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CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CTSP

COORDENAÇÃO TÁTICAS DE COMBATE A INCÊNDIO I

CADERNO TEMÁTICO
CORPO DE MILITAR

CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA PÚBLICA

COORDENAÇÃO TÁTICA
DE COMBATE A INCÊNDIO I

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COORDENAÇÃO TÁTICA
DE COMBATE A INCÊNDIO I

Colaboração Técnica:
Major QOEM Sandro Carlos Goncalves da Silva
Major QOEM Marcelo Carvalho Soares
Cap QOEM Márcio Müller Batista
Cap QOEM Jaqueline da Silva Ferreira
1º Sgt QPBM Vagner Silveira da Silva
1º Sgt QPBM Fabiano Rodrigues Moraes

Artes gráficas
Sd QPBM Daniel Woivoda

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COORDENAÇÃO TÁTICAS DE COMBATE A INCÊNDIO I

Prefácio
O Combate a Incêndio é a missões operacional que deu origem ao Corpo
de Bombeiros no mundo, e constitui-se em uma atividade extremamente técnica,
com fundamentação científica, pois a combustão é uma reação química que resulta
em efeitos químicos, físicos nos combustíveis e fisiológicos nas vítimas e no
bombeiro.
Desde a década de 80 bombeiros suecos desenvolveram estudos para
entender o comportamento do incêndio, após diversos acidentes envolvendo
bombeiros. A partir destes estudos começou-se a ter uma visão diferenciada das
ocorrências, agora não mais focado apenas nas chamas, mas tendo uma leitura
completa da cena, incluindo a fumaça com agente ígneo.
Com o aperfeiçoamento das técnicas, o avanço tecnológico dos
equipamentos de proteção individuais e respiratório, além de ferramentas de
combate a incêndio modernas, como os esguichos, é possível fazer o combate com
mais eficiência, segurança e principalmente salvando vidas e protegendo os bens
ainda não danificados pelas chamas.
Para aprender o estudo das estratégias e táticas de combate a incêndio, é
fundamental o graduado estar atualizado nas técnicas que serão aplicadas, pois é
responsabilidade do Sargento a instrução e atualização da tropa.
A disciplina de Coordenação Técnica em combate a incêndio está dividida
em dois módulos nos quais serão abordados os conhecimentos necessários para
que o futuro sargento possa conhecer o incêndio, sua forma de desenvolvimento,
as técnicas aplicadas para que, estando na função de Comandante do Local
Sinistrado, possa tomar a decisão sobre a estratégia e tática mais adequada em
cada caso.

Sandro Carlos Goncalves da Silva - Major QOEM


Márcio Müller Batista – Cap QOEM
Membros do Comitê Nacional de Combate a Incêndio pelo CBMRS

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Índice

Lição 1 – Estudo da Combustão ................................................ 06

Lição 2 – Estudo do Incêndio ..................................................... 32

Lição 3 – Uso da água no incêndio............................................. 52

Lição 4 – Técnicas de Combate a Incêndio ............................... 61

Referências bibliográficas............................................................ 86

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Caro aluno

Seja bem-vindo a primeira lição de Técnicas de Combate a Incêndio – Módulo I.


O objetivo geral desta disciplina é apresentar uma fundamentação teórica a respeito
do Combate a Incêndio com ênfase nas técnicas de combate a incêndio utilizadas em Táticas
ofensivas.
Nesta lição abordaremos aspectos químicos e físicos que envolvem a combustão, e
ao final da lição você deverá compreender como ela ocorre e quais as consequências deste
fenômeno no ambiente e no organismo. O entendimento do incêndio parte de conhecimentos
a cerca do estudo dos elementos que envolvem a propagação da energia térmica.
Bons estudos!

Objetivos Específicos
Ao final da lição o aluno deverá:
 Entender os elementos da combustão;
 Conhecer os efeitos físico-químicos do calor;
 Identificar os efeitos fisiológicos do calor;
 Analisar as Formas de propagação do calor;
 Identificar os pontos notáveis da temperatura;
 Reconhecer os tipos de combustão;
 Diferenciar os tipos de chama;
 Compreender quais são os produtos da combustão.

Introdução

Para prevenir e combater incêndios de modo eficiente é necessário entender o


“funcionamento do incêndio”. As bases teóricas sobre como ocorrem e como se comportam
o fogo e o incêndio são indispensáveis para podermos entender e dominar as técnicas de
combate e prevenção.

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Para definirmos as estratégias e táticas a serem aplicadas em uma operação de


Combate a incêndio, precisamos entender quais os procedimentos técnicos que a guarnição
de Combate a incêndio deverá aplicar.
Como já dizia Sun Tzu: “Conheces teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres
cem combates a travar, cem vezes serás vitorioso. Se ignoras teu inimigo e conheces a ti
mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas. Se ignoras ao mesmo tempo teu
inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates por tuas derrotas.”
Para isto, devemos conhecer de que forma ocorre o fenômeno químico e físico que
envolve o fogo, e consequentemente sua progressão fora do controle: O incêndio.
Passaremos a estudar neste capítulo a Teoria da Combustão, onde veremos como ocorre a
reação química da Combustão e todos os elementos que envolvem este fenômeno.

1. Constituição e propriedades da matéria:

Para que possamos ter a perfeita compreensão dos efeitos e do desenvolvimento da


combustão é necessário entender a constituição física e química da matéria. Normalmente os
átomos buscam combinar-se entre si ou com outros átomos, uma estabilidade maior,
formando moléculas.

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2. Estados físicos da matéria:

3. O fenômeno da combustão:

A combustão (ou fogo) é uma reação química na qual um material combustível


reage com um oxidante, chamado de comburente e que normalmente é o oxigênio,
produzindo energia na forma de calor e, muitas vezes, luz. Essa reação depende de uma
energia de ativação (calor) para que se inicie e, após iniciada, prossegue de forma
autossustentável.

A reação de combustão pode ser entendida como uma reação oxidante exotérmica:
oxidante por ser uma reação química que consome oxigênio (O2), e exotérmica porque
libera calor durante a reação (DRYSDALE, 1998).

O conceito de incêndio está relacionado ao fogo que foge ao controle do homem,


provocando danos ao patrimônio e aos seres humanos.

4. Triângulo (tetraedro) do fogo:

Independentemente da representação gráfica do fenômeno da combustão, o


importante é ficar claro que se for retirado do processo qualquer um dos elementos que a
compõe – combustível, comburente, energia de ativação e reação em cadeia – a mesma será
interrompida.

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Resumindo: para que a combustão se inicie (requisitos) são necessários 3


componentes: calor, comburente e combustível (triângulo do fogo). Quando ela surge,
podemos constatar a presença de 4 componentes (elementos): os três anteriores acrescidos
da reação em cadeia.
Qual a diferença de fogo e chama?
A combustão libera energia na forma de calor, que retroalimenta a reação, e na
forma de luz, que pode ser incandescência do material (brasas) ou na formação da chama,
que nada mais é do que a ionização dos gases em combustão pelo calor produzido,
liberando parte da energia na forma de luz.
A partir de agora, passaremos a estudar cada um dos elemento que compõem a
combustão:
a) Energia de ativação (calor)
b) Combustível
c) Comburente
e) Reação em cadeia

5. CALOR

5.1 Energia de ativação:

É o componente energético capaz de fazer com que a temperatura do combustível


aumente para que haja então a liberação dos gases que sofrerão a queima. A energia de
ativação pode ser qualquer elemento que faça com que o combustível, independentemente
de seu estado físico, desprenda gases combustíveis.

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5.2 Efeitos físico-químicos do calor:


O calor gerado irá produzir efeitos físicos e químicos nos corpos.
a) Aumento/diminuição da temperatura
b) Aumento do volume;
c) Mudança do estado físico
d) Mudança do estado químico

a) Aumento/diminuição da temperatura

Este fenômeno se desenvolve com maior rapidez nos corpos considerados bons
condutores de calor, como os metais; e, mais vagarosamente, nos corpos tidos como maus
condutores de calor, como por exemplo, o amianto.

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O conhecimento sobre a condutibilidade de calor dos diversos materiais é de grande


valia na prevenção de incêndio. Aprendemos que materiais combustíveis nunca devem
permanecer em contato com corpos bons condutores, sujeitos a uma fonte de aquecimento.

b) Aumento do volume: Dilatação / contração térmica:


O aumento do volume pode ocorrer em razão do aquecimento dos materiais no seu
volume, expansão superficial e linear:

Todos os corpos – sólidos, líquidos ou gasosos – se dilatam e se contraem conforme


o aumento ou diminuição da temperatura. A atuação do calor não se faz de maneira igual
sobre todos os materiais. Alguns problemas podem decorrer dessa diferença. Imaginemos,
por exemplo, uma viga de concreto de 10m exposta a uma variação de temperatura de 700
ºC. A essa variação, o ferro, dentro da viga, aumentará seu comprimento cerca de 84mm, e o
concreto, 42mm.
Com isso, o ferro tende a deslocar-se no concreto, que perde a capacidade de
sustentação, enquanto que a viga “empurra” toda a estrutura que sustenta em, pelo menos,
42 mm, provocando danos estruturais.
Os materiais não resistem a variações bruscas de temperatura. Por exemplo, ao
jogarmos água em um corpo superaquecido, este se contrai de forma rápida e desigual, o que

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lhe causa rompimentos e danos. Pode ocorrer um enfraquecimento deste corpo, chegando
até a um colapso, isto é, há o surgimento de grandes rupturas internas que fazem com que o
material não mais se sustente. Mudanças bruscas de temperatura, como as relatadas acima,
são causas comuns de desabamentos de estruturas.

c) Mudança no estado físico:

Com o aumento do calor, os corpos tendem a mudar seu estado físico: alguns
sólidos transformam-se em líquidos (liquefação), líquidos se transformam em gases
(gaseificação) e há sólidos que se transformam diretamente em gases (sublimação). Isso se
deve ao fato de que o calor faz com que haja maior espaço entre as moléculas e estas,
separando-se, mudam o estado físico da matéria. No gelo, as moléculas vibram pouco e
estão bem juntas; com o calor, elas adquirem velocidade e maior espaçamento,
transformando um sólido (gelo) em um líquido (água).

Calor é a energia em trânsito

Frio é a
ausência de
calor

Baixa energia térmica Alta energia térmica

d) Mudança no estado químico:

Mudança química é aquela em que ocorre a transformação de uma substância em


outra. A madeira, quando aquecida, não libera moléculas de madeira em forma de gases, e
sim outros gases, diferentes, em sua composição, das moléculas originais de madeira. Essas

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moléculas são menores e mais simples, por isso têm grande capacidade de combinar com
outras moléculas, as de oxigênio, por exemplo.
Nos sólidos ocorre a TERMÓLISE e PIRÓLISE: Na presença do calor ocorre a
decomposição do material sólido (combustível) em vapores combustíveis que são liberados
na atmosfera reagindo com moléculas de Oxigênio.

Esse processo de decomposição em razão do calor resultando na liberação de


vapores combustíveis é chamado de pirólise ou termólise. A palavra vem de lise – quebra –
e piros – fogo – ou termos – calor. Preferimos o uso da palavra termólise pelo fato de que a
decomposição ocorre mesmo sem a presença de fogo (queima). O mero aquecimento,
mesmo em ambiente sem oxigênio capaz de sustentar a chama, pode resultar na
decomposição de um sólido com a liberação de vapores combustíveis.
É fácil entender porque o aumento da temperatura gera alterações químicas. Com o
aumento da temperatura, aumenta a agitação das moléculas. Com o aumento da agitação elas
se rompem causando mudança na estrutura molecular, normalmente uma decomposição em
moléculas mais simples.

e) Efeitos fisiológicos do calor:

Alguns gases presentes no sinistro são nocivos e até mesmo letais, muitos inodoros
e incolores, há necessidade de utilização de equipamentos por parte de quem combate a
incêndios (como o Equipamento de Proteção Respiratória Autônomo)

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Desta forma o calor presente no incêndio pode causar desidratação; intermação,


fadiga; problemas para o aparelho respiratório; queimaduras (1°, 2° e 3° graus) e até levar a
morte.
O esforço físico em ambiente de elevada temperatura provoca um desgaste muito
grande. O ritmo cardio-respiratório rapidamente se eleva. Ocorre também grande perda de
líquidos pela transpiração, o que gera desidratação e auxilia a causar exaustão.
As queimaduras de vias aéreas superiores também são letais. Respirar fumaça e
gases superaquecidos pode queimar a mucosa das vias aéreas superiores causando inchaço e
obstrução, o que ocasiona a morte por asfixia.
Por vezes o mecanismo corporal de regulação térmica, na tentativa de manter
normal a temperatura do organismo, não suporta a sobrecarga e falha. Então, ocorre algo
similar à insolação (falha do mecanismo de regulação térmica provocada pela longa
exposição ao sol). Ocorre a intermação, que é a falha do mecanismo de regulação térmica
provocada pela sobrecarga do mecanismo de regulação térmica decorrente de longa
exposição a altas temperaturas. Com a falha do sistema de “arrefecimento” corporal, a
temperatura do corpo pode subir perigosamente e acarretar na morte da pessoa.

5.4 Transmissão / Propagação de Calor

A transferência de calor de um corpo para outro ou entre áreas diferentes de um


mesmo corpo.

... até que as temperaturas se igualem


Corpo Corpo
“A” “B”
Mais Menos
energia energia
térmica térmica

A propagação do calor pode sofrer interferências ou variáveis de acordo com:


a) Pelo tipo molecular do material combustível que está sendo aquecido.
(sólido/líquido/gasoso)
b) Pela capacidade do material combustível de reter calor (natureza do material), e;

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c) Pela distância da fonte de calor até o material combustível


O calor pode se propagar de três diferentes maneiras: condução; convecção e
irradiação.

CONDUÇÃO: Condução é a
transferência de calor através de um
corpo sólido, de molécula a molécula.

CONDUÇÃO:
- Ocorre nos SÓLIDOS;
- Ocorre de molécula a molécula
- Para transmissão por condução entre
corpos distintos é necessário CONTATO

IRRADIAÇÃO: É a transmissão de calor por meio de ondas eletromagnéticas que


se propagam através do espaço vazio, não necessitando de continuidade molecular entre a
fonte e o corpo que recebe o calor.

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CONVECÇÃO: A convecção é a transmissão de calor pelo deslocamento de


fluídos (gases ou líquidos).

PROJEÇÃO: É o deslocamento ou queda de objetos (essencialmente os sólidos) em


combustão, podendo provocar outro foco de incêndio. Ex.: janela de madeira de um edifício

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que cai, em chamas, sobre uma loja ou, ainda, em um incêndio florestal, um tronco que rola
do alto de um morro em chamas, até um local mais baixo e não incendiado.

FONTE: Manual CBMRJ

6. COMBURENTE:

É o elemento que possibilita vida às chamas e intensifica a combustão. O mais


comum é que o oxigênio desempenhe esse papel.
A atmosfera é composta aproximadamente por: 21% de oxigênio, 78% de
nitrogênio e 1% de outros gases.

Contudo, a combustão consome o oxigênio do ar num processo contínuo. Quando a


porcentagem do oxigênio do ar do ambiente passa de 21% para a faixa compreendida entre
14% e 7%, a queima torna-se lenta, notam-se brasas e não mais chamas.
Quando o oxigênio contido no ar do ambiente atinge concentração menor que 4%,
não há combustão. No entanto, mesmo não havendo combustão poderá haver o
desprendimento de vapores combustíveis pela termólise. Pode ocorrer a decomposição de
materiais combustíveis e liberação de vapores combustíveis.
Concentração do Oxigênio no ambiente
Acima de 21% amplia a taxa de concentração de combustível em que é possível ocorrer
uma explosão.
Combustão 14% a 21% chamas
7% a 14% brasas

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Na tabela abaixo é possível ver alguns sintomas e sinais que ocorrem com a
redução da concentração de oxigênio em um ambiente com vítimas.

