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EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS
1ª ED. 2022
TÓPICOS INTRODUTÓRIOS:
EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS
1ª EDIÇÃO
FLORIANÓPOLIS, 2022
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA @ 2022. Todos os direitos de reprodução são reservados ao Corpo
Governador: Carlos Moisés da Silva. de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Somente será permitida a
Presidente do Colegiado Superior de Segurança Pública e Perícia Oficial: reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.
Giovani Eduardo Adriano
Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA Diretoria de Instrução e Ensino
Comandante-Geral: Coronel BM Marcos Aurélio Barcelos. 88.085-000
Subcomandante-Geral: Coronel BM Hilton de Souza Zeferino. Capoeiras - Florianópolis - SC
Chefe de Estado-Maior Geral: Coronel BM Alexandre Vieira. Disponível em: https://documentoscbmsc.cbm.sc.gov.br/
link Este manual é interativo, para acessar os links basta clicar Saiba mais: texto complementar ou informação importante
nos mesmos. sobre o assunto abordado. Indicação de leituras complemen-
tares, vídeos ou áudios relacionados ao assunto abordado.
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determinada informação.
Atenção: indica ao aluno que a informação apresentada
merece destaque. Curiosidade: indica um assunto que pode despertar o inte-
resse do aluno em conhecimentos complementares.
Glossário: explicação de um termo de conhecimento pou-
co comum.
BOAS-VINDAS
Prezado(a) aluno(a), seja muito bem-vindo(a) ao estudo deste ma- Após, descreveremos as principais lesões que envolvem o trauma
terial. Agora que você já leu sobre as considerações gerais da ativi- abdominal e pélvico e o seu manejo inicial.
dade de Atendimento Pré-hospitalar (APH) do Corpo de Bombeiros Você conhecerá um pouco sobre os traumas em extremidades, sín-
Militar de Santa Catarina (CBMSC), conheceu as viaturas e equipa- drome compartimental, síndrome de esmagamento, e a maneira como
mentos utilizados, as noções de biossegurança e os princípios opera- o socorrista deverá agir quando atuando em ocorrências dessa natureza.
cionais sobre o suporte básico à vida, esta obra foi produzida com o Por fim, serão apresentadas noções sobre atendimento de pa-
objetivo de apresentar a você, bombeiro(a) militar, noções de como cientes que sofreram queimaduras, bem como a fisiopatologia que
atuar em ocorrências envolvendo emergências traumáticas. envolve a lesão por afogamento.
Para iniciar efetivamente nossos estudos, apresentaremos a ava- Sejam todos muito bem-vindos ao estudo das emergências trau-
liação e o manejo do trauma cranioencefálico (TCE), situações en- máticas.
volvendo o déficit neurológico, a escala de coma de Glasgow, além
de apresentar os sinais e sintomas para identificação de um trauma Bons estudos e até a próxima obra!
raquimedular e como o socorrista deve se portar nessas situações.
Ainda, nesta obra, apresentaremos os sinais e sintomas de um Major BM Henrique Piovezam da Silveira
trauma torácico, identificando as principais lesões que o socorrista Organizador
poderá se deparar, bem como apresentando as técnicas utilizadas
para a prestação do atendimento pré-hospitalar adequado.
SUMÁRIO
1. AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO (TCE).7 3.3.2. Risco elevado de lesão medular........................................................ 24
1.2.2. Fraturas dos ossos faciais................................................................... 10 3.4.2. Remoção com a maca scoop.............................................................. 29
7. QUEIMADURAS.................................................................................67
7.1. CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS....................................................... 67
7.2. SUPERFÍCIE CORPORAL TOTAL QUEIMADA (SCTQ)................................ 69
7.3. ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR DAS QUEIMADURAS......................... 70
7.3.1. Queimaduras menores........................................................................ 70
7.3.2. Queimaduras maiores......................................................................... 71
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1. AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA Uma hemorragia sem o devido controle desse GLOSSÁRIO
CRANIOENCEFÁLICO (TCE) tipo de lesão pode levar a uma perda de volume
Dura-máter é a mais externa,
sanguíneo enorme, causando choque hipovolêmi-
espessa e fibrosa das três
Uma vítima de trauma cranioencefálico (TCE) co e, consequentemente, a morte. Além disso, é membranas que envolvem o
pode sofrer diversos tipos de danos, incluindo lesões possível que ocorra vazamento de líquido cefalor- cérebro e a medula espinhal.
no couro cabeludo, na face, no crânio e no cérebro. raquidiano na região, indicando que pode ter havi-
Tendo em vista essa multiplicidade de lesões possí- do laceração da dura-máter.
veis, o socorrista deve estar plenamente capacitado No atendimento pré-hospitalar a esse tipo de
para identificar corretamente e tratar cada um desses lesão, o socorrista deve priorizar o controle da he-
incidentes. Vamos aprender sobre cada um deles? morragia através de compressão direta (controla-
da) sobre a ferida, não lavando nem limpando a
1.1. LESÕES NO COURO CABELUDO ferida no couro cabeludo para evitar sangramento
adicional. Havendo suspeita de fratura no crânio,
O couro cabeludo é constituído de várias cama- não se deve fazer pressão com os dedos sobre o
das de tecido, sendo uma região bastante vasculari- ferimento.
zada. As lesões que podem ocorrer neste local vão
de abrasões simples até lacerações mais graves, che- 1.2. LESÕES FACIAIS
gando a separação de uma grande área do couro
cabeludo do crânio, o que se denomina escalpela- As lesões faciais podem compreender desde
mento. Normalmente, o escalpelamento ocorre de um trauma de tecido mole de menor gravidade
maneira brusca e acidental , como em uma colisão (exemplo: corte superficial no supercílio), até um
de veículo, em que ocupantes do banco dianteiro trauma severo associado ao comprometimento das
batem a cabeça no para-brisa, ou quando os cabe- vias aéreas ou choque hipovolêmico.
los da vítima ficam presos em máquinas ou equipa- O comprometimento das vias aéreas pode
mentos (exemplos: embarcações, eixos de equipa- ocorrer por conta de lesões estruturais, alterações
mentos agrícolas, correias de veículos). Dessa forma, anatômicas resultantes do trauma, presença de lí-
dependendo do mecanismo da lesão, o socorrista quidos ou objetos estranhos. Essas alterações es-
deve suspeitar também de trauma cranioencefálico e truturais podem incluir deformidades dos ossos da
raquimedular associados à lesão do couro cabeludo. face, fraturas ou contusões sofridas pelos tecidos.
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Como a cabeça possui uma alta concentração de É comum que, ao ocorrer um dano direto ao
vasos sanguíneos, as lesões nesta área muitas vezes globo ocular, ocorra um acúmulo de sangue entre
levam a um sangramento considerável, possibilitan- a íris e a córnea, situação conhecida como hifema.
do que sangue e coágulos formados possam preju- Em casos como este, o atendimento pré-hospita-
dicar a permeabilidade das vias aéreas. A ingestão lar consiste em colocar um protetor ocular sobre
de sangue associada ao trauma cranioencefálico, o olho lesionado e, caso não haja impedimento,
pode induzir o paciente ao vômito, podendo resul- transportar o paciente na posição sentada para re-
tar no bloqueio das vias aéreas. Além disso, traumas duzir a pressão sobre o olho lesionado.
faciais podem ocasionar fraturas, amolecimento ou
queda dos dentes nas vias aéreas, obstruindo-as.
