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1.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
1.1. Contexto histórico
Os Embargos de declaração como se conhece hoje no Brasil
tem origem portuguesa. Os embargos à sentença surgiram pelo
fato de o sistema judiciário português ser ineficiente e
desorganizado, gerando diversas dificuldades para a
interposição de recursos de apelação, sendo de praxe para o
juiz na época reconsiderar suas sentenças, com o intuito de
revogar, modificar ou as declarar.[1]

A possibilidade de declaração da sentença obscura pelo próprio


juízo que a proferiu já vinha prevista na compilação legislativa
conhecida como ordenações Afonsinas, datada da metade do
século XV.[2]

As ordenações Afonsinas vedavam que o julgador revogasse


sentença anterior, prolatando outra em seu lugar. Porém se a
sentença tivesse teor duvidoso, “por conter palavras obscuras
ou intricadas”[3], o magistrado tinha o poder de declarar ou
interpretar a sua decisão, aclarando-a.[4]

A substituição pelas ordenações Manuelinas, no início do


século XVI, mais especificamente no seu Livro III mantiveram
o poder do magistrado de declarar sua sentença, aclarando
qualquer obscuridade. As Ordenações Filipinas que
substituíram as manuelinas no começo do século XVII não
modificaram a questão.[5]

“No Brasil, por clara influência portuguesa, os embargos de


declaração foram inicialmente consagrados no Regulamento
737, 1850, que regulava a matéria nos arts. 639, 641, 642 e
643.”[6] Com o advento desse regulamento se admitia a
oposição de embargos de declaração contra qualquer sentença
que[7] “apresentasse alguma obscuridade, ambiguidade ou
contradição, ou em caso de ter omitido algum ponto que
deveria ter sido objeto de condenação.”[8]
Por simples petição poderia a parte pleitear, dentro do prazo
de 10 dias a contar da publicação ou intimação da decisão, a
declaração da sentença ou manifestação sobre o ponto omitido,
o que o juiz deveria providenciar sem outra mudança do
julgado.[9]

Com a publicação da consolidação Ribas em 1876, os embargos


de declaração eram regulados nos artigos 495 e 496, no
capítulo “da sentença”, e nos arts. 1499 a 1514, no título “dos
recursos.”[10]

Segundo ao artigo 1501 desse diploma, havia um prazo de 10


dias para a interposição dos embargos, no caso de a sentença
“mostrar-se duvidosa redigida com algumas palavras obscuras
ou intrincadas.” Também nesse diploma o artigo 465
autorizava o “juiz e seu sucessor”[11] declarar ou interpretar a
sentença.[12]

Além de os embargos terem sido regulados por diversas


legislações estaduais, ele foi mantido pelo código de processo
civil de 1939, que previa a oposição de embargos de declaração
tanto para sentenças e acórdãos que fossem eivados por algum
tipo de “obscuridade, omissão ou contradição, ”[13]os
embargos opostos contra sentença eram regulados nos
artigos 839 e 840 e contra acordão obscuro no artigo 862, as
hipóteses de embargos de declaração estavam contidos no
mesmo livro, “dos recursos”, o prazo para a interposição desses
embargos era de 48 horas e possuía efeito suspensivo “a menos
que fossem declarados manifestamente protelatórios.”[14]
No diploma de 1973 houve uma separação na figura dos
embargos de declaração, o embargo que era oposto contra
sentença estava regrado pelo Capítulo VIII, “do procedimento
ordinário” que tratava de sentença e coisa julgada, enquanto, o
que tratava de acórdãos eivados por algum vício de
obscuridade eram regulados no capítulo V, denominado “dos
recursos”.[15]

Essa separação foi alvo de muitas críticas pelo fato dos


doutrinadores acreditarem “ que não havia por que tratar
separadamente esses embargos, uma vez que, dirigidos contra
acordão ou sentenças, eram o mesmo remédio, destinados ao
mesmo fim, qual seja a correção dos vícios e da decisão
judicial.”[16]