7. COMBUSTÍVEIS:

Podemos entender combustível como sendo toda substância capaz de queimar,


servindo de campo de propagação do fogo. Para efeitos práticos as substâncias foram
divididas em combustíveis e incombustíveis, tendo como parâmetro a temperatura de 1000
°C (em regra). No entanto, não raras vezes as temperaturas em um incêndio em
compartimentos podem atingir temperaturas acima de 1000ºC. Pode-se dizer que material
combustível é toda a substância capaz de entrar em combustão, e reagir com o oxigênio.
Entre os materiais combustíveis aqueles que são maus condutores de calor
queimam mais facilmente que os bons condutores, pois enquanto estes dissipam a energia
térmica recebida, aqueles absorvem a energia concentrando-a e entrando em combustão

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mais rapidamente. Os metais são exemplo de bom condutores de calor, enquanto a madeira é
um mal condutor de energia térmica.

7.1 Diferença entre combustível e Inflamável:

Ser inflamável significa ser capaz, à temperatura ambiente (20º C) liberar vapores
em quantidade capaz de sustentar uma combustão, ou seja, estão acima do ponto de
combustão. Os combustíveis são classificação quanto ao estado físico em sólidos, líquidos e
gasosos.

7.2 Combustíveis sólidos:

Na maioria dos casos não queimam no


estado sólido, pois a energia de ativação (calor)
quebra as moléculas na forma de vapor
(termólise ou pirólise) desprendendo-se da
superfície de contato reagindo com o oxigênio.
Os sólidos são constituídos de moléculas grandes
e complexas. O calor quebra essas moléculas
grandes em radicais menores que se libertam.
Esses radicais menores libertos são os vapores
combustíveis que reagem com o oxigênio.
Quanto maior a superfície exposta, mais
rápido será o aquecimento do material, maior
será a área para liberação de vapores e maior será
a área de contato com o oxigênio,
consequentemente, mais rápido será o processo
de combustão.
Assim sendo, quanto maior a
fragmentação do material, quanto maior for a
relação superfície/massa, maior será a velocidade
da combustão.

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Pós de material orgânico e de alguns metais estão sujeitos à combustão instantânea


ou “explosão”, quando em suspensão no ar, portanto, seu mecanismo não é a pirólise. Os
pós em suspensão no ar comportam-se praticamente como os gases no que diz respeito à
combustão. Isso se deve à grande relação superfície massa.
Outra característica dos sólidos combustíveis é que sua estrutura molecular permite
a queima no interior do corpo, assim os sólidos queimam em superfície e em profundidade.
Além disso, os sólidos podem apresentar um estado de queima no qual não há chamas, mas
apenas incandescência do combustível em queima.

a) Propagação do fogo em razão da posição:

Como os sólidos tem forma definida, o fogo em


um corpo se propagará de acordo com sua forma,
preferindo o rumo ascendente, pois as massas de vapores
combustíveis sobem devido à convecção. Isso interfere na
velocidade da propagação das chamas. Por exemplo, uma
placa de compensado deitada queima mais lentamente do
que se estivesse em pé.

b) Combustíveis sólidos especiais:

Algumas substâncias sólidas apresentam riscos


especiais de incêndio, quando em contato com a água, ou
ar, ou pela sua constituição química. São elas:
Metais reativos com a água – Necessitam de maior atenção, pois além de
queimarem liberando muita energia, reagem com a água “quebrando-a”. A quebra da água
libera oxigênio, que reage com o material intensificando a combustão, e hidrogênio, que é
altamente combustível. Assim, estes metais em contato com a água, liberam quantidade de
calor considerável. Exemplos: sódio, pó de alumínio, cálcio, hidreto de sódio, soda cáustica,
potássio, etc.
Halogênios – São materiais que apresentam risco de explosão, quando misturados a
outros materiais. Exemplos: flúor, cloro, bromo, iodo e astatínio.

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7.3 Combustíveis líquidos:

As moléculas dos líquidos possuem a tendência de se desprenderem e se


dispersarem no ar. É o que chamamos de evaporação. Diferentemente dos sólidos, os
combustíveis líquidos não sofrem decomposição térmica, mas um fenômeno chamado de
vaporização. Os vapores em contato com o oxigênio do ar, formam a mistura inflamável.
Essa mistura na presença de uma fonte de calor (energia de ativação) se inflama. Os
combustíveis líquidos queimam apenas em superfície.
Os Líquidos inflamáveis liberam vapores em temperatura ambiente capaz de
sustentar combustão.

7.4 Combustíveis gasosos:

Esse combustível em contato com o oxigênio do ar forma a mistura inflamável, mas


para isto ocorrer precisam estar na concentração adequada: Mistura Inflamável. Para cada
gás (ou vapor ou sólido/líquido em suspensão) há uma faixa de concentração com o ar na
qual pode ocorrer a queima.
AR Fonte Ígnea
Gás Combustível Mistura Explosiva Combustão

Mistura Inflamável
Limite Inferior de explosividade: (LIE) mínima proporção proporção de gás ou
vapor no ar que torna a mistura explosiva é denominada
Limite Superior de explosividade: (LSE) máxima proporção de gás ou vapor no
ar que torna a mistura explosiva.
Só ocorre a queima dos gases/vapores caso estejam em mistura com o ar dentro
dessa faixa entre os limites inferior e superior.

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8. Reação em Cadeia:

A reação em cadeia torna a queima autossustentável. O calor irradiado das chamas


atinge o combustível e este é decomposto em partículas menores, que se combinam com o
oxigênio e queimam, irradiando outra vez calor para o combustível, formando um ciclo
constante.

9. Pontos de Temperatura

Os pontos notáveis são temperaturas mínimas nas quais podemos observar


determinados efeitos relacionados aos vapores liberados: ponto de fulgor, ponto de
combustão e ponto de ignição.

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9.1 Ponto de fulgor:


Com o aquecimento de um material,
chega-se a uma temperatura em que o material
libera vapores em quantidade tal que se
incendeiam se houver uma fonte externa de
calor, mas a queima não se mantém se a chama
externa for retirada.

9.2 Ponto de combustão:


Prosseguindo no aquecimento,
atinge-se uma temperatura em que há uma
liberação de vapores do material tal que, ao
entrarem em contato com uma fonte externa de
calor, iniciam a combustão, e continuam a
queimar mesmo com a retirada da fonte
externa.

9.3 Ponto de ignição:


Atinge-se um ponto no qual os
vapores liberados pelo combustível estão
em quantidade tal que, expostos ao ar,
entram em combustão sem que haja fonte
externa de calor, tanta é a energia que
apresentam.
Exemplos dos Pontos notáveis de
temperatura:

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10. TIPOS DE COMBUSTÃO:

O fogo pode se apresentar fisicamente de duas maneiras diferentes, as quais podem


aparecer de forma isolada ou conjunta, sendo como chama ou como brasas.
Essas apresentações físicas do fogo geralmente são determinadas pelo combustível.
Se for gasoso ou líquido, sempre terá a forma de chamas. Se for sólido, o fogo poderá se
apresentar em chamas e brasas ou somente em brasa.
Os sólidos de origem orgânica quando submetidos ao calor, destilam gases que
queimam como chamas, restando o carbono que queima como brasa formando o carvão.
Alguns sólidos como a parafina e as gorduras se liquefazem e se transformam em vapores,
queimando unicamente como chamas, outros sólidos queimam diretamente apresentando-se
incandescentes, como os metais pirofóricos.
A combustão pode ser classificada:
a) Quanto à sua velocidade de reação: em viva ou lenta, combustão espontânea e
Explosão
b) Quanto à formação de produtos da combustão, pode ser classificada como
completa ou incompleta.

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10.1 Quanto à sua velocidade de reação:

a) Combustão Viva: A combustão viva é o fogo caracterizado pela presença de


chama. Pela sua influência na intensidade do incêndio e pelo impacto visual e psicológico
que gera, é considerada como sendo o tipo mais importante de combustão e, por causa disso,
costuma receber quase todas as atenções durante o combate.

b) Combustão Lenta: A incandescência é um processo de combustão relativamente


lento que ocorre entre o oxigênio e um sólido combustível, comumente chamado de brasa.
As incandescências podem ser o início ou o fim de uma chama, ou seja, de uma combustão
viva. Em todos os casos há produção de luz, calor e fumaça.

c) Combustão espontânea: A combustão espontânea é um processo de combustão


que começa, geralmente, com uma lenta oxidação do combustível exposto ao ar. Pode
ocorrer com materiais, como o fósforo branco, amontoados de algodão ou em curtumes
(tratamentos de peles de animais).
Alguns materiais entram em combustão sem fonte externa de calor (materiais com
baixo ponto de ignição); outros entram em combustão à temperatura ambiente (20 ºC), como
o fósforo branco. Ocorre também na mistura de determinadas substâncias químicas, quando
a combinação gera calor e libera gases em quantidade suficiente para iniciar combustão
como, por exemplo, a adição de água e sódio.

d) Explosão: A Explosão é um rápido aumento de volume em um curto espaço de


tempo que gera uma onda de pressão que se desloca em grande velocidade. A queima de
gases, vapores de líquidos inflamáveis, e partículas (sólidas ou líquidas) em suspensão no ar
comporta-se dessa maneira.
São as chamadas de explosões químicas, que são derivadas de uma reação química
rápida que libera produtos com grande volume rapidamente.
Conforme a velocidade da onda de choque gerada a explosão é classificada em
detonação e deflagração. A detonação ocorre quando a onda de choque supera a barreira da
velocidade do som gerando grande estrondo. A deflagração acontece quando a onda de
choque é subsônica.

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10.2 Quanto à liberação de produtos:

a) Combustão Completa:
Em algumas reações químicas pode ocorrer uma combustão completa, o que
significa dizer que todas as moléculas do combustível reagiram completamente com as
moléculas de oxigênio, tornando seus produtos estáveis. Também é chamada de combustão
ideal.
É importante lembrar que a combustão completa NÃO é o mesmo que queima total.
A queima total é a situação na qual todo o material combustível presente no ambiente já foi
atingido pela combustão, enquanto que a combustão completa é a combinação perfeita entre
o combustível e o oxigênio, fazendo com que todo o combustível reaja.
Na verdade, a combustão completa ocorre apenas em situações especiais ou em
laboratórios, não sendo encontrada na prática de combate a incêndio, pois não se atinge um
índice de 100% de queima facilmente, e 99% de queima significam combustão incompleta,
pois ficou combustível sem queimar. Exemplo de chamas completa é a chamas do fogão e
do maçarico.

b) Combustão Incompleta:
Todos os produtos instáveis (moléculas e átomos) provenientes da reação em cadeia
caracterizam uma combustão incompleta, que é a forma mais comum de combustão.
Esses átomos e moléculas instáveis resultantes da quebra molecular dos
combustíveis continuarão reagindo com as moléculas de oxigênio, decompondo-as e
formando outras substâncias.

11. TIPOS DE CHAMA:

As chamas podem ser de dois tipos, variando conforme o momento em que se dá a


mistura entre combustível e comburente. Podem elas ser: Chamas de pré-mistura ou chamas
difusas.
a) Chama pré-mistura:

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As chamas de pré-mistura são aquelas


em que o combustível e o comburente são
misturados antes da zona de queima. É o caso
dos maçaricos, equipamentos de oxi-acetileno,
bicos de bunsen, etc. Nesses casos, a zona de
queima não precisa estar envolta em ar, já que a
queima ocorre com oxigênio fornecido pelo equipamento e não pela atmosfera, daí o fato de
se perceber que os maçaricos queimam mesmo embaixo d’água.
Quando bem regulada a mistura combustível-comburente, apresentam uma
combustão completa, praticamente sem resto de gases.

b) Chama difusa:
São as chamas em que os vapores combustíveis misturam-se ao
comburente, o oxigênio do ar, na zona de queima. São as chamas de uma
fogueira, uma vela, um fósforo, etc.
Nesse tipo de chama, há diferença na queima ao longo da
chama, daí a diferença de coloração da chama. O tom amarelado na
ponta das chamas deve-se aos átomos de carbono que não conseguiram
queimar e que liberam energia excedente na forma de luz amarelada.
Nas chamas difusas, a oferta de oxigênio é melhor na base da chama. Por isso, se a
ponta da chama, rica em carbono, for perturbada, o carbono não consegue queimar e, com
isso, surge uma fumaça preta. A coloração preta da fumaça é proveniente do carbono que
não queimou (fuligem) e é o que impregna as paredes e o teto.

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12. PRODUTOS DA COMBUSTÃO

12.1 Fumaça:
Com estudos mais recentes, foram valorizadas cinco características da fumaça.
Verifica-se que ela é quente, móvel e inflamável, tóxica e opaca.
Quente – A combustão libera calor, transmitindo-o a outras áreas que ainda não
foram atingidas. Como já tratado na convecção, a fumaça será a grande responsável por
propagar o calor ao atingir pavimentos superiores quando se desloca (por meio de dutos,
fossos e escadas), levando calor a outros locais distantes do foco. A fumaça acumulada
também propaga calor por radiação.
Móvel – É um fluido que está sofrendo uma convecção constante, movimentando-
se em qualquer espaço possível e podendo, como já dito, atingir diferentes ambientes por
meio de fossos, dutos, aberturas ou qualquer outro espaço que possa ocupar. Daí o cuidado
que os bombeiros devem ter com elevadores, sistemas de ventilação e escadas. Essa
característica da fumaça também explica porque ocorrem incêndios que atingem pavimentos
não consecutivos em um incêndio estrutural.
Inflamável – Por possuir em seu interior combustíveis (provenientes da degradação
do combustível sólido do foco e pela decomposição de materiais pelo calor) capazes de
reagir com o oxigênio, a fumaça é combustível e, como tal, pode queimar e até “explodir”.
Não dar a devida atenção à fumaça ou procurar combater apenas a fase sólida do foco
ignorando essa característica é um erro ainda muito comum. A fumaça é combustível e
queima!
Tóxica – Os seus produtos são asfixiantes e irritantes, prejudicando a respiração dos
bombeiros e das vítimas.
Opaca – Os seus produtos, principalmente a fuligem, permanecem suspensos na
massa gasosa, dificultando a visibilidade tanto para bombeiros, quanto para as vítimas, o que
exige técnicas de entrada segura (como orientação e cabo guia) em ambientes que estejam
inundados por fumaça.
Em um ambiente fechado, como um compartimento, a fumaça tende a subir, atingir
o teto e espalhar-se horizontalmente até ser limitada pelas paredes, acumulando-se nessa
área. A partir daí, a fumaça começará a descer para o piso.

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12.2 Principais gases produzidos em um incêndio:

A inalação de gases tóxicos pode ocasionar vários efeitos danosos ao organismo


humano. Alguns dos gases causam danos diretos aos tecidos dos pulmões e às suas funções.
Outros gases não provocam efeitos danosos diretamente nos pulmões, mas entram na
corrente sanguínea e chegam a outras partes do corpo, diminuindo a capacidade das
hemácias de transportar oxigênio.
Os gases nocivos liberados pelo incêndio variam conforme quatro fatores:
- Natureza do combustível;
- Calor produzido;
- Temperatura dos gases liberados; e
- Concentração de oxigênio.
Os principais gases produzidos são o monóxido de carbono (CO), dióxido de
nitrogênio (NO2), dióxido de carbono (CO2), acroleína, dióxido de enxofre (SO2), ácido
cianídrico (HCN), ácido clorídrico (HCl), metano (CH4) e amônia (NH3), e serão abordados
a seguir.
a) Monóxido de Carbono (CO): Características: inodoro e incolor, principal
causador de morte. Por ter maior afinidade do que o oxigênio em relação à hemoglobina
(responsável pelo transporte do O2 para as células e tecidos), na ordem de 200 a 300 vezes,
causa asfixia química.

