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Prática Jurídica

Penal III
Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade

Revisão Técnico:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan

Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Recurso em Sentido Estrito
e Recurso de Apelação

• Recurso em Sentido Estrito;


• Recurso de Apelação.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender o cabimento, a forma de interposição e o alcance do recurso em sentido estrito
e do recurso de apelação.
UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Recurso em Sentido Estrito


Definição
O recurso em sentido estrito (RESE) é o recurso segundo o qual se procede ao
reexame de uma decisão interlocutória, devidamente especificada no art. 581 do CPP,
possibilitando ao próprio juiz recorrido uma nova apreciação da questão, antes da re-
messa dos autos à superior instância.
A interposição do RESE é possível somente contra as decisões interlocutórias discri-
minadas no art. 581 e seus incisos do CPP.
O rol é taxativo, constitui numerus clausus, ou seja, não caberá o recurso se a situa-
ção não estiver elencada em uma das hipóteses do art. 581 do CPP.

Fonte 1
Fonte: Getty Images

Hipóteses Legais
O RESE é o recurso cabível das decisões que tenham por objeto quaisquer das hipóteses
elencadas no art. 581 do CPP. São elas:
I – que não receber a denúncia ou a queixa;
II – que concluir pela incompetência do juízo;
III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, inde-
ferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade
provisória ou relaxar a prisão em flagrante;
VI – que absolver o réu, nos casos do art. 411; (Revogado pela Lei
nº 11.689, de 2008)
VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

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VIII – que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a
punibilidade;
IX – que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra
causa extintiva da punibilidade;
X – que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI – que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena
(não se aplica mais RESE, aplica-se apelação ou agravo em execução,
conforme o caso);
XII – que conceder, negar ou revogar livramento condicional (não se apli-
ca mais RESE, aplica-se agravo em execução);
XIII – que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV – que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV – que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI – que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão
prejudicial;
XVII – que decidir sobre a unificação de penas (não se aplica mais RESE,
aplica-se agravo em execução);
XVIII – que decidir o incidente de falsidade;
XIX – que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença
em julgado (não se aplica mais RESE, aplica-se agravo em execução);
XX – que impuser medida de segurança por transgressão de outra (não
se aplica mais RESE, aplica-se agravo em execução);
XXI – que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do
art. 774; (não se aplica mais RESE, aplica-se agravo em execução);
XXII – que revogar a medida de segurança;
XXIII – que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em
que a lei admita a revogação (não se aplica mais RESE, aplica-se agravo
em execução);
XXIV – que converter a multa em detenção ou em prisão simples (não
cabe RESE, pois não se converte mais multa em prisão).
XXV – que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução
penal, previsto no art. 28-A desta Lei.

Hipóteses de Cabimento do Recurso em Sentido Estrito em Espécie


Conforme mencionado, o recurso em sentido estrito tem cabimento a partir das hipó-
teses legais previstas no art. 581 do CPP, as quais veremos, com mais detalhes, a seguir.

I – Da Decisão que não Receber a Denúncia ou Queixa


Da decisão que rejeita a denúncia ou a queixa (que é uma decisão interlocutória
mista terminativa), cabe recurso em sentido estrito.

Assim, rejeitada a inicial por falta de um dos requisitos formais ou materiais, nos
termos do art. 43 do CPP, dessa decisão interlocutória mista, cabe o recurso em sentido
estrito, a ser interposto pelo Ministério Público (se não recebida a denúncia) ou pelo
querelante (na ação penal privada, se não recebida a queixa-crime).

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Mas atenção: quanto à decisão que recebe a denúncia ou a queixa (que é uma de-
cisão interlocutória simples), não cabe qualquer recurso. Nesse caso, quando se recebe a
denúncia ou a queixa-crime, não cabe RESE (lembre-se: rol taxativo). Trata-se, pois, de uma
decisão irrecorrível. Dependendo do caso, da decisão que receber a denúncia ou a queixa,
caberá habeas corpus (HC). Todavia, HC não é recurso, mas ação de impugnação.

Importante!
No Juizado Especial Criminal (Lei nº 9.099/1995): “da decisão de rejeição da denúncia ou
queixa e da sentença caberá apelação” (art. 82, caput).

II – Da Decisão que Concluir pela Incompetência do Juízo


Aqui não há Provocação das Partes!
Neste caso, ou seja, da decisão que reconhece ser o juízo incompetente, cabe recurso
em sentido estrito.
Diz-se incompetente o juízo quando o juiz não possui jurisdição para a solução da lide
que lhe é submetida à apreciação.
Contudo, essa hipótese somente se aplica quando o juiz reconhece, de ofício, a sua
incompetência para atuar no processo. Para capitulação no inciso II do art. 581 do CPP,
não pode ter havido requerimento das partes.

III – Da decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição


Nesta hipótese há provocação. A parte inconformada solicita ao juiz que reco-
nheça a sua suspeição!

Exceção: é um meio de defesa indireto, com o objetivo de extinguir a ação ou simplesmente


dilatar o seu exercício. São exceções: incompetência do juízo; ilegitimidade de parte; litispen-
dência; coisa julgada e suspeição. Estão descritas nos arts. 95 a 111 do CPP.

Da decisão do juiz que rejeitar qualquer exceção, não caberá qualquer recurso.

Quanto à decisão do juiz que acolher qualquer exceção, caberá recurso em sen-
tido estrito.

Por fim, da decisão do juiz que acolher a exceção de suspeição, não caberá recurso.
E, nesse caso, não caberia recurso da decisão que acolhesse a suspeição, por uma razão
muito óbvia: se a parte arguisse a exceção de suspeição do juiz e este entendesse ser ela
procedente, seria um contrassenso a parte contrária insurgir-se contra tal entendimento
do próprio Magistrado.

Atente-se que, quando houver requerimento de uma das partes para que haja reco-
nhecimento de incompetência do juízo, sendo deferido, caberá interposição do recurso
em sentido estrito, pela parte contrária, na capitulação do art. 581, III, do CPP.

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Importante!
Na hipótese do inciso II do art. 581 do CPP, cabe recurso em sentido estrito quando o juiz,
de ofício, reconhece a sua incompetência, ou seja, sem provocação das partes. Já a hi-
pótese do inciso III do art. 581 do CPP ocorre quando o juiz acolhe uma exceção invocada
pelas partes, ou seja, com provocação!

IV – Da Decisão que Pronunciar o Réu


Pronúncia é decisão processual interlocutória mista, não terminativa, proferida pelo juiz
ao encerrar a primeira fase do júri. Pronunciar o réu significa que o juiz entendeu que, após
análise das provas do processo, por estar provada a existência de um crime doloso contra
a vida e ser provável a sua autoria, o réu deve ser submetido a júri popular.
A decisão de pronúncia, portanto, remete o réu a julgamento perante o Tribunal do Júri.
Assim, quanto à decisão que pronuncia o réu (que é uma decisão interlocutória mista
não terminativa), cabe recurso em sentido estrito.

Terminativa: é aquela que resolve uma questão processual, encerra uma fase do processo sem
condenar ou absolver o acusado.

Ocorrerá, entretanto, a impronúncia do réu quando o magistrado não se convencer da


existência de indícios de autoria delitiva, ou da prova da materialidade do crime, decisão
essa que acarreta a extinção do processo sem julgamento do mérito.
Da decisão que impronuncia o réu (que é uma decisão interlocutória mista terminativa),
cabe o recurso de apelação, e não o recurso em sentido estrito.
Para minoria da doutrina, da decisão que desclassifica o crime de competência do
Tribunal do Júri, para crime de competência do juiz singular (por exemplo: lesão corpo-
ral seguida de morte, latrocínio etc.), cabe recurso em sentido estrito, com fundamento
no inciso IV do art. 581 do CPP, uma vez que, para se reconhecer que o crime não
pertence ao júri, antes é necessário reconhecer que não ficou provada a prática de crime
doloso contra a vida.
Todavia, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante considera que, da
decisão que desclassifica o crime da competência do Tribunal do Júri para a competência
do juiz singular, cabe recurso em sentido estrito, com base no inciso II do art. 581 do CPP,
visto que a decisão apenas conclui pela incompetência do juízo (sem qualquer provocação
da parte, motivo pelo qual a fundamentação se apoia no inciso II do art. 581 do CPP).

