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CONCURSO DE CRIMES -

CONCURSO DE CRIMES
2a EDIÇÃO/2023

1. CONCEITO 2

2. SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO DE CRIMES 2

3. CONCURSO MATERIAL 3
3.1. PREVISÃO LEGAL 3
3.2. REQUISITOS 3
3.3. REGRA DE FIXAÇÃO DE PENA 3
3.4. MOMENTO PARA A SOMA DAS PENAS 4

4. CONCURSO FORMAL 4
4.1. CONCEITO E PREVISÃO LEGAL 4
4.2. REQUISITOS 5
4.3. ESPÉCIES 5
4.4. APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO FORMAL PRÓPRIO 8
4.5. APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO 8
4.6. TEORIAS SOBRE O CONCURSO FORMAL 9

5. CRIME CONTINUADO 9
5.1. CONCEITO E PREVISÃO LEGAL 9
5.2. NATUREZA JURÍDICA 10
a) TEORIA DA UNIDADE REAL 10
5.3. MODALIDADES 10
5.4. GENÉRICO OU COMUM - ART. 71, CAPUT 11
5.4.1. REQUISITOS 11
5.5. TEORIAS SOBRE A PLURALIDADE DE DESÍGNIOS 13
5.5.1. TEORIA OBJETIVA PURA OU PURAMENTE OBJETIVA 13
5.5.2. TEORIA MISTA OU OBJETIVO-SUBJETIVA 13
5.6. ESPÉCIES DE CRIME CONTINUADO 15
5.7. FIXAÇÃO DA PENA 16
5.8. CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO (Art. 71, § único): 17
5.8.1. REQUISITOS 17
5.8.2. FIXAÇÃO DA PENA 17
5.9. QUESTÕES COMPLEMENTARES 18
5.9.1. CONTINUIDADE NOS CRIMES CONTRA A VIDA 18
5.9.2. SUCESSÃO DAS LEIS PENAIS NA CONTINUIDADE DELITIVA 18
5.9.3. CRIME CONTINUADO E CONCURSO MATERIAL BENÉFICO 18
5.9.4. DIFERENÇA ENTRE CRIME HABITUAL E CRIME CONTINUADO 19
5.9.5. CONCURSO DE CRIMES E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 19
5.9.6. MULTA NO CONCURSO DE CRIMES 20

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1. CONCEITO

Dá-se o concurso quando agente, com uma ou mais condutas, realiza pluralidade de crimes. É

chamado também de concurso real.

📌 OBSERVAÇÃO
■ No concurso de crimes, pode haver unidade ou pluralidade de condutas, mas sempre haverá a

pluralidade de crimes.

■ Podemos ter concurso de crimes de qualquer espécie e até mesmo entre crimes e contravenções.

Temos 3 espécies de concurso:

▸Material (art. 69, CP);

▸Formal (art. 70, CP);

▸Continuidade delitiva (Art. 71, CP).

2. SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO DE CRIMES1

a) SISTEMA DO CÚMULO MATERIAL: “o juiz individualiza a pena de cada um dos crimes praticados pelo

agente e as soma no final. Adotamos o cúmulo material no concurso material (art. 69, CP), no concurso formal

impróprio (art. 70, caput, 2ª parte, CP) e no concurso das penas de multa (art. 72, CP)”.

b) SISTEMA DA EXASPERAÇÃO: “o juiz aplica a pena mais grave dentre as cominadas para os vários

crimes praticados pelo agente. Em seguida, majora essa pena de um quantum anunciado em lei. Adotamos o

sistema da exasperação no concurso formal próprio (art. 70, caput, 1ª parte, do CP) e na continuidade delitiva

(art. 71, CP)”;

c) SISTEMA DA ABSORÇÃO: “pelo sistema da absorção, a pena aplicada ao delito mais grave acaba por

absorver as demais, que deixam de ser aplicadas. Não é adotado em nosso ordenamento jurídico”.

https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/09/24/sao-dois-os-sistemas-utilizados-para-aplicacao-da-pena-no-concurso-de-delitos-o-cumulo-
material-e-o-da-absorcao/
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3. CONCURSO MATERIAL

3.1. PREVISÃO LEGAL


É a regra geral.

Nos termos do art. 69:

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos

ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de

aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. SISTEMA DO CÚMULO

MATERIAL

3.2. REQUISITOS
Temos os seguintes requisitos:

a) Pluralidade de condutas;

b) Pluralidade de crimes;

Esses vários crimes podem ser idênticos, ou seja, uma pluralidade de crimes da mesma espécie

(concurso homogêneo) ou não (concurso heterogêneo – crimes de espécies distintas).

3.3. REGRA DE FIXAÇÃO DE PENA


O juiz aplicará a pena de cada crime (sistema trifásico) e as somará ao final. Observa-se, portanto, o

sistema do cúmulo material, ou seja, todas as penas de todos os crimes praticados pelo agente são somadas

pelo juiz.

No caso de termos uma pena de reclusão e outra de detenção, executa-se primeiro a de reclusão.

Nos termos do art. 69, §1º:

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não

suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste

Código.

