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Penal III
Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
• Embargos de Declaração;
• Dos Embargos Infringentes ou de Nulidade;
• Modelo de Interposição de Embargos Infringentes (Nulidade).
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender o cabimento, a forma de interposição e o alcance do recurso dos embargos de
declaração e dos embargos infringentes e de nulidade.
UNIDADE Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
Embargos de Declaração
Definição
Os embargos de declaração constituem espécie de recurso oponível ao mesmo
órgão prolator da decisão, sempre que houver obscuridade, ambiguidade, contradição
e omissão da sentença ou do acórdão prolatados.
Figura 1
Fonte: aacrimesc.org
O art. 620 do CPP, por sua vez, regulamenta a oposição dos referidos embargos
de declaração contra acórdão. Nota-se, aqui, que o mesmo não ocorre em relação aos
embargos opostos em primeiro grau de jurisdição.
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Art. 620. Os embargos de declaração serão deduzidos em requeri-
mento de que constem os pontos em que o acórdão é ambíguo, obscuro,
contraditório ou omisso.
§ 1º. O requerimento será apresentado pelo relator e julgado, indepen-
dentemente de revisão, na primeira sessão.
§ 2º. Se não preenchidas as condições enumeradas neste artigo, o relator
indeferirá desde logo o requerimento.
Em Síntese
Fundamento legal
• Primeira instância: art. 382 do CPP;
• Segunda instância: arts. 619 e 620 do CPP;
• Juizados Especiais Criminais: art. 83 da Lei nº 9.099/1995 – “obscuridade,
contradição ou omissão”;
• Superior Tribunal de Justiça: art. 263 do RISTJ – “ponto obscuro, duvidoso,
contraditório ou omisso”;
• Supremo Tribunal Federal: art. 337 do RISTF – “obscuridade, dúvida, contradição
ou omissão”;
• No Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo, há previsão de
embargos de declaração nos arts. 13, I, h, art. 35, art. 37, § 1º, e art.110.
Competência
O endereçamento dos embargos de declaração é ao mesmo órgão que proferiu a
decisão (juiz, câmara ou turma).
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UNIDADE Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
Assim, por meio dos embargos de declaração, busca-se esclarecer, tornar clara,
a decisão proferida pelo juiz singular ou pelo tribunal, livrando-a de imperfeições.
Figura 2
Fonte: Reprodução
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Natureza Jurídica dos Embargos de Declaração
Em relação à natureza jurídica dos embargos de declaração, a doutrina majoritária enten-
de que estes possuem inegável natureza jurídica de recurso, visto que se prestam em reexa-
minar sentenças ambíguas, obscuras, contraditórias e omissas. Para alguns doutrinadores,
os embargos declaratórios não possuem natureza jurídica de recurso porque não visam à
reforma da decisão, já que, ainda que provido, se manterá intangível na sua substância.
Assim, o prazo para oposição dos embargos declaratórios será de 2 (dois) dias nas
seguintes hipóteses: primeira instância (art. 382 do CPP); segunda instância (art. 619 do
CPP); STJ (art. 263 do RISTJ).
Não há, nos embargos de declaração, a manifestação da parte contrária, pois trata-se
de recurso inaudita altera pars.
Legitimidade
São legítimos para opor embargos de declaração a defesa e a acusação (ou seja,
Ministério Público e assistente de acusação ou querelante).
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UNIDADE Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
Efeitos Infringentes
Não confundir com embargos infringentes. Os efeitos infringentes dos embargos
de declaração ocorrem quando, na hipótese de acolhimento dos embargos de declaração,
houver modificação da decisão.
Isso poderá ocorrer se, ao acolher os embargos, o órgão tiver que decidir sobre tese
não analisada na decisão embargada. É possível, principalmente, em caso de omissão.
É exemplo de efeitos infringentes dos embargos de declaração o ocorrido em uma das
ações penais da conhecida Operação Lava Jato. A defesa de José Dirceu opôs embar-
gos de declaração objetivando suprir a omissão referente à atenuante por ser maior de
70 anos o réu (art. 65, I, do CP). Reconhecendo que houve omissão e que o réu tinha,
no momento da sentença, mais que 70 anos, o juiz acolheu os embargos e, ao considerar
a agravante, reduziu a pena em dois anos1.
