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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0000149-55.2020.5.11.0101

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 17/08/2020


Valor da causa: R$ 133.975,34

Partes:
RECLAMANTE: ERIVALDO DA SILVA TAVARES
ADVOGADO: SANDRO SANTOS SILVA
RECLAMADO: AMAZONAS ENERGIA S.A
ADVOGADO: AUDREY MARTINS MAGALHAES FORTES
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
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AO JUÍZO DA 1° VARA DO TRABALHO DE PARINTINS-AM

Processo 0000149-55.2020.5.11.0101
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

AMAZONAS ENERGIA S.A, por seus advogados, nos autos da


reclamação trabalhista ajuizada por ERIVALDO DA SILVA TAVARES, vem, por
conduto de sua advogada, inconformada com o v. acórdão do Recurso Ordinário, apresentar,
no prazo legal, e com fulcro no art. 893, I e art. 897-A da CLT e Súmula 278 do C. TST,
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, pedindo, respeitosamente, que este Colendo Tribunal
Regional do Trabalho se pronuncie expressamente sobre o que deveria ter se pronunciado
quando da lavra do v. acórdão. São as razões dos embargos:

I. DO CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – EFEITO


INFRINGENTE.

O art. 1.022 do CPC dispõe in verbis:


Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;

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O respeitado doutrinador Nelson Nery Júnior ensina que os Embargos de


Declaração podem ter:
1) CARATER INFRINGENTE: quando utilizados para: a)
correção de erro material manifesto; b) suprimento de
omissão; c) extirpação de contradição;

2) CARATER PREQUESTIONADOR: essas matérias são: a)


de ordem pública, a respeito das quais o juiz ou tribunal tinha
de pronunciar-se ex officio, mas se omitiu; b) as direito
positivo que tivessem sido, efetivamente, argüidas pela parte
ou interessado mas não decididas pelo juiz ou tribunal.

Nesse contexto, vem tão somente requerer que Vossa Excelência manifestação sobre
os artigos abaixo citados, sanando as omissões e evitando qualquer ulterior alegação de
supressão de instância.

III. CONTRADIÇÃO. TESE NÃO VINCULANTE.

O acórdão se embargou citou como motivo único do julgamento o acórdão do


IRDR n° 0000233-34.2021.5.11.0000, sem fazer nenhuma ressalva ou fundamentação
correlata, além de considerar que o referido incidente teria efeito vinculante e que bastaria
citar o precedente.

A votação, conforme acórdão em anexo, foram 05 Desembargadores favoráveis


a incorporação da norma interna e 04 Desembargadores contrários a incorporação de norma
interna, de modo que a maioria simples forma teve prevalecente e não tese vinculante.

Com esse raciocínio é o art. 144 e art. 145 do Regimento Interno do TRT da 11º
Região:
Art. 144. O julgamento do incidente poderá ser pelo voto da
maioria simples dos desembargadores presentes na sessão,
hipótese em que constituirá tese jurídica prevalecente do Tribunal
quanto ao tema controvertido.

Art. 145 Na hipótese de o julgamento alcançar o voto da maioria


absoluta dos componentes do Tribunal Pleno, a tese vencedora
constituirá precedente para uniformização da jurisprudência,
podendo ser convertida em Súmula, em proposta a ser formulada
pela Comissão de Jurisprudência.

A leitura dos referidos não deixa dúvidas sobre o norte das teses firmadas em
IRDR, que variam de acordo com quórum de votação:

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Maioria Simples Maioria Absoluta


 Constitui tema prevalecente  Constitui uniformização de
 De observância não-obrigatória, jurisprudência;
logo não vinculante  Vinculante e observância
obrigatória, sob pena de reclamação;
 Pode ser convertida em Súmula

Certamente não haverá igualdade de tratamento da tese, seria o mesmo que


reconhecer que o regimento interno é obsoleto e traz letra morta. O regimento interno faz
diferenciação entre os quóruns de votação, justamente porque a força de uma
votação com maioria absoluta tem maior representatividade de uma tese dominante
na Corte.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

Outrossim, sequer houve trânsito em julgado do IRDR, que conta com


pendência de julgamento de recurso de revista, tornando precipitada a adoção da tese como
vinculante.

