o art. 324, § 1º, permite a formulação de pedido genérico, isto é, pedido certo quanto à existência, quanto ao

gênero, mas ainda não individuado no que respeita à quantidade, nas seguintes hipóteses11:

“a) Nas ações universais, se não puder o autor individuar os bens demandados. Refere-se à

universalidade de fato ou de direito. O rebanho e a biblioteca são universalidades de fato. A herança é uma

universalidade de direito”12:.

“b) Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato. É o que

ocorre quando se formula pedido de perdas e danos sem determinar o valor do pedido. Sabe-se o an debeatur

(o que é devido), mas não o quantum debeatur (o quanto é devido). Nesses casos, o autor pleiteia a reparação,

mas a extensão dos danos somente se verifica no decorrer da instrução processual ou na fase de liquidação de

sentença”13

“c) Quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo

réu. É o que ocorre nas obrigações de fazer, quando o autor opta pela indenização em razão do

descumprimento da avença. Esclarece-se que, nesse caso, a obrigação se converte em perdas e danos por ter

natureza infungível e não ser possível o seu cumprimento de outro modo”’.14:

4.4.5 PROCEDIMENTOS

No âmbito do procedimento comum sumaríssimo, Juizados Especiais Cíveis, a sentença será

sempre líquida, por expressa disposição legal:

Lei nº 9.099/95. Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz,

com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o

relatório.

Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida,

ainda que genérico o pedido.

10
O texto da súmula refere-se ao disposto no CPC/1939, mas a sua ratio permanece a mesma até os dias de hoje, sendo aplicável também ao
CPC/2015.
11
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 485.
12
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 485.
13
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 485.
14
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 485.

PETIÇÃO INICIAL - 10
Continuando, no procedimento comum ordinário, as modalidades de pedido genérico são:

1) Ações universais: quando o autor não souber a universalidade de bens que compõem o seu direito

(exemplo: inventário).

2) Ato ou fato ilícito indeterminado: quando o autor não puder mensurar a extensão do ato ilícito

praticado pelo réu.

ATENÇÃO: Aparente antinomia entre o art. 292, V e art. 324, §1º, II do CPC:

Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:

(...)

V - Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido

Art. 324. O pedido deve ser determinado.

(...)

§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:

(...)

II- Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do

fato.

Essa antinomia se resolve no aspecto temporal:

i) Se o dano já foi consumado, o pedido deve ser determinado (art. 292, V);

ii) Se o dano for continuado, o pedido será genérico (art. 324, §1º).

3) Depender de um ato a ser praticado pelo réu: como exemplo, temos aqui a ação de exigir

contas. Nessas ações, o valor devido depende da conduta praticada pelo réu.

4.4.6 MODALIDADES DE PEDIDOS

Em uma classificação tradicional, o pedido pode ser unitário (ou simples), cumulado (cumulação

própria e a imprópria) e especiais.

PETIÇÃO INICIAL - 11
Nossa atenção deve recair principalmente nos pedidos cumulados e pedidos especiais, tendo em vista

que os pedidos simples, por não apresentarem grandes dificuldades e não são objeto de muitos

questionamentos nas provas de concursos.

a) PEDIDOS CUMULADOS: O autor formula diversos pedidos para obter diversas pretensões.

➔ PEDIDOS CUMULADOS PRÓPRIOS:

a.1) Pedidos cumulados próprios simples: ocorre quando o autor formula contra o mesmo réu,

duas ou mais pretensões, para que o juiz aprecie todas, hipótese na qual os pedidos são autônomos entre si. É

possível também que sejam formulados contra pessoas diversas. Nesse sentido: STJ, REsp 243.674 – 2003).

● Quais são os requisitos para essa cumulação?

○ COMPATIBILIDADE: São pedidos que não se excluem mutuamente, ainda que entre

eles não haja conexão (art. 55, §3º, CPC – conexão sem conexão: Ver material de

competência).

○ COMPETÊNCIA: O juízo deve ser competente para apreciar todos os pedidos

formulados. Cuidado: Essa regra é direcionada para a competência absoluta

(enunciado 289, FPPC). E em caso de vara única? Aí, meus caros, mesmo assim não

PETIÇÃO INICIAL - 12
será possível cumular no caso de competência absoluta (em razão da matéria), ou seja,

será necessário mais de uma ação embora para o mesmo juízo.