Com a promulgação da lei 8.950/1994. Os embargos foram


unificados, revogando os arts. 464 e 465 que eram
originalmente para os opostos contra sentença, os artigos 535 e
538 que eram apenas para embargos contra acordão, passaram
a ser únicos, contra sentença e acordão. Essa unificação
também unificou o prazo que passou a ser de 5 dias da data de
intimação da decisão. Anteriormente o embargo contra
sentença deveria ser interpostos em 48 horas da intimação da
sentença.[17]
1.2. Definição de embargos de declaração
Há divergências doutrinárias sobre a natureza jurídica dos
embargos de declaração, alguns doutrinadores, negam que este
meio processual seja um recurso, outros por sua vez afirmam
que ele apresenta os requisitos necessários para ser classificado
como tal.[18]

Os argumentos contra a sua caracterização como recurso em


sua maioria estão no fato de os embargos declaração não
pleitearem a reforma da sentença atacada. Mas sim, terem
meramente a função de afastarem a obscuridade, omissão ou
contradição.[19]

Abraçando esse entendimento, sustenta Sergio Bermudes que


os embargos de declaração não têm como fim a correção do
conceito da decisão judicial, mas apenas a reforma ou a
correção da fórmula dessa manifestação do magistrado, razão
pela qual deve ser visto como um mero procedimento
incidente.[20]

Não apenas Sergio Bermudes, há outros doutrinadores não


concordam com a classificação de embargos de declaração
como recurso, dentre eles Antonio Cláudio da Costa Machado,
Reis Freire, entre outros.[21]
Outras Alegações feitas contra a definição dos embargos de
declaração como recurso se baseiam; no fato de este não
precisar de preparo, não ser necessário ouvir o embargado não
havendo assim contraditório, ambas as partes tanto vencedor
como vencido terem legitimidade para interpor o recurso e
principalmente não estar presente o efeito devolutivo, por não
ser o recurso examinado por órgão hierarquicamente superior.
[22]

Em direção oposta a esses argumentos, a corrente que admite a


condição de recurso dos embargos de declaração afirma que o
efeito devolutivo não se exprime apenas por ser analisado por
órgão hierarquicamente superior e sim a devolução da matéria
pelo judiciário:

Em primeiro lugar, quanto ao efeito devolutivo, certo é que ele


se faz presente não apenas quando o processo é encaminhado
para apreciação de órgão de nível hierárquico superior, mas
sempre que for devolvido ao Poder judiciário para que
novamente se manifeste, quer por meio de outro órgão, quer
por aquele que proferiu a decisão atacada. Desse modo, há,
sim, devolução nos embargos de declaração, a garantir a
presença do denominado efeito devolutivo.[23]

Por sua vez, refutando as alegações que a falta de preparo o


descaracterizam como recurso, a doutrina a favor da condição
dos embargos de declaração como remédio recursal afirmam
que outros recursos também não precisam de preparo e sua
classificação como recurso é pacífica:

Basta pensarmos no recurso de agravo retido, cuja interposição


independente de preparo, conforme disposição no
art. 522, parágrafo único, do CPC. Apesar dessa dispensa de
recolhimento de custas, ninguém o seu inafastável caráter
recursal.[24]
Outro ponto não pacífico na doutrina quanto a natureza
jurídica dos embargos de declaração é o fato de ambas as
partes tanto vencedor quanto vencido poderem interpor esse
remédio processual, os doutrinadores que são contra alegam
que isso fere o pressuposto de legitimidade e interesse o
descaracterizando como recurso, Porém a doutrina a favor
refuta essa corrente se baseando que é de interesse de ambas
as partes aspirar por uma sentença sem vícios de obscuridade,
omissão e contradição.

