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Concurso material

Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa
de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Artigo com
redação dada pela Lei n. 7.209/84).

O concurso material ou real é a prática de duas ou mais condutas dolosas ou


culposas, omissivas ou comissivas, que produzindo um ou mais resultados,
idênticos ou não, todas vinculadas a identidade do agente, não tendo a
importância se foram produzidos os fatos na mesma ocasião ou em datas
diferentes. A doutrina subdivide o concurso material com base em seu
resultado:

Denominado homogêneo se os resultados produzidos forem idênticos (por


exemplo: dois crimes de homicídio); e será heterogêneo se os resultados forem
diversos (por exemplo: homicídio e lesão corporal).

Aplicação da pena em concurso material ou real

A aplicação da pena nesta hipótese de concurso, após ter sido cominada


individualmente cada uma das penas, a aplicação é realizada pelo sistema
adotado pelo Código Penal Brasileiro chamado cúmulo material, onde somam
as penas cominadas a cada um dos crimes praticados em concurso. De forma
exemplificada o esquema é da seguinte maneira: o agente que mediante duas
condutas, cometeu o crime de roubo e recebeu pena de 6 anos de reclusão, e
um homicídio qualificado e recebeu uma pena de 12 anos, terá as penas
destes crimes somadas para iniciar o cumprimento.
Em caso as espécies de penas não sejam iguais, cumpre-se primeiro a mais
grave, assim, a reclusão deve ser cumprida primeiro que a detenção, mas caso
sejam aplicadas. Apesar dos prazos prescricionais serem considerados
individualmente para cada crime, o mesmo não acontece com a aplicação das
penas restritivas de direitos, que só são permitidas, caso em um dos crimes
seja permitida a concessão do sursis. Mas caso sejam aplicadas, as penas
restritivas de direito, serão simultaneamente cumpridas quando compatíveis, ou
sucessivamente, quando houver incompatibilidade entre as mesmas,
preferindo-se antes a mais severa, de acordo com o Art. 69, §§ 1º e 2º do C. P.

Com relação à suspensão condicional do processo, a regra é que seja feito o


somatório das penas, se a mínima for igual ou inferior a um ano, esta será
possível. Portanto, a aplicação não é individual.

Concurso Formal ou Ideal (cuncursus formalis)

O concurso formal ou ideal previsto no art. 70 do C. P., é aquele em que o


agente sem que haja pluralidade de ações ou omissões, comete dois ou mais
crimes, podendo ser subdividido em formal próprio (perfeito) ou impróprio
(imperfeito).

Para que haja o concurso formal, deve-se obedecer dois requisitos:

1º) que a conduta seja única: por conduta, devemos entender que se trata da
ação ou omissão humana consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade,
compreendendo desta, um único ato ou sequência de atos desencadeados
pela vontade humana. No verbo ou núcleo do tipo, está consubstanciada a
ação, pelo que é em torno dele que se fundem os elementos da conduta
humana. Todos esses momentos, no entanto, de encontram no núcleo do tipo:
ex. Matar alguém (art. 121).

2º) que dessa conduta surjam dois ou mais fatos típicos: uma conduta singular
deverá dar origem a mais de um fato, ou mais de um crime, quando atingir
mais de um bem tutelado. Por exemplo: para se consagrar uma conduta do
concurso de crimes formal deve a pessoa em uma única ação violar o bem
tutelado, no caso de um agente que dispara contra outrem, e o mesmo projétil
acaba acertando em outro alguém, neste caso o agente ativo praticou somente
uma conduta desdobrando dois resultados idênticos ou distintos. Não se fala
em concurso de crimes formal se uma única conduta somente der origem a um
único resultado.

Concurso formal próprio ou perfeito

O concurso perfeito resulta de um único desígnio. O agente por meio de um só


impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados. Nesta mesma linha de
raciocínio, pode-se observar que o querido é somente o resultado, mas por
questão de erro na execução ou por acidente, há no fato dois ou mais
resultados. Um exemplo seria uma pessoa com intuito de praticar homicídio em
certo indivíduo, efetua o disparo e além de acertar o alvo acerta também outro
cidadão. Neste caso, por ter ocorrido o erro, o sistema de pena utilizado é a
exasperação, que é quando apenas a pena de um dos crimes é aplicada se
forem iguais, ou a maior deles se diversos, sendo em qualquer dos casos
elevada de um sexto até metade. Afirma-se a existência de concurso formal
próprio quando os dois crimes ocorrem a título de culpa.

