Você está na página 1de 35

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE DIREITO

Isabela Arantes Mota

Monografia:
Sentença e Coisa Julgada

Goiânia
2023
Isabela Arantes Mota

Monografia:
Sentença e Coisa Julgada

Trabalho de Monografia para a conclusão da matéria


de Direito Processual Civil II (FAD0072), lecionada
pelo professor Flávio Buonaduce Borges, a respeito
do tema “Sentença e Coisa Julgada”.

Goiânia
2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1
2 SENTENÇA 1
2.1 Definição 1
2.2 Sentença Terminativa 2
2.2.1 Indeferimento inicial 4
2.2.2 Ausência de pressupostos processuais 5
2.2.3 Perempção 5
2.2.4 Perda do Objeto 5
2.2.5 Desistência da ação 6
2.2.6 Intransmissibilidade da ação 7
2.2.7 Abandono da causa 7
2.2.8 Litispendência e coisa julgada 8
2.2.9 Condições da ação 8
2.2.10 Convenção de arbitragem 9
2.2.11 Confusão entre autor e réu 10
2.3 Saneamento do processo quando o defeito for suprível 10
2.4 Juízo de retratação 11
2.5 Extinção do processo com resolução de mérito 11
2.5.1 Acolhimento ou rejeição do pedido 12
2.5.2 A prescrição e os diversos tipos de ação 12
2.5.3 Reconhecimento da procedência do pedido pelo réu 13
2.6 Sentença definitiva 13
2.7 Sentença terminativa 14
3. ESTRUTURA DA SENTENÇA 14
3.1 Conteúdo da sentença 14
3.2 Relatório 15
3.3 Motivação 15
3.4 Dispositivo da sentença 16
3.5 Sentença condenatória ilíquida 16
3.6 Publicação, interpretação, correção e nulidade 17
3.6.1 Publicação e intimação 17
3.6.2 Correção 18
3.6.3 Nulidade 18
3.6.4 Interpretação 19
3.7 Classificação das sentenças 20
3.7.1 Sentenças declaratórias 20
3.7.2 Sentenças condenatórias 20
3.7.3 Sentenças constitutivas 21
3.7.4 Momento de eficácia e multiplicidade de efeitos da sentença 21
3.8 Efeitos da sentença 22
3.8.1 Conceito 22
3.8.2 Classificação quanto aos efeitos 22
3.8.3 Duplo grau de jurisdição 23
3.8.4 Julgamento e exclusão da remessa necessária 24
4 COISA JULGADA 26
4.1 Conceito 26
4.2 Total e Parcial 26
4.3 Formal e Material 27
4.4 Preclusão 28
4.5 Limites da coisa julgada 29
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 29
REFERÊNCIAS 30
1

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar conceitualmente a Sentença


e a Coisa Julgada, assim como detalhar suas principais características e as
inovações do Código de Processo Civil de 2015 sobre esse assunto.
Conforme o novo Código, “Sentença” é a manifestação através da qual o
juiz, fundamentado nos artigos 485 e 487 do NCPC, conclui a etapa de
conhecimento do procedimento comum, além de encerrar a execução (Art. 201, §1).
Em outras palavras, é tanto o ato que finaliza o processo sem resolver a questão de
mérito quanto aquele que resolve o mérito da causa. A sentença busca encerrar a
relação processual em andamento e pode ser classificada como: 1) Com resolução
de mérito ou definitiva (Art. 487) – estas sentenças decidem a questão central da
causa, total ou parcialmente, fornecendo à parte a resposta jurisdicional solicitada e,
assim, extinguindo o direito de ação quanto ao ponto específico em disputa; ou 2)
Sem resolução de mérito ou terminativas (Art. 485) – finalizam o processo sem,
contudo, abordar o mérito da questão. Correspondem aos casos de extinção
delineados no artigo 485, representando o reconhecimento da inadequação da tutela
jurisdicional nos termos buscados pela parte. O direito de ação permanece latente,
mesmo após a prolação da sentença.
A coisa julgada, por sua vez, representa a autoridade que confere à decisão
de mérito um caráter imutável e incontestável, tornando-a insuscetível de recurso
adicional (Art. 502). Além disso, a coisa julgada assegura a estabilidade de uma
relação jurídica submetida à análise do Poder Judiciário. Isso tem o efeito de
prevenir a persistência de incertezas no âmbito jurídico, garantindo ao indivíduo que
a decisão final emitida para sua controvérsia será final, sem possibilidade de
reexame, alteração ou desconsideração. A coisa julgada pode assumir natureza
formal ou material.

2. SENTENÇA

2.1 Definição

No sistema jurídico, o indivíduo em disputa tem o direito de recorrer ao


tribunal, e é dever do Estado resolver o conflito por meio de uma sentença. No
2

processo de conhecimento, a sentença desempenha essa função estatal. Emitida


como parte das obrigações do Estado na relação processual iniciada pelas partes.
Contudo, em algumas situações, as condições legais podem não ser
plenamente atendidas, levando o juiz a encerrar o processo sem resolver o cerne da
disputa que originou a ação.
Na fase de execução, a sentença assume um papel puramente processual,
encerrando o procedimento sem tratar do mérito. O juiz reconhece que não há mais
medidas a serem tomadas e declara o encerramento do processo.
O novo Código considera a sentença como o pronunciamento que encerra a
etapa cognitiva do procedimento, independentemente de resolver o mérito. As
sentenças são divididas em terminativas (que encerram o processo sem resolver o
mérito) e definitivas (que decidem total ou parcialmente o mérito), com implicações
legais distintas.
As sentenças definitivas têm autoridade de coisa julgada material, enquanto
as terminativas não impedem futuras contestações. A sentença de mérito também
pode resultar em hipoteca judicial.
Apesar de enfatizar o papel da sentença no encerramento do processo, a
relação processual só termina com a coisa julgada formal. Com a sentença, a função
do órgão jurisdicional perante o processo é concluída, uma vez que seu objetivo é
resolver as pretensões das partes. Após a publicação da sentença, sua decisão não
pode mais ser modificada.

2.2 Sentença Terminativa

A extinção do processo sem decidir sobre o mérito acontece quando o juiz


encerra o procedimento sem dar uma resposta clara ao pedido do autor. Isso ocorre
quando a tutela jurisdicional não é possível devido às circunstâncias do caso.
A rejeição da prestação jurisdicional e a consequente extinção do processo
podem ocorrer em diferentes momentos do processo: 1) Logo após a apresentação
da ação, através do indeferimento da petição inicial (art. 485, inciso I); 2) Durante a
etapa de organização do processo, por meio de uma sentença que reconhece
preliminares do art. 485 no julgamento conforme o estado do processo (art. 354); 3)
Na sentença final do procedimento (art. 366); 4) A qualquer momento do processo,
quando o autor abandona a causa ou há outros obstáculos para a continuidade do
3

processo, como o compromisso arbitral ou a desistência da ação (art. 485, parágrafo


3).
De acordo com o art. 485, esses são os casos que resultam na extinção do
processo sem abordar o mérito:

a) Rejeição da petição inicial (inciso I).


b) Paralisação negligente das partes por mais de um ano (inciso II).
c) Abandono da causa pelo autor por mais de trinta dias (inciso III).
d) Ausência dos requisitos adequados para o processo (inciso IV).
e) Aceitação das alegações de perempção, litispendência ou coisa julgada
(inciso V).
f) Falta de legitimidade das partes ou interesse processual (condições da
ação) (inciso VI).
g) Aceitação das alegações de convenção de arbitragem ou
reconhecimento de competência do tribunal arbitral (inciso VII).
h) Desistência da ação (inciso VIII).
i) Impossibilidade de transferir a ação (inciso IX), por exemplo, em caso de
morte da parte.
j) Outros casos definidos no Código (inciso X), como os mencionados nos
artigos 76, § 1º, I; 115, parágrafo único; 313, § 3º, entre outros.