Assim, de acordo com o que se extrai do art. 69, § 1°, do CP, há a possibilidade de acumular, na

aplicação das penas em concurso material de crimes, uma pena privativa de liberdade em que tenha sido

concedido o sursis com uma restritiva de direitos (CUNHA, 2020, p. 625).

É necessário verificar se há compatibilidade entre a pena privativa de liberdade com a pena restritiva

de direitos, pois outras modalidades foram criadas a partir dessa lei. (Exemplo: a pena privativa de liberdade é

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compatível com a pena de perda de bens e valores ou com a prestação pecuniária.). Assim sendo, o art. 69, §1º

do CP deve ser interpretado com um olhar diferenciado, compatibilizando a essência do dispositivo com as

penas criadas após a redação do artigo, ou seja, com a pena de perda de bens e valores e com a prestação

pecuniária.

Dispõe o §2º:

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que

forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

No caso de cumprimento de duas ou mais penas restritivas de direitos:

■ se elas forem compatíveis entre si: poderão ser cumpridas simultaneamente (exemplo: prestação de

serviços à comunidade aos sábados e prestação pecuniária).

■ se elas forem incompatíveis entre si: serão cumpridas sucessivamente (exemplo: prestação de

serviços à comunidade realizada no sábado e a pena de limitação de fim de semana).

3.4. MOMENTO PARA A SOMA DAS PENAS


■ Se houver conexão entre os crimes com a respectiva unidade processual: a soma das penas

será efetuada pelo juiz (na sentença condenatória) ou pelo tribunal (no acórdão condenatório).

■ Se não houver conexão: não haverá unidade processual.

■ Crimes objetos de ações penais diversas: juízo da execução efetuará a soma.

🚨JÁ CAIU
Sobre concurso de crimes, no concurso para Juiz de Direito do Acre (Ano: 2019; VUNESP), foi considerada

correta a seguinte assertiva: “Considerada a hipótese de reconhecimento probatório de um agente ter

praticado um roubo com emprego de arma de fogo contra duas vítimas que caminhavam na rua e,

posteriormente, passados três meses do crime anteriormente noticiado, em cidade diversa daquela onde

ocorrera o crime anterior, veio a praticar roubo simples contra vítima diversa da anterior, a fixação da pena

deverá observar o concurso formal pela primeira conduta e concurso material entre esta e a segunda.”

4. CONCURSO FORMAL

4.1. CONCEITO E PREVISÃO LEGAL


O concurso formal é a espécie de concurso de crimes, prevista no art. 70 do CP, que se verifica

quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não.
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Art. 70 - CONCURSO FORMAL PRÓPRIO - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica

dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,

somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um 1/6 até 1/2. SISTEMA DA EXASPERAÇÃO.

🚨JÁ CAIU
Na prova para Delegado de Polícia Civil do Estado do Pará (Ano: 2021; Instituto AOCP) e de forma , foi

considerada incorreta a seguinte assertiva: Em relação ao concurso formal próprio, o Código Penal adotou o

sistema da exasperação, aplicando-se a pena de qualquer dos crimes, se idênticos, ou então a mais grave,

aumentada, em qualquer caso, de um sexto até dois terços.

📌 OBSERVAÇÃO
O dolo pode ser tanto genérico quanto específico.

🚨JÁ CAIU
Sobre a (in)exigência de dolo específico, na prova para Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (Ano:

2019; Consulplan), foi considerada incorreta a seguinte assertiva: Para a configuração do concurso formal de

delitos (art. 70 do CP), e a aplicação da pena com a causa de aumento correspondente, a conduta realizada não

pode ser praticada na forma de “dolo específico”, sendo portanto admissível somente o “dolo genérico”.

CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO - As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a AÇÃO OU

OMISSÃO É DOLOSA e os CRIMES CONCORRENTES RESULTAM DE DESÍGNIOS AUTÔNOMOS, consoante o

disposto no artigo anterior. SISTEMA DO CÚMULO MATERIAL.

4.2. REQUISITOS
Os requisitos são:

a) Unidade de conduta (que pode ser dividida em vários atos);

b) Pluralidade de crime.

4.3. ESPÉCIES
Temos as seguintes espécies:

a) HOMOGÊNEO: os crimes decorrentes da conduta única são da mesma espécie;

b) HETEROGÊNEO: os crimes são de espécies distintas;

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c) PRÓPRIO OU PERFEITO OU NORMAL: O agente, apesar de provocar dois ou mais resultados, não

tem intenção independente em relação a cada crime (não há desígnios autônomos). O concurso formal

próprio ou perfeito ocorrerá:

⬥ Entre um crime doloso e outro crime culposo; ou

⬥ Entre crimes culposos (exemplo: cometimento de três homicídios culposos na direção de veículo

automotor).

d) CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO OU IMPERFEITO OU ANORMAL: O agente age com desígnios

autônomos em relação a cada crime (soma-se as penas).