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b) Dióxido de Carbono (CO2): Características: asfixiante; tóxico, causa dano e


morte. Desloca o Oxigênio do Ambiente.

Efeitos da exposição humana ao CO2

Nível tempo sintomas


Concentração de exposição

6% 1 a 2 minutos Distúrbios visuais e auditivos;

10 a 15% 1 minuto Tonturas, sonolência, espasmos musculares


e inconsciência,

17 a 30% menos 1’ Perda de coordenação motora, inconsciência


convulsões, pode levar ao coma e à morte.

c) Ácido Cianídrico (HCN): É produzido a partir da queima de combustíveis que


contenham nitrogênio, como os materiais sintéticos (lã, seda, nylon, poliuretanos, plásticos e
resinas). É aproximadamente vinte vezes mais tóxico que o monóxido de carbono.
d) Ácido Clorídrico: Forma-se a partir da combustão de materiais que contenham
cloro em sua composição, como o PVC. É um gás que causa irritações nos olhos e nas vias
aéreas superiores, podendo produzir distúrbios de comportamento, disfunções respiratórias e
infecções.
e) Acroleína: É um irritante pulmonar que se forma a partir da combustão de
polietilenos encontrados em tecidos. Pode causar a morte por complicações pulmonares
horas depois da exposição.
f) Amônia: É um gás irritante e corrosivo, podendo produzir queimaduras graves e
necrose na pele. Os sintomas à exposição incluem, desde náusea e vômitos, até danos aos
lábios, boca e esôfago, sendo encontrado em borracha, seda, nylon, etc.
Bombeiros contaminados por amônia devem receber tratamento intensivo, serem
transportados com urgência para um hospital, sem utilizar água nem oxigênio na prestação
dos primeiros socorros.
h) Óxidos de Nitrogênio: Uma grande variedade de óxidos, correspondentes aos
estados de oxidação do nitrogênio, podem ser formados num incêndio. As suas formas mais

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comuns são o monóxido de dinitrogênio (N2O), óxido de nitrogênio (NO), dióxido de


nitrogênio (NO2) e tetróxido de dinitrogênio (N2O4).
O óxido de nitrogênio não é encontrado livre na atmosfera porque é muito reativo
com o oxigênio, formando o dióxido de nitrogênio. Esses óxidos são produzidos,
principalmente, pela queima de nitrato de celulose (filmes e papel fotográfico) e
decomposição dos nitratos orgânicos. São bastante irritantes, podendo em seguida,
tornarem-se anestésicos. Atacam o aparelho respiratório, onde formam os ácidos nitroso e
nítrico, quando em contato com a umidade da mucosa. Na figura abaixo, observamos alguns
materiais e os gases tóxicos liberados na queima dos mesmos.

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Caro aluno

Com base nos fundamentos estudados na lição anterior, passaremos a analisar como
o Incêndio se desenvolve em um ambiente compartimentado, suas fases e os fenômenos
extremos causados pela ignição da fumaça. Ao final da lição você compreenderá o motivo
pelo qual a fumaça deve ser tratada como combustível em um incêndio, e não apenas o foco,
e entender os riscos caso ela não seja controlada incêndio estrutural.
Bom estudo!

Objetivos Específicos
Ao final da lição o aluno deverá:
 Definir incêndio em compartimento;
 Diferenciar incêndio em compartimento e incêndio ao ar livre;
 Identificar as fases do incêndio e suas características;
 Identificar os principais fenômenos extremos do fogo pela ignição da fumaça.

Introdução

A disciplina de desenvolvimento do incêndio visa atualizar os graduados nas mais


recentes descobertas ligadas ao reconhecimento do incêndio e de suas fases. Estas
descobertas fomentaram ainda mais o estudo do tema o que trouxe consigo novas técnicas
de combate, possibilitando o Bombeiro o agir consciente em sinistros. A relevância de se
tratar o Desenvolvimento dos Incêndios num curso de Habilitação a Sargentos Bombeiros,
reside na necessidade de Juntamente com Razão pela qual iniciaremos esse capítulo com
uma abordagem histórica para então tratar entre a diferença do incêndio em compartimento,
as fases do incêndio em compartimento, os comportamentos extremos do fogo e os
indicadores de um incêndio.

Com os conhecimentos adquiridos nesta disciplina os Chefes de


Guarnição/Comandantes de Socorro/Coordenadores Operacionais poderão estabelecer as
melhores táticas e preparar seus subordinados para escolherem as melhores técnicas.

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O Compartment Fire Behavior Training - CFBT e sua história

Em 1982 durante um sinistro na Suécia, dois bombeiros perderam suas vidas em razão
de uma bola de fogo, até então inexplicável. Acidentes como esse começaram a ser mais
comum porque a evolução dos EPI’s, especialmente os EPRA’s, possibilitaram aos
bombeiros ingressarem nos incêndios. Essas mortes motivaram as autoridades suecas a
estudarem os sinistros a fim de entender melhor seu objeto de trabalho, os incêndios.
Podemos dizer que nesse momento onde há a busca pelo estudo do incêndio, é considerado
um marco histórico para as habilidades de avaliar incêndio. E este estudo chama-se CFBT.

A sigla CFBT refere-se à expressão em Inglês Compartment Fire Behavior Training


podendo ser traduzida como Treinamento do Comportamento do Incêndio em
Compartimento. Essa técnica visa adestrar bombeiros em ao observar os Incêndios
Confinados identificar aspectos relevantes do desenvolvimento do sinistro. A diferença
entre o treinamento em geral e o CFBT é a ênfase dada ao desenvolvimento de uma
compreensão do comportamento do fogo e a influência das ações táticas nele.

Embora a capacidade tática seja importante, compreender o comportamento do fogo e


reconhecer indicadores-chave do desenvolvimento e do comportamento do fogo são
fundamentais para a segurança e a proteção/sobrevivência dos bombeiros.

O CFBT é a Ciência que torna o bombeiro mais técnico ao abordar um incêndio. Isso
porque lhe da capacidade de “enxergar” muito mais do que um fogo fora do controle. Mas
também, como o incêndio progrediu e as possibilidades de evolução e riscos de
comportamentos extremos.

Nesse momento histórico tornou-se notável a tese de dois engenheiros que defenderam
que a fumaça incendeia, sendo eles Krister Giselsson e Mats Rosander. Num primeiro
momento eles foram rejeitados, mas mais tarde, outro oficial da brigada de incêndios de
Estocolmo (Anders Lauren) introduziu o conceito de usar contêineres de transporte
compatíveis com ISO para treinar operadores a usar essas técnicas. Hoje o Treinamento em

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Comportamento de Incêndios em Compartimentos está consolidado a nível mundial e muitas


pesquisas, técnicas e equipamentos vêm sendo desenvolvidos.

Então os paradigmas do Combate a Incêndio mudaram. Até a década de 70 a ênfase


era salvar apenas o patrimônio dos vizinhos, onde o combate exterior prevalecia. O combate
era à distância com jatos de longe e com arremesso de água em abundância, unicamente nos
combustíveis. Já hoje se exige dos combatentes o uso de ventilação tática, resfriamento da
fumaça, aproximação do foco e uso racional da água para salvar também os bens do local
sinistrado.

O CFBT chegou ao Brasil em 2006 por meio do CBMDF. De lá pra cá, várias
corporações brasileiras têm trabalhado para formar e atualizar sua tropa no sentido de
conhecer o incêndio, especialmente quanto as fumaça e seu comportamento. O grande
desafio é criar novos paradigmas de forma a mostrar que a maneira de salvar em incêndio é
bem diferente daquelas da época que não era possível nem se quer entrar nos locais
sinistrados.

1. INCÊNDIO AO AR LIVRE E INCÊNDIO EM COMPARTIMENTO

Dominar as técnicas de combate a incêndio implica em saber a diferença entre


incêndio em compartimento daqueles que acontecem em lugares abertos. Além disso, num
incêndio estrutural o colapso de edificações altera significativamente o incêndio. No entanto,
precisamos também conhecer um comportamento comum em toda queima, a saber: zonas de
baixa pressão e zona de alta pressão.

Sabe-se que calor é a excitação das moléculas. Quanto mais agitadas as moléculas
maior é o afastamento entre elas. Aumentando o afastamento, aumenta também o volume
dos materiais. Quando um fluido (gasoso ou líquido) é aquecido temos correntes de
convecções que nada mais é do que a subida dos fluidos quentes e a descida dos fluidos mais
frios. Isso gera um movimento contínuo. As zona de alta pressão ocorre porque os gases
aquecidos de um incêndio exercem força ascendente tanto no ar livre como no teto da
edificação que estiver incendiando.
O efeito das Zonas de Alta Pressão é o surgimento de Zonas de Baixa Pressão.
As Zonas de Baixa geralmente são na base do foco do incêndio. Isso faz com que o ar seja
sugado pelas áreas baixas do cômodo alimentando o incêndio de Oxigênio. Por isso temos a
máxima que todo incêndio produz o seu próprio vento como é visto notadamente nos
incêndios em zona rural.

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Além da existência de paredes, tetos e do acúmulo de fumaça, os dois aspectos mais


característicos do incêndio em compartimento são:

- a oferta de oxigênio, e

- o feedback radioativo.

Sobre a oferta de oxigênio devemos considerar que em ambientes abertos sua


concentração tende a se manter em torno 21% da composição do ar. Já nos compartimentos
essa dinâmica se altera pelo fato do seu consumo do incêndio, como, do insuficiente
suprimento de ar vindo com ambiente externo e a ocupação do cômodo pelos produtos da
combustão. Logo é de conhecimento de todos que a concentração de oxigênio em locais
fechados tende a diminuir. Isso é fundamenta para a caracterização das fases do incêndio, o
surgimento de comportamentos extremos do fogo e para o correto procedimento ao abordar
tal ambiente. Isso exige que bombeiros a partir da análise do comportamento da fumaça e
das chamas façam aberturas conforme a tática e as técnicas que domina.

Para falar em feedback radioativo convém definir o que é Capa Térmica e Plano
Neutro. Chamamos de Capa Térmica o acúmulo de fumaça na parte superior do cômodo.
Pelo aquecimento dos vapores e gases que compõem a fumaça a tendência dela é manter-se
próxima ao teto. Geralmente seu limite inferior é a altura das aberturas dos prédios (portas,
janelas, etc.), especialmente se tiverem frestas ou se estiverem abertas. Devemos lembrar
que justamente por substituir parte do ar rico em oxigênio nas elevações que a Capa Térmica
“evita” a combustão rente ao teto.

Já o Plano Neutro é a zona abaixo da Capa Térmica onde há menos fumaça e maior
concentração de O2. As dimensões da Capa Térmica e do Plano Neutro estão associadas a
temperatura dentro do cômodo, a altura, aos espaços das aberturas, a quantidade de ar que
entra no local, a produção de fumaça decorrente da progressão do fogo e do tipo de
combustível.

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Quando a Capa Térmica e o Plano Neutro estão formados, a fumaça que flui do foco
em direção as regiões mais distantes da área já queimada estarão aquecidas. Essa fumaça
quente radia calor para todo o compartimento. Esse aquecimento chamamos de Feedback
Radiativo e ele representa 70% da propagação do calor em cômodos. A distância da fonte
de calor é indiretamente proporcional a quantidade de calor radiado. Ou seja, quanto mais
longe a Capa Térmica estiver dos combustíveis, menor será o aquecimento. Nesse caso,
independente da proximidade das chamas, todos os combustíveis serão aquecidos. Os efeitos
desse aquecimento será a secagem – retirada da umidade dos combustíveis – e a termólise
(pirólise) que é o desprendimento de vapores combustíveis dos móveis, aberturas, piso e
outros materiais orgânicos que compõem os salvados ou sinistrados.

2. FASES DO INCÊNDIO EM COMPARTIMENTO

Para melhor entendermos o Incêndio em Compartimento, dividimos em fases que são


visivelmente notáveis durante o sinistro. Identificar essas fases possibilita o Bombeiro, já na
chegada da ocorrência, perceber como o incêndio se desenvolveu e como irá evoluir. Não é
possível perceber todas as fases num incêndio justamente pela intervenção que realizada.

Contudo, nos simuladores em container, o exercício é conduzido de forma a manter


todas elas para serem observadas, identificadas e conhecidas. A relevância desse
conhecimento reside na forma de abordagem na operação de combate para ser aplicadas as
mais adequadas táticas e técnicas.

As fases do incêndio estão diretamente relacionadas com a produção de calor


conforme o desenvolvimento do incêndio. Tais fases são representadas pelo gráfico abaixo
que relaciona tempo com desprendimento de calor, marcando as etapas que passaremos a
descrever.

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1ª fase – inicial ou incipiente

Todo bombeiro sabe a diferença entre Incêndio e Princípio de Incêndio. O Princípio de


Incêndio é quando o fogo fora do controle está ainda em um foco muito pequeno. A Inicial
começa quando a combustão se torna autossustentável até o ponto das chamas começarem a
subir pela coluna de fumaça. Quando o triângulo do fogo se forma temos a combustão. Isso
não resulta necessariamente em chamas como num cigarro, por exemplo. Havendo
combustão e/ou chamas surge à reação química em cadeia tornando a queima
autossustentável e com isso os quatro elementos do tetraedro do fogo. E quando há reação
química em Cadeia temos o ponto notável de temperatura denominado Combustão.

O calor da combustão gera Secagem e Termólise. Mas na Fase Incipiente apenas os


combustíveis próximos ao foco “termolizam” e desidratam e posteriormente queimam.
Todo combustível orgânico possui em sua composição quantidades de água a depender da
porosidade, composição e umidade do ambiente. O aquecimento dos materiais e da água que
estão presentes faz com que os vapores sejam desprendidos. A secagem explica a fumaça
que tende a cor branca no princípio do incêndio. Essa fumaça não é tão quente, opaca,
inflamável e tóxica o que geralmente permite o uso de aparelhos extintores sem
equipamentos de proteção respiratória. Logo após a secagem teremos a termólise que é a
liberação de vapores combustíveis decorrente da quebra das ligações iônicas dos materiais
por causa do calor. A queima em um incêndio quase sempre é incompleta porque sempre há
sobras de produtos da combustão. No entanto, se a chama não for perturbada por obstáculos
(como o teto ou a coluna de fumaça) a quantidade subprodutos da combustão será pequena.
É muito importante destacar que durante a fase inicial não há limitação do incêndio pelo
oxigênio. A única limitação existente durante a Incipiente é a quantidade de combustível e o

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progresso do fogo, que nessa fase esta diretamente ligada a um conjunto de fatores que é
mostrado no quadro abaixo.

Além do exposto neste quadro, há também o afastamento entre os combustíveis. De


forma que o isolamento do material que está queimando tende a extinguir a combustão.

Bombeiros treinados notarão na Fase Inicial que a Capa Térmica será tendente a
branca e sem turbulência lembrando “nuvens tranquilas”. Como foi dito tal fase se encerra
quando as chamas começam a subir pela coluna de fumaça. E com isso a dinâmica do
incêndio mudará drasticamente porque as chamas serão perturbadas ao tocarem no teto ou
na própria capa térmica. E a partir deste momento teremos a fase de Crescimento ou
Desenvolvimento.