V – Da decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar
a prisão em flagrante delito
A liberdade provisória com ou sem arbitramento de fiança está capitulada nos arts. 321
a 350 do CPP.

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Se o juiz concede ou nega a fiança, cabe recurso em sentido estrito. Mas, se o juiz
não arbitra a fiança, cabe habeas corpus.
Se o juiz cassa ou considera inidônea a fiança, cabe recurso em sentido estrito. Mas,
se o juiz não cassa a fiança nem a julga inidônea, não cabe recurso.
Se o juiz indefere requerimento de prisão preventiva, cabe recurso em sentido estrito.
Mas, se o juiz defere requerimento de prisão preventiva, cabe habeas corpus.
Se o juiz revoga prisão preventiva, cabe recurso em sentido estrito. Mas, se o juiz não
revoga, cabe habeas corpus.
Se o juiz relaxa prisão em flagrante, cabe recurso em sentido estrito. Mas, se o juiz
não relaxa prisão em flagrante, cabe habeas corpus.
Se o juiz concede liberdade provisória, cabe recurso em sentido estrito. Mas, se o juiz
não concede liberdade provisória, cabe habeas corpus.

VI – Da decisão que absolver o réu, nos casos do art. 411


Da decisão que absolve sumariamente o réu, cabe apelação.

Importante!
O inciso VI do art. 581 do CPP foi revogado pela Lei nº 11.689/2008.

VII – Do despacho que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor


A fiança é considerada quebrada, nos termos dos arts. 328 e 341 do CPP, quando o réu:
• Legalmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer injustificadamente;
• Se mudar de residência, sem prévia autorização da autoridade judiciária;
• Se ausentar da comarca por mais de 8 (oito) dias, sem permissão do juiz;
• Na vigência da fiança, praticar outra infração penal;

Tais atitudes por parte do réu, além de tornarem quebrada a fiança, trazem ao acu-
sado outras consequências, quais sejam:
• A perda da metade do valor da fiança;
• A proibição da concessão de nova fiança no mesmo processo;
• A revelia do acusado;
• O seu recolhimento à prisão.
Não obstante, ocorrerá o perdimento da totalidade do valor da fiança quando o réu,
condenado, deixar de recolher-se à prisão.
Se o juiz julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor, caberá recurso em sentido
estrito. Há que se observar, porém, que o recurso em sentido estrito no caso de perdimento
do valor da fiança terá efeito suspensivo. Já o recurso em sentido estrito no caso de quebra-
mento da fiança suspenderá unicamente a perda da metade de seu valor, não impedindo
os demais efeitos.
Mas, se o juiz não julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor, não caberá qual-
quer recurso.

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VIII – Da decisão que decretar a prescrição ou julgar,
por outro modo, extinta a punibilidade
A decisão do juiz que julga extinta a punibilidade do réu trata-se de uma sentença
terminativa de mérito, a qual encerra o processo, com julgamento do mérito, mas que
não condena nem absolve o réu.
As causas extintivas da punibilidade do réu são aquelas que levam o Estado à perda
do direito de punir, elencadas no art. 107 do CP brasileiro.
Assim, da decisão que julga extinta a punibilidade do réu, cabe recurso em sentido estrito.

IX – Da decisão que indeferir o pedido de reconhecimento da


prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade
Em relação à decisão do juiz que indeferir o pedido de extinção da punibilidade
do réu, por tratar-se de decisão interlocutória simples (porque, ao indeferir o pedido de
extinção da punibilidade do réu, o processo seguirá o seu curso normal, até final deci-
são), em tese, não caberia qualquer recurso.
Mas, diante da previsão expressa contida no inciso IX do art. 581 do CPP, da decisão
que indefere o pedido de extinção do processo, cabe recurso em sentido estrito.
Assim, da decisão que decreta a extinção da punibilidade do réu, cabe recurso em
sentido estrito, com fundamento no art. 581, VIII, do CPP. Igualmente, da decisão do
juiz que não decreta a extinção da punibilidade, cabe recurso em sentido estrito, com
fundamento no art. 581, IX, do CPP.

X – Da decisão que conceder ou negar habeas corpus


Da decisão do juiz que concede ou nega habeas corpus, cabe recurso em sentido estrito.
Nos termos do art. 574 do CPP, na hipótese de concessão pelo juiz de ordem de habeas
corpus (o dispositivo refere-se apenas à decisão do juiz singular, e não do tribunal), além
do recurso voluntário (recurso em sentido estrito) interposto pela parte, cabe o recurso
necessário, de ofício, interposto pelo juiz.

XI – Da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional do processo


No caso de a decisão do juiz que concede, nega ou revoga o sursis – suspensão
condicional da pena – estar embutida na sentença penal condenatória, é cabível o recurso
de apelação.
Mas, se a decisão do juiz que concede, nega ou revoga a suspensão condicional da
pena ocorrer após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, nos termos do
art. 197 da Lei nº 7.210/1984 – Lei de Execução Penal –, é cabível agravo em execução.

XII – Da decisão que conceder, negar ou revogar livramento condicional


Da decisão que concede, nega ou revoga livramento condicional, cabe agravo
em execução, nos termos do art. 197 da Lei de Execução Penal.
Vale ressaltar que a decisão que concede, nega ou revoga livramento condicional é
uma decisão proferida pelo juiz da vara das execuções penais, motivo pelo qual o recurso
cabível é o agravo em execução.
Portanto, o inciso XI do art. 581 do CPP está revogado.

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XIII – Da decisão que anular a instrução criminal, no todo ou em parte


Neste caso, cabe recurso em sentido estrito.
Mas, se o juiz não anular a instrução criminal, dependendo do caso, cabe habeas
corpus, nos termos do art. 648, VI, do CPP.
Não obstante, dependendo do caso concreto, quando o juiz não anula a instrução
processual, no todo ou em parte, cabe, ainda, a correição parcial.

XIV – Da decisão que incluir o jurado na lista geral ou dela o excluir


Da decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral, cabe recurso em sentido estrito.
Anualmente, é organizada uma lista geral de jurados pelo juiz-presidente do Tribunal do
Júri, da qual serão sorteados 21 (vinte e um) jurados para comparecerem à sessão periódi-
ca. Essa lista será publicada na Imprensa Oficial, onde houver, e afixada na porta do edifício
do fórum no mês de novembro de cada ano, para conhecimento geral da sociedade.
Assim, se se tratar de exclusão de jurado, terão titularidade para interpor o recurso
em sentido estrito o excluído, o representante do Ministério Público, na qualidade de
custus legis (fiscal da lei), ou qualquer pessoa residente no foro.
Entretanto, se se tratar de inclusão de jurado, terão titularidade para interpor o recurso
em sentido estrito o representante do Ministério Público, qualquer pessoa residente no
foro e a pessoa que requereu a exclusão do jurado.

XV – Da decisão que denegar a apelação ou a julgar deserta


Em regra, o recurso cabível das decisões que denegam seguimento de recurso inter-
posto ou obstam a sua expedição ou seguimento é a carta testemunhável.
Mas, por disposição expressa no art. 581, XV, do CPP, da decisão que denega ou
julga deserto o recurso de apelação, cabe recurso em sentido estrito.
Denegar o recurso de apelação significa entendê-lo inadmissível, em virtude da ausência
de algum pressuposto objetivo ou subjetivo.
Com a revogação do art. 595 do CPP, a deserção ficou restrita à falta de preparo.
Assim, a deserção ocorre em uma hipótese: quando não há o recolhimento das des-
pesas recursais. Contudo, a Lei Estadual nº 4.952/1985 aboliu o pagamento das custas
processuais em matéria criminal. Portanto, a deserção em processo penal consiste na
falta de preparo na ação penal privada.

XVI – Da decisão que ordenar a suspensão do processo,


em virtude de questão prejudicial
A questão prejudicial (art. 92 e ss. do CPP) constitui um empecilho, um impedimento,
ao desenvolvimento normal e regular do processo penal. Toda questão, que incidir no pro-
cesso em curso, que se referir ao mérito da causa, ou seja, à existência da infração penal,
será considerada uma questão prejudicial.

A questão prejudicial pode ser: obrigatória ou facultativa.


A questão prejudicial obrigatória trata do estado civil das pessoas. É uma questão
prejudicial porque incide no processo uma questão que trata do estado civil das pessoas

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e que, portanto, diz respeito ao mérito, ou seja, à existência do crime, cuja suspensão
do processo penal é obrigatória.