🚩 NÃO CONFUNDA 2

PERFEITO (NORMAL, PRÓPRIO) IMPERFEITO (ANORMAL, IMPRÓPRIO)

O agente produziu dois ou mais resultados Quando o agente, com uma única conduta, pratica

criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá-los dois ou mais crimes dolosos, tendo o desígnio de

de forma autônoma. praticar cada um deles (desígnios autônomos).

Ex1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ocorre Ex1: Jack quer matar Bill e Paul, seus inimigos. Para

que, por culpa, atinge também Pedro, causando-lhe tanto, Jack instala uma bomba no carro utilizado

lesões corporais. João não tinha o desígnio de ferir pelos dois, causando a morte de ambos. Jack matou

Pedro. dois coelhos com uma cajadada só.

Ex2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Não Ex2: Rambo vê seu inimigo andando de mãos dadas

havia o desígnio autônomo de praticar os diversos com a namorada. Rambo pega seu fuzil e resolve

homicídios. atirar em seu inimigo. Alguém alerta Rambo: “não

atire agora, você poderá acertar também a namorada”,

mas Rambo responde: “eu só quero matá-lo, mas se

pegar nela também tanto faz. Não estou nem aí”.

Rambo, então, desfere um único tiro que perfura o

corpo do inimigo e acerta também a namorada.

Ambos morrem.

Pode ocorrer em duas situações: Ocorre, portanto, quando o sujeito age com dolo em

· DOLO + CULPA: quando o agente tinha dolo de relação a todos os crimes produzidos.

praticar um crime e os demais delitos foram

praticados por culpa (exemplo 1);

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· CULPA + CULPA: quando o agente não tinha a Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:

intenção de praticar nenhum dos delitos, tendo · Dolo direto + dolo direto (exemplo 1);
todos eles ocorrido por culpa (exemplo 2). · Dolo direto + dolo eventual (exemplo 2).

Fixação da pena: Fixação da pena

Regra geral: exasperação da pena: No caso de concurso formal imperfeito, as penas dos

· Aplica-se a maior das penas, aumentada de 1/6 diversos crimes são sempre SOMADAS. Isso porque o

até 1/2. sujeito agiu com desígnios aut

· Para aumentar mais ou menos, o juiz leva em

consideração a quantidade de crimes.

Exceção: concurso material benéfico

O montante da pena para o concurso formal não

pode ser maior do que a que seria aplicada se fosse

feito o concurso material de crimes (ou seja, se

fossem somados todos os crimes).

É o caso do exemplo 1, que demos acima, sobre

João. A pena mínima para o homicídio simples de

Maria é 6 anos. A pena mínima para a lesão corporal

culposa de Pedro é 2 meses.

Se fôssemos aplicar a pena do homicídio aumentada

de 1/6, totalizaria 7 anos.

Se fôssemos somar as penas do homicídio com a

lesão corporal, daria 6 anos e 2 meses.

Logo, nesse caso, é mais benéfico para o réu aplicar

a regra do concurso material (que é a soma das

penas). É o que a lei determina que se faça (art. 70,

parágrafo único, do CP) porque o concurso formal foi

idealizado para ajudar o réu.

O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais infrações penais mediante

uma única ação ou omissão. O concurso formal imperfeito, por sua vez, revela-se quando a conduta única

(ação ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos. Essa distinção entre

os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a

sua conduta. A expressão "desígnios autônomos" refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto ou

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eventual. A morte da mãe e da criança que estava em seu ventre, oriundas de uma só conduta (facadas na

nuca da mãe), resultaram de desígnios autônomos. Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas

cumulativamente, conforme a regra do concurso material. STJ. 6ª Turma. HC 191490-RJ, Rel. Min. Sebastião

Reis Júnior, julgado em 27/9/20123.

4.4. APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO FORMAL PRÓPRIO


O juiz aplicará a pena mais grave dentre as cominadas para os vários crimes (sendo idêntica, aplica-se

uma). Em seguida, majora essa pena de um quantum que é estabelecido pela lei (sistema da exasperação).

📌 OBSERVAÇÕES
■ O aumento de 1/6 até ½ varia conforme o número de infrações. Incide na terceira fase de aplicação

da pena.

Jurisprudência em teses Ed. 23 - Concurso Formal

4) O aumento decorrente do concurso formal deve se dar de acordo com o número de infrações.

🚨JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito do Estado de Goiás (Ano: 2021; FCC), a banca considerou incorreta a seguinte

assertiva: o acréscimo na pena privativa de liberdade pelo concurso formal impróprio, incidente na terceira

etapa, deve considerar o número de vítimas. [errado, pois seria infrações]

■ O sistema da exasperação não pode resultar numa pena maior do que o resultado da soma das

penas, ou seja, uma pena maior do que aquela que seria aplicada no cúmulo material.

Conforme o art. 70, §único (CÚMULO MATERIAL BENÉFICO):

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.

4.5. APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO


Aqui o agente atua com desígnios autônomos, o agente atua com dolo no tocante a todos os

crimes, e por isso o juiz deverá aplicar o sistema do cúmulo material, ou seja, o juiz irá individualizar as penas

e somá-las.