Ainda, se houver objetos transfixados na bochecha
que apresentem risco de obstrução das vias aéreas,
eles devem ser removidos, se possível.
O trauma facial costuma estar associado a danos
nas estruturas da órbita e do globo ocular, como
resultado direto da lesão. Embora a lesão ocular
não seja comum, deve ser considerada sempre que
Figura 1
houver trauma facial, pois o tratamento adequado
da lesão ocular aumenta a taxa de preservação da
visão do paciente. Caso a lesão facial atinja a córnea ou a esclera
do globo ocular (túnica externa branca e fibrosa do
1.2.1. LESÕES OCULARES E ORBITAIS globo ocular - “branco do olho"), dilacerando-a,
configura-se um globo ocular aberto. Neste caso,
Caso seja identificada uma laceração de pálpe- o socorrista deve imediatamente colocar um prote-
bra, o socorrista deve estar atento para uma possível tor rígido sobre a órbita óssea, pretendendo evitar
penetração do próprio globo ocular. O tratamento que o conteúdo intraocular extravase pela lesão,
em campo consiste na cobertura imediata do olho minimizar a manipulação do paciente e transportar
Figura 1. Hifema
com um protetor rígido (não um patch de pressão), o paciente ao hospital o mais rápido possível. Fonte: Ocular-al (2022)
colocado sobre a órbita óssea, sem pressioná-la. Conhecido também como exoftalmia ou protu-
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são ocular, o olho protuso é uma condição em que Por fim, a enucleação ocular é a situação em GLOSSÁRIO
os olhos encontram-se salientes ou saltados, situa- que o olho é totalmente removido de sua órbita,
Celulite orbitária é uma infeção
ção em que todo o globo ocular está mais desloca- suportado basicamente pelos nervos ópticos para
súbita e aguda dos tecidos ao
do para frente do que o normal, sem, no entanto, fora da face. redor do olho.
abandonar a órbita ocular. Esta condição pode ser
causada por diversos motivos, como celulite orbi- Na hora do trauma a vítima pode ficar agitada
tária, tumores e, inclusive, trauma. e desorientada, devido à posição anatômica
em que se encontra o seu olho.
1.2.2. FRATURAS DOS OSSOS FACIAIS monitorar constantemente o nível de consciência da GLOSSÁRIO
vítima e realizar o transporte imediato ao hospital.
Meningite é uma inflamação que
A fratura dos ossos nasais corresponde à fra-
ocorre na meninge, membrana
tura mais comum em traumas faciais. Nesta situa- 1.3. FRATURAS DE CRÂNIO
que recobre o sistema nervoso
ção, o socorrista pode se deparar com equimose,
central.
edema, estalo ósseo à palpação, deformidade do Uma fratura em crânio pode ser classificada em
nariz e epistaxes (hemorragia nasal). Ainda, em ca- aberta ou fechada, dependendo da região atingi-
sos de forte impacto na face, como numa colisão da e da intensidade do trauma sofrido.
automobilística, é possível que ocorra rinorreia li- Em uma fratura de crânio aberta, o socorrista
quórica, o vazamento de líquido cefalorraquidiano pode observar que os ossos cranianos estão que-
pelo nariz. brados e afundados (deformados), servindo como
Além das fraturas nasais, as fraturas da parte uma porta de entrada para microorganismos e sujei-
média da face e fraturas da mandíbula são ou- tando o paciente a ocorrência posterior de meningi-
tros casos usuais em trauma de face. Nesses casos, te. Se a camada dura-máter for lacerada no trauma,
a vítima pode apresentar-se com assimetria facial, partes do tecido cerebral ou líquido cefalorraquidia-
afundamento na região atingida e incapacidade de no podem extravasar através do ferimento.
fechar a boca, perdendo o alinhamento dos den- Uma fratura de crânio fechada pode ocorrer
tes. À palpação, o socorrista pode se deparar com com ou sem afundamento craniano, o que é iden-
deformação e crepitação. Além disso, deve-se con- tificado visualmente ou por um exame cuidadoso
siderar que a fratura de mandíbula pode permitir de palpação.
que a língua obstrua as vias aéreas, caso o paciente FRATURA ABERTA
FRATURA FECHADA COM
AFUNDAMENTO DE CRÂNIO
esteja em decúbito dorsal.
Em todos os casos de fratura nos ossos da face,
o socorrista deve controlar o sangramento presen-
te por compressão direta, tomando o cuidado para
não pressionar muito forte, pois fraturas faciais po-
dem não ser facilmente detectadas. Além disso,
Figura 3. Fraturas de crânio
como é provável que ocorra comprometimento de Fonte: CBMSC (2021)
Figura 3
vias aéreas e haja lesão cerebral associada, deve-se
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1.4.1. LESÃO CEREBRAL PRIMÁRIA mente prejudicadas na lesão primária, pode aconte-
cer após horas ou até semanas depois do evento.
Lesão cerebral primária acontece no momento do Em suma, o espaço na caixa craniana é ocupado
evento traumático principal, e pode ser qualquer le- pelo cérebro, por estruturas vasculares e pelo líqui-
são que aconteça na estrutura cerebral, sua cobertu- do cefalorraquidiano (LCR). Quando qualquer outro
ra e estruturas vasculares relacionadas. Sendo assim, elemento, como um hematoma, um edema cerebral
por se tratar de uma lesão mecânica, é possível se ou um tumor, preenche esse espaço, uma pressão é
deparar com hematomas, sangramentos e danos aos exercida sobre essas estruturas iniciais, o que deno-
tecidos, aos nervos e aos vasos sanguíneos. minamos efeito de massa.
Os principais mecanismos da lesão cerebral pri- Os efeitos colaterais, muitas vezes, podem gerar
mária são os acidentes de trânsito que geram acele- danos significativos no sistema, que não são visíveis
ração ou desaceleração repentina (exemplo: colisão, ou detectados no primeiro momento, além de ter
capotamento e atropelamento), as quedas de nível e uma relação direta na mortalidade e na incapacidade
as agressões diretas a cabeça da vítima. da vítima após sofrer uma lesão encefálica.
A concussão é uma alteração que ocorre após Dessa forma, o principal cuidado pré-hospitalar
uma lesão cerebral primária, mas ainda é reversível. de uma lesão cerebral traumática é identificá-la rapi-
Ela está frequentemente associada a dor de cabeça, damente, buscar reduzir ou cessar esses mecanismos
confusão, perda breve da consciência ou, em casos secundários da lesão, fornecendo suporte ventilató-
mais graves, inconsciência prolongada. rio e de oxigenação (15 litros/minuto), e transportar
Por outro lado, em casos mais graves em que imediatamente a vítima para o hospital.
ocorre o rompimento de vasos sanguíneos, caracte-
riza-se uma contusão. O sangue extravasado forma 1.5. TRATAMENTO PRÉ-HOSPITALAR DO
coágulos no crânio que pressionam o cérebro, afetan- TRAUMA CRÂNIO-ENCEFÁLICO (TCE)
do e prejudicando gravemente as funções cerebrais.
