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Faculdades Cathedral de Direito

Aula de Direito Penal II


Prof MsC. Cristiane Rodrigues de Sá
Assunto: CONCURSO DE CRIMES
Acadêmico(a):
Turmas: 4 A, B e C

Apostila elaborada pela Prof. Mestre em Direito Público Cristiane


Rodrigues de Sá, com a finalidade de dar sequência às aulas da disciplina
Penal II do Curso de Direito da Faculdade Cathedral.

Olá queridos alunos! Desejo-lhes uma boa leitura e compreensão acerca do


tema. Exercícios no final da apostila.

CONCEITO: Concurso de crimes é uma expressão utilizada para determinar


situações em que o agente mediante uma, duas ou mais ações, comete duas
ou mais condutas delituosas.
OBS. Não confundir com as situações amparadas pelo princípio da consunção,
que embora, as condutas se amoldem em mais de um tipo penal, o agente só
responderá por um delito, restando os demais absorvidos, por tratar-se de
crime-meio. EX. de princípio da consunção: Quando o agente falsifica um
cheque para praticar estelionato, desta forma, ficando o crime de falsificação
absorvido pelo crime de estelionato, por tratar-se de crime meio (súmula 17
STF).

ESPÉCIES DE CONCURSO DE CRIMES:


A) CONCURSO MATERIAL- Art. 69 do CP
B) CONCURSO FORMAL- Art. 70 do CP
C) CRIME CONTINUADO: Art. 71 do CP
Falaremos agora do Concurso Material que pode ser: homogêneo ou
heterogêneo.
Conforme o art. 69 do CP, dá-se o concurso material, quando o agente
mediante duas ou mais ações ou omissões, pratica dois ou mais crimes
idênticos (homogêneo) ou não (heterogêneo).
OBS. Também chamado de concurso real ou cúmulo material.
No caso do concurso material, as penas são somadas. Contudo, só poderá
cogitar dessa soma, se os delitos estiverem sendo processados na mesma
ação penal, sendo necessário para tanto, que haja alguma conexão entre eles!
Somente desta forma se justifica sua apuração no mesmo feito.
EX. se o réu mata o marido para estuprar a esposa, ou seja, tem que haver
uma conexão teleológica.
Ao sentenciar, o Juiz deverá somar as penas de estupro com a de homicídio
qualificado, de acordo com o exemplo acima.
OBS. As regras do concurso material só poderão ser aplicadas, quando faltar
algum dos requisitos do crime continuado.

ESPÉCIES DE CONCURSO MATERIAL:


a) HOMOGÊNEO: quando os crimes cometidos forem idênticos. Ex. dois
roubos, dois estupros, etc. Para o reconhecimento desta modalidade
(homogêneo) de concurso material, é preciso que sejam diversas as
circunstâncias do tempo, local ou modo de execução, pois caso contrário, seria
hipótese de crime continuado.
OBS. Haverá concurso material, se os dois roubos foram praticados em datas
distantes um do outro, ou em cidades diferentes, ou se foram cometidos por
modos de execução distintos.
b) HETEROGÊNEO: quando os delitos praticados pelo agente não forem
idênticos. Ex. furto e estelionato; estupro e aborto, etc. Neste caso, em que os
delitos não são da mesma espécie é fácil distinguir do crime continuado.

SOMA DAS PENAS:


Sá haverá a soma das penas na sentença, se os crimes praticados forem
apenados com a mesma espécie de sanção. Ex. reclusão com reclusão ou
detenção com detenção.
Se forem distintos, reclusão e detenção, lembrem-se de que a reclusão terá
prioridade na execução da pena, conforme estabelece o art. 69, parte final,
do CP. Neste caso, o Juiz fixará as duas penas, sem somá-las, e o réu deverá
cumprir primeiro a pena de reclusão, depois a detentiva.
CONCURSO MATERIAL E PENAS RESTRITIVAS:
Atualmente é possível sim, ao contrário do que o art. 69, parágrafo 1º, que
sofreu revogação tácita, ou seja, o Juiz nos casos de concurso material, poderá
aplicar para um dos delitos a pena privativa de liberdade, e em relação ao outro
crime, realizar a substituição por pena restritiva de direitos, desde que seja
compatível com a pena privativa de liberdade. Ex. o réu poderá ser condenado
a 10 anos de prisão por crime de homicídio, em regime inicial fechado e em
relação a outro delito apurado nos mesmos autos, como um estelionato, aplicar
a pena restritiva consistente na Perda de bens. Notem que deve haver
compatibilidade para o cumprimento de ambas as penas.

