Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1a EDIÇÃO/2022
1. INTRODUÇÃO 5
1.1. DOLO 5
2.2. CONDUTA 6
2.5. CONSUMAÇÃO 8
3.4. CONDUTA 11
4.1.OBJETO MATERIAL 11
4.3. CONDUTA 12
5.3. CONDUTA 13
6.2. CONDUTA 17
7.3. CONDUTA 19
7.7. CONSUMAÇÃO 21
8.3. CONDUTA 24
9.4. CONDUTA 25
10.2. CONDUTA 29
10.8. SUBSIDIARIEDADE 30
11. USO OU CESSÃO PARA USO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO CIVIL DE TERCEIRO - ART. 308, CP 30
11.2. CONDUTA 30
11.5. CONSUMAÇÃO 31
12.2. CONDUTA 31
12.5. CONSUMAÇÃO 33
13.2. CONDUTA 34
Os delitos previstos neste título são chamados de crimes de falso, sendo requisitos de tais crimes1:
✓ Imitação da verdade: seja alterando o verdadeiro, hipótese em que é chamado de immutatio veri
(ex.: modificar o teor de um documento já existente); ou imitando a verdade, hipótese em que é chamado de
imitatio veritatis (ex.: criar um documento falso imitando um verdadeiro) através dos seguintes meios:
contrafação, alteração, supressão, simulação e uso da coisa falsificada.
✓ Dano potencial: O prejuízo inerente à falsidade não precisa ser efetivo nem necessariamente
patrimonial.
OBSERVAÇÃO
Para configuração do dano potencial é necessário que o documento falsificado seja capaz de ludibriar
um número indeterminado de pessoas. A falsificação grosseira, reconhecível ictu oculi, não caracteriza,
portanto, o crime de falso.
1.1. DOLO
Todos os crimes contra a fé pública são dolosos. Não existe modalidade culposa nos delitos deste
Título.
OBSERVAÇÃO
As Cortes Superiores entendem, em regra, pela não aplicação do princípio da insignificância aos crimes
contra a fé pública, tendo em vista o bem jurídico tutelado.
1
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 5
Turma. HC 187269, Rel. Min Roberto Barroso, decisão monocrática em 18/06/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg-AREsp 1.963.955, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
08/02/2022 STJ. 5ª Turma. AgRg-RHC 155.201, Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em
12/12/2021
Excepcionalmente, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé
pública (uso de atestado falso) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a
mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da
ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade
material da conduta e afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes as
sanções previstas na Lei trabalhista. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 16/11/20212
2.2. CONDUTA
A conduta típica consiste em falsificar, que pode dar-se pela fabricação (criação da moeda falsa) ou
alteração (modificação de seu valor para maior). Pode recair sobre a moeda nacional ou qualquer moeda
estrangeira, quer se trate de moeda metálica ou de papel-moeda.3
Falsificar significa conferir aparência enganadora, podendo se perfazer de duas maneiras: fabricando a
moeda (manufaturando) ou alterando (modificando a existente).4
2
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, não se admite o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, salvo quando há circunstâncias
excepcionais verificadas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/45988a729df28f554d96a5b9932b17e1>. Acesso em: 11/06/2022
3
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
4
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 6
ATENÇÃO
■ Se o agente inserir em papel-moeda verdadeiro números e letras retirados de outra cédula,
igualmente verdadeira, para aumentar seu valor, configura-se o crime de moeda falsa (CP, art. 289, caput), por
meio da alteração.
■ Se a falsificação for grosseira, não estará configurado o crime, podendo constituir estelionato,
eventualmente, a depender do quão grosseira é a falsificação, é possível constituir crime impossível por
absoluta ineficácia do meio5. Eis o que dispõe a Súmula nº 73 do STJ:
Para a configuração do crime de moeda falsa, previsto no art. 289, caput e § 1º, do CP,
é necessário que se evidencie a chamada imitatio veri, ou seja, é preciso que a
falsidade seja apta a enganar terceiros da a semelhança da cédula falsa com a
verdadeira. Se ficar constatada pela perícia que a falsificação das cédulas contrafeitas
poderia iludir o homem comum, como de fato ocorreu, verifica-se em princípio a
configuração do referido crime, cuja competência é da Justiça Federal (CC 117.751/PR,
j em 28/03/2012)6.