Ao lidar com uma vítima de trauma cranioence-
1.4.2. LESÃO CEREBRAL SECUNDÁRIA fálico, além de considerar os casos particulares já
apresentados ao longo destes tópicos, o socorrista
A lesão secundária ocorre em virtude dos danos deve inicialmente tratar as condições que ameacem
subsequentes às estruturas que não foram inicial- a vida, controlando hemorragias externas, manten-
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2.1. ESCALA DE COMA DE GLASGOW vida (viatura avançada do SAMU), o socorrista deve GLOSSÁRIO
realizar o transporte imediato deste paciente para o
Lâmina ungueal é a parte
A escala de coma de Glasgow é uma ferramen- ambiente hospitalar.
superficial das unhas das mãos e
ta utilizada para mensurar de maneira mais precisa Em seguida, será detalhada a avaliação de cada dos pés.
o nível de consciência e a função cerebral de um uma das funções neurológicas, incluindo as respostas
paciente. A escala consiste em avaliar três aspectos esperadas de adultos e crianças menores de 2 anos.
relativos à função neurológica do paciente: abertu- CURIOSIDADE
ra ocular, resposta verbal e resposta motora. Cum- 2.1.1. AVALIANDO A ABERTURA OCULAR
O termo estímulo doloroso
pre salientar que cada uma dessas funções deve
deixou de ser empregado nas
ser pontuada conforme a melhor resposta apre- A pontuação máxima para abertura ocular é principais literaturas relacionadas
sentada. Ou seja, se a melhor resposta ocorrer em atingida caso seja realizada de maneira espontâ- ao atendimento pré-hospitalar,
apenas um olho ou só de um lado do corpo, ainda nea. Seguidamente, caso a abertura ocular não visto que, obedecendo ao
assim ela será pontuada. ocorra de maneira espontânea em nenhum dos princípio de “não fazer mal
A partir da avaliação e pontuação das três fun- olhos, o socorrista deve progredir para um estímu- ao paciente”, não é cabível ao
ções, o socorrista deve realizar o somatório des- lo verbal (exemplo: “você consegue abrir o olho?!”). socorrista realizar manobra cuja
tas e anotar o resultado da escala. Dependendo Se mesmo assim não obtiver uma resposta, o so- terminologia remete à dor ou
ao desconforto. Dessa forma,
da pontuação, o paciente pode apresentar um dos corrista deve realizar um estímulo físico, realizando
passou-se a utilizar o termo
quadros neurológicos abaixo: uma pressão com um objeto rígido sobre a lâmina
estímulo físico.
• 15: sem déficit neurológico; ungueal.
• 13 – 14: suspeita de lesão cerebral pequena;
• 9 – 12: suspeita de lesão cerebral moderada;
• 3 – 8: suspeita de lesão cerebral grave com
séria ameaça à vida.
A ordens 6
flexão ou extensão, receberá apenas 1 ponto. Um GLOSSÁRIO
Localizadora 5
exemplo de situação não testável é um paciente
Resposta Flexão normal 4 A herniação diencefálica é uma
encarcerado, impossibilitado de mover as mãos. motora
Flexão anormal 3
grave condição em que ocorre
A figura abaixo ilustra algumas formas em que uma protuberância anormal
Extensão 2
pode se dar a resposta motora durante uma flexão do tecido cerebral em ambos
Ausente 1
normal ou anormal após o estímulo físico. hemisférios do encéfalo.
todavia, é também um indicativo comum de into- Quanto à simetria, as pupilas podem apresen- ATENÇÃO
xicação por narcóticos. Por outro lado, a midríase tar-se isocóricas (simétricas) ou anisocóricas (as-
Uma parcela da população
pode indicar graves complicações neurológicas, simétricas). A anisocoria é um forte indicativo de
pode apresentar naturalmente
bem como pode indicar suspeitas de intoxicação trauma cranioencefálico (TCE) ou lesão cerebral um certo grau de anisocoria
por drogas estimulantes ou alucinógenas. significativa, associada, por exemplo, a um aciden- ou discoria associada a
te vascular cerebral (AVC). Convém salientar ser fatores congênitos, ou, até
possível que as pupilas apresentem-se disfor- mesmo, por complicações
mes, em formato não anatômico (redondo), caso em cirurgias oculares. Sendo
este conhecido como discoria. assim, o socorrista deve ater-
Isocóricas ou isocoria (foto reagentes)
(circulares e centrais com diâmetros normais) Por fim, o socorrista deve proceder à avaliação se a identificar apenas o achado
clínico e cuidar para não emitir
da reatividade pupilar à luz, um exame realizado in-
supostos diagnósticos de maneira
dividualmente em cada olho com o auxílio de uma
inadequada.
lanterna pupilar. Naturalmente, as pupilas se con-
Midriáticas ou Midríase traem quando submetidas à luz, fato descrito como
(diâmetro aumentado)
reação fotomotora positiva. Dessa forma, para que
não haja interferência de luzes presentes no am-
biente externo, o socorrista deve fechar o olho do
paciente, aguardar alguns segundos, abri-lo e po-
sicionar o feixe luminoso da lanterna ao lado do
Anisocóricas ou Anisocoria
(diâmetros diferentes)
olho, anotando a resposta apresentada pela pupi-
la, se reativa ou não. Repete-se esse procedimento
no outro olho.
Em suma, ao avaliar as pupilas e identificar al-
Mióticas ou Mióse
terações como miose, midríase, anisocoria e não
(diâmetro diminuido)
reatividade à luz, possíveis indicativos de lesão
encefálica, o socorrista deve envidar esforços para
realizar o transporte imediato deste paciente para
Figura 9. Forma das pupilas
o hospital o mais rápido possível. Fonte: CBMSC (2021)
Figura 10
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Inicialmente, o corpo permanece em movi- Por fim, a rotação ocorre quando cabeça, tron-
mento para frente enquanto cabeça e pescoço são co ou quadril rotacionam em direções opostas, ge-
projetados para trás por conta da inércia. Em um rando torções em vértebras, músculos, ligamentos
segundo momento, quando o veículo para ou en- ou na própria medula espinhal. Esse mecanismo
contra um obstáculo à frente, a cabeça e o pescoço de lesão medular é bastante comum em capota-
são projetados para frente. mentos, principalmente quando a vítima não está
A hiperflexão, por sua vez, é um mecanismo de utilizando adequadamente o cinto de segurança.
lesão que acontece em circunstâncias em que a colu-
na é arqueada para frente além do seu limite, natural- 3.1.1. SINAIS E SINTOMAS
mente levando o queixo da vítima a tocar o seu peito.
Sua ocorrência é comum em colisões de veí- Inicialmente, cumpre salientar que a ausência
culos em que a vítima é contida pelo cinto de se- de sinais e sintomas não descarta prontamente a
gurança e não existe airbag para conter o avanço existência de uma lesão raquimedular. É comum,
dela. Em suma, o movimento de hiperflexão ocorre no entanto, um paciente com uma lesão raquime-
no momento posterior do “efeito chicote”, quando dular apresentar, no mínimo, um dos seguintes si-
o veículo para seu movimento à frente, o ocupante nais e sintomas:
está preso pelo cinto de segurança e a cabeça da • dor nas costas ou no pescoço;
vítima avança sem contenção. • dor durante a realização de movimento nas cos-
A compressão ocorre por uma pressão direta tas ou no pescoço;
na medula espinhal proveniente do impacto na di- • dor durante a palpação do pescoço ou da linha
reção do próprio eixo medular, o que pode oca- média das costas;
sionar também fraturas no corpo vertebral. Esses • deformidades anatômicas na estrutura da colu-
tipos de lesões são comuns em acidentes de mer- na vertebral;
gulho em águas rasas, em que a vítima colide com • espasmos musculares de proteção ou imobiliza-
a cabeça contra uma pedra ou um banco de areia. ção nas costas ou no pescoço;
Por outro lado, o superestiramento ocorre • paralisia (perda total dos movimentos), paresia
pela ação de forças que agem em direções opos- (perda parcial dos movimentos), dormência ou
tas, comum em tentativas de suicídio por meio de formigamento nas extremidades após o trauma;
enforcamento.