Prequestionamento
Um dos requisitos para interposição de recurso especial ou recurso extraordinário,
considerando que o tema tenha sido abordado no acórdão recorrido, é o denominado
prequestionamento.
Em razão disso, caso haja algum tema abordado no recurso que não tenha sido analisado
no acórdão, a parte que pretender interpor recurso especial e recurso extraordinário deverá
opor embargos de declaração, a fim de o tema ser analisado pelo tribunal, para haver o pre-
questionamento. Caso isso não ocorra, não serão cabíveis os mencionados recursos.
Nomenclatura
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Ação penal, Processo nº 5045241-84.2015.4.04.7000.
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Quanto à decisão que julga os embargos, é utilizada a expressão “acolhe” ou “rejeita”
os embargos; por isso, quem opõe os embargos requer seu acolhimento.
Quem opõe embargos é chamado embargante, enquanto a parte contrária é cha-
mada embargada.
Utiliza-se decisão embargada para se referir à decisão contra a qual se opuseram
os embargos, com as expressões “sentença embargada” e “acórdão embargado”.
É importante ressaltar que, em uma prova prática, como a da OAB, por exemplo,
é essencial apontar o fundamento correto da peça.
Também não se deve confundir os embargos de declaração na esfera criminal com
os embargos de declaração do CPC, que têm prazo e cabimento diferentes inclusive
e possuem maior abrangência, já que podem ser opostos contra toda e qualquer
manifestação judicial que seja omissa, contraditória, obscura ou que contenha erro
material, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC/2015.
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UNIDADE Embargos de Declaração e Embargos
Infringentes e de Nulidade
II – Do cabimento e da tempestividade
Com efeito, é o que prevê o art. 382 do CPP: “Art. 382. Qualquer das partes poderá,
no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela
houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão”.
Quanto à tempestividade, o recurso é tempestivo, sendo interposto 2 (dois) dias
após a publicação da sentença.
III – Da existência de omissão e dos efeitos infringentes
III.I – Da omissão
Diante das circunstâncias do caso concreto, percebe-se que a respeitável sentença ema-
nada por este juízo se encontra, com a devida vênia, claramente maculada pelo vício da
omissão, fator condicionante dos presentes embargos declaratórios, os quais têm por ob-
jetivo simplesmente a correção de tais faltas, atribuindo à sentença plena validade.
A defesa entende que deve ser acatada a atenuante genérica da menor idade, ou
seja, menor de 21 (vinte e um) anos, prevista no art. 61, inciso I, do CP.
Desse modo, a pena deve ser redimensionada para o patamar igual ou inferior a 4
(quatro) anos.
No caso em apreço, entende-se que houve omissão quando este juízo deixou de apli-
car as atenuantes genéricas previstas no art. 65 do CP, já mencionadas anteriormente.
III.II – Dos efeitos infringentes
Em caso de acolhimento, da tese anteriormente esboçada, ou seja, da omissão em
razão da não observância das atenuantes genéricas, este juízo deve redimensionar a
pena imposta para um patamar igual ou menor a 4 (quatro) anos.
Assim sendo, é dever, de ofício, substituir a pena restritiva de liberdades por sanções
restritivas de direito, nos termos do art. 44 do CP.
No que diz respeito à substituição da pena, a jurisprudência entende que, quando
as circunstâncias são neutras ou favoráveis, deve ser concedida a substituição da
pena do embargante, sobretudo com o acatamento da tese da menor idade penal,
prevista no inciso I do art. 65 do CP.
Desse modo, roga-se pela substituição da pena restritiva de liberdade por restritiva de
direito, conforme dispõe o art. 44 do CP brasileiro. Vejamos o que diz a jurisprudência:
Apelação crime. Furto qualificado pelo rompimento de obstáculo e pelo concurso
de pessoas. Artigo 155, § 4º, inciso I e IV, do Código Penal. Condenação. Prova con-
sistente. Redução da pena-base. Manutenção das qualificadora [sic], do regime de
cumprimento da pena e da substituição da reprimenda por restritivas de direitos.