A seguir, exploraremos cada uma dessas situações de encerramento do


processo.

2.2.1 Indeferimento Inicial

A rejeição da petição inicial ocorre nos casos do artigo 330 do Novo Código
de Processo Civil, como mencionado anteriormente (número 564).
É fundamental notar que a aprovação da petição inicial é uma decisão
simples e não gera um impedimento definitivo. Mesmo após a defesa ser
apresentada, o juiz pode revisar a situação. Se a petição inicial for inadequada, o
juiz pode encerrar o processo.
O abandono da causa ocorre quando as partes não cumprem suas
obrigações processuais, levando à interrupção do processo e presumindo
4

desistência de buscar a tutela jurisdicional. A extinção do processo pode ser iniciada


pela parte, pelo Ministério Público ou pelo juiz, exceto quando há abandono pelo
autor. Se o autor permanecer inerte após a intimação, a sentença de extinção do
processo pode ser emitida após tentativa de intimação pessoal.
As partes negligentes compartilham as custas proporcionalmente e não há
condenação de honorários advocatícios. Se apenas o autor abandonar a causa, ele
arcará com as despesas e honorários.
O juiz, sob o sistema de impulso oficial do processo, não precisa esperar por
solicitação para encerrar a relação processual abandonada. O juiz deve intimar as
partes pessoalmente, e a extinção pode ocorrer sem pedido do interessado ou do
Ministério Público.
No caso de abandono pelo autor e o réu não estiver revel, o juiz pode
decretar a extinção se o réu solicitar. Isso ocorre porque o réu também tem interesse
legítimo na resolução da disputa. O juiz só pode decretar a extinção sem decisão
sobre o mérito quando ambas as partes indicarem desinteresse total pela causa.

2.2.2 Ausência de pressupostos processuais

O processo é uma relação jurídica que exige requisitos para sua validade,
divididos em subjetivos (envolvendo juiz e partes) e objetivos (relativos à
regularidade dos atos processuais). Requisitos subjetivos incluem competência do
juiz, capacidade legal das partes e representação por advogado. Requisitos
objetivos envolvem a forma do procedimento e a ausência de impedimentos.
A falta de requisito pode levar ao indeferimento da petição inicial, podendo
ser analisada durante o processo, desde a fase de saneamento até o julgamento
final. Pressupostos processuais garantem a legitimidade da jurisdição e podem ser
revisados em qualquer momento, antes de uma decisão final.
Além dos requisitos iniciais, eventos posteriores podem levar à ausência de
requisito de continuidade. Por exemplo, a perda de capacidade de uma parte ou falta
de substituição de advogado pode resultar na extinção do processo, assim como a
renúncia de mandato do advogado do autor sem substituição adequada.
5

2.2.3 Perempção

A extinção do processo devido ao abandono da causa não impede que o


autor apresente a mesma ação novamente. No entanto, se houver três extinções por
abandono, ocorre a perempção, que impede a nova ação. A perempção não impede
que o autor alegue seu direito em sua defesa caso a outra parte inicie um novo
processo sobre o mesmo assunto.
Litispendência e coisa julgada não permitem tratar a mesma disputa
simultaneamente em múltiplos processos. Se houver identidade de partes, objeto e
base da ação entre dois processos, o segundo deve ser encerrado sem análise do
mérito. O juiz pode encerrar o segundo processo por iniciativa própria ou a pedido
das partes. A litispendência e a coisa julgada impedem o autor de intentar a mesma
ação novamente, sendo comparável à coisa julgada material.
A litispendência afeta menos a competência do juiz do segundo caso e é
vista como uma condição objetiva de improcedência. O juiz do segundo processo
pode analisar o primeiro caso para determinar se é possível contornar a
improcedência. A litispendência e coisa julgada não ocorrem entre casos movidos no
país e no exterior, exceto em casos de sentença estrangeira homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça.

2.2.4 Perda do objeto

A perda de objeto é usada para encerrar um processo ou recurso quando


um evento subsequente torna a questão pendente irrelevante, como pagamento da
dívida antes da sentença ou sucesso em outra ação. A perda ocorre quando a parte
não precisa mais da medida processual. Não ocorre apenas com a decisão definitiva
sobre o mérito, mas quando a parte não obtém mais utilidade da medida. O juiz
considera a perda de objeto conforme a condição do interesse. A extinção ocorre
sem análise do mérito, mas pode incluir custas e honorários advocatícios.

2.2.5 Desistência da ação

A desistência da ação implica que o autor desiste do processo, sem afetar


seu direito material em relação ao réu. Isso encerra o processo sem resolver o
6

mérito e não impede o autor de reabrir a mesma ação no futuro. A coisa julgada não
se aplica nesse cenário. A desistência é unilateral antes da resposta do réu, mas
após essa fase, se o réu respondeu, requer o consentimento dele. Contudo, a
recusa do réu deve ser justificada de maneira razoável para evitar o uso indevido do
direito processual.
Assim como o autor não pode iniciar um processo sem interesse em buscar
justiça, o réu também não pode insistir no processo após a desistência do autor, a
menos que tenha interesse no mérito. Se o prazo de defesa expirou e o réu
permanece inerte (revel), o consentimento dele para a desistência do autor não é
necessário, especialmente se o réu não está representado.
Se o autor pode abandonar a causa de forma tácita e unilateral, levando à
extinção do processo, o réu revel também pode expressamente desistir da ação,
sem ouvir o réu, que demonstrou pouco interesse no caso.
A desistência da ação é limitada até a sentença; não é possível durante
apelações ou recursos posteriores. Se o autor estiver em fase de recurso, pode
desistir do recurso, mas não da ação, evitando anulação da decisão de mérito. A
desistência, seja unilateral ou bilateral, é efetiva após homologação por sentença.
Isso ocorre porque o juiz não pode ser alheio ao encerramento do processo,
envolvendo os atos jurisdicionais da desistência e homologação.

2.2.6 Intransmissibilidade da ação

A impossibilidade de transferência da ação, como fator que impede a


continuidade da relação processual, está intrinsecamente ligada à controvérsia do
direito material em questão. Esse fenômeno deriva da natureza do direito (sendo
pessoal e intransferível) ou de uma proibição explícita na lei quanto à transferência
do direito subjetivo. Quando o detentor do direito intransmissível falece, o próprio
direito se extingue junto com a pessoa titular. Não ocorre nenhuma forma de
sucessão, seja de fato ou de direito. Isso ocorre, por exemplo, nas situações de
ação de divórcio e de alimentos. Quando uma das partes falece durante um
processo desse tipo, a causa deve ser encerrada, sem chegar a uma decisão sobre
o mérito, devido à dissolução automática da relação processual. Sem a participação
de ambos os sujeitos, a relação processual não tem sustentação e,
consequentemente, não pode prosseguir.
7

2.2.7 Abandono da causa

A inércia das partes diante das responsabilidades e obrigações processuais,


levando à paralisação do processo, é interpretada como uma possível renúncia à
busca pela tutela jurisdicional. Isso equivale à perda do interesse, que é fundamental
para o exercício adequado do direito de ação.
A desistência presumida ocorre legalmente quando ambas as partes deixam
o processo parado por mais de um ano devido à negligência, ou quando o autor não
realiza os atos necessários ou diligências, abandonando a causa por mais de trinta
dias.
Essa extinção pode ocorrer por iniciativa da parte, do Ministério Público ou
por decisão do juiz. Exceto no caso de abandono pelo autor, onde mesmo após ser
intimado ele permanece inerte, o juiz pode decretar a extinção de ofício. No entanto,
antes disso, após os prazos previstos, o juiz deve intimar a parte pessoalmente para
que ela possa dar andamento ao processo. Somente depois dessa tentativa é que,
se a inércia persistir, a sentença de extinção do processo será emitida, seguida pelo
arquivamento dos autos.
A intimação pessoal visa evitar a extinção nos casos em que a negligência é
do advogado, não da parte em si. No entanto, existe uma divergência sobre a
necessidade dessa intimação em certos casos.
A extinção por negligência mútua das partes resultará em rateio proporcional
das custas entre elas e nenhuma condenação em honorários advocatícios. Já no
caso de abandono pelo autor, ele será condenado nas despesas e honorários.
Devido ao sistema de impulso oficial do processo, o juiz não precisa esperar
pela solicitação das partes para extinguir a relação processual abandonada. Ele
pode, de ofício, determinar a intimação pessoal da parte e, se a negligência persistir,
decretar a extinção sem necessidade de solicitação.
Em situações em que o abandono é do autor e o réu não está revel, o juiz só
pode decretar a extinção a pedido do réu. Isso ocorre porque o réu também tem
interesse na resolução da lide por meio de uma sentença de mérito e, portanto, pode
tomar medidas para evitar a paralisação do processo. Somente quando ambos os
8

litigantes demonstrarem total desinteresse pela causa é que o juiz pode decretar a
extinção do processo sem julgamento de mérito.

