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Turma: PCSP – Pré-Edital
Material: Direito Processual Penal – Ponto 1

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Direito Processual Penal MERGEF
ORMAT
(Ponto 01)
Princípios. Sistemas Processuais. Aplicação da Lei
Processual Penal. Inquérito Policial.
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MENSAGEM DO MEGE

ATENÇÃO

Vamos começar nossa matéria com dois dos assuntos mais importantes para a
carreira de delegado de polícia, que são sistemas processuais e inquérito. Frisamos
nesse primeiro momento também alguns temas que necessitam de atenção, como por
exemplo lei processual no tempo e no espaço, e indiciamento. Você precisa ler várias
vezes a lei seca do processo penal até a prova, com a resolução das questões jurídicas
relacionadas a cada um dos temas do edital para Delegado de São Paulo que se avizinha.

Bons estudos!

Equipe Mege.

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SUMÁRIO

1. DOUTRINA (RESUMO) ................................................................................................ 5


1.1. PRINCÍPIOS ............................................................................................................... 5
1.2. SISTEMAS PROCESSUAIS......................................................................................... 14
1.3. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL.................................................................. 16
1.4. INQUÉRITO POLICIAL .............................................................................................. 19
2. JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................... 37
3. QUESTÕES................................................................................................................. 38
4. GABARITO COMENTADO .......................................................................................... 45

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. PRINCÍPIOS
1.1.1. CONCEITO E FUNÇÕES

Os princípios são mandamentos nucleares de um sistema. São postulados que


se irradiam por todo o sistema de normas.

Os princípios têm duas funções principais: normativa e interpretativa. Com


efeito, os princípios são normas jurídicas, possuindo força coercitiva, podendo ser
invocados para a solução de casos concretos. Além disso, na hipótese de dúvida na
interpretação de certa norma, esta pode ser esclarecida por meio do conteúdo do
princípio.

1.1.2. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS

A. Princípio da busca da verdade real

Também chamado de princípio da verdade material ou da verdade substancial,


significa que, no processo penal, devem ser realizadas as diligências necessárias e
adotadas todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os fatos realmente
se passaram, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação
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àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. 5
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Não obstante, é necessário ter em vista que a procura da verdade real não pode
implicar violação de direitos e garantias estabelecidos na legislação. Assim, temos como ORMAT
exemplos de exceções à verdade real:

- A inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (art.


5º, LVI, da CF);

- Descabimento da revisão criminal contra a sentença


absolutória transitada em julgado, mesmo diante do surgimento
de novas provas contra o réu;

- Vedação ao testemunho das pessoas que tiverem


conhecimento do fato em razão de sua profissão, função, ofício
ou ministério, salvo se, desobrigadas, quiserem depor (art. 207
do CPP).

B. Princípio ne procedat judex ex officio

Também chamado de princípio da ação ou princípio da demanda ou princípio


da iniciativa das partes, concretiza a regra da inércia da jurisdição e produz
consequências práticas importantes em relação ao desencadeamento da ação penal, ao
desenvolvimento válido do processo e à fase recursal.
O princípio em exame justifica a Súmula 160 do STF quando esta proíbe os
tribunais de reconhecerem, contra o réu, nulidades não arguidas no recurso da
acusação.

C. Princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF)

Art. 5º. Caput.

(...)

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o


devido processo legal;

O exame deste princípio, originário da cláusula do due process of law do Direito


anglo-americano, permite nele identificar alguns elementos essenciais à sua
configuração como expressiva garantia da ordem constitucional, destacando-se, dentre
eles, por sua inquestionável importância, as seguintes prerrogativas:

- O direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário);

- O direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da


acusação;

- O direito a um julgamento público e célere, sem dilações PAGE \*


indevidas; 6
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- O direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à ORMAT
autodefesa e à defesa técnica);

- O direito de não ser processado e julgado com base em leis ex


post facto;

- O direito à igualdade entre as partes;

- O direito de não ser processado com fundamento em provas


revestidas de ilicitude;

- O direito ao benefício da gratuidade;

- O direito à observância do princípio do juiz natural;

- O direito ao silêncio (privilégio contra a autoincriminação);

- O direito à prova; e

- O direito de presença e de participação ativa nos atos de


interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos,
quando existentes.
D. Princípio da vedação das provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF)

Art. 5º. Caput.


(...)
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;

Provas ilícitas são aquelas obtidas por meios que afrontam direta ou
indiretamente garantias constitucionais e legais.

OBSERVAÇÃO: A doutrina processual penal faz uma distinção conceitual entre a


prova ilícita e a prova ilegítima, sendo aquela a obtida com violação ao direito
substantivo (material), e esta a obtida com violação ao direito adjetivo
(processual).

A vedação constitucional da prova ilícita não é absoluta no processo penal, já


que é possível ser afastada em favor do acusado, quando tiver por fim a prova da
inocência com fundamento no princípio da proporcionalidade.

E. Princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF)


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Art. 5º. Caput. 7
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(...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em ORMAT
julgado de sentença penal condenatória;

Também chamado de princípio do estado de inocência ou da situação jurídica


de inocência ou da não culpabilidade, este princípio deve ser considerado em três
momentos distintos: na instrução processual, como presunção legal relativa de não
culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; na avaliação da prova, impondo-se a
valoração das provas em favor do acusado quando houver dúvidas sobre a existência de
responsabilidade pelo fato imputado; e, no curso do processo penal, como parâmetro
de tratamento ao acusado, em especial no que concerne à análise quanto à necessidade
ou não de sua segregação provisória.

Sobre o princípio da presunção de inocência, não podemos deixar de tecer


breves considerações sobre a posição do STF acerca da execução provisória da pena,
tema que, ao longo do tempo, sofreu constantes mutações pela corte máxima.

Até 2009, o STF entendia ser possível a execução provisória da pena desde a
prolação da sentença condenatória em primeiro grau. Depois, em 05/02/09 (HC 84.078),
o STF passou a entender que a execução provisória da pena era inconstitucional,
devendo ser aguardado o trânsito em julgado em razão do princípio da presunção de
inocência. Esse entendimento prevaleceu até 2016, quando no HC 126.292 o STF decidiu
que era possível a execução provisória da pena, desde que proferido acórdão
condenatória em 2º grau (em sede de recurso ou em ações penais originárias).
Revisando seu entendimento sobre o tema, o STF decidiu na ADC 43/DF, ADC
44/DF e ADC 54/DF, em 07/11/19, por maioria (6x5), que a execução provisória da pena
ofende o princípio da presunção de inocência.

Este é o entendimento atual e que deve ser utilizado para a sua prova.

No que se refere ao tribunal do júri, a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) trouxe


uma importante e polêmica previsão: no caso de condenação igual ou superior a 15
(quinze) anos de reclusão, o juiz determinará, na sentença, a execução provisória das
penas, com expedição do mandado de prisão.

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:


I – no caso de condenação:
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão
em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão
preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou
superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução
provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se
for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que
vierem a ser interpostos;
§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do
Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos
de reclusão não terá efeito suspensivo. PAGE \*
§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito 8
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suspensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando
verificado cumulativamente que o recurso: ORMAT
I - não tem propósito meramente protelatório; e
II - levanta questão substancial e que pode resultar em
absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução
da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito
incidentemente na apelação ou por meio de petição em
separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias
da sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da
tempestividade, das contrarrazões e das demais peças
necessárias à compreensão da controvérsia.” (NR)

Além do mais, o art. 492, § 4º, afirma que a referida apelação não terá efeito
suspensivo, salvo nos casos excepcionados pelo § 5.

Em outras palavras, se o réu for condenado no Tribunal do Júri a uma pena igual
ou superior a 15 anos de reclusão, ele terá que iniciar o cumprimento da pena privativa
de liberdade, mesmo que ele tenha interposto apelação contra essa sentença, ou seja,
mesmo antes do trânsito em julgado da condenação.

Vale lembrar que o STF, até então, tinha entendimento divergente sobre o
tema entre as suas turmas. De um lado, a 1ª Turma do STF entendia que “a prisão de
réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o
princípio constitucional da presunção de inocência ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª
Turma. HC 118.770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 07/03/2017).
Essa decisão, no entanto, foi publicada antes do julgamento das ADC 43/DF, ADC 44/DF
e ADC 54/DF, em 7/11/2019, por meio das quais o STF, por 6x5, decidiu que é
inconstitucional a execução provisória da pena. A 2ª Turma do STF, por sua vez, entendia
que não era possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações
pelo Tribunal do Júri.

OBSERVAÇÃO: Em razão das divergências jurisprudenciais, entendemos que a


novidade não deve ser cobrada em prova de 1a fase, sob risco de anulação. De toda
forma, como não rejeitamos a hipótese de cobrança, ainda assim, caso ocorra, o
aluno deverá se atentar ao enunciado da questão: se o questionamento for sobre
o posicionamento do STF, deve se seguir a posição mais recente dessa Corte, qual
seja, pela impossibilidade de execução provisória independentemente do
julgamento de apelação; se for conforme o regramento previsto no Código de
Processo Penal, a resposta correta será pela possibilidade do cumprimento
antecipado da pena no âmbito do Tribunal do Júri (Art.492 do CPP).

Com o advento do pacote anticrime, devemos esperar a posição das cortes


superiores. O tema será apreciado no Recurso Extraordinário 1235340, cujo relator é o
ministro Luís Roberto Barroso.
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Quanto à possibilidade de execução provisória das Penas Restritivas de 9
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Direitos, existia uma divergência jurisprudencial. O STJ e a 2ª Turma do STF entendiam
pela impossibilidade, pois a LEP possui regra específica que não foi analisada pela corte ORMAT
suprema, a qual apenas autorizou a execução provisória da pena privativa de liberdade.
Noutro giro, a 1ª Turma do STF entendia pela possibilidade, pelas mesmas razões as
quais é possível a execução provisória da pena privativa de liberdade. Ocorre que, com
o julgamento das ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, em 7/11/2019, em que o STF,
por 6x5, decidiu que é inconstitucional a execução provisória da pena, esse mesmo
entendimento também deve ser aplicado para as penas restritivas de direitos.

F. Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais

A exigência de motivação das decisões judiciais, inscrita no art. 93, IX, da CF e


no art. 381 do CPP, é atributo constitucional-processual que possibilita às partes a
impugnação das decisões tomadas no âmbito do Poder Judiciário, conferindo, ainda, à
sociedade a garantia de que essas deliberações não resultam de posturas arbitrárias,
mas, sim, de um julgamento imparcial, realizado de acordo com a lei.

No tribunal do júri há mitigação da obrigatoriedade de motivação, pois o


Conselho de Sentença, formado por juízes leigos, não pode motivar nem fundamentar
o seu entendimento, até porque vigoram o princípio da incomunicabilidade dos jurados
e o princípio da íntima convicção.

Na esteira desse tema, a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) trouxe a


imperiosidade de que decisões que decretem a prisão preventiva ou outras medidas
cautelares diversas da prisão deverão ser justificadas e fundamentadas. É o que diz, por
exemplo, o art. 282, § 3º:

“Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da


medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar
no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do
requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos
em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser
justificados e fundamentados em decisão que contenha
elementos do caso concreto que justifiquem essa medida
excepcional.”