Jurisprudência em teses Ed. 23 - Concurso Formal

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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Concurso formal e desígnios autônomos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4588e674d3f0faf985047d4c3f13ed0d>. Acesso em: 19/06/2022
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1) O roubo praticado contra vítimas diferentes em um único contexto configura o concurso formal

e não crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos ofendidos.

Jurisprudência em teses Ed. 23 - Concurso Formal

2) A distinção entre o concurso formal próprio e o impróprio relaciona-se com o elemento

subjetivo do agente, ou seja, a existência ou não de desígnios autônomos.

🚨JÁ CAIU
Na prova para Delegado de Polícia Civil da Paraíba (Ano: 2022; CEBRASPE), foi considerada correta a seguinte

assertiva: O roubo perpetrado contra diversas vítimas em um único evento, estando comprovados os desígnios

autônomos do autor do fato, configura concurso formal impróprio.

4.6. TEORIAS SOBRE O CONCURSO FORMAL


a) SUBJETIVA: o concurso formal depende de uma unidade de desígnios na conduta do agente para

configuração do concurso formal.

b) OBJETIVA: admite-se os desígnios autônomos, ou seja, basta a unidade de conduta e a pluralidade

de resultados para caracterização do concurso formal. Pouco importa se o agente agiu ou não com unidade de

desígnios. Esta foi a teoria adotada pelo Código Penal, uma vez que o art. 70, caput, 2ª parte, admite concurso

formal imperfeito, em que despontam os desígnios autônomos.

5. CRIME CONTINUADO

5.1. CONCEITO E PREVISÃO LEGAL


Conforme o art. 71:

Art. 71 - CRIME CONTINUADO GENÉRICO - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,

pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução

e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a

pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de

um 1/6 a 2/3. SISTEMA DA EXASPERAÇÃO.

Verifica-se a continuidade delitiva (ou crime continuado), estampada no art. 71 do CP, quando o

sujeito, mediante pluralidade de condutas, realiza uma série de crimes da mesma espécie, guardando entre si

um elo de continuidade (em especial, as mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução). (...) o

instituto está baseado em razões de política criminal. O juiz, ao invés de aplicar as penas correspondentes aos

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vários delitos praticados em continuidade, por ficção jurídica, para fins da pena, considera como se um só crime

foi praticado pelo agente, devendo ter a sua reprimenda majorada. (CUNHA, 2020, p. 630-631).

Trata-se de um instituto que nasceu para beneficiar o agente.

O crime continuado é uma espécie de concurso de crimes e é causa de aumento da pena (incide na 3ª

fase da dosimetria da pena)

📌 OBSERVAÇÃO
Crime continuado e prescrição:

Jurisprudência em teses Ed. 17 - Crime continuado - I

6) Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença,
não se computando o acréscimo decorrente da continuação. (Súmula n. 497/STF)

5.2. NATUREZA JURÍDICA4


a) TEORIA DA UNIDADE REAL

Afirma que todas as condutas praticadas que, por si sós, já se constituiriam em infrações penais, são

um único crime. Segundo essa teoria, para todos os efeitos, Carlos praticou apenas um único furto.

b) TEORIA DA FICÇÃO JURÍDICA (Adotada no Brasil)

Sustenta que cada uma das condutas praticadas constitui-se em uma infração penal diferente. No

entanto, por ficção jurídica, esses diversos crimes são considerados, pela lei, como crime único. Segundo essa

teoria, Carlos praticou dez furtos, entretanto, considera-se, fictíciamente, para fins de pena, que ele cometeu

apenas um.

c) TEORIA MISTA

Defende que, se houver crime continuado, surge um terceiro crime, resultado do próprio concurso.

Segundo essa teoria, Carlos praticou uma nova categoria de crime, chamada de furto por continuidade delitiva.

5.3. MODALIDADES
Temos as seguintes modalidades: genérico e específico.

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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inexistência de continuidade delitiva entre roubo e extorsão. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dc363817786ff182b7bc59565d864523>. Acesso em: 19/06/2022
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5.4. GENÉRICO OU COMUM - ART. 71, CAPUT

5.4.1. REQUISITOS
a) Pluralidade de condutas;

b) Pluralidade de crimes da MESMA ESPÉCIE: crimes previstos no mesmo tipo penal e que protegem

o mesmo bem jurídico. Assim, por exemplo, não é possível a continuidade entre roubo e extorsão, pois

protegem o mesmo bem, mas estão em tipos diferentes. Da mesma forma, o roubo e o latrocínio (mesmo tipo,

mas diferentes bens).

1ª Corrente (minoritária): crimes da mesma espécie são os que apresentam características comuns

entre si. Para essa corrente, pouco importa se os crimes estão ou não no mesmo tipo penal (exemplos: roubo e

extorsão; furto mediante fraude e estelionato; apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição

previdenciária). Essa posição é boa para ser usada em concursos da Defensoria Pública.

2ª Corrente: crimes da mesma espécie são os que se encontram no mesmo tipo penal e que possuem

a mesma estrutura jurídica, ou seja, eles devem ofender os mesmos bens jurídicos. Esta posição é majoritária

no STF e no STJ (STF - RHC 91.552 e STJ – HC 240.630).

