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DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

1a EDIÇÃO/2022
1. INTRODUÇÃO 5

1.1. DOLO 5

1.2. ESPÉCIES DE FALSIDADE 5

2. MOEDA FALSA - ART. 289, CP 6

2.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 6

2.2. CONDUTA 6

2.3. SUJEITO ATIVO 8

2.4. SUJEITO PASSIVO 8

2.5. CONSUMAÇÃO 8

2.6. AÇÃO PENAL 8

2.1. FORMA EQUIPARADA - ART. 289, §1º 9

2.2. FIGURA PRIVILEGIADA - ART. 289, §2º 9

2.3. FIGURA QUALIFICADAS - ART. 289, §3º E 4º 10

3. CRIMES ASSIMILADOS AO DE MOEDA FALSA - ART. 290, CP 10

3.1. ASPECTOS INICIAIS 10

3.2. SUJEITO ATIVO 11

3.3. SUJEITO PASSIVO 11

3.4. CONDUTA 11

4. PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA - ART. 291, CP 11

4.1.OBJETO MATERIAL 11

4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 11

4.3. CONDUTA 12

4.4. SUJEITO ATIVO 12

4.5. SUJEITO PASSIVO 12

4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 12

4.7. AÇÃO PENAL 12

5. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO - ART. 297, CP 13

5.1. ASPECTOS INICIAIS 13

5.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 13

5.3. CONDUTA 13

5.4. ELEMENTO SUBJETIVO 14

5.5. SUJEITO ATIVO 14

5.6. SUJEITO PASSIVO 14

5.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 14

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 1


5.8. AÇÃO PENAL 15

5.9. DOCUMENTOS PÚBLICOS POR EQUIPARAÇÃO 15

5.10. FORMAS EQUIPARADAS - ART.. 297, §3 e 4º 15

6. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR - ART. 298, CP 16

6.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 17

6.2. CONDUTA 17

6.3. SUJEITO ATIVO 18

6.4. SUJEITO PASSIVO 18

6.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 18

6.6. AÇÃO PENAL 18

6.7. FALSIFICAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO - ART. 298, PARÁGRAFO ÚNICO 18

7. FALSIDADE IDEOLÓGICA - ART. 299, CP 19

7.1. ASPECTOS INICIAIS 19

7.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 19

7.3. CONDUTA 19

7.4. SUJEITO ATIVO 21

7.5. SUJEITO PASSIVO 21

7.6. ELEMENTO SUBJETIVO 21

7.7. CONSUMAÇÃO 21

7.8. AÇÃO PENAL 23

7.9. FALSIDADE EM ASSENTO DE REGISTRO CIVIL - ART. 299, PARÁGRAFO ÚNICO 23

8. FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO - ART. 302, CP 23

8.1. ASPECTOS INICIAIS 23

8.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 24

8.3. CONDUTA 24

8.4. SUJEITO ATIVO 24

8.5. SUJEITO PASSIVO 24

8.6. ELEMENTO SUBJETIVO 25

8.8. AÇÃO PENAL 25

9. USO DE DOCUMENTO FALSO - ART. 304, CP 25

9.1. ASPECTOS INICIAIS 25

9.2. OBJETO MATERIAL 25

9.3. OBJETIVIDADE JURÍDICA 25

9.4. CONDUTA 25

9.5. SUJEITO ATIVO 27

9.6. SUJEITO PASSIVO 27

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 2


9.7. CONSUMAÇÃO 27

9.8. AÇÃO PENAL 28

9.9. SÚMULAS RELACIONADAS 28

10. FALSA IDENTIDADE - ART. 307, CP 28

10.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 28

10.2. CONDUTA 29

10.3. SUJEITO ATIVO 29

10.4. SUJEITO PASSIVO 29

10.5. ELEMENTO SUBJETIVO 29

10.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 30

10.7. AÇÃO PENAL 30

10.8. SUBSIDIARIEDADE 30

11. USO OU CESSÃO PARA USO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO CIVIL DE TERCEIRO - ART. 308, CP 30

11.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 30

11.2. CONDUTA 30

11.3. SUJEITO ATIVO 31

11.4. SUJEITO PASSIVO 31

11.5. CONSUMAÇÃO 31

11.6. AÇÃO PENAL 31

12. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR - ART. 311, CP 31

12.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 31

12.2. CONDUTA 31

12.3. SUJEITO ATIVO 33

12.4. SUJEITO PASSIVO 33

12.5. CONSUMAÇÃO 33

12.6. AÇÃO PENAL 33

12.7. FIGURA EQUIPARADA - ART. 311, §2º 33

13. FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO - ART. 311-A, CP 33

13.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 34

13.2. CONDUTA 34

13.3. SUJEITO ATIVO 34

13.4. SUJEITO PASSIVO 34

13.5. ELEMENTO SUBJETIVO 34

13.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 34

13.7. AÇÃO PENAL 35

13.8. FIGURA QUALIFICADA - ART. 311-A, §2º 35

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 3


13.8. CAUSA DE AUMENTO DE PENA - ART. 311-A, §3º 35

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 4


1. INTRODUÇÃO

Inicialmente, a fé pública consiste na crença ou convicção geral na autenticidade e valor dos


documentos, símbolos, sinais e atos prescritos para as relações coletivas.

Os delitos previstos neste título são chamados de crimes de falso, sendo requisitos de tais crimes1:
✓ Imitação da verdade: seja alterando o verdadeiro, hipótese em que é chamado de immutatio veri
(ex.: modificar o teor de um documento já existente); ou imitando a verdade, hipótese em que é chamado de
imitatio veritatis (ex.: criar um documento falso imitando um verdadeiro) através dos seguintes meios:
contrafação, alteração, supressão, simulação e uso da coisa falsificada.
✓ Dano potencial: O prejuízo inerente à falsidade não precisa ser efetivo nem necessariamente
patrimonial.

OBSERVAÇÃO
Para configuração do dano potencial é necessário que o documento falsificado seja capaz de ludibriar
um número indeterminado de pessoas. A falsificação grosseira, reconhecível ictu oculi, não caracteriza,
portanto, o crime de falso.

1.1. DOLO
Todos os crimes contra a fé pública são dolosos. Não existe modalidade culposa nos delitos deste
Título.

1.2. ESPÉCIES DE FALSIDADE


Ultrapassados os requisitos dos crimes de falso, devemos aprender as espécies de falsidade: material,
ideológica ou pessoal.
A falsidade material (ou externa): é aquela que incide materialmente sobre a coisa, refere-se aos
elementos exteriores, a forma.
A falsidade ideológica: temos um documento verdadeiro, mas com conteúdo falso.
A falsidade pessoal: relaciona-se à qualificação da pessoa física, à identidade civil.

OBSERVAÇÃO
As Cortes Superiores entendem, em regra, pela não aplicação do princípio da insignificância aos crimes
contra a fé pública, tendo em vista o bem jurídico tutelado.

A jurisprudência do STF e do STJ é no sentido da inaplicabilidade do princípio da


insignificância na hipótese de crimes praticados contra a fé pública (ex: uso de
atestado médico falso; introdução de moedas falsas), em função do bem jurídico
tutelado pela norma, que, no caso, a fé pública representa caráter supraindividual.
STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014 STF. 1ª

1
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 5
Turma. HC 187269, Rel. Min Roberto Barroso, decisão monocrática em 18/06/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg-AREsp 1.963.955, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
08/02/2022 STJ. 5ª Turma. AgRg-RHC 155.201, Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em
12/12/2021
Excepcionalmente, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé
pública (uso de atestado falso) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a
mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da
ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade
material da conduta e afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes as
sanções previstas na Lei trabalhista. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 16/11/20212

2. MOEDA FALSA - ART. 289, CP

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou


papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:

Pena - reclusão, de 3 a 12 anos, e multa.