■ A falsificação de papel-moeda que já deixou de circular não se amolda no tipo, podendo caracterizar
estelionato. Ex.: falsificar cédula rara para enganar colecionador7.
■ O delito de Moeda Falsa é crime de competência da justiça federal. Não se admite a aplicação do
princípio da insignificância ao crime em análise, com o fundamento de que o crime de bagatela é incompatível
com delitos que tutelam a fé pública. Vejamos o entendimento dos Tribunais Superiores:
5
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 73-STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9a96a2c73c0d477ff2a6da3bf538f4f4>. Acesso em: 11/06/2022
7
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 7
há, portanto, falar em mínima ofensividade da conduta” (STJ — AgRg no REsp
1.459.167/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª Turma, julgado em 16-2-2016, DJe 4-3-2016).
■ É possível aplicar o benefício do arrependimento posterior ao réu acusado do crime de moeda falsa?
8
NÃO.
2.5. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime formal; o crime se consuma no momento da fabricação ou alteração da moeda,
desde que seja idônea a iludir.9 É possível a tentativa.
8
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inaplicabilidade do arrependimento posterior ao crime de moeda falsaa. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b197ffdef2ddc3308584dce7afa3661b>. Acesso em: 11/06/2022
9
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 8
2.1. FORMA EQUIPARADA - ART. 289, §1º
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa.
Trata-se de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Enquanto no caput pune o autor da
falsificação, no § 1º pune-se outras pessoas que sabem da falsidade e realizam uma das condutas típicas
posteriores, isto é, pune-se, de um modo geral, a circulação da moeda falsa.
ATENÇÃO
■ Na modalidade “vende” a doutrina entende que trata-se de crime na sua modalidade material. E no
núcleo “guardar” o crime é permanente e os demais instantâneos.
■ É fundamental que o agente saiba que a moeda adquirida é falsa, sem este conhecimento deixa de
existir o DOLO, elemento subjetivo deste tipo.
■ Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP.
Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, §
1º, do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida”, incidirão as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II
do art. 61 do CP. Isso porque o sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado,
mas também a pessoa lesada com a introdução da moeda falsa. STJ. 6ª Turma. HC
211052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546)10.
10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f69e505b08403ad2298b9f262659929a>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 9
O parágrafo 2º se refere ao sujeito que coloca em circulação a moeda que, apesar de ter recebido de
boa-fé, sabe ser falsa; trata-se de uma modalidade privilegiada para a doutrina.
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação
não estava ainda autorizada.
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos
de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete
recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização;
restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos
para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos e multa, se o crime
é cometido por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava
recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo.
11
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 10
Contudo, quando o agente praticar duas ou mais condutas em relação a objetos diversos, haverá
concurso de crimes (nesse caso, o art. 290 funciona como um tipo misto cumulativo). Exemplo: formar uma
cédula com fragmentos de cédulas verdadeiras, e também suprimir sinal indicativo de inutilização de outra
cédula já recolhida, para o fim de restituí-la à circulação.
Trata-se de crime formal e de perigo concreto.
3.4. CONDUTA
A conduta típica consiste em formar, suprimir ou restituir.
ATENÇÃO
■ Esse último delito (terceira conduta - restituir em circulação) somente pode ser praticado pelo sujeito
que não participou da falsificação do papel-moeda ou da retirada de sinal indicativo da sua inutilização (se
participou, será responsabilizado unicamente pelo comportamento inicial).