2.2.8 Litispendência e coisa julgada

No âmbito do direito processual, não é permitido que uma mesma disputa


seja tratada em mais de um processo simultaneamente (conforme discutido nos
números 402 e 600), nem que a mesma questão seja reaberta após o encerramento
definitivo do processo (ver números 600, 796 e 800). Se a existência de
litispendência ou coisa julgada for demonstrada entre dois processos, o segundo
processo deverá ser extinto sem análise do mérito.
Essa extinção pode ser decretada de ofício ou a pedido de uma das partes
(conforme o Art. 485, § 3º do NCPC), e, apesar de não ser uma sentença de mérito,
possui o mesmo peso da coisa julgada material (Art. 502).
No que se refere à litispendência, é compreendido pela doutrina como uma
condição objetiva de improcedibilidade que não afeta a competência do juiz na
segunda ação. A litispendência tem menos impacto que a coisa julgada e permite ao
juiz do segundo processo examinar os detalhes do primeiro caso, a fim de avaliar a
possibilidade de afastar a improcedibilidade, como nos casos de nulidade da citação
ou de extinção do processo anterior sem julgamento de mérito.
Além disso, a litispendência é um fenômeno relacionado à competência
interna e não ocorre entre casos movidos no país e no exterior. O mesmo se aplica à
coisa julgada. Exceto quando uma sentença estrangeira é homologada pelo Superior
Tribunal de Justiça, é possível alegar exceção de coisa julgada perante a justiça
nacional (para mais detalhes sobre esse tema, consultar o volume III).

2.2.9 Condições da ação

O direito de ação é o direito público subjetivo à intervenção do Estado para


resolver disputas. No entanto, o autor precisa cumprir certas condições para que o
juiz possa avaliar seu pedido de solução para a controvérsia (sentença de mérito).
Essas são chamadas de condições da ação e são distintas dos pressupostos
processuais, que se referem à validade da relação processual.
9

O trinômio que o juiz avalia, sequencialmente, é composto pelos


pressupostos processuais, condições da ação e mérito. As condições da ação ficam
entre o mérito e os pressupostos processuais.

As condições da ação, de acordo com o novo Código, incluem:


a) Legitimidade da parte para a causa;
b) Interesse jurídico na tutela jurisdicional.

A falta de uma condição da ação resulta na declaração de carência de ação,


que não gera coisa julgada material e permite que a parte proponha novamente a
ação após corrigir o defeito.
A declaração de carência de ação pode ocorrer por iniciativa da parte ou do
juiz. As condições da ação podem ser examinadas a qualquer momento antes da
sentença de mérito, não estando sujeitas à preclusão, exceto em casos de sentença
de mérito proferida ou questão decidida em grau recursal.
Além disso, as condições da ação devem existir no momento do julgamento
do mérito, não apenas no início do processo. Se as condições existirem no início,
mas desaparecerem até a sentença, o processo será extinto por carência de ação,
sem análise do mérito. Por outro lado, se alguma condição estiver ausente no início,
mas for suprida antes da declaração de carência, o processo poderá prosseguir para
julgamento de mérito.
Resumindo, as condições da ação devem ser atendidas tanto no início do
processo quanto no momento do julgamento da causa.

2.2.10 Convenção de arbitragem

A cláusula compromissória e o compromisso arbitral são formas da


"convenção de arbitragem", definida pela Lei 9.307/1966. O art. 485, VII, do NCPC
estabelece que essa convenção tem o poder de extinguir o processo sem resolução
de mérito.
Originalmente, a cláusula compromissória não impedia o acesso à jurisdição,
mas com a nova lei de arbitragem (Lei 9.307), a presença dessa cláusula entre as
partes exclui a possibilidade de recorrer ao Judiciário. Isso a torna um obstáculo ao
10

direito de ação, levando à carência da ação por falta da condição de possibilidade


jurídica ou do interesse de agir (art. 17).
Se a convenção de arbitragem existir antes do processo, impede sua
instauração. Se for posterior, resulta na extinção imediata do processo, impedindo
sua análise pelo Judiciário.
Quando a convenção de arbitragem está presente em um contrato
reconhecido como título executivo, o início da execução não depende de uma
decisão arbitral prévia. Somente se houver um procedimento arbitral em andamento
que afete o contrato é que a execução pode ser suspensa até que os árbitros
decidam sobre a questão.
No caso de execução de um título judicial que é contestado pelo devedor
com questões de mérito relacionadas ao contrato, essas questões devem ser
resolvidas por meio da arbitragem, não pelo juiz da execução.

2.2.11 Confusão entre autor e réu

O processo envolve uma relação jurídica entre autor, juiz e réu. Se as duas
partes se fundem em uma única pessoa devido a sucessão, um dos sujeitos da
relação processual desaparece, levando à extinção da própria relação processual.
Além disso, o processo requer a existência de litígio, um conflito de interesses entre
as partes a ser resolvido. Se as partes não existem mais como entidades distintas
(mas apenas como um único interessado), a lide também desaparece, tornando a
relação processual sem justificativa. As condições da ação devem ser mantidas até
o julgamento do mérito da causa - se a fusão elimina o interesse de agir, a
consequência é a extinção do processo sem resolução de mérito.
Isso pode ocorrer em situações de disputa entre descendentes e
ascendentes, onde a morte de um dos litigantes faz com que o outro seja o único
sucessor com direito à questão litigiosa.
O CPC de 1973 tratava explicitamente a confusão como motivo de extinção
do processo sem resolução de mérito (art. 267, X). O NCPC não repetiu esse
dispositivo, provavelmente por considerar que a confusão resulta na perda do
interesse processual, o que está implicitamente contemplado na causa extintiva do
art. 485, inciso VI.
11

2.3 Saneamento do processo, quando o defeito for suprível

O objetivo principal do processo é resolver o conflito entre as partes por


meio do julgamento do mérito. Para atingir esse objetivo, é necessário garantir que a
relação jurídica processual esteja correta, observando os pressupostos processuais
e as condições da ação. Antes de entrar no mérito, o juiz verifica se a relação
processual está corretamente estabelecida. Se houver problemas nesse sentido, o
juiz pode ordenar a correção em até trinta dias. A extinção do processo devido a
defeitos processuais só ocorre quando o problema é insuperável ou a parte não
corrige o erro dentro do prazo. O juiz não deve encerrar o processo sem análise do
mérito imediatamente ao identificar um defeito, mas sim dar a oportunidade de
correção à parte. Se possível, o juiz decide sobre o mérito de forma favorável à parte
beneficiada.