2.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública no que tange à emissão de moeda.

A norma criminalizadora da falsificação de moeda tutela a fé pública. Bem jurídico


revelador da especial proteção à confiabilidade do “sistema monetário” nacional. Pelo
que o valor impresso na moeda falsa não é o critério de análise da relevância, ou da
irrelevância da conduta em face das normas penais. (STF, HC 97220, Relator(a): AYRES
BRITTO, Segunda Turma, julgado em 05/04/2011, DJe-164 DIVULG 25-08-2011 PUBLIC
26-08-2011 EMENT VOL-02574-01 PP-00151)

2.2. CONDUTA
A conduta típica consiste em falsificar, que pode dar-se pela fabricação (criação da moeda falsa) ou
alteração (modificação de seu valor para maior). Pode recair sobre a moeda nacional ou qualquer moeda
estrangeira, quer se trate de moeda metálica ou de papel-moeda.3
Falsificar significa conferir aparência enganadora, podendo se perfazer de duas maneiras: fabricando a
moeda (manufaturando) ou alterando (modificando a existente).4

2
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, não se admite o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, salvo quando há circunstâncias
excepcionais verificadas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/45988a729df28f554d96a5b9932b17e1>. Acesso em: 11/06/2022
3
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
4
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 6
ATENÇÃO
■ Se o agente inserir em papel-moeda verdadeiro números e letras retirados de outra cédula,
igualmente verdadeira, para aumentar seu valor, configura-se o crime de moeda falsa (CP, art. 289, caput), por
meio da alteração.
■ Se a falsificação for grosseira, não estará configurado o crime, podendo constituir estelionato,
eventualmente, a depender do quão grosseira é a falsificação, é possível constituir crime impossível por
absoluta ineficácia do meio5. Eis o que dispõe a Súmula nº 73 do STJ:

Súmula 73-STJ: A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em


tese, o crime de estelionato, da competência da justiça estadual.

Para a configuração do crime de moeda falsa, previsto no art. 289, caput e § 1º, do CP,
é necessário que se evidencie a chamada imitatio veri, ou seja, é preciso que a
falsidade seja apta a enganar terceiros da a semelhança da cédula falsa com a
verdadeira. Se ficar constatada pela perícia que a falsificação das cédulas contrafeitas
poderia iludir o homem comum, como de fato ocorreu, verifica-se em princípio a
configuração do referido crime, cuja competência é da Justiça Federal (CC 117.751/PR,
j em 28/03/2012)6.

■ A falsificação de papel-moeda que já deixou de circular não se amolda no tipo, podendo caracterizar
estelionato. Ex.: falsificar cédula rara para enganar colecionador7.
■ O delito de Moeda Falsa é crime de competência da justiça federal. Não se admite a aplicação do
princípio da insignificância ao crime em análise, com o fundamento de que o crime de bagatela é incompatível
com delitos que tutelam a fé pública. Vejamos o entendimento dos Tribunais Superiores:

“Ambas as Turmas do Supremo Tribunal Federal já consolidaram o entendimento de


que é ‘inaplicável o princípio da insignificância aos crimes de moeda falsa, em que
objeto de tutela da norma a fé pública e a credibilidade do sistema financeiro, não
sendo determinante para a tipicidade o valor posto em circulação’ (HC 105.638, Rel.
Min. Rosa Weber). Precedentes” (STF — HC 108.193 — Rel. Min. Roberto Barroso — 1ª
Turma — julgado em 19-8-2014 — DJe-186 divulg. 24-9-2014, public. 25-9-2014).

“Conforme reiterada jurisprudência desta Corte Superior, o princípio da insignificância


é inaplicável ao delito de moeda falsa uma vez que o bem jurídico tutelado é a fé
pública, sendo, independentemente do valor falsificado ou da quantidade de moeda
expedida, malferida a credibilidade da moeda e a segurança da sua tramitação. Não

5
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 73-STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9a96a2c73c0d477ff2a6da3bf538f4f4>. Acesso em: 11/06/2022
7
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 7
há, portanto, falar em mínima ofensividade da conduta” (STJ — AgRg no REsp
1.459.167/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª Turma, julgado em 16-2-2016, DJe 4-3-2016).

■ É possível aplicar o benefício do arrependimento posterior ao réu acusado do crime de moeda falsa?
8
NÃO.

Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa.


No crime de moeda falsa a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico
tutelado é a fé pública. Logo, não se trata de um crime patrimonial. Tanto isso é
verdade que a consumação desse delito ocorre com a falsificação ou com a
introdução da moeda falsa em circulação, sendo irrelevante que tenha ocorrido dano
patrimonial imposto a terceiros. Os crimes contra a fé pública, assim como os demais
crimes não patrimoniais, são incompatíveis com o instituto do arrependimento
posterior, dada a impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a
restituição da coisa subtraída. STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, Rel. originário Min.
Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
18/11/2014 (Info 554).

■ Comprovação da materialidade e extravio das cédulas.

1. O STJ já decidiu pela possibilidade de demonstração da materialidade delitiva, do


crime de moeda falsa, mediante a realização de laudo pericial técnico na hipótese de
extravio das cédulas, conforme ocorrido no caso dos autos. Incidência da Súmula n.
83 do STJ. (STJ, AgRg no REsp n. 1.883.091/PR, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, julgado em 26/4/2022, DJe de 3/5/2022.)

2.3. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

2.4. SUJEITO PASSIVO


A coletividade e o Estado.

2.5. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime formal; o crime se consuma no momento da fabricação ou alteração da moeda,
desde que seja idônea a iludir.9 É possível a tentativa.

2.6. AÇÃO PENAL


É pública incondicionada, de competência da Justiça Federal.

8
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inaplicabilidade do arrependimento posterior ao crime de moeda falsaa. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b197ffdef2ddc3308584dce7afa3661b>. Acesso em: 11/06/2022
9
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 8
2.1. FORMA EQUIPARADA - ART. 289, §1º

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa.

Trata-se de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Enquanto no caput pune o autor da
falsificação, no § 1º pune-se outras pessoas que sabem da falsidade e realizam uma das condutas típicas
posteriores, isto é, pune-se, de um modo geral, a circulação da moeda falsa.

ATENÇÃO
■ Na modalidade “vende” a doutrina entende que trata-se de crime na sua modalidade material. E no
núcleo “guardar” o crime é permanente e os demais instantâneos.
■ É fundamental que o agente saiba que a moeda adquirida é falsa, sem este conhecimento deixa de
existir o DOLO, elemento subjetivo deste tipo.
■ Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP.

Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, §
1º, do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida”, incidirão as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II
do art. 61 do CP. Isso porque o sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado,
mas também a pessoa lesada com a introdução da moeda falsa. STJ. 6ª Turma. HC
211052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546)10.

2.2. FIGURA PRIVILEGIADA - ART. 289, §2º

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada,


a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de
6 meses a 2 anos, e multa.

10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f69e505b08403ad2298b9f262659929a>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 9
O parágrafo 2º se refere ao sujeito que coloca em circulação a moeda que, apesar de ter recebido de
boa-fé, sabe ser falsa; trata-se de uma modalidade privilegiada para a doutrina.
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo.