2ª Fase – Crescimento ou Desenvolvimento

De todas as fases que estamos tratando, na segunda fase é quando geralmente equipes
de bombeiros podem aplicar todo seu melhor potencial técnico. Isso porque dificilmente será
possível chegar ao local ainda na fase inicial. Já na terceira fase o incêndio já estará
generalizado e haverá poucos salvados no compartimento atingido.

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Durante o Crescimento do Incêndio será possível salvar ou destruir patrimônio e


riquezas alheias. Destruir porque o uso indiscriminado da água, por mais que leve ao
decaimento da combustão, também será destrutiva. No vídeo abaixo podemos observar um
combate na fase de desenvolvimento.

acesse o link https://youtu.be/EYNK19vRt3g

Essa fase tem como marco inicial a chamas subindo pela coluna de gases e marco
final a generalização do incêndio.

Ao subir pela coluna de vapores, imediatamente após o final da fase anterior, a chama
irá ser perturbada pelo teto ou pela própria fumaça acumulada próximo a ele. Aqueles
carbonos produzidos pela própria combustão que em regra são queimados na ponta da
chama, não serão consumidos devido a perturbação causada pelo obstáculo. Isso porque os
subprodutos da combustão não serão totalmente misturados com o oxigênio presente no ar.
Tal sobra de carbono fará com que a capa térmica comece a ter uma coloração mais escura
pela abundância de carbono.

As informações até aqui tratadas sobre a fase de desenvolvimento nos levaram a


concluir que quanto mais baixo for o pé direito do cômodo maior será a velocidade do
aumento da combustão. E Segundo o Coronel Ferrari do Corpo de Bombeiros Militar do
Espírito Santo um foco no centro do cômodo tende a ter um desenvolvimento mais lento que
um foco contra uma parede. Um foco no canto de um cômodo tende a evoluir mais
rapidamente (Manual do CBMES, Pag 54).

Além da característica construtiva do cômodo atingido outro fator que influenciará


drasticamente a progressão do incêndio nessa fase é o suprimento de ar no cômodo. Se as
portas e janelas estiverem abertas, por exemplo, a tendência do incêndio é acelerar. Por isso
os bombeiros devem dominar técnicas de ventilação e conforme o caso ir fechando aquelas
aberturas que permitem suprimento de Oxigênio. Quanto mais entrada de ar no incêndio
mais oxigênio poderá reagir com os vapores combustíveis e seus derivados aumentando a
taxa de liberação de calor e tornando o incêndio agressivo. Por isso dizemos que o Incêndio
em Compartimento tem como especificidade a limitação pela ventilação e isso começa a se
aplicar na segunda fase.

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Como já foi explicado, acima das chamas há uma zona de sobrepressão que empurra a
fumaça para longe do foco. Logo, observar de onde está vindo a fumaça é um indicador para
onde o esguicho deve ser direcionado. Diferentemente disso, o ar mais fresco e os vapores
que estão rente ao piso irão em direção ao foco, devido o surgimento da Zona de Baixa
Pressão. Mover-se abaixado durante a ocorrência repercute em receber menos calor no EPI.
É nessa fase que a estratificação da fumaça fica mais evidente.

Observar e avaliar o comportamento da Capa Térmica é fundamental nesse momento e


pode salvar o bombeiro. À medida que a capa térmica vai ficando mais aquecida ela ficará
mais turbulenta como a água fervente num recipiente. Se antes ela parecia nuvens serenas
agora ela ficará agitada e instável. Além disso, se antes o limite inferior dela era o topo das
aberturas e frestas, agora à medida que for aumentando a produção de gases e diminuindo a
concentração de ar, ela certamente irá baixar diminuindo o plano neutro.

A capa térmica aquecida proporcionará o aumento do feedback radioativo. Essa


transmissão do calor proporcionará secagem e termólise nos combustíveis mais distantes das
chamas. Os vapores de água e os combustíveis agregam à fumaça dentro do cômodo.
Devemos destacar que fumaça branca indica vapor de água, fumaça preta indica abundância
de carbono e fumaça de cor caqui abundância de vapores combustíveis decorrente da
decomposição térmica (termólise/pirólise). Os combustíveis distantes do fogo num primeiro
momento não entram em combustão, mas liberam vapores combustíveis que por estarem
quentes sobem até a capa térmica. A capa fica, então, mais inflamável e perigosa.

Outro aspecto de suma relevância durante o crescimento do incêndio é o surgimento


de comportamentos extremos do fogo pela inflamabilidade da fumaça. A doutrina classifica
esses comportamentos em 3 gêneros que são a Ignição da Fumaça, o Flashover e o
Backdraft que serão veremos adiante. Conforme o incêndio se desenvolve e a fumaça
começa a aquecer e ficar mais inflamável surge os fenômenos de ignição da fumaça, ainda
nesta fase.

No interior do compartimento poderemos ver Ghost Flame, Rollover e Flashover e no


exterior Flame Over e Flash Fire. Geralmente o surgimento dos fenômenos internos
ocorrem na seguinte sequência de progressão: Ghost Flames, Rollovers e Flashover. De
forma que os treinamentos preparam combatentes a estabilizar o ambiente de forma a evitar
essa progressão e também decidir quando progredir, recuar ou se proteger.

A generalização do incêndio em compartimento dará início à próxima fase. Mas


generalização do incêndio não deve ser confundida com perda total da edificação. É possível
que tal generalização se restrinja a um dos compartimentos ou alguns compartimentos de
uma mesma edificação. Logo, progredir por debaixo da capa térmica pode acontecer desde
muito longe do cômodo incendiado. Isso exige que bombeiros estabilizem o ambiente a fim
de chegar próximo ao fogo. A generalização na maioria dos casos acontece pelo Flashover.
Aqui convém dizer que um iminente Flashover provavelmente será precedido por Rollovers
e por abaixamento súbito da capa térmica como demonstrado no vídeo abaixo.

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Aperte “Ctrl” e clique aqui ou acessse o link https://youtu.be/fsaLCdC3iWw

É necessário ressaltar a finalização dessa fase tem diversas possibilidades. Uma


delas é o início da fase de decaimento em decorrência da subventilação. Se durante o
desenvolvimento do incêndio e antes da sua generalização, o teor de O² reduzir a valores
inferiores a 14% de concentração, inicia-se o que chamamos de fase de decaimento. Nesse
caso não haverá a fase de desenvolvimento completo porque não houve a generalização.

Por outro lado, se forem realizadas aberturas de um cômodo, sem a correta avaliação,
poderá ocorrer o fornecimento de Oxigênio necessário para ocorrência do Flashover
induzido pela ventilação. Torna-se imprescindível então, observar a coloração da
fumaça. Fumaça preta indica presença de chama pela produção de calor. Já fumaça de cor
caqui indica subventilação pela baixa concentração de Oxigênio. Este caso podemos dizer
que é o mais perigoso e demanda maiores cuidados.

Há também a possibilidade de generalização do incêndio sem a ocorrência do


Flashover. Nesta situação a área queimada propaga-se atingindo todo o cômodo de forma
progressiva, dos combustíveis mais próximos para os mais distantes do foco. Neste caso não
há combustão simultânea de tudo, mas as chamas vão “caminhando” pelo compartimento
como acontece nos incêndios florestais.

3ª Fase – Desenvolvimento Completo

A tendência dos incêndios em compartimento é que todos combustíveis sejam


consumidos durante o sinistro. Mesmo quando isso acontece há necessidade de uma
abordagem técnica a fim de salvar a estrutura e o mobiliário dos demais cômodos.

Quando essa fase se estabelece haverá a maior taxa de liberação de calor e produção
de fumaça, que são perigosas e destrutivas. Também a ventilação poderá contribuir ou
prejudicar as operações de combate.

Se bombeiros estiverem dentro da edificação, mas em outros compartimentos não


atingidos, receberão muito calor pelo Feedback radiativo da capa térmica. Assim, será

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necessário estabilizar o ambiente sempre cuidando para não gerar vapor excessivo. Pois, o
vapor além de terminar de “cozinhar” possíveis vítimas irá tornar o serviço mais
desconfortável e prejudicar a visibilidade.

É no desenvolvimento completo que a capa térmica estará próxima ao chão na área em


chamas. Além da máxima liberação de calor é nesse momento que teremos maior pressão
dentro do cômodo devido a dilatação térmica e a intensa produção de gases. Razão essa, pela
qual a fumaça será liberada por pulsos de dentro do cômodo como em uma panela de
pressão. Consequentemente o ar será aspirado para dentro do ambiente em forma de pulsos à
medida que a pressão é aliviada.

Já no ambiente externo é comum a fumaça queimar apresentando o fenômeno do


Flameover. Aquela fumaça, que não queima, sairá do cômodo com movimentos turbulentos
indicando a alta temperatura dos produtos da combustão e do compartimento. Nessa fase a
fumaça poderá ser de cor preta, indicando que há chamas no interior. Bem como de cor preta
com misturas na cor caqui, proveniente da pirólise. A pirólise, mencionada anteriormente,
ocorre nos combustíveis na periferia da área queimada e em especial nos demais
compartimentos.

Durante esta fase do incêndio a combustão estará limitada ou pelo combustível, que
tende a se consumir totalmente, ou pela ventilação dependendo das condições da estrutura.
Razão pela qual o domínio das técnicas de ventilação tática é relevante também durante o
desenvolvimento completo.

Enquanto a quantidade de liberação de calor estiver no ápice conforme demonstrada


no gráfico no início da página 6, a última fase ainda não se estabeleceu. Assim como nas
demais fases a velocidade da combustão irá variar considerando a combinação dos três
elementos do triangulo do fogo, a posição dos combustíveis, a quantidade de comburente
vindo do exterior etc.

Segundo o Tenente Coronel Ferrari a temperatura média dos gases em um cômodo na


fase de desenvolvimento completo fica em torno de 700º a 1500º C dependendo das
características dos combustíveis presentes e da configuração do cômodo (Manual do
CBMES, Pag 61). Considerando que os EPI’s de combate a incêndio são projetados para
resistirem a 240°C, nenhum bombeiro deve estar num ambiente de incêndio totalmente
desenvolvido. Razão pela qual convém conhecer os indicadores de um iminente Flashover
que será tratado a seguir.

4ª Fase – Decaimento

Chamamos de fase de decaimento quando um incêndio começa a diminuir a


quantidade de liberação de calor. Mas é necessário deixar claro que tal decaimento não
ocorre necessariamente após o seu desenvolvimento completo. Ou seja, mesmo durante a

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fase incipiente, de crescimento ou desenvolvimento completo o incêndio pode começar a


decair. Isso ocorre quando um dos elementos do tetraedro do fogo é total ou parcialmente
retirado da área de queima. Não podemos confundir decaimento com extinção. Isso significa
que mesmo que a combustão tenha diminuído ela pode voltar a crescer ou se desenvolver
novamente dependendo das alterações realizadas no ambiente.

a) Decaimento pela diminuição de combustíveis – Logicamente estamos tratando do


decaimento pelo exaurimento dos combustíveis do incêndio. Nesse caso o incêndio tende a
se extinguir e a progressão limitar-se pelo material queimado. Nem por isso o evento deixa
de ser perigoso porque a depender do isolamento do compartimento o ambiente pode
apresentar temperaturas extremas. Uma das características dessa condição é a diminuição
das chamas e/ou a presença somente de brasas. Mas o cuidado deve se concentrar nos gases
ainda quentes, especialmente nas elevações da edificação, que se indevidamente ventilados
podem entrar em ignição ou mesmo explodir. O mais comum é que o decaimento pelo
exaurimento dos combustíveis ocorra após a fase de desenvolvimento completo, mas pode
acontecer pela simples retirada do combustível a qualquer tempo.
b) Decaimento pela quebra da reação química em cadeia – Se decaimento é a
diminuição da liberação de calor do incêndio, qualquer intervenção que ocasione isso pode
ser chamada de decaimento. A quebra da reação química em cadeia só pode extinguir o
incêndio por intervenção artificial. Alguns sistemas ativos de extinção de incêndios, visando
proteger o patrimônio presentes nos compartimentos, agem liberando agentes químicos que
interferem na combustão sem abafar, resfriar ou retirar o combustível. Por terem maior
afinidade com o comburente, com os vapores provenientes da termólise ou com os
subprodutos da combustão, impedem que a combustão se concretize.
c) Decaimento pela retirada de calor – Assim como a quebra da reação química em
cadeia o resfriamento decorre de uma extinção artificial. É isso que as equipes de bombeiros
fazem ao jogarem água na fumaça ou no combustível. A outra possibilidade é a ativação de
sprinklers previamente instalados no compartimento. Geralmente esse acionamento ocorre
nas fases incipientes ou de desenvolvimento. Pois se fosse na de desenvolvimento completo
não se justificaria o investimento em sistemas como esse.
d) Decaimento pela diminuição de oferta de Oxigênio ou INCUBAÇÃO – A
incubação também pode acontecer antes ou depois do desenvolvimento completo. As
condições de um incêndio em compartimento incubado são especialmente perigosas devido
ao comportamento extremo do fogo chamado Backdraft. A tabela abaixo mostra os efeitos
da subventilação nos incêndios.

Tabela do Manual do CBMES

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Podemos concluir que só é possível extinguir a combustão por abafamento se


levarmos a concentração de Oxigênio no ambiente a uma proporção menor do que 7%.

Enquanto a concentração de O² estiver entre 21 e 14% teremos queima viva


cuja característica é a presença de chamas. Abaixo dos 14% teremos queima lenta e ainda
que não tenha chamas a combustão se mantém com uma intensidade menor. Ou seja,
presença somente de brasas. Se há combustão haverá produção de calor, mesmo que em
menor quantidade do que na fase de desenvolvimento completo. Para a temperatura
aumentar, se manter ou diminuir dependerá muito do isolamento térmico do compartimento.

Todavia, devemos concluir que o consumo dos vapores inflamáveis será menor, o que
torna a capa térmica mais combustível. Devido ao menor consumo de vapores combustíveis
e a manutenção das altas temperaturas é que decorre a maior possibilidade de ignição ou
explosão da capa térmica durante o decaimento

Se a concentração de Oxigênio for menor do que 7%, ele não sustenta a


combustão. Mas isso não implica necessariamente rápida redução da temperatura. O calor
residual pode estar ainda produzindo termólise o que mantém o ambiente com alto risco de
explosividade. A consequência disso é que mesmo um incêndio incubado sem presença de
combustão ainda não está controlado e requer procedimentos técnicos de ventilação e/ou
resfriamento de forma a neutralizar os riscos presentes. No vídeo a seguir é possível notar
pelo exterior da edificação os indicadores de um incêndio incubado.

3. COMPORTAMENTOS EXTREMOS DO FOGO

Se distinguir cada fase do incêndio em compartimento nos torna mais técnicos e


atualizados, não é diferente em relação a cada comportamento extremo do fogo. Isso porque
cada ambiente ou fenômeno tem uma forma peculiar de abordagem. O estudo dos
comportamentos extremos do fogo surge juntamente com o próprio CFBT. Na verdade,
foram tais fenômenos que motivaram as autoridades suecas a entender o que estava matando
bombeiros.

Depois da descoberta de que a fumaça também é combustível foi possível classificar


cada um desses comportamentos. Hoje os comportamentos extremos do fogo são
classificados em três gêneros, a saber: A ignição da Fumaça, a Generalização do Incêndio e
a Explosão da Fumaça. Será justamente por essa classificação que vamos estudar cada um
deles e seus subgrupos.

Usaremos os termos em inglês porque estão consagrados e para facilitar o estudo de


materiais produzidos no mundo todo. E ainda chamamos a atenção ao gênero ignição da
fumaça pela existência de vários tipos. Abaixo temos uma tabela do Manual de Incêndio do

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CBMDF que diferencia e resume cada um desses grupos e sua ocorrência nos incêndios
urbanos.