2.4 Juízo de retratação

A decisão que põe fim ao processo sem resolver o mérito pode ser
contestada por meio de recurso de apelação (conforme o artigo 1.009 do NCPC).
Nesse cenário, de acordo com o parágrafo 7º do artigo 485, o juiz terá um prazo de
cinco dias para reconsiderar sua decisão. Se ele optar por não reconsiderar, deverá
encaminhar os autos ao tribunal competente, que será responsável por julgar o
recurso, sem emitir opinião sobre a admissibilidade do recurso em si (conforme
estabelecido no artigo 1.010, parágrafo 3º).

2.5 Extinção do processo com resolução de mérito


A solicitação feita pelo autor ao iniciar um processo expressa a disputa a ser
resolvida judicialmente. A decisão do conflito, quando o juiz acolhe ou rejeita a
demanda, resulta em uma sentença definitiva de mérito. Em certos casos, as partes
podem resolver a disputa durante o processo, e o juiz homologa o acordo,
conferindo-lhe efeito equivalente a uma decisão de mérito. Isso ocorre quando o
autor desiste do direito em questão, quando há acordo sobre o objeto da demanda
ou quando o réu reconhece o pedido do autor.
A abolição da ação autônoma de execução de sentença alterou a dinâmica.
Nem toda sentença de mérito encerra o processo; apenas as declaratórias e
12

constitutivas o fazem. Nas condenatórias, a prestação jurisdicional demanda atos


executórios. O artigo 269 do CPC/1973 foi modificado, agora abrangendo sentenças
que resolvem o mérito, mesmo sem a extinção do processo.
De acordo com o Código de 2015, a sentença de mérito pode encerrar o
processo ou permitir providências judiciais complementares, conforme necessário
para satisfazer a pretensão. Se a parte derrotada não cumprir voluntariamente, o
procedimento continua até a efetiva execução da condenação.
Em todas as situações de encerramento do processo, a sentença é
essencial, podendo levar à coisa julgada formal e à execução. Representa o último
ato na fase de conhecimento e decreta o término na execução. Sentenças definitivas
resolvem o mérito, acolhendo ou rejeitando o pedido, decidindo sobre decadência ou
prescrição e homologando acordos, renúncias ou reconhecimentos.

2.5.1 Acolhimento ou rejeição do pedido

O artigo 487, item I, do Novo Código de Processo Civil (NCPC) define


claramente a resolução da disputa. O juiz determina a superioridade da
reivindicação de uma das partes ao acolher ou rejeitar o pleito, expressando isso na
declaração de procedência ou improcedência do pedido. A ação é o direito de
resolver o conflito, e o juiz decide sobre o pedido, não a ação em si.
A prescrição e a decadência afetam os direitos subjetivos devido à
inatividade após uma violação. A prescrição resulta na perda da capacidade de fazer
valer o direito, enquanto a decadência extingue o direito em si. O juiz rejeita
imediatamente o pedido quando prescrição ou decadência são comprovadas, sem
analisar mais provas.
O NCPC estabeleceu que o juiz não reconhecerá prescrição ou decadência
sem permitir que as partes se manifestem, garantindo o contraditório antes de emitir
uma decisão sobre esses efeitos temporais.

2.5.2 A prescrição e os diversos tipos de ação

Prescrição e decadência, antigamente consideradas como perda da ação e


extinção total do direito, são agora vistas como maneiras de anular os efeitos do
direito, diferindo pela causa da perda de eficácia.
13

Na prescrição, a inércia do titular após violação de seu direito encerra a


possibilidade de reação, enquanto na decadência, direitos potestativos se extinguem
se não exercidos dentro do prazo.
A ação condenatória, que busca cumprimento de prestação devida, pode
prescrever, enquanto a constitutiva, que estabelece nova situação jurídica, pode
decadecer.
Ações declaratórias, embora imunes à prescrição, requerem interesse
prático e podem perder utilidade devido à prescrição ou decadência do direito
material.
Resumindo: ações condenatórias podem prescrever, constitutivas podem
decadecer e declaratórias são imunes à prescrição até que o direito material seja
afetado.
Créditos em diferentes ações (como títulos de crédito) podem estar sujeitos
a prazos de prescrição diferentes para ação executiva e ordinária de cobrança.

2.5.3 Reconhecimento da procedência do pedido pelo réu

O reconhecimento do pedido pelo réu é quando ele aceita expressamente a


pretensão do autor, equivalente à "adesão à demanda". Isso também vale para o
autor ao reconhecer o pedido do réu em sua reconvenção.
Diferente da confissão, que se refere a fatos, o reconhecimento aborda o
próprio direito subjacente à pretensão. É uma antecipação da resolução do conflito
pela aceitação da procedência do pedido antes da decisão do juiz.

Nesse reconhecimento, a investigação dos fatos para, e o juiz encerra o


processo de acordo com o pedido aceito. É uma forma de autocomposição, aplicável
a direitos disponíveis. Requer homologação judicial para se tornar efetivo.
O reconhecimento pode ser total, parcial ou condicional. Se parcial ou
condicional, o juiz resolve o restante da controvérsia.

2.6 Sentença definitiva


A sentença definitiva, também chamada de sentença em sentido estrito,
conclui o processo de conhecimento ao resolver o litígio, seja acolhendo ou
rejeitando o pedido do autor. O Código de Processo Civil lista situações específicas
14

que configuram sentença de mérito, incluindo decisões sobre o pedido, decadência,


prescrição, reconhecimento, transação e renúncia.
Essa sentença compõe definitivamente a disputa legal e elimina a
controvérsia. Ela é vista como um ato de inteligência e também de vontade, pois
reflete a aplicação prática da lei ao caso, representando a vontade do ordenamento
jurídico. Sua função é declarar o direito aplicável, resolver litígios e buscar soluções
justas de acordo com a lei.
O Código de Processo Civil prioriza a resolução do mérito em vez da
extinção do processo sem decisão. O juiz deve decidir o mérito sempre que
possível, para promover uma solução efetiva e evitar futuros litígios.

2.7 Sentença terminativa

O processo de conhecimento visa à sentença de mérito, sendo que a


relação processual normalmente encerra quando o juiz emite uma decisão favorável
ou contrária ao pedido (NCPC, art. 487, I). No entanto, em casos de ausência de
pressuposto processual ou condição da ação, o juiz pode encerrar o processo sem
decidir a disputa, resultando em uma sentença terminativa. Essa sentença tem a
função exclusiva de encerrar a relação processual quando ela não é adequada para
alcançar o objetivo principal do processo.
Nesse contexto, o juiz não deve emitir opiniões ou pareceres ao extinguir um
processo inválido. O processo desempenha duas funções: permitir a resolução do
conflito jurídico por meio da sentença definitiva de mérito e determinar as condições
necessárias para levar o processo até a decisão judicial. A falta dessas condições
leva à recusa do julgamento do mérito e à prolação da sentença terminativa.

3. ESTRUTURA DA SENTENÇA

3.1 Conteúdo da sentença


A eficácia da sentença depende de condições intrínsecas e formais. A
sentença é um ato de inteligência que segue um silogismo, resumindo todo o
processo, incluindo a pretensão do autor, a defesa do réu, os fatos alegados e
provados, o direito aplicável e a solução final.
15

Enquanto o Código de 1973 tratava dos "requisitos essenciais", o novo


Código adota a expressão "elementos essenciais da sentença", seguindo a distinção
entre requisitos (qualidades) e elementos (partes integrantes da estrutura) conforme
Barbosa Moreira. Os elementos essenciais da sentença de acordo com o artigo 489
do novo Código são: (a) o relatório, (b) os fundamentos de fato e de direito, (c) o
dispositivo.
É importante notar que as formalidades prescritas pelo Código são
essenciais, sua falta leva à nulidade da sentença. Requisitos, como uma relação
processual válida e as condições da ação, também são cruciais. Uma sentença nula
por falta desses requisitos pode ser invalidada em grau de apelação ou, caso não
haja recurso a tempo, pode ser objeto de ação rescisória por violação de disposição
legal literal (error in procedendo) de acordo com os artigos 489 e 966, V do NCPC.