2.3. FIGURA QUALIFICADAS - ART. 289, §3º E 4º

§ 3º - É punido com reclusão, de 3 a 15 anos, e multa, o funcionário público ou


diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão:

I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;

II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação
não estava ainda autorizada.

Os §§ 3º e 4º constituem crimes formais e próprios, pois punem o funcionário público, o gerente, o


diretor ou o fiscal de banco que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão de moeda com peso inferior
ou em quantidade superior à autorizada, ou, ainda, que desvia ou faz circular moeda verdadeira cuja circulação
não estava autorizada naquele momento. São figuras qualificadas porque possuem pena consideravelmente
maior (reclusão, de três a quinze anos, e multa).11

3. CRIMES ASSIMILADOS AO DE MOEDA FALSA - ART. 290, CP

Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos
de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete
recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização;
restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos
para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos e multa, se o crime
é cometido por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava
recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo.

3.1. ASPECTOS INICIAIS


A doutrina entende que, quando o agente realizar mais de uma conduta no tocante ao mesmo objeto
material (cédula, nota ou bilhete), o art. 290 é um tipo misto alternativo (ex: formar uma cédula com fragmentos
de cédulas verdadeiras e, em seguida, a colocar em circulação).

11
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 10
Contudo, quando o agente praticar duas ou mais condutas em relação a objetos diversos, haverá
concurso de crimes (nesse caso, o art. 290 funciona como um tipo misto cumulativo). Exemplo: formar uma
cédula com fragmentos de cédulas verdadeiras, e também suprimir sinal indicativo de inutilização de outra
cédula já recolhida, para o fim de restituí-la à circulação.
Trata-se de crime formal e de perigo concreto.

3.2. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa.

3.3. SUJEITO PASSIVO


O Estado.

3.4. CONDUTA
A conduta típica consiste em formar, suprimir ou restituir.

ATENÇÃO
■ Esse último delito (terceira conduta - restituir em circulação) somente pode ser praticado pelo sujeito
que não participou da falsificação do papel-moeda ou da retirada de sinal indicativo da sua inutilização (se
participou, será responsabilizado unicamente pelo comportamento inicial).
■ O parágrafo único trata-se de crime próprio, é uma figura qualificada.

4. PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA - ART. 291, CP

Art. 291. Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou


guardar maquinismo, aparelho ou instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda:
Pena — reclusão, de dois a seis anos, e multa.

4.1.OBJETO MATERIAL
Maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer outro objeto especialmente destinado à falsificação de
moeda. Nesse caso, o legislador se utilizou da interpretação analógica (ou intra legem), com o propósito de
alcançar as mais diversas situações surgidas na vida prática.

ATENÇÃO
O termo “especialmente” diz respeito à finalidade precípua do objeto, consistente na falsificação de
moeda. Assim, o bem pode até ser utilizado com outros fins, mas deve ser prioritariamente empregado na
fabricação de moedas.

4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública que envolve a emissão da moeda.

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 11


4.3. CONDUTA
Cuida-se de tipo misto alternativo em que são punidas as condutas de fabricar (produzir), adquirir
(obter a propriedade), fornecer (ceder), possuir (ter a posse) ou guardar (dar abrigo) qualquer maquinismo,
instrumento ou objeto destinado à falsificação de moeda.

OBSERVAÇÕES
■ Pouco importa se o agente estava atuando a título oneroso ou gratuito.12
■ A prova de que os petrechos podem ser destinados à falsificação depende de perícia (subsistindo o
crime mesmo que se conclua ser o objeto capaz de realizar, em parte, a contrafação.13

4.4. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

4.5. SUJEITO PASSIVO


O Estado.

4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


O crime se consuma com a prática de um dos comportamentos previstos na lei, sendo que, nas
modalidades possuir ou guardar, o crime é permanente.
A Tentativa é impossível.

OBSERVAÇÕES
■ Na modalidade fabricar, adquirir e fornecer o delito é instantâneo; na modalidade possuir e guardar o
delito é permanente.
■ O crime em análise é subsidiário (crime obstáculo), pois fica absorvido quando o agente, fazendo uso
do maquinismo, efetivamente falsifica a moeda, hipótese em que responde pelo delito do art. 289, que tem
pena maior.14

4.7. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou


guarda de maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto
especialmente destinado à falsificação de moeda. A expressão
“especialmente destinado” não diz respeito a uma característica
intrínseca ou inerente do objeto. Se assim fosse, só o maquinário
exclusivamente voltado para a fabricação ou falsificação de moedas
consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade de sua

12
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
13
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
14
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 12
consumação (crime impossível), pois nem mesmo o maquinário e
insumos utilizados pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente
para a fabricação de moeda. A dicção legal está relacionada ao uso que o
agente pretende dar ao objeto, ou seja, a consumação depende da
análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente
detém a posse de impressora, ainda que manufaturada visando ao uso
doméstico, mas com o propósito de a utilizar precipuamente para
contrafação de moeda, incorre no referido crime. STJ. 6ª Turma. REsp
1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info
633).

5. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO - ART. 297, CP

Art. 297 - FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento público, ou ALTERAR


documento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

5.1. ASPECTOS INICIAIS


Documento, para fins penais, é conceituado como o escrito elaborado por pessoa determinada,
representativo de uma declaração de vontade ou da existência de fato, direito ou obrigação, dotado de
relevância jurídica e com eficácia probatória. Documento público, por sua vez, é aquele criado por funcionário
público, nacional ou estrangeiro, no desempenho de suas atividades, em conformidade com as formalidades
previstas em lei.
Lembre-se que o art. 297 do CP se preocupa com a forma do documento público, pois a falsificação
recai sobre seu corpo, sua exterioridade.

5.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública nos documentos públicos, seu objeto material é o documento público falsificado.
Inclusive, além de funcionar como objeto material, o documento público também atua como elemento
normativo do tipo, pois a compreensão do seu significado reclama um juízo de valor de índole jurídica.

5.3. CONDUTA
Pune-se quem falsificar (contrafazer) documento público, ou alterar (modificar) documento público
verdadeiro.15

OBSERVAÇÕES
■ A falsificação pode ser total, quando o documento é totalmente criado, ou parcial, adicionando-se
novos elementos no documento verdadeiro.

15
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 13
■ Na conduta de alterar, o agente modifica documento público existente (e verdadeiro), substituindo ou
alterando dizeres inerentes à própria essência do documento.16
■ A falsidade material é infração que deixa vestígios, de modo que é indispensável o exame de corpo de
delito para a prova da materialidade.
■ Não se aplica o princípio da insignificância para crimes contra a fé pública, como é o caso do delito
de falsificação de documento público. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/03/2014.

5.4. ELEMENTO SUBJETIVO


É o dolo de falsificar ou alterar o documento público, não se exigindo qualquer finalidade especial.

5.5. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa, trata-se de crime comum.

OBSERVAÇÃO
Se o delito for cometido por funcionário público, que, para tanto, se prevaleça das suas funções, a pena
sofrerá um acréscimo de um sexto (art. 297, § 1º).

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do


cargo, aumenta-se a pena de 1/6.

5.6. SUJEITO PASSIVO


É o Estado, eventualmente poderá ser alguém que tenha sido prejudicado pela falsidade.

5.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


Ocorre com a falsificação ou alteração, independentemente do uso ou de qualquer outra consequência
posterior. A falsificação é crime de perigo, que se aperfeiçoa independentemente do uso.17
A Tentativa é possível, pois os atos executórios podem ser fracionados. Ex. Agente produz espelhos
falsos em uma gráfica clandestina a fim de preenchê-los fraudulentamente, mas é flagrado antes de os dizeres
serem preenchidos ou da inserção da assinatura falsa18.

