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20 de Outubro de 2019

Concurso material, artigo 69 do Código Penal

Na minha opinião, um dos assuntos mais importantes da prática penal


é o concurso de crimes (concurso material, formal e crime continuado),
constante nos artigos 69, 70 e 71 do Código Penal.

Dependendo do tipo de concurso de crimes a ser adotado no caso,


poderá ser aplicada apenas a pena de apenas um dos crimes
concorrentes, aumentada conforme algumas frações (1/6, 1/5, 1/4,…)
previstas na legislação; ou poderão ser somadas as penas de todos os
crimes.

Mas o que vem a ser concurso de crimes?

Concurso de crimes é a nomenclatura dada à prática de mais de um


crime por parte do agente, seja mediante uma só ação ou várias ações,
sendo subdividido em três:
Concurso material (artigo 69 do CP);

Concurso formal (artigo 70 do CP); e

Crime continuado (artigo 71 do CP).

Resolvi, então, tamanha a importância que dou ao assunto, fazer


algumas análises voltadas para cada um dos tipos mencionados
anteriormente, sendo que, de forma a não tornar o texto muito longo e
cansativo, destinarei um texto para cada modalidade de concurso de
crimes.

Hoje, o texto será sobre o concurso material.

Para analisar o concurso material, necessário realizar a leitura do


texto legal sobre o assunto:

Art. 69 – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou


omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa
de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
(destaques acrescidos)

Vemos, então, alguns requisitos para que seja reconhecido o concurso


material, como: (a) a prática de mais de um crime, (b) por meio de
mais de uma ação.

Segundo NUCCI¹, em análise ao trecho “idênticos ou não”, constante


no texto legal transcrito anteriormente:

o concurso material pode ser homogêneo (prática de crimes


idênticos) ou heterogêneo (prática de crimes não idênticos). –
destaques acrescidos
Como resultado da prática de mais de um crime, mediante mais de
uma ação, o agente terá como apenamento desse concurso de crimes a
aplicação das penas de forma cumulativa, ou seja, somada.

Para facilitar a memorização, lembre que Material = Mais.

Isso significa que, se o agente pratica o crime de roubo simples (artigo


157 do CP) e o de corrupção de menores (artigo 244-B da Lei
8.069/90), na hipótese de condenação, as penas aplicadas
individualmente a cada um dos crimes serão somadas.

Assim, supondo que serão aplicadas as penas mínimas de cada um dos


crimes, levando-se em conta que a sanção mínima do roubo é 04 anos e
a da corrupção de menores é 01 ano, pelo concurso material a pena
definitiva será de 05 anos, provavelmente no regime semiaberto de
cumprimento inicial da pena aplicada (artigo 33, § 2º, alínea b, do CP).

Deve ser ressaltado que as penas somente poderão ser somadas,


aplicando-se, assim, as determinações do concurso material, após a
dosimetria de cada uma delas, nos termos do artigo 59 do Código
Penal.²

Interessante destacar a parte final do dispositivo em análise, segundo o


qual no caso de cumulação de penas de reclusão e de detenção a
primeira a ser executada é a de reclusão.

Tal fato se dá pois não é possível somar as penas de reclusão e de


detenção, ou seja, se um indivíduo é condenado a 01 ano de reclusão e
06 meses de detenção, o juiz não pode aplicar uma pena de 01 ano e 06
meses, devendo aplicá-las separadamente, isto é, a condenação será de
01 ano de reclusão e 06 meses de detenção.
NUCCI³ afirma, contudo, que “para a fixação do regime e demais
benefícios, […], deve levar em conta o total”, isto é, caso o indivíduo
seja condenado a uma pena de 04 (quatro) anos no roubo simples e 01
(um) ano no crime de posse ilegal de arma de fogo (artigo 12 da Lei
10.826/03), para fins de fixação do regime inicial de cumprimento de
pena, deve-se levar em consideração os 05 (cinco) anos e, em tese, fixar
o regime semiaberto.

Insta ressaltar, no tocante a prescrição, que “o prazo prescricional deve


ser considerado separadamente para cada uma das infrações penais”
(4), conforme estabelece o artigo 119 no Código Penal.

Para melhor elucidar a matéria, trouxe uma decisão proferida pelo STJ
sobre o assunto:

RECURSO ESPECIAL. ROUBO E EXTORSÃO. CONCURSO


MATERIAL DE CRIMES. OCORRÊNCIA. RECURSO PROVIDO.
1. “Crimes de roubo e de extorsão – Ilícitos penais que não
constituem ‘crimes da mesma espécie’ – Consequente
impossibilidade de reconhecimento, quanto a eles, do nexo de
continuidade delitiva – legitimidade da aplicação da regra
pertinente ao concurso material” (STF, HC-71.174/SP, Relator
Ministro Celso de Mello, DJ de 1º.12.2006). 2. A conduta dos
agentes que, na mesma circunstância fática, após
subtraírem os pertences das vítimas, mediante grave
ameaça, exigem a entrega do cartão bancário e senha
para em seguida realizarem saque em conta-corrente, se
amolda aos crimes de roubo e extorsão, de forma
autônoma. 3. Conforme a jurisprudência desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal, em tais casos revela-se
caracterizada a prática de ambos os delitos em concurso
material, bem como entende-se afastada a tese da continuidade
delitiva por não se tratar de crimes da mesma espécie. 4. […]. (STJ
– REsp: 898613 SP 2006/0222802-1, Relator: Ministro OG
FERNANDES, Data de Julgamento: 15/09/2011, T6 – SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 28/09/2011). – destacamos
Por fim, ressalto que no próximo texto trataremos sobre o
concurso formal de crimes, estabelecido no artigo 70 do Código
Penal.

Aproveito para te convidar a acessar o meu blog. Lá tem textos como


esse e muito mais!

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Para atingir um resultado maior e melhor, o assunto deve ser debatido


e as opiniões trocadas.

Um grande abraço!

REFERÊNCIAS:
1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Revista dos
Tribunais, SP: 2013. P. 489;

2 DELMANTO, Celso…[ET AL.]. Código Penal Comentado. São Paulo:


Saraiva, 2010. P. 315;

3 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Revista dos


Tribunais, SP: 2013. P. 490;

4 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. São Paulo:


Saraiva, 2011

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