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DPC II | Delosmar Mendonça

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

Unidade 2

AULA 5: Embargos de declaração

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O Estado juiz deve nos garantir a prestação jurisdicional – clara e integra. A resposta que
o Estado deve nos dar, em decorrência do exercício do direito de ação, tem que ser clara,
sem vícios que levem a dúvidas, a dificuldades de entender. A decisão proferida deve
permitir que o jurisdicionado entenda o resultado da prestação jurisdicional, para cumprir
a determinação judicial ou para recorrer dela.

Não é só isso: toda decisão judicial deve ser motivada, por força do art. 93, IX, da CF.

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre
o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação;

A resposta do Estado-juiz deve estar vinculada à lei, exigindo-se a fundamentação: a


vinculação à lei deve ser expressamente fundamentada na decisão.

Tanto a fundamentação da decisão quanto a providência jurisdicional devem ser clara,


não devem deixar margem para dúvida.

A prestação jurisdicional deve ser integra, exauriente. A resposta que o Estado dá deve
envolver toda a causa de pedir expostas pelas partes em relação aos fatos e ao direito. Os
pedidos devem ser inteiramente enfrentados. Não se admite a decisão citra petita – que
não aprecia integralmente os pedidos.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


DPC II | Delosmar Mendonça

2. CABIMENTO

Ante a existência de vícios quanto à clareza e a inteireza da decisão, surgem os Embargos


de Declaração. Trata-se de um recurso que visa corrigir o error in procedendo quanto à
clareza ou à integridade da decisão. Ao manejar esse recurso, busca-se uma declaração
do próprio órgão jurisdicional em torno de esclarecer vícios relacionados à clareza e à
integridade da decisão.

O objetivo é que o órgão jurisdicional se manifeste para corrigir esses vícios da


decisão embargada. Visa aperfeiçoar ou integrar a decisão atacada.

A declaração proferida no julgamento dos ED terá a mesma natureza da decisão atacada.


“Ao apreciar os embargos, o órgão julgador deverá julgá-los em decisão que tenha a
mesma natureza do ato judicial embargado” (DIDIER JR E CUNHA).

EXEMPLO: Se o Juiz acolhe os Embargos de Declaração à Sentença, ao


corrigir os vícios apontados no recurso, estará complementando a Sentença
embargada.

Os Embargos de Declaração têm essa finalidade: dar a oportunidade ao Juízo que proferiu
uma decisão eivada de vícios de complementá-la ou integrá-la.

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;

II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de


ofício ou a requerimento;

III - corrigir erro material.

Os Embargos de Declaração são cabíveis contra qualquer decisão judicial.

Quais são os vícios que permitem a oposição de Embargos de Declaração?

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


DPC II | Delosmar Mendonça

a) Obscuridade (art. 1.022, I)

Obscura é a decisão que não é clara. É a decisão que deixa dúvidas.

A obscuridade pode dar-se, por exemplo, na forma em que foi escrita a decisão.

“Um dos requisitos da decisão judicial é a clareza; quando esse requisito não é
atendido, cabem embargos de declaração para buscar esse esclarecimento. A
obscuridade é a qualidade do texto de difícil ou impossível compreensão”
(DIDIER JR E CUNHA).

Cabem Embargos de Declaração contra a decisão que não é clara.

b) Contradição (art. 1.022, I)

É quando há uma afirmação que colide com outra em uma mesma decisão.

A contradição que autoriza a oposição de Embargos de Declaração deve ser


interna (intrínseca). Não são cabíveis Embargos de Declaração contra contradição
externa (extrínseca).

Os embargos de declaração não são cabíveis para corrigir uma contradição entre a
decisão e alguma prova, argumento ou elemento contido em outras peça constantes
dos autos do processo. Não cabem, em outras palavras, embargos de declaração para
eliminação de contradição externa. A contradição que rende ensejo a embargos
de declaração é a interna, aquela havida entre trechos da decisão embargada”
(DIDIER JR E CUNHA).