A jurisprudência entende que nesses casos a nulidade absoluta:

Na forma do art. 489, § 1º, III e V do CPC não se considera


fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que se limite a invocar
precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes, nem demonstre que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos, bem como a que
invoque motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão. Sentença que se anula. (TRT-1 - AP:
01000459320215010043 RJ, Relator: GLAUCIA ZUCCARI
FERNANDES BRAGA, Data de Julgamento: 08/12/2021, Quinta
Turma, Data de Publicação: 12/02/2022)

O princípio contido no art. 93, IX da CF/88 é uma garantia


constitucional e em virtude disso o magistrado deve solucionar o
caso concreto com base em leis constitucionais e

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infraconstitucionais e nos fatos carreados no processo. Decisões sem


fundamentação desrespeitam o devido processo legal. A executada
não poderia ser excluída da lide sem que seus pedidos fossem
julgados e toda a matéria fosse analisada à luz da legislação e do que
consta do processo. Assim, todas as decisões judiciais deverão ser
fundamentadas, sob pena de nulidade. Não existe "concordância
tácita" simplesmente pela ausência de manifestação acerca de
exceção de pre-executividade, ainda que o exequente tivesse
permanecido silente, o que também não ocorreu, como visto. (TRT-
2 - AP: 00438008320055020079 SP, Relator: MARCELO FREIRE
GONCALVES, 12ª Turma, Data de Publicação: 31/01/2022)

Requer, assim, a saneamento da omissão apontada, a fim de realizar o cotejo que


o acórdão de IRDR não possui efeito vinculante, dado o quórum realizado para votação.

IV – DA SUSPENSÃO DO FEITO.

No IRDR fora interposto recurso de revista, que possui efeito suspensivo,


conforme art. 987, §1° do CPC:

Art. 987. Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso


extraordinário ou especial, conforme o caso.
§ 1º O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão
geral de questão constitucional eventualmente discutida.

Desse modo, requer a suspensão do processo até julgamento final do recurso de


revista.

V – OMISSÃO. ITEM 3.2 DO RECURSO ORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE NORMA


INTERNA QUE PREVÊ ESTABILIDADE DE EMPREGO

A sentença conclui pela incorporação da norma interna, entrementes deixa a


apreciar pontos fulcrais da defesa:

i) Se a norma interna prevê estabilidade, especialmente quando a


comissão formada não emite parecer vinculativo e formada por maioria
de representantes do empregador.
ii) Se a norma interna se aplica indistintamente a qualquer
empregado, ou somente empregado que receberam cursos
profissionalizantes ou graduações pagas pela empresa.
Como demonstrado no apelo ordinário, a Norma Interna mencionada pelo
Reclamante foi adotada – não para garantir ao empregado ESTABILIDADE DE

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EMPREGO, mas para GARANTIR AO ERÁRIO PÚBLICO RETORNO DO


INVESTIMENTO NA QUALIFICAÇÃO DE PESSOAL

Note-se que era montada uma comissão por três representantes (02 do
empregador e 01 do sindicato), que emitiam parecer OPINATIVO para diretoria, que
tinha discricionariedade de realizar a demissão. E justamente aconteceu no caso em
deslinde, a demissão foi realizada pela diretoria, a quem cabe exclusivamente realizar o ato.

Desta feita, primeiro a norma interna não prevê nenhuma garantia e não é
aplicada irrestritamente a todos os funcionários. Segundo, ainda que fosse, trata-se de
comissão que monta majoritariamente do empregador e que firma parecer meramente
opinativo, de modo que não há que se falar em garantia de estabilidade.

Há entendimento consolidado no TST que a mera previsão em norma interna de


procedimento a ser adotado não se confunde com estabilidade ou garantia de emprego de
qualquer ordem:

