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ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR

Atendimento Pré-Hospitalar 2

Porto Alegre / 2021


ACADEMIA DE BOMBEIROS MILITAR - ABM
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

CADERNO TEMÁTICO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul


CEL QOEM César Eduardo Bonfanti

Diretor da Academia de Bombeiro Militar


Cel QOEM Carlos Alberto da Silva Souto

Organizador
Ten Cel QOEM Isandré Antunes de Souza
1º Ten QTBM Anderson Jair Geier

Atualizado
Cap QOEM Ricardo Coelho

Porto Alegre / 2021

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

SUMÁRIO

LIÇÃO 3 7
1 HEMORRAGIAS 7
1.1 CLASSIFICAÇÃO DE FORMA ANATÔMICA OU CLÍNICA 7
1.2 CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA 8
1.3 TÉCNICAS UTILIZADAS NO CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 9
2 CHOQUES 11
2.1 ESTADO DE CHOQUE 11
2.2 TIPOS DE CHOQUE 12
2.3 SINAIS E SINTOMAS GERAIS DO CHOQUE 13
2.4 SINAIS E SINTOMAS DO CHOQUE ANAFILÁTICO: 13
3 FERIMENTOS 14
3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS FERIMENTOS 14
3.2 TIPOS DE FERIMENTOS 14
3.3 TRATAMENTO DE UM FERIMENTO ABERTO 16
3.4 TRATAMENTO DE FERIMENTOS FECHADOS 16
3.5 TRAUMAS ESPECÍFICOS 16
4 TRAUMA EM OSSOS 18
4.1 FRATURA 18
4.2 LUXAÇÃO 19
4.3 ENTORSE 19
4.4 AMPUTAÇÕES 20
5 TRAUMATISMOS ESPECÍFICOS (TCE, TRM E TORÁCICO) 21
5.1 TRAUMATISMO CRÂNIO-ENCEFÁLICO 22
5.2 TRAUMATISMOS RAQUI MEDULAR - TRM 25
5.3 TRAUMATISMOS NO TÓRAX 26
6 MANIPULAÇÃO E TRANSPORTE DE ACIDENTADOS 29
6.1 ROLAMENTO DE 900 30
6.2 ROLAMENTO DE 1800 32
6.3 ELEVAÇÃO À CAVALEIRO 33
6.4 RETIRADA DE CAPACETE 35
6.5 EXTRAÇÃO VEICULAR – KED 36

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6.6 EXTRAÇÃO VEICULAR – CHAVE DE RAUTEK 37


6.7 TRANSPORTE DE PACIENTES 38
7 QUEIMADURAS 42
7.1 CLASSIFICAÇÃO, SINAIS E SINTOMAS 42
7.2 GRAVIDADE DAS QUEIMADURAS 44
LIÇÃO 4 47
8 INTOXICAÇÕES 47
8.1 INTOXICAÇÃO E ENVENENAMENTO 47
8.2 INTOXICAÇÕES POR INGESTÃO 48
8.3 INTOXICAÇÕES POR INALAÇÃO 52
8.4 INTOXICAÇÕES POR CONTATO 53
8.5 INTOXICAÇÕES POR INJEÇÕES 54
8.6 ACIDENTES OFÍDICOS 55
8.7 ABUSO DE DROGAS 56
9 CONVULSÃO 57
9.1 CAUSAS 57
9.2 EPILEPSIA 58
9.3 TIPOS DE CRISE 58
9.4 DURAÇÃO DAS CRISES 59
9.5 CAUSAS E FATORES DESENCADEANTES 59
9.6 SINAIS E SINTOMAS DE UMA CRISE CONVULSIVA 60
10 PARTO 61
10.1 ANATOMIA DA MULHER GRÁVIDA 61
10.2 FASES DO TRABALHO DE PARTO 62
10.3 EVOLUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO 63
10.4 CONDUTAS DO EMERGENCISTA PARA O PARTO DE EMERGÊNCIA 64
10.5 COMPLICAÇÕES NO PARTO E SEU TRATAMENTO 67
10.6 APRESENTAÇÃO PÉLVICA 68
10.7 PROLAPSO DE CORDÃO UMBILICAL 69
10.8 PARTO MÚLTIPLO 69
10.9 PRÉ-MATURO 70
10.10 HEMORRAGIA EXCESSIVA 70
11 AFOGAMENTO 70
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11.1 CLASSIFICAÇÃO DE AFOGAMENTO 71


11.2 GRAUS DE AFOGAMENTO 71
12 BIOMECÂNICA DO TRAUMA 75
12.1 PRINCÍPIO DA INÉRCIA (PRIMEIRA LEI DE NEWTON) 76
12.2 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DINÂMICA (SEGUNDA LEI DE NEWTON) 76
12.3 PRINCÍPIO DA AÇÃO E REAÇÃO (TERCEIRA LEI DE NEWTON) 77
12.4 LEI DA CONSERVAÇÃO DA ENERGIA 77
12.5 ENERGIA CINÉTICA 77
13 ALGORÍTMO DE TRIAGEM - MÉTODO START 78
13.1 MÉTODO DE TRIAGEM 79
13.2 SIGNIFICADO DAS CORES 79
13.3 AÇÃO DOS PRIMEIROS EMERGENCISTAS NA CENA 81

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INTRODUÇÃO

Nas lições 1 e 2 do caderno temático de Atendimento Pré-Hospitalar foram


estudados conhecimentos e procedimentos básicos em situações de emergência.
Nesta continuação do caderno temático, nas lições 3 e 4, serão abordadas situações
mais específicas do atendimento pré-hospitalar onde serão tratados temas como
hemorragias, estado de choque, ferimentos, trauma em ossos, traumatismo
específicos, manipulação e transporte de acidentados, queimaduras, intoxicações,
convulsão, parto, afogamento, biomecânica do trauma e o algoritmo de triagem -
método START.
Ressalta-se que todo o material didático que serviu como base para a
confecção dos cadernos temáticos de Atendimento Pré-Hospitalar, lições 1, 2, 3 e 4,
é proveniente dos Cursos de Emergencista Pré-Hospitalar 1 e 2, elaborados pela
Secretaria Nacional da Segurança Pública (SENASP), vinculada ao Ministério da
Justiça em seus cursos ministrados à distância.

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LIÇÃO 3

Nesta lição serão abordados os seguintes assuntos:

- Hemorragia;

- Choques;

- Ferimentos;

- Trauma em ossos;

- Traumatismos específicos (TCE, TRM e torácico);

- Manipulação e transporte de acidentados; e

- Queimaduras.

1 HEMORRAGIAS

Os objetivos desta aula são:

● Enumerar sinais ou sintomas indicativos de uma hemorragia; e

● Citar e demonstrar diferentes técnicas para controlar hemorragias


externas.

Hemorragia é o extravasamento de sangue para fora dos vasos ou do


coração e é sempre patológico, exceto durante a menstruação ou trauma. As
hemorragias podem ser internas ou externas, espontâneas ou provocadas (nos
ferimentos), causadas tanto por lesões da parede vascular de natureza inflamatória,
traumática ou tumoral.

1.1 CLASSIFICAÇÃO DE FORMA ANATÔMICA OU CLÍNICA

Hemorragia interna - Classificação clínica

Geralmente não é visível, porém é bastante grave, pois pode provocar


choque e levar a vítima à morte.

Sinais e sintomas de hemorragia interna

● Idênticos aos da hemorragia externa

● Saída de sangue ou ruídos pelo nariz e/ou pavilhão auditivo externo

● Vômito ou tosse com presença de sangue

● Contusões
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● Rigidez ou espasmos dos músculos abdominais

● Dor abdominal

● Sangramento pelas genitálias

Hemorragia externa - Classificação clínica

Ocorre devido a ferimentos abertos.

Sinais e sintomas de hemorragias externas

● Agitação

● Palidez

● Sudorese intensa

● Pele fria

● Pulso acelerado (acima de 100 bpm)

● Hipotensão

● Sede

● Fraqueza

1.2 CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA

● Arterial: hemorragia que faz jorrar sangue pulsátil e de cor vermelho


vivo.

● Capilar: O sangue sai lentamente dos vasos menores, na cor similar


ao sangue venoso.

● Venosa: Hemorragia onde o sangue sai lento e contínuo, com cor


vermelho escuro.

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Fonte: http://www.ergoss.com.br/2016/01/primeiros-socorros-hemorragia/

1.3 TÉCNICAS UTILIZADAS NO CONTROLE DAS HEMORRAGIAS

1 Pressão direta sobre o ferimento

2 Curativo compressivo

3 Torniquete

A partir da 8ª Edição do PHTLS (2016), as técnicas de elevação do membro


e compressão de pontos arteriais não são mais recomendados para situações nas
quais a compressão direta ou um curativo compressivo não conseguiram controlar
uma hemorragia, pois nenhuma pesquisa foi publicada sobre a eficácia da elevação
do membro, além de que poderiam agravar uma possível fratura, assim como
pressão em pontos arteriais não foram estudados. Logo, o uso da técnica de
“elevação” e pressão sobre outros pontos não é recomendado devido a dados
insuficientes que sustentam sua efetividade.

Importante ressaltar que, atualmente, a avaliação primária não pode avançar


a menos que a hemorragia externa seja controlada.

A pressão direta consiste exatamente o que o nome indica - aplicar pressão


no local de sangramento. Isto é alcançado colocando-se um curativo (por exemplo,
gaze hemostática de preferência) diretamente sobre o local da hemorragia e
aplicando pressão. A pressão deve ser aplicada o mais precisamente e focalmente
possível. A pressão deve ser aplicada continuamente por pelo menos 3 a 10 minutos
se estiver usando gaze simples. O emergencista deve evitar a tentação de remover
a pressão para verificar se a ferida continua sangrando antes do período mínimo de
pressão.

Para o curativo compressivo, existem muitas opções comerciais a serem


aplicadas, a exemplo da bandagem israelense, ou ainda pode ser feita a pressão
utilizando-se da gaze almofadada e uma atadura elástica.

Se o sangramento ainda assim não puder ser controlado, o uso de


torniquete aparece como uma opção viável. Torniquetes são muito eficazes no
controle de hemorragias graves e devem ser usados se houver possibilidade de
pressão local, se um curativo de pressão não conseguir controlar a hemorragia de

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uma extremidade ou se não há operadores suficientemente disponíveis em cena


para executar outros métodos de controle de sangramento.

Logo, no caso de risco de vida ou hemorragia exsanguinante, um torniquete


deve ser aplicado em vez de concorrer com outras medidas de controle de
sangramento. Cabe observar que os torniquetes improvisados, não raras vezes,
podem ter eficácia mais limitada do que as versões comercialmente disponíveis.

O torniquete deve ser utilizado logo acima do local do ferimento


hemorrágico. Se um torniquete não conseguir estancar, aplica-se outro logo acima
do primeiro (PHTLS, 2016). Como medida alternativa, até um manguito de pressão
arterial pode ser utilizado. A pressão deverá ser suficiente para impedir o fluxo
sanguíneo e impedir o pulso distal no membro afetado e pode ser utilizado por um
período de 120 até 150 minutos.

Cabe destacar que na ocorrência de hemorragia juncional, sangramento que


ocorre onde duas zonas anatomicamente distintas se juntam, a exemplos de áreas
juncionais incluem abdome inferior, virilha, axilas e extremidades proximal, o uso de
um torniquete ou pressão direta nessas áreas é muitas vezes um tanto impraticável
e ineficaz. Logo, o principal tratamento para hemorragia juncional é compressão
direta dos grandes vasos que se estendem a área proximal da lesão e uma
quantidade significativa de pressão direta em artérias femorais, ilíacas ou axilares,
podem ser necessários para retardar o sangramento. Isso tudo é frequentemente
combinado com o uso de aplicações externas de agentes hemostáticos e curativos
pressurizados.

Tratamento Pré-Hospitalar:

● Avalie nível de consciência;

● Abra as VA estabilizando a coluna cervical;

● Monitore a respiração e a circulação;

● Exponha o local do ferimento;

● Efetue a hemostasia;

● Afrouxe as roupas;

● Aqueça o paciente;

● Não dê nada de comer ou beber;


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● Ministre oxigênio suplementar; e

● Transporte o paciente imediatamente para o hospital.

Em casos de amputação traumática, esmagamento de membro e


hemorragia em vaso arterial de grande calibre, deve-se empregar a combinação das
técnicas de hemostasia.

Fonte: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-904656502-kit-3-torniquetes-aph-tatico-militar-cat-
bombeiros-samu-_JM?quantity=1

2 CHOQUES

O objetivo desta aula é descrever, passo a passo, o tratamento merecido por


uma pessoa vítima de choque.

2.1 ESTADO DE CHOQUE

A função do sistema circulatório é distribuir sangue com oxigênio e


nutrientes para todas as partes do corpo. Quando isso, por qualquer motivo, deixa
de acontecer e começa a faltar oxigênio nos tecidos corporais, ocorre o que
denominamos estado de choque, ou seja, as células corporais começam a morrer,
começam a entrar em sofrimento e, se esta condição não for revertida, as células
acabam morrendo.

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É uma reação do organismo a uma condição onde o sistema circulatório não


fornece circulação suficiente para cada parte vital do organismo.

As causas do choque podem ser:

● Insuficiência cardíaca: Quando o coração não conseguir bombear


quantidade suficiente de sangue. Se o coração por algum motivo deixar
de bombear sangue adequadamente ou parar de funcionar (parada
cardíaca), o choque se desenvolverá de imediato.

● Lesão nos vasos sanguíneos: O sistema circulatório deve,


obrigatoriamente, ser um sistema fechado. Se os vasos (artérias, veias
ou capilares) forem lesados e perderem muito sangue, o paciente
entrará em choque.

● Diminuição do volume de sangue circulante: Se houver uma


diminuição no volume de sangue circulante ou se os vasos sanguíneos
por algum motivo se dilatarem (aumentarem seu diâmetro), impedindo
que o sistema permaneça preenchido corretamente, o choque se
desenvolverá.

2.2 TIPOS DE CHOQUE

O choque pode ser classificado de várias formas porque existem mais de


uma causa para ele. O emergencista não necessita conhecer todas essas formas de
choque, no entanto, é fundamental que ele entenda de que forma os pacientes
podem desenvolver o choque.