Essa linha é reforçada pelo legislador no art. 312, § 2º, do CPP, quando diz:

“A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada


e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de
fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
medida adotada.”

Para não deixar dúvidas para o intérprete, o legislador chegou ao ponto de


dizer, inclusive, o que não representa uma motivação idônea. Confira:
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Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
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preventiva será sempre motivada e fundamentada.
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de ORMAT
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a
existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
aplicação da medida adotada.
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o
motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
G. Princípio da publicidade

O princípio da publicidade, previsto expressamente no art. 93, IX, primeira


parte, da CF, e no art. 792, caput, do CPP, representa o dever que assiste ao Estado de
atribuir transparência a seus atos, reforçando, com isso, as garantias da independência,
imparcialidade e responsabilidade do juiz. Além disso, consagra-se como uma garantia
para o acusado, que, em público, estará menos suscetível a eventuais pressões,
violências ou arbitrariedades.

H. Princípio da imparcialidade do juiz

Significa que o magistrado, situando-se no vértice da relação processual


triangulada entre ele, a acusação e a defesa, deve possuir capacidade objetiva e
subjetiva para solucionar a demanda, vale dizer, julgar de forma absolutamente
equidistante das partes, vinculando-se apenas às regras legais e ao resultado da análise
das provas do processo.

Para evitar a contaminação da parcialidade do juiz que atua na fase da


investigação, a Lei nº 13.964 (Lei Anticrime) trouxe a figura do juiz das garantias, que,
em suma, é o juiz que atua da fase das investigações até o recebimento da
denúncia/queixa, quando então dá lugar ao juiz da instrução e julgamento. A ideia é que
este último magistrado não se contamine com o conhecimento e a tomada de medidas
durante a fase investigativa. Esse assunto será explorado com minúcias no material
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sobre os sujeitos processuais. 11
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No entanto, vale lembrar que o STF, por meio de medida cautelar proferida
monocraticamente pelo Min. Luiz Fux, no bojo da ADI 6.300 6.305 6.299 6.298, decidiu ORMAT
suspender, até o julgamento do mérito da ação penal, todos os dispositivos da novel
legislação que versam sobre o juiz das garantias. O fundamento principal é que o STF
precisa discutir a constitucionalidade desses dispositivos antes que se implemente a sua
efetivação.

I. Princípio da igualdade processual (art. 5º, caput, CF)

Também chamado de princípio da paridade de armas (par conditio), significa


que as partes, em juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de
forma igualitária.

Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição


Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional
ao fim visado.

J. Princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF)

Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos


e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas
necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional.
OBSERVAÇÃO: Este princípio é mitigado em determinados casos, como ocorre no
chamado contraditório diferido ou postergado, que consiste em relegar a
momento posterior a ciência e a impugnação do investigado ou do acusado quanto
a determinados pronunciamentos judiciais. Em tais casos, a urgência da medida ou
a sua natureza exige um provimento imediato e inaudita altera parte, sob pena de
prejuízo ao processo ou, no mínimo, de ineficácia da determinação judicial.

Um contraditório com qualidade prevê a observância do seguinte trinômio:

- a intimação da parte sobre o ato processual praticado;

- a possibilidade de manifestação a seu respeito;

- e que tenha a possibilidade de influência na decisão do juiz.

Destaca-se, por fim, que a Constituição Federal garante o contraditório aos


litigantes e aos acusados em processo judicial ou administrativo; todavia, o inquérito
policial, como será visto adiante, não é verdadeiro processo, mas procedimento
administrativo, de forma que não há que se falar na garantia do contraditório perante a
fase policial de investigações. Além do mais, não há, no inquérito, litigante ou acusado,
mas mero investigado (até porque o delegado de polícia não acusa, mas investiga
apenas, colhendo provas sobre o fato criminoso, sem interesse acusatório ou PAGE \*
absolutório). 12
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K. Princípio da ampla defesa (art. 5º, LV, CF) ORMAT
A ampla defesa traduz o dever que assiste ao Estado de facultar ao acusado
toda a defesa possível quanto à imputação que lhe foi realizada.

A concepção moderna da garantia da ampla defesa reclama, para a sua


verificação, seja qual for o objeto do processo, a conjugação de três realidades
procedimentais, genericamente consideradas, a saber: a) o direito à informação (nemo
inauditus damnari potest); b) a bilateralidade da audiência (contraditoriedade); c) o
direito à prova legalmente obtida ou produzida (comprovação da inculpabilidade).

A ampla defesa pode ser exercida de duas formas:

1. Autodefesa: realizada facultativamente pelo próprio agente,


sendo permitido calar-se ou trazer qualquer elemento de
convicção, ainda que não jurídico, o que pode ser bastante útil
perante os jurados no tribunal do júri, que decidem de acordo
com a íntima convicção;

2. Defesa técnica: realizada obrigatoriamente por advogado


habilitado (art. 261 do CPP), não podendo o réu se
autorrepresentar no processo penal, a não ser que seja
advogado (art. 263 do CPP). Além do mais, a correta defesa do
réu é de interesse da sociedade, sendo ela irrenunciável.
A falta de defesa técnica, no processo penal, nos termos da Súmula 523 do STF,
constitui nulidade absoluta, mas, se for deficiente apenas, só anulará o processo caso
exista prova do prejuízo do réu.

Ainda em se tratando de autodefesa, a doutrina entende que o réu possui o


direito de ser ouvido (audiência) e o direito de presença. O primeiro se expressa
principalmente por meio do interrogatório judicial. Já o segundo se reflete na
possibilidade de acompanhar todos os atos do processo. É, pois, uma faculdade.

L. Princípio do duplo grau de jurisdição

Este princípio assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, por


meio do sistema recursal, em que as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas
pelos tribunais. É uma decorrência da própria estrutura do Judiciário, vazada na Carta
Magna, que, em vários dispositivos, atribui competência recursal aos diversos tribunais
do país.

M. Princípio do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII, CF)

O princípio do juiz natural consagra o direito de ser processado pelo magistrado


competente (art. 5º, inc. LIII, da CF) e a vedação constitucional à criação de juízos ou
tribunais de exceção (art. 5º, inc. XXXVII, da CF). Em outras palavras, tal princípio impede
a criação casuística de tribunais pós-fato, para apreciar um determinado caso.
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N. Princípio do promotor natural e imparcial 13
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Este princípio veda a designação arbitrária, pela Chefia da Instituição, de ORMAT
promotor para patrocinar caso específico. Vale dizer, o promotor natural há de ser,
sempre, aquele previamente estatuído em lei. Como ensina Hugo Nigro Mazzilli, o
princípio do promotor natural é decorrência do princípio da independência funcional.
Consiste na existência de um órgão do Ministério Público investido nas suas atribuições
por critérios legais prévios.

OBSERVAÇÃO: A abrangência de aplicação desse princípio é limitada ao processo


criminal, excluído, portanto, o inquérito policial. Deste modo, eventuais diligências
realizadas na fase das investigações policiais a partir de determinação (requisição)
de promotor distinto daquele que seja quem deva atuar não desnaturam o
princípio.

O. Princípio do in dubio pro reo (art. 5º, LVII, CF)

Também chamado de princípio da prevalência do interesse do réu ou “favor


rei” ou “favor libertatis” ou “favor inocente”, este princípio privilegia a garantia da
liberdade em detrimento da pretensão punitiva do Estado.

A dúvida deve militar em favor do acusado. Em verdade, na ponderação entre


o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve
prevalecer.
OBSERVAÇÃO: Este princípio é mitigado quando se trata de decisão do Conselho
de Sentença por ocasião dos julgamentos pelo júri. É que, em casos tais, os jurados
decidem por sua íntima convicção.

É de se ressaltar que, na pronúncia, não se exige a certeza da autoria do crime, mas


apenas a existência de indícios suficientes e prova da materialidade, imperando,
nessa fase final da formação da culpa, o brocardo “in dubio pro societate” (e não o
princípio “in dubio pro reo”). (STJ, AgRg. no AREsp. 405.488/SC)

P. Princípio ne bis in idem

Consiste na proibição de que o réu seja julgado novamente por fato que já foi
apreciado pelo Poder Judiciário.

1.2. SISTEMAS PROCESSUAIS


Existem três espécies de sistemas processuais penais: inquisitivo, acusatório e
misto.

1.2.1. SISTEMA INQUISITIVO

Nesse sistema, cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá início à ação penal PAGE \*
e, ao final, ele mesmo profere a sentença. 14
MERGEF
O acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito de
ORMAT
direitos.

Antes do advento da CF/88, era admitido em nossa legislação em relação à


apuração de todas as contravenções penais e dos crimes de homicídio e de lesões
corporais culposos. Era o chamado processo judicialiforme, que foi banido de nossa
legislação pelo art. 129, I, da CF, que conferiu ao MP a iniciativa exclusiva da ação
pública.

1.2.2. SISTEMA ACUSATÓRIO

No sistema acusatório, existe separação entre os órgãos incumbidos de realizar


a acusação e o julgamento, o que garante a imparcialidade do julgador e, por
conseguinte, assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário das partes.

1.2.3. SISTEMA MISTO OU ACUSATÓRIO FORMAL

Este sistema é caracterizado pela existência do Juizado de Instrução, fase


investigatória e persecutória preliminar conduzida por um juiz, que não se confunde
com o inquérito policial, seguida de uma fase acusatória em que são assegurados todos
os direitos do acusado e a independência entre acusação, defesa e juiz.
1.2.4. SISTEMA ADOTADO NO BRASIL.

No Brasil, é adotado o sistema acusatório, pois há clara separação entre a


função acusatória — do Ministério Público nos crimes de ação pública — e a julgadora.
Contudo, não se trata do sistema acusatório puro, uma vez que, apesar de a regra ser a
de que as partes devam produzir suas provas, admitem-se exceções em que o próprio
juiz pode determinar, de ofício, sua produção de forma suplementar.

Esse sistema foi reforçado pela Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime), que proibiu
expressamente o juiz de decretar prisão preventiva e outras medidas cautelares de
ofício. Confira:

Art. 282. § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a


requerimento das partes ou, quando no curso da investigação
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
requerimento do Ministério Público.

Esse dispositivo difere da redação anterior, que dizia:

§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício


ou a requerimento das partes ou, quando no curso da
investigação criminal, por representação da autoridade policial
ou mediante requerimento do Ministério Público. (Incluído pela
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Lei nº 12.403, de 2011).
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ANTES DA LEI ANTICRIME APÓS A LEI ANTICRIME ORMAT

No curso do processo o juiz poderia, de O juiz não pode, nem na fase de


ofício ou a requerimento das partes, investigações nem no curso do processo,
decretar medidas cautelares. Já na fase decretar medidas cautelares de ofício.
da investigação criminal o juiz só poderia
decretar medidas cautelares mediante
representação do Delegado de Polícia ou
requerimento do MP.

Esse mesmo entendimento, que foi previsto para as medidas cautelares em


geral, foi repetido pelo legislador da Lei Anticrime no caso da prisão preventiva Confira:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz,
a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

A redação anterior do dispositivo dizia:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz,
de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

Porém, a Lei nº 13.964/19 trouxe a previsão de que é possível que o juiz, de


ofício, revogue a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar
a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem (art. 316, caput).