ATENÇÃO
■ Não é viável a punição de pessoa que tem em seu poder carimbos falsos, com o comprovado intuito
de, futuramente, falsificar documentos, se ainda não deu efetivo início à sua confecção19; diferente do que
ocorre no delito de petrechos para falsificação de moeda.
■ O fato será considerado atípico quando a falsificação for grosseira, ou seja, quando for perceptível
ictu oculi (a olho nu) por toda e qualquer pessoa que manuseie o documento.

16
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
17
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
18
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
19
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 14
5.8. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.

5.9. DOCUMENTOS PÚBLICOS POR EQUIPARAÇÃO

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de


entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as
ações de sociedade comercial, os LIVROS MERCANTIS e o TESTAMENTO
PARTICULAR.

5.10. FORMAS EQUIPARADAS - ART.. 297, §3 e 4º

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:


I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a
qualidade de segurado obrigatório;
II – na CTPS do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as
obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato
de trabalho ou de prestação de serviços.

A Lei n. 9.983/2000 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art. 297, punindo com as mesmas penas da falsidade
material de documento público a falsificação de determinados documentos que têm reflexos na Previdência
Social. Na realidade, entretanto, as condutas típicas descritas constituem quase sempre hipóteses de falsidade
ideológica.20
Quanto à competência, o crime do art. 297 é geralmente julgado pela Justiça Estadual. Todavia, será
competente a Justiça Federal quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (ex: falsificar passaporte).
Lembre-se, por exemplo, que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mesmo que válida em todo o
território nacional, é emitida pela autoridade estadual de trânsito (DETRAN), sendo sua falsificação de
competência da Justiça Estadual. A questão da competência tem ainda alguns importantes entendimentos
jurisprudenciais, a seguir apresentados:

Súmula 62-STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa


anotação na carteira de Trabalho e Previdência Social atribuído a empresa privada”.

20
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 15
Esse crime será visto no §3º do art. 297.
Súmula 104-STJ: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.
Súmula Vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar
de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação
de Arrais-Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
Nesse caso, a atividade é fiscalizada pela Marinha (órgão da União), por isso a
competência da Justiça Federal.

ATENÇÃO

■ Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso.


A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)
não configura, por si só, o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º,
do CP). Isso porque é imprescindível que a conduta do agente preencha não apenas a
tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade material, ou seja, deve ser
demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública. STJ.
5ª Turma. REsp 1252635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014
(Info 539).

■ Art. 297, § 4º do CP: crime instantâneo ou permanente?21 O delito do art. 297, § 4.º, do Código Penal é
omissivo próprio e configura-se como crime instantâneo de efeitos permanentes, pois o momento
consumativo é o da contratação do empregado sem que sejam efetuadas as devidas anotações na CTPS no
prazo legal.

■ Art. 297, § 4º do CP: É possível aplicar a esse delito o princípio da insignificância?21 SIM. O STJ já
absolveu um réu com base no princípio da insignificância em situação na qual a falta de registro na CTPS
referia-se a um prazo de apenas 2 (dois) meses de vínculo: STJ. 6ª Turma. HC 107572/SP, Rel. Min. Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 14/04/2009.

6. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR - ART. 298, CP

Art. 298 - FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento particular ou ALTERAR


documento particular verdadeiro:

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.

21
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b265ce60fe4c5384e622b09eb829b8df>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 16
6.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Trata-se de crime formal; tutela-se a fé pública nos documentos particulares.

6.2. CONDUTA
Aplica-se a mesma explicação do crime anterior (falsificação de documento público). A diferença em
relação ao tipo do art. 297 reside na natureza do documento que é particular, além da pena menor cominada
em abstrato.

OBSERVAÇÕES
■ O conceito de documento particular para fins penais é obtido por exclusão. O que não é público será
particular, inclusive o documento público nulo.
■ O documento particular registrado em cartório não tem sua natureza alterada. Da mesma forma, a
cópia autenticada de documento particular continua sendo documento particular.
■ Advogado que substitui folha da petição inicial.22

Se determinado advogado altera clandestinamente a petição inicial que havia


protocolizado, substituindo uma folha por outra, tal conduta NÃO configura os crimes
dos arts. 298 e 356 do CP, considerando que a petição inicial não pode ser
considerada documento para fins penais. STJ. 6ª Turma. HC 222613-TO, Rel. Min.
Vasco Della Giustina (Des. convocado do TJ-RS), julgado em 24/4/2012.

■ Falsidade de contrato social para ocultar o verdadeiro sócio23.

O contrato social de uma sociedade empresária é documento particular. Assim, caso


seja falsificado, haverá o crime de falsificação de documento particular (e não de
documento público). Não se pode condenar o réu pelo crime de uso de documento
falso quando ele próprio foi quem fez a falsificação do documento. A pessoa deverá
ser condenada apenas pela falsidade, e o uso do documento falso configura mero
exaurimento do crime de falso. STF. 1ª Turma. AP 530/MS, rel. orig. Min. Rosa Weber,
red.p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/9/2014 (Info 758).

■ No caso de a falsificação ser grosseira, se há algum lesado pela conduta do agente, pode restar
caracterizado o delito de estelionato.
■ A falsificação de documento particular para fins eleitorais configura o crime específico definido no art.
349 do Código Eleitoral.
■ O art. 1º, incs. III e IV, da Lei 8.137/1990 disciplina crime específico (princípio da especialidade),
atinente à falsificação de documento particular voltado à sonegação fiscal.

22
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Advogado que substitui folha da petição inicial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c930eecd01935feef55942cc445f708f>. Acesso em: 11/06/2022
23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade de contrato social para ocultar o verdadeiro sócio. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17e395d3049b03e0f1ccebb02b4d>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 17
■ A falsificação de documento particular é crime comum; formal; não transeunte; de forma livre; em
regra comissivo; instantâneo; unissubjetivo e normalmente plurissubsistente.

6.3. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

6.4. SUJEITO PASSIVO


O Estado, eventualmente alguém prejudicado pelo documento falso.

6.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


Trata-se de crime instantâneo, unissubjetivo. Consuma-se com a falsificação ou alteração,
independentemente do uso ou de qualquer outra consequência posterior.24
A tentativa é possível.

6.6. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de


falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

6.7. FALSIFICAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO - ART. 298, PARÁGRAFO ÚNICO

Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento


particular o CARTÃO DE CRÉDITO ou DÉBITO.

A Lei n. 12.737/2012 equiparou a documento particular os cartões de crédito e de débito.

OBSERVAÇÕES
■ Ao contrário do que ocorre com a falsificação de cheque para a prática de estelionato — que fica por
este absorvido de acordo com a Súmula n. 17 do Superior Tribunal de Justiça (ver item 2.6.1.10) —, tal absorção
não se dá no caso do uso de cartão falsificado. A diferença é que a falsificação do cheque se exaure no
estelionato porque a cártula é entregue ao vendedor enganado, ao passo que o cartão falsificado (clonado)
permanece em poder do criminoso após a prática do estelionato, subsistindo a potencialidade lesiva.25
■ A inserção do parágrafo único não significa novatio legis in pejus, pois a doutrina já incluía cartão de
crédito/débito dentro das possibilidades do art. 298 (REsp STJ 1.578.479, Sexta turma).