Manual básico de combate à incêndio CBMDF – Módulo I

Tentaremos aqui, além de identificar e explicar cada um deles, enumerar cada um dos
indicadores de condições favoráveis a sua ocorrência para subsidiar os operadores de
combate a incêndio com informações pertinentes a sua atuação. Algumas condições são
comuns a qualquer comportamento, vejamos:

 Podem acontecer em edificações com qualquer característica construtiva (concreto,


madeira, metal ou mistas);
 Não precisam de muito tempo de queima e podem ocasionar em incêndio de
propagação rápida;
 São eventos que ocorrem em ambientes compartimentados com limitação de
paredes, tetos, pavimentos etc. Para ocorrerem precisam de limitadores do escoamento da
fumaça porque dependem desse acúmulo.

3.1 Ignição da fumaça e suas manifestações

Como já explicado anteriormente o carbono e os vapores presentes na fumaça a


tornam inflamável e até explosiva. O gênero ignição da fumaça ocorre quando tais vapores
combustíveis entram em contato com o oxigênio ausente no ambiente ou com uma fonte de
calor que da origem a combustão na fumaça. Passamos então a tratar cada um desses
fenômenos.

a) Ghost Flames (tradução literal – chamas fantasmas) – São pequenos, esporádicos e


repentinos clarões localizados, dentro da capa térmica. Isso justifica sua comparação com
fantasmas. Podem ser comparados também com os raios que acontecem dentro das nuvens
em uma tempestade. A capa térmica não queima por causa da ausência de oxigênio. No

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entanto quando ela esta aquecida sua turbulência proporciona a entrada de ar no seu interior.
A mistura combustível/comburente com o calor proporciona pequenas queimas no interior
da fumaça.

Indicadores:
 ocorrem em fumaças altamente inflamáveis e com elevadas temperaturas no
interior do compartimento;
 antecedem a ocorrência de Rollover e Flashover;
 a temperatura estará em torno de 600° C.

Aperte Ctrl e clique aqui ou acesse https://youtu.be/jNxhPkeAli0?t=31s

b) Rollover (tradução literal: rolamento) – Tem esse nome porque as chamas “rolam” na
capa térmica a partir do foco em direção a áreas mais afastadas. Abaixo dessas chamas
haverá grande temperatura pelo aumento do feedback radiativo e deve ser evitado a presença
de bombeiros.
Indicadores:

Ocorrem em fumaças altamente inflamáveis e com elevadas temperaturas no interior do


compartimento;
 São precedidos de GhostFlames;
 São evidentes indicadores da eminência de Flashover;
 Pode mostrar a localização do foco.

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c) Flame Over (tradução literal: chamas de ponta) – São popularmente chamadas de línguas
de fogo devido sua aparição nos marcos de janelas ou portas. Diferentemente do Backdraft,
nesse caso é a fumaça que vai em direção ao oxigênio que lhe falta. Ocorrem porque a
fumaça já em temperatura de ignição entra em contato com o comburente no exterior. O
Flame Over ocorre fora do compartimento sinistrado, mas não necessariamente no exterior
da edificação. Por decorrer justamente da subventilação no compartimento, o Flame Over
não indica que há necessariamente chama no interior. Ele pode acontecer em aberturas
expostas ou quando há rápidas aberturas nas janelas ou portas.

Indicadores: Ocorrem em fumaças altamente inflamáveis e com elevadas temperaturas no


exterior do compartimento sinistrado;
 decorrem de fumaça com temperatura acima ou no ponto de ignição;
 podem preceder Blackdraft ou Flashover;
 não permitem supor a existência ou não de chama no interior da edificação;
 são precedidos de fumaça quentes e turbulenta;

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d) Flashfire (tradução literal: fogo rápido). Esse fogo rápido acontece quando o combustível
da fumaça altamente inflamável está adequadamente misturado ao comburente. No entanto
não está aquecida suficientemente para entrar em combustão. Logo ela precisa apenas de
uma fonte de calor. Esse fenômeno acontece comumente nos cômodos adjacentes aos
compartimentos sinistrados. Quando o incêndio entra em decaimento por subventilação há
condições para queima lenta. Tal queima lenta além de aquecer os combustíveis e produzir
termólise consome poucos vapores oriundos da decomposição térmica. A produção de vapor
aumenta a pressão e faz com que esses vapores sejam expulsos para os compartimentos onde
ainda não há combustão nem temperatura elevada. Essa fumaça, geralmente na cor caqui, se
acumula nas partes superiores da edificação, especialmente nos pavimentos superiores. Mas
pode acontecer em edificações de apenas um pavimento ou no mesmo pavimento do local
incendiado. Logo, para formar o triangulo do fogo só é necessária uma fonte de calor que
pode vir da abertura inadequada do compartimento de origem ou do acendimento de uma
lâmpada na peça da edificação, por exemplo. E importante destacar que o Flashfire pode
atingir bens que até então eram salvados e não sinistrados.

Indicadores
 Ocorrem em fumaças altamente inflamáveis sem elevadas temperaturas no exterior do
compartimento;
 Atingem geralmente os salvados;
 Indicam que no compartimento de origem pode haver queima lenta;
 A fumaça não está no ponto notável de temperatura chamado de ignição.

Aperte Ctrl e Clique aqui ou acesse https://youtu.be/2f5TTDd0klo

Ações incorretas em incêndios podem agravar e destruir mais do que já foi atingido.
Para finalizar a sessão sobre ignição da fumaça transcrevemos parte do Manual Operacional
de Bombeiro do CBMGO como segue:

“A ignição da fumaça decorre principalmente de:


 Colapso de estruturas da edificação sinistrada, permitindo com que a fumaça antes
confinada no ambiente entre em contato com uma fonte de calor ou com o comburente;

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 Curto circuito da rede elétrica ou faiscamento de equipamento motomecanizados


presentes no ambiente incendiado;
 Uso incorreto de ventilação por pressão positiva, que poderá direcionar a fumaça
para um ambiente onde haja algum tipo de agente ígneo;
 Uso de jatos de água de forma indiscriminada e incorreta, tendo em vista que o
deslocamento de ar gerado pela utilização desses jatos podem empurrar a fumaça para
ambientes que contenham fontes de calor;
 Ação de rescaldo mal conduzida, tendo em vista que o rescaldo pode deixar a
mostra materiais incandescentes com potencial para incendiar a fumaça.”

e) Generalização do incêndio por Flashover

Entendemos como Flashover, o fenômeno no qual todos os combustíveis presentes no


compartimento entram em ignição simultaneamente. Inclusive aqueles que estão longe do
foco. Como já foi dito, esse comportamento extremo do fogo só acontece porque as paredes
e tetos da edificação proporcionam o feedback radiativo. No entanto, a característica da
edificação não deve causar subventilação.
A alta pressão próxima ao foco faz com que os vapores aquecidos se distanciem das
chamas tornando a capa térmica aquecida. A dinâmica que afasta os vapores mais quente da
chama permite que toda a capa térmica se aqueça. E é justamente a capa térmica que radia
calor aos materiais combustíveis que estão abaixo dela. Tais materiais sofrem secagem e
posteriormente termólise. Mas seu afastamento do foco não proporciona sua combustão num
primeiro momento. Os vapores da decomposição térmica compõem a capa térmica que vai
se tornando cada vez mais combustível. Enquanto a fumaça vai se tornando mais
combustível e quente as condições para a generalização do incêndio se estabelecem.
O Flashover ocorre quando todos os combustíveis atingem os pontos de ignição ao
mesmo tempo.

Indicadores:
 Fumaça densa, escura e quente;
 Desprendimento de vapores dos materiais orgânicos presentes do compartimento.
 Capa térmica turbulenta;
 Presença de chamas no interior da edificação;
 Ghost flame;
 Flameover;
 Rollover;
 Súbito abaixamento da Capa Térmica.

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f) Explosão da fumaça – backdraft

Como qualquer outra explosão o perigo do Backdraft depende do tamanho da sua


onda de choque. Ainda que seja um fenômeno raro, por depender de condições muito ideais,
deve ser conhecido por bombeiros. Os principais aspectos a serem conhecidos são seus
indicadores e as técnicas de abordagem.
O Backdraft depende do decaimento do incêndio por subventilação. A faixa de
concentração de oxigênio para a formação das condições explosivas fica em torno de 14 a
7% no ar. Mas mesmo abaixo dos 7% tais condições podem se manter por algum tempo. Já a
explosão ocorre quando o ambiente é aberto de forma a permitir o suprimento suficiente de
ar rico em oxigênio por um tempo necessário.
Antes de descrever o evento vamos abordar o que acontece antes das aberturas que
permitem a ventilação inadequada. Ao chegar na faixa de 14% de oxigênio a combustão se
mantém com uma velocidade reduzida. A queima lenta tem como característica principal a
ausência de chamas. Além disso o consumo dos subprodutos da combustão também é
reduzido pela deficiência de comburente. Por se manter, a queima lenta não interrompe o
desprendimento de calor e a decomposição térmica continua. Por isso os vapores
combustíveis continuam a aumentar a explosividade da capa térmica.
Haverá, então no ambiente, uma sobrepressão pela produção e expansão térmica
dos gases, o que ocasiona pulsos de entrada e de saída nas frestas do compartimento. Isso
porque quando a pressão é aumentada a fumaça é expulsa das frestas superiores do
compartimento até que seja aliviada. Em consequência disto o ar exterior é sugado para
dentro da mesma forma, por pulsos.
Os vapores produzidos no interior da área sinistrada podem condensar nas vidraças
do compartimento. Isso causa um visível escorrimento nos vidros.
A coloração da fumaça tende a ser clara ou de cor caqui. Isso pela abundancia de
monóxido de carbono e por subprodutos da combustão.

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O som é uma onda mecânica, logo, depende de matéria para se propagar. Como
dentro do compartimento há, no caso em questão, sobrepressão a tendência é que o som
vindo de dentro do compartimento seja abafado. A isso chamamos de efeito algodão.
Quando o compartimento é aberto a pressão é aliviada. Ao expulsar a fumaça,
forma-se uma zona de baixa pressão rente ao piso que atrai o ar atmosférico para a base do
foco. Esse ar proporciona que as chamas cresçam e sejam a fonte de ignição para a explosão
da fumaça a partir do foco.

Indicadores:
 Ambiente totalmente fechado;
 Ausência de chamas no interior da edificação;
 Janelas, portas e maçanetas aquecidas;
 Oleosidade e escorrimento nas vidraças;
 Fumaça preta, caqui e turbulenta pulsante nas frestas superiores;
 Entradas de ar pulsante nas frestas inferiores;
 Presença de Flameover.
 Efeito algodão.

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Caro aluno

Com base nos fundamentos estudados na lição anterior, passaremos a analisar como
o Incêndio se desenvolve em um ambiente compartimentado, suas fases e os fenômenos
extremos causados pela ignição da fumaça. Ao final da lição você compreenderá o motivo
pelo qual a fumaça deve ser tratada como combustível em um incêndio, e não apenas o foco,
e entender os riscos caso ela não seja controlada incêndio estrutural.
Bom estudo!

Objetivos Específicos
Ao final da lição o aluno deverá:
 Conhecer as vantagens e desvantagens do uso da água;
 Identificar as propriedades físico-químico da água;
 Entender a micropulverização a água;
 Conceituar pressão nominal, pressão residual e perda de carga;
 Calcular a PC, a fim de saber quanto de PN irá utilizar na ocorrência, considerando a
perda de carga;
 Dimensionar o número de mangueiras em um evento;
 Entender o que é o Golpe de Aríete;
 Compreender a importância da linha de resfriamento.

Introdução

A água atua na combustão principalmente por resfriamento, sendo a sua elevada


eficiência de arrefecimento resultante da grande capacidade de absorver calor.
A água é mais eficaz quando usada sob a forma de chuveiro, dado que as pequenas
gotas de água vaporizam mais facilmente que uma massa de líquido e possuem área total de
contato maior, absorvendo mais rapidamente o calor da combustão.
É o agente extintor "universal". A sua abundância e as suas características de
emprego, sob diversas formas, possibilitam a sua aplicação em diversas classes de incêndio.

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Como agente extintor a água age principalmente por resfriamento e por


abafamento, podendo paralelamente a este processo agir por emulsificação e por diluição,
segundo a maneira como é empregada.
A água só perde para o hidrogênio e o hélio em calor específico e, dentre os
líquidos à temperatura ambiente, é o que apresenta maior calor latente de vaporização. O
calor específico da água é da ordem de 1 cal/g ºC, ou seja, para elevar em 1ºC a temperatura
de 1 grama de água é necessário 1 caloria. Quer dizer que cada grama de água lançada em
um incêndio absorverá 1 caloria para cada grau centígrado de temperatura que elevar.
Uma massa de 1 Kg de água lançado em um incêndio, considerando a temperatura
inicial de 20ºC, terá o volume inicial de 1 litro. Esses 1000 gramas de água absorverão calor
no estado líquido até atingir a temperatura de 100ºC, quando então passará para o estado de
vapor. 1000g x 80ºC (de 20 para 100ºC) = 80.000 cal ou 80 Kcal.
Além do calor específico da água ser alto, o calor latente de vaporização é
elevadíssimo. Para transformar 1g de água líquida a 100ºC em 1g de vapor a 100ºC, são
necessárias 540cal.
Voltando ao exemplo anterior, os 1000g de água absorveriam para mudar de estado
físico 540.000cal.
Vê-se, assim, que a água absorve quase 7 vezes mais calor para mudar de estado
físico do que para aquecer de 20º para 100º C.
Conclui-se que um combate usando água será tanto mais eficiente quanto mais
conseguir evaporar a água. A água escorrida deixou de absorver os 540cal/g que absorveria
ao ferver e parte da energia que absorveria para alcançar os 100ºC.
Por muitos anos, a água ter sido aplicada no combate a incêndio sob a forma de jato
pleno, hoje sabemos que a água apresenta um resultado melhor quando aplicada de modo
pulverizado, pois absorve calor numa velocidade muito maior, diminuindo
consideravelmente a temperatura do incêndio e, consequentemente, extinguindo-o. Quando
fragmentamos as gotículas de água, aumentamos a superfície de contato, acelerando a
absorção de energia.
O efeito de abafamento é obtido em decorrência da água, quando transformada de
líquido para vapor, ter o seu volume, aumentado cerca de 1700 vezes (esse volume duplica a
450 oC). Este grande volume de vapor, desloca, ao se formar, igual volume de ar que

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envolve o fogo em suas proximidades, portanto reduz o volume de ar (oxigênio) necessário


ao sustento da combustão. Além disso, expulsa a fumaça para fora do ambiente.
O efeito de emulsificação é obtido por meio de jato chuveiro ou neblinado de alta
velocidade. Dependendo do combustível, somente se consegue este efeito por meio da
adição de produtos à agua (aditivos).
Pode-se obter, por este método, a extinção de incêndios em líquidos inflamáveis
viscosos, pois o efeito de resfriamento que a água proporcionará na superfície de tais
líquidos, impedirá a liberação de seus vapores inflamáveis.
Normalmente na emulsificação, gotas de líquidos inflamáveis ficam envolvidas
individualmente por gotas de água, dando no caso dos óleos, aspecto leitoso; com alguns
líquidos viscosos a emulsificação apresenta-se na forma de uma espuma que retarda a
liberação dos vapores inflamáveis.
O efeito de diluição é obtido quando usamos água no combate a combustíveis nela
solúveis, tomando o cuidado para não derramar o combustível do seu reservatório antes da
diluição adequada do mesmo, o que provocaria uma propagação do incêndio.
Apesar da grande variedade de agentes extintores, os mais utilizados pelos
bombeiros são a água e a espuma. Pelo menos, salvo as viaturas especializadas para combate
a incêndio em aeródromos, que possuem grandes baterias de PQS, as viaturas regulares de
combate a incêndio permitem o combate com água do tanque e espuma (bombonas de LGE).
Em virtude disso, dedicamos neste capítulo, uma atenção especial a esses agentes
extintores aprofundando um pouco o estudo acerca do seu uso nas operações de combate a
incêndio.