Os tipos de choque são:

● Choque hemorrágico: É o choque causado pela perda de sangue


e/ou pela perda de plasma. Ex.: Sangramentos graves ou
queimaduras.
● Choque cardiogênico: É o choque cardíaco. Este choque é causado
pela falha do coração no bombeamento sanguíneo para todas as
partes vitais do corpo.
● Choque neurogênico: É o choque do sistema nervoso, em outras
palavras, a vítima sofre um trauma e o sistema nervoso não consegue
controlar o calibre (diâmetro) dos vasos sanguíneos. O volume de

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sangue disponível é insuficiente para preencher todo o espaço dos


vasos sanguíneos dilatados.
● Choque anafilático: É o choque alérgico. Desenvolve-se no caso de
uma pessoa entrar em contato com determinada substância da qual é
extremamente alérgica, por exemplo, alimentos, medicamentos,
substâncias inaladas ou em contato com a pele. O choque anafilático é
o resultado de uma reação alérgica severa e que ameaça a vida.
● Choque séptico: É o choque da infecção. Microorganismos lançam
substâncias prejudiciais que provocam uma dilatação dos vasos
sanguíneos. O volume de sangue torna-se insuficiente para preencher
o sistema circulatório dilatado. O choque séptico ocorre geralmente no
ambiente hospitalar e, portanto, é pouco observado pelos profissionais
emergencistas que atuam no ambiente pré-hospitalar.

2.3 SINAIS E SINTOMAS GERAIS DO CHOQUE

● Agitação ou ansiedade
● Respiração rápida e superficial
● Pulso rápido e filiforme (fraco)
● Pele fria e úmida
● Sudorese
● Face pálida e posteriormente cianótica
● Olhos estáveis, sem brilho e pupilas dilatadas
● Sede
● Náuseas e vômitos
● Queda da pressão arterial

2.4 SINAIS E SINTOMAS DO CHOQUE ANAFILÁTICO:

● Prurido na pele
● Sensação de queimação na pele
● Edema generalizado
● Dificuldade para respirar
● Inconsciência

Tratamento Pré-Hospitalar do estado de choque:

● Avalie nível de consciência;

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● Posicione a vítima deitada (decúbito dorsal);


● Abra as VA estabilizando a coluna cervical;
● Avalie a respiração e a circulação;
● Efetue a hemostasia;
● Afrouxe as roupas;
● Aqueça o paciente;
● Não dê nada de comer ou beber;
● Eleve os MMII (caso haja fraturas, eleve-a após posicioná-la sobre uma
maca rígida, exceto se houver suspeita de TCE);
● Imobilize fraturas;
● Ministre oxigênio suplementar; e
● Transporte o paciente imediatamente para o hospital.

Na entrevista, pergunte se o paciente é alérgico a alguma substância e se


teve contato com ela. No mais, trate igualmente como outro choque já visto
anteriormente. Neste caso, a vítima precisa receber medicamentos para combater a
reação alérgica.

3 FERIMENTOS

O objetivo desta aula é descrever os procedimentos gerais para tratar


ferimentos abertos e fechados.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS FERIMENTOS

● Ferimento ou trauma aberto: é aquele onde existe uma perda de


continuidade da superfície cutânea.
● Ferimento ou trauma fechado: ocorre quando a lesão é abaixo da
pele, porém não existe perda da continuidade na superfície, ou seja, a
pele continua intacta.

3.2 TIPOS DE FERIMENTOS

Existem diferentes tipos de ferimentos abertos em partes moles, os mais


comuns são:

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Abrasões ou escoriações

São lesões superficiais de sangramento discreto e muito doloroso.


Usualmente não é um ferimento sério, desde que a pele não seja completamente
perfurada e a força que causou o ferimento não esmague ou rompa outras
estruturas. A contaminação da ferida tende a ser o mais sério problema encontrado.
Devem ser protegidas com curativo estéril de material não aderente, bandagens ou
ataduras.

Ferimentos incisos

São lesões de bordas regulares produzidas por objetos cortantes, como


lâminas de barbear, facas e vidros quebrados, que podem causar sangramentos
variáveis e danos a tecidos profundos, como tendões, músculos e nervos. Devem
ser protegidas com curativo estéril fixado com bandagens ou ataduras.

Ferimentos lacerantes ou lacerações

São lesões de bordas irregulares, produzidas por objetos rombos, onde o


tecido ao longo da extremidade da ferida é rasgado, produzindo extremidades
ásperas. Devem ser protegidas com curativo estéril fixado com bandagens e
ataduras.

Ferimentos perfurantes ou penetrantes

São lesões que avançam através da pele e danificam os tecidos em uma


linha transversal. Podem ser provocados por objetos pontiagudos e armas de fogo.
Uma ferida penetrante pode ser perfurante, quando há um ponto de entrada e outro
de saída. O emergencista deve considerar lesões de órgãos internos, quando o
ferimento localizar-se nas regiões do tórax ou abdome. As lesões devem ser
cobertas completamente com curativo estéril.

Avulsões

São lesões que envolvem rasgos ou arrancamentos de uma grande parte da


pele. Se possível e se a pele estiver ainda presa, deve ser recolocada sobre o
ferimento, controlada a hemorragia e, a seguir, coberta com curativo estéril fixado
com bandagens ou ataduras.

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Eviscerações

Lesão na qual a musculatura do abdome é rompida em decorrência de


violento impacto ou lesão de objeto penetrante ou cortante, expondo o interior da
região abdominal à contaminação ou exteriorizando vísceras. É preciso remover
vestes para expor a lesão e não recolocar nenhum órgão eviscerado para dentro do
abdome, em seguida, cobrir com plástico ou curativo oclusivo. Não lavar a lesão.

3.3 TRATAMENTO DE UM FERIMENTO ABERTO

● Utilize proteção individual do emergencista (EPI);


● Exponha o local do ferimento (se necessário, corte as vestes);
● Cubra o ferimento com um curativo estéril (curativo = compressa de
gaze e atadura) para controlar sangramentos e prevenir contaminação;
● Mantenha o paciente em repouso e tranquilize-o; e
● Trate o choque.

Não remova um curativo já colocado, caso não tenha ocorrido a hemostasia.

3.4 TRATAMENTO DE FERIMENTOS FECHADOS

Estes ferimentos podem variar desde lesões abaixo da pele até lesões
severas em órgãos internos.

Tratamento pré-hospitalar:

● Avalie o acidentado;
● Identifique a lesão; e
● Trate a hemorragia interna com imobilização, prevenindo o choque.

3.5 TRAUMAS ESPECÍFICOS

A seguir são listados traumas específicos e suas formas de tratamento:

Couro cabeludo

● Controle a hemorragia com pressão direta (não puntiforme);


● Suspeite de lesão adicional na cabeça ou pescoço;
● Não aplique pressão se existir a possibilidade de fratura no crânio; e
● Não lave.

Ferimentos na face

● Reviste a boca procurando corpos estranhos ou sangue coagulado;


● Mantenha as vias aéreas permeáveis;
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● Se houver objeto penetrante nas bochechas, empurre de dentro para


fora e cubra com compressas interna e externamente;
● Se necessário, transporte o paciente lateralizado para drenar o sangue
da boca;
● Tenha cuidado se houver lesão associada de pescoço; e
● Mantenha a posição neutra da cabeça.

Hemorragia nasal

● Mantenha as vias aéreas abertas;


● Mantenha a cabeça um pouco fletida, comprimindo um pouco acima
das fossas nasais, para estancar as hemorragias; e
● Se houver saída de líquido cefalorraquidiano, não oclua o nariz.

Ferimentos nos olhos

● Não comprima diretamente sobre os olhos;


● Cubra o globo ocular lesado com curativo úmido e proteja com copo
plástico ou bandagem triangular em anel e compressas de gaze e
esparadrapo;
● Estabilize objetos cravados e nunca tente removê-los;
● Tampe os dois olhos; e
● Dê apoio emocional.

Lesões no ouvido e orelhas

● Não tente remover objetos cravados;


● Não tampone a saída de sangue ou líquor; e
● Aplique gaze externamente (frouxa e em grande quantidade) e fixe com
esparadrapo.

Ferimentos no pescoço

● Aplique pressão direta com a mão para cessar hemorragias;


● Aplique curativo com uma bandagem sem comprimir ambos os lados
do pescoço;
● Trate o choque (oxigênio etc);
● Observe a respiração; e
● Mantenha a posição neutra da cabeça.

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Ferimentos abdominais

● Órgãos sólidos sangram muito. Ex.: fígado e baço.


● Órgãos ocos são altamente contaminantes. Ex.: estômago e intestino.

Sinais e sintomas de traumas fechados

● Dor ou contração;
● Abdome protegido;
● Respiração rápida e superficial;
● Abdome sensível ou rígido.

Tratamento para ferimentos abdominais abertos

● Descubra o local e aplique curativo estéril úmido sobre o ferimento;


● Não recoloque órgãos eviscerados;
● Não remova objetos cravados;
● Previna-se para a ocorrência de vômito;
● Trate o choque (oxigênio etc); e
● Transporte a vítima com as pernas fletidas.

Ferimentos na genitália

● Controle o sangramento com pressão direta;


● Nas contusões, use bolsa de gelo ou água fria;
● Não remova os objetos transfixados; e
● Preserve as partes avulsionadas, envolvendo-as em plástico, curativos
esterilizados ou qualquer curativo limpo.

4 TRAUMA EM OSSOS

Esta aula tem como objetivo apresentar os tipos de trauma em ossos e


descrever os procedimentos a serem executados em cada caso:

4.1 FRATURA

Ruptura total ou parcial de um osso.

Classes de fraturas

● Fechada (simples) - A pele não foi perfurada pelas extremidades


ósseas.

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● Aberta (exposta) - O osso se quebra, atravessando a pele, ou existe


uma ferida associada que se estende desde o osso fraturado até a
pele.

Sinais e sintomas de fratura:

Deformidade - A fratura produz uma posição anormal ou angulação num


local que não possui articulação;

Sensibilidade - Geralmente o local da fratura está muito sensível à dor;

Crepitação - Num movimento da vítima podemos escutar um som áspero,


produzido pelo atrito das extremidades fraturadas. Não pesquisar este sinal
intencionalmente, porque aumenta a dor e pode provocar lesões;

Edema e alteração de coloração - Quase sempre a fratura é acompanhada


de certo inchaço provocado pelo líquido entre os tecidos e as hemorragias. A
alteração de cor poderá demorar várias horas para aparecer;

Impotência funcional - Perda total ou parcial dos movimentos das


extremidades. A vítima geralmente protege o local fraturado, não pode mover-se ou
o faz com dificuldade e dor intensa;

Fragmentos expostos - Numa fratura aberta, os fragmentos ósseos podem


se projetar através da pele ou serem vistos no fundo do ferimento.

4.2 LUXAÇÃO

É o desalinhamento das extremidades ósseas de uma articulação fazendo


com que as superfícies articulares percam o contato entre si.

Sinais e sintomas de luxação:

● Deformidade: Mais acentuada na articulação luxada;


● Edema: inchaço local;
● Dor: Aumenta se a vítima tenta movimentar a articulação; e
● Impotência funcional: perda completa ou quase total dos movimentos
articulares.

4.3 ENTORSE

É a torção ou distensão brusca de uma articulação, além de seu grau normal


de amplitude.

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Sinais e sintomas de entorses

São similares aos das fraturas e aos das luxações. Mas nas entorses os
ligamentos geralmente sofrem ruptura ou estiramento, provocados por movimento
brusco.

4.4 AMPUTAÇÕES

São lesões geralmente relacionadas a acidentes automobilísticos


(amputações traumáticas). Seu tratamento inicial deve ser rápido, pela gravidade da
lesão e pela possibilidade de reimplante.

O procedimento a ser adotado em caso de amputação é:

● Controlar a hemorragia;
● Aplicar curativo estéril;
● Fixar o curativo com bandagens ou ataduras; e
● Guardar a parte amputada envolta em gaze ou compressa estéril (pano
limpo), umedecido com solução fisiológica, colocando dentro de um
saco plástico e este, então, dentro de um segundo saco ou caixa de
isopor repleta de gelo.

Razões para a imobilização provisória

● Evitar a dor;
● Prevenir ou minimizar lesões futuras de músculos, nervos e vasos
sanguíneos;
● Manter a perfusão no membro; e
● Auxiliar a hemostasia.

Regras gerais de imobilização no tratamento pré-hospitalar:

● Informe o que planeja fazer;


● Exponha o local. As roupas devem ser cortadas e removidas sempre
que houver suspeita de fratura, entorse ou luxação;
● Controle hemorragias e cubra feridas. Não empurre fragmentos ósseos
para dentro do ferimento, nem tente removê-los. Use curativos estéreis;
● Observe o pulso distal, a mobilidade, a sensibilidade e a perfusão;
● Reúna e prepare todo o material de imobilização (use se possível, talas
acolchoadas);

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● Imobilize e use tensão suave para que o local fraturado possa ser
colocado na tala. Movimente o mínimo possível. Imobilize todo o osso
fraturado, uma articulação acima e abaixo. Em alguns casos, a
extremidade deve ser imobilizada na posição encontrada;
● Revise a presença de pulso e a função nervosa. Assegure-se que a
imobilização está adequada e não restringe a circulação; e
● Previna ou trate o estado de choque.

Materiais utilizados na imobilização de pacientes

● Talas rígidas;
● Talas moldáveis;
● Talas infláveis;
● Talas de tração;
● Colares cervicais;
● Colete de imobilização dorsal;
● Macas rígidas;
● Bandagens triangulares; e
● Ataduras.

Na maioria das vezes, é impossível saber sem o uso do raio-X se o paciente


é verdadeiramente portador de uma fratura, entorse ou luxação. No entanto, até ser
provado o contrário, deve-se sempre tratá-lo como se fosse portador de fratura.

5 TRAUMATISMOS ESPECÍFICOS (TCE, TRM E TORÁCICO)

Os objetivos desta aula são:

● Descrever os principais sinais e sintomas do traumatismo crânio-


encefálico;
● Descrever os procedimentos de avaliação e de atendimento pré-
hospitalar a uma vítima com lesões no crânio e na coluna vertebral; e
● Descrever os passos para avaliar e atender uma vítima com fraturas
em costelas, tórax instável e ferimentos penetrantes no tórax.

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5.1 TRAUMATISMO CRÂNIO-ENCEFÁLICO (TCE)

FRATURAS DE CRÂNIO

As fraturas de crânio são comuns nas vítimas de acidentes que receberam


impacto na cabeça. A gravidade da lesão depende do dano provocado no cérebro.
São mais frequentes lesões cerebrais, nos traumatismos sem fratura de crânio. As
fraturas poderão ser abertas ou fechadas.