Esse tema será tratado com mais minúcias no material sobre prisões!

1.3. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL


1.3.1. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o Território


Brasileiro, por este Código, ressalvados:
I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República,
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do
Presidente da República, e dos ministros do STF, nos crimes de
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responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III – os processos da competência da Justiça Militar;
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IV – os processos da competência do tribunal especial
ORMAT
(Constituição, art. 122, nº 17);
V – os processos por crimes da imprensa.

O processo penal, em todo o território nacional, rege-se pelo Código de


Processo Penal. Tal regra encontra-se em seu art. 1º, caput, que adotou, quanto ao
alcance de suas normas, o princípio da territorialidade, segundo o qual seus dispositivos
aplicam-se a todas as ações penais que tramitem pelo território brasileiro.

OBSERVAÇÃO: O CPP adota o princípio da territorialidade absoluta (locus regit


actum), no sentido de que, no Brasil, não se admite a aplicação de direito
processual estrangeiro, apesar de admitir a aplicação de regras de direito
internacional. Adota, também, o princípio da territorialidade estrita, no sentido de
que a lei processual brasileira, ao contrário do que ocorre com a lei penal, não tem
extraterritorialidade. Contudo, isto não quer dizer que ela não será aplicada a
crimes cometidos fora do território nacional, pois, se este crime for aqui julgado,
a lei processual brasileira será aplicada.
1.3.1.1. Exceções à incidência do CPP

O art. 1º do CPP elenca hipóteses em que este não terá aplicação, ainda que o
fato tenha ocorrido no território nacional. Vejamos:

A - Os tratados, as convenções e regras de direito internacional (art. 1º, I, CPP);

Os tratados, as convenções e as regras de direito internacional, firmados pelo


Brasil, mediante aprovação por decreto legislativo e promulgação por decreto
presidencial, afastam a jurisdição brasileira, ainda que o fato tenha ocorrido no território
nacional, de modo que o infrator será julgado em seu país de origem.

É o que ocorre, por exemplo, com agentes diplomáticos aqui acreditados, como
embaixadores, secretários de embaixadas, bem como seus familiares, além dos
funcionários de organizações internacionais, tal qual a ONU. A Convenção de Viena,
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103/64, prevê imunidade diplomática a esses
agentes, de forma que não estão sujeitos à lei processual penal brasileira, pois terão a
aplicação da lei material do seu respectivo país, e, por via de consequência, o processo
lá tramitará.

B - As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de


Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do STF,
nos crimes de responsabilidade (art. 1º, II, CPP);
PAGE \*
Esse dispositivo refere-se aos crimes de natureza político-administrativa, e não 17
MERGEF
aos delitos comuns. O julgamento dessas infrações não é feito pelo Poder Judiciário, e
sim pelo Legislativo. ORMAT

C - Os processos da competência da Justiça Militar (art. 1º, III, CPP);

Os processos de competência da Justiça Militar, isto é, os crimes militares,


seguem os ditames do Código de Processo Penal Militar (Decreto-lei n. 1.002/69), e não
da legislação processual comum.

OBSERVAÇÃO: Não se deve olvidar que a Justiça Eleitoral, também especializada,


tem competência para apreciação dos crimes eleitorais e conexos, possuindo
codificação própria (Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral), mas o CPP é aplicado
subsidiariamente.

D - Os processos da competência do tribunal especial (art. 1º, IV, CPP);

O tribunal especial a que faz menção o inc. IV do art. 1º é o antigo Tribunal de


Segurança Nacional, que não existe mais. Hoje, os crimes contra a segurança nacional
estão previstos na Lei nº 7.170/83, sendo afetos à Justiça Federal (art. 109, IV, CF).
E - Os processos por crimes da imprensa (art. 1º, V, CPP).

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Arguição de Descumprimento de


Preceito Fundamental (ADPF 130-7/DF), declarou que a referida lei não foi recepcionada
pela Constituição Federal de 1988, de modo que, atualmente, os antigos crimes da Lei
de Imprensa (Lei n. 5.250/67) deverão ser enquadrados, quando possível, na legislação
comum, e a apuração dar-se-á nos termos do Código de Processo Penal.

1.3.1.2. Exceções decorrentes de leis especiais

Algumas leis especiais excepcionam a aplicação do CPP em relação à apuração


a determinados crimes, como, por exemplo, os relacionados a drogas, cujo rito é
integralmente regulado pela Lei nº 11.343/2006; os crimes falimentares, cujo rito
encontra-se na Lei nº 11.101/2005; as infrações de menor potencial ofensivo, tratadas
em sua totalidade na Lei .099/95.

1.3.1.3. Tribunal penal internacional

O art. 5º, § 4º, da CF, prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, ainda que um
delito seja cometido no território brasileiro, havendo denúncia ao TPI, o agente poderá
ser entregue à jurisdição estrangeira.
PAGE \*
1.3.2. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO.
18
MERGEF
Regra geral – Princípio do efeito imediato ou princípio da aplicação imediata ou
sistema do isolamento dos atos processuais. ORMAT

Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem


prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior.

O art. 2º do CPP adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual


penal, também chamado de princípio tempus regit actum. De acordo com esse princípio,
os novos dispositivos processuais podem ser aplicados a crimes praticados antes de sua
entrada em vigor. O que se leva em conta, portanto, é a data da realização do ato
(tempus regit actum), e não a da infração penal.

OBSERVAÇÃO: A lei processual aplicar-se-á desde logo, mesmo que seja


prejudicial ao réu. E não se pode dizer que há violação ao art. 5º, XL, da CF, pois a
vedação incorporada neste dispositivo constitucional não se refere às normas
puramente processuais penais, mas, sim, às normas de natureza penal.

1.3.2.1. Exceção

O art. 3º da Lei de Introdução ao CPP dispõe que “o prazo já iniciado, inclusive


o estabelecido para a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, se esta
não prescrever prazo menor do que o fixado no CPP”. Assim, se um determinado prazo
já estiver em andamento, incluindo prazo recursal, valerá o prazo da lei anterior se o
prazo da nova lei for menor do que aquele outro. Trata-se, portanto, de uma hipótese
de ultratividade da lei processual penal.

1.3.2.2. Normas processuais heterotópicas e normas processuais mistas ou híbridas

Normas processuais são aquelas que regulamentam aspectos relacionados ao


procedimento ou à forma dos atos processuais, possuindo aplicação imediata. Já as
normas materiais são aquelas que objetivam assegurar direitos ou garantias, possuindo
efeitos retroativos nos aspectos que visam a beneficiar o réu, mas jamais retroagem
para prejudicá-lo.

A. Normas heterotópicas

Existem determinadas regras que, apesar de inseridas em diplomas processuais


penais, possuem conteúdo material, retroagindo para beneficiar o réu. Outras, ao revés,
incorporadas a leis materiais, apresentam um conteúdo processual, regendo-se pelo
critério tempus regit actum. Surge, nesses casos, o fenômeno da heterotopia.

B. Normas mistas ou híbridas

Norma híbrida é aquela que possui preceitos de direito material e de direito


PAGE \*
processual. Como não pode haver cisão, deve prevalecer o aspecto material. Assim, se
a parte penal for benéfica, a nova lei será aplicada às infrações ocorridas antes da sua 19
MERGEF
vigência. O aspecto penal retroage, e o processual terá aplicação imediata, preservando-
se, contudo, os atos praticados quando da vigência da norma anterior. Já, se a parte ORMAT
penal for maléfica, a norma híbrida não terá nenhuma incidência aos crimes ocorridos
antes de sua vigência e o processo iniciado, todo ele, será regido pelos preceitos
processuais previstos na lei antiga.

1.4. INQUÉRITO POLICIAL


1.4.1. CONCEITO

O inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela


polícia investigativa, objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de
elementos de informação quanto à autoria e à materialidade da infração penal, a fim de
possibilitar que o titular da ação penal, Ministério Público (nos crimes de ação penal
pública) ou ofendido (nos crimes de ação penal privada), possa ingressar em juízo.

1.4.2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito policial é um procedimento administrativo.

OBSERVAÇÃO: Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios


dele constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der
origem.
1.4.3. FINALIDADE

O inquérito policial tem dupla finalidade:

- Preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe


a instauração de um processo penal infundado, temerário,
resguardando a liberdade do inocente e evitando custos
desnecessários para o Estado;

- Preparatória: fornece elementos de informação quanto à


autoria e à materialidade do delito, para que o titular da ação
penal ingresse em juízo, além de servir para acautelar meios de
prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo.

OBSERVAÇÃO: O inquérito policial exerce papel fundamental em relação à


decretação de medidas cautelares pessoais, patrimoniais ou probatórias no curso
da investigação policial e, também, é útil para fundamentar eventual absolvição
sumária (CPP, art. 397).

1.4.4. VALOR PROBATÓRIO


PAGE \*
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da 20
MERGEF
prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos ORMAT
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

“Elementos de informação” não é sinônimo de “prova”. Elementos de


informação são aqueles colhidos na fase investigatória, sem a necessária participação
dialética das partes (art. 155 do CPP). Por outro lado, provas são os elementos de
convicção produzidos, em regra, no curso do processo judicial e, por conseguinte, com
a necessária participação dialética das partes, sob o manto do contraditório (ainda que
diferido) e da ampla defesa.

Tendo em conta que os elementos de informação não são colhidos sob a égide
do contraditório e da ampla defesa, deduz-se que o inquérito policial tem valor
probatório relativo, e, de forma isolada, não podem os elementos de informação servir
de fundamento para um decreto condenatório, mas podem, de forma subsidiária, influir
na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando
complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em
juízo.
1.4.5. CARACTERÍSTICAS

A. Procedimento escrito

De acordo com o art. 9º do CPP, todas as peças do inquérito policial serão, num
só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.

OBSERVAÇÃO: Apesar de o CPP não fazer menção à gravação audiovisual de


diligências realizadas no curso do inquérito policial, sempre que possível, o registro
dos depoimentos do investigado, do indiciado, do ofendido e das testemunhas
será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das
informações (art. 405, §1º, do CPP).

B. Procedimento dispensável

O inquérito policial é peça meramente informativa. Portanto, se o titular da


ação penal (Ministério Público ou ofendido) dispuser desse substrato mínimo necessário
para o oferecimento da peça acusatória, o inquérito policial será perfeitamente
dispensável.
PAGE \*
C. Procedimento sigiloso 21
MERGEF
Se o inquérito policial tem por objetivo investigar infrações penais, coletando ORMAT
elementos de informação quanto à autoria e à materialidade dos delitos, de nada valeria
o trabalho da polícia investigativa se não fosse resguardado o sigilo necessário durante
o curso de sua realização. Portanto, por natureza, o inquérito policial está sob a égide
do sigilo externo, nos termos do art. 20 do CPP, que dispõe que a autoridade assegurará
no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.