Ementa - EMENTAS: 1. PENA. Criminal. Prisão. Fixação. Dosimetria. Exacerbação da pena-base. Exigência do

art. 59 do CP. Atendimento. Fundamentação suficiente. Nulidade. Inexistência. Não carece de fundamentação

idônea a sentença penal condenatória que fixa a pena-base acima do mínimo legal, se os elementos

determinantes da majoração se encontram devidamente indicados. 2. AÇÃO PENAL. Delitos de roubo

qualificado e de latrocínio. Crime continuado. Reconhecimento. Inadmissibilidade. Tipos de objetividades

jurídicas distintas. Inexistência da correlação representada pela lesão do mesmo bem jurídico. Crimes de

espécies diferentes. HC denegado. Inaplicabilidade do art. 71 do CP. Recurso em habeas corpus a que se nega

provimento. Não pode reputar-se crime continuado a prática dos delitos de roubo e de latrocínio.

1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e ambas as Turmas desta Corte, após evolução

jurisprudencial, passaram a não mais admitir a impetração de habeas corpus em substituição ao recurso

ordinário constitucional, nas hipóteses em que esse último é cabível, em razão das competências do Pretório

Excelso e deste Superior Tribunal tratarem-se de matéria de direito estrito, previstas taxativamente na

Constituição da República. 2. Esse entendimento tem sido adotado pela Quinta Turma do Superior Tribunal de

Justiça – com ressalva da posição pessoal da Relatora –, também nos casos de manejo do habeas corpus em

substituição ao recurso especial, sem prejuízo de, eventualmente, deferir-se a ordem de ofício, em caso de

flagrante ilegalidade. 3. Os crimes de roubo e latrocínio, pelos quais o Paciente foi condenado, apesar de

serem do mesmo gênero, não são da mesma espécie. No crime de roubo, a conduta do agente ofende o

patrimônio. No delito de latrocínio, ocorre lesão ao patrimônio e à vida da vítima, não havendo

homogeneidade de execução na prática dos dois delitos, razão pela qual tem aplicabilidade a regra do

concurso material. Precedentes. 4. Ausência de patente constrangimento ilegal que, eventualmente, imponha

a concessão de ordem ex officio . 5. Ordem de habeas corpus não conhecida.

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Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que praticados em conjunto. Isso

porque, os referidos crimes, apesar de serem da mesma natureza, são de espécies diversas. STJ. 5ª

Turma. HC 435.792/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/05/2018. STF. 1ª Turma. HC 114667/SP, rel. org.

Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/4/2018 (Info 899).

Não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e o de latrocínio porquanto são

delitos de espécies diversas, já que tutelam bens jurídicos diferentes. STJ. 5ª Turma. AgInt no AREsp

908.786/PB, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 06/12/2016.

⚠️ ATENÇÃO
O STJ já admitiu a continuidade para crimes que estão em crimes distintos. A jurisprudência ainda está

se sedimentando.

c) Elo de continuidade: O elo se dá com os seguintes requisitos:

✔ mesma condição de tempo (conexão temporal): Em regra, não pode ultrapassar o prazo de 30

dias entre o primeiro e o último crime parcelar. Contudo, há jurisprudência admitindo exceções (a exemplo de

crimes tributários).

✔ mesma condição de lugar (conexão espacial): Mesma comarca ou comarca vizinha

✔ mesma maneira de execução (conexão modal);

✔ outras circunstâncias semelhantes.

Jurisprudência em teses Ed. 17 - Crime continuado - I

3) A continuidade delitiva pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos ocorridos em


comarcas limítrofes ou próximas.

d) Unidade de desígnios.

⚠️ ATENÇÃO
O código penal se contenta com esses requisitos objetivos, mas a jurisprudência vem exigindo o dolo

global ou unitário, ou seja, os vários crimes devem decorrer de um plano anterior do agente. Se não houver,

teremos habitualidade criminosa e não continuidade delitiva.

Jurisprudência em teses Ed. 17 - Crime continuado - I

5) Não há crime continuado quando configurada habitualidade delitiva ou reiteração criminosa.

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5.5. TEORIAS SOBRE A PLURALIDADE DE DESÍGNIOS
Temos duas teorias que explicam a necessidade ou não da pluralidade de desígnios.

5.5.1. TEORIA OBJETIVA PURA OU PURAMENTE OBJETIVA


Para essa teoria, a caracterização do crime continuado não depende da pluralidade de desígnios.

Para a caracterização do crime continuado, basta a presença dos requisitos objetivos expressamente indicados

pelo art. 71, CP. Essa teoria é indicada na Exposição de Motivos do Código Penal (item 59).