Fraturas Abertas

São aquelas que permitem a comunicação entre as meninges ou o cérebro e


o meio exterior. Há ruptura do couro cabeludo com exposição do local da fratura.

Fraturas Fechadas

São as que afetam o osso sem, entretanto, expor o conteúdo da caixa


craniana, não existe solução de continuidade da pele.

LESÕES ENCEFÁLICAS

Concussão

Quando uma pessoa recebe um golpe na cabeça ou na face, pode haver


uma concussão encefálica. Não existe um acordo geral sobre a definição de
concussão exceto que esta envolve a perda temporária de alguma ou de toda a
capacidade da função encefálica. Pode não haver lesão encefálica demonstrável. O
paciente que sofre uma concussão pode se tornar completamente inconsciente e
incapaz de respirar em curto período de tempo, ou ficar apenas confuso. Em geral, o
estado de concussão é bastante curto e não deve existir quando o emergencista
chegar ao local do acidente.

Se o paciente não consegue se lembrar dos eventos ocorridos antes da


lesão (amnésia), existe uma concussão mais grave.

Contusão

O cérebro pode sofrer uma contusão quando qualquer objeto bate com força
no crânio. A contusão indica a presença de sangramento a partir de vasos lesados.

Quando existe uma contusão cerebral, o paciente pode perder a


consciência. Outros sinais de disfunção por contusão incluem a paralisia de um dos
lados do corpo, dilatação de uma pupila e alteração dos sinais vitais. As contusões

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muito graves podem produzir inconsciência por período de tempo prolongáveis e


também causar paralisia em todos os membros.

Mesmo em contusões graves, pode haver recuperação sem necessidade de


cirurgia intracraniana.

As mudanças na recuperação são diretamente proporcionais aos cuidados


dispensados ao paciente desde o início das lesões. Os pacientes devem receber
ventilação adequada, reanimação cardiorrespiratória quando necessário, devendo
ser transportado para o serviço de emergência para uma avaliação e cuidados
neurocirúrgicos.

Os tipos de lesões encefálicas são:

DIRETAS

São produzidas por corpos estranhos que lesam o crânio, perfurando-o e


lesando o encéfalo.

INDIRETAS

Golpes na cabeça podem provocar, além do impacto do cérebro na calota


craniana, com consequente dano celular, hemorragias dentro do crânio. Este
hematoma acarreta compressão do tecido cerebral. A hipertensão intracraniana
provocada pela hemorragia e edema causa lesão nas células cerebrais.

Sinais e sintomas do trauma crânio-encefálico (TCE)

● Cefaleia e/ou dor no local da lesão;


● Náuseas e vômitos;
● Alterações da visão;
● Alteração do nível de consciência podendo chegar à inconsciência;
● Ferimento ou hematoma no couro cabeludo;
● Deformidade do crânio (depressão ou abaulamento);
● Pupilas desiguais (anisocoria);
● Sangramento observado através do nariz ou dos ouvidos;
● Líquido claro (líquor) que flui pelos ouvidos ou pelo nariz;
● Alteração dos sinais vitais;
● Postura de decorticação ou descerebração.

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A escala de coma de Glasgow (ECG) foi criada na Escócia em 1974, na


Universidade de Glasgow, por Taeasdale e Jennet. Essa escala é utilizada
mundialmente para reconhecer disfunções neurológicas e acompanhar a evolução
do nível de consciência, no prognóstico e padronizar a linguagem entre os
profissionais de saúde.

A ECG é utilizada na avaliação do nível de consciência, auxilia na


determinação da gravidade do trauma, na interpretação do estado clínico e
prognóstico do paciente. Avalia a reatividade do paciente mediante a observação de
três parâmetros: abertura ocular, reação motora e resposta verbal.

Em 2018 houve a alteração da ECG a qual foi sistematizada em quatro


passos.

Cada componente dos três parâmetros iniciais recebe um escore, de modo


que o escore geral varia de 3 a 15, sendo o melhor escore 15 e, o pior, 3. Do valor
da ECG é subtraido o valor da avaliação pupilar (0 à 2). Os pacientes com escore 15
apresentam nível de consciência normal, os pacientes com escores menores que 8
indicações de proteção de via aérea por meio de via aérea invasiva ou avançada
são considerados em coma, sendo apontado o estado de extrema urgência.

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Tratamento Pré-Hospitalar:

● Corrija os problemas que ameaçam a vida. Mantenha a permeabilidade


das vias aéreas (abertas), a respiração e a circulação;
● Suspeite de lesão cervical associada ao acidente e adote os
procedimentos apropriados;
● Controle hemorragias (não detenha a saída de sangue ou líquor pelos
ouvidos ou pelo nariz);
● Cubra e proteja os ferimentos abertos;
● Mantenha a vítima em repouso;
● Proteja a vítima para a possibilidade de entrar em convulsão;
● Monitore o estado de consciência, a respiração e o pulso;
● Trate o choque e evite a ingestão de líquidos ou alimentos; e
● Esteja preparado para o vômito.

Nunca tente remover objetos transfixados na cabeça.

Não se deve conter sangramento ou impedir a saída de líquor pelo nariz ou


pelos ouvidos nos traumatismos crânio-encefálico (TCE). Poderá ocorrer aumento
na pressão intracraniana ou infecção no encéfalo.

Traumatismos de face

O principal perigo das lesões e fraturas faciais são os fragmentos ósseos e o


sangue que poderão provocar obstruções nas vias aéreas.

Sinais e sintomas

● Coágulos de sangue nas vias aéreas;


● Deformidade facial;
● Equimose nos olhos;
● Perda do movimento ou impotência funcional da mandíbula;
● Dentes amolecidos ou quebrados (ou a quebra de próteses dentárias);
● Grandes hematomas ou qualquer indicação de golpe severo na face.

Tratamento Pré-Hospitalar:

É o mesmo tratamento utilizado no cuidado de ferimentos em tecidos moles,


sua atenção deve estar voltada para a manutenção da permeabilidade das vias
aéreas e controle de hemorragias. Cubra com curativos estéreis os traumas abertos,
monitore os sinais vitais e esteja preparado para o choque.
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5.2 TRAUMATISMOS RAQUI MEDULAR (TRM)

São aqueles onde ocorre o comprometimento da estrutura óssea (vértebras)


e medula espinhal. Os danos causados por traumas nessas estruturas poderão
ocasionar lesões permanentes, se a região atingida for a cervical poderá
comprometer a respiração, levar à paralisia ou até mesmo à morte.

Sinais e sintomas

● Dor regional (pescoço, dorso e região lombar);


● Perda da sensibilidade tátil nos membros superiores e inferiores;
● Perda da capacidade de movimentação dos membros (paralisia);
● Sensação de formigamento nas extremidades;
● Deformidade em topografia da coluna;
● Lesões na cabeça, hematomas nos ombros, escápula ou região dorsal
do paciente;
● Perda do controle urinário ou fecal;
● Dificuldade respiratória com pouco ou nenhum movimento torácico; e
● Priapismo (ereção peniana contínua).

Complicações:

Paralisia dos músculos do tórax (respiratórios). A respiração sendo feita


exclusivamente pelo diafragma.

A lesão medular provoca dilatação dos vasos sanguíneos, podendo se


instalar o choque (neurogênico).

Tratamento Pré-Hospitalar

● Corrija os problemas que ameaçam a vida. Mantenha a permeabilidade


das VA, a respiração e a circulação;
● Controle o sangramento importante;
● Administre oxigênio;
● Evite movimentar o paciente e não deixe que ele se movimente;
● Não mobilize uma vítima com trauma de coluna, a menos que
necessite RCP, controle de sangramento que ameace a vida e/ou
remoção do local por risco iminente;
● Imobilize a cabeça e o pescoço com emprego do colar cervical,
fixadores de cabeça e prancha rígida;
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● Monitore os sinais vitais constantemente e tenha cuidado com o


choque e a parada respiratória.

Lembre que ao lidar com pacientes com lesão na coluna, o emergencista


deve realizar todas as manobras mantendo a cabeça e o pescoço fixos.

5.3 TRAUMATISMOS NO TÓRAX

Sinais e sintomas

Dependendo da extensão, presença de lesões associadas (fratura de


esterno, costelas e vértebras) e comprometimento pulmonar e/ou dos grandes
vasos, o paciente poderá apresentar:

● Aumento da sensibilidade ou dor no local da fratura que se agrava com


os movimentos respiratórios;
● Respiração superficial (dificuldade de respirar, apresentando
movimentos respiratórios curtos);
● Eliminação de sangue através de tosse;
● Cianose nos lábios, pontas dos dedos e unhas;
● Postura característica: o paciente fica inclinado sobre o lado da lesão,
com a mão ou o braço sobre a região lesada, imóvel; e
● Sinais de choque, como pulso rápido e PA baixa.

Tipos de traumatismos no tórax

Fratura de Costelas

Sinais e sintomas

● Dor na região da fratura;


● Dor ao respirar movimentos respiratórios curtos; e
● Crepitação.

Tratamento pré-hospitalar

● Na fratura de uma ou duas costelas, posicione o braço do paciente


sobre o local da lesão; e
● Use bandagens triangulares como tipoia e outras para fixar o braço no
tórax.

Não use esparadrapo direto sobre a pele para imobilizar costelas fraturadas.

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Tipos de traumatismos no tórax

Tórax Instável

Ocorre quando duas ou mais costelas estão quebradas em dois pontos.


Provoca a respiração paradoxal. O segmento comprometido se movimenta,
paradoxalmente, ao contrário do restante da caixa torácica durante a inspiração e a
expiração. Enquanto o tórax se expande, o segmento comprometido se retrai e
quando a caixa torácica se contrai, o segmento se eleva.

Tratamento Pré-Hospitalar:

● Estabilize o segmento instável que se move paradoxalmente durante


as respirações;
● Use almofadas pequenas ou compressas dobradas presas com fita
adesiva larga;
● O tórax não deverá ser totalmente enfaixado;
● Transporte o paciente deitado sobre a lesão ou na posição que mais
lhe for confortável; e
● Ministre oxigênio suplementar.

Tipos de traumatismos no tórax

Ferimentos Penetrantes

São os traumas abertos de tórax, geralmente provocados por objetos que


não se encontram cravados, assim como lesões provocadas por armas brancas, de
fogo ou lesões ocorridas nos acidentes de trânsito etc. Pelo ferimento é possível
perceber o ar entrando e saindo pelo orifício.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Tampone o local do ferimento usando a própria mão protegida por


luvas, após a expiração;
● Faça um curativo oclusivo com plástico ou papel aluminizado (curativo
de três pontas), a oclusão completa do ferimento pode provocar um
pneumotórax hipertensivo grave; e
● Conduza o paciente com urgência para um hospital e ministre oxigênio,
de acordo com o protocolo local.

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Objetos cravados ou encravados

Não remova corpos estranhos encravados (pedaços de vidro, facas, lascas


de madeiras, ferragens etc). As tentativas de remoção poderão causar hemorragia
grave, ou ainda, lesar nervos e músculos próximos da lesão.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Controle a hemorragia por pressão direta;


● Use curativo volumoso para estabilizar o objeto encravado, fixando-o
com fita adesiva;
● Transporte o paciente administrando oxigênio suplementar.

Lesões do coração e pulmão

O ar que sai do pulmão perfurado leva ao pneumotórax hipertensivo que


resulta em colapso pulmonar. As hemorragias no interior da caixa torácica
(hemotórax) provocam compressão do pulmão, levando também à insuficiência
respiratória. As lesões na caixa torácica acabam provocando lesões internas nos
pulmões e no coração. O sangue envolvendo a cavidade do pericárdio pode também
resultar em uma perigosa compressão no coração.

Todas estas lesões são emergências sérias que requerem pronta


intervenção médica.

Sinais e sintomas

● Desvio de traqueia;
● Estase jugular;
● Cianose;
● Sinais de choque; e
● Enfisema subcutâneo.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Ministre oxigênio e conduza o paciente com urgência para receber


tratamento médico.

6 MANIPULAÇÃO E TRANSPORTE DE ACIDENTADOS

Os objetivos desta aula são:

● Enumerar diferentes formas de manipulação de um paciente;


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● Executar corretamente a técnica de imobilização e transporte de um


paciente, utilizando pranchas longas; e
● Executar corretamente a técnica de retirada de capacete.

Mobilização

Manipulação justificada de um paciente a fim de evitar mal maior.

Manipulação e transporte correspondem a qualquer procedimento


organizado para manipular, reposicionar ou transportar um paciente doente ou
ferido, de um ponto para outro.

As técnicas de manipulação abordadas nesta aula são:

● Rolamento de 90º;
● Rolamento de 180º;
● Elevação a cavaleiro;
● Retirada de capacete;
● Imobilização de fraturas; e
● Extricação veicular KED e Chave de Rauteck.

Estas técnicas serão apresentadas a seguir.

6.1 ROLAMENTO DE 90º

Técnica empregada para posicionar o paciente na prancha, quando este se


encontrar em decúbito dorsal.

Técnica para sua execução

1. O auxiliar nº 1 posiciona-se atrás da cabeça do paciente, com os


joelhos apoiados no chão para obter melhor estabilidade, segurando
firmemente as laterais de sua cabeça, mantendo o alinhamento da
coluna vertebral;

2. O auxiliar nº 2 posiciona a prancha do lado oposto ao rolamento, junto


ao paciente, enquanto o chefe posiciona o braço do paciente, do lado
que for efetuado o rolamento, acima da cabeça do paciente, e o outro
cruzado ao tórax;

3. O chefe e o auxiliar nº 2 posicionam-se na altura do tórax e da cintura


pélvica, respectivamente, apoiando suas mãos ao longo do corpo do
paciente do lado oposto ao que estão posicionados. O chefe posiciona
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uma mão no ombro e a outra na lateral da cintura pélvica. O auxiliar nº


2 posiciona uma mão na coxa e a outra logo abaixo do joelho;

4. O auxiliar nº 1 pergunta aos demais se estão prontos, após receber o


sinal de positivo (OK), efetua a contagem para execução do rolamento
devendo movimentar o paciente em monobloco;

5. O chefe avalia a região dorsal do paciente em busca de possíveis


lesões, após avaliação, juntamente com o auxiliar nº 2, posiciona a
prancha o mais próximo possível do paciente;

6. O auxiliar nº 1, após posicionar corretamente a prancha, efetua


novamente a contagem para execução do posicionamento do paciente
sobre a mesma, observando a necessidade de reposicioná-lo;

7. O chefe e o auxiliar nº 2 efetuam a fixação da cabeça do paciente, a fim


de evitar movimentos laterais, com o uso de apoiadores. Após a
fixação da cabeça, o paciente é fixado à prancha com o uso de 3
tirantes ao longo do corpo.