A possibilidade de os embargos de declaração serem opostos


por vencido ou vencedor decorre da constatação de que uma
decisão omissa, contraditória ou obscura causa gravame para
ambas as partes do processo, uma vez que faltará
pronunciamento claro e completo do magistrado- o que se deve
sempre exigir, dificultando o cumprimento e a execução da
decisão. Portanto, a possibilidade de serem opostos pelo
vencido ou pelo vencedor decorre do gravame que a decisão
viciada produz, para ambas as partes, e também não prejudica
o caráter recursal dos embargos. Até porque a parte dita
vencedora, em face de decisão desfavorável, mas viciada, não
terá obtido tudo o que poderia esperar do feito, que era uma
decisão desfavorável e livre de vícios.[25]

Por fim, o argumento mais importante dos doutrinadores que


refutam a natureza recursal dos embargos de declaração está
na sua função não reformadora, sendo apenas responsável por
afastar a omissão, obscuridade ou a contradição da decisão.
Isso como ressalta a doutrina a favor em regra é verdade.
Porém os embargos de declaração podem sim ter efeitos
reformadores, basta o vício se sanado modificar a sentença,
não sendo regra mas eventualmente podem os embargos de
declaração ter efeito infringente.[26]

Luiz Eduardo Simardi Fernandes aborda a controvérsia da


seguinte maneira:

Os embargos de declaração, regra geral, não visam de fato à


reforma do próprio conteúdo do pronunciamento, com a
inversão ou modificação da decisão. Limitam-se,
habitualmente, a pleitear junto ao magistrado que ele torne
mais clara a sua manifestação, corrija eventual contradição
ou se manifeste sobre o ponto a respeito do qual se omitiu.
Não apresentam, normalmente caráter modificativo de
decisão.

Entretanto, não se pode afirmar que essa função reformadora


jamais estará presente. Em alguns casos, ao corrigir a
contradição ou sanar a omissão, o magistrado terá,
necessariamente, de alterar a sua decisão, como consequência
do conhecimento e julgamento dos embargos de declaração.
Poderá ser forçado até mesmo a reconhecer a improcedência
do pedido que acabara de julgar procedente, circunstâncias em
que haverá a completa alteração da decisão. Também os
embargos de declaração opostos em face da presença de erro
material na decisão podem produzir modificação do julgado.
[27]

Luiz Eduardo Samerdi Fernandes, entretanto, afirma que essa


discordância é apenas cientifica, o sistema jurídico nacional, se
vale do princípio da Taxatividade, “ou seja, somente se aceita a
existência de recursos enumerados de forma taxativa, em lei
federal.”[28] atestando que a legislação brasileira classifica sim
o embargo de declaração como recurso, mais especificamente
no artigo IV do art 496 do CPC. Concluindo-se que os
Embargos de declaração possuem natureza jurídica de recurso.
[29]
1.3. Hipóteses de cabimento dos embargos
declaratórios
Como prevê o artigo 535 do CPC, os embargos de declaração
são cabíveis nos caso de omissão, obscuridade e contradição
nas decisões judiciais. Todavia, antes da lei 8.950/1994, havia
a hipótese que cabiam embargos no caso de duvida, essa
hipótese foi revogada, pelo fato da dúvida ser de extremo
subjetiva e de difícil constatação, estando, além do mais,
abrangida nas hipóteses de contradição e obscuridade, não
sendo realmente necessária.[30]
Além dessas três hipóteses elencadas no CPC, a doutrina e
jurisprudência admitem a hipótese dos embargos para a
correção de erro material.[31]
Outra característica dos embargos declaratórios para que seja
admitido pelo órgão a quo, está na sua fundamentação, essa
modalidade de recurso como recurso especial e extraordinário
é de fundamentação vinculada, o embargante deve alegar a
omissão, contradição ou obscuridade no corpo do seu recurso
para que esse seja conhecido e possa passar pelo crivo do
magistrado.[32]
1.3.1. Obscuridade
A obscuridade se dá, quando o juiz ao prolatar sua sentença
não se expressa de maneira clara ou precisa, deixando margem
para duvida das partes.[33] ”Ou seja, a ideia que o magistrado
pretendeu exprimir não ficou suficientemente clara, impedindo
que se compreenda com exatidão o seu integral conteúdo.”[34]