CONCURSO FORMAL:
De acordo com o art. 70 do CP, esta modalidade ocorre quando o agente
mediante UMA ÚNICA AÇÃO ou OMISSÃO, pratica dois ou mais crimes
idênticos ou não.
OBS. É também chamado de concurso ideal.
Se os delitos forem idênticos, o Juiz deverá aplicar uma só pena, aumentada
de 1/6 até ½ (sistema de exasperação da pena). É o chamado CONCURSO
FORMAL HOMOGÊNEO. Ex. agindo com imprudência, o agente provoca um
acidente no qual morrem duas pessoas. Neste caso, o Juiz aplica a pena de
um homicídio culposo, no patamar de um ano, supondo ter aplicado a pena no
mínimo legal e em seguida aumenta-a de 1/6, chegando a um montante final
de 1 ano e 2 meses de detenção.
Se os delitos não forem idênticos, temos o CONCURSO FORMAL
HETEROGÊNEO, neste caso, deverá ser aplicada a pena do delito mais grave,
aumentada também de 1/6 a ½.. Ex. quando alguém, agindo com imprudência,
provoca a morte de uma pessoa e lesões corporais na outra. Deverá o Juiz na
sentença aplicar a pena do homicídio culposo (crime mais grave) aumentada
de de 1/6, chegaremos a mesma pena de 1 ano e dois meses, muito embora
no exemplo acima tivesse praticado dois homicídios culposos.
OBS. A regra do concurso formal foi criada para beneficiar o réu, e evitar penas
desproporcionais, de acordo com o art. 70 parágrafo único do CP, estabelece
que a pena resultante do concurso formal não pode ser superior àquela cabível
na soma das penas.
Por isso, sempre que o montante da pena decorrente da aplicação de 1/6 a ½
resultar em quantidade superior a soma das penas, deverá neste caso, ser
desconsiderado tal índice e aplicada a pena referente a soma. Esta hipótese, é
chamada de CONCURSO MATERIAL BENÉFICO.
CRITÉRIO PARA EXASPERAÇÃO DA PENA:
Segundo o entendimento jurisprudencial, o critério será o número de crimes
praticados, que deve ser levado em conta pelo Juiz no momento da aplicação
do índice (1/6 a ½) de exasperação da pena. Ex. quando o sujeito mediante
uma única ação provoca a morte de duas pessoas, deve ser aplicado o
aumento mínimo de 1/6. Agora, se o número de vítimas for maior, o índice deve
ser maior.
CONCURSO FORMAL PRÓPRIO OU PERFEITO: quando o agente não tem
autonomia de desígnios em relação aos resultados e cuja consequência é a
aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 até ½.
CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO OU IMPERFEITO: aqui o agente atua
com dolo direto em relação aos dois crimes, querendo provocar ambos os
resultados, neste caso, as penas são somadas.