■ O parágrafo único trata-se de crime próprio, é uma figura qualificada.
4.1.OBJETO MATERIAL
Maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer outro objeto especialmente destinado à falsificação de
moeda. Nesse caso, o legislador se utilizou da interpretação analógica (ou intra legem), com o propósito de
alcançar as mais diversas situações surgidas na vida prática.
ATENÇÃO
O termo “especialmente” diz respeito à finalidade precípua do objeto, consistente na falsificação de
moeda. Assim, o bem pode até ser utilizado com outros fins, mas deve ser prioritariamente empregado na
fabricação de moedas.
OBSERVAÇÕES
■ Pouco importa se o agente estava atuando a título oneroso ou gratuito.12
■ A prova de que os petrechos podem ser destinados à falsificação depende de perícia (subsistindo o
crime mesmo que se conclua ser o objeto capaz de realizar, em parte, a contrafação.13
OBSERVAÇÕES
■ Na modalidade fabricar, adquirir e fornecer o delito é instantâneo; na modalidade possuir e guardar o
delito é permanente.
■ O crime em análise é subsidiário (crime obstáculo), pois fica absorvido quando o agente, fazendo uso
do maquinismo, efetivamente falsifica a moeda, hipótese em que responde pelo delito do art. 289, que tem
pena maior.14
12
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
13
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
14
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 12
consumação (crime impossível), pois nem mesmo o maquinário e
insumos utilizados pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente
para a fabricação de moeda. A dicção legal está relacionada ao uso que o
agente pretende dar ao objeto, ou seja, a consumação depende da
análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente
detém a posse de impressora, ainda que manufaturada visando ao uso
doméstico, mas com o propósito de a utilizar precipuamente para
contrafação de moeda, incorre no referido crime. STJ. 6ª Turma. REsp
1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info
633).
5.3. CONDUTA
Pune-se quem falsificar (contrafazer) documento público, ou alterar (modificar) documento público
verdadeiro.15
OBSERVAÇÕES
■ A falsificação pode ser total, quando o documento é totalmente criado, ou parcial, adicionando-se
novos elementos no documento verdadeiro.
15
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 13
■ Na conduta de alterar, o agente modifica documento público existente (e verdadeiro), substituindo ou
alterando dizeres inerentes à própria essência do documento.16
■ A falsidade material é infração que deixa vestígios, de modo que é indispensável o exame de corpo de
delito para a prova da materialidade.
■ Não se aplica o princípio da insignificância para crimes contra a fé pública, como é o caso do delito
de falsificação de documento público. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/03/2014.
OBSERVAÇÃO
Se o delito for cometido por funcionário público, que, para tanto, se prevaleça das suas funções, a pena
sofrerá um acréscimo de um sexto (art. 297, § 1º).
ATENÇÃO
■ Não é viável a punição de pessoa que tem em seu poder carimbos falsos, com o comprovado intuito
de, futuramente, falsificar documentos, se ainda não deu efetivo início à sua confecção19; diferente do que
ocorre no delito de petrechos para falsificação de moeda.
■ O fato será considerado atípico quando a falsificação for grosseira, ou seja, quando for perceptível
ictu oculi (a olho nu) por toda e qualquer pessoa que manuseie o documento.
16
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
17
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
18
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
19
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 14
5.8. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
A Lei n. 9.983/2000 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art. 297, punindo com as mesmas penas da falsidade
material de documento público a falsificação de determinados documentos que têm reflexos na Previdência
Social. Na realidade, entretanto, as condutas típicas descritas constituem quase sempre hipóteses de falsidade
ideológica.20
Quanto à competência, o crime do art. 297 é geralmente julgado pela Justiça Estadual. Todavia, será
competente a Justiça Federal quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (ex: falsificar passaporte).