1. PROPRIEDADES EXTINTORAS DA ÁGUA

A água é capaz de absorver grandes quantidades de calor e quanto maior a sua


fragmentação mais rápida é a absorção de calor. Ela possui elevado calor específico (perde
apenas para o Hidrogênio e o Hélio) e tem o mais elevado calor latente de vaporização
dentre todos os líquidos à temperatura ambiente.
A transformação da água em vapor é outro fator que influencia na extinção de
incêndios. Seu volume aumenta 1.700 vezes, na passagem do estado líquido para o gasoso.

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Este grande volume de vapor d’água desloca um volume igual de ar ao redor do fogo,
reduzindo, deste modo, a quantidade de oxigênio disponível para sustentar a combustão.
Para um melhor entendimento, vamos imaginar um esguicho descarregando 300
lpm (litros por minuto) de água, em um local com temperatura maior que 100 ºC. A essa
temperatura, a água transformar-se em vapor. Durante um minuto de operação, 300 litros de
água serão vaporizados, expandindo-se para cerca de 510.000 litros (300 x 1.700) de vapor.
Esse vapor é suficiente para ocupar um compartimento medindo 17m de comprimento por
10m de largura e 3m de altura.
Em atmosferas extremamente aquecidas, o vapor se expande em volumes ainda
maiores. Essa expansão é rápida, e se o local estiver tomado por fumaça e gases, o vapor, ali
gerado, expulsará esses gases. O correto entendimento e aproveitamento desse potencial da
água são indispensáveis no combate a incêndio de qualidade.
Portanto, pode-se afirmar que a utilização da água no Combate a Incêndio ocorre
pelas seguintes vantagens: É abundante no ambiente, possui baixo valor econômico, é
altamente expansível quando em estado de vapor e é um bom agente extintor (alta
capacidade de absorção de calor e alto poder de expansão).
No entanto, possui características desfavoráveis ao combate a incêndio: alta tensão
superficial, baixa viscosidade e bom condutor de corrente elétrica.

2. ELEMENTOS QUE INTERFEREM NA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NO


COMBATE A INCÊNDIO

A aplicação de água por uma linha de mangueira pode ser muito diversificada. A
forma e eficiência com que a água é lançada varia conforme vários fatores: Pressão, vasão,
fluxo de água e jato.

2.1 Pressão

Pressão é a ação de uma força sobre uma área. Em termos práticos, isto é, no
serviço de bombeiros, a pressão é a força que se aplica na água para esta fluir através de
mangueiras, tubulações e esguichos, de uma extremidade a outra. É importante notar que o

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fluxo em si não caracteriza a pressão, pois se a outra extremidade do tubo estiver fechada
por uma tampa, a água estará “empurrando” a tampa, apesar de não estar fluindo.
Quanto maior a pressão imprimida pela bomba, maior pode ser a velocidade com que
flui a água ao deixar o esguicho. Em consequência disso, em um esguicho com a regulagem
mantida, a pura variação da pressão acarretará mudanças no jato como alcance, dispersão,
fragmentação, etc.

a) Pressão dinâmica - é a pressão de descarga, medida na expedição, enquanto a água está


fluindo.

b) Pressão estática - é a pressão sobre um líquido que não está fluindo, por exemplo, uma
mangueira com esguicho fechado, sendo pressurizada por uma bomba. A ação da gravidade
pode, também, produzir pressão estática. Por exemplo, no fundo de um tanque haverá
pressão, resultante do peso da água sobre a área do fundo do tanque.

c) Perda de carga - A água sob pressão tende a se distribuir em todas as direções, como
quando se enche uma bexiga de borracha com ar. Contudo, as paredes internas de
mangueiras, tubulações, esguichos, etc. impedem a expansão da água em todas as direções,
conduzindo-a num único sentido. Ao evitar a expansão da água, direcionando-a, as paredes
absorvem parte da força aplicada na água, “roubando” energia. Isto explica por que a força
aplicada diminui de intensidade à medida que a água vai caminhando pelas tubulações. A
isto chamamos perda de carga.

A força da gravidade é um outro fator que acarreta perda de carga. Quando a água é
recalcada de um nível inferior para um nível superior, a força da gravidade “puxa” a água

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para baixo, o que diminui a pressão. A força da gravidade também poderá ser utilizada no
aumento da pressão, ao se fazer a água fluir de um nível superior para um nível inferior.
Se considerarmos o pé-direito11 de um pavimento medindo 3 metros e
arredondando a soma da altura de 3 pavimentos para 10m (o metro a mais será contado para
que seja considerada a perda de carga por atrito na tubulação), então temos que em 3
pavimentos perde-se, por gravidade 10 m.c.a. o que corresponde a, aproximadamente,
1Kgf/cm2 ou 15 Lb/pol2 (PSI – Pound Square Inch).
Devido aos arredondamentos desfavoráveis que consideram a perda por atrito, se
dividirmos por 3, temos que a perda de carga por gravidade pode ser considerada em termos
práticos da seguinte forma:
1 pavimento = perda de 0,3 kgf/cm2 ou 5 Lb/pol2.
Segundo dados dos fabricantes de mangueira, considerando uma vazão de 30 galões
por minuto, a cada 15m de mangueira de 38mm, perde-se 2,25 PSI (ou 0,15 Kgf/cm2). Para
as mangueiras de 63mm a perda é de 0,225 PSI (0,015 Kgf/cm2)

d) Pressão residual - conhecida como “pressão no esguicho”, é a pressão da bomba de


incêndio menos a perda de carga com a variação de altura.

e) Golpe de aríete - quando o fluxo de água, através de uma tubulação ou mangueira, é


interrompido de modo súbito, surge uma força resultante que é chamada “golpe de aríete”. A
súbita interrupção do fluxo determina a mudança de sentido da pressão (da bomba ao
esguicho, para do esguicho à bomba), sendo esta instantaneamente multiplicada. Esse
excesso de pressão causa danos aos equipamentos hidráulicos e às bombas de incêndio.
Os esguichos, hidrantes, válvulas e estranguladores de mangueira devem ser
fechados lentamente, de forma a prevenir e evitar o golpe de aríete. Há técnicas qe permitem
o fechamento brusco do fluxo de água quando se trabalha com pressões limitadas e baixa
vazão, mas são exceção.

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f) Efeito Bernoulli
Para entender o funcionamento da aplicação da espuma e da ventilação hidráulica
(tópicos que serão vistos adiante) é necessário que se entenda o efeito Bernoulli. O efeito
Bernoulli ocorre na movimentação dos fluídos, por isso, aplica-se à água e também ao ar,
como aos demais fluídos.
O princípio de Bernoulli indica que um fluído, ao passar por um estreitamento,
como o de um tubo Venturi, ganha velocidade, energia cinética, às custas da pressão do
fluído. É o que se pode ver na figura ao lado, com um fluxo de ar (flow) fazendo com que a
água (no tubo estreito inferior) penda para o lado esquerdo devido à diferença de pressão do
fluído nas duas partes do tubo maior.
Esse princípio tem vasta aplicação na atividade de bombeiros. Como visto
anteriormente, ele explica e permite o funcionamento do aparelho entrelinhas e do esguicho
produtor de espuma. Além disso, verificamos o princípio também no emprego das variadas
técnicas de manejo do esguicho.

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2.2 Vazão:
Quanto maior a vazão, maior a quantidade de água que flui, o que é óbvio. Menos óbvio é
que a vazão interfere na fragmentação do jato e, principalmente, é o fator que mais influi no
“recuo” da mangueira. Quanto maior a vazão, maior a força que o jato d’água faz
empurrando a mangueira para trás e maior também será o golpe de aríete provocado pela
interrupção brusca no fluxo de água.

2.3 Regulagem do jato:


A regulagem de jato possibilitada pelo esguicho permite uma variação no jato, afetando
principalmente o seu formato, além disso, a fragmentação e a velocidade da água (conforme
já visto).

2.4 Regulagem do Fluxo de água:


A abertura do esguicho interfere no jato. A quantidade de água lançada e, até certo
ponto, a velocidade da água, são grandemente influenciadas pelo manejo do mecanismo de
abertura.

2.5 Velocidade:
A velocidade com que a água sai interfere no formato, na fragmentação e no alcance
do jato d’água. Interfere também no recuo, no entanto, menos que a vazão. Ela é diretamente
influenciada pela pressão imprimida pela bomba, mas pode ser alterada por outros meios
como fechamento parcial do esguicho e a posição do anteparo do esguicho.

Combinando as regulagens possíveis, temos várias técnicas de combate a incêndio


baseadas no manejo do esguicho e na aplicação de água. No entanto, não importa a técnica
utilizada, não podemos deixar de lembrar o seguinte:

a) Qualquer jato de água sobre um mesmo ponto por mais de 3 segundos é ineficiente. Se
nesse tempo o jato não for capaz de sobrepujar as chamas (taxa de absorção de calor < taxa
de liberação de calor) é sinal que é necessário aumentar a capacidade de resfriamento pelo
aumento da quantidade de água (maior vazão ou mais linhas) ou pela otimização de seu
emprego (maior fragmentação).

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b) Excesso de vapor de água é prejudicial ao combate, pois:


- Perturba o balanço térmico trazendo aos níveis mais baixos o excesso de calor dos
níveis superiores
- Com a descida do plano neutro, perde-se visibilidade;
- O vapor penetra na capa de aproximação, queimando os bombeiros;
- Água que escorre é água desperdiçada, pois ela absorve muito mais calor para evaporar
e na forma de vapor, do que para aquecer no estado líquido.

Fonte: CBMES / Manual Técnico de combate a incêndio Urbano - Cap. 7

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Caro aluno

Nas lições anteriores foram estudados os fundamentos de como surge e se


desenvolve a reação química chamada de combustão, e vimos também que quando essa
reação foge do controle tem-se o incêndio. A partir daí podemos analisar o comportamento
do incêndio tanto em ambiente aberto quanto em locais compartimentados, em como os
riscos existentes quando nos deparamos com um incêndio em local limitado por tetos e
paredes, onde há a concentração de fumaça e limitação de comburente. Diante da
constatação de que a fumaça é combustível e que deve ser tratada como tal, foi estudado na
lição anterior que esta água deve ser aplicada de forma adequada para ter-se maior eficiência
no combate a incêndio, pois água escorrida é água perdida, e, portanto devemos micro
pulverizá-la para que ela obtenha maior aproveitamento.
Nesta lição passaremos a abordar as técnicas utilizadas em táticas defensivas e em
táticas ofensivas para se obter o melhor rendimento, com a maior taxa de absorção do calor
em menor tempo.
Bom estudo!

Objetivos Específicos
Ao final da lição o aluno deverá:;
a) Diferenciar Técnicas Ofensivas de técnicas defensivas;
b) Tática de Combate ofensivo;
c) Tática de Combate defensivo;
d) Diferenciar Táticas de combate ofensivo do defensivo;
e) Identificar quando não se aplica a tática ofensiva;
f) Conceituar técnica de combate a incêndio;
g) Conceituar técnica de extinção de incêndio;
h) Conhecer as técnicas de extinção de incêndio estruturais;
i) Identificar quando e como aplicar as técnicas tanto em táticas defensivas quanto em
táticas ofensivas;

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Introdução

Antes de falarmos sobre as técnicas de combate propriamente ditas, é necessário


que falemos dos modos de ataque ou táticas. As operações de combate a incêndio estrutural
(as que ocorrem em edificações) podem ser conduzidas por duas linhas diferentes de ação:
ofensiva e defensiva.
As operações ofensivas consistem na penetração e combate ao incêndio no interior
da edificação. As operações defensivas consistem no combate externo, feito do lado de fora
da edificação, concentrando esforços também no isolamento do incêndio.
Os dois modos de atuação requerem o emprego de técnicas diferentes para o
combate e extinção das chamas, as quais veremos adiante. Agora, o que define se o combate
se dará no modo ofensivo ou defensivo?
De modo geral, cinco situações remetem o combate a incêndio estrutural ao modo
defensivo:
* Edificação completamente tomada pelas chamas;
* Risco de colapso da estrutura.
*Presença de produtos perigosos;
*Falta de EPI/EPRA;
*Equipes de socorro não treinadas em combate ofensivo.
Mesmo os riscos de fenômenos de comportamento extremo do fogo não impedem a
operação ofensiva. Pode ser que se atue defensivamente até que os riscos de fenômenos de
ignição rápida dos gases sejam contornados e, então, a operação passa a ser ofensiva.
Todos em uma operação devem saber o modo de atuação, pois, como uma
edificação tem geralmente no mínimo 4 lados, não é possível que o responsável vigie todas
as frentes de combate. Isso quer dizer que uma linha pode não saber o que a outra está
fazendo, podendo gerar um problema caso não se saiba o modo de atuação.
Digamos que uma linha inicie um combate defensivo de um lado enquanto outra
linha em um lado adjacente resolva penetrar na edificação. A atuação da primeira linha pode
gerar um fenômeno de comportamento extremo do fogo que nem sequer será anunciado se
não se souber que alguém adentrou mudando a operação para defensiva. Por isso todos
devem saber o modo de atuação, e a decisão sobre qual será adotado cabe ao responsável
pela operação.

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Os bombeiros devem estar aptos a executar com rapidez e eficiência as evoluções


determinadas pelo comandante da guarnição. Este nível de profissionalização é alcançado
quando há empenho no treinamento por parte das guarnições que trabalham juntas. A
familiaridade com os equipamentos de combate a incêndio e com as técnicas é obtida
através de instrução constante.
A guarnição deve trabalhar como uma equipe, onde cada bombeiro tem sua missão
definida conforme o protocolo de procedimentos para as situações.
Os brigadistas, por geralmente não disporem de EPI capaz de permiti-los realizar
um combate ofensivo, devem proceder apenas o combate no modo defensivo.
Feitas as considerações que permitem entender o combate ofensivo e defensivo,
passemos às técnicas de combate.
Técnicas de combate a incêndio são formas de utilização dos meios disponíveis
para combater incêndios com maior segurança e com um mínimo de danos durante o
combate. Como já mencionado anteriormente, combater incêndios não é sinônimo de
“apagar o fogo”. Combater é combater. Importante frisar isso, por mais redundante que
pareça. Muitas ações de combate não tem o objetivo de apagar o fogo, de extinguir as
chamas. Muitas vezes o combate requer ações que focam outros objetivos.
Em um combate a incêndio, há um conjunto de ações que não dizem respeito ao
ataque ao fogo em si, ou seja, não se tratam de extinção, mas que compõem as operações
que visam o término do incêndio. Por isso, chamamos tais ações de operações de combate e
não de extinção.
No combate a incêndio, muitas vezes faz-se necessário o emprego de tais ações
antes, durante ou após os trabalhos de extinção propriamente ditos.

1. ISOLAMENTO E CONFINAMENTO

Em um grande número de casos, ou a situação não permite ou a tática não


recomenda o combate direto e imediato ao foco. Por vezes é necessário, antes disso, ou
concomitantemente, “cercar” o incêndio e “domá-lo” antes de finalmente extingui-lo. O
isolamento e o confinamento constituem-se ações nesse sentido.