Por sua vez, a questão prejudicial facultativa caracteriza-se pela faculdade que as-
siste ao juiz criminal de suspender ou não o curso da ação penal, desde que não relativa
ao estado civil das pessoas, para se dirimir a questão prejudicial em qualquer outro juízo
especializado pela matéria prejudicial.

Desse modo, da decisão que suspender o processo penal em virtude de questão


prejudicial, cabe recurso em sentido estrito.

Mas, da decisão que denega a suspensão do processo em virtude de questão prejudicial,


não cabe recurso, ou seja, é irrecorrível.

XVII – Da decisão que decidir sobre a unificação de penas


Neste caso, cabe agravo em execução, nos termos do art. 197 da Lei de Execução
Penal. Portanto, o inciso XVI do art. 581 do CPP está revogado.

XVIII – Da decisão que decidir o incidente de falsidade


O incidente de falsidade (art. 145 e ss. do CPP) é uma arguição por escrito, e autuada
em apartado, da falsidade de um documento constante nos autos do processo; se julgado
procedente, provoca a retirada do documento dos autos.

O requerimento de instauração do incidente deve ser dirigido ao juiz, o qual se limita-


rá a determinar a sua autuação em apartado. Em seguida, a parte contrária se manifesta
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, contestando ou não a falsidade do documento.
Após a resposta, procede-se à apuração da falsidade, geralmente mediante prova peri-
cial (laudo de exame grafotécnico) e, após colhidos todos os elementos de prova, caberá
ao juiz decidir o incidente.

Qualquer que seja a decisão do juiz, ou seja, se ele julgar procedente ou improcedente
o incidente de falsidade, caberá recurso em sentido estrito.

Mas, se o juiz denegar liminarmente a instauração do incidente de falsidade, não


caberá qualquer recurso, pois trata-se de decisão irrecorrível.

XIX – Da decisão que decretar medida de segurança,


depois de transitar a sentença em julgado
Da decisão que decreta a medida de segurança, após o trânsito em julgado da
sentença penal, cabe agravo em execução, nos termos dos arts. 171 a 179 e 197, todos
da Lei de Execução Penal.

Portanto, o inciso XIX do art. 581 do CPP está revogado.

XX – Da decisão que impuser medida de segurança por transgressão de outra


Neste caso, cabe agravo em execução, nos termos dos arts. 171 a 179 e 197, todos
da Lei de Execução Penal.

Portanto, o inciso XX do art. 581 do CPP está revogado.

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XXI – Da decisão que mantiver ou substituir a


medida de segurança, nos casos do art. 774
Da decisão que mantiver ou substituir a medida de segurança, caberá agravo em
execução, nos termos dos arts. 171 a 179 e 197 da Lei de Execução Penal.
Portanto, o inciso XXI do art. 581 do CPP está revogado.

XXII – Da decisão que revogar a medida de segurança


Neste caso, cabe agravo em execução, nos termos dos arts. 171 a 179 e 197 da Lei
de Execução Penal.
Portanto, o inciso XXII do art. 581 do CPP está revogado.

XXIII – Da decisão que deixar de revogar a medida de segurança,


nos casos em que a lei admite a revogação
Da decisão que deixa de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei
admite a revogação, cabe agravo em execução, nos termos dos arts. 171 a 179 e 197
da Lei de Execução Penal.
Portanto, o inciso XXIII do art. 581 do CPP está revogado.
Em suma, as decisões tratadas nos incisos XII, XVII, XIX, XXI, XX e XXIII do art. 581
do CPP, por serem proferidas pelo juiz das execuções, comportam o recurso de agravo
em execução, previsto no art. 197 da Lei nº 7.210/1984, motivo pelo qual os referidos
incisos estão revogados.

XXIV – Da decisão que converter a multa em prisão simples


O inciso XXIV do art. 581 do CPP está revogado em face da nova redação dada ao
art. 51 do CP, determinada pela Lei nº 9.268/1996, que veda a conversão da pena de
multa em pena privativa de liberdade, no caso de não pagamento ou de o agente frustrar
a sua execução.
Pela nova sistemática determinada pela Lei nº 9.268/1996, a pena de multa não
paga pelo condenado será considerada dívida de valor, a ela sendo aplicadas as normas
relativas à dívida ativa da Fazenda Pública.
Já o inciso XXIV do art. 581 do CPP caiu no vazio, porquanto não mais se permite
a conversão da multa em pena privativa de liberdade.

XXV – Da decisão que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução


penal, previsto no art. 28-A do CPP
O art. 28-A, inserido no Código de Processo Penal pela Lei nº 13.964/2019, regula-
menta o “acordo de não persecução penal”.
Esse acordo prevê que, não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado con-
fessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá pro-
por acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação
e prevenção do crime, mediante as condições ajustadas cumulativa e alternativamente,
descritas no art. 28-A do CPP.

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Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no
acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.

Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos


ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.

O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais
ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º do art. 28-A do CPP.

Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise


da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.

Assim, da decisão que recusar a homologação, caberá recurso em sentido estrito


(CPP, art. 581, XXV).

No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não perse-
cução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma
do art. 28 do CPP.

Prazo do Recurso em Sentido Estrito


O recurso em sentido estrito deve ser interposto no prazo de 5 (cinco) dias, por
meio da petição de interposição do recurso, e o termo a quo conta-se conforme a hi-
pótese prevista no art. 798, § 5º, a a d, do CPP, ou seja: da intimação da sentença; da
audiência em que a sentença for proferida, se presentes as partes; e do dia em que a
parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou do despacho. “Art. 586.
O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias.”.

Há, entretanto, uma exceção em relação ao inciso XIV do art. 581 do CPP. No caso
de recurso da decisão que incluir jurado na lista geral ou dela excluir, o recurso em sen-
tido estrito deve ser interposto no prazo de 20 (vinte) dias, por meio da petição de
interposição do recurso, a contar da publicação da lista geral de jurados.

Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de 05


(cinco) dias.
[...]
Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de 20 (vinte)
dias contado da data da publicação definitiva da lista de jurados.

Interposto o recurso em sentido estrito, abre-se vista para o recorrente, que, no prazo
de 2 (dois) dias, deve apresentar as razões do recurso em sentido estrito e, depois,
por igual prazo, abre-se vista ao recorrido, para a oferta das contrarrazões do recurso
em sentido estrito, nos termos do art. 588 do CPP:

Art. 588. Dentro de dois dias, contados da interposição do recurso, ou do


dia em que o escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente,
este oferecerá as razões e, em seguida, será aberta vista ao recorrido, por
igual prazo.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

No entanto, com ou sem as razões, o recurso em sentido estrito subirá ao tribunal para
julgamento, conforme o disposto no art. 589 do CPP:

Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso
ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho,
mandando instruir com os traslados que lhe parecerem necessários.

Traslado nada mais é do que a extração de cópias das principais peças do processo,
que formarão um instrumento. Este será remetido ao tribunal que, com base nesse instru-
mento, julgará aquilo que for objeto de impugnação no recurso, sem prejuízo da instrução
criminal em trâmite no juízo a quo.

No recurso em sentido estrito, existe, porém, a previsão de hipóteses em que os próprios


autos subirão ao tribunal, sem que seja feito o traslado, nos termos do art. 583 do CPP:

Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos:


I – quando interpostos de ofício;
II – nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X;
III – quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.

Endereçamento – Competência para


Julgar o Recurso em Sentido Estrito
O recurso em sentido estrito deve ser endereçado ao tribunal competente para conhe-
cê-lo e apreciá-lo (Tribunal de Justiça Estadual ou Tribunal Regional Federal), mas deve ser
interposto perante o juiz recorrido, para que este possa rever a sua decisão, em sede de
juízo de retratação.

O RESE não possui o chamado juízo de prelibação, que é o juízo de admissibilidade


feito pelo juízo a quo, motivo pelo qual deve o magistrado recorrido, obrigatoriamente,
receber e processar o recurso, determinando sua remessa ao juízo ad quem (tribunal),
para reexame da causa, ainda que não preenchido algum pressuposto recursal, objetivo
ou subjetivo.