ATENÇÃO! A despeito do art. 20 do CPP e mesmo em se tratando de inquérito


sigiloso, tem prevalecido o entendimento de que o advogado deve ter acesso aos
autos do procedimento investigatório, caso a diligência realizada pela autoridade
policial já tenha sido documentada. Porém, em se tratando de diligências que
ainda não foram realizadas ou que estão em andamento, não há que falar em
prévia comunicação ao advogado, nem ao investigado, na medida em que o sigilo
é inerente à própria eficácia da medida investigatória. É o que se denomina de
sigilo interno (Súmula Vinculante nº 14).
ATENÇÃO! Súmula Vinculante 14 do STF - “é direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

ATENÇÃO! NÃO CONFUNDIR COM INQUÉRITO CIVIL. Nele a publicidade é regra.

D. Procedimento inquisitorial

O inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB, incluído pela Lei 13.245/2016, prevê
que o advogado tem direito de assistir a seus clientes investigados durante a apuração
de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou
depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios
dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso
da respectiva apuração apresentar razões e quesitos.

Diante da nova redação conferida à Lei 8.906/94, indaga-se se ainda é possível


afirmar que o inquérito policial é um procedimento inquisitorial.

Prevalece que sim. Com efeito, ante a impossibilidade de aplicação de uma PAGE \*
sanção como resultado imediato das investigações criminais, como ocorre, por exemplo, 22
MERGEF
em um processo administrativo disciplinar, não se pode exigir a observância do
contraditório e da ampla defesa nesse momento inicial da persecução penal. Ora, se não ORMAT
há necessidade de um defensor no curso de um processo administrativo disciplinar, do
qual pode resultar a aplicação de sanções relativamente severas (v.g., suspensão,
exoneração, perda de função, etc.), é de se estranhar a obrigatoriedade de defensor
durante a realização de um interrogatório policial, do qual jamais será possível a
aplicação imediata de uma sanção.

Além disso, as atividades investigatórias estão concentradas nas mãos de uma


única autoridade (Delegado de Polícia, no caso do inquérito policial; Ministério Público,
em se tratando de um procedimento investigatório criminal), que deve conduzir a
apuração de maneira discricionária, colhendo elementos quanto à autoria e à
materialidade do fato delituoso. Logo, não há oportunidade para o exercício do
contraditório ou da ampla defesa.

E. Procedimento discricionário

A fase preliminar de investigações é conduzida de maneira discricionária (e não


arbitrária) pela autoridade policial, que deve determinar o rumo das diligências de
acordo com as peculiaridades do caso concreto.
F. Procedimento oficial

Incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a presidência do inquérito


policial. Vê-se, pois, que o inquérito policial fica a cargo de órgão oficial do Estado, nos
termos do art. 144, § 1º, I, c/c art. 144, § 4º, da CF.

Nesse sentido, é o que dispõe a Lei 12.830/2013:

Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações


penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza
jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.

§1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial,


cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito
policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como
objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da
autoria das infrações penais.

ATENÇÃO! Em nenhuma hipótese, a presidência do IP poderá ser realizada pelo


juiz. Mas, atenção: embora não se trate de inquérito policial, o STF, visando apurar
notícias fraudulentas (fake news) e ameaças contra seus ministros, instaurou, para
tramitação na Corte sob relatoria do Min. Alexandre de Moraes, o Inq. 4781. Por
PAGE \*
conseguinte, o partido Rede Sustentabilidade, sustentando não competir ao
Judiciário conduzir investigações criminais, ajuizou a ADPF 572. Deliberando a
23
MERGEF
respeito, entendeu o Plenário da Corte (em 18.06.2020) no sentido da
constitucionalidade do inquérito, que foi instaurado a partir de previsão do seu ORMAT
Regimento Interno, salientando, outrossim, que o STF tem a função extraordinária
e atípica de apurar qualquer lesão real ou potencial à sua independência. Para
alguns doutrinadores, tal decisão viola o sistema acusatório, já que a referida
instauração concentra no próprio STF funções de investigar e julgar.

ATENÇÃO NÃO CONFUNDIR COM INQUÉRITO CIVIL que é um procedimento


administrativo investigatório a cargo do Ministério Público, cujo objeto consiste
essencialmente na coleta de elementos de convicção que lhe sirvam de base à
propositura de uma ação civil pública para a defesa de interesses transindividuais
ou para a defesa do patrimônio público e social.

G. Procedimento oficioso

Ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública


incondicionada, a autoridade policial é obrigada a instaurar o inquérito policial de ofício,
independentemente de provocação da vítima e/ou qualquer outra pessoa.
No caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de
ação penal de iniciativa privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à
manifestação da vítima ou de seu representante legal. Porém, uma vez demonstrado o
interesse do ofendido na persecução penal, a autoridade policial é obrigada a agir de
ofício, determinando as diligências necessárias à apuração do delito.

H. Procedimento indisponível

De acordo com o art. 17 do CPP, a autoridade policial não poderá mandar


arquivar autos de inquérito policial.

Se, diante de uma circunstância fática, o delegado percebe que não houve
crime, não deve iniciar o inquérito policial, mas, uma vez iniciado, deve levá-lo até o
final, não podendo arquivá-lo. E, no relatório, não poderá fazer considerações acerca da
existência de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade, cabendo-lhe simplesmente
relatar as diligências investigatórias realizadas e apontar a tipificação do fato apurado.

I. Procedimento temporário

Apesar de o art. 10, § 3º, do CPP, permitir que a autoridade policial possa
requerer ao juiz a devolução dos autos para ulteriores diligências, quando o fato for de
difícil elucidação e o indiciado estiver solto, o princípio constitucional da duração
razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF) impede que o inquérito policial tenha seu
PAGE \*
prazo de conclusão prorrogado indefinitivamente.
24
MERGEF
1.4.6. FORMAS DE INSTAURAÇÃO
ORMAT
1.4.6.1. Crimes de ação penal pública incondicionada

Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser
instaurado das seguintes formas:

- De ofício (CPP, art. 5º, I).

Por força do princípio da obrigatoriedade, caso a autoridade policial tome


conhecimento do fato delituoso a partir de suas atividades rotineiras, deve instaurar o
inquérito policial independentemente da provocação de qualquer pessoa. A peça
inaugural será uma portaria.

- Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público


(CPP, art. 5º, II).

Quanto à possibilidade de a autoridade judiciária requisitar a instauração de


inquérito policial, vários doutrinadores sustentam que não se coaduna com a adoção do
sistema acusatório pela CF, sob pena de evidente prejuízo a sua imparcialidade. O
correto seria encaminhar as informações acerca da prática de ilícito penal ao MP.
ATENÇÃO! O Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019) inseriu no CPP o art. 3º-A, o qual
proíbe qualquer iniciativa do Juiz na fase investigativa. Este dispositivo teve sua
eficácia suspensa por meio de medida cautelar deferida no STF pelo Ministro Luiz
Fux (em 22.01.2020) no âmbito das Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6.298,
6.299, 6.300 e 6.305, ainda não julgadas definitivamente. Enquanto perdurar esta
suspensão, não fica o juiz impedido de requisitar a instauração de inquérito.
Cogitando-se, porém, a possibilidade de que seja revogada a medida cautelar e,
portanto, restabelecida sua eficácia, é certo que os termos peremptórios do art.
3º-A inviabilizarão a requisição judicial do inquérito policial, permanecendo, então,
apenas a legitimidade do Ministério Público para essa requisição.

Quanto à requisição feita pelo Ministério Público, a autoridade policial está


obrigada a instaurar o inquérito policial por força do princípio da obrigatoriedade, que
impõe às autoridades o dever de agir diante da notícia da prática de infração penal.

OBSERVAÇÃO: Em se tratando de requisição ministerial manifestamente ilegal


(v.g., para investigar crime prescrito ou conduta atípica), deve a autoridade policial
abster-se de instaurar o inquérito policial, comunicando sua decisão,
justificadamente, ao órgão do Ministério Público responsável pela requisição,
assim como às autoridades correcionais. PAGE \*
25
MERGEF
- Requerimento do ofendido ou de seu representante legal (art.
5º, II, CPP). ORMAT

Prevalece o entendimento no sentido de que ao delegado incumbe verificar a


procedência das informações a ele trazidas, evitando-se, assim, a instauração de
investigações temerárias e abusivas. Assim, convencendo-se que a notitia criminis é
totalmente descabida, sem respaldo jurídico ou material, como, por exemplo, quando
entender que o fato é manifestamente atípico ou que a punibilidade esteja extinta, deve
a autoridade policial indeferir o requerimento do ofendido para instauração de
inquérito policial.

- Notícia oferecida por qualquer do povo (art. 5º, § 3º, CPP).

Trata-se de mera faculdade do cidadão, não tendo ele o dever de noticiar a


prática de infração penal.

OBSERVAÇÃO: As autoridades públicas, notadamente aquelas envolvidas na


persecução penal, por força do princípio da obrigatoriedade, têm o dever de
noticiar fatos possivelmente criminosos, sob pena de responderem
administrativamente e de incorrerem no delito de prevaricação, caso comprovado
que a inércia se deu para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (CP, art. 319).
- Auto de prisão em flagrante delito.

A despeito de não constar expressamente do art. 5º do CPP, o auto de prisão


em flagrante é, sim, uma das formas de instauração do inquérito policial, funcionando
o próprio auto como a peça inaugural da investigação.

1.4.6.2. Crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal de iniciativa


privada

Nos crimes de ação penal pública condicionada, a deflagração da persecutio


criminis está subordinada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da
Justiça (CPP, art. 5º, § 4º).

Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada, o Estado fica


condicionado ao requerimento do ofendido ou de seu representante legal (CPP, art. 5º,
§ 5º). No caso de morte ou ausência do ofendido, o requerimento poderá ser formulado
por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31).

OBSERVAÇÃO: Em relação aos crimes de ação penal pública condicionada e de


ação penal de iniciativa privada, a instauração do inquérito policial também poderá
se dar em virtude de auto de prisão em flagrante, cuja lavratura estará
condicionada ao requerimento da vítima ou de seu representante legal.
PAGE \*
ATENÇÃO! O requerimento é condição de procedibilidade do próprio inquérito 26
MERGEF
policial, sem o qual a investigação sequer poderá ter início.
ORMAT

OBSERVAÇÃO: “A representação, condição de procedibilidade exigida nos crimes


de ação penal pública condicionada, prescinde de rigores formais, bastando a
inequívoca manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal no
sentido de que se promova a responsabilidade penal do agente, como
evidenciado, in casu, com a notitia criminis levada à autoridade policial,
materializada no boletim de ocorrência” (HC 130.000/SP, DJ 08.09.2009).

1.4.6.3. NOTITIA CRIMINIS

Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da


autoridade policial, acerca de um fato delituoso. Subdivide-se em:

a) Notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea).

Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por


meio de suas atividades rotineiras. É o que acontece, por exemplo, quando o delegado
de polícia toma conhecimento da prática de um crime por meio da imprensa.
b) Notitia criminis de cognição mediata (ou provocada).

Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento da infração penal por


meio de um expediente escrito. É o que acontece, por exemplo, nas hipóteses de
requisição do Ministério Público, representação do ofendido etc.

c) Notitia criminis de cognição coercitiva.

Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por


meio da apresentação do indivíduo preso em flagrante.