A contradição externa é matéria que deve ser suscitada por outras vias recursais.

c) Omissão (art. 1.022, II, e § único, e art. 489, §1º)

A decisão pode ser omissa tanto em relação à fundamentação quanto em relação à


apreciação dos pedidos.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


DPC II | Delosmar Mendonça

“Considera-se omissa a decisão que não se manifestar: a) sobre um pedido de tutela


jurisdicional; b) sobre fundamento e argumentos relevante lançados pelas partes
(art.489, §1º, IV); c) sobre questões apreciáveis de ofício pelo magistrado, tenham
ou não sido suscitadas pela parte.

[...] Também cabem embargos de declaração para suprir a omissão de elementos da


decisão. A sentença, a decisão interlocutória (aí incluída a decisão parcial de mérito)
e o acórdão devem conter, conjuntamente, os elementos previstos no art. 489 do
CPC. A ausência de algum elemento da sentença e de qualquer decisão judicial pode
ser suprida por embargos de declaração” (DIDIER JR E CUNHA).

A omissão tem a ver com a não integridade da prestação jurisdicional. Quando houver
omissão, a decisão deverá ser complementada pela via dos Embargos de Declaração.

O art. 1.022, § único, reforça hipóteses que caracterizam omissão:

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou


em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;

II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma
do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no
andamento do processo;

II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela


interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar


sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de


sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


DPC II | Delosmar Mendonça

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,


infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus


fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado


pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

d) Erro material

Não se trata de um erro de julgamento. É um lapso entre o julgamento do julgador e


o pronunciamento judicial.

“Há erro material, quando o que está escrito na decisão não corresponde à intenção
do juiz, desde que isso seja perceptível por qualquer homem médio” (WAMBIER
apud DIDIER JR E CUNHA).

Consideram-se erros materiais as inexatidões materiais e os erros de cálculo.

Ocorre erro material quando o julgador parte de premissa fática equivocada,


decorrente de erro de fato, para chegar à decisão.

3. INTERPOSIÇÃO E REGULARIDADE FORMAL (art. 1023)

Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição


dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não
se sujeitam a preparo.

§ 1º Aplica-se aos embargos de declaração o art. 229.

§ 2º O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco)


dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a
modificação da decisão embargada.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


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Os ED é um reexame de vícios na decisão: obscuridade, contradição, omissão e erro


material. Decidir sem fundamentar afronta a Constituição. Os ED visam complementar
ou integrar a decisão para que possa ser considerada fundamentada.

Os ED cabem contra QUALQUER DECISÃO JUDICIAL.

A interposição dos ED dirige-se ao órgão jurisdicional que proferiu a decisão.

Os ED devem ser interpostos no prazo de 5 dias úteis. Não lhes é aplicável, portanto, o
prazo unificado de 15 dias.

A interposição deve dar-se mediante petição escrita – seja eletrônica, seja em papel. Não
há interposição de ED oralmente. Mesmo que a decisão seja proferida em audiência, a
interposição dos ED será posterior, na forma escrita.

Os requisitos formais dizem respeito a apontar, na fundamentação, um dos vícios cuja


correção justifica a interposição dos ED. A fundamentação dos ED é vinculada. Caso
o embargante não aponte um destes vícios, por ofensa ao princípio da dialeticidade,
os ED sequer serão conhecidos por ausência de regularidade formal.

Não pode ser utilizado para sanar error in judicando, que deverá ser impugnado por outras
vias recursais.

O pedido dos ED será o aperfeiçoamento ou a integração da decisão embargada.

Caso o acolhimento dos ED possa modificar a decisão, o juiz intimará o embargado para,
querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos opostos.

4. PROCEDIMENTO (art. 1.024)

Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


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§ 1º Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão


subsequente, proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso
incluído em pauta automaticamente.

§ 2º Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou


outra decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão
embargada decidi-los-á monocraticamente.

§ 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno


se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação
do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de
modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º.

§ 4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da


decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a
decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos
limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da
decisão dos embargos de declaração.

§ 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do


julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado
independentemente de ratificação.

Os ED deverão ser julgados no prazo de 5 dias. A decisão dos embargos é complementar,


agregando-se a decisão originária.

Se a decisão embargada decorrer de órgão colegiado, deverá ser julgado na sessão


subsequente, caso contrário, será incluído automaticamente em pauta.