○ MESMO PROCEDIMENTO: Os procedimentos devem ser os mesmos. Não sendo,

aceita-se a cumulação se todos puderem empregar o procedimento comum, sem

prejuízo de se manter as características do procedimento especial (art. 327, §2º).

a.2) Pedidos cumulados próprios sucessivos: nessa modalidade, o pedido sucessivo somente será

apreciado se acolhido o pedido principal (prejudicialidade). Como exemplo temos: investigação de paternidade

com alimentos; rescisão do contrato com perdas e danos; e rescisória.

➔ PEDIDOS CUMULADOS IMPRÓPRIOS: o autor formula diversos pedidos para obter apenas uma

pretensão. É imprópria a cumulação porque ela é impropriamente aferida.

a.1) Pedidos cumulados impróprios alternativos: essa modalidade permite duas situações distintas:

● Por manifestação de vontade: ocorre quando o réu tem, à sua disposição, duas ou mais maneiras de

cumprir a obrigação (arts. 325 e 326, parágrafo único, ambos do CPC).

Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor

puder cumprir a prestação de mais de um modo.

Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o

juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda

que o autor não tenha formulado pedido alternativo.

Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o

juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior.

Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o

juiz acolha um deles.

● Pelo direito material: nessa hipótese, imagine que no plano do direito material, entre o credor e

devedor, ficou estabelecido no contrato que o devedor poderia cumprir a obrigação do jeito A ou do

jeito B. Imagine que o devedor não cumpriu de nenhum dos modos possíveis. Quando do ingresso em

juízo, o autor exigiu o cumprimento apenas do modo B. O réu poderia, nesse caso, cumprir a

PETIÇÃO INICIAL - 13
obrigação do jeito A? A resposta é sim. Se o direito material permite obrigações alternativas, o réu

poderá cumprir de qualquer uma das formas, ainda que o autor, ao ingressar no judiciário, tenha

pleiteado somente uma delas (art. 325, parágrafo único, do CPC/15 e art. 252, do CC/02).

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não

se estipulou.

a.2) Pedidos cumulados impróprios subsidiários: há uma escala de interesses entre os pedidos.

Assim, somente será apreciado o pedido subsidiário se negado o principal. Há interesse recursal do autor em

pedir no Tribunal o pedido principal quando o juiz lhe concedeu apenas o subsidiário. Neste sentido:

Enunciado 288 do FPPC: Quando acolhido o pedido subsidiário, o autor tem interesse

de recorrer em relação ao principal.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMULAÇÃO (IMPRÓPRIA) SUBSIDIÁRIA

DE PEDIDOS. EXISTÊNCIA DE ORDEM DE PREFERÊNCIA OU DE HIERARQUIA ENTRE

OS PEDIDOS. REJEIÇÃO DO PEDIDO PRINCIPAL (ANULAÇÃO DO DÉBITO).

ACOLHIMENTO DO PEDIDO SUBSIDIÁRIO (COMPENSAÇÃO). SUCUMBÊNCIA

RECÍPROCA. PRECEDENTE DA CORTES ESPECIAL/STJ. 1. A Corte Especial/STJ, ao

analisar os EREsp 616.918/MG (Rel. Min. Castro Meira, sessão ordinária de 2 de

agosto de 2010), firmou entendimento no sentido de que: 1) em se tratando de

cumulação alternativa, hipótese em que não há hierarquia entre os pedidos, que

são excludentes entre si, o acolhimento de qualquer deles satisfaz por completo

a pretensão do autor, não lhe ensejando interesse em recorrer, o que impõe que

os ônus sucumbenciais sejam suportados exclusivamente pelo réu; 2)

tratando-se de cumulação subsidiária de pedidos, caso em que há hierarquia

entre os pedidos, havendo rejeição do pedido principal e acolhimento do pedido

subsidiário, surge para o autor o interesse em recorrer da decisão, sendo que tal

circunstância evidencia que o autor sucumbiu em parte de sua pretensão, o que

impõe que ambas as partes suportem os ônus sucumbenciais (Informativo

441/STJ). 2. No caso concreto, a autora (ora recorrente) formulou três pedidos: 1) que

fosse "anulado in totum o auto de lançamento de nº 0015177017"; 2) "em não sendo

deferido o pedido anterior, seja reconhecido que não houve lesão aos cofres públicos,

retirando a cobrança do pagamento do ICMS e dos juros, haja vista que a autora não

deixou e nem deixaria de pagar o imposto, em virtude dos créditos que tinha e com os