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Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

6.2 ROLAMENTO DE 180º

Técnica empregada para posicionar o paciente na prancha, quando este


encontrar-se em decúbito ventral.

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Técnica para sua execução

1. O auxiliar nº 1 posiciona-se atrás da cabeça do paciente, com os


joelhos apoiados no chão para obter melhor estabilidade, segurando
firmemente as laterais de sua cabeça, mantendo o alinhamento da
coluna vertebral;

2. O auxiliar nº 2 posiciona a prancha do mesmo lado do rolamento,


próxima ao paciente, enquanto o chefe posiciona o braço do paciente,
do lado que for efetuado o rolamento, acima da cabeça do paciente, e
o outro ao longo do corpo;

3. O chefe e o auxiliar nº 2 posicionam-se na altura do tórax e da cintura


pélvica, respectivamente, apoiando suas mãos ao longo do corpo do
paciente do lado oposto ao que estão posicionados. O chefe posiciona
uma mão no ombro e a outra na lateral da cintura pélvica. O auxiliar nº
2 posiciona uma mão na coxa e a outra logo abaixo do joelho;

4. O auxiliar nº 1 pergunta aos demais se estão prontos, após receber o


sinal de positivo (OK), efetua a contagem para execução do rolamento
devendo movimentar o paciente em monobloco (giro de 90º). Efetua
novamente a contagem para a finalização do rolamento sobre a
prancha, observando a necessidade de reposicionamento do paciente;

5. O chefe e o auxiliar nº 2 efetuam a colocação do colar cervical


adequado, em seguida, também efetuam a fixação da cabeça do
paciente, a fim de evitar movimentos laterais, com uso de apoiadores,
fixando-o à prancha, com o emprego de 3 tirantes ao longo do corpo.

6.3 ELEVAÇÃO À CAVALEIRO

Técnica empregada para posicionar o paciente sobre a prancha, quando


houver impossibilidade de executar rolamento.

Técnica para sua execução

1. O chefe e os auxiliares nº 1 e 2 posicionam-se ao longo do corpo do


paciente, de forma que o mesmo fique entre suas pernas (posição à
cavaleiro);

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2. O chefe fica na altura da cintura escapular e posiciona as mãos de ambos


os lados do ombro do paciente, mantendo os polegares apoiados na
região occipital e os demais dedos na altura dos músculos trapézio;

3. O auxiliar nº 1 fica na altura da cintura pélvica do paciente e posiciona as


mãos de ambos os lados segurando firmemente a pelve do paciente;

4. O auxiliar nº 2 fica na altura das pernas do paciente, abaixo dos joelhos, e


posiciona as mãos nas panturrilhas, segurando firmemente;

5. O auxiliar nº 3 posiciona a prancha próxima ao paciente,


preferencialmente na altura da cabeça do mesmo;

6. O chefe pergunta aos demais se estão prontos, após receber o sinal de


positivo (OK), efetua a contagem para execução da elevação, devendo
movimentar o paciente em monobloco;

7. O auxiliar nº 3, uma vez elevado o paciente, deve posicionar


adequadamente a prancha rente ao solo no sentido crânio-caudal;

8. O chefe, após posicionada a prancha corretamente, efetua nova


contagem para posicionar o paciente em monobloco sobre a mesma;

9. O auxiliar nº 3 estabiliza a cabeça do paciente, liberando o chefe para que


este, juntamente com o auxiliar nº 1, efetue a fixação da cabeça do
paciente, a fim de evitar movimentos laterais, com o uso de apoiadores,
fixando-o à prancha, com o emprego de 3 tirantes ao longo do corpo.

Durante a sua execução, o emergencista deve agir cautelosamente para não


produzir novas lesões ou agravar as já existentes.

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Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

Técnicas de manipulação

Elevação na prancha

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

6.4 RETIRADA DE CAPACETE

Técnica empregada para a retirada de capacete, a fim de facilitar a avaliação


e tratamento de possíveis lesões que o paciente possa apresentar.

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Técnica para sua execução

O capacete não deve ser retirado quando:

● Ao menor toque, o paciente sentir dor;


● Houver objetos transfixados no capacete; e
● Houver rachaduras recentes.

1. O auxiliar nº 1 estabiliza a cabeça do paciente, apoiando simultaneamente


o capacete e a mandíbula, tencionando-a levemente para posicioná-la
anatomicamente;

2. O chefe libera as jugulares do capacete e, em seguida, apoia com uma


das mãos a nuca do paciente, abrangendo a maior superfície possível, atento para o
apoio do antebraço ao solo. Com a outra mão apoia a mandíbula do paciente, a fim
de estabilizar a coluna cervical;

3. O auxiliar nº 1, após o sinal de OK do chefe, procede a retirada do


capacete, liberando primeiramente a região occipital do paciente e, posteriormente,
a face. Após a completa retirada, estabiliza a cabeça do paciente apoiando-a ao
solo.

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

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6.5 EXTRAÇÃO VEICULAR – KED

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Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

6.6 EXTRAÇÃO VEICULAR – CHAVE DE RAUTEK

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Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

Imobilização de Fraturas

Técnica empregada para estabilizar o segmento ósseo lesionado (fratura,


entorse ou luxação), a fim de evitar o agravamento das lesões.

Técnica para sua execução (regras gerais)

● Informe o que planeja fazer;


● Exponha o local lesionado ou com suspeita de lesão;
● Controle as hemorragias e cubra os ferimentos;
● Avalie pulso distal, perfusão, motricidade e sensibilidade, antes e após
a imobilização do segmento lesionado;
● Selecione e empregue o material adequado para a imobilização;
● Estabilize manualmente o segmento corporal lesionado, aplicando uma
leve tensão.
● Imobilize as articulações adjacentes à lesão; e
● Previna e trate o choque.

Algumas lesões devem ser imobilizadas na posição encontrada.

6.7 TRANSPORTE DE PACIENTES

O paciente não deverá ser movimentado, a menos que exista um perigo


imediato para ele ou para outros se não for feita a sua remoção.

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O emergencista deverá manipular e transportar seu paciente, geralmente,


após avaliá-lo e tratá-lo de forma a estabilizar sua condição.

A escolha da técnica de transporte a ser adotada deve ser baseada nos


seguintes aspectos do paciente:

Paciente traumático

● Levantamento com 04 socorristas;


● Levantamento com 03 socorristas;
● Levantamento com 02 socorristas;
● Rolamentos e imobilização na maca;
● Chave de Rauteck;
● Colete de imobilização dorsal (KED); e
● Imobilização com outras macas.

Paciente não-traumático

Consciente

● Arrastamento com cobertor;


● Arrastamento pelas roupas;
● Arrastamento de bombeiro;
● Arrasto de pé;
● Transporte bombeiro;
● Transporte de apoio;
● Transporte tipo “cadeirinha”; e
● Transporte de trilha.

Inconsciente

● Arrastamento de bombeiro;
● Arrastamento com cobertor;
● Arrastamento pelas roupas;
● Arrasto de pé;
● Transporte tipo “cadeirinha”,
● Transporte tipo mochila;
● Transporte de bombeiro;
● Transporte pelos membros.

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Estas técnicas serão apresentadas a seguir.

Técnicas de transporte

Para o transporte de pacientes são utilizadas as seguintes técnicas:

Arrastamento com cobertor

Técnica pela qual a vítima é removida por um emergencista. O cobertor deve


ser arrumado de forma a proteger e suportar a cabeça e o pescoço da vítima.

Arrastamento pelas roupas

Uma pessoa é suficiente para arrastar a vítima. Usado quando não há


cobertor disponível ou em acidentes no meio de vias com trânsito fluindo.

Arrastamento de bombeiro

Essa técnica possui a desvantagem de não oferecer suporte para a cabeça


e pescoço, porém, se não houver outro método disponível, permite que uma só
pessoa remova a vítima. Muito usado em ambientes com fumaça.

Transporte pelos membros

Dois emergencistas transportam a vítima, segurando-a pelos braços e


pernas.

Transporte com cadeira

A vítima é posicionada deitada e, debaixo dela, dois emergencistas colocam


uma cadeira. O transporte é feito com os emergencistas posicionados lateralmente e
a vítima na posição sentada. Muito usado na remoção de vítimas do interior de
edifícios.

Levantamento com 4 emergencistas

Levantamento da vítima direto do solo, sem lesão na coluna. Com o


posicionamento de 4 emergencistas em fila no lado da vítima.

Remoção emergencial

Usada nas situações de risco iminente. Um emergencista remove a vítima


utilizando o método da "Chave de Rauteck".

Instalação de colar cervical

Técnica de instalação de colar cervical - paciente deitado:

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● O emergencista nº 1 (líder) posiciona-se atrás da cabeça do paciente,


com os joelhos apoiados no chão, mantendo distância de um palmo.
Com as mãos protegidas por luvas, se segura lateralmente a cabeça
do paciente, imobilizando-a e mantendo-a alinhada com a coluna;

● O 2º emergencista posiciona-se ao lado do paciente e mensura o


tamanho adequado do colar cervical (a lateral do colar dever ter a
medida compreendida entre o final da orelha e o músculo trapézio).
Sendo possível, ele deve usar a régua de cores para facilitar a
medição;

● O 2º emergencista, também, remove colares e brincos do paciente;

● O 2º emergencista posiciona o colar aberto por detrás da nuca, apoia


frente do colar abaixo da mandíbula do paciente, ajusta-o firmemente
sem movimentar a cabeça e fecha o velcro de fixação do colar; e

● O 2º emergencista questiona ao paciente se o mesmo está confortável.

● Devem-se observar, através de palpação, lesões nas partes posterior,


anterior e laterais do pescoço.

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

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7 QUEIMADURAS

Os objetivos desta aula são:

● Classificar as queimaduras de acordo com sua profundidade e


extensão;
● Explicar a regra dos nove para determinar a porcentagem da superfície
corporal queimada; e
● Descrever o tratamento pré-hospitalar para uma vítima com
queimadura térmica, química ou elétrica.

Queimadura é uma lesão produzida nos tecidos de revestimento do


organismo e causada por agentes térmicos, produtos químicos, eletricidade,
radiação, etc.

As queimaduras podem lesar a pele, os músculos, os vasos sanguíneos, os


nervos e os ossos.

As causas das queimaduras são:

Térmicas - por calor (fogo, vapores quentes, objetos quentes) e por frio
(objetos congelados, gelo);

Químicas - Inclui vários cáusticos, tais como substâncias ácidas e álcalis;

Elétricas - Materiais energizados e descargas atmosféricas;

Substâncias radioativas - Materiais radioativos e raios ultravioletas


(incluindo a luz solar) etc.

7.1 CLASSIFICAÇÃO, SINAIS E SINTOMAS

De acordo com sua profundidade, as queimaduras classificam-se em graus,


de primeiro a terceiro.

Queimadura de 1º Grau — Atinge somente a epiderme (camada mais


superficial da pele). Caracteriza-se por dor local e vermelhidão da área atingida.

Queimadura de 2º Grau — Atinge a epiderme e a derme. Caracteriza-se


por muita dor, vermelhidão e formação de bolhas.

Queimadura de 3º Grau - Atinge todas as camadas (tecidos) de


revestimento do corpo, incluindo o tecido gorduroso, os músculos, vasos e nervos,
podendo chegar até os ossos. É a mais grave quanto à profundidade da lesão.

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Caracteriza-se por pouca dor, devido à destruição das terminações nervosas da


sensibilidade, pele seca, dura e escurecida ou esbranquiçada.

Fonte: http://segurancaesaudedotrabalho.blogspot.com/2014/12/queimaduras.html

Em uma queimadura de 3º grau a vítima, geralmente, queixa-se de dor nas


bordas da lesão, onde a queimadura é de 2º ou 1º grau.

De acordo com a extensão da queimadura, usamos percentagens através da


regra dos nove que permitem estimar a superfície corporal total queimada - SCTQ.
Neste caso, analisamos somente o percentual da área corpórea atingida pela lesão,
sem considerar sua profundidade (seus graus).

A regra dos nove divide o corpo humano em doze regiões. Onze delas
equivalem a 9% cada uma, e a região genital equivale a 1%, conforme segue:

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7.2 GRAVIDADE DAS QUEIMADURAS

A gravidade de uma queimadura deve sempre considerar os seguintes


aspectos:

● Grau da queimadura;
● Percentagem da SCTQ;
● Localização da queimadura;
● Complicações que a acompanham;
● Idade da vítima; e
● Enfermidades anteriores da vítima.

Condições que sempre classificam a queimadura como grave:

● Extensão/profundidade maior do que 20% de SCQ em adultos.


● Extensão/profundidade maior do que 10% de SCQ em crianças.
● Idade menor do que 3 anos ou maior do que 65 anos.
● Presença de lesão inalatória.
● Politrauma e doenças prévias associadas.
● Queimadura química.
● Trauma elétrico.
● Áreas nobres/especiais - (Olhos, orelhas, face, pescoço, mão, pé,
região inguinal, grandes articulações (ombro, axila, cotovelo, punho,
articulação coxofemural, joelho e tornozelo) e órgãos genitais, bem
como queimaduras profundas que atinjam estruturas profundas como
ossos, músculos, nervos e/ou vasos desvitalizados).
● Violência, maus-tratos, tentativa de autoextermínio (suicídio), entre
outras.

Queimaduras menores

São aquelas de 1º e 2º graus que afetam uma pequena área do corpo, sem
comprometimento de áreas críticas Como. O sistema respiratório, a face, as mãos e
pés, os genitais e as nádegas.

Queimaduras maiores

Qualquer queimadura que envolva toda a área corporal ou áreas críticas.

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Queimaduras complicadas por lesões no sistema respiratório ou por outras


lesões do tipo fraturas.

Queimaduras de 2º ou 3º graus na face, mãos, pés, genitais ou nádegas.

Queimaduras que atinjam todo o corpo.

Tratamento Pré-Hospitalar

De acordo com a gravidade e a causa das queimaduras, os procedimentos a


serem adotados são:

Queimaduras menores - por causas térmicas ou radiação

● Exponha o local da lesão e resfrie a área queimada com água fria ou


use água corrente por vários minutos para resfriar o local. O melhor é
submergir a área queimada;
● Cubra o ferimento com um curativo úmido Solto (estéril);
● Retire anéis, braceletes, cintos de couro, sapatos etc; e
● Conduza a vítima e transmita calma.

