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Recurso em Sentido Estrito

O RESE é um recurso que o legislador colocou à disposição das partes para que elas possam se
insurgir diante de decisões interlocutórias proferidas no curso de uma ação penal. O RESE será
cabível se o provimento em questão estiver previsto no rol do Art. 581 do Código de Processo
Penal, bem como se a decisão interlocutória não tiver sido expressamente excluída do seu
âmbito de incidência.

O RESE somente poderá ser interposto se a decisão tiver sido proferida por juiz singular. A
despeito da redação do mencionado artigo incluir despachos e sentenças entre os
pronunciamentos que podem ser questionados por meio do RESE, Lima (2020) ressalta que o
dispositivo não pode ser interpretado de forma literal.

Despachos são conceituados como movimentações administrativas, que não solucionam o


processo nem ao todo, nem em parte.

As sentenças, por sua vez, como regra devem ser questionadas por meio da apelação. É por
essa constatação que se define o RESE como um recurso de caráter residual, ou seja, ainda que
em tese seja possível interpor o recurso em sentido estrito, se a decisão a ser impugnada
estiver contida em uma sentença a parte interessada deve se abster de interpor o RESE e
recorrer por meio da apelação.

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...]

§ 4o  Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que
somente de parte da decisão se recorra. 

Se a decisão que a parte pretende ver reformada ou anulada já transitou em julgado, porém, o
recurso cabível será o agravo em execução, que encontra previsão no Art. 197 da Lei de
Execuções Penais.

Hipóteses de cabimento do RESE

Dispõe o Art. 581 do CPP:

Art. 581.  Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

I - que não receber a denúncia ou a queixa;

II - que concluir pela incompetência do juízo;


A respeito do Art. 581, II é preciso ressaltar que a decisão que reconhece a incompetência do
juízo pode ter sido proferida de ofício ou por provocação das partes. Lima atenta para o fato de
que a decisão que desclassifica o crime no âmbito do Tribunal do Júri também acaba por
concluir por sua incompetência, devendo ser incluída nessa hipótese.

[...]
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

Ressalte-se que a decisão que considerar improcedentes as exceções será irrecorrível. Lima
assevera, porém, que esse tópico poderá ser questionado no bojo da apelação, podendo se
vislumbrar ainda a impetração de habeas corpus caso os demais requisitos para seu manejo
estejam preenchidos.

[...]
IV – que pronunciar o réu;           

Diante de decisão que deixa de pronunciar o réu, o recurso adequado é a apelação. O STF já
firmou entendimento de que é lícito ao assistente de acusação interpor RESE na hipótese do
supracitado inciso.

[...]
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de
prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

A respeito dessa hipótese, cumpre ressaltar que o RESE só pode ser interposto para questionar
decisões judiciais. Portanto, sendo o caso de arbitramento de fiança pela autoridade policial, na
forma da lei, não poderá a parte interpor RESE com base no inciso em questão.

[...]
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

A quebra da fiança ocorre quando o acusado deixa de comparecer tendo sido regularmente
intimado, pratica ato de obstrução, descumpre medida cautelar, resiste a ordem judicial, pratica
nova infração dolosa ou deixa de cumprir com os deveres descritos nos Arts. 327 e 328 do
CPP.

O fiador tem legitimidade para interpor RESE nesse caso.


[...]
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da


punibilidade;

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

No que se refere ao habeas corpus, deve-se entender a concessão ou denegação de que trata o
inciso X como aquela que foi decidida por delegado de polícia. Sabe-se que o RESE só é cabível
diante de decisões de juízo singular. O ato da autoridade policial que restringe a liberdade de
alguém seria fundamento para a apreciação do habeas corpus  por juiz singular.

Se o juiz do caso conceder a ordem, sua decisão deverá ser remetida ao Tribunal por força do
disposto no Art. 574, I, CPP.

[...]
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

Entende-se que esse inciso também abarca a possibilidade de interpor RESE diante da
concessão, denegação ou revogação da suspensão condicional do processo. Quanto à
suspensão condicional da pena, porém, Lima afirma que o dispositivo foi tacitamente revogado.
O autor explica que a suspensão da pena pode ser questionada no bojo da sentença, situação
diante da qual o recurso adequado será o de apelação, ou ainda perante o juízo da execução,
quando poderá ser questionada por meio de agravo em execução.

[...]
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

O inciso XII foi tacitamente revogado pela acima mencionada disposição da Lei de Execuções


Penais que traz a figura do agravo em execução como o recurso adequado a ser interposto
perante o juízo da execução.

Sobre o inciso XIII, deve-se interpretar a "instrução criminal" de forma ampla, compreendendo


toda a fase judicial do processo criminal.

[...]
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
Lima entende que essa hipótese não mais comporta a interposição de recurso em sentido
estrito. Para aqueles que acreditam que ainda se trata de hipótese de cabimento, importa
ressaltar que o prazo para recorrer difere das demais hipóteses: será de 20 dias, contados da
publicação da lista.

O Presidente do Tribunal será o competente para o julgamento do RESE. A legitimidade para


interpor o recurso será ampla, incluindo qualquer pessoa que demonstrar interesse, inclusive
quem figurar como jurado na lista geral.

[...]
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

A denegação se refere à inadmissibilidade do recurso de apelação, quando decretada pelo juízo


que proferiu a sentença. A deserção diz respeito somente à falta de preparo, em se tratando de
ação penal privada.

[...]
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

A disposição desse inciso não pode ser estendida às hipóteses de indeferimento do pedido de
suspensão do processo por qualquer das partes. Se o RESE em face da decisão de suspensão
for julgado procedente, o intervalo de tempo até o julgamento do recurso deve ser computado
no cálculo da prescrição.

[...]
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;

XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;

XXII - que revogar a medida de segurança;

XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a
revogação;

XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.


O único dos incisos acima que não se considera tacitamente revogado é o inciso XVIII. Será
possível, para a hipótese nele prevista, interpor RESE independentemente de ter sido
considerado o incidente procedente ou improcedente.

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