1.4.6.4. DELATIO CRIMINIS

A delatio criminis é uma espécie de notitia criminis, consubstanciada na


comunicação de uma infração penal feita por qualquer pessoa do povo à autoridade
policial, e não pela vítima ou seu representante legal.

1.4.6.5. NOTITIA CRIMINIS INQUALIFICADA

Também conhecida como “delação apócrifa”, “notícia anônima” ou “denúncia


anônima”, a notitia criminis inqualificada não autoriza, por si só, a propositura de ação
penal ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos
de investigação, como interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas
podem constituir fonte de informação e de provas que não podem ser simplesmente PAGE \*
descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário. 27
MERGEF
ORMAT
ATENÇÃO! Em caso de denúncia anônima, a autoridade policial deve: a) realizar
investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”; b) sendo
confirmado que possui aparência mínima de procedência, instaura-se IP; c)
instaurado o IP, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova (que
não seja a interceptação telefônica, pois esta é a ultima ratio). Se houver indícios
concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível
para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao
magistrado (STF, HC 106.152, em 29/03/2016).

ATENÇÃO! A denúncia anônima, sem amparo em outros elementos que


justifiquem a suspeita, não configura a justa causa necessária para legitimar a
busca pessoal e veicular efetuada pela polícia. STJ. HC 734263 01/09/2022

OBSERVAÇÃO! O STF entende que os documentos apócrifos somente poderão dar


azo à persecução penal quando forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando
constituírem eles próprios o corpo do delito (Inf. 629 – jun/11).
1.4.7. INDICIAMENTO
1.4.7.1. Conceito

Indiciar é atribuir a autoria (ou participação) de uma infração penal a uma


pessoa. De acordo com o art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/13, o indiciamento, privativo do
delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica
do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

OBSERVAÇÃO: Por força da simplicidade que norteia a própria investigação das


infrações de menor potencial ofensivo, tendo em vista a possibilidade de
incidência das medidas despenalizadoras previstas na Lei 9.099/95 e tendo em
conta que a imposição de pena restritiva de direitos ou multa nas hipóteses de
transação penal não constará de certidão de antecedentes criminais (Lei 9.099/95,
art. 76, § 6º), entende-se que é inviável o indiciamento em sede de termo
circunstanciado.

1.4.7.2. Momento

A condição de indiciado poderá ser atribuída já no auto de prisão em flagrante


ou até o relatório final do delegado de polícia. Logo, uma vez recebida a peça acusatória,
PAGE \*
não será mais possível o indiciamento, já que se trata de ato próprio da fase
investigatória.
28
MERGEF
ORMAT
OBSERVAÇÃO: O indiciamento, após o recebimento da denúncia, configura
constrangimento ilegal, pois esse ato é próprio da fase inquisitorial (STJ, RHC
60.445, em 26/04/2016).

1.4.7.3. Pressupostos

Para que haja indiciamento é indispensável a presença de elementos


informativos suficientes que apontem a autoria e a materialidade do delito.

OBSERVAÇÃO: O indiciamento funciona como um poder-dever da autoridade


policial, já que, presentes elementos informativos apontando na direção do
investigado, não resta à autoridade policial outra opção senão seu indiciamento.

1.4.7.4. Desindiciamento

O indiciamento configura constrangimento quando a autoridade policial, sem


elementos mínimos de materialidade delitiva, lavra o termo respectivo e nega ao
investigado o direito de ser ouvido e de apresentar documentos. Nesta hipótese, a
jurisprudência tem admitido a possibilidade de impetração de habeas corpus, a fim de
sanar o constrangimento ilegal daí decorrente, buscando-se o desindiciamento.
1.4.7.5. Atribuição

O indiciamento é o ato privativo do Delegado de Polícia. Portanto, se a


atribuição para efetuar o indiciamento é privativa da autoridade policial (Lei 12.830/13,
art. 2º, § 6º), não se afigura possível que o juiz, o Ministério Público ou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito requisitem ao delegado de polícia o indiciamento de
determinada pessoa.

1.4.8. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

1.4.8.1. Prazo para conclusão

De acordo com o art. 10, caput, do CPP, o inquérito deverá terminar no prazo
de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.

OBSERVAÇÃO: Para Avena, Tourinho Filho, Renato Brasileiro e parcela expressiva


da jurisprudência, da expressão “a partir do dia”, conclui-se que os prazos previstos
no art. 10 do CPP são processuais, independentemente de o indiciado estar preso
ou solto. Assim, devem ser contados na forma do art. 798, § 1º, excluindo-se o dia
PAGE \*
do começo e incluindo-se o dia do final. Além disso, não se iniciam e não se
finalizam em dias não úteis. Por outro lado, Nucci, Nestor e Mirabete defendem 29
MERGEF
que, se o indiciado está preso, o prazo de 10 dias é material, devendo ser contado
na forma do art. 10 do CP, incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o dia do ORMAT
final, independentemente de tais datas recaírem ou não em dia útil. Já, se o
indiciado está solto, o prazo de 30 dias é processual, devendo ser contado na
forma do art. 798, § 1º, do CPP.

Segundo o art. 10, § 3º, do CPP, quando o fato for de difícil elucidação e o
indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para
ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

No tocante ao indiciado preso, a maioria da doutrina entende que, se há


elementos para a segregação cautelar do agente (prova da materialidade e indícios de
autoria), também há elementos para o oferecimento da peça acusatória, sendo inviável,
por conseguinte, a devolução dos autos do inquérito policial à autoridade policial para
realização de diligências complementares.
Existem outros prazos definidos em leis especiais para a conclusão do Inquérito
Policial. Para facilitar, confira a tabelinha:

PRESO SOLTO

JUSTIÇA ESTADUAL
10 30+30
(art. 10 do CPP)

JUSTIÇA FEDERAL
15 + 15 30 + 30
(art. 66 da Lei nº 5.010/66)

LEI DE DROGAS
30 + 30 90 + 90
(art. 51 da Lei nº 11.343/06)

ECONOMIA POPULAR
10 10
(art. 10 da Lei nº 1.521/51)

INQUÉRITO MILITAR
20 40 + 20
(art. 20 CPPM)
PAGE \*
1.4.8.2. Relatório 30
MERGEF
O relatório é uma peça elaborada pela autoridade policial, de conteúdo ORMAT
eminentemente descritivo, em que deve ser feito um esboço das principais diligências
levadas a efeito na fase investigatória, justificando-se até mesmo a razão pela qual
algumas não tenham sido realizadas.

Deve a autoridade policial abster-se de fazer qualquer juízo de valor no


relatório, já que a opinio delicti deve ser formada pelo titular da ação penal.

OBSERVAÇÃO: A Lei de Drogas prevê expressamente que a autoridade policial


relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e a natureza da
substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se
desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação
e os antecedentes do agente (Lei 11.343/06, art. 52, I). Mesmo nesse caso de
drogas, é de bom alvitre esclarecer que o Ministério Público não fica vinculado à
classificação provisória formulada pela autoridade policial, pois é ele o titular da
ação penal.
1.4.8.3. Destinatário dos autos do inquérito policial

Pela leitura do art. 10, § 1º, do CPP, percebe-se que, uma vez concluída a
investigação policial, os autos do inquérito policial devem ser encaminhados
primeiramente ao Poder Judiciário e, somente depois, ao Ministério Público.

Contudo, a doutrina moderna sustenta que o § 1º do art. 10 do CPP não foi


recepcionado pela CF/88, pois a necessidade de remessa inicial dos autos ao Poder
Judiciário viola o sistema acusatório.

Este, porém, não é o entendimento do STF, que, afirmando a recepção do § 1º


do art. 10 do CPP pela CF/88, decidiu ser inconstitucional lei estadual que preveja a
tramitação direta do IP entre a Polícia e o MP (ADI 2.886, 03/04/2014).

Por outro lado, em decisão mais recente, o STJ decidiu que, enquanto a
Resolução nº 63/2009 do CJF não for declarada inconstitucional, é legal a portaria
editada por Juiz Federal que estabelece a tramitação direta de IP entre a PF e o MPF.
Por força dessa Resolução, atualmente, no âmbito da JF, se o DPF pede a dilação do
prazo para as investigações ou apresenta o relatório final, o IP não precisa ir para o Juiz
Federal e depois ser remetido ao MPF. O caminho é direto entre a PF e o MPF, sendo o
próprio membro do Parquet quem autoriza a dilação do prazo (5ª T, RMS 46.165, em
19/11/2015).
PAGE \*
OBSERVAÇÃO: A Resolução nº 063/2009-CJF também foi impugnada no STF por 31
MERGEF
meio da ADI nº 4.305, mas não há previsão de julgamento.
ORMAT

1.4.8.4. Providências a serem adotadas após a remessa dos autos

Uma vez recebidos os autos do inquérito policial, são duas as possibilidades:

a) Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada.

Dispõe o art. 19 do CPP que, nos crimes em que não couber ação pública, os
autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, no qual aguardarão a iniciativa
do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
pedir, mediante traslado. Na prática, todavia, os autos acabam sendo remetidos ao
Ministério Público, para que analise se há elementos de informação quanto a eventual
crime de ação penal pública.

b) Em se tratando de crime de ação penal pública.

Os autos do inquérito policial são remetidos ao Ministério Público, ao qual se


abrem cinco possibilidades:
- Oferecimento da denúncia;

- Arquivamento dos autos do inquérito policial;

- Requisição de diligências;

OBSERVAÇÃO: O Delegado de Polícia não é obrigado a atender requisições


manifestamente ilegais. Aliás, ao tratar do poder de requisição ministerial, a
própria CF faz referência à indicação dos fundamentos jurídicos de sua
manifestação. Nesse caso, fazendo-o de maneira fundamentada, incumbe ao
Delegado se recusar a cumprir requisições manifestamente ilegais, comunicando
a ocorrência ao respectivo Procurador-Geral de Justiça para as providências
funcionais pertinentes.

- Declinação de competência;

- Conflito de competência.

1.4.9. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Pela redação original do art. 28 do CPP, entendia-se que o arquivamento do


inquérito policial era um ato complexo, pois envolvia prévio requerimento formulado
PAGE \*
pelo órgão do Ministério Público e posterior decisão da autoridade judiciária
competente. Veja:
32
MERGEF
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar ORMAT
a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de
quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito
ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só
então estará o juiz obrigado a atender.

Ocorre que a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) mudou referida sistemática,


disciplinando, desta feita, que o arquivamento do inquérito policial prescindia de
apreciação judicial. Com efeito, a novel legislação retirou do juiz o papel de controlador
do arquivamento do inquérito policial, alterando o art. 28 do CPP para ordenar que o
membro do Ministério Público, ao ordenar o arquivamento do inquérito policial ou de
quaisquer peças informativas da mesma natureza, encaminhe o procedimento para a
instância de revisão ministerial para fins de homologação.

Assim, arquivamento do inquérito policial passou, com a nova lei, a ser


analisado única e exclusivamente no âmbito do Ministério Público, devendo ato
normativo interno da instituição estabelecer qual é o órgão ministerial que analisará os
arquivamentos ordenados pelos membros.
Além disso, a lei trouxe a obrigação de o órgão ministerial dar ciência à vítima,
ao investigado e à autoridade policial sobre a decisão de arquivamento. Confira o
dispositivo legal:

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de


quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão
do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à
autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de
revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei.