Em regra, os ED não exigem manifestação da parte contrária, de modo que não é


necessária sua intimação para apresentar contrarrazões.
EXCEÇÃO: se os ED tiverem efeito modificativo, deve-se garantir a parte
contrária o contraditório, razão pela qual deve ser intimada para apresentar
contrarrazões.

5. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITO MODIFICATIVO (art.


1.023, §2º, e art. 1.024, §4º)

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


DPC II | Delosmar Mendonça

Em regra, os ED não têm efeito modificativo. Contudo, a correção do vício pode levar
à modificação da decisão, caso em que os ED têm efeito modificativo (ou infringente).
O professor aponta que é como um efeito indireto dos ED: o recurso visa corrigir a
decisão embargada e, por consequência disto, pode modificá-la.

Havendo a possibilidade de efeito modificativo – seja por requerimento da parte, seja pelo
reconhecimento de ofício do juiz –, deverá o embargado ser intimado para apresentar
contrarrazões.

Caso a parte embargada tenha interposto recurso antes da interposição dos ED, a parte
que já recorrer poderá realizar o aditamento do recurso se houver acolhimento dos ED,
no limite da modificação da decisão embargada. É uma exceção à preclusão
consumativa que caracteriza o recurso.

É possível que a modificação da decisão decorrente dos ED seja desfavorável a quem


a embargou. Isto é, ao sanar o vício, a decisão embargada pode, em tese, tornar-se menos
benéfica para a parte embargante. Veja que não incide a vedação a reforma em pejus:
não se trata de uma nova decisão, mas uma complementação à decisão originária.

6. EFEITOS DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (art. 1.026, caput e §1º)

Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e


interrompem o prazo para a interposição de recurso.

§ 1º A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo


respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso
ou, sendo relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil
reparação.

Possui efeito devolutivo VINCULADO. A devolutividade dos ED é estrita, vinculada e


volta-se ao reexame de obscuridade, contradição, omissão ou erro material. Havendo o
vício é que há devolutividade plena no que tange a matéria que condiciona a
correção do julgamento.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


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Em regra, não tem efeito suspensivo. Porém, este efeito poderá ser concedido em
caráter de tutela de evidência (art. 1.026, §1º, primeira parte) ou de urgência (art.
1.026, §1º segunda parte), desde que presentes os requisitos autorizadores.

Também tem efeito interruptivo: interrompe o fluxo do prazo para qualquer outro
recurso para ambas as partes – embargante e embargado. Por se tratar de um recurso
instrumental, o efeito interruptivo visa impedir que o prazo para recorrer da decisão se
esgote. A partir do julgamento dos ED, haverá intimação para fluência do prazo
recursal, devolvendo-se às partes o prazo integral.

Não surtem efeito interruptivo: a) ED intempestivos; b) ED incabíveis; e c) terceira


interposição de ED protelatório.

7. MULTA POR RECURSO PROTELATÓRIO (art. 1.026, §2º, 3º e 4º)

Os ED protelatórios não impedem o efeito interruptivo, porém atrai a incidência da


multa prevista no art. 1.026, §2º do CPC, que não excederá 2% do valor atualizado da
causa.

Os ED são um recurso que pode ser reiterado por se caracterizar por ser um recurso
instrumental. Pode haver embargos de declaração nos embargos de declaração, desde
que persistam os vícios impugnados ou surja um novo vício na decisão
complementar.

Outra situação é se o órgão julgador dos ED enfrenta as questões trazidas à baila nos ED
e decide que o vício invocado pela parte não está presente, o que impõe o desprovimento
do recurso. Neste caso, se o embargante entender que o vício existe e persiste, deve lançar
mão de outros recursos cabíveis para fazê-lo. Caso contrário, o recurso será abusivo e
poderá incidir a sanção por litigância de má-fé.

Caso haja reiteração de ED protelatório, o limite da multa não é de 2% do valor da


causa, mas de 10%.

ANOTAÇÕES | Acácia Santos


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Se a parte embargante interpõe, pela terceira vez, ED protelatório, o recurso não


surtirá efeito interruptivo.

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ANOTAÇÕES | Acácia Santos

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