Lembre-se, por exemplo, que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mesmo que válida em todo o
território nacional, é emitida pela autoridade estadual de trânsito (DETRAN), sendo sua falsificação de
competência da Justiça Estadual. A questão da competência tem ainda alguns importantes entendimentos
jurisprudenciais, a seguir apresentados:
20
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 15
Esse crime será visto no §3º do art. 297.
Súmula 104-STJ: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.
Súmula Vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar
de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação
de Arrais-Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
Nesse caso, a atividade é fiscalizada pela Marinha (órgão da União), por isso a
competência da Justiça Federal.
ATENÇÃO
■ Art. 297, § 4º do CP: crime instantâneo ou permanente?21 O delito do art. 297, § 4.º, do Código Penal é
omissivo próprio e configura-se como crime instantâneo de efeitos permanentes, pois o momento
consumativo é o da contratação do empregado sem que sejam efetuadas as devidas anotações na CTPS no
prazo legal.
■ Art. 297, § 4º do CP: É possível aplicar a esse delito o princípio da insignificância?21 SIM. O STJ já
absolveu um réu com base no princípio da insignificância em situação na qual a falta de registro na CTPS
referia-se a um prazo de apenas 2 (dois) meses de vínculo: STJ. 6ª Turma. HC 107572/SP, Rel. Min. Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 14/04/2009.
21
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b265ce60fe4c5384e622b09eb829b8df>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 16
6.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Trata-se de crime formal; tutela-se a fé pública nos documentos particulares.
6.2. CONDUTA
Aplica-se a mesma explicação do crime anterior (falsificação de documento público). A diferença em
relação ao tipo do art. 297 reside na natureza do documento que é particular, além da pena menor cominada
em abstrato.
OBSERVAÇÕES
■ O conceito de documento particular para fins penais é obtido por exclusão. O que não é público será
particular, inclusive o documento público nulo.
■ O documento particular registrado em cartório não tem sua natureza alterada. Da mesma forma, a
cópia autenticada de documento particular continua sendo documento particular.
■ Advogado que substitui folha da petição inicial.22
■ No caso de a falsificação ser grosseira, se há algum lesado pela conduta do agente, pode restar
caracterizado o delito de estelionato.
■ A falsificação de documento particular para fins eleitorais configura o crime específico definido no art.
349 do Código Eleitoral.
■ O art. 1º, incs. III e IV, da Lei 8.137/1990 disciplina crime específico (princípio da especialidade),
atinente à falsificação de documento particular voltado à sonegação fiscal.
22
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Advogado que substitui folha da petição inicial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c930eecd01935feef55942cc445f708f>. Acesso em: 11/06/2022
23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade de contrato social para ocultar o verdadeiro sócio. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17e395d3049b03e0f1ccebb02b4d>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 17
■ A falsificação de documento particular é crime comum; formal; não transeunte; de forma livre; em
regra comissivo; instantâneo; unissubjetivo e normalmente plurissubsistente.
OBSERVAÇÕES
■ Ao contrário do que ocorre com a falsificação de cheque para a prática de estelionato — que fica por
este absorvido de acordo com a Súmula n. 17 do Superior Tribunal de Justiça (ver item 2.6.1.10) —, tal absorção
não se dá no caso do uso de cartão falsificado. A diferença é que a falsificação do cheque se exaure no
estelionato porque a cártula é entregue ao vendedor enganado, ao passo que o cartão falsificado (clonado)
permanece em poder do criminoso após a prática do estelionato, subsistindo a potencialidade lesiva.25
■ A inserção do parágrafo único não significa novatio legis in pejus, pois a doutrina já incluía cartão de
crédito/débito dentro das possibilidades do art. 298 (REsp STJ 1.578.479, Sexta turma).
24
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
25
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 18
7. FALSIDADE IDEOLÓGICA - ART. 299, CP
Art. 299 - OMITIR, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou NELE INSERIR ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante:
7.3. CONDUTA
O documento é formalmente verdadeiro, mas seu conteúdo é divergente da realidade. Os verbos
núcleos do tipo são omitir, inserir e fazer inserir.