24
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
25
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 18
7. FALSIDADE IDEOLÓGICA - ART. 299, CP

Art. 299 - OMITIR, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou NELE INSERIR ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de 1 a


3 anos, e multa, se o documento é particular.

7.1. ASPECTOS INICIAIS


Enquanto a falsidade material envolve a forma do documento (sua parte exterior), a ideológica
(também chamada de intelectual, ideal ou moral) diz respeito ao seu conteúdo (juízo inverídico).26
Exige-se o especial fim de agir consistente em prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante.
Tratando das condutas, no primeiro caso o núcleo do tipo é “omitir”, ou seja, deixar de inserir ou não
fornecer a declaração que devia constar em documento. Trata-se, aqui, de crime omissivo próprio ou puro, pois
a lei descreve uma conduta negativa, um deixar de fazer. Consequentemente, é incabível a tentativa nesse caso.
A segunda conduta do caput prevê um crime comissivo (cabe tentativa), e, nesse caso, a
falsidade ideológica divide-se em imediata (ou direta) e mediata (ou indireta).
Conceituando, a primeira é aquela em que o sujeito, por conta própria, insere no documento público
ou particular a declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. Por sua vez, a falsidade mediata ou indireta
é aquela em que o agente se vale de um terceiro para fazer inserir no documento público ou particular a
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita.

7.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA


A fé pública.

7.3. CONDUTA
O documento é formalmente verdadeiro, mas seu conteúdo é divergente da realidade. Os verbos
núcleos do tipo são omitir, inserir e fazer inserir.
Omitir significa um não fazer. O crime é omissivo próprio ou puro. A lei já descreve um deixar de fazer.
Exemplo: deixar de mencionar um gravame em contrato de compra e venda de imóvel. Inserir é a conduta do
próprio agente que introduz, coloca, uma ideia ou informação falsa no documento. Por sua vez, fazer inserir
consiste em criar as condições para que terceiros introduzam as informações falsas.
Portanto, comete o crime quem: Omitir declaração que devia constar do documento; Omitir declaração
que devia constar do Documento; e Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia constar.

OBSERVAÇÕES

26
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 19
■ A jurisprudência do STJ é no sentido de que a declaração falsa de insuficiência de recursos feita em
processo judicial para fins de obtenção do benefício da gratuidade da justiça (art. 98 CPC) não tipifica o crime
ora estudado, pois a declaração passível de averiguação posterior não constitui documento para fins penais.
■ Na hipótese do papel assinado em branco, cujo conteúdo é preenchido por terceiro contra a vontade
de quem o assinou, o crime poderá ser tanto de falsidade ideológica como de falsificação de documento. Será
falsidade ideológica se o documento chegou às mãos do terceiro de forma legítima. Por sua vez, será crime de
falsificação de documento se o papel foi obtido de forma ilícita.
■ A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura crime eleitoral de falsidade
ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). STF. 2ª Turma.PET 7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/3/2018 (Info 895).
■ Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência
inequívoca de que a declaração era falsa.

Prefeito que assina documentos previdenciários com conteúdo parcialmente falso não
deve ser condenado por falsidade ideológica se não foram produzidas provas de que
ele tinha ciência inequívoca do conteúdo inverídico da declaração. Neste caso, ele
deverá ser absolvido, nos termos do art. 386, III, do CPP, por ausência de dolo, o que
exclui o crime. STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/6/2017 (Info 868)27.

■ Candidato que deixa de contabilizar despesas em sua prestação de contas no TRE.

Determinado Parlamentar Federal, quando foi candidato ao Senado, ao entregar a


prestação de contas ao TRE, deixou de contabilizar despesas com banners e cartazes
no valor de R$ 15 mil. O STF considerou que havia indícios suficientes para receber a
denúncia contra ele formulada e iniciar um processo penal para apurar a prática do
crime de falsidade ideológica (art. 299 do CP). STF. 1ª Turma. Inq 3767/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 28/10/2014 (Info 765)28.

■ Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299)29.

É atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada com o intuito de


obter os benefícios da justiça gratuita. A conduta de firmar ou usar declaração de
pobreza falsa em juízo, com a finalidade de obter os benefícios da gratuidade de
justiça, não é crime, pois aludida manifestação não pode ser considerada documento
para fins penais, já que é passível de comprovação posterior, seja por provocação da

27
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência inequívoca de que a
declaração era falsa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/351869bde8b9d6ad1e3090bd173f600d>. Acesso em: 11/06/2022
28
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Candidato que deixa de contabilizar despesas em sua prestação de contas no TRE. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2dffbc474aa176b6dc957938c15d0c8b>. Acesso em:
11/06/2022
29
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299). Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e94f63f579e05cb49c05c2d050ead9c0>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 20
parte contrária seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. STJ. 6ª Turma.
HC 261074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE),
julgado em 5/8/2014 (Info 546).

Declaração passível de averiguação ulterior não constitui documento para fins penais.
HC deferido para trancar a ação penal. (HC 85976, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Turma, julgado em 13/12/2005).

7.4. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

OBSERVAÇÃO
Caso o delito seja praticado por funcionário público prevalecendo-se do cargo, a pena será aumentada
de um sexto (art. 299, parágrafo único).

7.5. SUJEITO PASSIVO


O Estado e eventualmente alguém que seja prejudicado em virtude deste documento falso.

7.6. ELEMENTO SUBJETIVO


Para que exista falsidade ideológica, é necessário que o agente queira prejudicar direito, criar obrigação
ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Ausentes tais finalidades, o fato será atípico.30

7.7. CONSUMAÇÃO
Quando o documento fica pronto com a efetiva omissão ou inserção de declaração, de forma a tornar
falso o seu conteúdo, mesmo que o agente não atinja a sua finalidade de prejudicar direito, criar obrigação.
Tratando-se de crime formal, dispensa-se a ocorrência de dano efetivo, sendo suficiente que o documento
ideologicamente falso tenha potencialidade lesiva.31

OBSERVAÇÃO
■ A falsidade ideológica é crime que não pode ser comprovado pericialmente, pois o documento é
verdadeiro em seu aspecto formal, sendo falso apenas o seu conteúdo. O juiz é quem deve avaliar no caso
concreto se o conteúdo é verdadeiro ou falso.32

“Ademais, firme a jurisprudência do STJ no sentido de que ‘Afigura-se desnecessária a


prova pericial para demonstração da falsidade ideológica, tendo em vista recair o falso
sobre o conteúdo das ideias, que pode ser demonstrado através de outros meios de
prova’ (Resp 685.164/RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª Turma, DJ 28-11-2005)” (STJ —
AgRg no Ag 1.427.121/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 20-8-2013, DJe
5-9-2013).

30
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
31
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
32
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 21
■ O crime em estudo é formal, instantâneo e de perigo concreto. Contudo, ao contrário dos crimes
anteriores, a falsidade ideológica é crime transeunte (não deixa vestígios), sendo desnecessária a perícia sobre
o documento, que é verdadeiro. Na verdade, a comprovação do crime somente pode ser efetuada pela
verificação dos fatos a que se refere o teor do documento.

Considerando que se trata de crime formal, o STJ decidiu que, em caso de inserção
de informações falsas em contrato social (sócio laranja) o crime é consumado no
momento do registro da alteração fraudulenta, não havendo que se falar em
reiteração delitiva caso haja omissão em corrigir a informação falsa quando se teve a
oportunidade para tanto. STJ. 3a Seção. RvCr 5.233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 13/05/2020 (Info 672).