O TST entendeu que a norma interna tão somente prevê procedimentos


para instauração da demissão, não havendo direito de reintegração por inobservância
deste:
EMBARGOS. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO. DISPENSA SEM JUSTA
CAUSA. PREVISÃO EM NORMA INTERNA. ATO
POTESTATIVO DO EMPREGADOR . A existência de norma
interna estabelecendo procedimento para dispensa do empregado
não assegura estabilidade no emprego, quando apenas prevê
procedimento administrativo para a aplicação de penalidades, pelo
que não elide o direito potestativo do empregador de resilição do
contrato de trabalho. Diante da dispensa sem justa causa de
empregado encontrar-se no âmbito do poder diretivo do
empregado, não há como consagrar estabilidade em
ferimento ao princípio da legalidade, nem há como se
considerar a norma interna da empresa como regra que
impõe estabilidade ao empregado, quando não há cláusula
estipulando senão os procedimentos internos a serem
observados pelos seus administradores. Precedentes desta c.
SDI-1. Recurso de embargos conhecido e provido . (TST - E-ED-
RR: 2601004720025090015, Data de Julgamento: 07/04/2016,
Data de Publicação: DEJT 01/07/2016)
Esta Corte superior firmou posicionamento de não haver
impedimento à dispensa imotivada na forma realizada pelo Banco
Itaú S.A., sucessor do Banestado, em face da privatização do banco
estadual. A questão foi resolvida no julgamento do Processo nº E-
ED-ED-RR - 1079900-91.2003.5.09.0015, Relator Ministro Aloysio
Corrêa da Veiga, em sessão de 7/4/2016, ocasião em que

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prevaleceu o entendimento de que a existência de norma interna


estabelecendo procedimento para dispensa do empregado não
assegura estabilidade no emprego, quando apenas prevê
procedimento administrativo para a aplicação de penalidades, pelo
que não elide o direito potestativo do empregador de resilição do
contrato de trabalho. (TST - RR: 21847000220025090012, Relator:
José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 12/03/2019, 2ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 15/03/2019)

Dito isso, na forma do art. 489, §1°, VI combinado art. 1.022, parágrafo
único é OMISSA a decisão judicial que não afasta os precedentes juntados pela parte:
Art. 489 (...) § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...) VI -
deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência
de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
Art. 1.022 (...) Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º .

Outrossim, o acórdão do TST citado no acórdão embargado não se aperfilha a


matéria debatida nos autos. No acórdão citado (62100-28.2010.5.16.0015) a norma interna
previa expressamente a estabilidade e não apenas mero procedimento de demissão cuja
maioria é de representado do empregador:
Extrai-se, portanto, que o Banco Bradesco, como sucessor do Banco
BEM, estava obrigado a motivar o ato de dispensa do autor, como
pena disciplinar, ou a só demiti-la no caso de falta disciplinar, até
porque como pessoa jurídica de direito privado abriu mão do direito
potestativo de rescindir o contrato de trabalho, ainda que sem justa
causa, ou melhor, sem expor o motivo da demissão, bem como a
assegurar o direito de defesa.

A norma interna no presente caso debatido em nenhum momento prevê


PROCEDIMENTO MOTIVADO. Perceba-se, que em nenhum momento a norma
interna revogada fala em motivação da rescisão contratual, em parecer para explicar
os motivos da demissão ou de qualquer forma justificar a demissão. No acordão
paradigma utilizado por essa Corte Regional, a situação fática é diversa, ao tempo
que a norma interna daquele caso exigia falta disciplinar ou motivação para
dispensa.
Trata-se, portanto, de mero procedimento que não exige que seja
explicado motivação do empregado, logo não veda a dispensa imotivada. O objetivo é
tão somente que a diretoria tenha conhecimento da demissão, o que no caso desta empresa
privatizada ocorre quando todas as dispensas são realizadas pela diretoria.

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Ao citar precedente sem o devido ajustamento com o caso concreto, omisso


novamente o acórdão:
Art. 489, §° V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;

Em razão do esposado, na forma do art. 489, §1°, V e VI combinado com art.


1.022, parágrafo único, II do CPC, requer o saneamento das omissões apontadas para, sob
pena de nulidade por negativa de prestação jurisdicional (art. 93, IX do CPC):

a) Analisar que a norma interna não prevê procedimento motivado, ou seja,


não exige que a dispensa seja motivada – em nenhum momento trata do
tema;

b) Que a norma interna não se aplica a todos os empregados, mas somente aos
que receberam graduações e treinamentos custeados com dinheiro público;

c) Distinguir o acórdão do TST 62100-28.2010.5.16.0015 citado do presente


caso, tendo em vista que naquele a norma interna vedava expressamente
demissão se não fosse pena disciplinar.

V. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer à Vossa Excelência, conhecendo os presentes embargos de


declaração, se digne a, sanar a omissões e contradições apontadas, deferindo efeito
infringente aos presentes embargos de declaração, a fim de julgar improcedente a reclamação
trabalhista.

Nestes termos, espera deferimento.


Teresina (PI), 29 de agosto de 2022

Francisco Sobrinho de Sousa


OAB-PI 11.119

Audrey Martins Magalhães


Advogada OAB/PI nº 1.829

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