ATENÇÃO! No entanto, vale destacar que a Lei nº 13.964/19 (Lei Anticrime) foi
publicada no dia 24/12/2019, com uma vacatio legis de 30 (trinta) dias de duração.
Na véspera de sua entrada em vigor, no dia 22/02/20, o Min. Luiz Fux, no bojo da
ADI 6.300 6.305 6.299 e 6.298, decidiu suspender até o julgamento do mérito da
ação penal, além de outros dispositivos da novel legislação, o novo art. 28 do CPP
que versam sobre o arquivamento do inquérito policial. O fundamento principal
é que o STF precisa discutir a constitucionalidade desses dispositivos antes que se
implemente a sua efetivação. Assim, para fins de provas de concursos, vale a
redação anterior do art. 28 sem a alteração promovida pela Lei Anticrime. Vamos
ficar atentos aos próximos passos do STF.

PAGE \*
1.4.9.1. Fundamentos do arquivamento 33
MERGEF
O CPP não dispõe sobre as causas que dão ensejo ao arquivamento do inquérito
ORMAT
policial. Assim, a doutrina afirma que o arquivamento do IP deve ser requerido nas
mesmas hipóteses de rejeição da inicial acusatória, previstas no art. 395 (inépcia da
inicial, ausência de pressupostos ou condições da ação e ausência de justa causa) e com
base nas causas que autorizam a absolvição sumária, previstas no art. 397 (excludentes
de culpabilidade ou de ilicitude, atipicidade e causas extintivas da punibilidade).

Em tese, aspectos relativos à culpabilidade do agente e à ilicitude da conduta


são irrelevantes no momento do oferecimento da denúncia. No entanto, parte da
doutrina, por motivo de economia processual e para não submeter um “inocente” ao
constrangimento de responder a um processo penal, defende a possibilidade de
arquivamento do IP quando houver absoluta certeza quanto à existência de uma causa
de exclusão da culpabilidade ou de uma causa de exclusão da ilicitude. Vale destacar
que, em se tratando de inimputabilidade por doença mental ao tempo do fato, a
denúncia deve ser ajuizada para fins de aplicação de medida de segurança. E, em se
tratando de inimputabilidade decorrente da menoridade penal, não há que se falar em
ação penal, mas, sim, em ação socioeducativa.

1.4.9.2. Coisa julgada na decisão de arquivamento

Hipóteses em que haverá coisa julgada formal:

a) Ausência de pressupostos processuais ou condições para o


exercício da ação penal;
b) Ausência de justa causa para o exercício da ação penal.

Hipóteses em que haverá coisa julgada formal e material:

a) Atipicidade da conduta delituosa;

b) Existência manifesta de causa excludente da ilicitude;

ATENÇÃO! O STF entende que o inquérito policial arquivado por excludente de


ilicitude pode ser reaberto. Assim, para a Suprema Corte, esse arquivamento não
faz coisa julgada material.
O STJ, por sua vez, entende que o arquivamento do inquérito policial baseado em
excludente de ilicitude produz coisa julgada material e, portanto, não pode ser
reaberto.

c) Existência manifesta de causa excludente da culpabilidade;

d) Existência de causa extintiva da punibilidade.

OBSERVAÇÃO: Se a extinção da punibilidade é declarada com base em certidão de


PAGE \*
óbito falsa, a decisão não está protegida pelo manto da coisa julgada material. Para
os Tribunais, não há que falar em revisão criminal pro societate, sendo
34
MERGEF
perfeitamente possível o oferecimento de denúncia, porquanto a decisão
ORMAT
declaratória que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade
pode ser revogada, já que não gera coisa julgada em sentido estrito.

1.4.9.3. Arquivamento implícito

Se o MP deixa de se manifestar expressamente sobre todo o conteúdo do IP,


omitindo da denúncia crimes e/ou criminosos que foram foco da investigação, haveria
o que se chama de “arquivamento implícito”. Contudo, tal modalidade de arquivamento
não é admitida pelo STF por ausência de previsão legal (1ª T, HC 104.356, 19/10/2010).

1.4.9.4. Arquivamento indireto

Se o membro do MP deixar de oferecer a denúncia por entender que o crime


não é de sua atribuição, ele deve requerer a remessa dos autos ao órgão competente. A
isso se dá o nome de “arquivamento indireto”.

OBSERVAÇÃO: Se o juízo originário discordar do Promotor e se julgar competente,


deverá invocar, por analogia, o disposto no art. 28 do CPP (redação atual, não
alterada pela Lei Anticrime), remetendo os autos ao PGJ.
1.4.9.5. Arquivamento originário

Se a ação penal for da competência originária do Procurador Geral, e este


requer o arquivamento do IP, fala-se em arquivamento originário. Nesta hipótese, é
inviável a aplicação do art. 28 CPP (redação atual, não alterada pela Lei Anticrime), mas
é possível um recurso administrativo ao Colégio de Procuradores (art. 12, XI, da Lei
8.625/93 - LONMP).

1.4.9.6. Arquivamento provisório

Ocorre na hipótese de ausência de uma condição de procedibilidade, como no


caso de representação da vítima nos crimes de ação penal pública condicionada a essa
representação. Se a vítima se retrata antes do oferecimento da denúncia (art. 25 do
CPP), caberá o arquivamento, que perdurará até que ela se arrependa e volte a
representar. Se for ultrapassado o prazo para tanto e a vítima não representar, o
arquivamento se torna definitivo.

1.4.9.7. Arquivamento em crimes de ação penal de iniciativa privada

Sabendo-se quem é o autor do crime, o pedido de arquivamento deve ser


acolhido como forma de renúncia tácita, o que causa a extinção da punibilidade.

Por outro lado, sendo desconhecida a autoria, não há que se falar em renúncia
PAGE \*
tácita, hipótese em que há de se admitir o pedido de arquivamento do inquérito policial
feito pelo ofendido. 35
MERGEF
1.4.9.8. Surgimento de novas provas ORMAT

Estabelece o art. 18 do CPP que, “depois de ordenado o arquivamento do


inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade
policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia”.

A nova prova capaz de permitir o desarquivamento do inquérito deve satisfazer


três requisitos:

a) Tratar-se de prova substancialmente nova, isto é, apta para


alterar o convencimento anteriormente formado sobre a
desnecessidade da persecução penal;

b) Tratar-se de prova formalmente nova, assim compreendida


aquela até então desconhecida por qualquer das autoridades; e

c) Tratar-se de prova capaz de refletir no contexto probatório a


partir do qual realizada a postulação de arquivamento do
inquérito.

ATENÇÃO! Súmula 524 do STF arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz,
a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.
OBSERVAÇÃO: Com o advento do Pacote Anticrime, caso a medida cautelar seja
revogada (ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305), resta prejudicada a expressão “pela
autoridade judiciária” constante no art. 18 do CPP. Sem embargo, há de persistir
em vigor o texto remanescente. Logo, uma vez arquivado o inquérito policial ou
outros elementos informativos da mesma natureza, a retomada das investigações
pela autoridade policial e o próprio ajuizamento da ação penal contra os mesmos
investigados e em relação aos mesmos fatos condicionam-se a que surjam
elementos que produzam modificação no panorama probatório dentro do qual foi
realizado o arquivamento do inquérito.

PAGE \*
36
MERGEF
ORMAT
2. JURISPRUDÊNCIA

O compartilhamento de informações coletadas em inquérito com a Controladoria-Geral


da União encontra respaldo no art. 3º, VIII, da Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organização
Criminosa). Além disso, essa medida tem fundamento em Tratados promulgados pelo
Brasil e introduzidos no ordenamento pátrio com status de lei ordinária, como é o caso
da Convenção de Palermo, da Convenção de Mérida e da Convenção de Caracas. Os
supostos delitos praticados pelos agentes públicos investigados envolvem, em tese,
vultosos valores transacionados por meio de operações bancárias e aquisição e venda
de bens móveis e imóveis, condutas praticadas com o possível escopo de ocultar a
origem pública dos recursos, fato que, por si só, revela a imprescindibilidade do
compartilhamento de informações com a CGU, órgão com expertise em apurar
eventuais infrações que tenham lesado o erário. STJ. Corte Especial. AgRg na Pet
15270/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/2/2023 (Info 764).

O prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto é impróprio.


Assim, em regra, o prazo pode ser prorrogado a depender da complexidade das
investigações. No entanto, é possível que se realize, por meio de habeas corpus, o
controle acerca da razoabilidade da duração da investigação, sendo cabível, até mesmo,
o trancamento do inquérito policial, caso demonstrada a excessiva demora para a sua
PAGE \*
conclusão. STJ. 6ª Turma. HC 653299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 16/08/2022 (Info 747).
37
MERGEF
ORMAT
Ação controlada do art. 8º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 exige apenas comunicação prévia
(e não autorização judicial) A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº
12.850/2013 independe de autorização, bastando sua comunicação prévia à autoridade
judicial. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
18/08/2020 (Info 677).

É legal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público Estadual durante


procedimento criminal instaurado para apurar graves crimes em contexto de
organização criminosa. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Não há infiltração policial quando agente lotado em agência de inteligência, sob


identidade falsa, apenas representa o ofendido nas negociações da extorsão, sem se
introduzir ou se infiltrar na organização criminosa com o propósito de identificar e
angariar a confiança de seus membros ou obter provas sobre a estrutura e o
funcionamento do bando. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 18/08/2020 (Info 677).
3. QUESTÕES
1. A respeito dos princípios processuais penais, é correto afirmar:

a) a ausência de previsão de atividade instrutória do juiz em nosso ordenamento


processual penal brasileiro decorre do princípio da imparcialidade do julgador.

b) o direito ao silêncio, que está previsto na Constituição da República, em conformidade


com a interpretação sedimentada, só se aplica ao acusado preso.

c) o princípio da motivação das decisões e das sentenças penais se aplica a todas as


decisões proferidas em sede de direito processual penal, inclusive no procedimento do
Tribunal de Júri.

d) o princípio do contraditório restará violado se entre a acusação e a sentença inexistir


correlação.

e) o princípio da verdade real constitui princípio supremo no processo penal, tendo valor
absoluto, inclusive para conhecimento e para valoração das provas ilícitas.

