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 Anotações Embargos de Declaração

Embargos de declaração são o instrumento de direito processual previsto no Código

de Processo Civil (e também no processo penal e trabalhista), que possibilita às partes

questionarem o juízo acerca de inconsistências identificadas nas decisões judiciais.

Na prática, eles são possibilitam a indicação de vícios na decisão: omissão, contradição,

obscuridade ou erro material.

Neste artigo, vamos conhecer o funcionamento dos embargos de declaração.

Quando são cabíveis os embargos de declaração?


Os embargos de declaração são cabíveis sempre que quaisquer das partes identificarem

vícios na decisão.

Seu objetivo é deixar as decisões judiciais compreensíveis e sem erros, servindo de

forma a auxiliar o juiz a exarar uma manifestação sem erro, vício ou inconsistência que

dificultem a perfeita compreensão e execução do direito no futuro.

Assim, são cabíveis sempre que as decisões judiciais apresentarem contradição,

omissão, obscuridade ou erro material.

O que é a omissão na decisão?


A omissão na decisão ocorre ao deixar de se manifestar sobre tese ou prova que tenha

sido expressamente abordada pela parte embargante, que seja central para a resolução

da lide.
A omissão pode comprometer sua integralidade, deixando lacunas que tornam a solução

judicial incompleta ou insatisfatória.

Em casos assim, é frequente a oposição de embargos de declaração para que o juiz ou

tribunal complete seu julgamento.

O Novo CPC trouxe uma inovação na conceituação de omissão ao Artigo 1.022

parágrafo único, facilitando a aplicação desta espécie de embargos:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:

...

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em

incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;

II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º .

É importante lembrar que o Art. 489 traz os elementos, pontos e informações essenciais

da sentença, trazendo seu parágrafo 1o as hipóteses em que a sentença não é

suficientemente fundamentada - a saber:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

...

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,

sentença ou acórdão, que:


I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua

relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua

incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,

infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus

fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta

àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela

parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação

do entendimento.

Percebe que o legislador buscou deixar clara a maneira como uma decisão judicial deve

ser construída - em respeito às partes e advogados que litigam aos processos.

O que é a contradição na decisão?


A contradição na decisão judicial ocorre quando se verificam pontos da argumentação

que são conflitantes entre si.


A contradição pode ser identificada pela comparação de trechos da manifestação do

juiz, demonstrando que estão apontando para direções opostas.

As contradições podem criar um cenário de incerteza e confusão, pois traz pontos que

são logicamente incompatíveis entre si, isso pode dar margem a diversas interpretações

e complicar a execução da decisão.

Nesses casos, é comum que se utilizem embargos para pedir que o juiz ou tribunal

esclareça qual é a interpretação correta.

O que é a obscuridade da decisão?


A obscuridade da decisão judicial ocorre quando há falta de clareza em seu raciocínio.

A obscuridade acaba gerando dúvidas nas partes, comprometendo a interpretação da

real intenção do juiz e impedindo seu cumprimento.

Uma decisão obscura é aquela que não é clara o suficiente para que as partes ou mesmo

outros órgãos judiciários possam compreender plenamente seu significado ou escopo.

A falta de clareza pode afetar a execução da sentença, gerando insegurança jurídica

sobre o tema em questão.

O que é o erro material da decisão judicial?


O erro material da decisão judicial pode ser uma série de problemas, como erros de

digitação, como o nome da parte, um dígito, endereço ou valor.


São erros que não decorrem da análise do juízo, mas da digitação, ou fruto da cópia de

trecho de outro despacho do próprio juiz.

Estes erros podem ter natureza material ou até mesmo processual, a exemplo de prazos

contados de forma equivocada.

Contra quais decisões cabem embargos de declaração?


Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial, conforme prevê o Art.

1.022 do CPC.

Qual o prazo dos embargos de declaração?


O prazo dos embargos de declaração é de 5 (cinco) dias úteis, contados à partir da

intimação.

O que são embargos de declaração protelatórios?


Em anos de expertise na advocacia processual cível, notamos que muitas vezes os

embargos de declaração buscam, na verdade, alterar o mérito do decisum.