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 23
• sinais e sintomas indicativos de choque neuro- implementou mudanças em sua rotina de imobiliza- GLOSSÁRIO
gênico; ção desde 2016. No Brasil, essa discussão começou
Priapismo é uma condição de
• priapismo em pacientes masculinos. em 2017, em simpósios e congressos, mas ganhou
ereção peniana involuntária,
maior espaço no Congresso Nacional da Associação contínua e dolorosa.
3.2. MANEJO DAS LESÕES MEDULARES: Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE),
IMOBILIZAÇÃO OU RESTRIÇÃO que ocorreu no ano de 2018, na cidade de Fortaleza/
DO MOVIMENTO DA COLUNA? CE. Desde então, no intuito de otimizar o atendimen- SAIBA MAIS
to e acompanhar as atualizações mais recentes no
A apresentação clínica da
Em virtude do crescente número de estudos e atendimento pré-hospitalar mundial, diversos órgãos
isquemia dérmica inclui
pesquisas que vêm sendo realizados na área do aten- e instituições brasileiras vêm implementando essas branqueamento da pele,
dimento pré-hospitalar nos últimos anos, cada vez mudanças, a exemplo do CBMSC. livedo reticular, vermelhidão,
mais se tem adotado uma abordagem baseada em Ademais, as tradicionais manobras de imobiliza- descamação da pele, crostas e
evidências científicas concretas, visando, por fim, oti- ção podem produzir efeitos adversos em pacientes cicatrizes.
mizar o atendimento prestado ao paciente. saudáveis que não necessitavam do procedimento,
Foi na década de 60 que se concretizou de manei- gerando desconforto, dor, aumento no esforço res-
ra sólida a prática pré-hospitalar de imobilizar a colu- piratório e isquemia dérmica. Dessa forma, fez-se
na vertebral de um paciente com o uso da tradicional necessário estabelecer uma abordagem seletiva
prancha (ou maca) rígida longa, de forma a prevenir para utilizar a RMC, garantindo uma avaliação mais
lesões medulares. Todavia, desde então, diversos es- técnica e um atendimento mais conveniente para
tudos foram feitos e continuam sendo desenvolvidos os pacientes de trauma. Tal mudança está intrin-
no intuito de esclarecer decisivamente que esta inter- secamente aliada à máxima hipocrática: “antes de
venção compreende potenciais limitações e compli- tudo, não fazer mal”.
cações que devem ser consideradas antes da tomada Sendo assim, a restrição do movimento da coluna
de decisão do socorrista em imobilizar a vítima. Con- deve pautar-se por um protocolo sistemático e racio-
sequentemente, isto resultou em uma mudança de nal, baseado em evidências, que considere a análise
paradigmas nas práticas tradicionais de imobilização. criteriosa de diversos parâmetros, como o mecanis-
A partir das novas evidências, a associação nacio- mo da lesão, a confiabilidade do paciente e os acha-
nal de paramédicos dos Estados Unidos - National dos clínicos identificados durante sua avaliação.
Registry of Emergency Medical Technicians (NREMT),
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Inicialmente, deixou-se de utilizar o termo cação de colar cervical, ângulo alcançado em uma GLOSSÁRIO
imobilização, dando lugar à Restrição do maca a vácuo ou na própria maca articulada da am-
O líquor ou líquido
Movimento da Coluna (RMC), visto que as bulância.
cefalorraquidiano é um fluido
técnicas atuais apenas limitam ou reduzem Ao término da avaliação primária, caso o pa- corporal, límpido e claro,
os movimentos da coluna, não fornecendo ciente apresente alguma condição que ameace a responsável por fornecer uma
verdadeiramente uma imobilização, tal sua vida, realiza-se a RMC com a prancha rígida barreira mecânica, atuando como
como ocorre com a imobilização das longa e inicia-se o transporte imediato. Por outro amortecedor e protegendo as
extremidades. Para entender isto, basta lado, se não houver nenhuma condição grave, a to- estruturas cerebrais e medulares.
lembrar que a anatomia das costas de um mada de decisão para aplicação, ou não, da RMC Além disso, atua diretamente
indivíduo (em formato de “S”) não encaixa deve levar em consideração critérios específicos no equilíbrio da pressão
intracraniana.
perfeitamente em uma prancha rígida relacionados à confiabilidade da avaliação, ao
(essencialmente reta), resultando em espaços risco elevado de lesão medular e às indicações
livres que proporcionam um certo grau de clínicas de lesão medular, sendo que cada um
ATENÇÃO
movimentação da coluna vertebral. Por esse desses fatores deve ser adequadamente registra-
motivo, inclusive, passou-se a recomendar do na ficha de APH. Lembre-se! O mecanismo
a utilização do próprio colchão da maca de lesão nunca deve ser o
único meio de determinar a
articulada como dispositivo de RMC. 3.3.1. AVALIAÇÃO PREJUDICADA
necessidade de restrição do
movimento da coluna, visto que
3.3. CRITÉRIOS INDICATIVOS DE RMC Após a avaliação primária, caso o paciente este- esta medida só é apropriada
ja hemodinamicamente estável, deve-se certificar após a análise multifacetada de
Na avaliação inicial, o socorrista começa a reali- se existe alguma condição que prejudique o res- distintos parâmetros.
zar o manejo do trauma raquimedular por meio da tante da avaliação, conforme os indicativos abaixo.
estabilização manual da cervical. Ainda, caso se- Se houver qualquer fator que prejudique a avalia-
jam identificados sinais e sintomas que indiquem a ção do socorrista, o paciente deve ser submetido
ocorrência trauma cranioencefálico (exemplo: nível à RMC.
de consciência alterado, falas desconexas, náusea, • Barreiras na comunicação: paciente es-
vômito, sangue ou líquor extravasando pelo nariz trangeiro, pessoa com deficiência ou que
ou pelas orelhas) o paciente deve ser submetido à não consiga se comunicar efetivamente (ex.:
RMC com elevação do tronco em 30º e sem apli- crianças muito pequenas).
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• Intoxicação: paciente com indícios de intoxi- 3.3.3. INDICAÇÃO DE LESÃO MEDULAR GLOSSÁRIO
cação por álcool e/ou drogas.
Trauma penetrante isolado é
• Lesões distratoras: qualquer lesão excessi- Por fim, o socorrista deve examinar detalhada-
aquele em que ocorre a entrada
vamente dolorosa que interfira na avaliação mente o paciente e decidir pela realização da RMC do agente agressor na cavidade
(ex.: fratura de fêmur, esmagamentos, quei- caso se detecte qualquer um dos seguintes fatores: peritoneal, como PAF (projétil
maduras graves etc.). 1. Dor, sensibilidade ou deformidade na li- de arma de fogo) ou objeto
nha média da coluna vertebral: palpar, a laminado (arma branca), e este
3.3.2. RISCO ELEVADO DE LESÃO MEDULAR partir da base do crânio, todas as vértebras exerce seus efeitos diretamente
da coluna (da cervical ao cóccix), observando sobre as vísceras.