PETIÇÃO INICIAL - 14
quais permanece"; 3) "não sendo acolhidos os pedidos anteriores, seja, ao menos,

reconhecido o direito da autora de compensar os créditos de ICMS que a mesma

possui junto ao Estado do Rio Grande do Sul com o 'débito' oriundo do auto de

lançamento de nº 0015177017". O Tribunal de origem, em sede de apelação e

reexame necessário, entendeu que a sentença "considerou válido o lançamento, mas

possibilitou a compensação do crédito, o que importa sucumbência recíproca,

conforme o pedido".3. Considerando que a autora (ora recorrente) estabeleceu ordem

de preferência ou de hierarquia entre os pedidos formulados, a rejeição do pedido

principal e o acolhimento do pedido subsidiário faz com que fique caracterizada a

sucumbência recíproca, como bem observou o Tribunal de origem. Além disso,

cumpre esclarecer que é manifesto o grau de superioridade satisfativa em relação ao

pedido principal, razão pela não há falar em decaimento de parte mínima do pedido

(art. 21, parágrafo único, do CPC). 4. Recurso especial não provido. (REsp n.

1.158.754/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em

24/8/2010, DJe de 30/9/2010.) (Grifou-se)

b) PEDIDO ESPECIAL

Pedido de prestações periódicas: Nas relações de trato sucessivo, o autor formulando a primeira

parcela, todas as demais serão concedidas de pleno direito. Constitui modalidade de pedido implícito.

➔ O professor Elpídio Donizetti15 traz ainda a seguinte espécie de pedido:

PEDIDO DE PRESTAÇÃO INDIVISÍVEL: regula o art. 328 o recebimento de prestação indivisível em

obrigação com pluralidade de credores.

ATENÇÃO

“Obrigação indivisível é aquela cuja prestação não comporta divisão, seja por sua natureza, por motivo

de ordem econômica ou em razão do próprio negócio (art. 258 do CC). Nesse caso, havendo pluralidade de

credores, qualquer um deles, individualmente, tem legitimidade e interesse para exigir o cumprimento da

obrigação por inteiro, já que, repita-se, ela não é suscetível de divisão.

Como a decisão precisa ser uniforme para todos os credores, mesmo aquele que não participou do

processo será atingido pelos efeitos da sentença, podendo levantar a sua parte, deduzidas as despesas na

proporção de seu crédito.

Vale lembrar que não há necessidade de formação de litisconsórcio, mas, se formado, ele será

facultativo e unitário.16”

15
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 489.
16
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 489.

PETIÇÃO INICIAL - 15
4.4.7 ALTERAÇÃO DO PEDIDO

O professor Elpídio Donizetti explica que, “completada a relação processual com a citação do réu,

estabilizam-se os elementos da causa (partes, pedido e causa de pedir), operando-se a litispendência, a

individualização da demanda, pelo que nenhuma alteração poderá ser levada a efeito sem o consentimento do

réu. Assim, até a citação, pode o autor alterar ou aditar o pedido ou a causa de pedir sem o consentimento do

réu. Se, no entanto, o ato citatório tiver sido realizado, o aditamento ou a alteração do pedido e da causa de

pedir dependerão do consentimento da parte contrária. Nesta última situação a manifestação do autor deve se

dar até o saneamento do processo”17. Em resumo:

ATENÇÃO: Essas regras também valem para a reconvenção.

4.5 VALOR DA CAUSA

Toda causa tem valor, mesmo que não haja conteúdo econômico aferível (arts. 291 e 319, V, CPC).

Qual deve ser o valor da causa? Segundo o professor Marcus Vinícius “ Deve corresponder ao

conteúdo econômico do que está sendo postulado, e não daquilo que é efetivamente devido18”

ATENÇÃO

“O juiz poderá determinar a redução equitativa do valor da causa, se verificar que, fixada em

montante excessivo, pode prejudicar o exercício de alguma faculdade processual pelo réu, que depende do

17
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 489.
18
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva,
2022. P. 470.