A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se protrair


no tempo. A despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, a falsidade ideológica
se consuma no momento em que é praticada a conduta. Diante desse contexto, o
termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o
momento da consumação do delito (e não o da eventual reiteração de seus efeitos).
Caso concreto: em 2010, foi incluído um sócio “laranja” no contrato social da
empresa. Ele não iria ser sócio realmente, sendo isso uma falsidade ideológica. Logo,
considera-se que aí foi praticado o crime. Não se pode afirmar que esse crime (essa
conduta) teria sido reiterado quando, por ocasião da alteração contratual ocorrida
em 2019, deixou-se de regularizar o nome do sócio verdadeiramente titular da
empresa, mantendo-se o nome do “laranja”. Isso porque não há como se entender
que constitui novo crime a omissão em corrigir informação falsa por ele inserida em
documento público, quando teve oportunidade para tanto. Logo, o termo inicial da
contagem da prescrição foi 2010. STJ. 3ª Seção. RvCr 5233-DF, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 13/05/2020 (Info 672).

A empresa ostensiva, ou seja, a importadora aparente, que não indica o verdadeiro


importador das mercadorias pratica o delito tipificado no art. 299 do Código Penal
(falsidade ideológica). STJ. 3ª Seção. CC 161929/ES, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 23/10/2019.

Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a
realidade. Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque:
1) currículo Lattes não é considerado documento por ser eletrônico e não ter
assinatura digital;
2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de
falsidade ideológica. Quando o documento é passível de averiguação, o STJ entende

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 22


que não há crime de falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele inserido
informações falsas.
STJ. 6ª Turma. RHC 81451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
22/8/2017 (Info 610)33.

Responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso com o
de falsidade ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de
tributo devido pela entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade
sobre o preço desta. STJ. 5ª Turma. RHC 31321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 16/5/2013 (Info 523)34.

7.8. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

7.9. FALSIDADE EM ASSENTO DE REGISTRO CIVIL - ART. 299, PARÁGRAFO ÚNICO

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime


prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento
de registro civil, aumenta-se a pena de 1/6.

Nos termos do art. 299, parágrafo único, a pena da falsidade ideológica será aumentada de um sexto
se a falsificação ou alteração recair em assentamento de registro civil (nascimento, casamento, óbito,
emancipação, interdição etc.), ou seja, se o agente inserir ou fizer inserir declaração falsa no próprio livro ou
arquivo onde os atos são registrados no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais.35

8. FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO - ART. 302, CP

Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:


Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também
multa.

8.1. ASPECTOS INICIAIS


Se o atestado falso for utilizado como meio de execução de outro crime e o médico conhecer esta
circunstância, será ele responsabilizado na condição de partícipe somente pelo crime mais grave.

33
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fd4d801731725513a4d77aa9bb35534b>. Acesso em:
11/06/2022
34
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade ideológica é absorvida pelo descaminho. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/991de292e76f74f3c285b3f6d57958d5>. Acesso em: 11/06/2022
35
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 23
Se o médico for funcionário público e fornecer atestado falso para alguém que seja habilitado a obter
cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem relacionada ao
serviço público, a ele será imputado o crime do art. 301, caput, do CP.
Se o médico for funcionário público e solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem, para emitir o atestado falso, estará configurado o crime de corrupção
passiva (CP, art. 317).
Se o médico dá atestado falso com a finalidade de abonar faltas injustificadas ao serviço em
organização militar, configura-se o crime militar previsto no art. 9º, inc. III, a, do Código Penal Militar.

8.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública nos atestados médicos.

8.3. CONDUTA
Consiste em o médico dar, no exercício regular da profissão, atestado falso, ou seja, escrever
informações que não condizem, total ou parcialmente, com a realidade, entregando, em seguida, o documento
ideologicamente falso ao interessado.36

OBSERVAÇÃO
O crime só se caracteriza quando o conteúdo do atestado guarda relação com as funções médicas:
existência de certa doença, necessidade de repouso para convalescência, atendimento de pessoa em consulta
médica, atestado de óbito, etc.37

8.4. SUJEITO ATIVO


Trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por médico.

OBSERVAÇÕES
■ Quem usa o atestado médico falso incorre no crime do art. 304 (uso de documento falso) com a pena
do art. 302.
■ Se o particular, autor de atestado próprio falso, é dentista, veterinário ou qualquer outro profissional
que não seja da área médica, não estará configurado o crime em tela, mas sim o de falsidade ideológica, do art.
299.38

8.5. SUJEITO PASSIVO


É o Estado e, secundariamente, algum indivíduo que venha a sofrer com o uso do atestado falso.

36
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
37
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
38
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 24
8.6. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar uma das condutas típicas elencadas no tipo.
Porém, não se exige especial finalidade por parte do agente.39

OBSERVAÇÃO
Caso o médico tenha a finalidade de auferir lucro com a conduta criminosa, será aplicável também a
pena de multa, como determina o art. 302, parágrafo único.

8.7. Consumação
Ocorre no momento em que o médico fornece o atestado falso, independentemente de ulteriores
consequências. Trata-se de crime formal.

8.8. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

9. USO DE DOCUMENTO FALSO - ART. 304, CP

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem os arts. 297 a 302:

Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

9.1. ASPECTOS INICIAIS


Este artigo se refere aos crimes dos arts. 297 a 302, o qual incidirá a pena correspondente trazida num
destes artigos. Trata-se assim, de crime formal, não sendo necessária a efetiva demonstração de prejuízo,
consumando-se com a mera utilização ou apresentação do documento.

9.2. OBJETO MATERIAL


É qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts. 297 a 302 do CP.

9.3. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública.

9.4. CONDUTA
O uso de documento falso é um crime remetido, uma vez que a conduta punida é a de fazer o uso de
qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts. 297 a 302, como se fossem verdadeiros.
40
Também podemos classificar o crime em comento como crime acessório, pois sua existência pressupõe a
ocorrência de um crime anterior.

39
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
40
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 25
Fazer uso consiste em apresentar efetivamente o documento a alguém, tornando-o acessível à pessoa
que se pretende iludir. Caracteriza-se o crime pela apresentação do documento a qualquer pessoa, e não
apenas a funcionário público.

OBSERVAÇÃO
■ Em se tratando de cópia de documento, só haverá crime se o uso for de cópia autenticada. A cópia
não autenticada não tem valor probatório e, por isso, não se enquadra no conceito de documento.41

“A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a cópia de documento sem


autenticação não possui potencialidade para causar dano à fé pública, não podendo
ser objeto material do crime de uso de documento falso. Precedentes” (STJ — HC
58.298/SP — Rel. Min. Gilson Dipp — 5ª Turma — julgado em 24-4-2007, DJ 4-6-2007,
p. 384);
“A utilização de fotocópia não autenticada afasta a tipicidade do crime de uso de
documento falso, por não possuir potencialidade lesiva apta a causar dano à fé
pública. 2. Precedentes deste Superior Tribunal de Justiça” (STJ — HC 127.820/AL —
Rel. Min. Haroldo Rodrigues — 6ª Turma — julgado em 25-5-2010, DJe 28-6-2010).

■ Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso (art. 304)42.

É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados
da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da
materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento
oportuno, a realização do referido exame. O crime de uso de documento falso se
consuma com a simples utilização de documento comprovadamente falso, dada a sua
natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida
Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).

■ Uso de documento falso perante a Polícia Rodoviária Federal: Justiça Federal43.

Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na apresentação de


Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia Rodoviária
Federal. STJ. 3ª Seção. CC 124498-ES, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira
(Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 12/12/2012.