2. Sobre os princípios do processo penal, assinale a alternativa correta.


PAGE \*
a) A lei processual penal mais nova aplica-se retroativamente, determinando a 38
MERGEF
necessidade de repetição de todos os atos instrutórios já realizados sob a vigência da
legislação revogada. ORMAT

b) As provas obtidas ilicitamente, segundo a atual jurisprudência dominante no


Supremo Tribunal Federal, poderão ser valoradas em prejuízo do acusado quando da
prolação da sentença, haja vista a supremacia do interesse público em face dos direitos
e garantias fundamentais.

c) O princípio do duplo grau de jurisdição estabelece a obrigatoriedade de que todas as


decisões de mérito sejam submetidas à apreciação de corte de hierarquia
imediatamente superior, devendo o juiz, de ofício, remeter os autos do processo à
segunda instância ainda que as partes não interponham qualquer recurso contra a
decisão proferida.

d) O princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada estabelece que


ao Ministério Público é vedado qualquer juízo discricionário quanto à pertinência ou
conveniência da iniciativa penal, sendo, todavia, o instituto da delação premiada uma
hipótese de exceção ao referido princípio no ordenamento jurídico brasileiro.

e) A interposição de um recurso incabível em lugar daquele legalmente previsto para


impugnar determinada decisão, ainda que protocolizado tempestivamente, segundo a
atual jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, tem como consequência
prática o não conhecimento da irresignação da parte em decorrência do princípio da
unirrecorribilidade.
3. Relativamente aos sistemas e princípios fundamentais do processo penal, assinale
a opção correta.

a) A proibição de revisão pro societate foi expressamente integrada ao ordenamento


jurídico brasileiro pela CF, sendo fruto da necessidade de segurança jurídica a vedação
que impede que alguém possa ser julgado mais de uma vez por fato do qual já tenha
sido absolvido por decisão passada em julgado, exceto se por juiz absolutamente
incompetente.

b) O direito ao silêncio ou garantia contra a autoincriminação derrubou um dos pilares


do processo penal tradicional: o dogma da verdade real, permitindo que o acusado
permaneça em silêncio durante a investigação ou em juízo, bem como impedindo de
forma absoluta que ele seja compelido a produzir ou contribuir com a formação da prova
ou identificação pessoal contrária ao seu interesse, revogando as previsões legais nesse
sentido.

c) A elaboração tradicional do princípio do contraditório garantia a paridade de armas


como forma de igualdade processual. A doutrina moderna propõe a reforma do
instituto, priorizando a participação do acusado no processo como meio de permitir a
contribuição das partes para a formação do convencimento do juiz, sendo requisito de
eficácia do processo.

d) O princípio do juiz natural tem origem no direito anglo-saxão, construído inicialmente


PAGE \*
com base na ideia da vedação do tribunal de exceção. Posteriormente, por obra do
direito norte-americano, acrescentou-se a exigência da regra de competência
39
MERGEF
previamente estabelecida ao fato, fruto, provavelmente, do federalismo adotado por
ORMAT
aquele país. O direito brasileiro adota tal princípio nessas duas vertentes fundamentais.

e) A defesa técnica é o corolário do princípio da ampla defesa, exigindo a participação


de um advogado em todos os atos da persecução penal. Segundo o STF, atende
integralmente a esse princípio o pedido de condenação ao mínimo legal, ainda que seja
a única manifestação jurídica da defesa, patrocinada por DP ou dativo.

4. Em 09 de abril de 2009, em uma festa de aniversário, A, maior, relatou ter sido


estuprada por B, irmão da aniversariante. Foi oferecida queixa-crime aos 08 de
outubro de 2009, a qual foi recebida em 03 de novembro do mesmo ano, tendo o Juiz
determinado, de ofício, a realização de exame de sangue de B, para comparar com os
vestígios de sêmen encontrados na vítima. O acusado recusou-se a fazer o exame,
suscitando seu direito ao silêncio. Ao final, B acabou condenado, sob o fundamento
de que, ao se recusar a fornecer material genético, houve inversão do ônus da prova,
não tendo provado sua inocência.

A respeito do caso, assinale a alternativa correta.

a) O processo não é nulo, pois, ainda que ao tempo da propositura da inicial, a ação
penal fosse condicionada à representação, ao tempo do crime, a ação era de iniciativa
privada, não se aplicando a Lei nº 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, nesta parte.
b) O juiz, em sede penal, não pode ordenar a realização de provas, pois não há mais
espaço para poderes instrutórios, reminiscência do sistema inquisitorial.

c) O processo é nulo, pois a ação penal é de iniciativa privada, e o recebimento da queixa


deu-se após o prazo decadencial, de seis meses.

d) O processo é nulo, por ilegitimidade de parte, pois o crime de estupro, com as


alterações advindas da Lei nº 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, passou a ser
processável mediante ação penal pública, condicionada à representação da vítima.

e) Acertada a condenação proferida, haja vista que a recusa em oferecer material


genético acarreta inversão do ônus da prova.

5. Em relação às garantias constitucionais do processo penal, é correto afirmar que:

a) a defesa da intimidade não é motivo para restrição da publicidade dos atos


processuais.

b) é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurada a
competência para o julgamento, exclusivamente, dos crimes dolosos contra a vida.

c) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de que ninguém PAGE \*
será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 40
MERGEF
d) a garantia da duração razoável e os meios que garantam a celeridade da tramitação ORMAT
aplicam-se exclusivamente ao processo judicial.

e) o civilmente identificado não será submetido, em nenhuma hipótese, a identificação


criminal.

6. A lei processual penal:

a) não admite aplicação analógica, salvo para beneficiar o réu.

b) não admite aplicação analógica, mas admite interpretação extensiva.

c) somente pode ser aplicada a processos iniciados sob sua vigência.

d) admite o suplemento dos princípios gerais de direito.

e) admite interpretação extensiva, mas não o suplemento dos princípios gerais de


direito.
7. Com relação ao Princípio Constitucional da Publicidade, com correspondência no
Código de Processo Penal, é correto afirmar que:

a) a publicidade ampla e a publicidade restrita não constituem regras de maior ou menor


valor no processo penal, cabendo ao poder discricionário do juiz a preservação da
intimidade dos sujeitos processuais.

b) a publicidade restrita tem regramento pela legislação infraconstitucional e não foi


recepcionada pela Constituição Federal, que normatiza a publicidade ampla dos atos
processuais como garantia absoluta do indivíduo.

c) de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, com nova redação dada
pela EC 45/2004, os atos processuais serão públicos, sob pena de nulidade, cabendo ao
juiz limitar a presença, nas audiências, de partes e advogados.

d) a publicidade restrita é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade
ampla é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão
judicial no caso concreto.

e) a publicidade ampla é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade
restrita é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão
judicial no caso concreto.
PAGE \*
41
MERGEF
8. A lei processual penal brasileira:
ORMAT
a) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito.

b) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior.

c) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais
benéfica ao réu.

d) não admite definição de prazo de vacatio legis.

e) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro,
em casos de extraterritorialidade da lei penal.

9. Antônio está sendo processado pela prática do delito de furto qualificado. É correto
dizer que, caso haja mudança nas normas que regulamentam o procedimento comum
ordinário:

a) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, se concluída a fase de


instrução.
b) a nova lei apenas se aplica se benéfica ao acusado.

c) os atos praticados sob a vigência da lei anterior são válidos.

d) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, apenas se ainda não
recebida a denúncia contra Antônio.

e) os atos praticados sob a vigência da lei anterior precisam ser ratificados, caso
contrário não serão considerados válidos.

10. Acerca dos princípios penais constitucionais e dos direitos fundamentais do


cidadão à luz da CF, julgue os itens a seguir.

I - São princípios processuais penais expressos na CF a presunção de não culpabilidade,


o devido processo legal e o direito do suspeito ou indiciado ao silêncio.

II - O direito processual penal compreende o conjunto de normas jurídicas destinadas a


regular o modo, os meios e os órgãos do Estado encarregados do exercício do jus
puniendi.

III - A CF determina que o Brasil se submeta à jurisdição do Tribunal Penal Internacional,


porém veda absolutamente a entrega de brasileiro naturalizado a jurisdição estrangeira. PAGE \*
42
MERGEF
IV - De acordo com o princípio da irretroatividade da lei processual penal, a regra nova
não pode retroagir, mesmo quando eventualmente beneficiar o réu. ORMAT
Estão certos apenas os itens:

a) I e II.

b) I e IV.

c) II e III.

d) I, III e IV.

e) II, III e IV.

11. São princípios constitucionais processuais penais explícitos e implícitos,


respectivamente:

a) dignidade da pessoa humana e juiz natural; e insignificância e identidade física do juiz.

b) intranscendência das penas e motivação das decisões; e intervenção mínima (ou


ultima ratio) e duplo grau de jurisdição.

c) contraditório e impulso oficial; e adequação social e favor rei (ou in dubio pro reo).
d) não culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração razoável do processo; e não
autoacusação (ou nemo tenetur se detegere) e paridade de armas.

12. Em apuração de falta disciplinar atribuída a recluso no interior do estabelecimento


penal, instaurada sindicância para esse fim, em observância aos termos do Regimento
Interno Padrão dos Estabelecimentos Penais, é correto afirmar que:

a) garantida a defesa ao sentenciado, em observância à norma que regulamenta a


matéria, válido é o procedimento.

b) a presença do advogado na oitiva do sindicado, quando o sentenciado tem defensor


constituído, é obrigatória.

c) é nulo o procedimento se o sentenciado não teve a assistência de defensor durante a


sua oitiva.

d) o procedimento disciplinar tem caráter inquisitivo e, por isso, não é exigida a atuação
do defensor.

13. No tocante às garantias constitucionais aplicáveis ao processo penal: PAGE \*


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MERGEF
a) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em ORMAT
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, mas não somente a estes.

b) o civilmente identificado jamais pode ser submetido a identificação criminal, sob pena
de caracterização de constrangimento ilegal.

c) o preso tem direito à identificação do responsável por sua prisão, mas nem sempre
por seu interrogatório policial.

d) a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua


tramitação são garantias exclusivamente aplicáveis à ação penal.

e) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de proibição de


juízo ou tribunal de exceção.

14. Considerando a legislação processual penal, a abranger as garantias consagradas


nos diplomas internacionais incorporados pelo Brasil, assinale a afirmativa
INCORRETA.

a) O acusado possui o direito a um processo sem dilações indevidas.

b) O acusado possui o direito ao tempo adequado à preparação de sua defesa.


c) O acusado possui o direito aos meios adequados à preparação de sua defesa.

d) O acusado possui o direito de ser comunicado, de modo genérico, da acusação


formulada, sem necessidade de que essa comunicação seja pormenorizada.

e) O acusado, por meio de sua defesa, tem o direito de inquirir as testemunhas de


acusação e de obter o comparecimento e a inquirição das testemunhas de defesa nas
mesmas condições das testemunhas de acusação.

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ORMAT
4. GABARITO COMENTADO
1. D.

(A) INCORRETA. Há hipóteses de atividade instrutória do juiz no atual ordenamento. Por


exemplo, o art. 156 do CPP prevê que é facultado ao juiz de ofício ordenar, mesmo antes
de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.

(B) INCORRETA. O investigado ou acusado tem direito ao silêncio em todas as fases da


persecução penal, independentemente de estar preso ou solto.

(C) INCORRETA. No procedimento do Tribunal do Júri se aplica o sistema da convicção


íntima.

(D) CORRETA. Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró afirma que “toda violação da regra
de correlação entre acusação e sentença implica em um desrespeito ao princípio do
contraditório. O desrespeito ao contraditório poderá trazer a violação do direito de
defesa, quando prejudique as posições processuais do acusado, ou estará ferindo a
inércia da jurisdição, com a correlativa exclusividade da ação penal conferida ao
Ministério Público, quando o juiz age de ofício. Em suma, sempre haverá violação do
contraditório, sejam suas implicações com a defesa ou com a acusação”.
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(E) INCORRETA. O princípio da verdade real não é supremo e absoluto, inclusive porque,
em regra, não se admite a valoração das provas ilícitas.
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ORMAT

2. D.

(A) INCORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP.