A pena aplicada no concurso formal perfeito é relativa, se for homogêneo,


aplica-se a pena de qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 até a metade; se for
heterogêneo, aplica-se a pena do mais grave, aumentada 1/6 até a metade. O
aumento da pena varia de acordo com a proporção de resultados produzidos.

Concurso formal impróprio ou imperfeito


No concurso formal impróprio ou imperfeito, Fernando Capez, 2004 pág.474
conceitua dizendo que “é o resultado de desígnios autônomos. Aparentemente,
há uma só ação, mas o agente intimamente deseja os outros resultados ou
aceita o risco de produzi-los. Como se nota, essa espécie de concurso formal
só é possível nos crimes dolosos.”.

O agente mediante uma única conduta de ação ou omissão produz mais de um


resultado, sendo a título de dolo eventual, pois possui a vontade de produzi-los
indiferente seja o resultado, neste caso acontece que a doutrina os chama de
desígnios autônomos em relação a cada um dos resultados que será
alcançado.

Para que não torne benéfica a prática de mais de um crime por uma única
ação, no concurso formal impróprio, é utilizado o sistema de cúmulo material
das penas, o mesmo que é utilizado no concurso material. Havendo apenas a
soma das penas aplicadas aos diversos crimes, como no concurso material.

Há duas teorias, objetiva: admite a pluralidade de desígnios; e subjetiva: exige


unidade de desígnios para que haja concurso formal.

O Código Penal Brasileiro adotou a teoria objetiva, pois admite o concurso


formal imperfeito com pluralidade de desígnios.

Ainda no caso do concurso formal, quando as penas aplicadas por o sistema


de exasperação superarem as que por ventura fossem aplicadas por o sistema
do cúmulo material, para que o apenado não saia prejudicado, sua pena será
computada como se desta forma fosse, este é o chamado cúmulo material
benéfico. Exemplificando, caso o agente cometa um homicídio simples e uma
lesão corporal em concurso formal próprio, sua pena seria a do homicídio (por
ser maior) acrescida de um terço até metade, o que poderia, dependendo do
aumento aplicado, ser maior que a do homicídio e das lesões corporais
somadas. Assim caso a pena aplicada pelo sistema da exasperação seja maior
que a que fosse aplicada pelo cúmulo material, este será o aplicado.

O aumento de pena no concurso formal deve ser fundamentado pelo juiz,


devendo, segundo a maioria dos doutrinadores, ser aplicado levando em
consideração o número de vítimas ou a quantidade de crimes praticados.
Para a aplicação da suspensão condicional do processo, é necessário que se
faça primeiro o cálculo da pena com o acréscimo de um terço até metade, para
só assim fixar os novos limites mínimos.

Crime Continuado

O crime continuado ou continuação delitiva está previsto no art. 71 do Código


Penal, este se dá quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
em condições de tempo, lugar, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
utilizando de modos de execução semelhantes, sendo que subsequentes
devem ser havidos em continuação do primeiro delito.

Segundo a doutrina, o crime continuado possui duas espécies, no qual se


difere somente pelo emprego de violência e dolo, são elas:

a) Crime continuado comum: crime cometido sem o emprego de violência ou


grave ameaça contra a pessoa (art. 71, caput). O sistema de aplicação de pena
é obtido pelo resultado da pena mais grave, aumentada de 1/6 até 2/3,
dependendo da quantidade de vítimas.

b) Crime continuado específico: crime doloso praticado com violência ou grave


ameaça contra vítimas diferentes (art. 71, parágrafo único). A tipo de pena
utilizado neste caso é da aplicação da pena mais grave aumentada até o triplo.

Esta forma de concurso de crimes foi adotada por ficção jurídica, já que são
vários crimes que a lei adota como crime único para questões de punibilidade.

Por crimes de mesma espécie, não há necessidade de serem idênticos,


bastando que o bem jurídico atingido no seu cometimento sejam os mesmos.
Este não é um entendimento pacífico, alguma parte da doutrina entende que
apenas crimes que fazem parte de um mesmo dispositivo legal (artigo de lei)
seriam da mesma espécie, como um homicídio simples e um qualificado, por
exemplo.
O percentual de aumento em ambos os casos deve ser baseado no número de
crimes ou de vítimas. E, da mesma forma que no concurso formal próprio, as
penas aplicadas pelo sistema da exasperação não podem superar as que
seriam aplicadas pelo cúmulo material, portanto, caso seja ultrapassado o
limite, será aplicado o cúmulo material benéfico.

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