PETIÇÃO INICIAL - 16
recolhimento de custas calculadas com base no seu valor. É o que foi decidido pelo STJ – 3ª Turma, REsp

784.986, Rel. Min. Nancy Andrighi.19”

Os critérios para a fixação do valor da causa são fornecidos pelo art. 292 do CPC:

➔ Lembre-se, em regra, o valor da causa deve corresponder ao conteúdo econômico da

demanda. Naquelas que não tem conteúdo econômico, a fixação será feita por estimativa do

autor.

Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:

I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos

juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura

da ação;

II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a

modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o

de sua parte controvertida;

III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo

autor;

IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da

área ou do bem objeto do pedido;

V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;

VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos

valores de todos eles;

VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor;

VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.

§ 1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de

umas e outras.

§ 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a

obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se

por tempo inferior, será igual à soma das prestações.

§ 3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar

que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito

econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das

custas correspondentes.

19
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva,
2022. P. 470.

PETIÇÃO INICIAL - 17
Qual a importância de se atribuir o valor da causa? O professor Marcus Vinícius20 afirma que essa

atribuição terá grande relevância para o processo, e repercutirá sobre:

a) a competência, pois o valor da causa é critério para fixação do juízo;

b) o procedimento: pois influi, por exemplo, sobre o âmbito de atuação do juizado especial cível;

c) no cálculo das custas e do preparo, que podem ter por base o valor da causa;

d) nos recursos em execução fiscal, conforme a Lei n. 6.830/80;

e) na possibilidade de o inventário ser substituído por arrolamento sumário (CPC, art. 664, caput).

Considerando a importância do valor da causa, é possível que o réu discorde do valor estabelecido

pelo autor? A resposta é sim. O art. 293 do CPC autoriza o réu a impugnar o valor da causa, em preliminar de

contestação.

E se o réu não impugnar, o juiz, pode determinar a correção de ofício? A resposta também é positiva

nesse caso. Segundo o professor Marcus Vinícios, “o juiz, de ofício, poderá determinar a correção, tanto que o

art. 337, § 5º, estabelece que, dentre as matérias alegáveis em preliminar, o juiz só não pode conhecer de ofício

a convenção de arbitragem e a incompetência relativa. As demais, incluindo incorreção no valor da causa, ele

deve conhecer de ofício. O juiz deve fazer esse controle, pois o autor pode:

● ter desrespeitado algum dos critérios fixados em lei;

● ter atribuído valor à causa em montante incompatível com o conteúdo econômico da demanda, que

possa repercutir sobre a competência ou procedimento a ser observado”21.

4.6 PROVAS COM QUE O AUTOR PRETENDE DEMONSTRAR A VERDADE DOS FATOS ALEGADOS

É importante termos em mente de que é inviável que o autor saiba exatamente quais as provas que

ele precisará produzir, tendo em vista que terá de aguardar a manifestação do réu para dar direcionamento

adequado à estratégia que o levará a ter êxito no processo. Dessa forma, o mero protesto genérico de provas

não gera preclusão, pois a produção das provas se dará em momento oportuno. Neste sentido, decisão do

Supremo Tribunal Federal:

PROCESSUAL. EMBORA A IDENTIDADE DAS PARTES SE CONSTITUA EM PRESSUPOSTO

PROCESSUAL, VINDO A CONTESTAÇÃO A IMPUGNA-LA, EM RELAÇÃO AOS AUTORES,

20
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 470.
21
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 471.