Omitir significa um não fazer. O crime é omissivo próprio ou puro. A lei já descreve um deixar de fazer.
Exemplo: deixar de mencionar um gravame em contrato de compra e venda de imóvel. Inserir é a conduta do
próprio agente que introduz, coloca, uma ideia ou informação falsa no documento. Por sua vez, fazer inserir
consiste em criar as condições para que terceiros introduzam as informações falsas.
Portanto, comete o crime quem: Omitir declaração que devia constar do documento; Omitir declaração
que devia constar do Documento; e Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia constar.
OBSERVAÇÕES
26
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 19
■ A jurisprudência do STJ é no sentido de que a declaração falsa de insuficiência de recursos feita em
processo judicial para fins de obtenção do benefício da gratuidade da justiça (art. 98 CPC) não tipifica o crime
ora estudado, pois a declaração passível de averiguação posterior não constitui documento para fins penais.
■ Na hipótese do papel assinado em branco, cujo conteúdo é preenchido por terceiro contra a vontade
de quem o assinou, o crime poderá ser tanto de falsidade ideológica como de falsificação de documento. Será
falsidade ideológica se o documento chegou às mãos do terceiro de forma legítima. Por sua vez, será crime de
falsificação de documento se o papel foi obtido de forma ilícita.
■ A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura crime eleitoral de falsidade
ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). STF. 2ª Turma.PET 7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/3/2018 (Info 895).
■ Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência
inequívoca de que a declaração era falsa.
Prefeito que assina documentos previdenciários com conteúdo parcialmente falso não
deve ser condenado por falsidade ideológica se não foram produzidas provas de que
ele tinha ciência inequívoca do conteúdo inverídico da declaração. Neste caso, ele
deverá ser absolvido, nos termos do art. 386, III, do CPP, por ausência de dolo, o que
exclui o crime. STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/6/2017 (Info 868)27.
27
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência inequívoca de que a
declaração era falsa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/351869bde8b9d6ad1e3090bd173f600d>. Acesso em: 11/06/2022
28
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Candidato que deixa de contabilizar despesas em sua prestação de contas no TRE. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2dffbc474aa176b6dc957938c15d0c8b>. Acesso em:
11/06/2022
29
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299). Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e94f63f579e05cb49c05c2d050ead9c0>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 20
parte contrária seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. STJ. 6ª Turma.
HC 261074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE),
julgado em 5/8/2014 (Info 546).
Declaração passível de averiguação ulterior não constitui documento para fins penais.
HC deferido para trancar a ação penal. (HC 85976, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Turma, julgado em 13/12/2005).
OBSERVAÇÃO
Caso o delito seja praticado por funcionário público prevalecendo-se do cargo, a pena será aumentada
de um sexto (art. 299, parágrafo único).
7.7. CONSUMAÇÃO
Quando o documento fica pronto com a efetiva omissão ou inserção de declaração, de forma a tornar
falso o seu conteúdo, mesmo que o agente não atinja a sua finalidade de prejudicar direito, criar obrigação.
Tratando-se de crime formal, dispensa-se a ocorrência de dano efetivo, sendo suficiente que o documento
ideologicamente falso tenha potencialidade lesiva.31
OBSERVAÇÃO
■ A falsidade ideológica é crime que não pode ser comprovado pericialmente, pois o documento é
verdadeiro em seu aspecto formal, sendo falso apenas o seu conteúdo. O juiz é quem deve avaliar no caso
concreto se o conteúdo é verdadeiro ou falso.32
30
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
31
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
32
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 21
■ O crime em estudo é formal, instantâneo e de perigo concreto. Contudo, ao contrário dos crimes
anteriores, a falsidade ideológica é crime transeunte (não deixa vestígios), sendo desnecessária a perícia sobre
o documento, que é verdadeiro. Na verdade, a comprovação do crime somente pode ser efetuada pela
verificação dos fatos a que se refere o teor do documento.