Diz Sergio Bermudes que é obscura a decisão de sentido


ininteligível, aquela que se presta a diferentes interpretações.
Moacyr Amaral Santos, por seu turno, afirma que “ocorre da
obscuridade sempre que há falta de clareza na redação do
julgado, tornando difícil dele ter-se a verdadeira inteligência
ou exata interpretação”. Araken de Assis” esclarece que “a
causa da obscuridade reponta na dificuldade da elaboração do
pensamento ou na sua expressão.[35]

A doutrina aponta dois motivos para a obscuridade na decisão


do magistrado. A primeira hipótese abrange a situação em que
o juiz tem sua convicção e raciocínio completos, tendo certeza
de sua decisão. Porém, ao escrevê-la se expressa de forma
intrincada e pouco compreensível. Importante ressaltar que na
confecção de sua sentença o juiz deve priorizar a clareza de
seus mandamentos à beleza de suas palavras. O magistrado
deve sempre primar por produzir uma sentença mais clara
possível.[36]

A segunda hipótese está na convicção do julgador, este não


estando certo da melhor decisão ao litígio, reflete esta incerteza
em sua decisão a tornado obscura e pouco clara.[37]

Assim, resumidamente, pode-se afirmar que a obscuridade de


uma decisão decorre da existência de ambiguidade, fruto do
emprego de vocábulos que exprimam mais de uma ideia, ou da
utilização de linguagem inapropriada, às vezes arcaica e pouco
usual, que dificulte a compreensão, ou, ainda, pode ser
consequência da hesitação do próprio julgador, que, inseguro
quanto à decisão correta, transfere essa hesitação para o
pronunciamento.[38]

Apesar de ser difícil imaginar situações em que a obscuridade


na fundamentação da sentença pode trazer alguma prejuízo
para as partes, grande parte da doutrina admite o cabimento
de embargos se a fundamentação for obscura.[39]

1.3.2. Contradição
A contradição, que também enseja a oposição de embargos de
declaração, faz-se presente quando a decisão contém
afirmações ou conclusões que se nos mostram entre si
inconciliáveis.[40]

A contradição pode se dar de duas na decisão do magistrado, a


primeira que enseja a oposição de embargos é quando a
contradição ocorre na mesma parte da sentença. Por exemplo,
há mandamentos que se contradizem na parte dispositiva da
sentença. Outra hipótese é no caso de esta se apresentar entre
partes diferentes da decisão, como no caso de a fundamentação
do julgador entrar em contradição com a parte dispositiva.[41]

A doutrina cita o exemplo em que o Magistrado em sua decisão


fundamenta que a parte não provou o seu direito de forma
satisfatória, não cumprindo com ônus na prova. Porém na
parte dispositiva julga procedente o seu pedido.[42]

Na segunda hipótese de contradição apresentada, o magistrado


poderá adequar a fundamentação à sentença esclarecendo a
contradição. Ou se de forma contrária, o magistrado
reconhecer que o dispositivo que deve se adequar a
fundamentação, ou ainda este ao ser opostos os embargos
acreditar que a decisão merece de melhor reflexão, alterando-a
completamente, os embargos nesse caso terão efeitos
infringentes. Isto é, modificarão a sentença.[43]
A doutrina se posiciona sobre os efeitos infringentes dos
embargos de declaração da seguinte maneira:

Esse efeito modificativo será consequência natural do


provimento dos embargos de declaração, e, em nosso sentir,
deve ser plenamente aceito. Assim, fixamos aqui nossa firme
posição de que o recurso tratado tenha efeitos infringentes.
[44]

Por fim, Há algumas questões que devem ser suscitadas, a


primeira delas se refere que para que seja possível a oposição
dos embargos, a contradição deve estar presente na mesma
decisão, não sendo possível a interposição de embargos em
caso de contradição entre decisão e peça dos autos, ou entre
uma decisão anterior e outra posterior. Isto é pacífico pela
jurisprudência.”[45]