3.2 Relatório

O relatório é a introdução da sentença que apresenta o histórico do


processo, incluindo nomes das partes, resumo do pedido e da contestação, e os
principais acontecimentos do processo (art. 489, I). Ele delimita o escopo da
controvérsia e é essencial para a validade da decisão. A sentença não pode decidir
algo diferente do que foi solicitado pelo autor, respeitando os limites da lide
estabelecida entre as partes.
A litiscontestatio, que define o objeto da sentença, deve ser integralmente
analisada, sem expansões ou restrições. Qualquer violação desses princípios leva à
nulidade da sentença e pode ser motivo para ação rescisória (art. 966, V). O juiz
pode considerar um fato novo, desde que esteja relacionado à causa de ação e
tenha influência no julgamento, mas não pode alterar a causa de pedir.
O relatório deve ser claro, preciso e conciso, descrevendo de forma
minuciosa o objeto da decisão e a controvérsia. É uma condição crucial para a
validade da sentença, pois permite avaliar se o juiz abordou todas as questões
propostas e analisou adequadamente as provas dos autos.

3.3. Motivação
16

O relatório introduz a sentença, fornecendo um histórico do processo. O juiz,


então, precisa justificar sua decisão através de uma motivação. Isso envolve
apresentar fundamentos de fato e de direito que embasaram sua convicção (NCPC,
arts. 371 e 489, II). Na segunda etapa da sentença, o juiz constrói as bases lógicas
da parte decisória, analisando questões factuais e jurídicas relevantes das partes.
A norma de direito aplicável não fica restrita aos argumentos das partes. A
ordem de análise entre fatos e direito pode variar. A decisão deve ser clara e
precisa, não apenas reafirmando teses abstratas. A legislação (NCPC, art. 489, § 1º)
exige fundamentação que explique relações normativas, evitando motivação fictícia,
implícita, por referência ou que utilize precedentes sem análise. A decisão também
deve responder a argumentos contrários das partes, garantindo um processo
democrático e participativo.
Em casos de colisão de normas, o juiz deve justificar as ponderações feitas,
enunciando critérios gerais e fundamentos para afastar normas. A falta de motivação
adequada resulta em nulidade da sentença, conforme previsto na Constituição e no
NCPC.

3.4 Dispositivo da sentença

O dispositivo ou conclusão é a parte final da sentença que contém a decisão


da causa. É o aspecto central do julgamento, como afirmado por Afonso Fraga. Sua
ausência não resulta apenas em nulidade, mas torna o ato inexistente, ou seja, não
há sentença.
No dispositivo, o juiz pode tomar diversas medidas, tais como anular o
processo por falta de pressuposto processual, declarar a extinção por razões de
direito material e processual, julgar a ação como carente de legitimidade ou decidir
sobre a procedência ou improcedência do pedido.
O dispositivo pode ser direto, quando especifica a obrigação imposta ao
perdedor (por exemplo, ordenar que o réu pague ao autor uma quantia X), ou
indireto, quando o juiz se baseia no pedido do autor para decidir se é procedente ou
improcedente.

3.5 Sentença condenatória ilíquida


17

No âmbito do Código, a condenação pode ser de valor específico ou a ser


determinado posteriormente, resultando em sentenças líquidas ou ilíquidas (veja o
item 576 anterior para pedido genérico e condenação ilíquida).
Uma vez que a execução requer um título de obrigação certa, líquida e
exigível (art. 783), a execução da sentença de condenação genérica só é possível
após a liquidação do valor devido. Conforme o art. 509, se a sentença condenar a
um pagamento de quantia ilíquida, a liquidação ocorrerá, e pode ser solicitada
mesmo antes do trânsito em julgado, dentro do prazo de 15 dias para o cumprimento
da condenação (art. 523).
Antes, no Código de 1973, a liquidação ocorria em um novo processo, com
uma nova sentença que podia ser apelada. No entanto, a reforma introduzida pela
Lei 11.232/2005 e adotada no novo Código transformou a liquidação em um
incidente complementar no mesmo processo em que a condenação foi proferida.
Portanto, após a sentença, o processo não é encerrado. A definição do valor da
condenação é tratada como um incidente, e sua decisão é interlocutória, sujeita ao
recurso de agravo de instrumento, não mais à apelação (art. 1.015, parágrafo único).

3.6 PUBLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, CORREÇÃO E NULIDADE

3.6.1 Publicação e intimação


A sentença pode ser proferida em diferentes circunstâncias:
(a) Durante a audiência de instrução e julgamento, onde o juiz a dita
oralmente e o escrivão a registra no termo correspondente (NCPC, art. 366).
(b) Nos 30 dias após a audiência, o juiz pode redigir a sentença por escrito
caso não a profira imediatamente na audiência (art. 366).
(c) Nos 30 dias após a conclusão do caso, o juiz pode redigir a sentença por
escrito quando o julgamento não exige audiência (art. 354 c/c art. 226, III).
As situações em que a sentença pode ser redigida posteriormente incluem
reconhecimento do pedido, transação, reconhecimento judicial de decadência ou
prescrição, renúncia à pretensão, questão meramente de direito ou falta de
necessidade de provas em audiência.
A publicação da sentença é fundamental, tornando-a eficaz e irretratável
pelo juiz. A leitura da sentença na audiência ou por ato do escrivão inicia o prazo
para recurso. Enquanto não publicada, a sentença não é considerada ato
18

processual, mas uma vez publicada, ela se torna pública e seu teor se fixa de forma
irretratável.
No caso de recursos, o juiz de primeiro grau processa e intima as partes,
podendo retratar sua decisão em situações específicas. Em sentenças
condenatórias, o juiz também é responsável por iniciar a execução forçada para o
cumprimento da decisão.
Portanto, a publicação da sentença é crucial para que a prestação
jurisdicional seja tornada pública e sua substância se torne irretratável, enquanto o
juiz continua a desempenhar funções processuais posteriores, incluindo recursos e
execução forçada.

3.6.2 Correção

O princípio de irretratabilidade da sentença de mérito, proferida pelo mesmo


juiz, tem exceções previstas na lei (NCPC, art. 494):
(a) A primeira exceção trata de "inexatidões materiais" e "erros de cálculo"
evidentes que não refletem o pensamento do juiz. A correção pode ocorrer a pedido
da parte ou por iniciativa do juiz. Exemplos incluem erros de grafia que alteram o
sentido, omissão de nomes, erros aritméticos, entre outros.
(b) A segunda exceção é a dos embargos declaratórios, um recurso dirigido
ao prolator da sentença. Eles são cabíveis quando há obscuridade, contradição,
omissão ou erro material na sentença. Os embargos não alteram o mérito, apenas
buscam esclarecer a decisão. Se acolhidos, o juiz emite nova sentença
complementar.
Os embargos declaratórios podem ser propostos em cinco dias após a
publicação da sentença e não têm efeito suspensivo. Eles interrompem o prazo para
outros recursos e são julgados pelo juiz em igual prazo.

A regra de imutabilidade da sentença pelo juiz se aplica tanto a sentenças


de mérito quanto a sentenças terminativas. Outra exceção ocorre quando o tribunal
acolhe recurso, cassando a sentença terminativa para apreciar o mérito ou anulando
a decisão para que uma nova sentença seja proferida no juízo de origem.