Efeitos do Recurso em Sentido Estrito


O recurso em sentido estrito é dotado dos seguintes efeitos:
• Efeito devolutivo: é o efeito comum a todos os recursos, constituindo a possibilida-
de de devolver ao tribunal competente o reexame da decisão impugnada;
• Efeito regressivo: é a possibilidade dada ao juiz a quo (recorrido) de rever,
reavaliar, reconsiderar a sua decisão, no chamado juízo de retratação. Assim,
mantida a decisão pelo juízo a quo (juiz singular de primeira instância – juiz da
condenação), deverá o processo ser remetido ao juízo ad quem (tribunal), para
julgamento do recurso;
• Efeito suspensivo: impossibilita a execução da decisão impugnada até o seu julga-
mento. De acordo com o art. 584 do CPP, o efeito suspensivo, presente no recurso
em sentido estrito, ocorre nos seguintes casos: “Art. 584. Os recursos terão efeito

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suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional e
dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581”. Ou seja:
» perdimento de fiança;
» decisão que denegue a apelação ou a julgue deserta;
» despacho que julgar quebrada a fiança, no tocante à perda de metade do seu valor;
» da decisão de pronúncia, mas somente quanto à realização do julgamento;
» da decisão que julgar extinta a punibilidade do réu, não impedindo que este seja
colocado imediatamente em liberdade;
» da decisão que desclassifica o crime doloso contra a vida da competência do Tri-
bunal do Júri para a competência do juiz singular.

Apelação e Recurso em Sentido Estrito


As hipóteses de RESE estão em rol taxativo, no art. 581 do CPP. A apelação é residual,
quando não é cabível a interposição de RESE.

Juízo de Retratação
Como já dito, no recurso em sentido estrito, há efeito regressivo, ou seja, é possível que
o juiz que proferiu a decisão se arrependa, retrate-se e a modifique, após as contrarrazões
do recorrido. A previsão legal do juízo de retratação está no art. 589 do CPP.

Razões e Contrarrazões
Conforme consta no artigo 588 do Código de Processo Penal após a interposição do
recurso devem ser apresentadas as razões e contrarrazões do recurso no prazo de dois dias.
O texto da lei não menciona expressamente o termo contrarrazões, mas caso tenham sido
apresentadas as razões do recurso, em seguida devem ser apresentadas as contrarrazões.

Como Elaborar um Recurso em Sentido Estrito na Prática


Tomemos como exemplo a seguinte situação-problema: A e B eram amigos e re-
solveram fazer uma viagem para explorar algumas cavernas na cidade de São Paulo.
Ocorre que acabaram por se perder por longos dois meses, passando por dificuldades
inimagináveis ao homem comum. Quando os bombeiros os alcançaram, conforme a
denúncia, o acusado havia tirado a vida de B e assado a coxa da perna esquerda deste
para se alimentar. O recorrente foi preso em flagrante, sendo processado por homicídio
doloso simples (art. 121 do CP), tendo sua liberdade provisória concedida (fls. .....). Res-
tou pronunciado (fls. .....), em decisão prolatada há dois dias. Vem, então, o recorrente
requerer o que se segue.

Para identificação da peça, verificaremos o momento processual.

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19
UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

No caso apresentado, o último andamento refere-se à decisão de pronúncia há dois


dias. Se analisarmos as hipóteses do art. 581 do CPP, especificamente a do inciso IV,
identificaremos que, da decisão de pronúncia, cabe recurso em sentido estrito.

Fonte 2
Fonte: Getty Images

Modelo de Peça

Modelo de Interposição
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ª Vara do Tribunal do Júri da
Comarca de São Paulo-SP
(Pular 8 linhas)
A, já qualificado nos autos do processo criminal em epígrafe que lhe move o Minis-
tério Público Estadual, por seu/sua advogado(a) que esta subscreve, não se confor-
mando com a respeitável decisão de pronúncia a fls. ___, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 581, IV, do CPP, interpor o presente
recurso em sentido estrito.
Assim sendo, requer seja recebido o presente recurso e aplicado o juízo de retratação.
Caso Vossa Excelência entenda que deva manter a decisão, requer seja processado
e encaminhado o presente Recurso ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Nestes termos, pede deferimento.

Local e data.

Nome do(a) Advogado(a)


OAB nº

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Razões de recurso em sentido estrito
Recorrente: A
Recorrido: Ministério Público de São Paulo
Autos nº:
Egrégio Tribunal!
Colenda Câmara!
Ínclitos Desembargadores!
Douta Procuradoria de Justiça!
Em que pese à respeitável decisão do Excelentíssimo Juiz de Direito a quo, não me-
rece prosperar a pronúncia do recorrente pelas razões fáticas e jurídicas a seguir
expostas, vejamos:
I – Síntese do ocorrido
O recorrente e B eram amigos e resolveram fazer uma viagem para explorar algumas
cavernas na cidade de São Paulo.
Ocorre que acabaram por se perder por longos dois meses, passando por dificulda-
des inimagináveis ao homem comum.
Conforme consta na denúncia, quando os bombeiros alcançaram o recorrente e B, o
acusado havia tirado a vida deste e assado a coxa da perna esquerda da vítima para
se alimentar.
O recorrente foi preso em flagrante, sendo processado por homicídio doloso simples
(art. 121 do CP), tendo sua liberdade provisória concedida (fls.____).
Restou pronunciado (fls. ____), em decisão prolatada há dois dias.

II – Fundamentos jurídicos
A) Ausência de provas ou indícios de homicídio
Consta da inicial acusatória que o recorrente supostamente teria cometido a condu-
ta prevista no art. 121 do CP, qual seja, homicídio simples.
Há de se ater que, apesar de constar o óbito de B (laudo fls. ____) e os próprios
bombeiros testemunharem que viram o acusado assando coxa da perna esquerda
da vítima (depoimento fls. ____), em nenhum momento há a imputação ou qual-
quer indício de que realmente o acusado tivesse tirado a vida de seu colega.
O fato de o recorrente estar comendo os restos mortais de seu amigo não prova, por
si só, que o mesmo cometeu a conduta descrita no art. 121 do CP.
Não há provas de que o réu tenha cometido a infração penal, e, por isso, não deveria
o magistrado a quo ter pronunciado o recorrente, pois não há indícios suficientes de
autoria do acusado na prática do crime imputado.
Portanto, equivocou-se o juízo de primeiro grau ao pronunciar o recorrente na inexis-
tência de provas ou indícios de crime contra a vida, devendo, neste caso, haver, desde
logo, a impronúncia do acusado nesse aspecto, conforme preceitua o art. 414 do CPP.
B) Estado de necessidade
Por outro lado, ainda que eventualmente, se V. Exas. acolherem as razões acusató-
rias, há de se reconhecer que o suposto homicídio praticado pelo recorrente ocorreu
apenas em razão da circunstância extrema de vida ou morte, qual seja, a fome.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Conforme prevê o art. 23 do CP, não há crime quando o agente pratica o fato em
estado de necessidade, já que o recorrente apenas teria tirado a vida de seu amigo
para saciar a sua fome. Tanto que assim o fez, assando parte de seus membros por
estarem dois meses presos numa caverna e sem perspectiva alguma de resgate.
No presente caso, conforme preceitua o Código de Processo Penal, em seu art. 415,
IV, o juiz absolverá, desde logo, o acusado quando o fato não for punível, por confi-
gurar excludente de ilicitude, isto é, a exclusão do próprio crime.
Portanto, incabível e equivocada a respeitável decisão de pronúncia, já que o recorrente,
diante da excludente configurada, deveria ter sido absolvido sumariamente.
III – Pedidos
Ante o exposto, requer que seja conhecido e provido o presente recurso em sentido
estrito, para que haja a devida reforma, impronunciando o acusado, pela ausência
de indícios de crime contra a vida, conforme o art. 414 do CPP, ou, eventualmente, na
conclusão de haver ocorrido o delito, desde logo absolvido sumariamente em razão
da existência da excludente de ilicitude do estado de necessidade (art. 23 do CP c/c
art. 415 do CPP).
Nestes termos, pede deferimento.

Local e data.

Nome do(a) Advogado(a)


OAB nº

Recurso de Apelação
O recurso de apelação é o recurso interposto da sentença definitiva ou das deci-
sões definitivas ou com força de definitiva, para a segunda instância, com o fim de
que se proceda ao reexame total ou parcial da matéria, com a consequente modificação
total ou parcial da decisão proferida pelos órgãos inferiores.