41
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
42
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso (art. 304). Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/80a8155eb153025ea1d513d0b2c4b675>. Acesso em:
11/06/2022
43
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Uso de documento falso perante a Polícia Rodoviária Federal: Justiça Federal. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6492d38d732122c58b44e3fdc3e9e9f3>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 26
■ Uso de documento falso em sonegação fiscal44.

O uso de documento falso é absorvido pelo crime de sonegação fiscal quando constitui
meio/caminho necessário para a sua consumação. Constitui mero exaurimento do
delito de sonegação fiscal a apresentação de recibo ideologicamente falso à autoridade
fazendária, no bojo de ação fiscal, como forma de comprovar a dedução de despesas
para a redução da base de cálculo do imposto de renda de pessoa física. STJ. 5ª Turma.
HC 131787-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2012.

9.5. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa, exceto o autor da falsificação, visto que o entendimento sedimentado é o de que o
falsário que posteriormente usa o documento responde apenas pela falsificação, sendo o uso um post factum
impunível.45

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO E USO DE


DOCUMENTO FALSO. DELITO DE USO POST FACTUM NÃO PUNÍVEL. ABSORÇÃO.
PERMANÊNCIA DA AÇÃO PENAL SOMENTE COM RELAÇÃO AO DELITO DO ART. 298 DO
CÓDIGO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A teor da jurisprudência
desta Corte, o uso de documento falsificado (CP, art. 304) deve ser absorvido pela
falsificação do documento público ou privado (CP, arts. 297 e 298), quando
praticado pelo mesmo agente, caracterizando o delito de uso post factum não
punível, ou seja, mero exaurimento do crime de falso, não respondendo o falsário
pelos dois crimes, em concurso material. 2. Se da simples leitura da denúncia, é
possível verificar que os agentes são acusados de terem falsificado um Termo de
Confissão de Dívidas e, após, utilizado o mesmo documento para cobrar a “falsa
dívida” do devedor, é possível, de plano, verificar que não há que se falar em prática
de dois crimes (falsificação de documento particular e de uso de documento falso),
devendo continuar a persecução penal somente no que se refere ao crime do art. 298
do CP. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no RHC 112.730/SP, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/03/2020, DJe 10/03/2020).

9.6. SUJEITO PASSIVO


O Estado e, possivelmente, aquele que tenha sido enganado com o uso do documento falso.

9.7. CONSUMAÇÃO
Ocorre com o uso do documento, independentemente de o agente ter conseguido obter a vantagem
pretendida. É crime formal.

44
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Uso de documento falso em sonegação fiscal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/55c567fd4395ecef6d936cf77b8d5b2b>. Acesso em: 11/06/2022
45
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 27
OBSERVAÇÕES
■ Não é possível a tentativa, levando em consideração que ou o agente utiliza o documento falso, e
consuma o delito, ou não o utiliza (fato atípico).
■ A falsificação grosseira, aquela incapaz de causar qualquer enganação, enseja crime impossível.
■ Se o agente, ao usar o documento falso, mantém ou induz alguém em erro para obter vantagem
ilícita, responde pelo crime de estelionato e não pelo delito de uso de documento falso, conforme a doutrina
majoritária.
■ O agente que utiliza documento falso para a prática de estelionato (Art. 171, CP) só responderá por
este, uma vez que o uso do documento falso é considerado crime-meio.

SÚMULA 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade


lesiva, e por este absorvido.

9.8. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

9.9. SÚMULAS RELACIONADAS

SÚMULA 104-STJ: Compete a justiça estadual o processo e julgamento dos crimes de


falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
SÚMULA 200-STJ: O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de
crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
SÚMULA 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de
documento falso é firmada em razão da entidade ou do órgão ao qual foi apresentado
o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.
SÚMULA 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, e por este absorvido.

10. FALSA IDENTIDADE - ART. 307, CP

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter


vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:

Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de


crime mais grave.

10.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Protege a fé pública na palavra das pessoas quanto à própria identificação ou de terceiros.

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 28


10.2. CONDUTA
Nesse crime, não há uso de documento falso ou verdadeiro. O agente simplesmente atribui-se ou
atribui a terceiro uma falsa identidade, mentindo a idade, dando nome inverídico, etc.46

ATENÇÃO
O fato do agente atribuir falsa identidade, perante autoridade policial, alegando o direito de não
autoincriminação, não elide a configuração do crime ora estudado, isto é, o agente praticará o crime de falsa
identidade, ainda que esteja diante de alegada situação de autodefesa.

SÚMULA 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial


é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança
aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de
ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente
(art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites
subjetivos das partes. STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
22/09/2011.

É típica a conduta do acusado que, no momento da prisão em flagrante, atribui para si


falsa identidade (art. 307 do CP), ainda que em alegada situação de autodefesa. Isso
porque a referida conduta não constitui extensão da garantia à ampla defesa, visto
tratar-se de conduta típica, por ofensa à fé pública e aos interesses de disciplina
social, prejudicial, inclusive, a eventual terceiro cujo nome seja utilizado no falso. STJ.
3ª Seção. REsp 1.362.524-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/10/2013
(recurso repetitivo).

10.3. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

10.4. SUJEITO PASSIVO


O Estado e, eventualmente, alguém que seja prejudicado pelo fato.

10.5. ELEMENTO SUBJETIVO


É o dolo, consistente na vontade consciente de atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade. Aqui, é
imprescindível que o agente pratique a ação visando obter vantagem (de qualquer natureza), em proveito
próprio ou alheio, ou causar dano a outrem.47

46
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
47
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 29
10.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Cuida-se de crime formal, que se consuma no instante em que o agente se atribui ou atribui a terceiro a
falsa identidade, independentemente de conseguir a vantagem visada.48
A tentativa é possível, exceto na forma verbal.

10.7. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada

10.8. SUBSIDIARIEDADE
O legislador, ao estabelecer a pena do crime em estudo, expressamente previu sua subsidiariedade,
restando este sempre absorvido quando o fato constituir crime mais grave.

NÃO CONFUNDA49

ART. 304 - USO DE DOCUMENTO FALSO


ART. 307 - FALSA IDENTIDADE

Consiste na simples atribuição de falsa identidade, Aqui, há obrigatoriamente o uso de documento


sem a utilização de documento falso. falso.

Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente afirma que Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente, João Lima,
seu nome é Pedro Silva, quando, na verdade, ele é afirma que seu nome é Pedro Silva e apresenta o RG
João Lima. falsificado com este nome.

11. USO OU CESSÃO PARA USO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO CIVIL DE TERCEIRO - ART. 308, CP

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista
ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se
utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.

11.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública, no que diz respeito à identidade das pessoas.

11.2. CONDUTA
A lei incrimina duas condutas distintas:
● Usar como próprio documento alheio. O documento deve ser verdadeiro, pois, se for falso,
caracteriza crime mais grave, qual seja, o do art. 304 do Código Penal.

48
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
49
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsa identidade (art. 307 do CP) é crime mesmo em situação de autodefesa. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/536a76f94cf7535158f66cfbd4b113b6>. Acesso em: 11/06/2022
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 30
● Ceder a outrem, para que dele se utilize, documento próprio ou de terceiro. Nessa
modalidade a lei pune apenas o sujeito que cede, entrega a alguém um documento verdadeiro,
próprio ou de terceiro, para que dele se utilize.50

11.3. SUJEITO ATIVO


Pode ser qualquer pessoa (crime comum).

11.4. SUJEITO PASSIVO


O Estado e a pessoa a quem o documento é apresentado.