3.6.3 Nulidade
19

As sentenças têm limites claros definidos pelos pedidos apresentados pelas


partes (arts. 141, 193 e 492 do NCPC). Sentenças que extrapolam esses limites
estão sujeitas a nulidades:
Sentença Extra Petita: Quando resolve uma questão diferente daquela
proposta no pedido, incluindo conceder prestação não solicitada ou basear-se em
fundamento não alegado na ação. Isso inclui exceções não alegadas pelo réu,
exceto se a lei permitir conhecimento de ofício.
Sentença Ultra Petita: Decide o pedido, mas concede mais do que o
solicitado pelo autor. A nulidade é parcial e limitada ao excesso concedido.
Em casos de nulidade, se a sentença se tornar definitiva, pode ser alvo de
ação rescisória por violação à norma (art. 966, V). As sentenças "citra petita"
ocorrem quando não examinam todas as questões propostas. Se uma questão
omitida for distinta do que foi discutido no recurso, e caso o processo esteja maduro,
o tribunal pode completar o julgamento das questões omitidas em grau de apelação,
desde que tais questões estejam dentro da devolução do recurso.
A nulidade por "citra petita" geralmente deve ser pleiteada pela parte
interessada no recurso, exceto quando a relação entre o julgado e a omissão for
profunda, influenciando a solução do recurso. A nulidade não deve ser decretada de
ofício para evitar atrasos e garantir a duração razoável do processo (CF, art. 5º,
LXXVIII). A definição do objeto do recurso cabe às partes (arts. 1.008, 1.010, IV e
1.013).
A anulação de uma sentença "citra petita" deve ser solicitada pela parte
interessada, a menos que a relação entre a parte omitida e a parte julgada influencie
decisivamente o recurso. A anulação de ofício pode atrasar o processo, contrariando
a duração razoável do processo e a intenção das partes. A definição do escopo do
recurso é da responsabilidade das partes.

3.6.4 Interpretação

A sentença é um ato jurídico que expressa a vontade do juiz com o propósito


de estabelecer uma situação jurídica definitiva sobre a lide. Deve ser interpretada à
luz do princípio da boa-fé e dos princípios de hermenêutica. A interpretação deve
considerar não apenas o texto literal, mas também o contexto, o pedido formulado
20

na ação e os fundamentos apresentados na decisão. A sentença não é um ato


isolado, mas parte de um processo dinâmico, devendo estar em conformidade com
os limites do pedido. A interpretação deve evitar interpretações ilegais ou nulas,
buscando um sentido verossímil que respeite os princípios processuais e os deveres
do juiz.

3.7 CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS

A sentença é a decisão do juiz que encerra a fase cognitiva do procedimento


comum no primeiro grau de jurisdição. Quando proferida por um tribunal colegiado,
recebe o nome de acórdão. A sentença pode ser classificada como condenatória,
constitutiva ou declaratória, dependendo da natureza da tutela jurídica concedida à
parte. Além disso, existem as sentenças homologatórias, que apenas verificam a
legitimidade de atos das partes para autocomposição do litígio, conferindo eficácia
ao acordo entre elas.

3.7.1 Sentenças declaratórias

Existem sentenças que têm como único efeito declarar a existência ou


inexistência de uma relação jurídica, ou a autenticidade ou falsidade de um
documento. Essa declaração de certeza encerra a prestação jurisdicional. Embora
originalmente a sentença declaratória não tivesse a intenção de preparar a execução
de qualquer ação, atualmente, se a sentença declara uma obrigação clara e líquida,
ela pode ser considerada um título executivo judicial, permitindo a execução forçada.
Isso é válido mesmo que a sentença não tenha um comando condenatório explícito,
desde que estabeleça os elementos necessários para a certeza e liquidez da
obrigação certificada. Além disso, toda sentença que julga improcedente o pedido é
uma sentença declaratória negativa, pois declara a inexistência da relação jurídica
alegada pelo autor. O mesmo se aplica quando um pedido de declaração positiva é
desacolhido.

3.7.2 Sentenças condenatórias


21

Na sentença condenatória, certifica-se o direito da parte vencedora como


preparação para obter um bem jurídico. Essa sentença tem duas funções: aprecia e
declara o direito existente, além de preparar a execução. Ela impõe o cumprimento
de uma obrigação violada ou ameaçada, podendo ter caráter reparatório ou
inibitório. Enquanto uma sentença declaratória estabelece a existência de um direito,
a sentença condenatória determina uma prestação a ser cumprida pelo obrigado.
Essa prestação pode ser executada de maneira sumária, imediata ou através de
procedimentos mais complexos, dependendo do caso. O Código atual não se limita
à natureza condenatória para considerar uma decisão como título executivo judicial,
abrangendo também sentenças declaratórias e constitutivas. Portanto, não é
necessário distinguir entre esses tipos de sentenças com base em seus efeitos
executivos, pois todas podem funcionar como títulos executivos judiciais,
dependendo das circunstâncias. A executividade imediata, diferida ou mandamental
não é uma característica da sentença em si, mas das vias executivas utilizadas para
implementar o que a sentença reconheceu.

3.7.3 Sentenças constitutivas

A sentença constitutiva vai além de apenas declarar direitos das partes ou


condenar o vencido a cumprir uma prestação. Ela cria, modifica ou extingue um
estado ou relação jurídica, tendo efeito imediato no próprio processo sem
necessidade de execução posterior. Sua existência por si só altera o estado jurídico
existente, sendo essencialmente criadora de novas situações. Exemplos de
sentenças constitutivas incluem aquelas que decretam a separação de cônjuges,
anulam atos jurídicos por vícios como erro, dolo, coação, simulação ou fraude, ou
ainda que rescindem contratos e anulam casamentos.

3.7.4 Momento de eficácia e multiplicidade de efeitos da sentença

As sentenças declaratórias e condenatórias têm efeito retroativo (ex tunc).


Nas declaratórias, o efeito retroage à formação da relação jurídica ou situação
declarada, como quando se anula um casamento retroativamente. Nas
condenatórias, o efeito retroage até a data da citação ou constituição em mora do
devedor.
22

Já as sentenças constitutivas geralmente têm efeito a partir do trânsito em


julgado, ou seja, produzem efeitos para o futuro (ex nunc). Existem casos especiais
em que a sentença constitutiva pode ter efeito retroativo, como na anulação de atos
jurídicos por vícios ou na interdição, de acordo com o Código Civil e o NCPC.
Embora a classificação das sentenças seja baseada no efeito principal –
condenação, declaração ou constituição de relação jurídica –, na prática, as
sentenças muitas vezes contêm outros provimentos. Por exemplo, nas sentenças
declaratórias e constitutivas, o vencido é condenado nas custas e honorários
advocatícios. Portanto, em uma ação condenatória, pode haver também aspectos
declaratórios, como a negação da prescrição, e em ações declaratórias e
constitutivas, pode haver condenação nas despesas do processo.

3.8 EFEITOS DA SENTENÇA

3.8.1 Conceito

A sentença definitiva possui vários efeitos, sendo o principal o encerramento


da função do juiz na fase cognitiva e de execução do processo, fornecendo a
prestação jurisdicional conforme o Código de Processo Civil (NCPC, art. 494). No
CPC português de 2013, proferir a sentença esgota imediatamente o poder
jurisdicional do juiz sobre a matéria da causa (art. 613º, nº 1).
Além do efeito formal, a sentença também tem efeitos materiais, como a
condenatória que gera um título executivo para execução forçada pelo vencedor e a
sentença constitutiva que extingue ou cria relações jurídicas. A sentença
declaratória, por sua vez, traz certeza sobre a relação em questão.
Efeitos secundários incluem a hipoteca judicial e outros decorrentes
automaticamente do provimento da decisão.
Se a sentença é terminativa e não resolve o mérito, seu efeito é interno,
apenas sobre a relação processual, permitindo a repropositura da ação, exceto em
casos de perempção, litispendência ou coisa julgada. A sentença terminativa não
estabelece coisa julgada material, apenas formal, possibilitando a renovação da
ação após superação dos obstáculos (art. 486).

