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Tema:
Discentes:
Lucrecia Tete
2.1. Conceito................................................................................................................................4
4. CONCLUSÃO........................................................................................................................11
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................12
1. INTRODUÇÃO
No presente trabalho iremos nos debruçar sobre a temática do Concurso aparente de infrações.
O tema já figurava no mundo do direito desde a antiga Roma, porém, ao longo dos tempos
passou despercebido, vindo a ser estudado com mais afinco no início do século passado.
Destarte, pela juventude de seus estudos, hodierno têm-se várias nomenclaturas para o tema,
sendo que a mais adequada é “concurso aparente de normas.
Mister é ressaltar que o são dois os pressupostos para a aplicação de uma pena única, a prática de
uma pluralidade de crimes pelo mesmo arguido, formando um concurso efectivo de infracções,
seja ele concurso real, seja concurso ideal (homogéneo ou heterogéneo); -e que esses crimes
tenham sido praticados antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles, ou seja, a
decisão que primeiro transitar em julgado fica a ser um marco intransponível para se considerar a
anterioridade necessária à existência de um concurso de crimes
2.1. Conceito
O concurso de crimes ou de infrações também é chamado de concurso legal puro, em oposição
ao concurso aparente de normas penais, que seria o concurso legal impuro. Há discussão, ainda,
sobre a nomenclatura, pois, se é certo que a mais consagrada se refere ao concurso de crimes
(concursus delictorum), há quem defenda que o concurso deveria chamar-se concurso de penas.
Com efeito, o CP trata do tema em seu art. 43 no cap. III da parte geral.
Parece mais acertado, utilizar a nomenclatura concurso de crimes, pois a pena é mera
consequência do concurso de infrações. Pode haver concurso de crimes entre crimes dolosos,
culposos, consumados, tentados, comissivos, omissivos, e mesmo entre um crime e uma
contravenção penal. De outra parte, não é caso de concurso o crime complexo, ou seja, aquele
que se forma da união de dois outros tipos penais e que, por isso, ofende, a um só tempo, mais de
um bem jurídico.
Também não é caso de concurso quando ocorre a consunção, ou seja, quando, no conflito
aparente de normas, um tipo penal descarta o outro porque consome ou exaure seu conteúdo
proibitivo1. Exemplos: lesões leves resultantes da violência no crime de roubo, dano das roupas
da vítima de homicídio, entre outros.
O concurso ideal consiste numa “forma de aparecimento do crime na qual a conduta do agente
preenche, com uma só acção, várias normas incriminadoras (ou várias vezes a mesma), sempre
que estas não se encontrem entre si numa relação tal que uma delas afaste a outra ou as outras” .
Enquanto que ao concurso real se aplica, normalmente, o regime punitivo de acumulação de
penas, o concurso ideal, tradicionalmente, caracteriza-se pela aplicação de um sistema de pena
única, partindo da moldura penal do tipo incriminador mais grave dentro dos que foram violados
pela conduta do agente. O concurso ideal é uma forma de concurso não cumulativo de crimes e
uma forma de unidade do delito. Considera-se que, pelos factos terem sido cometidos por uma só
conduta, há unidade de delito apesar da violação de vários tipos legais. O trabalho da doutrina
germânica tem sido o de densificar o conceito de acção, por forma a estabelecer um “critério
uniforme de apreciação do concurso ideal”.
EDUARDO CORREIA critica a figura do concurso ideal fundado na acção naturalística. Na sua
concepção, o conceito de acção utilizado é considerado desajustado face ao conceito de acção na
teoria do crime. Para o autor, o conceito de acção, transversalmente aplicado ao direito penal,
não deve residir na pura modificação do mundo exterior, provocada por um acto de vontade 3.
Atendendo à questão de que o mais simples facto jurídicosocialmente uno se pode subdividir em
múltiplas acções naturalísticas, o critério tem que ser forçosamente jurídico e não naturalístico,
sob pena de indeterminação do critério. A unidade da acção determinada pelos “ensinamentos da
experiência da vida diária, residindo numa conexão tal que um terceiro também a poderia
reconhecer”, conduz à arbitrariedade das decisões.
Como remate, EDUARDO CORREIA defende que a disparidade de regimes sancionatórios não
pode partir da pura realidade fáctica, sendo que não há nenhuma base axiológica que o sustente.