Inicialmente, convém apontar que o trauma pe- qualquer queixa do paciente.
netrante isolado não possui indicação de aplicação 2. Dor durante a rotação ativa do pescoço:
da RMC. Em geral, se um paciente não desenca- pedir ao paciente para girar sua cabeça (45º) SAIBA MAIS
deou lesão neurológica definitiva no momento em para ambos lados e, a partir da linha média,
Carga axial é uma carga que
que ocorreu um trauma penetrante, existe pouca realizar um movimento de flexão e um de ex-
atua ao longo do eixo central
preocupação com o desenvolvimento subsequen- tensão. Não se deve auxiliar o paciente nas do corpo. Uma carga axial age
te de uma lesão medular, mas, ainda sim, faz-se ur- tentativas de movimentação e deve-se parar sobre a coluna por meio de
gente o transporte para o hospital. imediatamente sob qualquer queixa de dor compressão discal e na execução
Quanto aos traumas contusos, deve-se realizar ou sensibilidade. dos movimentos anatômicos
a RMC em qualquer uma das seguintes situações: 3. Déficits neurológicos focais: solicitar ao de flexão, extensão, rotação e
• Pacientes com idade igual ou maior do que 65 paciente para flexionar o cotovelo de forma flexão lateral da coluna. E, nestas
condições mencionadas, quando
anos e mecanismo de lesão indicativo de TRM. ativa e contra resistência, estender o cotove-
sob o efeito de sobrecargas axiais
• Acidentes de trânsito com velocidade superior lo de forma ativa, apertar as mãos do socor-
relativas podem emergir as
a 100 km/h, capotamento ou ejeção. rista e separar dedos contra resistência. Para lesões.
• Colisões de motocicletas ou bicicletas. avaliar os membros inferiores, solicitar ao pa-
• Trauma com alta carga axial, como quedas aci- ciente fazer uma flexão plantar e uma flexão
ma de 2 metros de altura ou queda de objetos dorsal dos pés. Observar se há assimetrias
sobre a vítima. na redução de força de membros superiores/
• Pacientes que apresentem lesões supraclavi- inferior e direito/esquerdo. Por fim, pergun-
culares. tar ao paciente sobre sintomas como para-
lisia, paresia, dormência ou formigamento.
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 26
RESTRIÇÃO COMPLETA
SIM PARA TODOS
RESTRIÇÃO COM O TRONCO ELEVADO EM 30º
Sem a aplicação do colar cervical AVALIAÇÃO PREJUDICADA?
- Barreiras na comunicação
- Intoxicação (álcool/drogas)
ESTABILIZAÇÃO MANUAL DA CERVICAL - Lesões distratoras
MANTIDA EM TODAS AS MANOBRAS
NÃO
SUSPEITA DE
SE POSSÍVEL Risco elevado de lesão medular?
X
TCE COM PIC
AUMENTADA - Idade > 65 anos
- Acidentes de trânsito > 100km/h
C NÃO
entre macas ou durante a retirada do capacete de prolongada (ex.: durante transporte prolongado ATENÇÃO
um motociclista. ou em espera demasiada para transporte). Além
Deve-se ter em mente que o
disso, existe a possibilidade de que a utilização
colar cervical corretamente
3.4.1. APLICAÇÃO DO COLAR CERVICAL do colar cervical possa causar aumento da Pressão mensurado não pode restringir
Intracraniana (PIC) em pacientes com Trauma Cra- a abertura da boca do paciente,
Efetivamente, a serventia do colar cervical é tra- nioencefálico (TCE). obstruir ou atrapalhar sua
duzida por uma redução nos movimentos de flexão Ou seja, enquanto ele é seguro na maioria dos ventilação. Em alguns pacientes,
da cervical em 90%, limitando a sua extensão, além pacientes, o colar deve ser utilizado seletivamente principalmente obesos, pode
de promover uma redução de 50% nos movimen- em pacientes que apresentem TCE com evidências haver dificuldade para aplicar um
tos de rotação e inclinação lateral. Isto é, a limita- de aumento da PIC, dificuldades de respiração e/ colar cervical adequado, devendo
ser abandonada a aplicação e
ção não é total, permitindo ainda um certo grau de ou manutenção da permeabilidade de vias aéreas
mantida a estabilização manual
liberdade na movimentação da cabeça pela vítima, ou se for inviável a sua utilização (ex.: paciente agi-
da cabeça até o hospital.
o que deve ser controlado através de outros méto- tado, anatomia que dificulte a aplicação etc.).
dos complementares de estabilização. Os principais colares cervicais vendidos no mer-
O cerne na utilização de um colar cervical é a cado possuem tamanhos diferentes, sendo que a GLOSSÁRIO
proteção das vértebras na região cervical, princi- mensuração, de forma geral, é realizada por meio
A pressão intracraniana (PIC)
palmente quanto aos mecanismos de compressão, da comparação do espaço existente entre o trapé-
pode ser definida como a
aliviando a carga existente entre a cabeça e o tron- zio e a linha da mandíbula do paciente com a altura pressão hidrostática exercida
co, distribuindo-a ao longo do colar. Não obstan- do colar, conforme figura abaixo. Ainda, existem pelo líquido cefalorraquidiano
te, para cumprir corretamente o seu papel, o colar alguns tipos de colares que possuem altura regu- e sangue circulantes no espaço
deve ser escolhido e aplicado de maneira exata lável, podendo ser utilizados em diferentes pacien- subaracnóideo sobre as
para cada paciente específico, pois a sua utilização tes. estruturas encefálicas.
incorreta pode acarretar diversos efeitos colaterais.
Caso seja utilizado em um tamanho inadequa-
do, o colar não auxilia o paciente e pode ser mais
danoso se realmente houver uma lesão instável na
região cervical. Nessa situação, pode ainda desen-
cadear úlceras por pressão, necrose local e para-
lisia nervosa mandibular, se utilizado de maneira
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 29
Figura 13 Figura 14
Para aplicar corretamente o colar cervical em Caso o paciente esteja sentado, o colar cervical
um paciente em decúbito dorsal, procede-se da deve ser aplicado da seguinte forma:
seguinte forma: 1. Um dos socorristas mantém o alinhamento e
1. Um dos socorristas mantém o alinhamento e a a imobilização manual da cabeça e do pes-
imobilização manual da cabeça e do pescoço; coço; e
2. Outro socorrista mensura o colar e, após a 2. Outro socorrista mensura o colar e, após a
mensuração, introduz a parte posterior deste mensuração, posiciona a parte anterior deste
Figura 13. Mensuração do colar cervical
(que contém o velcro) por debaixo da nuca sobre o pescoço e a mandíbula do pacien- Fonte: CBMSC (2021)
do paciente e, em seguida, coloca a parte an- te, e, em seguida, passa a sua parte poste-
Figura 14. Aplicação do colar cervical
terior por cima do pescoço e da mandíbula, rior por detrás da nuca, terminando a fixação em paciente deitado
Fonte: CBMSC (2021)
fechando o colar com o velcro. com o velcro.