3.8.2 Classificação quanto aos efeitos


23

A sentença desempenha um papel pacificador nos litígios, agindo sobre as


relações jurídicas das partes por meio de três funções essenciais: (i) esclarecer a
existência e o conteúdo da relação em questão; (ii) alterar a situação jurídica
existente entre as partes; e (iii) determinar medidas para a execução de uma
obrigação.
O esclarecimento ocorre em todas as sentenças; a criação de novas
situações jurídicas decorre da definição de direitos potestativos; e a condenação
surge do reconhecimento de uma violação de direitos.
Os efeitos da sentença são imediatos, mas nem sempre se esgotam na
prolação. Podem ser classificadas em: (a) Sentenças de eficácia imediata, como as
constitutivas e declaratórias, que produzem plenamente seus efeitos sem
necessidade de execução subsequente; e (b) Sentenças de eficácia contida, como a
maioria das condenatórias, que requerem ações coercitivas posteriores para efetivar
a prestação imposta.
A execução das sentenças de eficácia contida ocorre de diferentes
maneiras:
a) Com um mandado executivo após a sentença;
b) Medidas indiretas de coerção, como multa ou prisão civil;
c) Procedimentos mais complexos, incluindo constrição e expropriação de
bens;
d) Através de um novo processo de execução, como em sentenças arbitrais
ou contra a Fazenda Pública.
Em resumo, a execução das sentenças com efeito contido pode ocorrer
através de: 1) execução sumária no mesmo processo; ou 2) ação de execução
separada, exigindo outra relação processual específica para cumprir os atos
jurissatisfativos.

3.8.3 Duplo grau de Jurisdição

O Código de Processo Civil de 1939 incluía a apelação ex officio, uma


apelação automática interposta pelo juiz na própria sentença em certos casos, como
anulação de casamento e decisões contra entes públicos. O Código de 1973 e o
24

atual aboliram essa apelação, introduzindo o duplo grau de jurisdição necessário,


que exige o reexame da sentença em segundo grau para eficácia.
O Novo Código de Processo Civil (NCPC), sob a denominação de "remessa
necessária", estabelece que a sentença só produzirá efeito após confirmação pelo
tribunal em casos como decisões contra entes públicos e julgamento favorável aos
embargos à execução fiscal.
A novidade do NCPC é a eliminação da superposição de remessa
necessária e apelação. Se o recurso cabível for manifestado voluntariamente, o
duplo grau é assegurado, eliminando a necessidade de remessa oficial. A remessa
necessária é considerada apenas quando a Fazenda Pública não impugna uma
sentença adversa.
Esse mecanismo não impede a reapreciação em segundo grau, mas garante
à Fazenda Pública a apreciação do mérito em duas instâncias, mesmo que ela não
tenha recorrido.
A coisa julgada ocorre após a confirmação da sentença pelo tribunal,
encerrando a possibilidade de recursos voluntários.
Em causas de alçada nas execuções fiscais, em que a apelação foi abolida,
o duplo grau necessário não se aplica.
No reexame ex officio, não pode ocorrer uma reformatio in pejus em relação
à Fazenda Pública, ou seja, a sentença só pode ser alterada contra ela se houver
recurso voluntário da parte contrária.
O NCPC estende o duplo grau de jurisdição necessário a pessoas jurídicas
de direito público, incluindo autarquias e fundações, mas não se aplica a sociedades
de economia mista e empresas públicas.

3.8.4 Julgamento e exclusão da remesse necessária

Quando a remessa necessária é feita pelo juiz de origem ou provocada pela


avocação do processo, o tribunal é responsável pelo julgamento da mesma (art. 496,
§ 2º). Na segunda instância, o julgamento do duplo grau de jurisdição necessário
está sujeito à regra do art. 932 do NCPC, permitindo que o relator decida o recurso
de forma singular (STJ, Súmula 253).
25

Nas cortes, são usadas expressões como "remessa ex officio" ou "reexame


necessário" para se referir a essa medida. Qualquer alteração ou supressão da
remessa ex officio implica em mudança ou eliminação de competência hierárquica.
Essa alteração é aplicada imediatamente, resultando na devolução dos processos
ao tribunal de origem e tornando definitiva a sentença que estava pendente de
confirmação em segunda instância. No entanto, isso não ocorrerá se houver recurso
voluntário de parte ou do Ministério Público.
Portanto, com a eliminação da remessa necessária quando a Fazenda
recorre, o tribunal, em processos em andamento, considerará apenas o recurso
voluntário, dispensando o reexame ex officio.
O art. 496, § 3º, exclui do reexame necessário ações em que a condenação
ou benefício econômico obtido tenha valor certo e líquido, abaixo dos seguintes
limites:
a) mil salários mínimos para a União, suas autarquias e fundações de
direito público (inciso I);
b) quinhentos salários mínimos para Estados, Distrito Federal, suas
autarquias e fundações de direito público, e Municípios que sejam
capitais de Estados (inciso II);
c) cem salários mínimos para outros Municípios e suas autarquias e
fundações de direito público (inciso III).

É importante observar que o novo Código mantém a diretriz anterior de


excluir causas de menor valor do reexame necessário. No entanto, o valor em que a
sentença condena o Poder Público, ou nega direitos contra ele, é o que importa, não
o valor inicialmente solicitado. A dispensa de reexame necessário não se aplica a
sentenças ilíquidas, independentemente do valor da causa (Súmula 490 do STJ).
O novo Código também exclui do reexame necessário sentenças contrárias
à Fazenda Pública que se baseiem em um dos seguintes fundamentos (art. 496, §
4º):

a) súmula de tribunal superior (inciso I);


b) acórdão do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça em julgamentos de recursos repetitivos (inciso II);
26

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas


repetitivas ou de assunção de competência (inciso III);
d) entendimento coincidente com orientação vinculante consolidada em
manifestações, pareceres ou súmulas administrativas no âmbito
administrativo do próprio ente público (inciso IV).

Nos casos em que o novo Código suprimiu a remessa necessária (arts. 496,
§§ 3º e 4º), se o processo chegar à segunda instância durante a vigência da nova
lei, o tribunal não deve considerar o reexame ex officio, conforme o princípio de
direito intertemporal mencionado por Galeno Lacerda. Os autos serão simplesmente
devolvidos ao juízo de origem, a menos que haja um recurso voluntário a ser
julgado.

4 COISA JULGADA

4.1 Conceito

Antigamente, a doutrina afirmava que o principal efeito da sentença era a


formação da coisa julgada. No entanto, para o Código de Processo Civil de 1973 e o
atual, o efeito principal da sentença no processo de conhecimento é encerrar a
função jurisdicional do juiz, como indicado no artigo 494 do NCPC. A res iudicata,
por sua vez, é a qualidade da sentença que a torna imutável após o prazo de
recurso.
A sentença se torna irretratável para o juiz após a publicação, mas o vencido
pode recorrer. A lei estabelece prazos para recursos, e após o término desses
prazos ou o esgotamento dos recursos, a sentença se torna definitiva e imutável.
Enquanto houver possibilidade de recurso, a sentença é um ato judicial que traduz a
vontade da lei para o caso concreto. A sentença se torna reconhecida como a
vontade da lei apenas após o esgotamento dos prazos de recurso.
A sentença é uma situação jurídica sujeita a recurso, e seus efeitos ocorrem
plenamente quando não é mais suscetível de reforma por recursos, resultando no
trânsito em julgado. Pode haver dois graus de coisa julgada: a coisa julgada e a
coisa soberanamente julgada, esta última ocorrendo após o prazo de propositura da
ação rescisória ou quando a ação rescisória é julgada improcedente.
27

A coisa julgada é resultado do conteúdo do julgamento de mérito, não da


natureza processual do ato decisório. O novo Código reconhece a coisa julgada
como uma qualidade da decisão de mérito, não apenas da sentença, e abrange
qualquer ato decisório que solucione total ou parcialmente o mérito. O importante é
que o pronunciamento seja definitivo e resultado de um acertamento judicial
precedido de contraditório efetivo.