Figura 3
Fonte: Getty Images

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Cabimento da Apelação das Decisões do Juiz Singular
O recurso de apelação está previsto no art. 593 do CPP.
Assim, vejamos:
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:
I – das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por
juiz singular;
II – das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por
juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
III – das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à deci-
são dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou medida
de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Vale lembrar:
• Sentenças definitivas: são as sentenças que resolvem o mérito da causa. São as deci-
sões que põe fim à relação jurídico-processual, julgando o mérito, quer absolvendo, quer
condenando o acusado – sentença em sentido estrito (condenatórias ou absolutórias);
• Sentença absolutória: é a decisão que não acolhe a pretensão punitiva do Estado,
julgando improcedente a ação penal;
• Sentença condenatória: é a decisão que acolhe a pretensão punitiva do Estado,
julgando procedente, no todo ou em parte, a ação penal, impondo uma pena ao
responsável, qual seja, ao réu.

De toda sentença condenatória, cabe o recurso de apelação e, de quase toda sentença


absolutória, também cabe esse recurso. A absolvição sumária, decisão proferida na primei-
ra fase do procedimento escalonado do Tribunal do Júri, constitui uma decisão definitiva,
que julga o mérito da causa, porém, dessa decisão, não cabe o recurso de apelação, mas
cabe o recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, VI, do CPP.

Nessa mesma classificação, qual seja, das sentenças em sentido estrito existe, ainda:
• Decisão terminativa de mérito: é a decisão que encerra o processo com julgamento
do mérito, sem absolver ou condenar. Exemplo: a sentença que declara extinta a puni-
bilidade do réu. Tal decisão é apelável, desde que, para ela, não tenha sido previsto o
recurso em sentido estrito;

Importante!
A decisão que julga extinta a punibilidade do réu é uma decisão terminativa
de mérito, mas, dela, cabe recurso em sentido estrito, de acordo com o disposto no
art. 581, VII, do CPP.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

• Decisões definitivas: são aquelas que podemos denominar definitivas lato sensu,
ou seja, que encerram a relação processual, julgam o mérito da causa, mas não se
enquadram nas modalidades das sentenças condenatórias ou absolutórias previstas
nos arts. 386 e 387 do CPP. Já se colocou em dúvida a existência desse tipo de
decisão no processo penal. Todavia, há decisões que têm essa natureza, que são os
chamados incidentes. São elas:
» as decisões que julgam o pedido de restituição de coisas apreendidas, nos termos
do art. 120, § 1º, do CPP;
» as decisões que ordenam, ou não, o sequestro, nos termos do art. 127 do CPP;
» as decisões que cancelam o sequestro, pois resolvem o incidente em caráter defi-
nitivo, em seu mérito, ainda que parcial, sem que a questão possa ser renovada;
» as decisões que autorizam, ou não, o levantamento do sequestro (art. 131 do CPP);
» as decisões que acolhem, ou não, o pedido de especialização e inscrição de hipo-
teca legal ou de arresto, nos termos dos arts. 134, 135, 136 e 137, todos do CPP;
» a decisão que homologa, ou não, laudo pericial de pedido de busca e apreensão
em crimes contra a propriedade imaterial;
» a decisão que indefere a justificação;
» a decisão que concede a reabilitação.
• Decisões com força de definitiva: são as decisões interlocutórias mistas, que
se subdividem em:
» interlocutórias mistas terminativas: são as decisões que extinguem o processo,
sem julgamento do mérito, ou seja, encerram o processo, sem a solução da lide
penal. Exemplo: decisão que reconhece a ilegitimidade de parte, a decisão que
rejeita a denúncia ou queixa-crime, a decisão de impronúncia, etc.;
» interlocutórias mistas não terminativas: são as decisões que encerram apenas
uma fase do procedimento, mas não o extinguem. Exemplo: a decisão de pro-
núncia, que põe fim à primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, que é
a instrução perante o juiz singular, remetendo os autos ao Tribunal do Júri, para
julgamento perante o plenário do júri popular.
Tais decisões, entretanto, são apeláveis desde que, para elas, não tenha sido previsto
o recurso em sentido estrito.
Assim, a decisão de pronúncia é uma decisão interlocutória mista não terminati-
va, mas, dela, cabe recurso em sentido estrito, conforme disposição expressa no art. 581,
IV, do CPP.
Do mesmo modo, a decisão que rejeita a denúncia ou queixa-crime e a decisão de
impronúncia constituem decisões interlocutórias mistas terminativas, porém essas
decisões estão elencadas, respectivamente, nos incisos I e IV do art. 581 do CPP, como
sendo decisões atacáveis por recurso em sentido estrito. Logo, da decisão que rejeita a
denúncia ou queixa-crime e da decisão de impronúncia, não cabe o recurso de apelação,
mas o recurso em sentido estrito.
Algumas questões, então, são necessárias para se verificar qual o recurso adequado
a cada situação. Nesse sentido, vejamos:

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1) A decisão do juiz que extingue a punibilidade constitui uma sentença definitiva?
Sim, é uma sentença definitiva, pois, para a sua análise, o magistrado, obrigatoria-
mente, ingressa no meritum causae.
2) Então, da decisão que extingue a punibilidade do réu, cabe recurso de apelação?
Não, porque, da decisão que extingue a punibilidade do réu, cabe recurso em senti-
do estrito, por expressa disposição no art. 581, VIII, do CPP.
3) Da decisão que declara a ilegitimidade ad causam do réu, isto é, que o réu é
parte ilegítima, qual o recurso adequado?
Depende. Se o juiz verificar, de pronto, que o réu é parte ilegítima no processo penal,
ele deve rejeitar a denúncia, e, da decisão que rejeita ou não recebe a denúncia, é
adequado o recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, I, do CPP.
Mas, se o juiz reconhecer a ilegitimidade de parte do réu após o recebimento da
denúncia e, portanto, durante a ação penal, é adequado o recurso de apelação.
4) O juiz absolve o réu, entendendo que não há provas suficientes para a
condenação (fundamento da decisão: insuficiência de provas). O réu, incon-
formado, deseja que fique reconhecido, na sentença absolutória, que ele não
praticou o ato ilícito. Nessa hipótese, qual o recurso cabível?
Da sentença que absolver o réu (sentença definitiva), qualquer que seja o seu funda-
mento, é cabível o recurso de apelação.
5) O réu foi condenado pelo juízo a quo por roubo, mas a defesa deseja modi-
ficar a decisão no sentido de desclassificar para o crime de furto, por entender
não ter havido a violência ou a grave ameaça. Qual o recurso cabível?
A desclassificação não é hipótese prevista no rol do art. 581 do CPP, portanto, nesse
caso, a defesa deverá ingressar com o recurso de apelação, mesmo porque trata-se
de uma sentença condenatória (sentença definitiva).
6) O réu foi condenado e o juiz estabeleceu o regime semiaberto para início de
cumprimento da pena. O réu, inconformado, deseja ver modificada a decisão
do juízo a quo, para que se estipule o regime aberto para o início do cumpri-
mento da pena. Qual o recurso cabível?
Nesse caso, trata-se também de uma sentença condenatória e, portanto, de uma
sentença definitiva e, nos termos do art. 593, I, do CPP, das sentenças definitivas de
condenação, caberá o recurso de apelação.
7) Qual o recurso cabível da decisão do juiz que não recebeu a apelação e jul-
gou extinto o processo?
Nos termos do art. 581, XV, do CPP, é cabível o recurso em sentido estrito.

O recurso de apelação possui maior amplitude, pois realiza o exame das questões de
fato e de direito discutidas no processo, ainda que não examinadas por inteiro na sentença.
Assim, todas as questões de ordem pública podem ser conhecidas e discutidas a qualquer
tempo, ainda que em grau de recurso – na apelação.
É um recurso genérico, porque é um recurso cabível nas sentenças definitivas, das
decisões definitivas ou com força de definitiva proferidas do juiz singular e das decisões
do Tribunal do Júri, nas hipóteses mencionadas expressamente no art. 593, III, a a d.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Ademais, é um recurso amplo, porque, em regra, devolve ao tribunal o conheci-


mento pleno da matéria impugnada. Todavia, é óbvio que, no recurso de apelação, o
apelante não pode formular novo pedido, até então inexistente, que não tenha sido
objeto de julgamento em instância inferior. Se isso fosse possível, evidentemente não
estaríamos diante de um recurso, mas de uma ação originariamente proposta na se-
gunda instância, em total desrespeito ao princípio do duplo grau de jurisdição (uma
instância teria sido suprimida).