11.5. CONSUMAÇÃO
Na modalidade “uso como próprio de documento alheio”, a consumação ocorre com o uso,
independentemente de qualquer outro resultado, não sendo possível a tentativa. Por sua vez, na modalidade
“ceder a outrem, para que dele se utilize, documento próprio ou de terceiro”, o crime se consuma com a
tradição do documento, sendo possível a tentativa quando o agente não consegue efetivá-la.51

11.6. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

12. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR - ART. 311, CP

Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador


de veículo automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela,
a pena é aumentada de um terço.

12.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Protege-se a fé pública no sentido de serem preservados os sinais que identificam os veículos
automotores e o seu registro nos órgãos oficiais.52

12.2. CONDUTA
Pune o agente que adulterar ou remarcar o número de chassi ou qualquer outro sinal identificador do
veículo (placas, numeração do motor, do câmbio, numeração de chassi gravada nos vidros do automóvel etc.).
A remarcação do chassi ocorre quando o agente, utilizando-se de material abrasivo (raspagem, ácido),
consegue apagar a numeração originária (ou parte dela) e, em seu lugar, colocar outro número com a utilização
de ferramentas apropriadas.
A adulteração pode dar-se com qualquer espécie de montagem do chassi de um veículo em outro.53

50
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
51
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
52
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
53
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 31
OBSERVAÇÕES
■ Quando não foi o sujeito quem adulterou o chassi, não configura o crime em análise o ato de dirigir o
veículo com a numeração do chassi remarcada.
■ O STJ entende que a troca ou adulteração das placas do veículo configura o delito estudado. Veja:

“Este Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que ‘o agente que


substitui as placas originais de veículo automotor por placas de outro veículo
enquadra-se na conduta prevista no art. 311 do Código Penal, tendo em vista a
adulteração dos sinais identificadores’ (REsp 799.565/SP, Relatora Ministra Laurita Vaz,
5ª Turma, julgado em 28/02/2008, DJe 07/04/2008)” (STJ REsp 1.722.894/RJ,Rel. Min.
Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 17-5-2018, DJe 25-5-2018);

No mesmo sentido:

“É pacífica a jurisprudência em ambas as turmas que ‘a conduta consistente na troca


de placas de veículo automotor configura o crime previsto no art. 311, caput, do
Código Penal, tendo em vista a adulteração dos sinais identificadores’ (HC 306.507/SP,
Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 22-9-2015, DJe
30-9-2015)” (AgRg no AREsp 1.352.798/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado
em 27-11-2018, DJe 3-12- 2018);

■ Para os Tribunais Superiores, é típica a conduta de alterar o número da placa do veículo com o uso de
fita isolante, ou seja, mesmo que a alteração não seja permanente.

“Adulteração de placa traseira do veículo com aposição de fita isolante preta. 3. As


placas de um automóvel são sinais identificadores externos do veículo, obrigatórios
conforme dispõe o Código de Trânsito Brasileiro. A jurisprudência do STF considera
típica a adulteração de placa numerada dianteira ou traseira do veículo. 4.
Reconhecimento da tipicidade da conduta atribuída ao recorrente. Recurso a que se
nega provimento” (STF — RHC 116.371 — Rel. Min. Gilmar Mendes — 2ª Turma —
julgado em 13-8-2013, processo eletrônico DJe-230 divulg. 21-11-2013, public.
22-11-2013);

“O Superior Tribunal de Justiça bem como o Supremo Tribunal Federal já assentaram


ser típica a conduta de modificar a placa de veículo automotor por meio de utilização
de fita isolante. De fato, a jurisprudência é pacífica no sentido de que, a conduta de
adulterar ou remarcar placas dianteiras ou traseiras de veículos automotores, por
qualquer meio, se subsume perfeitamente ao tipo previsto no art. 311 do Código
Penal” (STJ — HC 336.517/SP — Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca — 5ª Turma —
julgado em 4-2-2016 — DJe 15-2-2016)

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 32


12.3. SUJEITO ATIVO
Pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).

OBSERVAÇÃO
Se o crime for praticado por funcionário público, no exercício de suas funções ou em razão dela, a pena
será aumentada de um terço (§ 1º).

12.4. SUJEITO PASSIVO


O Estado e eventuais pessoas prejudicadas.

12.5. CONSUMAÇÃO
O crime se consuma com a efetiva remarcação ou adulteração.

12.6. AÇÃO PENAL


Ação penal pública incondicionada.

12.7. FIGURA EQUIPARADA - ART. 311, §2º

§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o


licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
indevidamente material ou informação oficial.

Essas condutas do funcionário público dificultam sobremodo a descoberta e a apuração dos delitos,
pois visam “esquentar” a documentação, que normalmente é de origem ilícita, de modo a fazer com que o
veículo seja considerado em situação regular. Trata-se de crime próprio, que somente pode ser praticado por
funcionário público.54

13. FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO - ART. 311-A, CP

Art. 311-A.  Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a


outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou    
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:    
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.    
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o
acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.    

54
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 33
§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:    
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.  
§ 3o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público. 

13.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tutela-se a fé pública na credibilidade e lisura dos certames de interesse público.

13.2. CONDUTA
Pune-se quem diretamente divulga o conteúdo sigiloso da prova a algum candidato ou a terceiro e
também quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas a referido
conteúdo.

OBSERVAÇÃO
Não estão abrangidas pelo tipo as avaliações ordinárias de desempenho dos alunos (discentes) e
demais provas periódicas em instituições de ensino, ainda que públicas.55

13.3. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa (crime comum).

OBSERVAÇÕES
■ O candidato que obtém a informação maliciosamente também responde pelo crime, por exemplo,
aquele que compra a prova ou que recebe as informações por ser amigo ou parente de alguém que trabalha
em alguma das fases de sua elaboração.56
■ Embora o crime seja comum, caso praticado por funcionário público, a pena será aumentada de um
terço (Art. 311-A, §3º).

13.4. SUJEITO PASSIVO


É o Estado e, secundariamente, eventuais lesados.57

13.5. ELEMENTO SUBJETIVO


É o dolo. Outrossim, o tipo penal exige um especial fim de agir, qual seja a intenção de beneficiar a si
próprio ou outrem, ou, ainda, comprometer a credibilidade do certame.

13.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


Consuma-se com a simples prática dos núcleos, dispensando a obtenção de vantagem particular
buscada pelo agente ou mesmo eventual dano à credibilidade do certame.58 Trata-se de crime formal.
A tentativa é possível.

55
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
56
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
57
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
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CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - 34
13.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.

13.8. FIGURA QUALIFICADA - ART. 311-A, §2º

§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:    


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.  

O prejuízo a que o dispositivo se refere é o econômico, decorrente, por exemplo, da anulação do


concurso ou exame público, que traz como consequência a necessidade de realização de novas provas, com
todos os custos a elas inerentes.59

13.8. CAUSA DE AUMENTO DE PENA - ART. 311-A, §3º

§ 3o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público. 

Se ficar demonstrado que o funcionário público agiu em razão de vantagem indevida, responde por
crime de corrupção passiva (em concurso material com o crime em estudo). Quem fez a oferta da vantagem
incorre no crime de corrupção ativa.
Antes do advento da Lei n. 12.550/2011, que criou o tipo penal em análise, o funcionário público que
divulgasse o conteúdo de concurso ou exame público incorreria no crime de violação de sigilo funcional (art.
325 do CP), que, por ser subsidiário, atualmente fica absorvido60.

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GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
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GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
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