CRIME CONTINUADO:
De acordo com o art. 71 do CP: “quando o agente, mediante, mais de uma
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem
os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro”.
FINALIDADE: evitar a aplicação de penas exorbitantes. A consequência do
reconhecimento da continuidade delitiva é a aplicação de uma pena só,
aumentada de 1/6 até 2/3.
Ex. quando um criminoso resolve furtar, por exemplo, estepes de veículos
estacionados na rua, e em uma semana consegue furtar 100 estepes de carros
diferentes, ele em tese, deveria receber uma pena mínima de 100 anos, pois
cometeu 100 furtos simples, que tem pena mínima de um ano cada.
Reconhecendo neste caso, o instituto do crime continuado, a consequência
será a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 até 2/3, a pena final, neste
caso será de 1 ano e 8 meses, diferença exorbitante.
APLICAÇÃO DA PENA:
No crime continuado os crimes devem ser necessariamente da mesma
espécie. Como também para os crimes na sua modalidade simples e
qualificada, desde que atinjam exatamente os mesmos bens jurídicos, são tidos
como da mesma espécie. Ex. crime de furto simples e de furto qualificado.
Nesta hipótese, segundo o art.71 caput do CP, aplica-se a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada em ambos os
casos, de 1/6 até 2/3 da pena.
EXAPERAÇÃO DA PENA:
Igual como ocorre no concurso material, o Juiz deve levar em conta para a
aplicação do índice a quantidade de infrações perpetradas. Quanto maior o
número de delitos, maior deverá ser o índice.
REQUISITOS: Art. 71 do CP
a) Pluralidade de condutas: assim como ocorre no concurso material, o crime
continuado requer a realização de duas ou mais ações ou omissões
criminosas. Já concurso formal, exige conduta única.
b) Que os crimes praticados sejam da mesma espécie, ou seja, são aqueles
previstos no mesmo tipo penal, simples ou qualificados, tentados ou
consumados. Ou seja, pode haver crime continuado entre furto e furto
qualificado; porém não haverá entre furto e roubo, por não serem da mesma
espécie. Corrente doutrinaria majoritária.
c) que os crimes sejam cometidos pelo mesmo modo de execução (conexão
modal). Por esse requisito não poderá aplicar a regra do crime continuado
entre dois roubos, caso um tenha sido praticado mediante violência e o outro
mediante grave ameaça.
d) que os crimes sejam cometidos nas mesmas condições de tempo (conexão
temporal). Neste caso, a jurisprudencial tem admitido o reconhecimento do
crime continuado quando entre as infrações penais não houver decorrido
período superior a 30 dias. Ou seja, não ocorre a continuidade delitiva se o
intervalo entre um crime e outro for superior a 30 dias.
c) que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de local
(conexão espacial): A jurisprudência admite o crime continuado, quando os
delitos forem praticados no mesmo local, em locais próximos, ou em bairros
distintos da mesma cidade e até em cidades vizinhas.
DISTINÇÃO ENTRE CRIME HABITUAL E CONTINUADO: no crime habitual
requer uma reiteração de condutas, a prática de um ato isolado não constitui
crime. Ex. curandeirismo (art. 284 do CP). No crime continuado, cada conduta
isoladamente constitui crime, mas por estarem presentes os requisitos legais,
aplica-se uma só pena seguida de exasperação.
OBS: aqui também cabe o CONCURSO MATERIAL BENÉFICO, já estudado
no crime formal.
CONCURSO ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES: neste caso deverá ser
executada a pena de reclusão ou detenção para depois ser executada a da
prisão simples.
CONCURSO DE CRIMES E PENA DE MULTA: em qualquer caso, seja no
concurso material formal ou crime continuado, a pena de multa será aplicada
distinta e integralmente. Não se submetendo a nenhum índice de aumento (art.
72 do CP).
PRESCRIÇÃO DOS CRIMES COMETIDOS EM CONTINUAÇÃO OU EM
CONCURSO FORMAL: de acordo com o art. 119 do CP, “no caso de concurso
de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente”. De acordo a súmula 497 do STF: “quando se tratar de crime
continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se
computando o aumento decorrente da continuação”.
REFERENCIAS:
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, 1º Vol. – Parte Geral, Editora Saraiva.

FRAGOSO, Heleno Cláudio, Lições de Direito Penal, Nova Parte Geral, Editora

Forense.

CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal, Parte Geral, Editora Saraiva.

MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, I, Editora Atlas.

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios Gonçalves, Direito Penal, Parte Geral,

Sinopses Jurídicas, Editora Saraiva.


EXERCÍCIOS:
1- Descreva com suas palavras as diferenças do concurso material, formal e
crime continuado.
2- Explique quando ocorre o concurso material benéfico.
3- De que forma se dá a prescrição no caso de concurso de crimes.
4- Exemplifique: concurso material; formal; e crime continuado.
5- De que forma se dá a exasperação da pena conforme entendimento de
nossos Tribunais, em relação ao concurso formal e ao crime continuado.

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