Se o recurso de apelação constitui um reexame da matéria debatida pelos juízes


singulares de primeira instância, qualquer matéria que não tenha sido objeto de debate,
discussão e julgamento perante esses juízes não pode ser conhecida em grau de recurso.

É, igualmente, um recurso residual, tendo em vista que o recurso de apelação somente


poderá ser interposto se não houver previsão expressa de cabimento do recurso em sen-
tido estrito para a hipótese que se deseja impugnar.

Como é sabido, o art. 581 do CPP nos traz um elenco de hipóteses impugnáveis por
via de recurso em sentido estrito. Tais hipóteses constituem um rol taxativo, que não
admite qualquer extensão ou ampliação das suas hipóteses. Isso significa que, se, para
a decisão que se deseja impugnar, não houver previsão expressa no rol do art. 581 do
CPP, não caberá recurso em sentido estrito. Por via de regra, o recurso cabível para a
hipótese é a apelação.

É, por fim, um recurso preferível, por ser o mais adequado quando “parte” da de-
cisão impugnada poderia ser atacada por meio de recurso em sentido estrito, que fica
afastado para que seja nela apreciado todo o objeto da sentença, em atenção ao princípio
da unirrecorribilidade.

Assim, o recurso de apelação prevalece em relação ao recurso em sentido estrito,


de modo que, se a lei prever expressamente (art. 581 do CPP) o cabimento do recurso
em sentido estrito com relação a uma parte da decisão e o recurso de apelação para o
restante, prevalecerá este último.

Exemplo: da sentença condenatória, sempre cabe recurso de apelação (porque é uma


sentença definitiva: condenatória e absolutória), nos termos do disposto no art. 593, I,
do CPP, não havendo a possibilidade de interpor recurso em sentido estrito, por falta de
previsão expressa nessa perspectiva. Não obstante, no caso de decisão denegatória de
sursis (suspensão condicional da pena), é previsto expressamente o recurso em sentido
estrito no art. 581, XI, do CPP. Desse modo, se, na sentença condenatória, houvesse sido
denegado o benefício, ficaria a dúvida: cabe o recurso de apelação contra o mérito da de-
cisão e recurso em sentido estrito da parte que denega a suspensão condicional da pena?
Haveria dois recursos para a mesma decisão? É claro que não, pois, segundo o princípio
da unirrecorribilidade, para cada decisão que se deseja impugnar, existe somente um úni-
co recurso adequado. E, especificamente nesse caso, é adequado o recurso de apelação,
uma vez que goza de preferência, primazia sob o recurso em sentido estrito. O recurso em
sentido estrito é adequado quando o sursis – suspensão condicional da pena – é denegado
fora da sentença condenatória, desde que não seja também denegado em processo de
execução, quando, então, o recurso adequado é o agravo em execução.

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Cabimento da Apelação das Decisões do Júri
O recurso de apelação também é cabível de algumas decisões proferidas no proce-
dimento do Tribunal do Júri, conforme dispõe o art. 593, III, a a d, do CPP, in verbis:
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:
[...]
III – das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à deci-
são dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou medida
de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Fonte 4
Fonte: Getty Images

Assim, cabe recurso de apelação no procedimento do Tribunal do Júri em quatro


hipóteses, as quais veremos, com mais detalhes, a seguir.

Primeira Hipótese: Quando Ocorrer Nulidade Posterior à Pronúncia


Toda nulidade verificada antes da decisão de pronúncia há de ser reconhecida na própria
sentença de pronúncia, ou no recurso contra ela interposto, sob pena de ocorrer a preclusão.
Mas, em relação à nulidade posterior à decisão de pronúncia, se relativa, esta deve
ser arguida logo após o início do julgamento, em seguida ao pregão das partes, sob pena
de ser considerada sanada. Contudo, se a nulidade relativa ocorrer durante a sessão de
julgamento, deverá ser arguida logo após a sua ocorrência, sob pena de ser convalidada.
É sempre bom esclarecer que a falta de protesto, no momento oportuno, para se arguir
qualquer nulidade relativa, impede o apelante de alegá-la como matéria preliminar no
recurso de apelação.
Em se tratando de nulidade absoluta verificada após a decisão de pronúncia, não há
necessidade de arguição, tampouco de comprovação do prejuízo, pois ela é insanável e o
ato viciado jamais se convalida, de modo que, mesmo não tendo sido formulado protesto,
a questão poderá ser discutida em matéria preliminar no recurso de apelação.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Segunda Hipótese: Quando for a Sentença do Juiz-Presidente


Contrária à Lei Expressa ou à Decisão dos Jurados
No procedimento do Tribunal do Júri, o juiz-presidente está obrigado a cumprir as
decisões dos jurados, de modo que não há supremacia entre o juiz togado e os jurados,
mas simples atribuições diversas de funções, pois os jurados julgam o fato de acordo
com suas convicções e o juiz-presidente aplica a pena de acordo com o estipulado pelos
jurados na votação.
A alínea b do inciso III do art. 593 do CPP nos traz duas situações distintas, quais
sejam: quando o juiz-presidente contraria a letra expressa da lei ou quando o juiz-
-presidente contraria a decisão dos jurados.
Vale dizer que, se o juiz-presidente contraria a letra expressa da lei, obviamente
ele incide em erro na própria sentença, quando adentra ao mérito da causa. Nesse caso,
cabe recurso de apelação.
Mas, se o juiz-presidente contraria a decisão dos jurados, isso significa dizer que
ele, ao sentenciar, não cumpre a decisão dos jurados, decisão essa à qual está vinculado.
Nesse caso, também cabe o recurso de apelação.
Todavia, quando se tratar de erro material, obscuridade, contradição, ambiguidade e
omissão verificados na sentença do juiz-presidente no procedimento do Tribunal do Júri,
caracterizando, assim, error in procedendo, sem relação com o mérito da causa, não é
cabível o recurso de apelação, mas os embargos de declaração, conforme o disposto no
art. 382 do CPP.

Terceira Hipótese: Quando Houver Erro ou Injustiça no


Tocante à Aplicação da Pena ou Medida de Segurança
Esta hipótese compreende as seguintes situações:
• aplicação da pena privativa de liberdade com violação ao critério trifásico para sua
fixação (art. 68, caput, do CPP);
• aplicação da pena acima ou abaixo do considerado justo e ideal.
No primeiro caso, a sentença poderá ser anulada por vício formal, já que se trata de
error in procedendo. No segundo caso, há error in judicando, de maneira que basta ao
tribunal corrigir a pena aplicada, sem precisar anular o julgamento.

Quarta Hipótese: Quando a Decisão dos Jurados for


Manifestamente Contrária à Prova dos Autos
No caso de a decisão dos jurados ser manifestamente contrária à prova contida nos
autos, o Tribunal de Justiça anula a decisão dos jurados e remete o réu a novo julgamento.
Há que salientar que a decisão dos jurados tem que ser manifestamente contrária
às provas contidas nos autos. Portanto, se houver uma única prova, esta será conside-
rada e o julgamento não será anulado.
Jamais poderá o Tribunal de Justiça (juízo ad quem) reformar a decisão dos jurados,
em atenção ao princípio da soberania dos veredictos, mas poderá anular o julgamento
anterior e determinar novo julgamento.
No entanto, somente cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez, não
importando qual das partes tenha interposto o recurso de apelação.