Entretanto, há divergências no caso de contradição entre


acordão e ementa e entre acordão e órgão vencido. No caso de
acordão e ementa, a jurisprudência diverge, o lado que é
contra, alega que a ementa não é relevante ao processo para
justificar a oposição de embargos e de outro lado, os que são a
favor da oposição de embargos alegam que o vício na ementa
iria confundir o judiciário dando margem a surgimento de
falsos precedentes jurisprudenciais, além disso outro ponto
importante a favor da oposição de embargos nesse caso que
segundo ao art. 563 do CPC afirma que todo acordão terá
ementa, sendo um mandamento legal.[46]
1.3.3. Omissão
Compete ao juiz, ao proferir a decisão, resolver todas as
questões suscitadas pelas partes, caso deixe de apreciar
questões levantadas no curso do feito, estará se omitindo, e o
seu pronunciamento poderá ser atacado por meio dos
embargos de declaração.[47]

No artigo 458 do CPC, expressa que o magistrado deve analisar


todas as questões de fato e de direito nos fundamentos e na
parte dispositiva da sentença, deve dar solução às questões que
lhe foram trazidas pelas partes, se deixar de analisar apenas
um ponto sequer caberá a oposição de embargos de declaração.
[48]
Porém o dever do Juiz de se manifestar vai além de apenas as
questões suscitadas pelas partes, há matérias que devem ser
analisadas pelo julgador independente de terem sido
requeridas pelas partes, como é o caso, “como a presença de
condições da ação, ou a ocorrência de decadência e prescrição,
entre outros vários.”[49] Se o Magistrado se abster de
examinar de ofício essas questões caberá embargos de
declaração.

Da mesma forma, como bem afirma Teresa Alvim Wambier, “a


sentença deve conter relatório, fundamentação e parte
propriamente decisória. A falta de quaisquer desses elementos
consubstancia-se em omissão, para fins de interposição de
embargos de declaração. Hoje, a redação do art. 503 faz com
que possa afirmar que a falta de ementa gera ensejo à
embargos de declaração.[50]

Também é possível observar, os efeitos infringentes nos


embargos de declaração opostos para sanar a omissão da
decisão pelo fato de ser ao devolvida à apreciação do Juiz, este
na necessidade de remediar o vício, poderá solucionar um
ponto anteriormente ignorado que mude a decisão de maneira
relevante para as partes.[51]

Outro ponto importante a ser ressaltado será a interposição de


embargos de declaração contra voto vencido, a matéria é
polemica nos tribunais, não tendo um consenso. Esta
necessidade surge no caso dos embargos infringentes,
expressos no artigo 530 do CPC, estes só podem pedir a
reanalise do que foi controverso entre o voto vencido e os votos
vencedores, e os embargos terão o intuito esclarecer a
divergência forçando o judiciário a sanar a omissão. Porém há
outros remédios para o esclarecimento do tema, como a
interposição de embargos infringentes amplos que analisará
toda a matéria suscitada ou até mesmo Recurso Especial, com
fulcro no artigo 535 do CPC.[52]
1.3.4. Erro Material
Não há no artigo 535 do CPC, manifestação expressa de que os
embargos de declaração possam ser utilizados para a correção
de erro material na decisão do Magistrado. Entretanto, parte
da doutrina e da jurisprudência admite a sua utilização para
este fim.[53]
Os erros materiais são equívocos lapsos ocorridos no momento
da expressão do provimento, facilmente perceptíveis. São
aqueles que são evidentes, que se percebem a primeira vista,
sem grandes investigações.[54]

Luís Eduardo Simardi Fernandes, alega que não há por que


não ser admitido a proposição de embargos de embargos de
declaração em caso de erro material, pelo fato de não
precluírem e poderem ser corrigidos pelo Magistrado de oficio
ou pedido das partes a qualquer momento. Mas um ponto
usado para comprovar a sua argumentação e o fato que no
artigo 463 do CPC autoriza ao juiz alterar a sentença “por meio
de embargos de declaração, ou para correção de erros
materiais de cálculo”.[55]
Exemplo clássico de erro material é o pronunciamento da
intempestividade de determinado recurso interposto dentro do
prazo legal, fruto de equívoco na contagem dos dias decorridos,
ou em face da existência de feriado municipal em comarca
interiorana, ignorado pelo tribunal.[56]