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 30
Figura 16
Figura 15
A utilização da maca scoop exige, no mínimo, 2
socorristas e deve ser executada da seguinte forma:
3.4.2. REMOÇÃO COM A MACA SCOOP
1. Enquanto um socorrista mantém a estabiliza-
A maca scoop, também conhecida como maca ção manual da cabeça, o outro ajusta a altura
telescópica ou maca colher, é um dispositivo de da maca de acordo com o paciente;
remoção regulável com duas partes iguais e sepa- 2. Após isto, a maca deve ser separada em duas
ráveis, confeccionado em metal (alumínio ou outro metades e cada metade deve ser colocada
metal leve) ou material polimérico (ex.: fibra de em lados opostos do paciente, não passan-
carbono), que consegue remover o paciente de do-as por cima deste;
alguma superfície sem manipulá-lo excessiva- 3. Fecha-se primeiramente as travas inferiores
mente e movimentando minimamente a coluna da maca (pés);
vertebral, considerado um equipamento padrão- 4. Com uma leve inclinação lateral do paciente,
-ouro em manipulação. encaixa-se cada uma das partes superiores
Sua utilização normalmente está associada à re- da maca por debaixo deste, cuidando para
Figura 15. Aplicação do colar cervical
tirada do paciente do solo, para colocação sobre não beliscá-lo; em paciente sentado
Fonte: CBMSC (2021)
a maca articulada ou sobre a maca a vácuo, e à 5. Fecha-se as travas superiores da maca (cabeça);
Figura 16. Maca scoop
transferência entre macas (ex.: entre o pré e o in- 6. Estabiliza-se a cabeça do paciente por meio Fonte: CBMSC (2021)
tra-hospitalar). de um tirante ou de uma fita tipo esparadra-
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 31
Figura 18
Figura 21
Lembre-se que, para os casos em que se faz 3.4.6. ARRASTO ENTRE MACAS Figura 25
necessária a prevenção da hipotermia, pode-
se cobrir o paciente imobilizado na maca a A entrega do paciente à equipe do atendimen-
vácuo com a manta aluminizada, lençol ou to intra-hospitalar exige que o paciente seja ade-
cobertor. quadamente transferido da maca articulada da am-
Figura 24. Utilização da maca a vácuo
bulância para a maca do hospital. Fonte: CBMSC (2021)
Nos casos de pacientes com RMC que estejam
Figura 25. RMC na maca articulada
hemodinamicamente instáveis, estes devem ser Fonte: CBMSC (2021)
Figura 24
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 37
entregues junto com a prancha rígida e esta só será lateralmente, com uma leve elevação e atentando-
removida após análise criteriosa e exames necessá- -se para realizar o arrasto de maneira coordenada.
rios realizados pelo médico responsável. Por outro
lado, os pacientes que não estejam sobre prancha
rígida podem ser transferidos para a maca do hos-
pital por meio da maca scoop ou por meio de ar-
rasto com padiola, manta ou lençol, que devem ser
colocados sobre a maca articulada antes da colo-
cação do paciente sobre esta.
Figura 27
4.1.1. PNEUMOTÓRAX
pneumotórax aberto. Nesse caso, o excesso de ar potensão, elevação do hemitórax sem movimento SAIBA MAIS
aumenta a pressão intratorácica, comprometendo respiratório e, tardiamente, cianose.
Mediastino é o espaço existente
a capacidade ventilatória e o retorno venoso ao Ao lidar com este tipo de vítima, o socorrista
entre os dois pulmões que
coração (caracterizado pela distensão da veia do deve inicialmente tamponar o local do ferimento, comporta estruturas como a
pescoço). O agravamento contínuo dessa situação usando a própria mão protegida por luvas, cobrir traqueia, o coração, o esôfago, o
pode fazer com que o mediastino seja empurrado o ferimento com um curativo oclusivo valvulado timo e parte dos sistemas nervoso
no sentido contrário à lesão, levando, inclusive, ao (selo de tórax) ou fazer um curativo oclusivo com e linfático. Ele é dividido em três
desvio da traqueia (vide figura a seguir). plástico ou papel alumínio (curativo de três pon- partes principais: mediastino
tas), o que bloqueará a entrada de ar na inspiração, anterior, mediastino posterior e
mediastino médio.
mas permitirá a sua saída na expiração. Se houver
um segundo ferimento na caixa torácica (exemplo:
saída de projétil), deve-se cobrir o ferimento com GLOSSÁRIO
um curativo oclusivo fechado. Ademais, deve-se
Retorno venoso é o movimento
ministrar oxigênio suplementar a 15 litros/minuto e
circulatório em que o sangue
conduzir o paciente para o hospital com urgência. desoxigenado é trazido de volta
ao coração.
O curativo de três pontas deve ser
Figura 33
quadrangular e cobrir todas as bordas da
lesão, fixando apenas três dos seus lados com
Essa tríade de pulmão em colapso, movimento esparadrapo ou similar. O objetivo é produzir
do mediastino e respiração ineficaz é o início de um efeito de válvula.
uma rápida deterioração do paciente e inabilidade
da vítima em manter a oxigenação. Essa situação
leva rapidamente o paciente a uma condição de
choque obstrutivo e, consequentemente, a morte.
Figura 33. Sinais característicos do
Considerando as particularidades de cada um pneumotórax hipertensivo
Fonte: ????????
dos tipos de pneumotórax, o socorrista irá se de-
Figura 34. Curativo 3 pontas
parar com um paciente apresentando dor torácica, Fonte: CBMSC (2022)
Figura 34
dispneia, desconforto respiratório, taquicardia, hi-
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 43
PERICÁRDIO
Os procedimentos a serem adotados pelo so- GLOSSÁRIO
PERICÁRDIO FIBROSO PERICARDIO SEROSO
do lesionar tecidos musculares e vasos sanguíneos, sim, a ruptura de costelas superiores tende a estar
fraturar costelas (arcos costais), e atingir, inclusive, associada a outras lesões torácicas graves, como
pulmões e coração. É comum este tipo de lesão contusão pulmonar e cardíaca, que serão aborda-
ocorrer em acidentes de trânsito em que a vítima das mais à frente. Por outro lado, as costelas infe-
colide seu tórax contra o volante do veículo. riores são mais comumente fraturadas, posto que
são mais finas e estão mais expostas.
É possível que a contusão lesione Neste tipo de lesão, a extremidade fraturada
diretamente o pulmão e as membranas pode lacerar músculos, vasos sanguíneos e até
pleurais, lacerando-os e gerando um os pulmões, podendo causar contusão pulmonar,
pneumotórax e/ou um hemotórax, abordados pneumotórax e/ou hemotórax associados à fratura.
anteriormente. Lembre-se que, nesse caso, Uma vítima com fratura de costela, além de
por ser um pneumotórax fechado, pode apresentar assimetria em relação às costelas ínte-
evoluir rapidamente para um pneumotórax gras, apresenta dor no peito ao respirar ou movi-
hipertensivo. mentar-se, e dificuldade respiratória, identificável
pelos movimentos respiratórios curtos. Ademais, à
palpação, o local lesionado da costela apresenta
4.2.1. FRATURA DE COSTELA (ARCOS COSTAIS) crepitação e sensibilidade.
O manejo deste tipo de lesão envolve inicial-
Apesar de os arcos costais estarem bem prote- mente a imobilização do braço da vítima sobre a
gidos pela musculatura peitoral, as fraturas nestes costela fraturada com bandagem triangular ou ou-
ossos são comuns no atendimento pré-hospitalar, tro tipo de bandagem, desde que mantenha fixo o
acometendo cerca de 10% das vítimas de trauma. braço sobre o tórax. Como o paciente apresenta
Dependendo da quantidade e dos locais das cos- restrição nos movimentos respiratórios, prejudican-
telas fraturadas, o paciente pode apresentar uma do a ventilação e a oxigenação, deve-se ministrar
simples fratura de costela ou uma situação conhe- oxigênio suplementar a 15 litros/minuto e transpor-
cida por tórax instável. tá-lo imediatamente para hospital.