Considerando que se trata de crime formal, o STJ decidiu que, em caso de inserção
de informações falsas em contrato social (sócio laranja) o crime é consumado no
momento do registro da alteração fraudulenta, não havendo que se falar em
reiteração delitiva caso haja omissão em corrigir a informação falsa quando se teve a
oportunidade para tanto. STJ. 3a Seção. RvCr 5.233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 13/05/2020 (Info 672).
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a
realidade. Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque:
1) currículo Lattes não é considerado documento por ser eletrônico e não ter
assinatura digital;
2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de
falsidade ideológica. Quando o documento é passível de averiguação, o STJ entende
Responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso com o
de falsidade ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de
tributo devido pela entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade
sobre o preço desta. STJ. 5ª Turma. RHC 31321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 16/5/2013 (Info 523)34.
Nos termos do art. 299, parágrafo único, a pena da falsidade ideológica será aumentada de um sexto
se a falsificação ou alteração recair em assentamento de registro civil (nascimento, casamento, óbito,
emancipação, interdição etc.), ou seja, se o agente inserir ou fizer inserir declaração falsa no próprio livro ou
arquivo onde os atos são registrados no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais.35
33
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fd4d801731725513a4d77aa9bb35534b>. Acesso em:
11/06/2022
34
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade ideológica é absorvida pelo descaminho. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/991de292e76f74f3c285b3f6d57958d5>. Acesso em: 11/06/2022
35
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 23
Se o médico for funcionário público e fornecer atestado falso para alguém que seja habilitado a obter
cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem relacionada ao
serviço público, a ele será imputado o crime do art. 301, caput, do CP.
Se o médico for funcionário público e solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem, para emitir o atestado falso, estará configurado o crime de corrupção
passiva (CP, art. 317).
Se o médico dá atestado falso com a finalidade de abonar faltas injustificadas ao serviço em
organização militar, configura-se o crime militar previsto no art. 9º, inc. III, a, do Código Penal Militar.
8.3. CONDUTA
Consiste em o médico dar, no exercício regular da profissão, atestado falso, ou seja, escrever
informações que não condizem, total ou parcialmente, com a realidade, entregando, em seguida, o documento
ideologicamente falso ao interessado.36
OBSERVAÇÃO
O crime só se caracteriza quando o conteúdo do atestado guarda relação com as funções médicas:
existência de certa doença, necessidade de repouso para convalescência, atendimento de pessoa em consulta
médica, atestado de óbito, etc.37
OBSERVAÇÕES
■ Quem usa o atestado médico falso incorre no crime do art. 304 (uso de documento falso) com a pena
do art. 302.
■ Se o particular, autor de atestado próprio falso, é dentista, veterinário ou qualquer outro profissional
que não seja da área médica, não estará configurado o crime em tela, mas sim o de falsidade ideológica, do art.
299.38
36
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
37
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
38
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 24
8.6. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar uma das condutas típicas elencadas no tipo.
Porém, não se exige especial finalidade por parte do agente.39
OBSERVAÇÃO
Caso o médico tenha a finalidade de auferir lucro com a conduta criminosa, será aplicável também a
pena de multa, como determina o art. 302, parágrafo único.
8.7. Consumação
Ocorre no momento em que o médico fornece o atestado falso, independentemente de ulteriores
consequências. Trata-se de crime formal.
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem os arts. 297 a 302:
9.4. CONDUTA
O uso de documento falso é um crime remetido, uma vez que a conduta punida é a de fazer o uso de
qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts. 297 a 302, como se fossem verdadeiros.
40
Também podemos classificar o crime em comento como crime acessório, pois sua existência pressupõe a
ocorrência de um crime anterior.