Queimaduras maiores - por causas térmicas ou irradiação

● Inicialmente detenha o processo da lesão (se for fogo na roupa, use a


técnica do PARE, DEITE e ROLE);
● Avalie a vítima e mantenha as VA permeáveis, observando a
frequência e qualidade da respiração;
● Não retire os tecidos aderidos pele, apenas recorte as partes soltas
sobre as áreas queimadas;
● Cubra toda a área queimada;
● Use curativo estéril;
● Não obstrua a boca e o nariz;
● Não aplique nenhum creme ou pomada;
● Providencie cuidados especiais para queimaduras nos olhos, cobrindo-
os com curativo estéril úmido;
● Tenha cuidado para não juntar dedos queimados sem separá-los com
curativos estéreis; e
● Previna o choque e transporte a vítima.

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Queimaduras químicas

● Limpe e remova substâncias químicas da pele do paciente e das


roupas antes de iniciar a lavação;
● Lave o local queimado com água limpa corrente por no mínimo 15
minutos;
● Use EPIS apropriados;
● Cubra com curativo estéril toda a área de lesão;
● Previna o choque e transporte a vítima;
● Se possível, conduza amostra da substância em invólucro plástico;
● Se a lesão for aos olhos, lave-os bem, no mínimo por 15 minutos, com
água corrente e depois cubra com curativo úmido estéril. Volte a
umedecer o curativo a cada 5 minutos.

Queimaduras elétricas

● Os problemas mais graves produzidos por uma descarga elétrica são:


parada respiratória ou cardiorrespiratória, dano no SNC e lesões em
órgãos internos.
● Reconheça a cena e acione, se necessário, a companhia energética
local;
● Realize a avaliação inicial e, se necessário, inicia manobras de
reanimação;
● Identifique o local das queimaduras (no mínimo dois pontos: um de
entrada e um de saída da fonte de energia);
● Aplique curativo estéril sobre as áreas queimadas; e
● Previna o choque e conduza o paciente, com monitoramento constante,
ao hospital.

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LIÇÃO 4

Nesta lição serão abordados os seguintes assuntos: intoxicações,


convulsões, parto, afogamento, biomecânica do trauma e algoritmo de triagem –
método START.

8 INTOXICAÇÕES

Os objetivos desta aula são:

● Enumerar os principais sinais e sintomas das intoxicações por


ingestão, inalação ou por contato e descrever seu tratamento pré-
hospitalar;

● Descrever o tratamento pré-hospitalar das intoxicações devido a


picadas de serpentes; e

● Enumerar os sinais e os sintomas e descrever o tratamento pré-


hospitalar das intoxicações agudas por abuso de drogas.

8.1 INTOXICAÇÃO E ENVENENAMENTO

Definimos intoxicação ou envenenamento como uma emergência médica


causada pela absorção de agentes, que por suas características e quantidade,
produzem danos ao organismo ou risco de vida às pessoas.

Um grande número de substancias pode ser considerado veneno ou tóxico.

Qualquer substância química dependendo de sua dose poderá ser um


tóxico.

Em uma intoxicação ou envenenamento existem sinais e sintomas que


indicam que a pessoa está enfrentando uma emergência clinica.

Algumas pessoas têm a capacidade de tolerar bem um veneno, já outras, a


mesma quantidade de veneno pode ser fatal. As crianças são as que
frequentemente apresentam intoxicações ou envenenamentos.

Uma substância tóxica pode entrar no organismo por quatro diferentes


formas:

● Ingestão;
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● Inalação;
● Absorção através da pele; e
● Injeção.

O emergencista deve levar sempre consigo o telefone do Centro de


Informações Toxicológicas: 08007802000 - CIATOX.

Os sistemas de emergência médica podem ter diferentes protocolos


específicos para diferentes casos de intoxicações. Os protocolos, mesmo quando
diferentes, devem ser seguidos com prioridade.

8.2 INTOXICAÇÕES POR INGESTÃO

Nos casos onde é possível a ingestão de venenos, o emergencista deve


tentar obter o máximo de informações e o mais rápido possível. Logo após a
avaliação inicial, deve-se verificar se no local existem recipientes, líquidos
derramados, cápsulas, comprimidos, substâncias venenosas ou qualquer indicio que
permita identificar a substância ingerida.

Sinais e sintomas

● Queimaduras ou manchas ao redor da boca;


● Odor inusitado no ambiente, no corpo ou nas vestes do paciente;
● Respiração anormal;
● Pulso anormal;
● Sudorese;
● Alteração do diâmetro das pupilas;
● Formação excessiva de saliva ou espuma na boca;
● Dor abdominal;
● Náuseas;
● Vômito;
● Diarreia;
● Convulsões; e
● Alteração do estado de consciência, incluindo a inconsciência.

Casos específicos:

Abuso de álcool

O álcool é uma droga, socialmente aceita quando ingerida com moderação,


mas ainda assim uma droga. O abuso de álcool como qualquer outra droga, pode
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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

conduzir a enfermidades, envenenar o corpo, determinar comportamento antissocial


e morte. O paciente pode ter um problema clinico ou um trauma que requerem
cuidados, pode estar ferido ou pode ferir outras pessoas enquanto estiver
alcoolizado.

Como emergencista tente oferecer cuidados ao paciente sob influência de


álcool, como você faria a qualquer outro paciente. Determine se o problema foi
causado pelo álcool e que este abuso é o único problema. Lembre-se que diabetes,
epilepsia, ferimentos na cabeça, febres altas e outros problemas clínicos podem
fazer o paciente parecer alcoolizado. Se o paciente permitir, faça a entrevista. Em
alguns casos, você terá que depender das pessoas presentes no local para obter
uma informação significativa.

Crises suicidas

Sempre que cuidar de um paciente que tentou suicídio ou esteja a ponto de


tentá-lo, a primeira preocupação do emergencista será com a sua segurança. Tenha
certeza de que o local esteja seguro e de que o paciente não tenha uma arma.
Informe o problema à policia. Se estiver seguro estabeleça contato visual e verbal
com o paciente.

Abuso de álcool

Sinais de abuso de álcool em um paciente intoxicado

● Odor de álcool no hálito do paciente ou em suas vestimentas. Isto é


bastante significativo. Certifique-se de que é hálito cetônico,
apresentado pelo diabético;
● Falta de equilíbrio e com movimentos instáveis, sem coordenação;
● Fala desarticulada e com inabilidade para manter a conversação. Não
pense que a situação é séria apenas pelas piadas feitas pelo paciente
e presentes no local;
● Rubor, suor e queixa de calor; e
● Vômito ou desejo de vomitar.

Os efeitos do álcool podem mascarar os sinais típicos e sintomas, esteja


alerta para outros sinais, como sinais vitais alterados devido ao álcool e drogas.
Nunca pergunte se o paciente tomou qualquer droga, pois ele pode pensar que você

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

está reunindo evidências de um crime. Evite a palavra "droga". Pergunte se algum


medicamento foi ingerido enquanto bebia.

Cuidados básicos

● Obtenha a história e faça o exame físico para descobrir qualquer


emergência clinica ou outras lesões. Lembre-se de que o álcool pode
mascarar a dor;

● Procure cuidadosamente sinais de traumas e de enfermidade;

● Monitore os sinais vitais, ficando alerta para problemas respiratórios;

● Peça ao paciente que faça um esforço para manter-se acordado;

● Ajude-o quando estiver vomitando para impedir que aspire o vômito;

● Alerte a polícia, conforme julgue necessário;

● Transporte-o ao hospital referência.

Crises e problemas de abstinência

Um alcoolista que subitamente é impedido de ingerir álcool poderá sofrer


sérios problemas de abstinência e, como resultado, poderemos ter um paciente em
síndrome de abstinência.

Sinais e sintomas

● Inquietação e confusão;
● Conduta atípica (loucura);
● Alucinações (visão de bichos e animais); e
● Tremor nas mãos.

Tratamento Pré-Hospitalar

Proteja o paciente de si mesmo, pois poderá se auto lesar.

Apesar de não haver regras rígidas para o tratamento bem sucedido do


suicida, existem vários princípios gerais que devem ser conhecidos:

● Chegue ao local da ocorrência de forma discreta, com sirenes


desligadas e sem criar tumultos;
● Estude inicialmente o local, verificando riscos potenciais para a equipe
de resgate e para o paciente, neutralizando-os ou minimizando-os;
● Isole o local impedindo aproximação de curiosos;

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● Verifique a necessidade de apoio material e/ou pessoal e comunique


ao CIAO;
● O contato com o paciente deve ser efetuado por apenas um integrante
da equipe, a fim de estabelecer uma relação de confiança. Os outros
permanecem à distância sem interferir no diálogo;
● Mantenha imediatamente diálogo com o paciente, mostrando-se calmo
e seguro, procurando conquistar sua confiança;
● Não faça nenhuma ameaça e nem restrição física;
● Não discuta ou critique o paciente;
● Nunca brinque sobre a situação;
● Pergunte se você pode ajudar;
● Converse com o paciente de forma pausada, firme, clara, e num tom de
voz adequado à situação;
● Jamais assuma qualquer atitude hostil para com o paciente;
● Descubra se o paciente esta ferido;
● Mantenha observação constante do paciente e não o deixe sozinho por
nenhum instante até o término do atendimento;
● Escute o paciente e deixe-o saber que você está prestando atenção;
● Procure descobrir qual o principal motivo de sua atitude;
● Procure obter informações sobre seus antecedentes;
● Após ter conquistado sua confiança, inicie o trabalho no sentido de
dissuadi-lo, sempre oferecendo segurança e proteção;
● Não fique em locais onde possa se expor ao perigo;
● Se o paciente der qualquer indicação de que pode machucar os outros,
tenha certeza de sua própria segurança; e
● Após ter conseguido dominar o paciente, continue tratando-o com
respeito e consideração conduzindo-o ao hospital.

Crises suicidas

Algumas pessoas cometem gestos suicidas, onde a intenção não era acabar
com a vida, mas sim chamar a atenção. Mas, mesmo assim, não se deve tratá-las
com menosprezo, pois é um distúrbio de comportamento.

Durante todas as fases de intervenção, devem-se tomar todas as medidas


de precaução contra uma nova tentativa de suicídio. Armas de fogo, medicamentos,
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além de outros objetos potencialmente letais, devem ser retiradas de perto do


paciente. Ele não deve ser deixado sozinho em qualquer lugar, mesmo por alguns
instantes, seja em casa ou na viatura.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Mantenha as VA permeáveis;
● Pega orientação do Centro de Informações Toxicológicas, se existir;
● Caso tenha disponível, ofereça carvão ativado;
● Induza vômito (contra indicado em intoxicações por ingestão de
substâncias corrosivas ou irritantes, derivados de petróleo, pacientes
inconscientes ou em convulsão);
● Guarde em saco plástico toda a substância eliminada através de
vômito pelo paciente; e
● Transporte com monitoramento constante.

Frente aos venenos, em geral, o emergencista fica muito limitado e


necessita de antídotos específicos, portanto o transporte deve ser rápido.

8.3 INTOXICAÇÕES POR INALAÇÃO

São aquelas provocadas por gases ou vapores tóxicos (ex: gases


produzidos por motores a gasolina, solventes, gases industriais, aerossóis, etc.).

Auxilie o paciente somente após certificar-se que a cena está segura. Acione
socorro especializado e utilize os EPIs necessários.

Uma ação importante a tomar é obter informações do próprio paciente e de


testemunhas, tentando identificar o tipo de gás venenoso inalado.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Remova o paciente para um local seguro. Se necessário, remova as


roupas do paciente;
● Mantenha as VA permeáveis;
● Avalie e, se necessário, realize manobras de reanimação (não faça
boca a boca, utilize o reanimador manual ou máscara de proteção); e
● Administre oxigênio suplementar.

Sinais e sintomas

● Respirações superficiais e rápidas;

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● Pulso rápido ou lento;


● Dificuldade visual;
● Tosse; e
● Secreção nas VA.

A absorção da substância tóxica por inalação pode também produzir os


sinais e sintomas descritos nas intoxicações por ingestão.

8.4 INTOXICAÇÕES POR CONTATO

São causadas por substâncias tóxicas que penetram através da pele e das
mucosas, por meio de absorção. Algumas vezes estas intoxicações provocam
lesões importantes na superfície da pele, outras, o veneno é absorvido sem dano
algum.

A maioria dos tóxicos absorvidos são substâncias químicas de uso comum e


plantas.

É de grande importância, qualquer informação que se possa obter do


paciente e/ou testemunhas.

Tratamento Pré-Hospitalar

Para atender estes pacientes, o emergencista deve usar, além dos EPI'S
básicos, proteção para a sua roupa.

● Remova o paciente para local seguro. Se houver condições de


segurança para tal;
● Remova as roupas e os calçados contaminados e lave a área de
contato com muita água corrente (mínimo de 15 minutos);
● Guarde os materiais e roupas em sacos plásticos próprios; e
● Transporte com monitoramento constante.
Sinais e sintomas
● Reações na pele, que podem variar de irritação leve até o
enrijecimento e queimaduras químicas;
● Inflamação;
● Coceiras (pruridos) e ardência na pele; e
● Aumento da temperatura da pele.

A absorção dos tóxicos por contato pode produzir os sinais e sintomas


descritos anteriormente na intoxicação por ingestão.
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8.5 INTOXICAÇÕES POR INJEÇÕES

As picadas de aranhas, de serpentes e por ferrões de insetos são as


maneiras como o veneno de origem animal é injetado em nosso corpo. Outras
formas: agulhas hipodérmicas com medicamentos, drogas contaminadas com
substâncias tóxicas ou overdose de drogas.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Previna o choque;
● Nas picadas de inseto com ferrão preso na pele, raspe no sentido
contrário para evitar a injeção do mesmo no corpo;
● Monitore constantemente o paciente e esteja preparado para uma
parada respiratória e/ou cardíaca; e
● Transporte imediato para o hospital.

Sinais e sintomas

● Picadas ou mordidas visíveis na pele.


● Podem apresentar dor e inflamação no local;
● Ardor na pele e prurido (coceira);
● Choque alérgico;
● Hemorragias; e
● Parada respiratória e/ou cardíaca.

A absorção dos tóxicos por injeção pode também produzir os sinais e


sintomas descritos anteriormente na intoxicação por ingestão.

8.6 ACIDENTES OFÍDICOS

Ocorrência bastante comum, principalmente na zona rural, tem sinais e


sintomas que variam bastante de acordo com o género do animal (serpente).