A fratura das costelas superiores é uma situação
mais difícil de ocorrer em virtude da sua rigidez e
da proteção muscular que elas possuem. Sendo as-
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 46
da taxa ventilatória (taquipneia) é normalmente o fratura das costelas ao redor do esterno, caracte-
primeiro indício de que a condição do paciente está rizando uma situação conhecida por esterno ins-
se deteriorando devido a uma contusão pulmonar. tável, em que este movimenta-se paradoxalmente
Ao se deparar com essa situação, o socorrista durante a respiração.
deve voltar os esforços para garantir suporte ven- Ao atender uma vítima em que haja suspeita
tilatório e oxigenação à vítima (15 litros/minuto). de contusão cardíaca, o socorrista deve imediata-
Deve-se ainda monitorar a oximetria de pulso para mente manter suporte ventilatório e de oxigenação
averiguar a necessidade de ventilação positiva por (15 litros/minuto), e transportá-la com urgência ao
bolsa-válvula-máscara. Por fim, conduzir imediata- hospital.
mente o paciente ao hospital.
Nas lesões penetrantes que atingem o coração, 5. AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA GLOSSÁRIO
pode ocorrer a entrada de sangue no pericárdio, ABDOMINAL E PÉLVICO Herniação é o processo de criação
comprometendo gradativamente a capacidade de de uma hérnia, definida como
bombeamento do coração, causando uma situação Lesões causadas no abdômen e na pelve po- a protrusão de um tecido ou
denominada tamponamento cardíaco. dem ser provenientes de traumas penetrantes ou órgão, total ou parcialmente, da
Por outro lado, os traumas contusos no tórax contusos, de forma que múltiplos órgãos estão su- cavidade onde normalmente se
proporcionam fraturas nos arcos costais, podendo jeitos a sofrer os danos consequentes, como baço, encontra, através de um orifício
gerar uma situação conhecida por tórax instável, fígado, estômago, intestino, bexiga, entre outros. natural ou acidental.
em que duas ou mais costelas de um mesmo hemi- Apesar de não ser uma situação muito comum, é
tórax são fraturadas em mais de um local, criando possível que ocorra também laceração do diafrag-
um segmento instável que se movimenta parado- ma, permitindo o deslocamento (herniação) de ór-
xalmente durante a respiração. gãos abdominais para a cavidade torácica. Ainda
Por fim, foram abordadas a contusão pulmonar nesta lição, serão abordados alguns casos espe-
e a contusão cardíaca, condições que lesionam di- ciais que merecem a atenção dos socorristas para
retamente os alvéolos e as células miocárdicas, res- a identificação e manejo correto, como o empala-
pectivamente, prejudicando as capacidades respi- mento, a evisceração e o trauma de pelve.
ratórias e cardiovasculares do paciente.
alguma sensibilidade ou dor, ele imediatamente da localização deste, o socorrista deve suspeitar DICA
adotará uma postura de guarda sobre o local, in- dos possíveis órgãos atingidos.
Apesar de estar sendo abordado
dicando alguma lesão abdominal. Ao se deparar com um paciente com objeto
no trauma abdominal, o
cravado, o socorrista não deve tentar remover ou empalamento pode ocorrer
Baço movimentar o objeto. A partir daí, deve-se buscar em quaisquer outras regiões
Estômago
estabilizar o objeto no local do ferimento, por meio do corpo, adotando o mesmo
Maior parte do fígado Intestino delgado
Vesícula Intestino grosso
Intestino delgado
Intestino grosso
Parte do pâncreas do uso de ataduras ainda enroladas, fixadas nas procedimento para estabilização
do objeto.
Parte do pâncreas Diafragma
laterais do objeto com uso de outras ataduras ou
QSD QSE esparadrapos. No caso de hemorragia presente,
QID
Umbigo
QIE
deve-se realizar o controle do sangramento com
Apêndice
pressão manual direta e curativos compressivos
Intestino delgado
Intestino delgado
Intestino grosso
Intestino grosso nas laterais do objeto, sem jamais fazer pressão
Ovário esquedo (na mulher)
Ovário direito (na mulher)
Figura 41 que, de alguma forma, possa empurrar o objeto
empalado. Neste caso, não se deve realizar pal-
Como normalmente essa situação requer inter- pação no restante do abdômen ou pelve, já que
venção cirúrgica, o atendimento pré-hospitalar se existe o risco de agravar a lesão. Por fim, deve ofe-
resume em identificar as lesões abdominais, esta- recer apoio emocional, principalmente se o objeto
bilizar a vítima e conduzi-la o mais rápido possível estiver visível ao paciente.
para o hospital, fornecendo suporte ventilatório e
de oxigenação (15 litros/minuto), se necessário, e Eventualmente será necessário realizar o
prevenindo o choque. Nas próximas páginas, abor- corte do objeto para permitir o transporte
daremos aspectos específicos relacionados ao em- (ex: empalamento por vergalhão de ferro
palamento, eviscerações e fratura de pelve. muito longo). A ferramenta a ser empregada
varia conforme a necessidade do corte. Deve-
5.2. EMPALAMENTO se ter em mente que o objetivo será evitar
ao máximo as vibrações e torções do objeto.
Esta situação ocorre quando há algum objeto Algumas opções são: disco de corte, corta-
Figura 41. Quadrantes abdominais
cravado (faca, vergalhão, vidro etc.) em alguma re- vergalhão, ferramentas de resgate veicular. Fonte: Adaptado de Amaral (2009)
gião do corpo da vítima, sendo que, dependendo
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 51
3. deve-se passar a ponta solta da cinta por A imobilização com o uso de lençol deve ser DOWNLOAD
dentro da fivela e, enquanto um socorrista realizada da seguinte forma:
Imobilização com o uso de lençol:
segura a alça de apoio, o outro puxa a ponta 1. estando 2 socorristas situados em lados
https://www.youtube.com/
da cinta até ouvir o clique, indicando o ponto opostos do paciente, estes devem inicial-
watch?v=Omg79Ced6s0
ideal de estabilização; mente posicionar seus joelhos para estabili-
4. por fim, deve-se firmar a ponta da cinta sobre zar lateralmente a pelve da vítima;
o velcro. 2. deve-se passar o lençol previamente dobrado
por debaixo das pernas do paciente e posicio-
ná-lo na altura dos trocânteres maiores (fêmur);
3. por fim, deve-se passar as pontas soltas do
lençol por cima da cintura pélvica do pacien-
te, estabilizando-o firmemente e amarrando-
-as para finalizar (acesse o vídeo de demons-
tração).
Figura 46
Figura 45
à utilização da cinta pélvica ou do lençol para esta-
Figura 46. Imobilização com uso de
bilizar uma pelve fraturada, alegando ser possível lençol
Fonte: CBMSC (2021)
ocorrer novas lesões nesta região. Todavia, con-
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 54
forme estudos trazidos pelo manual PHTLS, não há Lembre-se, não se deve tentar repor as vísceras
indicação de piora na situação clínica da vítima na para dentro da cavidade abdominal e a manuten-
aplicação destes materiais, mesmo após a radiogra- ção da umidade do tecido eviscerado é de extre-
fia total da pelve apontar que não havia indicação ma importância.
para seu uso. Por fim, você compreendeu de que forma acon-
tece a fratura de pelve, principalmente aquela de-
Dessa forma, na situação de uma grave fratura nominada “livro aberto”, bem como os procedi-
de anel pélvico, com aumento de volume mentos relacionados para estabilizar esta região e
e com a possibilidade de uma hemorragia prevenir o agravamento da hemorragia associada,
fatal, a utilização precoce da cinta pélvica utilizando a cinta pélvica ou o lençol.