PETIÇÃO INICIAL - 18
SUSTENTANDO NÃO POSSUIREM ELES LEGITIMIDADE PARA PROPO-LA POR SE TRATAR

DE PESSOAS DIVERSAS DAQUELAS QUE INTEGRAM A RELAÇÃO PROCESSUAL NA AÇÃO

QUE DEU MARGEM AO ACÓRDÃO RESCINDENDO, POR CERTO QUE PODERAO SER

PRODUZIDAS AS PROVAS, PRELIMINARMENTE, NA PROPRIA RESCISÓRIA PARA

DEMONSTRAR O DESCABIMENTO DA IMPUGNAÇÃO. AO PROTESTAREM OS AUTORES,

NA INICIAL, POR TODOS OS MEIOS DE PROVAS EM DIREITO PERMITIDO, SEGUIRAM

FORMA USUAL, PORQUANTO A PRECISA INDICAÇÃO DAS NECESSARIAS, MUITAS VEZES

SÓ E POSSIVEL APÓS A CONTESTAÇÃO, POIS ESTA ATÉ PODE ADMITIR COMO

VERDADEIROS TODOS OS FATOS ALEGADOS, DISPENSANDO-SE, ASSIM, A INSTRUÇÃO

PROBATORIA. INCABIVEL, DE PRONTO, A RECUSA EM QUE POSSA SER PRODUZIDA

PROVA TESTEMUNHAL PARA ELIMINAR DUVIDAS QUANTO A IDENTIDADE DOS

AUTORES, POIS A LEI NÃO A PROIBE. PODERA A QUE VIER A SER REALIZADA NÃO

CHEGAR A FORMAR CONVICÇÃO NO JUIZ, MAS NÃO E POSSIVEL RECUSA-LA "IN

LIMINE". (RE 78372, Relator(a): ALDIR PASSARINHO, Segunda Turma, julgado em

04/02/1983, DJ 20-05-1983 PP-07054 EMENT VOL-01295-01 PP-00215 RTJ

VOL-00106-01 PP-00157)

E também do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL - PROVA - MOMENTO DE PRODUÇÃO - AUTOR - PETIÇÃO INICIAL E

ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS - PRECLUSÃO.

- O requerimento de provas divide-se em duas fases: na primeira, vale o protesto

genérico para futura especificação probatória (CPC, Art. 282, VI); na segunda,

após a eventual contestação, o Juiz chama à especificação das provas, que será

guiada pelos pontos controvertidos na defesa (CPC, Art. 324).

- O silêncio da parte, em responder ao despacho de especificação de provas faz

precluir do direito à produção probatória, implicando desistência do pedido genérico

formulado na inicial.

(REsp n. 329.034/MG, relator Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma,

julgado em 14/2/2006, DJ de 20/3/2006, p. 263.) (Grifou-se)

Quando o tema é abordado nas provas, o examinador geralmente cobra a letra fria da lei. Assim, o

candidato deve ter domínio e conhecimento do próprio texto, sendo que dispositivos mais importantes são os

seguintes:

PETIÇÃO INICIAL - 19
Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à

propositura da ação.

Art. 434. Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os

documentos destinados a provar suas alegações.

Parágrafo único. Quando o documento consistir em reprodução cinematográfica ou

fonográfica, a parte deverá trazê-lo nos termos do caput, mas sua exposição será

realizada em audiência, intimando-se previamente as partes.

Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos,

quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para

contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.

Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos formados

após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se tornaram conhecidos,

acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo à parte que os produzir

comprovar o motivo que a impediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz,

em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com o art. 5º.

4.7 MANIFESTAÇÃO QUANTO AO INTERESSE NA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

Nos termos do art. 319, VII, do CPC, cabe ao autor indicar na sua petição inicial seu interesse quanto à

realização ou não da audiência inaugural de conciliação ou de mediação.

Quanto ao tema, importante a lição de Daniel Amorim Assumpção Neves22:

“Entendo que não havendo qualquer manifestação de vontade do autor, em

descumprimento ao previsto no inciso ora analisado, não é caso de irregularidade da

petição inicial e tampouco de hipótese de emenda à petição inicial. A realização de

audiência de conciliação e de mediação é o procedimento regular, cabendo às partes

se manifestarem contra sua realização, de forma que sendo omissa a petição inicial,

compreende-se que o autor não se recusa a participar da audiência, que assim sendo

será regularmente realizada.”

Ademais, neste ponto é importante a leitura atenta do art. 334 do CPC, haja vista a cobrança nas

provas ser basicamente o texto de lei. Vejamos:

22
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - Volume único, 11ª ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 594.

PETIÇÃO INICIAL - 20
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de

improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de

mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu

com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

§ 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência

de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as

disposições da lei de organização judiciária.

§ 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não

podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde

que necessárias à composição das partes.

§ 3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.