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Apelação Plena e Apelação Limitada
Por via de regra, o recurso de apelação devolve ao tribunal ad quem o conhecimento
de toda a matéria discutida e decidida em primeira instância, no que se denomina ape-
lação plena ou ampla. Assim, o recurso pode ter por objetivo o reexame completo da
causa, quando, por exemplo, a parte, não se conformando com a respeitável sentença
final, pleiteia a sua reforma integral, total.
Não obstante, pode o próprio recorrente delimitar o objeto da apelação, pedindo
apenas o reexame de parte da decisão, no que se denomina apelação limitada ou
parcial. Desse modo, pode o recorrente, não se conformando apenas com parte da
sentença final, delimitar o campo de atuação do tribunal. Nesse caso, entretanto, faz-
-se necessário que o recorrente determine, com absoluta clareza e precisão, e de forma
absolutamente explícita, a sua pretensão recursal, ou seja, deve delimitar, inequivoca-
mente, a parte da decisão com a qual não se conforma e, por isso, pretende o reexame.
Na dúvida, o recurso deve ser recebido em sua integralidade, o que nos permite concluir
que, no silêncio do recorrente, a apelação será recebida em termos amplos.
Mas, partindo da premissa de que o tribunal não pode proceder de ofício, em face da
inércia da jurisdição, conclui-se que, sem recurso, não há como se reexaminar uma deci-
são judicial de instância inferior. É justamente o recurso que cria a competência recursal.
Dessa forma, sem recurso, o tribunal não poderá modificar a decisão do juízo a quo,
determinar providências, nem fazer coisa alguma, ainda que assim muito desejasse, ou
seja, sem o recurso, a jurisdição de segundo grau (tribunal) fica impedida de manifestar-se.
Logo, se ao recurso é dado o papel de criar competência recursal, permitindo a emis-
são de um provimento jurisdicional, certamente cabe a ele fixar os limites de atuação da
instância superior. Do mesmo modo que não pode o juízo a quo julgar ultra ou extra pe-
tita, não pode o juízo ad quem. Trata-se da aplicação do princípio do tantum devolutum
quantum appellatum, inserido no art. 599 do CPP, in verbis: “Art. 599. As apelações
poderão ser interpostas quer em relação a todo o julgado, quer em relação a parte dele”.
Podemos concluir, portanto, que, no recurso de apelação, vigora o princípio do
tantum devolutum quantum appellatum, ou seja, somente será permitido devolver
para o reexame do tribunal a análise da matéria impugnada, não sendo permitido que seja
apreciada a parte da decisão da qual não apelou o interessado pela reforma da decisão.

Legitimidade e Interesse
O réu e a acusação possuem interesse de apelar na medida da sua sucumbência.
Mas, se o réu for absolvido e pretender, de qualquer forma uma melhora em sua situ-
ação, poderá recorrer, ainda que somente para mudar o fundamento da sentença penal
absolutória, visto que presente está o interesse jurídico para recorrer.
O assistente da acusação, por sua vez, de acordo com o art. 598, caput, do CPP, so-
mente possui legitimidade recursal supletiva, o que significa dizer que, se o representante
do Ministério Público apelar de forma ampla, ou seja, atacar a decisão integralmente,
o recurso de apelação, eventualmente interposto pelo assistente da acusação, não será
conhecido. Vejamos:

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz sin-


gular, se da sentença não for interposta apelação do Ministério Público no
prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31,
ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor ape-
lação, que não terá, porém, efeito suspensivo.

Fonte 5
Fonte: Getty Images

Recurso de Apelação Subsidiário do Apelo Oficial


Na ação penal pública, se o Ministério Público não interpõe o recurso de apelação no
quinquídio legal, o seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão poderão apelar, ainda
que não tenham se habilitado como assistentes, desde que o façam no prazo de 15 (quinze)
dias, a contar do dia em que terminar o prazo do Ministério Público.

Prazo da Apelação
O recurso deve ser interposto no prazo de 5 (cinco) dias, por meio da petição de
interposição do recurso, a contar do dia em que ocorrer a intimação da sentença.

No caso do réu, devem ser intimados ele e seu defensor, motivo pelo qual o prazo para
a interposição do recurso de apelação começa a fluir da última intimação (no primeiro dia
útil seguinte à última intimação – art. 798, § 1º, do CPP).

Já, no caso do Ministério Público, o prazo de 5 (cinco) dias para interpor o recurso de
apelação começa a fluir da data em que se apõe o seu “ciente” nos autos, ou seja, será
intimado em seu gabinete.

No caso de ter sido feita a intimação da sentença por edital, o prazo para a interpo-
sição do recurso de apelação começa a fluir da data do esgotamento do prazo do edital,
que é de 60 (sessenta) dias, se imposta pena inferior a um ano, e de 90 (noventa) dias,
se imposta pena igual ou superior a um ano.

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No caso de intimação da sentença por carta precatória, o prazo recursal começa a fluir
da juntada da carta aos autos (no primeiro dia útil seguinte à juntada da carta precatória
aos autos – art. 798, § 1º, do CPP).

Quanto ao caso de sentença proferida em julgamento pelo Tribunal do Júri, como a


publicação da sentença ocorre na própria sessão de julgamento e as partes, quando pre-
sentes, são igualmente intimadas na audiência, o prazo para a interposição do recurso de
apelação começa a fluir da audiência (no primeiro dia útil seguinte à audiência – art. 798,
§ 5º, b, do CPP).

É sempre bom lembrar que, em se tratando de prazo processual, em sua contagem,


deve-se levar em conta as regras previstas no art. 798 do CPP.

Código de Processo Penal. Disponível em: https://bit.ly/3fOQzR7

Interposto o recurso de apelação, abre-se vista para o apelante, que, no prazo de 8 (oito)
dias, deve apresentar as razões do recurso de apelação, se se tratar de crime apena-
do com reclusão ou detenção, e prazo de 3 (três) dias, se se tratar de contravenção,
conforme disposto no art. 600 do CPP e, depois, por igual prazo, ao apelado, para a oferta
das contrarrazões do recurso de apelação. “Art. 600. Assinado o termo de apelação,
o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias cada um para oferecer as
razões, salvo nos processos de contravenção, em que o prazo é de três dias.”

No recurso de apelação, há a possibilidade de o réu arrazoar (apresentar as razões do re-


curso de apelação) diretamente na segunda instância (somente o réu, porque tanto o Minis-
tério Público quanto o assistente da acusação estão obrigados a apresentarem as razões do
recurso de apelação na primeira instância), conforme disposto no art. 600, § 4º, do CPP:
Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o
apelado terão o prazo de oito dias cada um para oferecer as razões, salvo
nos processos de contravenção, em que o prazo é de três dias.
[...]
§ 4º. Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a ape-
lação, que deseja arrazoar na superior instância serão os autos remetidos
ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes, observados os
prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial.

Havendo assistente da acusação, este poderá arrazoar no prazo de 3 (três) dias, após
o Ministério Público, conforme dispõe o art. 600, § 1º, do CPP:
Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o ape-
lado terão o prazo de oito dias cada um para oferecer as razões, salvo nos
processos de contravenção, em que o prazo é de três dias.
§ 1º. Se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias, após o
Ministério Público.

É bom lembrar que é inadmissível a apresentação das razões do recurso de apelação


em segunda instância ao assistente de acusação, que sempre deve manifestar-se perante
o juízo de primeiro grau.

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

É obrigatória a intimação do apelante para que possa oferecer suas razões do recurso
de apelação, sob pena de nulidade. Do mesmo modo, evidentemente, deve a parte ape-
lada ser intimada da interposição do recurso da parte contrária, para que possa oferecer
as contrarrazões do recurso de apelação.
Na dúvida quanto à tempestividade do recurso, deve ser ele conhecido.

Prazo da Apelação para o Assistente da Acusação


Dependendo de cada situação, de acordo com o mais recente entendimento jurispru-
dencial (STF, 2ª T., rel. Min. Néri da Silveira, DJU 21.11.1992, p. 22.301), o assistente
da acusação possui um prazo diferenciado para recorrer:
• Assistente não habilitado: Prazo de 15 (quinze) dias, a contar do término do prazo
para o Ministério Público recorrer;
• Assistente habilitado: Prazo de 5 (cinco) dias, a contar de sua efetiva intimação,
desde que tenha sido intimado após o Ministério Público.

Fonte 6
Fonte: Getty Images

Efeitos do Recurso de Apelação


São efeitos do recurso de apelação:
• Efeito devolutivo: é o efeito comum a todos os recursos. Constitui a possibilidade
de devolver ao órgão a quo ou ad quem o reexame da matéria. Assim, o recurso
de apelação tem o efeito devolutivo, que é o efeito que permite ao tribunal compe-
tente o reexame da matéria, dentro dos limites do princípio do tantum devolutum
quantum appellatum;
• Efeito suspensivo: no recurso de apelação, o efeito suspensivo apresenta-se em
duas hipóteses:
Em se tratando de sentença absolutória, o recurso de apelação jamais terá o efeito
suspensivo, o que vale dizer que, uma vez absolvido o réu, este deverá ser colocado

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imediatamente em liberdade, nos termos do art. 596 do CPP: “Art. 596. A apelação da
sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade”.