[...] 3. Tratando-se de réu primário, condenado à pena de 02 anos e 04 meses de
reclusão e sendo-lhe majoritariamente favoráveis as circunstâncias judiciais, ele faz
jus à substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos,
bem como ao regime aberto de cumprimento da reprimenda, tal como operado pela
julgadora monocrática. Apelo da defesa parcialmente provido. Apelo da acusação
improvido. (Apelação Crime nº 70070344544, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, rel. Cristina Pereira Gonzales, julgado em 14.09.2016).
No caso colacionado anteriormente, julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, o recorrente sequer tinha todas as circunstâncias judiciais favoráveis, mas,
mesmo assim, concedeu a substituição, pois as circunstâncias favoráveis deve-
riam prevalecer.
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Portanto, é coerente que, neste caso, seja concedida a substituição, uma vez que
suas circunstâncias (na primeira fase da dosimetria) foram consideradas favoráveis
ou neutras, inclusive a pena foi fixada em seu mínimo legal.
Dessa feita, requer que este juízo reconheça a omissão em não aplicar as atenuantes
genéricas do art. 65 do CP e, como consequência, o redimensionamento da pena
para um patamar inferior ou igual a 4 (quatro) anos, bem como a substituição da
pena restritiva de liberdade por restritivas de direito.
IV – Dos pedidos
Por tudo quanto exposto, roga-se pelo conhecimento e provimento do presente recurso:
1) para que reconheça da omissão praticada na sentença quando da não aplicação
das atenuantes genéricas do art. 65 do CP;
2) para redimensionar a pena para um patamar inferior ou igual a 4 (quatro) anos,
bem como substituir a pena restritiva de liberdade por restritiva de direitos, nos
termos do art. 44 do CP.
Nestes termos, pede e espera deferimento.
Local e data.
Nome do(a) advogado(a)
OAB/ UF nº ____
Figura 3
Fonte: exjure.org
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Infringentes e de Nulidade
Fundamento Legal
Ao elaborar a petição de embargos de declaração, deve-se fundamentar a peça no
art. 609, parágrafo único, do CPP.
Embargo de
Embargos
Nulidade
Infrigentes
Discutem Matéria
Discutem mérito
Processual
Figura 4
Os embargos infringentes e de nulidade possuem efeitos devolutivo e suspensivo.
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Cabimento dos Embargos Infringentes e de Nulidade
Para oposição de embargos infringentes e de nulidade, é necessário que a divergência do
voto vencido seja favorável ao réu. Entretanto, se o voto vencido divergir apenas parcialmen-
te, os embargos infringentes ou de nulidade serão limitados somente à discordância parcial.
Dessa forma, se ocorrer divergência parcial, os embargos serão restritos à divergência.
Por exemplo, em uma apelação, houve o pedido de absolvição e dois pedidos subsi-
diários, de afastamento de qualificadora e fixação de regime inicial mais brando, ou seja,
semiaberto. Se aos pedidos de absolvição e afastamento da qualificadora foi negado
provimento por unanimidade e ao pedido de fixação de regime inicial mais brando foi
negado provimento por maioria, pois um dos desembargadores concordou com a fixa-
ção do regime semiaberto, os embargos infringentes só poderão versar sobre o regime
inicial, pleiteando apenas a mudança para o regime semiaberto.
Não se admitem embargos fundados apenas na divergência de fundamentação.
Quanto ao cabimento, somente se admite oposição de embargos infringentes e em-
bargos de nulidade nas seguintes decisões:
• acórdão do recurso de apelação;
• acórdão do recurso em sentido estrito;
• acórdão de agravo em execução.
Assim, os embargos apenas serão oponíveis da votação não unânime de RESE
(recurso em sentido estrito) e apelação. Por analogia, há o entendimento de que é
cabível em agravo em execução.
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Infringentes e de Nulidade
Figura 5
Fonte: Getty Images
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• Decisão não unânime (2 × 1): por maioria, ou seja, houve o voto vencido favorável
ao réu. No recurso em sentido estrito e na apelação, são três os componentes da
turma julgadora, de modo que será não unânime a decisão por 2 × 1.
Competência
Mesmo órgão que proferiu a decisão, com acréscimo de julgadores.
Endereçamento
O recurso é endereçado ao desembargador-relator da decisão embargada.