§ 4º A audiência não será realizada:

I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição

consensual;

II - quando não se admitir a autocomposição.

§ 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição,

e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência,

contados da data da audiência.

§ 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser

manifestado por todos os litisconsortes.

§ 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico,

nos termos da lei.

§ 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de

conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado

com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da

causa, revertida em favor da União ou do Estado.

§ 9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores

públicos.

§ 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica,

com poderes para negociar e transigir.

§ 11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.

§ 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de

modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o

início da seguinte.

PETIÇÃO INICIAL - 21
O que se deve saber é que agora o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação ou

mediação.

Vejamos alguns pontos importantes:

1) Em regra, não será presidida por um juiz: Devendo ser dirigida por um conciliador (atua nas

causas sem prévio vínculo e sua conduta é mais ativa) ou mediador (atua nas causas com prévio vínculo e sua

conduta é mais passiva).

2) É obrigatória: O não comparecimento é considerado ato atentatório à dignidade da justiça

e acarreta no pagamento de multa de até 2% sobre o proveito econômico da causa.

3) Exclusões (hipóteses em que o ato não será realizado):

a) Quando houver incompatibilidade procedimental;

b) Quando o direito não admitir autocomposição;

c) Quando ambas as partes recusarem: O autor na petição inicial e o réu até 10 dias antes da

audiência.

4) Pode ser realizada por meio eletrônico;

5) É possível a realização de mais de uma audiência com finalidade conciliatória, desde que

com aprazamento de, no máximo, 2 meses entre cada uma.

5. CONTROLE DE ADMISSIBILIDADE DA PETIÇÃO INICIAL


​“Proposta a ação, cabe ao juiz exercer a cognição preliminar acerca dos pressupostos e dos requisitos

processuais, bem como da existência de eventuais circunstâncias que possibilitem a resolução liminar do

mérito. Nessa etapa procedimental, que medeia a postulação do autor e eventual resposta (postulação) do réu,

o juiz, em geral, emite provimento positivo, determinando a citação. Pode, entretanto, emitir provimento

negativo do direito de ação ou mesmo do direito material veiculado na ação23.”

​Em resumo,o magistrado, diante da petição inicial, deve adotar uma das seguintes posturas:

Petição inicial em ordem. Não é atividade preclusiva, pois a verificação da

petição inicial é matéria de ordem pública (Arts. 337, §5º e Art. 485, §3º,

CITAR CPC).

Art. 250, II

23
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 489.

PETIÇÃO INICIAL - 22
“Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos

exigidos nos arts. 319 e 320, ou que apresenta defeitos e irregularidades

capazes de dificultar a resolução de mérito, determinará que o autor a

emende, ou a complete, no prazo de quinze dias (art. 321, caput).24

➔ Expressão do princípio da cooperação e do dever de

esclarecimento destinado ao julgador.

EMENDAR OU ADITAR
➔ “A jurisprudência considera que esse prazo para a emenda da
Art. 321, CPC
petição inicial tem natureza dilatória, e não peremptória. Isso

quer dizer que pode ser reduzido ou ampliado por convenção

das partes ou deliberação judicial (REsp Repetitivo 1.133.689/PE,

Rel. Min. Massami Uyeda, j. 28.03.2012, DJe 18.05.2012). Também

com base nesse argumento – natureza dilatória do prazo – já se

admitiu a realização de emenda a destempo, desde que antes da

decisão terminativa”25

ATENÇÃO: O Art. 330 tem que ser lido a partir do princípio da cooperação

e primazia do mérito.
INDEFERIR
Assim, se o vício da petição inicial for sanável, haverá prazo para
Art. 330, CPC
regularização, caso contrário, extinção do processo sem mérito.

Poderá o juiz, antes de citar o réu, proferir sentença de improcedência

liminar se:
JULGAMENTO LIMINAR

DE IMPROCEDÊNCIA
a) Não houver outras provas a serem produzidas e
Art. 332, CPC
b) 1-houver prescrição/decadência ou 2-a tese da petição inicial

contrariar precedentes vinculantes (Art. 927, CPC).

24
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 490.
25
Donizetti, Elpídio. Curso de Direito Processual Civil. Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (25th edição). Grupo GEN, 2022. p. 490.

PETIÇÃO INICIAL - 23

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