39
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
40
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 25
Fazer uso consiste em apresentar efetivamente o documento a alguém, tornando-o acessível à pessoa
que se pretende iludir. Caracteriza-se o crime pela apresentação do documento a qualquer pessoa, e não
apenas a funcionário público.
OBSERVAÇÃO
■ Em se tratando de cópia de documento, só haverá crime se o uso for de cópia autenticada. A cópia
não autenticada não tem valor probatório e, por isso, não se enquadra no conceito de documento.41
■ Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso (art. 304)42.
É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados
da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da
materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento
oportuno, a realização do referido exame. O crime de uso de documento falso se
consuma com a simples utilização de documento comprovadamente falso, dada a sua
natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida
Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).
41
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
42
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso (art. 304). Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/80a8155eb153025ea1d513d0b2c4b675>. Acesso em:
11/06/2022
43
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Uso de documento falso perante a Polícia Rodoviária Federal: Justiça Federal. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6492d38d732122c58b44e3fdc3e9e9f3>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 26
■ Uso de documento falso em sonegação fiscal44.
O uso de documento falso é absorvido pelo crime de sonegação fiscal quando constitui
meio/caminho necessário para a sua consumação. Constitui mero exaurimento do
delito de sonegação fiscal a apresentação de recibo ideologicamente falso à autoridade
fazendária, no bojo de ação fiscal, como forma de comprovar a dedução de despesas
para a redução da base de cálculo do imposto de renda de pessoa física. STJ. 5ª Turma.
HC 131787-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2012.
9.7. CONSUMAÇÃO
Ocorre com o uso do documento, independentemente de o agente ter conseguido obter a vantagem
pretendida. É crime formal.
44
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Uso de documento falso em sonegação fiscal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/55c567fd4395ecef6d936cf77b8d5b2b>. Acesso em: 11/06/2022
45
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 27
OBSERVAÇÕES
■ Não é possível a tentativa, levando em consideração que ou o agente utiliza o documento falso, e
consuma o delito, ou não o utiliza (fato atípico).
■ A falsificação grosseira, aquela incapaz de causar qualquer enganação, enseja crime impossível.
■ Se o agente, ao usar o documento falso, mantém ou induz alguém em erro para obter vantagem
ilícita, responde pelo crime de estelionato e não pelo delito de uso de documento falso, conforme a doutrina
majoritária.
■ O agente que utiliza documento falso para a prática de estelionato (Art. 171, CP) só responderá por
este, uma vez que o uso do documento falso é considerado crime-meio.
ATENÇÃO
O fato do agente atribuir falsa identidade, perante autoridade policial, alegando o direito de não
autoincriminação, não elide a configuração do crime ora estudado, isto é, o agente praticará o crime de falsa
identidade, ainda que esteja diante de alegada situação de autodefesa.
O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança
aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de
ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente
(art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites
subjetivos das partes. STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
22/09/2011.
46
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
47
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 29
10.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Cuida-se de crime formal, que se consuma no instante em que o agente se atribui ou atribui a terceiro a
falsa identidade, independentemente de conseguir a vantagem visada.48
A tentativa é possível, exceto na forma verbal.
10.8. SUBSIDIARIEDADE
O legislador, ao estabelecer a pena do crime em estudo, expressamente previu sua subsidiariedade,
restando este sempre absorvido quando o fato constituir crime mais grave.
NÃO CONFUNDA49
Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente afirma que Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente, João Lima,
seu nome é Pedro Silva, quando, na verdade, ele é afirma que seu nome é Pedro Silva e apresenta o RG
João Lima. falsificado com este nome.
11. USO OU CESSÃO PARA USO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO CIVIL DE TERCEIRO - ART. 308, CP
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista
ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se
utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.
11.2. CONDUTA
A lei incrimina duas condutas distintas:
● Usar como próprio documento alheio. O documento deve ser verdadeiro, pois, se for falso,
caracteriza crime mais grave, qual seja, o do art. 304 do Código Penal.