3
Vide EDUARDO CORREIA, A Teoria do Concurso em Direito Criminal, Coimbra: Almedina, 1963, pp. 15 e s.
A cisão entre unidade e pluralidade deve, consequentemente, depender dos juízos de valoração
jurídico-penal.
a) Cúmulo material: É uma mera operação aritmética: somam-se as penas de cada um dos
delitos componentes do concurso. Assim, o juiz fixa, separadamente, a pena de cada um
dos crimes e, depois, na própria sentença, soma-as, chegando à pena final. Tal sistema é
adoptado em países como Brasil e Estados Unidos da América, no concurso material, no
concurso formal imperfeito e no concurso das penas de multa.
b) Cúmulo jurídico: De acordo com esse sistema, a pena a ser aplicada deve ser maior do
que a cominada isoladamente a cada um dos delitos do concurso, mas não pode, porém,
chegar à soma deles.
c) Absorção: Aqui, a pena do delito mais grave absorve a pena do delito menos grave, que
deve ser desprezada.
d) Exasperação: Trata-se da aplicação da pena cominada ao crime mais grave, dentre os
integrantes do concurso, aumentada de determinada quantidade em decorrência dos
demais crimes. É o sistema adotado no direito brasileiro nas hipóteses de concurso formal
próprio e crime continuado.
Essa soma não se confunde com a unificação de penas feita pelo juízo de execução, que tem
lugar quando os crimes deveriam ter sido tratados como continuados na fase de
conhecimento e, no entanto, não foram 5. Outrossim, a extinção da punibilidade incidirá sobre
a pena de cada um dos crimes, separadamente. Há duas hipóteses de concurso material:
4
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. v.1. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 621.
5
BOSCHI, José Antônio Paganella. Das penas e seus Critérios de Aplicação. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2004. pp. 312 e ss..
dois foram os crimes cometidos; motorista conduz seu veículo de modo imprudente, vindo a
matar várias pessoas – desenvolvendo um único comportamento, praticou ele vários crimes.
6
Idem, p. 314.
tratamento mais grave, segundo o qual se somam as penas cominadas a cada um dos
crimes, da mesma forma que ocorre no caso de concurso material.
d) Concurso material benéfico: Caso a aplicação da regra do concurso formal resulte em
pena superior àquela que resultaria do concurso material, deve-se seguir critério deste
último, ou seja, somar as penas. Com efeito, quem comete mais de um crime com
uma única acção não pode sofrer pena mais grave do que aquele que, de forma
reiterada, com mais de uma ação, comete os mesmos crimes.
Assim, para evitar um cúmulo de penas desproporcional aos crimes cometidos, limita-se a pena
do concurso formal ao máximo que seria cabível pela regra do concurso material. Impede-se,
assim, que, numa hipótese de concurso formal heterogêneo entre homicídio doloso mais lesões
culposas, por exemplo, aplique-se ao agente pena mais severa, em razão do concurso formal, do
que a aplicável pelo concurso material.
Concluímos também que a concepção de EDUARDO CORREIA tem uma importância fulcral no
desenvolvimento da teoria da infracção penal, pois o autor desloca a compreensão da questão da
separação entre unidade e pluralidade criminosa da perspectiva da coincidência espácio-
temporal da prática dos factos, que marca o concurso de crimes no ordenamento jurídico
germânico ainda hoje e era acompanhada por parte da doutrina, e passa a colocar a questão no
plano normativo.
No que tange aos sistemas de aplicação da pena, concluímos que existem critérios especiais de
aplicação de pena para as diferentes modalidades de concursos de crimes tais como o cúmulo
material; o cúmulo jurídico; a absorção; e a exasperação. Por fim concluímos que são espécies de
concurso de crimes: concurso material ou real, concurso formal ou ideal, e crime continuado (art.
44, CP).
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALEIRO DE FERREIRA, Direito Penal Português, Lisboa, Verbo, 1981;
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. v.1. 9.ed. São Paulo: Saraiva,
2004;
BOSCHI, José Antônio Paganella. Das penas e seus Critérios de Aplicação. 3.ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004;
EDUARDO CORREIA, A Teoria do Concurso em Direito Criminal, Coimbra:
Almedina, 1963;
ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal
Brasileiro. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.