Exposição de motivos, item 59: “O critério da teoria puramente objetiva não se revelou na prática maiores

inconvenientes, a despeito das objeções formuladas pelos partidários da teoria objetivo-subjetiva. O projeto

optou pelo critério que mais adequadamente se opõe ao crescimento da criminalidade profissional,

organizada e violenta, cujas ações se repetem contra vítimas diferentes, em condições de tempo, lugar, modos

de execução e circunstâncias outras, marcadas por evidente semelhança. Estender-lhe o conceito de crime

continuado importa em beneficiá-la, pois o delinqüente profissional tornar-se-ia passível de tratamento penal

menos grave que o dispensado a criminosos ocasionais. De resto, com a extinção, no Projeto, da medida de

segurança para o imputável, urge reforçar o sistema, destinado penas mais lingas aos que estariam sujeitos à

imposição de medida de segurança detentiva e que serão beneficiados pela abolição da medida. A Política

Criminal atua, neste passo, em sentido inverso, a fim de evitar a libertação prematura de determinadas

categorias de agentes, dotados de acentuada periculosidade”

🚨JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito do Estado de São Paulo (Ano: 2018, VUNESP) a banca considerou correta a

seguinte assertiva: Segundo a Exposição de Motivos da Parte Geral, o Código Penal, quanto ao tempo e ao lugar

do crime, ao concurso de pessoas e ao crime continuado, adotou, respectivamente, as seguintes teorias :

Atividade, Ubiquidade, Monística e Objetiva.

5.5.2. TEORIA MISTA OU OBJETIVO-SUBJETIVA


Essa teoria afirma que, além dos requisitos objetivos, a caracterização do crime continuado também

exige a unidade de desígnios. Essa posição é adotada pelo STF e pelo STJ (Exemplos: STF – HC 109.730,

publicado no Informativo 682; e STJ – RHC 43.601).

Se o agente praticou reiteradamente crimes contra o patrimônio, isso indica uma delinquência

habitual ou profissional, o que impossibilita o reconhecimento de continuidade delitiva.Para o STF, quando há

uma habitualidade criminosa não é possível reconhecer o crime continuado. A habitualidade criminosa ocorre

quando o sujeito faz do crime um estilo de vida.

1. Este Superior Tribunal de Justiça vem adotando a teoria mista, segundo a qual, para a caracterização da

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continuidade delitiva, afigura-se imprescindível o preenchimento de requisitos de ordem objetiva (mesmas

condições de tempo, lugar e forma de execução) e subjetiva (unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre

os eventos). 2. Maiores incursões no tema, com a finalidade de constatar eventual unidade de desígnios ou a

presença dos demais requisitos do instituto, demandaria incursão aprofundada no exame das provas,

incabível na estreita via do habeas corpus . 3. Recurso a que se nega provimento.

O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de que para caracterizar a continuidade delitiva

é necessária a demonstração da unidade de desígnios, ou seja, o liame volitivo que liga uma conduta a outra,

não bastando, portanto, o preenchimento dos requisitos objetivos (mesmas condições de tempo, espaço e

modus operandi). 2. No caso, observa-se que o Tribunal a quo, ao aplicar a regra do art. 71 do Código Penal,

adotou a teoria puramente objetiva, deixando de valorar os aspectos subjetivos. (...) (REsp 421.246/SP, Rel.

Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 15/12/2009)

Jurisprudência em teses Ed. 17 - Crime continuado - I

1) Para a caracterização da continuidade delitiva é imprescindível o preenchimento de requisitos

de ordem objetiva - mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução - e de ordem

subjetiva - unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos (Teoria Mista ou

Objetivo-subjetiva).

Essa teoria se propõe a diferenciar o crime continuado da habitualidade criminosa. Crime

continuado é um benefício legal, é uma ficção jurídica criada para favorecer o réu. Habitualidade criminosa é a

situação daquele que faz da prática de crimes o seu meio de vida.

🚨JÁ CAIU
Sobre a teoria objetiva, na prova para Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (Ano: 2019; MPE-SC) a

banca considerou incorreta a seguinte assertiva: O art. 71 do CP adotou a teoria objetiva na definição do crime

continuado. Por este motivo, a jurisprudência dominante no STF e STJ não exige a configuração de eventuais

vínculos subjetivos entre as condutas realizadas pelo agente.

📌 OBSERVAÇÃO
Crimes parcelares são os diversos crimes da mesma espécie que compõem o crime continuado, ou

seja, que integram a continuidade delitiva.

Jurisprudência em teses Ed. 17 - Crime continuado - I

2) A continuidade delitiva, em regra, não pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos
praticados em período superior a 30 (trinta) dias.

14
5.6. ESPÉCIES DE CRIME CONTINUADO
a) SIMPLES: crime continuado simples ocorre quando os diversos crimes da mesma espécie têm

penas idênticas. O juiz pega a pena de qualquer um dos crimes.

b) QUALIFICADO: crime continuado qualificado ocorre quando os diversos crimes da mesma espécie

têm penas diversas. Como os crimes possuem penas diversas, o juiz, ao aplicar a pena, deve pegar a pena mais

grave e aumentá-la de 1/6 até 2/3.

c) ESPECÍFICO: Ocorre no caso de: • crimes dolosos • cometidos com violência ou grave ameaça à

pessoa • contra vítimas diferentes.