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O ISOLAMENTO abrange as ações de bombeiro que tem por objetivo impedir a


propagação de calor e fogo para outros locais na vizinhança de um incêndio. É a tentativa de
impedir que o incêndio alcance outro sistema15 além do que já está sinistrado.
O próprio ataque ao incêndio em princípio, procedido com rapidez, adequação e
suficiência de meios, constitui uma iniciativa isoladora, uma vez que restringe a produção e
propagação de calor.
A decisão quanto ao emprego desta ação envolve a consideração de alguns fatores,
uma vez que o isolamento sempre desvia linhas de ataque ao fogo e consome agente
extintor, a saber:
* teor de calor emanado no incêndio (acima de 150 ºC é considerado calor
excessivo);
* proximidade do combustível vizinho ao incêndio;
* natureza e volume do combustível exposto ao calor propagado (alvenaria,
vidraçaria, etc);
* propagação de fagulhas para o combustível vizinho (considerar janelas abertas e
outras aberturas);
* risco de desabamento ou queda de materiais incendiados;
* impetuosidade e direcionamento da corrente do vento.
Por sistema, compreendemos estruturas que podem ser sinistradas como um
edifício, um reservatório, um galpão, uma planta industrial, um veículo, etc. São estruturas
que podem ser individualmente consideradas em si mesmas e que, quando sinistradas
isoladamente já se pode considerar um incêndio e não um foco.
Toda iniciativa isoladora exige visão futura de:
1) Duração provável da ação
2) Consumo aproximado de água;
3) Número de linhas (ou guarnições) envolvidas;
4) Pessoal e material afastado do ataque efetivo às chamas.
O isolamento pode ser feito resfriando os sistemas com risco de serem atingidos por
meio da aplicação de água. Tal medida visa diminuir o efeito da radiação de calor. Essa
forma é muito usada em incêndios em tanques de combustíveis para resfriar o tanque
vizinho.

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Pode ainda ser feito com o uso de jatos neblinados ou neblina direcionados para o
sistema sinistrado, pois, assim, além de bloquear a radiação, o combate pode ser realizado
simultaneamente.
Há ainda a possibilidade de direcionamento da fumaça que escapa de um sistema
pelo uso de jato neblinado, desviando-a. A fumaça, além de conduzir calor, quando se
incendeia libera uma enorme quantidade de calor que se propaga por irradiação.
Outras medidas mais simples podem ser adotadas dependendo da forma como se
verifica que o incêndio pode se propagar para o sistema vizinho. Por exemplo, pode ser uma
medida eficaz o mero fechamento das janelas para evitar a penetração de fagulhas trazidas
pelo vento ou evitar a penetração de fumaça superaquecida.
CONFINAMENTO é o conjunto de ações executadas dentro de uma edificação que
visam impedir a propagação de fogo e calor a compartimentos ainda não atingidos pelo
incêndio..
A tendência dos gases aquecidos é subir, o que torna urgente o confinamento em
incêndios verticais tanto mais quanto mais baixo for o andar onde se localiza o sinistro.
Nos incêndios a propagação ocorre lateralmente, de cima para baixo e de baixo para
cima, merecendo ação preventiva dos bombeiros os seguintes meios:
1) aberturas que possam ser alcançadas por chamas ou ar quente;
2) explosões;
3) queima de paredes e portas internas;
4) chamas e fagulhas vindas de janelas ou outras aberturas;
5) condução de calor através de dutos metálicos, etc, de cômodo para cômodo;
6) queda de tetos ou pisos;
7) circulação interna de massas gasosas extremamente aquecidas.

As ações de confinamento devem ser somadas aos dispositivos de proteção


permanente da edificação, quais sejam. Paredes resistentes ao fogo, portas corta-fogo,
sistemas automáticos de “sprinklers”, etc. Também deve ser preocupação tática fornecer a
estas estruturas proteção permanente, visando garantir funcionamento continuado e em
plenas condições.

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O ataque indireto (visto adiante) constitui um método adequado de retirada de calor


excessivo de ambientes confinados. Isso pode ser feito, muitas vezes, não com o intuito de
apagar o fogo, mas de impedir que ele se espalhe.
A descoloração da pintura e desprendimento do reboco acusam a propagação de
calor naqueles espaços. Pelo tato podemos detectar também tal propagação em paredes e
forros, devendo ser abertos tais espaços e submetidos à ação extintora ou resfriadora.

2. TÉCNICAS DE EXTINÇÃO

Vistas outras técnicas de combate, passaremos a seguir a apresentar as técnicas de


extinção, que visam apagar as chamas.
Para organizar o estudo, dividiremos as técnicas de acordo com a classe dominante
do incêndio que se está combatendo. Isso não significa que as técnicas não se entrelaçam.

INCÊNDIOS CLASSE – A (incêndios estruturais)

Em geral, os incêndios estruturais (os que envolvem edificações) são basicamente, ou


predominantemente, da Classe A. Para combatê-los, temos as técnicas a seguir apresentadas,
sem excluir outras existentes.

a) Ataque Direto

Consiste no emprego de um jato


sólido ou compacto dirigido à base
do fogo sobre a fase sólida do
combustível, visando resfriá-lo
abaixo do ponto de combustão.

Devido ao alcance do jato, pode ser


usado tanto de dentro da edificação,
mas fora do cômodo sinistrado
(modo ofensivo) como de fora da
edificação (modo defensivo).

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Em um combate em modo defensivo, a pressão nominal e a vazão regulada no esguicho


podem ser reduzidas para a economia de água. Ambas devem ser aumentadas ao se verificar
que os jatos não estão absorvendo mais calor do que o fogo produz.

Se for usado em combate ofensivo, deve-se cuidar para não empregar água em demasia,
causando danos pelo excesso de água e, também, para não gerar excesso de vapor de água

b) Ataque Direto Modificado

O ataque direto modificado consiste no


ataque à fase sólida do combustível quando
este se encontra escudado por algum
obstáculo. O jato é direcionado ao teto para
ser defletido e cair sobre o foco, atingindo-
o.

Apesar de não ser dirigido diretamente ao


foco, ele é considerado uma forma de
ataque direto, pois com ele se pretende
combater as chamas em si, o fogo
queimando sobre a fase sólida dos
combustíveis

c) Ataque Indireto

Também se usa o jato sólido ou


compacto, entretanto, o objetivo
não é extinguir o fogo
combatendo diretamente a fase
sólida. No ataque indireto, o
objetivo é produzir uma grande
quantidade de vapor de água
para resfriar a capa térmica
(gases combustíveis
provenientes da combustão e da
termólise) e o cômodo e,
indiretamente, apagar o fogo.

O alvo no ataque indireto são as


paredes e o teto superaquecidos para que, na fragmentação do jato pelo impacto, a água
absorva o calor dessas superfícies e transforme-se em vapor, resfriando o ambiente.

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Não se pode jogar água em demasia para não resfriar demais as superfícies. Isso impede a
formação de vapor. Também é preciso cuidar para não se produzir vapor em excesso, pois
isso afeta o balanço térmico.

d) Ataque Combinado

Consiste no emprego alternado das


técnicas de ataque indireto e direto.
Com movimentos circulares (para que o
jato atinja paredes e teto) busca-se a
geração de vapor para resfriar os gases
aquecidos e, alternadamente, lançam-se
jatos à fase sólida do combustível
próxima ao solo.

e) Saturação com Neblina

Quando um ambiente está na fase de


decaimento pela baixa concentração de
oxigênio, ou seja, em queima lenta e sob o
risco de ocorrência de um backdraft diante da
abertura de acessos pelos bombeiros,
recomenda-se a saturação do cômodo com
neblina previamente à abertura do cômodo.
O técnica consiste na injeção de
água em pulsos de 2-3 segundos de jato
neblina por uma pequena abertura na parte
superior da parede ou pelo teto, com intervalos de 12-15 segundos para permitir a troca de
calor entre neblina e gases aquecidos no ambiente. A neblina age resfriando e diluindo a
fumaça, diminuindo sua combustibilidade e o risco de um backdraft, e também atrapalha a
concentração com o oxigênio.
A grande geração de vapor, como dito, pode ser um problema. Este fato pode
decretar a morte de vítimas no interior do cômodo. Por isso, essa técnica só deve ser usada

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em cômodos em que se verifique a queima lenta (fase de decaimento pela depleção de


oxigênio). Havendo vítimas nesse ambiente, certamente já estarão mortas, quer pela
baixíssima concentração de oxigênio, quer pelo elevado calor previamente atingido.

3DWF – TRIDIMENSIONAL WATER FOG (neblina tridimensional)

Estudos oriundos na Suécia em meados da década de 1980, originaram o uso de


pulsos de jato neblinado. Foi quando se demonstrou a combustibilidade da fumaça e os
riscos decorrentes de sua ignição, que se traduz em um comportamento extremo do fogo.
Pensando no combate “volumétrico” (tridimensional) e não apenas na superfície do sólido
em queima, desenvolveram-se técnicas de combate baseadas no lançamento de curtas
rajadas de jato neblinado.
Usa-se a regulagem de jato neblinado em um esguicho combinado e faz-se uma
rápida abertura e fechamento lançando um “pulso” de neblina, que fica suspensa no ar por
algum tempo. Para que seja eficiente, calculou-se que uma linha de 38mm deve ser suprida
com cerca de 7 Kgf/cm2 de pressão residual, ou seja, a pressão imprimida na bomba
(nominal) deve ser maior.
Como o jato é neblinado, o alcance é curto, assim, o que mais importa é a
fragmentação da água para aumentar seu poder de resfriamento e o tempo de suspensão no
ar. Por isso a pressão deve ser elevada.
A fim de não gerar vapor em excesso, deve-se cuidar para não aplicar pulsos em
excesso e não varrer a aplicação de cada pulso. Se o objetivo é atingir uma área maior, usa-
se mais pulsos (dois alvos, dois pulsos). Também limita-se a quantidade de água disparada
trabalhando com uma vazão mínima no esguicho (30gpm ou cerca de 115lpm).
Usando-se a vazão mínima, a abertura e o fechamento brusco não gera um golpe de
aríete capaz de danificar a canalização, haja vista que a massa de água deslocada a cada
pulso é muito pequena.
Conforme a mudança no padrão do jato e no tempo de abertura, a 3DWF apresenta
suas próprias variações.

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f) Pulso Neblinado Curto


O pulso curto consiste na abertura total do fluxo de água com o imediato
fechamento (pulso de cerca de 0.2 s) de um jato neblinado amplo.
O neblinado amplo tem o alcance muito reduzido, mas uma maior capacidade de
resfriamento e gera vapor com grande velocidade quando atinge a capa térmica.
O pulso neblinado curto pode ser empregado tanto ofensiva como defensivamente.

Aproxim. 60°

OFENSIVO – tem por objetivo extinguir chamas volumétricas (chamas na fase gasosa do
combustível, na fumaça, na capa térmica) e resfriar a própria capa térmica, evitando a
ocorrência de um flashover.
Vê-se assim, que a técnica é recomendada para combate no modo ofensivo com o
incêndio na fase de desenvolvimento (pré-flashover).
Devido ao curto alcance do neblinado amplo, a técnica é recomendada para
ambientes pequenos, como quartos de uma residência de classe média, ou no deslocamento
da entrada até o cômodo sinistrado quando o teto for baixo (pé direito normal de 2,5 a 3m).
Não confundir com modo ofensivo e defensivo de combate.

DEFENSIVO – a técnica pode ser usada preventivamente (defensivamente) para resfriar


gases superaquecidos na capa térmica, antes que venham a queimar.

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Tanto ofensivo como defensivo, o pulso neblinado curto, se aplicado corretamente,


provoca a contração da fumaça. Com a perda de calor da fumaça para aquecer a água
lançada, ocorre o inverso da dilatação e a fumaça contrai-se.

g) Pulso Neblinado Médio


Quando o cômodo tem dimensões maiores (salão ou pequeno depósito) ou quando
o teto é muito alto, o pulso curto (de jato neblinado amplo) não atingirá a região mais
aquecida da capa térmica. Emprega-se então um pulso médio (de 1 a 2s) com um jato
neblinado estreito, que tem maior alcance. A vazão e a pressão permanecem.
Essa técnica também pode ser usada tanto ofensiva quanto defensivamente17, da
mesma forma que o pulso neblinado curto, porém, para cômodos com médias dimensões ou
com teto alto.
Pode ser usado em cômodos menores quando, após usar o pulso neblinado curto,
verifica-se a ineficiência deste face à quantidade de calor produzido.

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h) “jato mole” – resfriamento preventivo de superfícies


Enquanto progredindo no interior da edificação, os bombeiros podem se deparar
com materiais liberando vapores combustíveis (fumaça clara e branca) em razão da
termólise. Para prevenir a ignição desses materiais, emprega-se a técnica do resfriamento
preventivo.
A técnica consiste em ajustar a regulagem de jato para compacto (estando a pressão
em 7-9 Kgf/cm2 e a vazão ajustada em 30gpm) e efetuar a abertura parcial do esguicho
permitindo apenas o escape de água sem velocidade pelo bocal (daí o nome de “jato mole”)
deixando a água escorrer gentilmente sobre a superfície do material que estava pirolizando.

i) “penciling”
O penciling assemelha-se ao “jato mole”, entretanto, consiste em pulsos com
abertura um pouco maior do fluxo de água, permitindo lançar “porções” de água sobre a fase
sólida em queima.
Estando dentro da edificação e não tendo a necessidade de disparar um ataque
direto ao foco pelas suas dimensões, e para evitar o dano ocasionado pelo jato, usa-se o
penciling, que pode ser casado com pulsos neblinados para resfriar a capa térmica, que
chamamos de abordagem pulse-penciling.
Não confundir com modo ofensivo e defensivo de combate.

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Usamos o nome em inglês pela falta de um em termo em português que exprimisse


a ideia em uma ou duas ou três palavras.

j) “ZOTI” – Pulso Longo de Alta Vazão

Atuando externamente à edificação ou mesmo dentro da edificação, mas se


deparando com um cômodo em fase de desenvolvimento completo, verifica-se que para

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debelar as chamas é necessário absorver uma enorme quantidade de calor. Para isso,
emprega-se a técnica do pulso longo de alta vazão ou “ZOTI”.
Com a pressão entre 7-9 Kgf/cm2, ajusta-se a vazão para 125gpm (470lpm)19 e o
jato para neblinado estreito. Mirando o ponto mais distante do cômodo, abre-se o fluxo de
água pintando, entre a linha do teto e do piso, uma das letras Z,O,T ou I conforme as
dimensões do cômodo.
- Para cômodos com 30m2 – Z.
- Para cômodos com 20m2 – O.
- Para cômodos com 10m2 – T.
- Para corredores – I.
As letras são um meio prático de determinar o tempo de abertura do esguicho para,
na regulagem indicada, lançar água em quantidade suficiente para absorver o calor gerado
no cômodo.
Após uns 30 segundos, repete-se o procedimento até que sejam debeladas as
chamas.
Devido à alta vazão, no emprego dessa técnica deve-se cuidar para fechar
lentamente o fluxo de água a fim de evitar a ruptura de mangueiras pelo golpe de aríete.
Caso o ambiente sinistrado seja muito grande, mais linhas podem efetuar o
procedimento combinadamente ou pode ser usado em sessões do ambiente.
Observação:
Por isso é importante que a vazão da viatura seja de pelo menos 500lpm para uma
linha de ataque.
Importantíssimo atentar para o posicionamento da linha em relação ao incêndio
para que a técnica não “sopre” o fogo para cômodos e combustíveis ainda não afetados. O
posicionamento correto no combate é entre a parte não queimada e o fogo, atacando-o de
forma a “empurrá-lo” para fora.