4.2 Total e parcial

A desistência da ação implica que o autor desiste do processo, sem afetar


seu direito material em relação ao réu. Isso encerra o processo sem resolver o
mérito e não impede o autor de reabrir a mesma ação no futuro. A coisa julgada não
se aplica nesse cenário. A desistência é unilateral antes da resposta do réu, mas
após essa fase, se o réu respondeu, requer o consentimento dele. Contudo, a
recusa do réu deve ser justificada de maneira razoável para evitar o uso indevido do
direito processual.
Assim como o autor não pode iniciar um processo sem interesse em buscar
justiça, o réu também não pode insistir no processo após a desistência do autor, a
menos que tenha interesse no mérito. Se o prazo de defesa expirou e o réu
permanece inerte (revel), o consentimento dele para a desistência do autor não é
necessário, especialmente se o réu não está representado.
Se o autor pode abandonar a causa de forma tácita e unilateral, levando à
extinção do processo, o réu revel também pode expressamente desistir da ação,
sem ouvir o réu, que demonstrou pouco interesse no caso.
A desistência da ação é limitada até a sentença; não é possível durante
apelações ou recursos posteriores. Se o autor estiver em fase de recurso, pode
desistir do recurso, mas não da ação, evitando anulação da decisão de mérito. A
desistência, seja unilateral ou bilateral, é efetiva após homologação por sentença.
Isso ocorre porque o juiz não pode ser alheio ao encerramento do processo,
envolvendo os atos jurisdicionais da desistência e homologação.

4.3 Formal e material


28

O Novo Código definiu a coisa julgada material como a autoridade que torna
imutável e indiscutível a decisão de mérito, não sujeita a recurso. Além disso, existe
a coisa julgada formal, que impede o juiz de reapreciar questões já decididas no
mesmo processo. A coisa julgada formal decorre da imutabilidade da sentença no
processo em que foi proferida devido à falta de recursos ou ao término do prazo
para recorrer.

A diferença entre a coisa julgada material e formal é uma questão de grau do


mesmo fenômeno. Ambas impedem a reapreciação das questões decididas. A coisa
julgada material tem efeitos além do processo em que foi proferida, enquanto a coisa
julgada formal atua apenas dentro desse processo.
A coisa julgada material ocorre quando a sentença transitada em julgado
produz efeito de lei nos limites da questão principal decidida. Isso não ocorre com as
sentenças meramente terminativas, que extinguem o processo sem julgar o mérito,
gerando apenas coisa julgada formal.
O Código reconhece duas espécies de sentenças para encerrar o processo:
as terminativas e as definitivas. As terminativas não produzem coisa julgada
material, enquanto as definitivas que julgam o mérito geram a res iudicata.
Em ações matrimoniais e de investigação de paternidade, o STJ tem
debatido a flexibilização da coisa julgada em face de novas evidências, como o
exame de DNA. O entendimento tem variado, mas existe uma tendência a flexibilizar
a coisa julgada nesses casos com base em novas provas técnicas, como o exame
de DNA.

4.4 Preclusão

O artigo 507 do NCPC proíbe as partes de discutirem no decorrer do


processo questões já decididas, sobre as quais tenha ocorrido a preclusão. Embora
as decisões interlocutórias geralmente não estejam sujeitas à coisa julgada material,
a preclusão se aplica a elas, resultando em efeitos semelhantes à coisa julgada
formal.
Assim, questões incidentalmente debatidas e decididas ao longo do processo
não podem ser revisitadas em fases posteriores. Se a parte não concorda com uma
decisão interlocutória do juiz, ela tem o direito de recorrer através de agravo de
29

instrumento ou preliminares da apelação. No entanto, se não recorre dentro do


prazo ou seu recurso é rejeitado pelo tribunal, ocorre a preclusão, impedindo a
reabertura da discussão sobre a questão no mesmo processo.
A preclusão envolve a perda de uma faculdade processual devido ao
atingimento dos limites estabelecidos pela lei. Ela pode ser de três tipos: temporal,
lógica e consumativa. A temporal ocorre devido a prazos contínuos e peremptórios
no processo. A lógica surge da incompatibilidade entre atos processuais. A
consumativa ocorre quando um ato já foi realizado e não pode ser repetido.
A preclusão é um fenômeno interno do processo que diz respeito às partes
envolvidas. Ela não afeta direitos de terceiros e nem sempre tem repercussões para
as partes em outros processos. A preclusão não se aplica a atos judiciais como
despachos, os quais podem ser revistos ou revogados pelo juiz livremente.
A preclusão pro iudicato, que impede a rediscussão de questões já decididas,
se aplica a todas as decisões interlocutórias, mesmo aquelas que não formam coisa
julgada material. A exceção é para questões de ordem pública, como condições da
ação e pressupostos processuais, nas quais o juiz pode atuar de ofício mesmo após
o tempo ter decorrido.

4.5 Limites da coisa julgada

De acordo com o artigo 503 do NCPC, uma decisão que julgue total ou
parcialmente o mérito tem força de lei nos limites das questões principais
explicitamente decididas. O processo é um meio usado pelo Estado para resolver
litígios, aplicando o direito objetivo a uma situação contenciosa.
A lide ou litígio é o conflito de interesses a ser resolvido no processo. As
partes em disputa apresentam razões para justificar suas posições, gerando
questões controversas relacionadas aos fatos e às regras jurídicas discutidas entre
elas. Pode existir lide sem questões e questões sem lide. Exemplos incluem casos
de resistência sem justificação e questões teóricas.
Quando uma lide possui uma ou mais questões, é chamada de controvérsia.
Uma lide pode ser levada ao tribunal por todas ou apenas algumas de suas
questões. Não há impedimento para que soluções para algumas questões sejam
dadas em decisões separadas. Uma sentença pode tratar de diferentes questões
envolvidas em uma lide.
30

Uma vez formado o processo, a lide se refere ao objeto do processo e a


sentença decidirá as questões trazidas para julgamento, formando a coisa julgada
material. Mesmo que as questões formadoras do objeto do processo sejam
decididas em momentos processuais diferentes, todas estarão sujeitas à coisa
julgada.
A coisa julgada proíbe a rediscussão de questões já decididas entre as
mesmas partes em novas ações, a menos que haja mudanças nas questões. A
coisa julgada é limitada às questões expressamente decididas. Sentenças citra
petita, que não abordam todos os pedidos, não geram efeitos sobre os pedidos não
apreciados e não estão sujeitas à eficácia preclusiva da coisa julgada material.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a sentença e a coisa julgada desempenham papéis fundamentais


no sistema judiciário, contribuindo para a resolução de litígios de maneira eficaz e
proporcionando a segurança jurídica necessária para as relações sociais. A
sentença, ao compor a lide e decidir as questões controversas entre as partes,
estabelece uma resposta jurisdicional que busca a pacificação das controvérsias.
Por sua vez, a coisa julgada confere à decisão proferida a qualidade de
imutabilidade e indiscutibilidade, assegurando que as questões decididas não sejam
reabertas em novos processos, a menos que haja mudanças significativas. É
essencial entender a interação entre a sentença e a coisa julgada, considerando sua
influência na construção de um sistema judiciário justo e confiável, no qual as
decisões proferidas possam ser respeitadas e aplicadas de forma consistente ao
longo do tempo.

REFERÊNCIAS

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 60. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2019. 1 v.

AZIZ, Tamine. Sentença e Coisa Julgada. 2018. Disponível em:


https://cadernodatata.com.br/sentenca-e-coisa-julgada/. Acesso em: 20 ago. 2023.
31

MIRANDA, Fátima. Sentença e coisa julgada no Código de Processo Civil de


2015. 2015. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/sentenca-e-coisa-
julgada-no-codigo-de-processo-civil-de-2015/256672662. Acesso em: 20 ago. 2023.

Você também pode gostar