Por outro lado, em se tratando de sentença penal condenatória, o recurso de


apelação sempre terá o efeito suspensivo, pois, interposto o apelo da sentença con-
denatória, não se pode iniciar a execução da pena imposta ao condenado. Trata-se
da dilação procedimental, que retarda a execução da sentença penal condenatória;
• Efeito extensivo: também consiste num efeito comum a todos os recursos, é o efeito
segundo o qual o corréu que não apelou beneficia-se do recurso interposto pelo réu
que apelou na parte que lhe for comum, desde que, evidentemente, não diga respeito
à condição pessoal do apelante;
• Efeito regressivo: por se tratar do juízo de retratação, este efeito não existe no
recurso de apelação.

Fundamento Legal na Peça Prática de Apelação


• Interposição: art. 593 do CPP;
• Razões e contrarrazões: art. 600 do CPP.

Endereçamento: Ao Juiz que Proferiu a Decisão

Modelo de interposição de apelação


Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da ________-(UF)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz-Presidente do Tribunal do Júri da ______-(UF)
(crimes dolosos contra a vida)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da ____ Vara Criminal Federal da ____
Subseção Judiciária de ____________-(UF)
Processo nº
“Nome do cliente”, já qualificado nos autos do processo-crime que lhe move o Minis-
tério Público (estadual ou federal), por seu/sua advogado(a), não se conformando com
a sentença que o condenou à pena de ..... anos de reclusão (detenção), como incurso
no art. ___ do CP (ou outra lei especial), dela vem interpor recurso de apelação, com
fulcro no art. 593, inciso ___ (art. 593, III – se for Tribunal do Júri), do CPP.
Requer, pois, seja recebido o presente recurso, para que seja ordenado e proces-
sado e após remetido com as razões ao Egrégio Tribunal ______ (TJ (estadual)
ou TRF (federal)).
Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

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33
UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Razões de apelação
Apelante: “A”
Apelado: Ministério Público _________ (estadual ou federal)
Processo nº
Egrégio Tribunal!
Colenda Câmara (ou Turma)!
Douta Procuradoria!
O ora apelante foi condenado à pena de _________ por sentença proferida pelo
MM. Juiz de primeiro grau.
Não agiu como costumeiro acerto o Ínclito Magistrado a quo ao proferir o decreto
ora combatido, pelas razões a seguir aduzidas:
I – Dos fatos
(copiar o problema com suas palavras utilizando a nomenclatura apelante).
(pule 1 linha)
Com efeito, (redigir com suas palavras uma tese de defesa, com ao menos 15 linhas:
deve ter introdução, desenvolvimento e conclusão).
(faça um desfecho aqui)
Diante de todo o exposto, postula-se seja conhecido e dado provimento ao recurso, refor-
mando a r. sentença, absolvendo o apelante (ou o que deva ser pedido: redução de pena,
mudança de regime, reconhecimento de tentativa etc.) por ser medida de justiça.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

Interposição de apelação no Jecrim


(quando a r. sentença for proferida em procedimento sumaríssimo, Jecrim – art. 60
da Lei nº 9.099/1995)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal do Juizado Especial
Criminal do Foro ___________ da Comarca de __________-SP
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal Federal do Juizado Espe-
cial Criminal Federal da Comarca de __________-SP
Processo nº
“Nome do cliente”, já qualificado nos autos do processo-crime que lhe move a Jus-
tiça Pública, por seu/sua advogado(a), não se conformando com a r. sentença que o
condenou à pena de ..... anos detenção, como incurso no art. ______ do CP, dela
vem interpor recurso de apelação, com fulcro no art. 82 da Lei nº 9.099/1995.
Requer, pois, seja recebido o presente recurso, para que seja ordenado e processado
e após remetido com as razões ao Egrégio Colégio Recursal da Capital-SP.

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Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

Obs.: as razões são idênticas à petição de “razões de apelação”.

Razões de apelação do Tribunal do Júri


(quando o crime for de competência do Tribunal do Júri, a interposição é a mesma da
folha anterior, apenas com fundamento no art. 593, III, do CPP)
Apelante: “A”
Apelado:
Processo nº
Egrégio Tribunal de Justiça
Colenda Câmara
Douta Procuradoria de Justiça
Não deve prevalecer a respeitável decisão condenatória do Egrégio Tribunal do Júri,
(por ser manifestamente contrária à prova dos autos ou tendo em vista outra hipótese
do art. 593, III, a, b ou c, do CPP).
I – Dos fatos
(copiar o problema substituindo o “A” por apelante).
II – Do direito
Com efeito, o apelante (redigir com suas palavras a tese a ser apresentada).
III – Do pedido
Diante de todo o exposto, postula-se seja dado provimento ao presente recurso, deter-
minando seja o apelante submetido a novo julgamento, para que assim se faça justiça.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

Quando for apenas juntada de razões de apelação


(se o problema constar que o réu apelou, deveremos apenas efetuar a juntada das
razões de apelação)
Petição de juntada de razões de apelação
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Criminal da _____-(UF)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz-Presidente do Tribunal do Júri da _____-(UF)
(crimes dolosos contra a vida)

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da _____ Vara Criminal Federal da


_______ Subseção Judiciária de _____-(UF)
Processo nº
“Nome do cliente”, já qualificado nos autos do processo-crime que lhe move a Justi-
ça Pública, por seu/sua advogado(a), não se conformando com a sentença que o con-
denou à pena de ____ anos de reclusão (detenção), como incurso no art. _____
do CP, apelou e, dessa forma, vem requerer a juntada de suas razões de apelação,
com fulcro no art. 600 do CPP.
Requer, pois, após as contrarrazões da acusação, seja remetido com as razões ao
Egrégio Tribunal ___________
Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

Petição de juntada de contrarrazões de apelação


(se constar que a acusação apelou, deveremos apenas efetuar a juntada das contrar-
razões de apelação)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Criminal da _____-(UF)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz-Presidente do Tribunal do Júri da _____(-UF)
(crimes dolosos contra a vida)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da ___ Vara Criminal Federal da ____
Subseção Judiciária de ________-(UF)
Processo nº
“Nome do cliente”, já qualificado nos autos do processo-crime que lhe move a Jus-
tiça Pública, por seu/sua advogado(a), tendo em vista o recurso ministerial que não
se conformou com a sentença, vem requerer a juntada de suas contrarrazões de
apelação, com fulcro no art. 600 do CPP.
Requer, pois, com a juntada das presentes contrarrazões, seja ordenado e processado
e remetido os autos ao Egrégio Tribunal de __________, no aguardo que seja o
v. acórdão dado improvimento.
Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

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Contrarrazões de apelação
Apelado: “A”
Apelante: Justiça Pública
Processo nº
Egrégio Tribunal de
Colenda Câmara (ou Turma, se federal)
Douta Procuradoria de Justiça (Procurador Geral de República
O apelado foi denunciado e, ao final, absolvido (condenado pela pena de ______).
Não se conformando com o r. decisório, a acusação apelou, buscando acolhimento
perante esta Colenda Câmara, para ver reformada a r. sentença.
Com a permissa venia, agiu o MM. Juiz a quo com o costumeiro acerto ao proferir
a r. sentença.
O recurso interposto pelo Ministério Público deve ser improvido, para que se mantenha
a sentença prolatada em favor do apelado, pelas razões a seguir aduzidas:
Dos fatos:
(copiar o problema).
Do direito:
Com efeito, o apelado (redigir com suas palavras uma tese defensiva).
Conforme entendimento predominante na jurisprudência: “_______” (se não
houver, não coloque essa frase).
Diante do exposto, deve ser improvida a apelação interposta pelo Digno Representante
do Ministério Público, devendo ser mantida a absolvição, como medida de justiça.
Local e data
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP nº

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UNIDADE Recurso em Sentido Estrito e Recurso de Apelação

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Prática penal para 2ª Fase OAB – recurso em sentido estrito (RESE)
https://youtu.be/qpRHAFpDFus
Recurso em sentido estrito, Ministério Público e efeito suspensivo
https://youtu.be/dJXHrhrGesk
Prática penal para 2ª Fase OAB – contrarrazões de apelação
https://youtu.be/8M6j-gyHJtY
Recurso de apelação
https://youtu.be/MpEatyP7qic

Leitura
Modelo de petição
https://bit.ly/3ueXCri
Razões de recurso em sentido estrito
https://bit.ly/2RClPL5
Modelo de recurso de apelação – penal
https://bit.ly/3fjFWXt

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Referências
AVENA, N. Processo penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

GIACOMOLLI, N. J. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição


Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. (e-book)

GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.


(e-book)

LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)

NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

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