É preciso ter cuidado com esta manobra, pois o Art. 1.026 §2º do Código de Processo

Civil traz a previsão de multa de até 2% do valor atualizado da causa em caso de

embargos meramente protelatórios (com o intuito de atrasar os processos) - e pode ser

aplicada também à Fazenda Pública.

Lembrando que nestes casos o advogado só poderá manejar novo recurso mediante o

depósito prévio do valor da multa.


Assim, os embargos somente devem ser manejados quando houver efetiva necessidade

de complementação da manifestação do juiz.

Quais os efeitos dos embargos de declaração?


Os embargos de declaração possuem três efeitos, a saber: devolutivo,

interruptivo e infringentes.

É relevante ressaltar que os embargos declaratórios não possuem efeito suspensivo.

Vamos entender como funciona cada um deles.

Efeito devolutivo
O efeito devolutivo dos recursos significa que eles devolvem para o juízo a apreciação

da matéria objeto do recurso.

No caso dos embargos de declaração, a matéria embargada é devolvida para apreciação

do juiz.

Efeito suspensivo
Já o efeito suspensivo dos recursos impede a execução ou cumprimento da decisão

enquanto não apreciado o mérito do recurso.

No caso dos embargos declaratórios, não há efeito suspensivo, podendo a decisão ser

cumprida mesmo que pendentes de apreciação.


Efeito interruptivo
Os embargos de declaração possuem efeito interruptivo em relação a outros recursos -

ou seja, uma vez interpostos, interrompem os prazos para interposição dos demais

recursos, sendo reabertos integralmente à partir da intimação da decisão dos embargos.

Efeitos Infringentes ou Modificativos


Os efeitos infringentes ou modificativos significam a reforma ou alteração da decisão.

Eles não são automáticos, devendo ser requeridos pelo embargante - e só podem ser

concedidos como consequência da análise da omissão, contradição, obscuridade ou erro

material indicados nos embargos.

Prequestionamento
Os embargos de declaração também servem para o pré questionamento de determinada

matéria, permitindo o conhecimento dos recursos excepcionais previstos na

Constituição Federal.

Existem embargos de declaração no JEC?


Os embargos de declaração são cabíveis no JEC, conforme previsto ao Art. 48 da Lei nº.

9.099/99.
O que diz o Código de Processo Penal sobre os
embargos de declaração?
O Código de Processo Penal prevê os embargos de declaração em seu Artigo 619 -

indicando que eles são possíveis apenas em relação a acórdãos proferidos por órgão

colegiado.

Porém, a jurisprudência admite sua interposição contra qualquer decisão proferida pelo

juíz, não ficando restrita àquelas oriundas de órgão colegiado.

Vejamos o teor do referido artigo de lei:

Artigo 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas,

poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua

publicação, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou

omissão.

Note que o prazo dos embargos de declaração no processo penal é de 02 dias úteis (ao

invés dos 05 dias úteis previstos no Código de Processo Civil).

Como recorrer da decisão embargada?


A decisão embargada tem a mesma natureza jurídica de qualquer decisão, sendo

passível de recurso de acordo com sua natureza processual.

Ou seja: não há um recurso específico contra uma decisão dos embargos de declaração -

sendo cabível o mesmo recurso que seria cabível em face da decisão proferida

originalmente.
Uma questão importante decorre da interposição dos embargos por apenas uma das

partes.

Caso a outra parte interponha o recurso cabível (apelação ou agravo de instrumento, por

exemplo), e os embargos sejam providos, será necessário reabrir o prazo para que ela

maneje um novo recurso ou reitere os termos do anterior.

Porém, sendo rejeitados, o recurso interposto dentro do prazo original será válido, não

sendo necessária qualquer ação pela parte.

Trata-se de uma mudança prevista ao Art. 1.024 §§ 4o e 5o do Novo CPC, contrariando

anterior entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que entendida ser necessário

reiterar os termos do recurso, sob pena de preclusão.

Vejamos como ficou a redação atual do referido dispositivo do Código de Processo

Civil:

Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias.