O novo projeto do código de processo civil prevê


expressamente a hipótese de embargos de declaração nos casos
erro material, apesar de não serem estritamente necessários,
pelo fato do erro material poder ser corrigido pelo juiz de ofício
ou a requerimento das partes a qualquer momento, “as partes
têm se valido dos embargos de declaração para correção de
erro material no intuito de garantir que a consequência
prevista no arti 538, de interrupção de prazo para outros
recursos se faça presente”.[57]
1.3.5. Procedimento
Art. 536 CPC. Os embargos de declaração serão opostos no
prazo de 5 (cinco dias, em petição dirigida ao juiz ou relator,
com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não
estando sujeitos ao preparo.
Os embargos de declaração deverão ser endereçados ao juiz
que proferiu a sentença ou no caso de acordão ao relator, o
prazo será de 5 dias para ambas as hipóteses ”(artigo 536, com
a redação da lei nº 8590, de 13.12.94)”, [58] a fundamentação
nesse recurso será vinculada, o embargante deve alegar a
contradição, obscuridade ou omissão para que o recurso possa
ser conhecido, nos embargos de declaração não terá custas de
preparo para o embargante.[59]

O mesmo Juiz que proferiu a decisão embargada terá cinco


dias para deliberar sobre os embargos. Nos embargos de
declaração não há contraditório, não será ouvida a parte
contrária. Já no caso dos tribunais, quem julgará será o mesmo
órgão que proferiu o acordão atacado pelo embargo.

Para tanto, o relator apresentará os embargos em mesa na


sessão subsequente, proferindo o seu voto (art. 537). Quer isso
dizer que o relator do acordão impugnado continuará sendo o
relator para o julgamento dos embargos declaratórios.[60]

O Código de processo civil não admite contraditório nos casos


de embargos de declaração, com base de esse recurso
normalmente, quando não exerce seus efeitos infringentes, não
reformar o julgado, tendo o condão de apenas aperfeiçoa-lo,
solucionando a omissão, contradição, obscuridade, ou até
mesmo o erro material.[61]
2.4.Efeitos produzidos pelos embargos de declaração
2.4.1.Efeito Devolutivo
O efeito devolutivo é aquele produzido, ao se interpor o recurso
que devolverá ao judiciário a matéria impugnada para que este
a reveja.

Esse efeito como bem explica Nelson Nery Junior., é


manifestação do princípio dispositivo, uma vez que o juiz, que
habitualmente não pode agir de ofício e depende da
provocação da parte, somente pode julgar, em grau de recurso,
aquilo que o recorrente tiver requerido nas razões recursais. É
no recurso, pois, que o recorrente fixa o âmbito de
devolutividade do recurso, ou seja, aquilo que será objeto de
nova apreciação judicial.[62]

A doutrina brasileira majoritariamente afirma que os embargos


de declaração são sim dotados de efeito devolutivo. Porém, há
parte da doutrina que não concede efeito devolutivo a essa
modalidade de embargos, justamente pelo fato de a matéria ser
analisada pelo mesmo órgão julgador da decisão embargada,
não sendo apreciada por órgão superior. “Nesse sentido é o
pensamento de José Rogério Cruz e Tucci, exposto em palestra
proferida na sede da Associação dos Advogados de São Paulo,
no que é acompanhado por Vicente de Miranda.”[63]

Porém, a corrente doutrinária predominante admite o efeito


devolutivo, argumentando que a decisão será sim devolvida
para o judiciário, não precisando necessariamente ter que ser
encaminhada para órgão superior para ser considerado o efeito
devolutivo.