🚩 NÃO CONFUNDA 5

SIMPLES (OU COMUM) QUALIFICADO ESPECÍFICO

Ocorre quando o agente pratica Ocorre quando o agente pratica Ocorre no caso de:

dois ou mais crimes que possuem dois ou mais crimes que possuem • crimes dolosos
a mesma pena. penas diferentes. • cometidos com violência ou

grave ameaça à pessoa

• contra vítimas diferentes

Ex: três furtos simples Ex: dois furtos simples Ex: José segue duas mulheres que

consumados; dois furtos consumados e um tentado; um caminhavam juntas e pratica

qualificados tentados. furto qualificado consumado e um estupro consumado contra uma e

tentado. estupro tentado contra a outra.

Como se calcula a pena: Como se calcula a pena: Como se calcula a pena:

aplica-se a pena de um só dos aplica-se a pena do crime mais aplica-se a pena de um só dos

crimes, exasperada (aumentada) grave, exasperada (aumentada) de crimes, se idênticas, ou a mais

de 1/6 a 2/3. 1/6 a 2/3. grave, se diversas, e aumenta até o

triplo (3x).

📌 OBSERVAÇÃO: apesar de não


haver previsão legal, a

jurisprudência entende que o

aumento mínimo é de 1/6.

5
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de estupro de vulnerável com violência presumida praticado contra vítimas diferentes, a continuidade
delitiva é simples (e não específica). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d324a0cc02881779dcda44a675fdcaaa>. Acesso em: 19/06/2022
15
O critério para o aumento é O critério para o aumento é A exacerbação da pena deverá se

exclusivamente o número de exclusivamente o número de nortear por critérios objetivos

crimes praticados: crimes praticados: (número de infrações praticadas) e

2 crimes – aumenta 1/6 2 crimes – aumenta 1/6 subjetivos (culpabilidade,

3 crimes – aumenta 1/5 3 crimes – aumenta 1/5 antecedentes, conduta social,

personalidade do agente, motivos


4 crimes – aumenta 1/4 4 crimes – aumenta 1/4
e circunstâncias do crime). (STJ. 5ª
5 crimes – aumenta 1/3 5 crimes – aumenta 1/3
Turma. HC 305.233/SP, Rel. Min.
6 crimes – aumenta 1/2 6 crimes – aumenta 1/2
Felix Fischer, julgado em
7 ou mais – aumenta 2/3 7 ou mais – aumenta 2/3
27/10/2015)

Aplica-se o concurso material em caso de estupro de vulnerável com violência presumida praticado

contra vítimas diferentes?5

A jurisprudência do STJ entende que, nas hipóteses de estupro praticado com violência presumida, não

incide a regra do concurso material nem da continuidade delitiva específica. Neste caso, deverá ser aplicada a

continuidade delitiva simples (art. 71, caput, do CP), desde que estejam preenchidos, cumulativamente, os

requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e

o de ordem subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo havido entre os

eventos delituosos. STJ. 6ª Turma. REsp 1602771/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/10/2017.

5.7. FIXAÇÃO DA PENA


O juiz aplicará o aumento de 1/6 a 2/3, a depender da quantidade de crimes.

• Crime continuado do caput do art. 71 do CP: o critério para se determinar o quantum da majoração (entre

1/6 a 2/3) é apenas a quantidade de delitos cometidos. Assim, quanto mais infrações, maior deve ser o

aumento.

• Crime continuado específico (art. 71, parágrafo único, do CP): a fração de aumento será determinada

pela quantidade de crimes praticados e também pela análise das circunstâncias judicias do art. 59 do Código

Penal. STJ. 5ª Turma. REsp 1718212/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/04/20186.

Continuidade delitiva em crime sexual:

Constatando-se a ocorrência de diversos crimes sexuais durante longo período de tempo, é possível o

aumento da pena pela continuidade delitiva no patamar máximo de 2/3 (art. 71 do CP), ainda que sem a

6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Critério para aumento da pena no crime continuado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/55a0ce8200cf39c3028ebc66f356bf7e>. Acesso em: 19/06/2022
16
quantificação exata do número de eventos criminosos. STJ. 5ª Turma. HC 311.146-SP, Rel. Min. Newton Trisotto

(Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 17/3/2015 (Info 559)

5.8. CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO (Art. 71, § único):


Conforme o art. 71, §único:

Parágrafo único – CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO - Nos CRIMES DOLOSOS, contra VÍTIMAS DIFERENTES,

COMETIDOS COM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os

antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,

aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,

observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

Ele envolve crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à

pessoa.

5.8.1. REQUISITOS
São requisitos:

a) Pluralidade de condutas;

b) Pluralidade de crimes da MESMA ESPÉCIE;

c) Elo de continuidade;

d) Crimes dolosos;

e) Contra vítimas diferentes;

f) Cometidos com violência ou grave ameaça.

Além dos requisitos relativos ao art. 71, caput, CP, o crime continuado específico também exige outros

requisitos do art. 71, § único: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos e

circunstâncias do crime.

5.8.2. FIXAÇÃO DA PENA


O juiz aplicará o sistema da exasperação (1/6 a 3X), mas devendo observar o cúmulo material benéfico

(art. 70, §único).