...

§ 4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão

embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão

originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da

modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos

embargos de declaração.

§ 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do

julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do


julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente

de ratificação.

Qual a natureza jurídica dos Embargos de


Declaração?
A discussão acerca da natureza jurídica dos embargos é meramente acadêmica - parte da

doutrina defendendo se tratar de recurso, por poder haver a reforma da decisão, e outra

indicando ser apenas um instrumento com finalidade cooperação judicial.

Ao nosso ver, eles são uma maneira de oposição às decisões judiciais - validando sua

natureza recursal.

Como fazer embargos de declaração?


Os embargos de declaração devem ser feitos de forma sucinta e objetivo, com foco

exclusivo na matéria embargada.

Ou seja: este não é o momento processual para rediscutir o mérito do julgado.

É preciso que o advogado embargante indique, com clareza, qual o ponto embargado - e

trazer qual a correta maneira de interpretação que deve ser dada e qual a nitidez

pretendida na decisão e quais os vícios se busca afastar.

Em mais de 20 anos de advocacia, e também como professor em cursos de direito, já

fizemos centenas de embargos - e sempre que tivemos êxito a base da petição foi uma

exposição limpa da inconsistência encontrada na decisão, contendo tudo o que é

essencial, porém sem excessos.


Embargos de declaração são ou não um tipo de
recurso?
Sim, os embargos de declaração são um tipo de recurso, eis que eles podem receber os

efeitos infringentes, alterando a decisão embargada.

A discussão sobre sua natureza é doutrinária, restrita a especialistas, não tendo qualquer

repercussão na rotina da advocacia.

No entanto, é importante grifar que, embora sejam um tipo de recurso, eles não podem

substituir o recurso processualmente cabível - não havendo que se falar em

fungibilidade ou erro de boa fé.

Afinal, os requisitos de admissibilidade são distintos, a exemplos das custas recursais,

presentes em apelação e agravo, mas inexistentes nos embargos.

Quais os prazos dos embargos de declaração no Novo


CPC?
No Novo CPC, o prazo dos embargos de declaração é de 05 (cinco) dias úteis, contados

à partir da intimação da decisão.

Lembrando que eles também são cabíveis ao âmbito dos Juizados Especiais (Lei n.

9.099/95) e, sendo a sentença proferida em audiência, os embargos podem ser opostos

verbalmente, na mesma ocasião.

Este prazo o será em dobro para a Fazenda Pública.


Como funcionam os embargos de declaração na Justiça
do Trabalho?
Os embargos de declaração na Justiça do Trabalho funcionam da mesma forma que no

processo civil, estando as hipóteses de condutas descritas no Artigo 897-A da CLT - não

diferindo daquelas previstas no CPC.

Conclusão
Em mais de 20 anos de advocacia no contencioso cível, tivemos a oportunidade de

enfrentar diversos embargos - e já trouxemos dicas sobre como fazer embargos

vitoriosos e consistentes.

Mas também é preciso entender que o embargado poderá contrarrazoá-los - sendo de

suma importância desqualificá-los.

Uma forma eficaz do embargante fazer isso é demonstrando seu caráter meramente

protelatório, ou seja, que seu objetivo é apenas postergar a discussão do processo.

Ou, ainda, indicar que se está, na realidade, querendo revisar o conteúdo julgado na

decisão - o que deve ser feito pela via recursal adequada, e não pelos embargos.

Carlos Stoever
(Advogado Especialista em Direito Público)
Advogado com mais de 15 anos de experiência em gestão de contratos públicos, PPPs e
licitações públicas. Especialista em Direito Público pela UFRGS e em Compliance pelo
INSPER, além de Mestre em Gestão de Organizações Públicas pela UFSM e sócio do
JusDocs. Atua eficientemente na solução de problemas de relações governamentais e na
gestão de conflitos, com destaque para sua atuação em casos de repercussão nacional e
negócios de grande porte. Também é palestrante renomado, abordando temas cruciais
da Gestão Pública.
@carlos-stoever

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Contradição Na Decisão Judicial


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