Sinais e sintomas

● Marca dos dentes na pele;


● Dor local e inflamação;
● Pulso acelerado e respiração dificultosa;
● Debilidade física;
● Problemas de visão;
● Náuseas e vômito; e

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● Hemorragias.

Tratamento Pré-Hospitalar

● Mantenha o paciente calmo e deitado, removendo-o do local do


acidente;
● Lave com água e sabão o local da picada;
● Retire anéis, braceletes e outros materiais que restrinjam a circulação
na extremidade afetada;
● Mantenha o membro afetado elevado ou no mesmo nível do coração;
● Previna o choque; e
● Transporte com monitoramento constante, e caso necessário, realize
manobras de reanimação.

Somente o soro cura intoxicação provocada por picada de cobra, quando


aplicada de acordo com as seguintes normas:

● Soro específico;
● Dentro do menor tempo possível; e
● Em quantidade suficiente.

O emergencista deve considerar todas as picadas como venenosas até que


se prove o contrário.

Se for treinado para tal e houver tempo e condições, conduza o espécime


que provocou a lesão para avaliação e identificação da espécie.

Restrições

● Não faça curativo ou qualquer tratamento caseiro;


● Não corte nem fure o local da picada;
● Não ofereça bebidas alcoólicas; e
● Não faça torniquete.

8.7 ABUSO DE DROGAS

Um emergencista deve reconhecer os sinais e sintomas característicos para


poder identificar um possível caso de abuso ou overdose de drogas.

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As drogas de uso mais frequentes são de cinco diferentes tipos:

1. Estimulantes - Estimulam o SNC, excitando quem as usa. Incluem


as anfetaminas, a cafeína, a cocaína, drogas antiasmáticas, drogas
vasoconstrictoras etc;

2. Depressores - Deprimem o SNC. Incluem os sedativos (diazepam,


lorax, fenobarbital), os barbitúricos e os anticonvulsionantes.
Diminuem o pulso e a respiração, provocam sonolência e reflexos
lentos;

3. Analgésicos narcóticos (derivados do ópio) - O abuso dessas


drogas produz intenso estado de relaxamento. Pertencem ao grupo
morfina, heroína, demerol. Podem diminuir a temperatura, o pulso e
a respiração, relaxar músculos, provocar miose, adormecimento etc;

4. Alucinógenos - Alteram a personalidade e causam distorção da


percepção. Incluem o LSD. A maconha também tem algumas
propriedades alucinógenas. As vítimas imaginam ouvir sons e ver
cores;

5. Químicos voláteis - Os vapores de certas substâncias causam


excitação, euforia e sensação de estar voando. Em geral são
solventes, substâncias de limpeza, colas de sapateiro e gasolina.
Seus efeitos sá0 a perda do tempo e da realidade, perda do olfato,
pulso e respiração acelerados e podem chegar ao coma.

Tratamento Pré-Hospitalar:

1. Tenha muito cuidado e tato para lidar com estes pacientes;

2. Se necessário, realize manobras de reanimação;

3. Induza o vômito se a droga foi ministrada por via oral e nos últimos 30
minutos;

4. Proteja os pacientes hiperativos;

5. Converse para ganhar a confiança do paciente e mantê-lo consciente;

6. Transporte com monitoramento constante; e

7. Previna o choque.

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9 CONVULSÃO

São movimentos musculares involuntários que podem ser acompanhados


por contrações tônicas-clônicas generalizadas ou focais.

Em algumas crises é comum o paciente morder a língua, e apresentar


dificuldade respiratória, chegando, algumas vezes, à cianose.

Após a crise, o paciente apresenta-se confuso durante 1 minuto ou mais,


ficando muito fatigado e adormecido horas depois.

Manifestações:

● Tônica - São prolongadas e imobilizam os membros atingidos;

● Clônica - Resultam de uma série de contrações rápidas e rítmicas; e

● Tônico-clônica - A imobilização da parte atingida é interrompida por


contrações clônicas.

9.1 CAUSAS

● Intoxicações;
● Doenças neurológicas;
● Traumatismo crânio-encefálico;
● Febre;
● Doenças infecciosas (meningite, tétano).

9.2 EPILEPSIA

É uma condição neurológica que de tempo em tempo produz breves


distúrbios nas funções elétricas cerebrais normais. A função cerebral normal é
garantida por milhões de pequenas cargas elétricas passando entre células
nervosas no cérebro e em todas as partes do corpo. Quando alguém tem epilepsia,
este padrão normal pode ser interrompido por surtos intermitentes de energia
elétrica muito mais intensa do que o habitual. Isto pode afetar a consciência da
pessoa e provocar movimentos corporais ou sensações por curtos períodos de
tempo. Estas mudanças fisiológicas são chamadas de crises epilépticas.

Por isso a epilepsia é por vezes chamada de desordem convulsiva. Os


surtos não habituais de energia podem ocorrer em apenas uma área do cérebro
(crises parciais), ou podem afetar células nervosas através de todo cérebro (crises

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generalizadas). A função cerebral normal não pode retornar até que o surto elétrico
desapareça.

Condições cerebrais que produzem estes episódios podem estar presentes


desde o nascimento ou podem se desenvolver mais tarde devido a traumatismos,
infecções, anormalidades estruturais, exposição a agentes tóxicos ou, até mesmo,
por razões que ainda sá0 bem entendidas. Algumas doenças ou traumatismos
severos podem afetar o cérebro ao ponto de produzir uma crise isolada. Quando as
crises continuam a ocorrer por razões desconhecidas ou por um problema
subjacente que não pode ser resolvido a condição é denominada epilepsia. A
epilepsia afeta pessoas de todas as idades, todas as nacionalidades e todas as
raças, podendo também ocorrer em animais, incluindo cães, gatos, coelhos e
camundongos.

9.3 TIPOS DE CRISE

As crises epilépticas ocorrem com grande variedade e sua frequência e


forma variam bastante, de pessoa para pessoa. Mesmo assim, com os modernos
métodos de tratamento a maioria dos casos pode ser completamente controlada.

Em virtude da existência de tantas nuances na epilepsia e de tão diferentes


tipos de crises, um sistema especifico de classificação foi promovido pela Liga
Internacional Contra a Epilepsia (ILAE). A classificação internacional de crises
epilépticas foi adotada pela comunidade médica e está gradualmente substituindo
termos ultrapassados como "grande mal" e "pequeno mal". A nova classificação
descreve dois grupos principais de crises: "parciais" e "generalizadas". Ela divide
cada uma destas categorias em subcategorias, incluindo crises: parcial simples,
parcial complexa, ausência, tônico-clônica e outros tipos.

Crises parciais e generalizadas

A distinção entre crises parciais e crises generalizadas é o elemento mais


importante da nova classificação. Se a descarga elétrica excessiva no cérebro está
limitada a uma área, a crise é parcial. Se todo o cérebro está envolvido, a crise é
generalizada. Ao todo existem mais de 30 diferentes tipos de crises.

É muito importante uma boa entrevista para averiguar antecedentes de


traumas na cabeça ou quedas.

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O que o paciente sente ao ter uma crise

Epilepsia é uma classificação geral para uma grande variedade de crises.


Assim, diferentes epilepsias têm crises bastante diferentes. Sensações comuns
associadas com crises incluem insegurança, medo, exaustão física e mental,
confusão e perda da memória. Alguns tipos de crises podem produzir fenômenos
auditivos ou visuais enquanto outros podem envolver uma sensação de vazio. Se o
paciente fica inconsciente durante a crise pode não haver sensação alguma. Muitas
pessoas experimentam uma aura antes da crise propriamente dita.

9.4 DURAÇÃO DAS CRISES

As crises podem durar de poucos segundos a alguns minutos. Em casos


raros podem durar algumas horas. Exemplificando, uma crise tônico-clônica típica
dura de 1 a 7 minutos. Crises de ausência podem durar apenas poucos segundos e
crises parciais complexas duram de 30 segundos até 2 ou 3 minutos. Estado de mal
epiléptico refere-se a crises prolongadas que podem durar algumas horas e isto é
uma condição médica séria. Contudo, na maioria das epilepsias, as crises são muito
curtas e apenas pequenos cuidados primários são necessários.

9.5 CAUSAS E FATORES DESENCADEANTES

Não existe uma causa única para a epilepsia. Muitos fatores podem lesar
células nervosas no cérebro ou suas vias de comunicação. Em aproximadamente
65% de todos os casos não existe causa conhecida. As causas mais frequentes
identificadas são:

● Intoxicações (substâncias tóxicas em doses altas);


● Doenças neurológicas (aneurisma, tumores);
● Traumatismo crânio encefálico;
● Febre alta;
● Doenças infecciosas (meningite, tétano); e
● Problemas cardiovasculares (AVC).

9.6 SINAIS E SINTOMAS DE UMA CRISE CONVULSIVA

● Perda da consciência. A vítima poderá cair e machucar-se;


● Rigidez do corpo, especialmente do pescoço e extremidades. Outras
vezes, desenvolve um quadro de tremores de diversas amplitudes;

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● Pode ocorrer cianose ou até parada respiratória. Em algumas ocasiões,


há perda do controle dos esfíncteres urinário e anal;
● Depois das convulsões, o paciente recupera seu estado de consciência
lentamente. Ele pode ficar confuso por certo tempo e ter amnésia do
episódio.

Tratamento Pré-Hospitalar das convulsões

● Posicione o paciente no piso ou em uma maca. Evite que se machuque


com golpes em objetos dispostos ao seu redor;
● Afrouxe bem as roupas apertadas;
● Proteja a cabeça do paciente;
● Monitore a respiração e administre oxigênio suplementar;
● Depois da crise, proteja a privacidade do paciente e explique-o que
deve receber auxilio médico;
● Coloque na posição lateral de segurança (paciente inconsciente) e/ou
de lado (paciente consciente) caso venha a vomitar; e
● Transporte o paciente para o hospital.

Não introduza nada na boca do paciente.

10 PARTO

Os objetivos desta aula são:

● Descrever o atendimento pré-hospitalar da mãe e do bebê, durante o


parto; e
● Descrever 3 complicações típicas durante o parto e o tratamento pré-
hospitalar de cada uma delas.

10.1 ANATOMIA DA MULHER GRÁVIDA

Antes de descrever um parto, serão mostrados termos, conceitos e


definições relacionados à anatomia de uma mulher grávida e ao parto.

Feto

Ser vivo que está se desenvolvendo e crescendo dentro do útero, após a 8ª


semana de gestação.

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

Útero

Órgão muscular que se contrai durante o trabalho de parto, expulsando o


feto.

Colo uterino

Extremidade inferior do útero, que se dilata permitindo que o feto entre na


vagina.

Vagina

Canal por onde o feto é conduzido para o nascimento.

Saco amniótico

Membrana que se forma no interior do útero e envolve o feto e o líquido


amniótico.

Líquido amniótico

Líquido presente no saco amniótico, com a função de manter a temperatura


do feto e protegê-lo de impactos. Sua cor normal é clara, quando está ocorrendo o
sofrimento fetal este líquido torna-se esverdeado, pela presença do mecônio, que é
a primeira matéria fecal do bebê.

Placenta

Órgão formado durante a gravidez constituída por tecido materno e do


concepto, permitindo a troca de nutrientes entre a mãe e o feto. Normalmente
expelida ao final do trabalho de parto. Pesa aproximadamente 500g, na gravidez a
termo.

Cordão umbilical

Estrutura constituída por vasos sanguíneos através da qual o feto se une à


placenta; Seu comprimento é em média 55cm.

Parto

Expulsão do feto viável através das vias genitais ou a extração do feto por
meios cirúrgicos.

Aborto

Feto com menos de 500g ou com menos de 20 semanas de gestação.

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Pré-maturo

Bebê com menos de 37 semanas completas de gestação ou pesando menos


de 2.500g, independentemente da idade gestacional.

A termo

De 37 semanas completas de gestação até menos de 42 semanas de


gestação.

Pós-maturo

A partir de 42 semanas completas de gestação.

10.2 FASES DO TRABALHO DE PARTO

● Primeira fase - Dilatação

A dilatação do colo uterino tem início com as contrações e termina no


momento em que o feto entra no canal de parto.

● Segunda fase - Expulsão

A partir do momento em que o feto está no canal de parto até o nascimento


do bebê.

● Terceira fase - Dequitação

Após o nascimento do bebê até a completa expulsão da placenta (10 a 20


minutos).

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Sinais e sintomas indicativos de expulsão próxima:

● Sangramento ou presença de secreções pelo rompimento do saco


amniótico;
● Frequência das contrações, abaixo de 5 minutos com duração de 30
segundos a 50 segundos;
● Abaulamento da vulva;
● Apresentação da cabeça do feto;
● Necessidade frequente de urinar e/ou defecar.

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

10.3 EVOLUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO

ENTREVISTA:

● Pergunte o nome e idade da mãe;


● Pergunte se realizou o exame pré-natal;
● Pergunte se é o primeiro filho (se for primípara, o trabalho de parto
demorará cerca de 16 horas. O tempo de trabalho de parto será mais
curto a cada parto subsequente);
● Pergunte se há indicação de parto gemelar (múltiplo);
● Pergunte a que horas iniciaram-se as contrações (checar e anotar);
● Pergunte se já houve a ruptura do saco amniótico; e
● Pergunte se sente vontade de defecar e/ou urinar.

Antes de efetuar qualquer procedimento, o emergencista deve realizar uma


entrevista com a parturiente, extraindo o maior número de dados possíveis.
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Se após a entrevista o emergencista avaliar que o parto não é iminente,


deve proceder o transporte da parturiente e controle de hemorragias. Cubra com
curativos estéreis os traumas abertos, monitore os sinais vitais e esteja preparado
para o choque.