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l) Proteção de Rollover:

125 GPM com abertura total do esguicho e com um jato neblinado O auxiliar puxa
a mangueira e o chefe estende o braço ao máximo que conseguir.

Quadro sinóptico da regulagem e da forma de emprego das técnicas:

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Quadro sinóptico da regulagem e da forma de emprego das técnicas:

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m) Abordagem de ambiente e passagem de porta

Entendemos abordagem
como as ações de aproximação,
abertura de acesso(s) e penetração
em um ambiente sinistrado.
Ao se chegar a uma porta
fechada dentro de uma edificação
sinistrada, os bombeiros na linha
de ataque devem proceder com
cautela, haja vista que toda
ventilação provoca aceleração da
queima e aumento da taxa de
liberação de calor, além de poder
acarretar em fenômenos de
comportamento extremo do fogo.
Diante disso, os
bombeiros devem proceder uma
verificação perimetral da porta
procurando por sinais que
indiquem a condição do interior do
cômodo. É necessário que se
verifique em qual fase de
desenvolvimento o fogo está, em qual regime de queima ele se encontra (se limitado pelo
combustível ou pela ventilação). A temperatura da porta deve ser checada à procura de
indícios que demonstrem a presença e altura da capa térmica. A coloração, densidade,
opacidade e velocidade da fumaça devem ser checadas.
Sempre que os bombeiros se depararem com uma porta pirolisando pelo lado
externo, devem resfriá-la com jato mole a fim de preservá-la. A perda da porta significa
perda do controle sobre a ventilação do foco que está por trás dela.

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Para a confirmação das suspeitas, é necessário efetuar a abertura de uma porta para
confirmação visual da condição no interior do cômodo. Para isso, procede-se da seguinte
forma:
1. O jato deve ser regulado para neblinado estreito, para que passe na pequena
abertura da porta;
2. O operador do esguicho lança dois pulsos neblinados curtos sobre a porta,
visando deixar em suspensão uma neblina de água na região superior próxima à porta.
Ao proceder a abertura, os gases aquecidos que escapam terão menos chance de se
inflamarem, já que se misturarão à neblina e perderão calor ao mesmo tempo em que a
neblina transforma-se em vapor, diluindo os gases;
3. O auxiliar da linha, posicionado para a abertura da porta de modo protegido, abre
a porta deixando à mostra uma pequena fresta;
4. Pela fresta o operador do esguicho lança um pulso neblinado médio na parte
superior da abertura enquanto visualiza as condições no interior.
Conforme as condições confirmadas, a abordagem prossegue de modo diferente.
Não esqueça que a porta é um limitador da ventilação e um instrumento de controle

ABORDAGEM E DESENVOLVIMENTO DO MNEMÔNICO P.O.R.T.A NA


PRÁTICA:

POSICIONAMENTO Se a porta abrir para dentro o chefe de

OBSERVAÇÃO
linha se posiciona no lado da dobradiça
(DD), Quando a porta abrir para o lado

ROTATIVA
de fora, o chefe de linha, que segura o
esguicho fica do lado da fechadura

TATO
(FF).

AGUAR

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PORTA ABRE PARA DENTRO PORTA ABRE PARA FORA

DENTRO/DOBRADIÇA FORA / FECHADURA

POSIÇÃO OBSERVAÇÃO ROTATIVA

TATO AGUAR

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Características dentro da edificação:


a) Presença de chamas em algum cômodo;
ABORDAGEM COM RISCO DE FLASHOVER; b) Chamas tocando o teto ou a capa
térmica;
c) Ambiente ventilado
d) Fumaça quente irradiando muito calor
para os materiais do ambiente ocasionando
termólise;
e) Risco de fenômenos de ignição da
fumaça sem onda de choque

Características fora da edificação


Rolos de fumaça preta quente, densa e com
movimentação muito turbulenta e plano
neutro à meia altura.

Procedimentos:
a) P.O.R.T.A.
b) Pulsos: dois curtos – um acima de cada
integrante da linha e um pulso médio pelo
vão da porta. Repita o procedimento até
que o plano neutro suba.

ABORDAGEM COM RISCO DE BACKDRAFT

Características:
a) Fumaça cáqui
b) Saindo em lufada (ou pulsos) pelas
frestas superiores das portas e janelas
c) Ar sendo sugado pelas frestas
inferiores
d) Oleosidade nos vidros
e) Sons abafados no interior (efeito
algodão)
f) Ambiente fechado, subventilado;
g) Sem luminosidade de chamas
h) Sem crepitar de chamas
i) Plano neutro no piso

Procedimentos:
a) P.O.R.T.A.
b) Pulsos: dois curtos – um acima de
cada integrante da linha e um pulso
médio pelo vão da porta
d) Saturação por neblina

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COORDENAÇÃO TÁTICAS DE COMBATE A INCÊNDIO I

FOCOS EM FASE INICIAL


A fase inicial de queima de um foco não apresenta grande potencial de risco
iminente e, exatamente por isso, merece que sejam tecidas algumas considerações.
Devido ao aspecto menos alarmante que um foco em fase inicial apresenta, o
grande risco para os bombeiros é a negligência com aspectos básicos relativos à segurança.
Apenas por que um foco não apresenta dimensões ou aspecto alarmantes, não
significa que no ambiente não haja calor ou concentração de gases tóxicos suficientes a
causar lesões.
Por isso, um ambiente em fase inicial deve ser abordado com toda atenção e cautela
e com os bombeiros adequadamente equipados.
Outro problema que pode ocorrer é o superdimensionamento do foco. Um pequeno
foco é capaz de inundar um ambiente grande com fumaça e calor e, por isso, algumas vezes
bombeiros inexperientes ou afoitos podem afobar-se e exagerar no uso de água no combate
por um dimensionamento equivocado das proporções do foco. É comum ocorrer prejuízos
materiais significantes pelo uso indevido e excessivo de água no combate.
Lembrando que a água que escorre ou se acumula no chão não absorveu calor
suficiente para evaporar, ou seja, não foi aproveitada naquilo que tem de melhor: sua
capacidade de resfriamento.
O combate ao foco em si deve ser feito de modo a tentar preservar o material que
ainda não queimou. Sugere-se pulsos neblinados para resfriar a fumaça, se for o caso, e
penciling para extinguir o foco.

FOCOS EM DESENVOLVIMENTO

Como já vimos anteriormente, na fase de desenvolvimento, a concentração de


oxigênio no ambiente permite a ocorrência de vivas chamas.
Em decorrência disso, não há, normalmente, problemas na abertura de acessos.
Como essa é a regra geral, ainda assim a abordagem deve ser cautelosa devido às exceções.
Toda ventilação irá acelerar a queima e aumentar a taxa de liberação de calor.
Como se sabe, para que gases queimem, ou mesmo partículas líquidas e sólidas em
suspensão, devem estar na concentração adequada (entre os limites inferior e superior de
inflamabilidade) com o oxigênio.

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Como não temos meios práticos de saber a composição exata ou mesmo a


concentração necessária para a queima dos gases no ambiente, a abertura de acesso deve ser
feita com cautela, devendo os bombeiros posicionarem-se fora da zona de abertura para que
uma possível ignição dos gases não os afete.
Para abrir ou quebrar uma janela, o bombeiro deve posicionar-se abaixo do peitoril.
Para a abertura de uma porta, deve posicionar-se atrás da porta, caso abra em sua direção, ou
atrás da parede, caso abra para o interior do ambiente.
Já estudamos que em um foco na fase de queima livre pode ocorrer o fenômeno
conhecido como flashover.
Reconhecendo a queima livre e verificando os sinais indicativos de flashover, a
abordagem deve considerar esse risco.
Os sinais indicativos de flashover muito se confundem com os sinais que indicam a
própria queima livre: barulho e luminosidade de chamas, fumaça aquecida e chamas subindo
pela coluna de fumaça acima do foco. Outros são mais específicos do fenômeno citado:

* fumaça muito densa, muito opaca e muito escura;


* calor excessivo sendo irradiado da fumaça;
* chamas muito viva e subindo pela coluna de fumaça que se ergue do foco;
* desprendimento de vapores dos materiais ainda não incendiados;
* fumaça mostrando alterações de padrão (revoluções rápidas e abaixamento do
plano neutro);
* ocorrência de fenômenos como flameover e rollover, este último sendo um
claríssimo sinal da iminência de um flashover.
Diante desses sinais, a porta deve ser aberta com cautela, como dito acima, e a
abordagem do ambiente deve ser enérgica. Não deve o bombeiro penetrar no ambiente
enquanto o risco de explosão ambiental não tenha sido reduzido.
Nestes ambientes, o combate deve priorizar o ataque à capa térmica, à camada de
fumaça que se acumula a partir do teto. Você talvez se pergunte a razão disso e talvez esteja
pensando que um ataque direto ao fogo eliminaria a fonte de calor que é o causador do
flashover. Ocorre que, a queima dos combustíveis presentes na fumaça, irradia muito mais
calor que a queima do material que alimenta o foco (normalmente sólidos em um incêndio
urbano).

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Deve o bombeiro utilizar pulsos neblinados curtos. Os jatos devem ser disparados
em rajadas curtas para aproveitar uma maior superfície de resfriamento
Os pulsos devem ser distribuídos pela capa térmica e, na medida em que forem
disparados, deve o bombeiro aguardar alguns instantes e observar o efeito que a expansão do
vapor de água provocará para continuar no combate à fumaça ou não. Enquanto aguarda,
jatos curtos (penciling) podem ser direcionados ao foco.
Deve-se tomar o cuidado para não jogar água em excesso, tanto para não provocar
danos materiais como também para não abaixar o nível da capa de fumaça pela expansão do
vapor d’água. O objetivo não é abaixar a fumaça. Isso provocará a diminuição da
visibilidade. A meta é tão somente o resfriamento dos combustíveis da fumaça para que não
entrem em ignição. Outro risco de jogar água em excesso é que se a capa de fumaça abaixar
demais pode sufocar possíveis vítimas que se encontrem no ambiente ou nos ambientes
anexos.
Uma vez estabilizado, o ambiente ele pode ser penetrado para a extinção do foco
por penciling ou até jato mole.

FOCOS INCUBADOS

Um ambiente em queima lenta apresenta uma série de riscos. O primeiro deles é o


sub-dimensionamento da potencialidade lesiva que apresenta. Por haver poucas chamas ou
nenhuma, o ambiente parece estar controlado, o que é um grande equívoco. Na verdade, o
ambiente está quieto como uma bomba antes da ignição. Uma abordagem errada pode
detoná-la. Assim, o que era um ambiente queimando lentamente, apenas com brasas, pode se
tornar um ambiente completamente tomado pelas chamas após uma deflagração violenta da
fumaça.
Nunca se deve esquecer que, mesmo que não haja oxigênio para a queima viva, a
termólise ocorre até com 0% de O2. Isso significa que, enquanto estiver quente, o ambiente
acumulará vapores combustíveis.
Além desse, há outros riscos tais como: baixa visibilidade, alta concentração de
gases tóxicos e baixa concentração de oxigênio. Para a abordagem do ambiente, o risco de
backdraft é o principal problema.

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Conforme estudamos, no decaimento, os combustíveis (gases, vapores, partículas


líquidas e sólidas) presentes na fumaça podem estar com temperatura acima da temperatura
de ignição, mas, devido ao confinamento do ambiente, ultrapassam o limite superior de
inflamabilidade, ou seja, há combustível em excesso para a escassa quantidade de oxigênio
nesses ambientes e, por isso, não queimam. Quando um acesso é aberto e o ar entra
ofertando oxigênio, tão logo a concentração atinja um patamar adequado, a fumaça deflagra-
se. A queima violenta que ocorre é o backdraft.
São indicativos da queima lenta com risco de explosão da fumaça (backdraft):
* fumaça sob pressão, num ambiente fechado;
* fumaça mudando de cor (cinza e amarelada / cáqui) e saindo do ambiente em
forma de lufadas;
* calor excessivo (nota-se pela temperatura na porta);
* pequenas chamas ou inexistência destas;
* fuligem e óleo impregnando o vidro das janelas;
* pouco ruído (não se ouve o crepitar de chamas);
* movimento de ar para o interior do ambiente quando alguma abertura é feita (em
alguns casos ouve-se o ar assoviando ao passar pelas frestas);
* chamas aparecendo na fumaça assim que esta escapa do ambiente.
Focos na fase de decaimento pela depleção de oxigênio e com fumaça acima da
temperatura de ignição
Ao perceber os sinais, a equipe de bombeiros deve abordar o ambiente com toda a
cautela para que não provoque uma explosão ambiental que pode lesionar ou até matar
integrantes da equipe ou, na melhor das hipóteses, tornará o combate muito mais difícil,
pois, muitas vezes é seguida da ignição completa do ambiente.
Nesse ambiente, por sua dinâmica e características, vê-se que os combustíveis na
fumaça precisam apenas atingir a concentração adequada para uma queima violenta. Ao se
abrir uma porta ou janela, inevitavelmente o ar estará entrando no ambiente e,
consequentemente, carregando O2, fornecendo exatamente o que os gases precisam para se
deflagrarem. Como é necessária uma abertura para que se entre no ambiente, ao oferecer o
comburente os bombeiros devem retirar algo para que os requisitos da combustão não
estejam todos presentes.

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A abertura da porta dá-se como nos passos 1 a 4 no início do tópico. Por meio da
checagem visual no interior do ambiente, é possível confirmar as suspeitas da condição no
interior do cômodo.
O auxiliar deve efetuar a abertura da porta abaixado e protegido pela porta,
firmando-a para que não se abra de repente por causa da força da explosão, caso ocorra. Se a
porta tiver a abertura para dentro do cômodo, a operação da porta deve ser feita com o
auxílio de um cabo preso à maçaneta possibilitando que o auxiliar a opere sem que fique na
linha de abertura da porta.
Os passos 1 a 4 devem ser repetidos até que o aspecto da fumaça esteja indicando
uma menor combustibilidade. Verifica-se isso pela fumaça mais clara (cinza), menos densa,
menos opaca e movendo-se de forma menos turbulenta.
Em seguida, caso necessário, deve ser utilizada a técnica de saturação com neblina
pela parte superior da porta, até que o ambiente permita a entrada dos bombeiros.
Significando que a fumaça já está em condição de queimar, faltando apenas o
comburente, por isso ela queima assim que alcança o exterior.
Assim que os sinais de risco diminuir, a porta deve começar a ser aberta lentamente
enquanto o operador do esguicho procura saturar a região superior do cômodo nas
imediações da porta na parte interna com pulso neblinado médio.
A intenção dessa neblina é diminuir a combustibilidade da fumaça próxima à porta,
que vai ter contato com o oxigênio, e o resfriamento para abaixar a temperatura aquém do
ponto de ignição.
Uma vez que o ambiente foi abordado, ele deve ser dominado. Em um ambiente em
queima lenta, o calor e a fumaça devem ser dissipados para prevenir novas ignições. Isso
deve ser feito por meio de uma das técnicas de ventilação. Os possíveis focos devem ser
resfriados para que não entrem em ignição à medida que a fumaça for expulsa.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ESPIRITO SANTO. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espirito Santo. Manual


Técnico de Combate a Incêndio Urbano. Vitória: 2014.

GOIÁS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. Manual Operacional de


Bombeiro: Combate a Incêndio Urbano. Goiânia: 2017.

RIO DE JANEIRO. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. Manual


Básico de Bombeiro Militar, Volume 3. Tecnologia e maneabilidade em incêndios. Rio de
Janeiro: 2017.

SÃO PAULO. Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Coletânea
de Manuais Técnicos de Bombeiros, Títulos 23, 32, 42. São Paulo: 2006.

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