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Roteiro – Concurso de Crimes

Prof. André de Abreu Costa

Gabriel Augusto Moreira de Faria


CONCURSO

DE CRIMES

- Conceito: hipóteses em que o agente, mediante uma, duas, ou mais condutas, comete
duas ou mais infrações penais
Obs: ≠ princípio da consunção: embora as condutas se amoldam em mais de um
tipo penal, o agente só responderá por um delito, ficando os demais absorvidos, por se
tratarem de crime-meio ou exaurimento (pós-fato impunível)
- Greco: Pode ocorrer que várias pessoas, unidas pela mesma identidade de propósito, se
reúnam com o fim de cometer determinada infração penal, e, neste caso, teremos aquilo
o que o Título I V do Código Penal denominou de concurso de pessoas. Também pode
acontecer que uma só pessoa pratique uma pluralidade de delitos, surgindo o fenômeno
do concurso de crimes. Como última hipótese, também podemos cogitar a hipótese de
que várias pessoas, unidas pelo mesmo vínculo psicológico, pratiquem uma pluralidade
de crimes, ocorrendo, pois, tanto o concurso de pessoas como o concurso de crimes.

- Espécies
a) concurso material (art. 69); b) concurso formal (art. 70); crime continuado (art.
71).
1- Concurso material
- Verifica-se tal hipótese quando o agente, através de duas ou mais ações ou omissões,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Soma-se as penas.
Obs: as penas só serão somadas na sentença se ambos os delitos estiverem sendo
apurados na mesma ação penal. Deve-se verificar alguma conexão entre os crimes, o
que justifica a apuração na mesma persecução penal.
≠ crimes conexos: cada um será apurado em processo autônomo e receberá sua
respectiva pena isoladamente (a soma ocorrerá na Execução Penal)
- Crime continuado (art. 71): autor pratica dois ou mais crimes por meio de duas ou
mais condutas. O magistrado aplicará somente uma reprimenda aumentada de 1/6 a 2/3,
vez que os delitos são de mesma espécie e foram praticados em semelhantes
circunstâncias de tempo, local e modo de execução. Ou seja, a regra do concurso
material prevalecerá quando ausente algum requisito do crime continuado.
- Espécies de concurso material:
a) homogêneo: delitos idênticos (dois furtos, duas receptações etc.). É preciso que sejam
diversas as circunstâncias de tempo, local ou modo de execução, pois, caso contrário,
será crime continuado.
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b) heterogêneo:

delitos não idênticos (um roubo e um aborto). Não sendo crimes da mesma espécie,
afasta-se a hipótese de crime continuado.
- Soma das penas:
A soma das penas propriamente dita só é possível quando os crimes cometidos
forem apenados com a mesma espécie de sanção. Assim, se o réu for condenado por
furto e estelionato (ambos apenados com reclusão) a 1 ano por cada um dos crimes, a
pena final será de 2 anos de reclusão. O mesmo raciocínio se aplica se os delitos forem
todos apenados com detenção. Se, entretanto, as penas privativas de liberdade previstas
forem distintas, não haverá soma. Em tais casos, estabelece a parte final do art. 69 que o
juiz fixará as duas penas, sem somá-las, e o réu cumprirá primeiro a pena de reclusão e
depois a de detenção.
2- Concurso formal
-Há o concurso formal (art. 70, caput, CP) nos casos em que o autor, através de uma
única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, sejam eles idênticos ou não.
Divide-se em:
a) concurso formal homogêneo: delitos idênticos. Juiz aplicará somente uma
pena, aumentada de 1/6 a ½ (exasperação).
b) concurso formal heterogêneo: delitos diferentes. Será aplicada a pena mais
grave, aumentada de 1/6 a 1/2
- Atenção: hipótese de concurso material benéfico no concurso formal heterogêneo
art. 70, parágrafo único, CP: a pena resultante da aplicação do concurso formal
não pode ser superior àquela cabível no caso de soma das penas. Ou seja, sempre que o
montante da pena decorrente da aplicação do aumento de 1/6 até 1/2 (concurso formal)
resultar em quantum superior à soma das penas, deverá ser desconsiderado tal índice e
aplicada a pena resultante da soma. A essa hipótese, dá-se o nome de concurso material
benéfico.
- Critério de exasperação
A jurisprudência é pacífica e entender que é o número de crimes praticados o
critério que guiará o juiz na aplicação da exasperação da pena. Assim, quanto maior o
número de crimes praticados, maior a parcela de exasperação, que variará de 1/6 a ½.
- Concurso formal perfeito e imperfeito
Verifica-se na segunda parte do art. 70, caput, CP, o concurso formal imperfeito
(ou impróprio), no qual as penas são somadas, como no concurso material, sempre que
o agente, com uma só ação ou omissão dolosa, praticar dois ou mais crimes, cujos
resultados ele efetivamente visava (autonomia de desígnios quanto aos resultados), de
modo a evitar que o agente aproveite-se das hipóteses do ordenamento jurídico acerca
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da aplicação da