10.4 CONDUTAS DO EMERGENCISTA PARA O PARTO DE EMERGÊNCIA

● Assegure a privacidade da parturiente, escolha um local apropriado;


● Explique a mãe o que fará e como ira fazê-lo. Procure tranquilizá-la
informando que o que está acontecendo é normal. Peça para que após
cada contração relaxe, pois isto facilitará o nascimento;
● Posicione a parturiente para o parto emergencial, peça-lhe para que
retire a roupa intima, deite-a em posição ginecológica (joelhos
flexionados e bem separados, e os pés apoiados sobre a superfície
que está deitada);
● Coloque uma almofada debaixo da cabeça da para observar os seus
movimentos respiratórios;
● Prepare o kit obstétrico e seu EPI, mantenha todo material necessário
à mão;
● Disponha adequadamente os campos, lençóis ou toalhas limpas abaixo
das nádegas, abaixo da abertura vaginal, sobre ambos os joelhos e
sobre o abdómen;
● Sinta as contrações colocando a palma da sobre o abdome da
paciente, acima do umbigo;
● Posicione-se de forma a poder observar o canal vaginal
constantemente. Oriente a parturiente a relaxar entre as contrações,
respirando profunda e lentamente e a fazer força durante as mesmas;
● Tente visualizar a parte superior da cabeça do bebê (coroamento). Se
o saco amniótico não estiver rompido, corte-o com técnica e material
apropriado;
● Comprima a região do períneo, com uma das mãos, posicionada sob o
campo que se encontra abaixo da abertura vaginal, a fim de evitar
lacerações nesta região;

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● Apoie a cabeça do bebê, colocando a mão logo abaixo da mesma com


os dedos bem separados. Apenas sustente o segmento cefálico,
ajudando com a outra mão, não tente puxá-lo;
● Verifique se há circular de cordão. Caso tenha, desfaça com cuidado
no sentido face-crânio do bebê;
● Geralmente a cabeça do bebê apresenta-se com a face voltada para
baixo e logo gira para a direita ou esquerda. Guie, cuidadosamente, a
cabeça para baixo e para cima, sem forçá-la, facilitando assim a
liberação dos ombros e posteriormente de todo o corpo;

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

● Deslize a mão que está sobre a face no sentido crânio-caudal,


segurando firmemente os tornozelos do bebê;
● Apoie o bebê lateralmente com a cabeça ligeiramente baixa. Isto se faz
para permitir que o sangue, o líquido amniótico e o muco que estão na
boca e nariz possam escorrer para o exterior;
● Peça para o auxiliar anotar a data, hora, lugar do nascimento, nome da
mãe e sexo do bebê; e
● Observe se o bebê chorou. Retire o campo que se encontra abaixo da
abertura da vagina, coloque-o deitado lateralmente no mesmo nível do
canal de parto.

Atendimento pré-hospitalar do recém-nascido

● Limpe as vias aéreas usando gaze e aspirador de secreções;

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● Avalie a respiração do bebê (VOS), estimule se necessário,


massageando com movimentos circulares a região das costas e/ou
estimulando a planta dos pés;
● Aqueça o recém-nascido envolvendo-o em toalha, lençol ou similar;
● Avalie a presença de pulso no cordão umbilical, se ausente, pince-o
utilizando pinças, fita umbilical ou similar;
● O primeiro ponto a ser pinçado deve estar a, aproximadamente, 25 cm
(um palmo) a partir do abdome do bebê;
● O segundo ponto a ser pinçado deve estar a cerca de 5 a 8 cm (quatro
dedos) do primeiro em direção ao bebê; e
● Seccione o cordão umbilical com bisturi ou tesoura de ponta romba,
este corte deve ser realizado entre os dois pontos pinçados.

O cordão umbilical não deve ser pinçado imediatamente após o


desprendimento fetal. Aguardam-se de 40 a 60 segundos, a não ser na parturiente
Rh negativo, quando se fará o pinçamento e secção de imediato, pois quando a
parturiente tem fator Rh negativo e o pai por ventura tenha o Rh positivo, ocorrerá a
chamada doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblastose fetal, ou seja, se a
criança for Rh positivo, o organismo da mãe vai identificar o fator Rh do bebê como
sendo nocivo, desprendendo anticorpos para eliminar este agente estranho através
da circulação feto-placentária, o que ocasiona a morte das hemácias do recém
nascido. Esta situação é comum a partir do segundo parto, embora, hoje já exista
uma vacina para ser aplicada na gestante com a finalidade de prevenir tal situação,
chamada de "GAMAGLOBULINA ANTI-Rh". Portanto, todas as vezes que a
parturiente for fator Rh negativo, o corte deve ser feito de imediato.

Atendimento pré-hospitalar da mãe

Inclui os cuidados com a expulsão da placenta, controle do sangramento


vaginal e a tentativa de fazer a mãe se sentir o mais confortável possível.

1) Normalmente entre 10 e 20 minutos há a expulsão da placenta. Guarde-a


em um saco plástico apropriado e identifique-a para posterior avaliação
médica. O cordão desce progressiva e espontaneamente. Não o tracione.

2) Após a expulsão da placenta, observe presença de sangramento vaginal,


se houver, controle-o:

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● Com gaze ou material similar, retire os excessos de sangue ou


secreções;
● Use um absorvente higiênico ou material similar estéril;
● Coloque-o sobre a vagina. Não introduza nada na vagina;
● Oriente para que a parturiente una e estenda as pernas, mantendo-as
juntas sem apertá-las;
● Apalpe o abdome da mãe, no intuito de localizar o útero; e
● Faça movimentos circulares com o objetivo de estimular a involução
uterina e, consequentemente, a diminuição da hemorragia;

3) Tranquilize a mãe fazendo-a sentir-se o melhor possível e registre todos


os dados da ocorrência. Transporte a mãe, o bebê e a placenta para o
hospital.

Durante todos os procedimentos, monitore constantemente a mãe e o bebê.

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar

10.5 COMPLICAÇÕES NO PARTO E SEU TRATAMENTO

Tratamento Pré-hospitalar

● Espere que as nádegas e o tronco do feto sejam expulsos


espontaneamente;

● Segure os membros inferiores e o tronco à medida que são expulsos;

● A cabeça então é geralmente liberada por si própria, entretanto, algumas


vezes ela poderá não sair de imediato. Nos casos em que a criança não

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nascer em até 3 minutos apos a saída da cintura e tronco, não a puxe,


apenas crie uma via aérea;

● Informe a mãe sobre o procedimento que será realizado e introduza os


dedos indicador e médio em forma de "V" entre a face do feto e a parede
da vagina, criando assim um espaço para que ele possa vir a respirar. Se
você não conseguir realizar este processo, então tente colocar uma
extremidade digital sobre a boca do bebê e com outro dedo empurre a
parede vaginal;

● Criada uma via aérea para o feto, deve-se mantê-la. Permita que o
nascimento prossiga mantendo a sustentação do corpo do bebê; e

● O transporte devera ser realizado imediatamente. Mantenha as VAS


permeáveis durante todo o transporte.

10.6 APRESENTAÇÃO PÉLVICA

Quando as nádegas ou os pés do feto são os primeiros a se apresentar.

Se durante o trabalho de parto, apresentar apenas uma mão ou um pé, não


é considerado parto pélvico, esta é uma apresentação de membro, que requer
cuidados.

1) Não puxe a extremidade nem tente introduzi-la novamente na vagina.;

2) Deixe na posição ginecológica ou a coloque na posição genopeitoral, o


que ajuda a reduzir a pressão no feto e no cordão umbilical;

3) Oriente para que respire profunda e lentamente;

4) Se necessário oferte oxigênio; e

5) Transporte a parturiente.

Fonte: SENASP/MJ – Curso de Emergencista Pré-hospitalar


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10.7 PROLAPSO DE CORDÃO UMBILICAL

Ocorre quando durante o trabalho de parto, o cordão umbilical é o primeiro a


se apresentar.

Tratamento Pré-hospitalar

1) Retire a parturiente da posição ginecológica, colocando-a em posição


genopeitoral;

2) Não tente empurrar o cordão para dentro;

3) Não coloque a mão dentro da vagina;

4) Envolva o cordão umbilical com gaze estéril úmida e embrulhe-o com


compressas cirúrgicas estéreis, para aquecê-lo;

5) Administre o oxigênio; e

6) Monitore e transporte a parturiente para o hospital. Ela deve ser instruída


para que respire profunda e lentamente.

10.8 PARTO MÚLTIPLO

Em caso de nascimentos múltiplos, as contrações uterinas reiniciam após o


primeiro nascimento.

O procedimento será o mesmo utilizado para com parto simples.

É recomendado que o emergencista amarre o cordão umbilical da primeira


criança antes do nascimento da próxima.

10.9 PRÉ-MATURO

Considera-se parto pré-maturo, qualquer nascimento em que o bebê tenha


menos de 37 semanas completas de gestação, ou que pese menos de 2500g,
independentemente da idade gestacional, e requer os seguintes cuidados:

Somados os cuidados dispensados a um parto a termo, o emergencista


deve dar uma atenção maior ao aquecimento do recém-nascido. Embrulhe-o em
mantas, leng6is toalhas ou papel aluminizado, mantenha a face do bebê descoberta.

As crianças pré-maturas, frequentemente, requerem reanimação pulmonar,


proceda de acordo com as condutas para o caso.

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10.10 HEMORRAGIA EXCESSIVA

Se durante a gravidez, a parturiente começar a ter um sangramento


excessivo pela vagina, é muito provável que terá um aborto. Porém, se a hemorragia
ocorrer durante o trabalho de parto ou na etapa final da gravidez, provavelmente
estará ocorrendo um problema relacionado à placenta.

Tratamento Pré-hospitalar

1) Posicione a parturiente em decúbito lateral esquerdo;

2) Coloque absorvente higiênico, campos ou lençóis limpos na abertura da


vagina;

3) Não introduza nada na vagina;

4) Troque os tampões quando estiverem embebidos;

5) Guarde e conduza ao hospital todos os tampões ensanguentados, bem


como todo e qualquer material expulso;

6) Previna o estado de choque; e

7) Monitore os sinais vitais.

11 AFOGAMENTO

O afogamento é o resultado de uma asfixia por imersão ou submersão em


qualquer meio líquido ou simplesmente uma sufocação na água. Essa sufocação
pode ser provocada pela inundação das vias aéreas ou pelo fechamento da glote,
estimulada pela presença de líquidos. Nos dois casos, o resultado final será o
mesmo, asfixia resultante da falta de oxigênio (hipóxia). As células nervosas são as
primeiras a sofrer com a privação de oxigênio, morrendo em poucos minutos.

11.1 CLASSIFICAÇÃO DE AFOGAMENTO

Afogamento seco

Um dos fenômenos iniciais no contato com o meio líquido é um espasmo da


glote, visando evitar a penetração da água nas vias respiratórias. Em alguns
indivíduos esse espasmo não é vencido por outros fatores que surgem
posteriormente, sofrendo o paciente de asfixia a seco, sem líquido nos alvéolos
pulmonares.

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Afogamento em água doce

No afogamento por água doce, os alvéolos pulmonares são invadidos por


um líquido hipotônico (menos concentrado) em relação ao plasma, provocando
(processo osmótico) a passagem de um considerável volume hídrico (relativo a
água) dos pulmões para a corrente sanguínea, podendo atingir um montante de 3 a
4 litros em poucos minutos. Daí surgem vários distúrbios hidrossalinos: inicialmente
há uma baixa de todos os eletrólitos por hemodiluição. Posteriormente, com a rotura
das hemácias, elementos como o potássio caem na corrente sanguínea,
contribuindo para a intoxicação do músculo cardíaco, já bastante enfraquecido pela
hipóxia, ocasionando parada cardíaca.

Afogamento em água salgada

O afogamento em água salgada leva aos alvéolos pulmonares uma solução


hipertónica (mais concentrada) em relação ao plasma, que atrai líquido da corrente
sanguínea (processo osmótico). Os alvéolos são invadidos por um líquido
albuminoso, responsável pela espuma expelida por esses afogados.

A hipovolemia resultante provoca uma concentração maior dos eletrólitos no


sangue, subindo a taxa de magnésio. O músculo cardíaco para por esgotamento e
anóxia proveniente da dificuldade no transporte do pouco oxigênio ainda existente.

11.2 GRAUS DE AFOGAMENTO

As vítimas de afogamento podem apresentar sinais e sintomas


diferenciados, os quais servem para classificar o grau de afogamento e definir o
atendimento adequado. Atualmente, o afogamento classifica-se em seis graus:

GRAU 1

Caracterizado pelos seguintes sinais e sintomas: pouca quantidade de


líquido aspirado, tosse, ausência de espuma no nariz e boca, ausculta pulmonar
normal.

Atendimento pré-hospitalar

● Mantenha a vítima em repouso;


● Tranquilize a vítima;
● Aqueça a vítima; e
● A vítima pode ser liberada do local.

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GRAU 2

Caracterizado por uma quantidade considerável de líquido aspirado, torpor,


agitação e/ou desorientação e ausculta pulmonar com poucos estertores. Pode
apresentar pequena quantidade de espuma na boca elou no nariz.

Atendimento pré-hospitalar

● Ministre oxigênio a 5 litros por minuto (via cânula nasal);


● Posicione a vítima em decúbito lateral direito;
● Tranquilize a vítima;
● Mantenha a vítima em repouso; e
● Aqueça e transporte o paciente.

GRAU 3

Caracterizado pela presença de muita quantidade de líquido aspirado,


ausculta pulmonar com muitos estertores e edema agudo de pulmão. Apresenta
grande quantidade de espuma na boca e/ou no nariz e o pulso periférico palpável.

Atendimento pré-hospitalar

● Ministre oxigênio via máscara facial a 15 litros por minuto;


● Posicione a vítima em decúbito lateral direito com a cabeça elevada
acima do tronco;
● Mantenha a vítima em repouso; e
● Aqueça e transporte o paciente com urgência.

GRAU 4

Caracterizado pela presença de muito líquido aspirado, ausculta pulmonar


com muitos estertores, edema agudo de pulmão, e apresenta grande quantidade de
espuma na boca e/ou no nariz, além do pulso periférico ausente.

Atendimento pré-hospitalar

● Ministre oxigênio via máscara facial a 15 litros por minuto;


● Observe a respiração com atenção, pois pode ocorrer parada
respiratória;
● Posicione a vítima em decúbito lateral direito. Observe a respiração
com atenção, pois pode ocorrer parada; e
● Transporte o paciente com urgência.

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GRAU 5

Caracterizado por parada respiratória e pulso carotídeo palpável.

Atendimento pré-hospitalar

● Ventile artificialmente com oxigênio 15 litros por minuto;


● Observe a respiração. Se a respiração retornar espontaneamente, trate
como grau 4; e
● Transporte o paciente com urgência.

GRAU 6

Caracterizado por parada cardiorrespiratória, pulso periférico e central


ausente.

Atendimento pré-hospitalar

● Reanimação cardiopulmonar (RPC) específica, conforme já abordado


na lição 2 do Caderno Temático de Atendimento Pré-Hospitalar, com
oxigênio 15 litros por minuto;
● Observe a pulsação. Se a pulsação retornar, trate como grau 5; e
● Transporte o paciente com urgência.

Se o paciente apresentar rigidez cadavérica, decomposição corporal e/ou


livores cadavéricos não realizar a reanimação cardiopulmonar (RPC).