17
5.9. QUESTÕES COMPLEMENTARES

5.9.1. CONTINUIDADE NOS CRIMES CONTRA A VIDA


A súmula 605 do STF diz que não cabe continuidade delitiva em crimes contra a vida. Todavia, essa

súmula está superada, pois ainda não existia o crime continuado específico quando da elaboração da súmula.

5.9.2. SUCESSÃO DAS LEIS PENAIS NA CONTINUIDADE DELITIVA


Tal controvérsia é resolvida pela súmula 711 do STF:

A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à

cessação da continuidade ou da permanência.

🚨JÁ CAIU
Na prova para Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul (Ano: 2022; CEBRASPE) foi considerada correta

a seguinte assertiva: Ao crime continuado e ao crime permanente é aplicada a lei penal mais grave caso a sua

vigência seja anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Atenção ao art. 119 do CP:

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,

isoladamente.

Além disso, conforme a súmula 723 do STF:

Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da

infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

5.9.3. CRIME CONTINUADO E CONCURSO MATERIAL BENÉFICO


O crime continuado serve para beneficiar o réu (assim como o concurso formal próprio ou perfeito).

Entretanto, se, no caso concreto, o crime continuado for prejudicial ao réu, o juiz deverá desprezar o

sistema da exasperação e aplicar o sistema do cúmulo material. Assim sendo, no crime continuado,

também pode ficar caracterizado o concurso material benéfico.

🚨JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito do Estado do Mato Grosso (Ano: 2018; VUNESP) foi considerada correta a seguinte

18
assertiva: Entende-se por “concurso material benéfico” a regra estabelecida em lei pela qual a pena aplicada

pelo concurso formal não poderá superar a pena aplicada pelo concurso material.

5.9.4. DIFERENÇA ENTRE CRIME HABITUAL E CRIME CONTINUADO


Tanto o crime continuado quanto o crime habitual são compostos de vários atos (repetição de atos).

No crime habitual, todos os atos somam um único crime. No crime habitual, cada ato isolado é irrelevante para

o Direito Penal. No crime continuado, um único crime, por si só, possui relevância para o direito penal. Exemplo:

“A” pratica um único furto. A conduta de “A” é criminosa e possui relevância para o direito penal. Se “A” praticar

vários furtos sequenciais, isso poderá constituir o crime continuado. O crime continuado é composto de vários

delitos autônomos que, por uma ficção jurídica, são tidos como único crime para fins de aplicação da pena.

5.9.5. CONCURSO DE CRIMES E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO


A suspensão condicional do processo se encontra prevista no art. 89 da Lei 9.099/95, sendo cabível

para crimes em que a pena mínima cominada seja de até um ano. No caso de concurso de crimes, o total das

penas mínimas, globalmente consideradas, não poderá ultrapassar 1 ano:

Súmula 723 do STF: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da

pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de 1/6 for superior a 1 ano.

Por ocasião do crime continuado, considera-se a pena mínima e considera-se o menor aumento do

crime continuado (1/6). Se a somatória da pena e seu aumento não ultrapassar 1 ano, cabe a suspensão

condicional do processo. Do contrário, a suspensão condicional do processo não será cabível.

O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao concurso formal, ou seja, considera-se a pena mínima e o

menor aumento (1/6). Se a somatória da pena não ultrapassar 1 ano, caberá a suspensão condicional do

processo.

Em relação ao concurso material, somam-se as penas mínimas de cada um dos crimes. Exemplo:

foram cometidos dois crimes e, neste caso, considera-se a pena mínima do crime 1 e a pena mínima do crime 2,

as quais serão somadas. Se a somatória da pena não ultrapassar 1 ano, caberá a suspensão condicional do

processo.

Jurisprudência em teses Ed. 23 - Concurso Formal

6) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em

concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo

somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. (Súmula n. 243/STJ)

7) No concurso de crimes, o cálculo da prescrição da pretensão punitiva é feito considerando cada crime

isoladamente, não se computando o acréscimo decorrente do concurso formal, material ou da continuidade


19
delitiva.

8) No caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de competência e transação penal será o

resultado da soma ou da exasperação das penas máximas cominadas ao delito.

5.9.6. MULTA NO CONCURSO DE CRIMES

Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. SISTEMA DO

CÚMULO MATERIAL.

O art. 72 do CP claramente adota o sistema do cúmulo material. Na pena de multa, as penas sempre

serão somadas.

🚨JÁ CAIU
No concurso para Juiz de Direito do Estado de Goiás (Ano: 2021; FCC), foi considerada correta a seguinte

assertiva: No cálculo da pena, se reconhecido o concurso formal, próprio ou impróprio, as penas de multa são

aplicadas distinta e integralmente.

▸ Aplicabilidade: O STJ criou jurisprudência no sentido de que o art. 72 do CP somente se aplica à

pena de multa no concurso material e à pena de multa do concurso formal. Assim sendo, o dispositivo não se

aplica à pena de multa no crime continuado. O STJ entende que, como o crime continuado é ficção jurídica para

fins de aplicação da pena, tal ficção é válida para a pena privativa de liberdade e para a pena de multa.

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