Nesse sentido é a lição de Nelson Nery Jr., cujas palavras, pela


pertinência, merecem ser aqui transcritas: “O efeito devolutivo
é aquele segundo o qual é devolvida ao conhecimento do
órgão ad quem toda a matéria impugnada, objeto, portanto do
recurso. Nos embargos de declaração há também o efeito
devolutivo, sendo que a matéria é devolvida ao mesmo órgão
que proferiu a decisão, sentença ou acórdão embargado. Não
há, portanto, necessidade de que a devolução seja dirigida a
órgão judicial diverso daquele que proferiu a decisão
impugnada. Ainda que o órgão destinatário do recurso seja de
mesma hierarquia, há o efeito devolutivo.” [64]
Além de Nelson Nery Jr., seguem nessa corrente Teresa Alvim
Wambier, Rodrigo Reis Mazzei, Araken de Assis e Sonia M. H.
De Almeida Batista.[65]

2.4.2. Efeito Suspensivo


Em regra todo o recurso é dotado de efeito suspensivo e efeito
devolutivo, “de modo que impede a preclusão e o imediato
cumprimento da decisão judicial impugnada.”[66] O efeito
devolutivo é uma constante, pelo fato de o recurso sempre ter o
condão de devolver a matéria impugnada ao órgão judicial. E
no caso do efeito suspensivo, a lei expressamente acusa os
recursos que não são dotados desse efeito. Portanto, em
consonância com a maioria da doutrina os embargos de
declaração não possuem nenhuma restrição, em relação ao
efeito suspensivo.[67]

A doutrina reconhece amplamente os efeitos suspensivos dos


embargos de declaração, argumenta o Humberto Theodoro da
seguinte maneira:

Uma vez, pois, que o Código de Processo Civil não priva os


embargos de declaração, por regra alguma, da natural
eficácia suspensiva, urge reconhecê-la, como decorrência
natural e lógica do sistema recursal adotado por nossa
direito positivo (...) Aliás, mais do que qualquer outro
recurso, os embargos de declaração não podem prescindir da
força de suspender a decisão impugnada. Sua própria índole
é a de aperfeiçoar o ato judicial que, como está, se revela
lacunoso, contraditório ou impreciso, tornando-se, por isso,
de difícil compreensão e de perigosos resultados práticos.[68]

Porém, agora com o novo CPC, os embargos de declaração, não


terão mais efeito suspensivo, a decisão só será suspensa pelo
magistrado “se demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso, ou sendo relevante a fundamentação, houver risco de
dano grave ou difícil reparação”.[69]
2.4.3. Interrupção do prazo para outros recursos
Anteriormente, o antigo artigo 538 do CPC, “os embargos de
declaração suspendiam o prazo para a interposição de outros
recursos, efeito valia tanto para o embargante como para a
parte contrária, e até mesmo para terceiros prejudicados”.[70]
Com a entrada em vigor da Lei nº 8.950, de 13.12.94, os
embargos de declaração ao invés de suspender o prazo, agora o
interrompem.[71]
A interrupção se inicia com a interposição dos embargos e o
prazo para outros recursos começa a ser contado com a
publicação da decisão que os apreciaram, antes da nova lei com
a suspensão os prazos recomeçavam da onde tinham parado.
[72]

Analisando o artigo 538, vale-se ressaltar que o prazo para a


interposição de outros recursos se interrompe para ambas as
partes.[73]

Nada mais lógico e natural, uma vez que, se assim não fosse, o
embargado se quisesse recorrer, teria que fazê-lo antes de
poder ter conhecimento do teor final da decisão, pois esta
ainda poderia sofrer alterações em decorrência dos
julgamentos dos embargos.[74]

Vale contrastar a redação atual do CPC com o código de 1939 e


com o decreto lei 8570 de 46. O CPC de 1939 no seu 862 § 5º,
para que não houvesse fins protelatórios os embargos só
teriam efeito suspensivo se não fossem rejeitados. Com a nova
redação dada pelo decreto lei 8570, os “embargos de
declaração só não teriam efeito suspensivo, se não fossem
considerados manifestamente protelatórios.”[75]
Atualmente, apenas a interposição dos embargos, já é o
suficiente para que este tenha o condão para interromper o
prazo para outros recursos, esta alteração foi feita para
garantir uma maior segurança jurídica. O único quesito
atualmente para a interrupção geradas pelos embargos e que
este seja tempestivo, esta condição é pacífica tanto na
jurisprudência quanto nos tribunais.[76]

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