Saiba por que é preciso posicionar as vítimas de afogamento em decúbito


lateral direito e por que é aconselhável que a cabeça fique mais elevada que o
tronco.

Por que é preciso posicionar as vítimas de afogamento em decúbito lateral


direito?

Devido à anatomia do pulmão. Observando a árvore brônquica, observa-se


uma inclinação mais acentuada do lado esquerdo e uma angulação menor do lado
direito. Devido à esta formação, há uma facilidade de entrada de água no pulmão
direito e consideramos que seja o mais comprometido. Se posicionarmos o paciente
do lado esquerdo poderá haver uma transferência de líquido do pulmão direito para
o esquerdo, comprometendo a funcionalidade dos dois pulmões. Desse modo
deixamos o paciente do lado direito, porque consideramos que o pulmão direito já
está comprometido e procuramos preservar o esquerdo.

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

Por que é aconselhável que a cabeça fique mais elevada que o tronco?

Quando uma pessoa se afoga em meio líquido ela aspira água e também
ingere.

Grande parte da água vai para o estômago e pode propiciar o vômito. O


paciente com a cabeça mais elevada dificulta o vômito devido à gravidade. E com a
cabeça mais baixa facilita a regurgitação.

O que fazer com acidentes na água?

Caso a vítima esteja na água, siga as seguintes recomendações:

● Tente puxá-la para fora, jogando algum objeto que flutue, puxando-a da
água ou utilizando um bote para chegar até ela; e
● Use colete salva-vidas.

Nunca tente reanimação boca-máscara ou a RCP enquanto o paciente


estiver na água.

Não tente fazer um salvamento na água, a menos que você tenha Sido
treinado para isso e seja um bom nadador e, ainda, haja outras pessoas para ajuda-
lo. Evite tentar fazer um salvamento na água sozinho ou sem recursos. Caso
contrário, ao invés de ser uma pessoa que fara o salvamento, você, provavelmente,
se tornara uma vítima.

Comportamentos da vítima na água

Em acidentes na água a vítima pode apresentar:

● Choque térmico

A síndrome de imersão ou hidrocussão, vulgarmente chamada de choque


térmico. É, na verdade, uma síncope, desencadeada pela imersão súbita na água.
Quanto maior a diferença de temperatura, maior a probabilidade de ocorrer a
sincope. O choque térmico promove inicialmente uma perda da consciência e,
posteriormente, morte súbita por afogamento.

O atendimento pré-hospitalar é igual ao do choque hipovolêmico conforme já


abordado anteriormente.

● Hipotermia

A hipotermia se apresenta quando a temperatura central esta menos que 30


graus Celsius.
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O socorrista devera ter muito cuidado com a hipotermia nos pacientes de


acidentes aquáticos, pois como a água é ótima condutora, fica fácil compreender
que uma pessoa submersa em água fria perde calor muito mais rápido que se
estivesse deixada ao relento.

O atendimento pré-hospitalar consiste no aquecimento do paciente,


administração de oxigênio complementar, prevenção e tratamento do choque e no
transporte do paciente.

12 BIOMECÂNICA DO TRAUMA

Biomecânica do trauma é a capacidade de avaliar o cenário de um acidente,


identificando os mecanismos físicos ou as forças que atuaram na produção de
lesões nas vítimas.

A biomecânica do trauma constitui uma habilidade importante para qualquer


emergencista, pois propiciará que ele identifique lesões potenciais, associadas ao
padrão de transferência de energia, em determinadas situações, provocadas pelo
impacto, mesmo que o paciente não apresente sinais externos evidentes de trauma.

Leis e princípios da física aplicados ao estudo da biomecânica do trauma

Algumas leis da física auxiliam no estudo da biomecânica, pois se


relacionam diretamente com tempos, corpos, movimentos e repouso.

● Princípio da inércia (Primeira Lei de Newton)


● Princípio fundamental da dinâmica (Segunda Lei de Newton)
● Princípio da ação e reação (Terceira Lei de Newton)
● Lei da conservação da energia
● Energia cinética

Estude sobre cada uma delas a seguir.

12.1 PRINCÍPIO DA INÉRCIA (PRIMEIRA LEI DE NEWTON)

Esse princípio determina que um corpo parado permanecerá parado, e um


corpo em movimento permanecerá em movimento a menos que uma força externa
atue sobre ele.

Um veículo em movimento para ao colidir em um poste porque uma força


externa atua sobre ele, porém, tudo que estiver dentro do veículo, incluindo os
76
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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - 2

ocupantes, continuará em movimento até colidir com alguma coisa, ou seja, até que
uma força externa atue sobre ele.

12.2 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DINÂMICA (SEGUNDA LEI DE


NEWTON)

Esse princípio estabelece uma proporcionalidade entre causa (força


resultante) e efeito (aceleração adquirida) e determina que a força de um corpo é
igual a sua massa multiplicada por sua aceleração. Essa proposição é escrita
matematicamente da seguinte forma: F = m.a

Onde:

F - É a resultante das forças que atuam sobre o corpo.

m - É a massa do corpo.

a - É a aceleração que o corpo adquire.

Essa expressão mostra que a força resultante é diretamente proporcional à


aceleração adquirida pelo corpo. Isso significa que, quanto maior a aceleração,
maior a força; quanto menor a aceleração, menor a força. Obviamente, um veículo
em alta velocidade possui mais força do que um veículo em baixa velocidade.

12.3 PRINCÍPIO DA AÇÃO E REAÇÃO (TERCEIRA LEI DE NEWTON)

Essa lei determina que para toda ação corresponde uma reação, de mesma
força, intensidade e direção, porém em sentido contrário. Apesar de as forças de
ação e reação apresentarem a mesma intensidade, os efeitos produzidos por elas
dependerão da massa e das características de cada corpo. Relacionando esses
conhecimentos com algo prático, é possível considerar que a mesma força que um
veículo aplica sobre um poste ao colidir com ele, é aplicada igualmente sobre o
veículo e com mesma força e intensidade.

12.4 LEI DA CONSERVAÇÃO DA ENERGIA

Essa lei estabelece que uma determinada quantidade de energia não pode
ser criada nem destruída, mas, sim, transformada de um tipo em outro.

Uma parte da energia química do combustível faz o motor do automóvel


funcionar, gerando energia biomecânica que o movimenta e que, por sua vez,
produz calor no motor e nas rodas. Quando o veículo está em movimento, possui
certa quantidade de energia, denominada energia cinética. Quando ele para, ao
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colidir com um muro de concreto, essa energia cinética não desaparece, mas é
transformada em outra forma de energia, principalmente em energia biomecânica, a
qual pode produzir danos na estrutura do veículo e lesões nos ocupantes.

12.5 ENERGIA CINÉTICA

É a energia devida ao movimento. Tudo o que se move possui energia


cinética. Logo, os corpos em movimento possuem energia e, portanto, podem
causar deformações. A energia cinética de um corpo depende da sua massa e da
sua velocidade. O corpo de massa (m) e velocidade (v) tem a sua energia cinética
definida pela expressão: Ec = 1/2 .m.v2

É possível afirmar que a energia cinética constitui uma função da massa e


da velocidade de um corpo, na qual, energia cinética é igual à metade da massa
vezes sua velocidade ao quadrado.

Se você fizer alguns cálculos, verificará que a velocidade determina um


aumento muito maior da energia cinética do que a massa, levando a concluir que
haverá lesões muito maiores nos ocupantes de um veículo envolvido num acidente
de alta velocidade do que em um acidente de baixa velocidade.

13 ALGORÍTMO DE TRIAGEM - MÉTODO START

Triagem é o termo dado ao exame inicial e seleção das vítimas por


prioridades no local do incidente. Palavra de origem francesa que significa “pegar,
selecionar ou escolher”.

O primeiro emergencista que chega numa cena de emergência com


múltiplas vítimas enfrenta um grave problema. A situação é diferente e seus
métodos usuais de resposta e operação não são aplicáveis. Esse profissional deve
modificar sua forma rotineira de trabalho, buscando um novo método de atuação que
lhe permita responder adequadamente à situação.

OBSERVAÇÃO: As hemorragias deverão ser contidas logo que


identificadas.

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Fonte: https://segurancadocuidado.wordpress.com/2013/10/24/imagina-na-copa/

É de responsabilidade do primeiro emergencista que chegar ao local do


acidente com múltiplas vítimas, montar um esquema e separar as peças de um
desastre de forma a propiciar o melhor cuidado possível a cada pessoa envolvida. O
mais experiente presente no local do evento deve solicitar o que necessitar de
pessoal e equipamentos suplementares.

Em resumo, o processo de triagem é usado quando a demanda de atenção


supera a capacidade de resposta e, portanto, é necessário direcionar os esforços
para salvar o maior número de vítimas possível, escolhendo aquelas que
apresentam maiores possibilidades de sobrevivência. O primeiro a chegar à cena
deve dedicar-se a seleção das vítimas, enquanto chegam as unidades de apoio.

Se há no local cinco ou cinquenta vítimas, deve-se sempre iniciar um


processo de triagem e avaliar e tratar a maior quantidade possível delas. Se a
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guarnição se detém no atendimento de uma única vítima, todos os demais poderão


não receber auxílio.

13.1 MÉTODO DE TRIAGEM

Método START (Simple Triage and Rapid Treatment)

Triagem simples e atendimento rápido

Método utilizado em situações em que o número de vítimas ultrapassa a


capacidade de resposta da equipe de socorro. Utilizado para alocar recursos e
hierarquizar vítimas de acordo com um sistema de prioridades (cores), de forma a
possibilitar o atendimento e o transporte rápido do maior número possível de vítimas.

Vantagens

● Sistema de triagem simples que permite triar uma vítima em menos de


1 minuto.
● O método utiliza diferentes cores para determinar a prioridade de
atendimento e transporte.

13.2 SIGNIFICADO DAS CORES

Verde

Significa terceira prioridade. Essas vítimas não requerem atenção


imediata.

Amarela

Significa segunda prioridade. Essas vítimas necessitam de atendimento,


mas podem aguardar.

Vermelha

Significa primeira prioridade. Essas vítimas estão em estado grave e


necessitam atendimento e transporte imediatos.

Preta

Significa sem prioridade. Essas vítimas possuem lesões obviamente mortais.

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Fonte: https://emergenciaonline.com/2018/02/01/o-que-e-o-metodo-start/

Critérios utilizados no método START

Esse método utiliza fitas coloridas e baseia-se em três diferentes critérios


para classificar as vítimas em diferentes prioridades: respiração, perfusão e status
neurológico.

Respiração

NÃO

A vítima não respira, mesmo após abrir as vias aéreas. É considerada vítima
sem prioridade (cor preta).

SIM

Vítima, após abertura de vias aéreas, volta a respirar e é considerada vítima


de primeira prioridade (cor vermelha). Se a respiração apresenta-se de forma
espontânea e igual ou superior a 30vpm é também considerada vítima de primeira
prioridade (cor vermelha). Menor que 30vpm, avalie perfusão.

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Perfusão

A perfusão é avaliada por meio do enchimento capilar (fluxo da circulação).


Se for superior a 2 segundos, significa uma perfusão inadequada.

Em caso de iluminação reduzida, o emergencista deverá avaliar o pulso


radial. Um pulso radial ausente indica uma PA sistólica abaixo de 80mmhg. Controle
hemorragias se houver, e considere a vítima em primeira prioridade (cor vermelha).

Se o enchimento capilar for de até 2 segundos, avalie o status neurológico.

Alguns sistemas de emergência médica adotam a observação do pulso


carotídeo, classificando-o em forte (avaliar status neurológico) ou fraco (cor
vermelha), em substituição ao perfusão.

Status neurológico

NÃO

A vítima não cumpre ordens simples, considere vítima de primeira prioridade


(cor vermelha).

SIM

A vítima cumpre ordens simples, considere como vítima de segunda


prioridade (cor amarela).

13.3 AÇÃO DOS PRIMEIROS EMERGENCISTAS NA CENA

Primeiro passo

Dimensione e assuma a situação de emergência, solicite recurso adicional e


inicie a triagem, método START, das vítimas.

Determine a um emergencista de sua equipe que dirija todas as vítimas que


possam caminhar para uma área de concentração previamente delimitada (poderá
ser utilizado um megafone para isso). Essas vítimas receberão uma identificação
verde de forma individual.

Segundo passo

Determine para que outro emergencista de sua equipe inicie a avaliação das
vítimas que permaneceram na cena de emergência e que não apresentam
condições de caminhar. Deverá ser avaliada a respiração.

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RESPIRAÇÃO AUSENTE

Abra imediatamente as vias aéreas (VA) para determinar se as respirações


iniciam espontaneamente. Se a vítima continua sem respirar, recebe a fita de cor
preta (não perca tempo tentando reanimar a vítima). Se voltar a respirar, mantenha
as VA abertas. A vítima receberá a fita de cor vermelha (nesses casos, solicite
voluntários para manter abertas as VA da vítima).

RESPIRAÇÃO PRESENTE

Avalie a sua frequência respiratória, se igual ou superior a 30vpm, recebera


uma fita de cor vermelha. Caso a respiração esteja normal (menor que 30vpm), vá
para o passo seguinte.

Terceiro passo

Verifique a perfusão por meio da prova do enchimento capilar ou mediante a


palpação do pulso radial.

Enchimento capilar superior a 2 segundos ou se o pulso radial está ausente.


A vítima deverá receber a fita de cor vermelha. Enchimento capilar de até 2
segundos ou se o pulso radial está presente. Vá para o passo seguinte.

Em caso de iluminação reduzida, o emergencista deverá avaliar o pulso


radial. Um pulso radial ausente, desde que esteja presente o pulso carotídeo, indica
uma pressão arterial (PA) sistólica abaixo de 80mmhg.

Qualquer hemorragia grave que ameace a vida deverá ser contida nesse
momento. Posicione a vítima com as pernas elevadas para prevenir o choque
(novamente tente conseguir voluntários para fazer pressão direta sobre o local do
sangramento e prevenir o choque).

Quarto passo

Verifique o status neurológico da vítima.

● Não consegue executar ordens simples emanadas pelo emergencista.

A vítima deverá receber a fita de cor vermelha.

● Consegue executar ordens simples dadas pelo emergencista.

A vítima receberá a fita de cor amarela.

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BIBLIOGRAFIA

- Ministério da Justiça/SENASP. Emergencista Pré-Hospitalar, 2007.

- Ministério da Justiça/SENASP. Emergencista Pré-Hospitalar 2, 2009.

- NAEMT. PHTLS - Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado. 9ª edição.


Editora Artmed: 2018.

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