pena no concurso de crimes para praticar vários delitos, beneficiando-se ao final. Assim,
o concurso formal traz duas hipóteses de aplicação de pena:
a) concurso formal próprio (ou perfeito): o autor não tem autonomia de desígnios em
relação aos resultados. Há a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 até 1/2;
b) concurso formal impróprio (ou imperfeito): o autor atua com dolo direto em
relação aos dois crimes, querendo provocar ambos os resultados. As penas são somadas.
Obs: Aplicase a regra do concurso formal perfeito em todas as outras hipóteses
em que, com uma só ação ou omissão, o agente tenha cometido dois ou mais crimes.
Há, assim, concurso formal próprio: a) se os dois (ou mais) delitos forem culposos; b) se
um crime for culposo, e o outro, doloso; c) se ambos os delitos originarem-se de dolo
eventual; d) se um dos crimes for resultado de dolo direto, e o outro, decorrente de dolo
eventual.
3- Crime continuado
- art. 71, caput, CP: “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro”.
- finalidade: ficção jurídica para evitar a aplicação de penas exorbitantes, pois a
consequência do reconhecimento da continuidade delitiva é a aplicação de uma só pena,
aumentada de 1/6 a 2/3 (sistema da exasperação).
- Crime habitual e continuado
No crime habitual, a tipificação pressupõe a reiteração de condutas. A prática de
um ato isolado não constitui crime. Ex.: rufianismo (art. 230, CP)
- Aplicação da pena
Os delitos devem ser necessariamente da mesma espécie. Tanto crimes
cometidos em sua modalidade simples e também na qualificada, quando atingem
exatamente os mesmos bens jurídicos, são considerados da mesma espécie. O próprio
art. 71, caput, CP, estabelece que aplica-se a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
Assim como no crime continuado, o magistrado, na escolha do quantum de
exasperação, terá como baliza o número de infrações perpetradas. Quanto maior o
número de delitos componentes da continuação, maior deverá ser o índice de aumento,
que variará de 1/6 a 2/3.
- Requisitos
a) Pluralidade de condutas: duas ou mais ações ou omissões criminosas.
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b) Delitos da

mesma espécie: previstos no mesmo tipo penal, simples ou qualificados, tentados ou


consumados.
c) Mesmo modo de execução: os delitos analisados devem, em seu iter criminis, guardar
semelhanças acerca do modo de execução, de maneira que serão considerados como
continuação do primeiro.
d) Mesmas condições de tempo: a jurisprudência vem admite o reconhecimento do
crime continuado quando entre as infrações penais não houver decorrido período
superior a 30 dias.
e) Mesmas condições de local: estará configurado o crime continuado os crimes forem
praticados no mesmo local, em locais próximos ou, ainda, em bairros distintos da
mesma cidade e até em cidades próximas.
- Concurso material benéfico
art. 71, parágrafo único, CP: cabimento do concurso material benéfico para a
hipótese de crime continuado (para que as penas sejam somadas), quando a aplicação do
triplo da pena (no crime continuado qualificado) puder resultar em pena superior à
eventual soma. É que, de acordo com o dispositivo, o juiz pode triplicar a pena do crime
mais grave.
- Pena de multa no concurso de crimes
Art. 72, CP: Qualquer que seja a hipótese de concurso (material, formal ou crime
continuado), a pena de multa será aplicada integralmente, não se submetendo a índices
de aumento.

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