Forma de Interposição
Petição de interposição mais as razões (duas peças) apresentadas conjuntamente.
Petição dirigida ao relator da decisão embargada e as razões dirigidas ao tribunal.
Nas razões, deve o(a) advogado(a) se valer da declaração de voto vencido, transcre-
vendo trechos desse voto e demonstrando que essa decisão é que deve prevalecer.
As razões deverão conter os dados de identificação, saudação; a exposição dos fatos,
com a narrativa do crime imputado ao réu e a tramitação processual até aquela data; e
a parte relacionada ao direito, isto é, a demonstração de que deve prevalecer o entendi-
mento que ficou vencido, que é favorável ao réu. Quanto ao pedido deve ficar adstrito
ao voto vencido, não podendo inovar a tese.
Como dito anteriormente, há diferença entre os embargos infringentes e os em-
bargos de nulidade, de modo que, dependendo do objeto da divergência, a petição
de interposição deverá conter a expressão “opor embargos infringentes” ou “opor
embargos de nulidade”. Caso o voto divergente tenha sido no sentido de anular o
processo e, no mérito, também foi favorável ao réu, a sugestão é de que conste “opor
embargos infringentes e de nulidade”.
Nomenclatura
Diz-se opor embargos. O recorrente é embargante e a parte recorrida é embargado.
A decisão a qual se opôs os embargos é a decisão embargada. Os embargos são aco-
lhidos ou rejeitados.
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Infringentes e de Nulidade
No julgamento da apelação, foi negado provimento ao apelo. A tese nº 3 foi rejeitada por
maioria de votos. O revisor dava provimento ao apelo, para o fim de fixar o regime semia-
berto. Publicado hoje o acórdão, tome a medida cabível para a defesa de Sergio.
Figura 6
Fonte: unipapers.org
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Razões de embargos infringentes (nulidade)
(pule duas linhas)
Embargante: “Nome do cliente”
Embargada: Justiça Pública
Apelação (ou RESE ou Agravo) nº ________
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara (ou turma TRF)
Douto Relator
(pule duas linhas)
Em que pese ao costumeiro brilhantismo da Colenda Câmara (Turma) deste E.
Tribunal, não há como se conformar com a decisão proferida no v. acórdão profe-
rido, pelas razões a seguir aduzidas:
I – Dos fatos
O embargante _______________________________
(resumir problema dado)
II – Do direito
Razão assiste ao Preclaro Desembargador que proferiu o voto vencido.
Insta acentuar que a realidade dos fatos demonstra que o embargante (argumente
sua tese).
Como sabiamente salientou o julgador que proferiu o voto vencido em fls.
________, o embargante ________.
A orientação do Ínclito Desembargador está corroborada pelos ensinamentos do
jurista ________ (transcrição dos entendimentos doutrinários favoráveis a
sua tese).
Conforme entendimento predominante na jurisprudência: (se não houver, não coloque)
Assim, deve prevalecer o voto vencido.
III – Do pedido
Diante de todo o exposto, apresentando os fundamentos dos embargos infringentes
ora opostos, postula-se a reforma do venerando acórdão, para que, ao final, seja man-
tido o voto vencido, como medida de lídima justiça.
Local e data.
Nome do(a) advogado(a)
OAB/SP. nº
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Infringentes e de Nulidade
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Nucci – embargos de declaração e efeito infringente
https://youtu.be/2KqI-G1g2SY
AGU Explica – embargos de declaração
https://youtu.be/MNBPdRsdwCg
Plenárias – Embargos Infringentes na Ação Penal 470
https://youtu.be/l8mK2At2q8I
Embargos infringentes e de nulidade
https://youtu.be/CGf6aNnNJek
Leitura
Embargos infringentes e de nulidade: aspectos importantes
https://bit.ly/3uROZDs
Os embargos infringentes no processo penal e sua entrada no Supremo Tribunal Federal
https://bit.ly/3pm2vOu
O duplo grau de jurisdição e o cabimento de embargos infringentes e de nulidade em ação penal originária
julgada por Órgão Especial de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal
https://bit.ly/34OXQek
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Referências
AVENA, N. Processo penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)
LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)
MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)
NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)
PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)
RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)
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