48
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
49
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsa identidade (art. 307 do CP) é crime mesmo em situação de autodefesa. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/536a76f94cf7535158f66cfbd4b113b6>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 30
● Ceder a outrem, para que dele se utilize, documento próprio ou de terceiro. Nessa
modalidade a lei pune apenas o sujeito que cede, entrega a alguém um documento verdadeiro,
próprio ou de terceiro, para que dele se utilize.50
11.5. CONSUMAÇÃO
Na modalidade “uso como próprio de documento alheio”, a consumação ocorre com o uso,
independentemente de qualquer outro resultado, não sendo possível a tentativa. Por sua vez, na modalidade
“ceder a outrem, para que dele se utilize, documento próprio ou de terceiro”, o crime se consuma com a
tradição do documento, sendo possível a tentativa quando o agente não consegue efetivá-la.51
12.2. CONDUTA
Pune o agente que adulterar ou remarcar o número de chassi ou qualquer outro sinal identificador do
veículo (placas, numeração do motor, do câmbio, numeração de chassi gravada nos vidros do automóvel etc.).
A remarcação do chassi ocorre quando o agente, utilizando-se de material abrasivo (raspagem, ácido),
consegue apagar a numeração originária (ou parte dela) e, em seu lugar, colocar outro número com a utilização
de ferramentas apropriadas.
A adulteração pode dar-se com qualquer espécie de montagem do chassi de um veículo em outro.53
50
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
51
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
52
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
53
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 31
OBSERVAÇÕES
■ Quando não foi o sujeito quem adulterou o chassi, não configura o crime em análise o ato de dirigir o
veículo com a numeração do chassi remarcada.
■ O STJ entende que a troca ou adulteração das placas do veículo configura o delito estudado. Veja:
No mesmo sentido:
■ Para os Tribunais Superiores, é típica a conduta de alterar o número da placa do veículo com o uso de
fita isolante, ou seja, mesmo que a alteração não seja permanente.
OBSERVAÇÃO
Se o crime for praticado por funcionário público, no exercício de suas funções ou em razão dela, a pena
será aumentada de um terço (§ 1º).
12.5. CONSUMAÇÃO
O crime se consuma com a efetiva remarcação ou adulteração.
Essas condutas do funcionário público dificultam sobremodo a descoberta e a apuração dos delitos,
pois visam “esquentar” a documentação, que normalmente é de origem ilícita, de modo a fazer com que o
veículo seja considerado em situação regular. Trata-se de crime próprio, que somente pode ser praticado por
funcionário público.54
54
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 33
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.
13.2. CONDUTA
Pune-se quem diretamente divulga o conteúdo sigiloso da prova a algum candidato ou a terceiro e
também quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas a referido
conteúdo.
OBSERVAÇÃO
Não estão abrangidas pelo tipo as avaliações ordinárias de desempenho dos alunos (discentes) e
demais provas periódicas em instituições de ensino, ainda que públicas.55
OBSERVAÇÕES
■ O candidato que obtém a informação maliciosamente também responde pelo crime, por exemplo,
aquele que compra a prova ou que recebe as informações por ser amigo ou parente de alguém que trabalha
em alguma das fases de sua elaboração.56
■ Embora o crime seja comum, caso praticado por funcionário público, a pena será aumentada de um
terço (Art. 311-A, §3º).
55
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
56
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
57
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
58
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 34
13.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.
Se ficar demonstrado que o funcionário público agiu em razão de vantagem indevida, responde por
crime de corrupção passiva (em concurso material com o crime em estudo). Quem fez a oferta da vantagem
incorre no crime de corrupção ativa.
Antes do advento da Lei n. 12.550/2011, que criou o tipo penal em análise, o funcionário público que
divulgasse o conteúdo de concurso ou exame público incorreria no crime de violação de sigilo funcional (art.
325 do CP), que, por ser subsidiário, atualmente fica absorvido60.
59
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
60
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 35