(B) INCORRETA. Em regra, aplica-se o princípio da vedação à utilização de provas ilícitas.


Excepcionalmente, a prova ilícita é admitida para beneficiar o acusado.

(C) INCORRETA. A alternativa descreve o recurso necessário, que não se confunde com
o princípio do duplo grau de jurisdição.

(D) CORRETA. De acordo com o art. 4º, § 4º, da Lei nº 12.850/2013.

(E) INCORRETA.De acordo com o STJ, aplica-se o princípio da fungibilidade quando


preenchidos os seguintes requisitos: a) dúvida objetiva quanto ao recurso a ser
interposto; b) inexistência de erro grosseiro; e c) que o recurso interposto erroneamente
tenha sido apresentado no prazo daquele que seria o correto (AREsp 616.226, em
21/05/2015).
3. D.

(A) INCORRETA. A incompetência absoluta do juiz não é exceção ao princípio do ne bis


in idem.

(B) INCORRETA. O direito ao silêncio não impede de forma absoluta que o acusado
colabore com a formação da prova. Por exemplo, o art. 4º, § 14, da Lei nº 12.850/2013,
dispõe que nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu
defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

(C) INCORRETA. A elaboração tradicional do princípio do contraditório não garantia a


paridade de armas como forma de igualdade processual.

(D) CORRETA. ALTERNATIVA E: INCORRETA.

O inquérito policial é inquisitorial, de forma que nesta fase da persecução penal não é
obrigatória a participação de advogado.

4. A.

(A) CORRETA. A Lei nº 12.015/2009 é uma norma híbrida cuja parte material é
prejudicial ao réu, de forma que não deve retroagir. No caso, deve ser aplicado o PAGE \*
regramento anterior, em que a ação penal é privada. 46
MERGEF
(B) INCORRETA. Há previsão de casos em que o juiz pode determinar a produção de ORMAT
provas, inclusive de ofício. Ex.: art. 156 do CPP.

(C) INCORRETA. O que interrompe o prazo decadencial é o oferecimento da queixa-


crime. Portanto, no caso, não houve decadência.

(D) INCORRETA. Não há ilegitimidade de parte, pois a ação penal é privada, não se
aplicando a Lei nº 12.015/2009 ao caso.

(E) INCORRETA. No processo penal, a culpa não se presume. Cabe àquele que faz a
alegação o ônus de prová-la. Além disso, o acusado está acobertado pelo princípio nemo
tenetur se detegere.

5. C.

(A) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LX, da CF, a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem.

(B) INCORRETA. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida e os que lhes são conexos (art. 5º, XXXVIII, ‘d’, da CF c/c art. 78, I, do CPP).
(C) CORRETA. Além de consagrar a garantia de que ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII, da CF), o princípio do juiz
natural veda a criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF).

(D) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.

(E) INCORRETA. De acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF, o civilmente identificado não
será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.

6. D.

(A), (B) e (E) INCORRETAS. De acordo com o art. 3º do CPP, a lei processual penal admite
interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito.

(C) INCORRETA. De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

(D) CORRETA. De acordo com o art. 3º do CPP.


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7. E. ORMAT
(A) INCORRETA. A publicidade, seja ela ampla ou restrita, tem fundamental importância
para o processo penal, tanto que constitui princípio constitucional (art. 93, IX, CF).

(B) INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a lei pode prever casos de
publicidade restrita.

(C) INCORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, cabe à lei, e não ao juiz, limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação.

(D) INCORRETA.

(E) CORRETA. De acordo com o art. 93, IX, da CF, a regra é a publicidade ampla, sendo
exceção a publicidade restrita.

8. A.

(A) CORRETA. De acordo com o art. 3º do CPP.

(B) e (C) INCORRETAS. De acordo com o art. 2º do CPP, não há prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.

(D) INCORRETA. A previsão de aplicação imediata não impossibilita que novas leis
processuais passem por vacatio legis.

(E) INCORRETA. Adota-se o princípio da territorialidade estrita, no sentido de que a lei


processual brasileira, ao contrário do que ocorre com a lei penal, não tem
extraterritorialidade.

9. C.

(A) INCORRETA.

(B) INCORRETA.

(C) CORRETA.

De acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

(D) INCORRETA.
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(E) INCORRETA. 48
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ORMAT
10. A.

(I) CORRETO. O item está correto, pois os três princípios elencados possuem berço
constitucional:

Art. 5º. Caput.

(...)

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

(II) CORRETO.

O item está correto, pois se trata de um conceito doutrinário aceito na comunidade


jurídica, não havendo nada a reparar.

(III) INCORRETO.
A assertiva começa correta quanto à submissão do Brasil ao Tribunal Penal
Internacional, mas termina incorreta quanto à impossibilidade absoluta de extradição
do brasileiro naturalizado. Confira:

Art. 5º. Caput.

(...)

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,


praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha


manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

(IV) INCORRETO.

O item confunde o candidato com o princípio da irretroatividade da lei penal. No caso


da lei processual, nos termos do art. 2º do CPP, não há que se falar em irretroatividade.
Perceba que esse dispositivo foi cobrado duas vezes na prova!

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.
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11. D. ORMAT
(A) INCORRETA. O princípio da identidade física do juiz está expresso no CPP:

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

(B) INCORRETA. O princípio da intervenção mínima (ou ultima ratio) é de Direito Penal,
e não de Direito Processual Penal.

(C) INCORRETA. O princípio do impulso oficial não está expresso no CPP, mas sim no CPC
(art. 2º). Em que pese possa haver discussão se esta previsão supre o enunciado,
entende-se que o princípio do in dubio pro reo está expresso no seguinte dispositivo:

Art. 5º, LVII, da CF - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;

(D) CORRETA. Os princípios da presunção de inocência e duração razoável do processo


têm expresso assento constitucional, conforme se confere a seguir:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração


do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Segundo a doutrina, o princípio da não autoacusação é implícito na CF quando esta


afirma que é direito do preso permanecer calado. É o mesmo caso do princípio da
paridade de armas, que também é implícito na CF e decorre do contraditório e da ampla
defesa. Confira:

Art. 5º. LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Art. 5º. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

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12. A. 50
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Entendemos que a referida questão deveria ter sido anulada, mas não foi. Seguem os ORMAT
comentários.

(A) CORRETA. A assertiva está extremamente mal formulada e incompreensível. A


norma que regulamenta a matéria de falta disciplina a matéria é a LEP (Lei nº 7.210/84).
Um dos pressupostos de validade deste procedimento é, realmente, a garantia de
defesa ao sentenciado. Mas não é a única hipótese que garante a sua higidez, uma vez
que, por exemplo, ainda que assistido por defesa técnica, se o procedimento for
conduzido com desvio de finalidade ele também poder ser invalidado. Além disso, esta
assertiva traz afirmação similar à letra “C”, o que leva a duas respostas corretas.

(B) INCORRETA. Outra assertiva com péssima redação, e que não deixa claro o qual
conhecimento se está querendo abordar do candidato. Se o sindicado tem defensor
constituído, ele não é o seu advogado? Não existe uma compreensão mínima para se
analisar a assertiva.

(C) INCORRETA. Incorreta, segundo o gabarito preliminar, mas, ao nosso ver, está
correta, devendo a questão ser anulada. Vejamos:

Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da


execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo
diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por
advogado constituído ou defensor público nomeado.
Vale lembrar que o entendimento da referida súmula foi relativizado pelo STF tão
apenas quanto à necessidade de instauração de PAD quando substituída por uma
audiência judicial, mas a Suprema Corte em nada alterou o entendimento quanto à
obrigatoriedade do respeito à ampla defesa.

(...) 2. A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação


realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de
prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual
ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de
falta grave durante o cumprimento da pena (RE 972.598/RS, Relator Min. ROBERTO
BARROSO Tema 941, Plenário, Sessão Virtual de 24/4/2020 a 30/4/2020).

3. Diante dessa nova orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, esta Corte tem
entendido que a Súmula n. 533 do STJ, que reputa obrigatória a prévia realização de
procedimento administrativo disciplinar para o reconhecimento de falta praticada pelo
condenado durante a execução penal, deve ser relativizada, sobretudo em casos nos
quais o reeducando pratica falta grave durante o cumprimento de pena extra muros,
ocasiões em que a realização de audiência de justificação em juízo, com a presença da
defesa técnica e do Parquet, é suficiente para a homologação da falta, não havendo que
se falar em prejuízo para o executado, visto que atendidas as exigências do contraditório
e da ampla defesa, assim como os princípios da celeridade e da instrumentalidade das
formas. Isso porque a sindicância realizada por meio do PAD somente se revelaria útil e
justificável para averiguar fatos vinculados à casa prisional, praticados no interior da PAGE \*
cadeia ou sujeitos ao conhecimento e à supervisão administrativa da autoridade 51
MERGEF
penitenciária.
ORMAT
Precedentes: HC 581.854/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, DJe de 19/6/2020; HC
585.769/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, DJe de 30/06/2020; HC 582.486/PR, Rel.
Ministro ROGÉRIO SCHIETTI, DJe de 28/05/2020; HC 577.233/PR, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma do STJ, unânime, julgado em
18/08/2020, DJe de 24/08/2020.

4. A relativização do verbete sumular n. 533/STJ não desprestigia o disposto nos arts.


47, 48 e 59 da LEP, pois, como se sabe, o executado que cumpre pena em regime aberto,
semiaberto harmonizado (com tornozeleira eletrônica ou em prisão domiciliar sem
tornozeleira) ou em livramento condicional deixa de se reportar à direção do presídio e
passa a se reportar diretamente ao Juízo de Execução Criminal, responsável pelo
estabelecimento e fiscalização das condições a serem observadas durante o
cumprimento da pena extra muros, não havendo como se afirmar que nessa etapa da
execução penal o executado remanesce sob o poder disciplinar da autoridade
administrativa penitenciária. (...)

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 579.647/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 08/09/2020.

(D) INCORRETA. Ver ITEM “C”.


13. E.

(A) INCORRETA. Art. 93, IX, da CF/88, dispõe que todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e
a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação

(B) INCORRETA. Art. 5º, LVIII, da CF/88 - o civilmente identificado não será submetido à
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.

(C) INCORRETA. Art. 5º, LXIV, da CF/88 - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;

(D) INCORRETA. Art. 5º, LXXVIII, da CF/88 - a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação.

(E) CORRETA. Art. 5º, LIII, da CF/88 - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

14. D PAGE \*
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(A) CORRETA.
ORMAT
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 14

3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, às seguintes


garantias mínimas:

(...)

c) a ser julgada sem dilações indevidas;

(B) CORRETA.

DECRETO No 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos


Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)

ARTIGO 8

Garantias Judiciais

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua
defesa;

(C) CORRETA.

Ver ITEM “B”.

(D) INCORRETA.

DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos


Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)

ARTIGO 8

Garantias Judiciais

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

(E) INCORRETA.
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DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 - Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
53
MERGEF

ARTIGO 8 ORMAT

Garantias Judiciais

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presente no tribunal e de obter o


comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar
luz sobre os fatos.

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