(principalmente) deve ser incentivada como Continuando nosso estudo, abordaremos os
uma medida que pode salvar vidas. detalhes relacionados ao trauma em extremida-
des (membros inferiores e superiores), um tipo de
Nesta lição você aprendeu sobre as lesões trauma muito comum em ocorrências de APH. Não
penetrantes e contusas que causam trauma ab- perca o foco!
dominal, incluindo os possíveis órgãos atingidos,
os principais sinais e sintomas apresentados pela
vítima e os procedimentos iniciais que devem ser
adotados nesta situação.
Falamos sobre o empalamento, situação em
que existe um objeto encravado na vítima. Neste
caso, o foco do socorrista é a estabilização do ob-
jeto, evitando o agravamento da lesão. Nunca se
deve tentar remover o objeto e deve-se cuidar para
não manipular excessivamente o paciente e agra-
var os danos internos.
Posteriormente, foram abordados os aspectos
essenciais para ser possível identificar e aplicar o
adequado tratamento ao evisceramento.
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 55
Por outro lado, as fraturas abertas ocorrem ou sensibilidade anormal nas extremidades. O pa-
quando uma das extremidades do osso fraturado ciente deve ter as vestes da extremidade removi-
perfura a pele de dentro para fora ou, menos comu- das para uma melhor visualização da área afetada.
mente, quando um trauma ou um objeto causa dano Na avaliação da fratura, deve-se prestar atenção
de fora para dentro, lesionando pele e músculos, e especificamente a:
fraturando o osso. Quando uma fratura é aberta para
o ambiente externo, ela fica sujeita a contaminantes • lesão de ossos e articulações: avaliação por
externos e, dessa forma, deve ser protegida para que meio da inspeção visual da extremidade para
não se desenvolva infecção óssea (osteomielite). O a presença de hematomas, edemas ou defor-
ferimento cutâneo pode gerar hemorragia significa- midades visíveis que possam representar fra-
tiva e deve ser prontamente controlado. turas, e da palpação da extremidade para a
Nem sempre é fácil identificar uma fratura aber- pesquisa de hipersensibilidade e crepitação;
ta. Existem situações em que a extremidade óssea • lesão de tecidos moles: visualmente, inspe-
perfura o tecido cutâneo e retorna para a cavida- cionar a presença de inchaços, lacerações,
de, deixando apenas o ferimento aberto sem evi- abrasões, hematomas e cor da pele. Deve-se
denciar a fratura. Por isso, é imprescindível uma considerar que um ferimento próximo a uma
avaliação atenta e pormenorizada do membro le- fratura aparente é uma fratura exposta;
sionado. • perfusão: a perfusão deve ser avaliada pela
identificação dos pulsos palpáveis mais dis-
6.1.4. AVALIAÇÃO DAS EXTREMIDADES tais (radial, na extremidade superior, e pe-
dioso, na extremidade inferior) e pelo enchi-
Sempre devem ser avaliados o pulso, cor da mento capilar nos dedos das mãos e pés. A
pele, sensibilidade e funções motoras distalmente ausência de pulsos distais das extremidades
aos locais com suspeita de fratura. Com exceção pode indicar uma ruptura de uma artéria ou
das hemorragias exsanguinantes, as quais são ve- a compressão de um vaso causado por uma
rificadas na avaliação primária do paciente, a ava- fratura;
liação das extremidades deve ocorrer na avaliação • função neurológica: a avaliação neurológica
secundária. Na avaliação de uma extremidade, de- de uma extremidade inclui a verificação da
ve-se considerar qualquer queixa de dor, fraqueza condição motora e sensorial da extremidade
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 59
analisada. A função motora pode ser avaliada a movimentação do membro lesado, reduzir a dor e
perguntando ao paciente inicialmente se este estabilizar os fragmentos ósseos presentes.
sente alguma fraqueza na extremidade afeta- Para o caso de uma fratura, a primeira considera-
da, bem como perguntando se tem capacida- ção antes da imobilização é controlar hemorragias e
de de abrir e fechar a mão e apertar o dedo do prevenir o choque. Antes do início da imobilização,
socorrista, ou pedir para o paciente mexer os o membro lesado deve ser reposicionado em posi-
dedos dos pés e empurrar a mão do socorrista ção anatômica normal, incluindo o uso delicado de
como se estivesse utilizando um pedal de ace- leve tração, se necessário, para alinhar a extremidade
leração. A função sensorial é avaliada por meio até seu comprimento normal. Todavia, se durante o
da palpação questionando ao paciente se sen- reposicionamento para a posição anatômica normal,
te quaisquer déficits ou perda de sensibilidade. existir resistência por parte do paciente, o membro
deve ser imobilizado na posição em que se encon-
tra. Este alinhamento possui o objetivo de controlar a
dor, facilitar a imobilização, estabilizar a fratura e me-
lhorar a perfusão e a circulação.
Figura 54
Figura 56
FÁSCIA
MÚSCULO
FIBRA TENDÃO
MUSCULAR
OSSO
Figura 59
na extremidade, enquanto o edema de terceiro es- básicas de suporte de vida, removendo quaisquer
paço ocorre quando o fluxo sanguíneo no músculo curativos ou talas apertadas na extremidade lesio-
atingido está diminuído ou ausente, e este fluxo é nada e transportá-la imediatamente ao hospital,
restabelecido subitamente. reavaliando constantemente a perfusão distal para
Uma vítima com síndrome compartimental monitorar a evolução do quadro. Não se deve ele-
apresenta dor intensa e alteração na sensibilidade var o membro na tentativa de reduzir o inchaço,
da extremidade, podendo esta estar aumentada, visto que a gravidade pode aumentar mais ainda a
reduzida ou até mesmo ausente. A dor é descrita pressão interna. O ideal é manter a extremidade no
como desproporcional em relação à dor da lesão nível do coração.
sofrida, sendo aumentada até com uma simples
movimentação, como mexer os dedos nas extremi- 6.3. EXTREMIDADE MUTILADA
dades. Paralelamente, a diminuição do fluxo san-
guíneo nas extremidades pode refletir em sensa- Uma extremidade mutilada é uma lesão com-
ção de dormência. Há ainda sinais tardios clássicos plexa resultante da transferência de alta energia,
que indicam a suspeita de síndrome compartimen- onde ocorrem danos significativos em vários seg-
tal, como a ausência de pulso, palidez e paralisia mentos, como pele, músculos, tendões, ossos, va-
nas extremidades. sos sanguíneos e nervos. Esta situação é comum
em acidentes de trânsito em alta velocidade en-
volvendo colisão ou atropelamento por carros e
motos. A maioria dos casos de mutilação de extre-
midades envolve fraturas abertas e graves, e nem
sempre é possível a recuperação do membro le-
sionado.
Ao se deparar com uma vítima com extremi-
dade lesionada, o socorrista pode encontrá-la em
Figura 61
choque devido à perda sanguínea excessiva ou às
hemorragias internas decorrentes dos mecanismos
Figura 61. Membro inferior com
Diante de uma vítima com síndrome comparti- de trauma que causaram a lesão. Dessa forma, na síndrome compartimental
Fonte: Tavares (2021)
mental, o socorrista deve aplicar apenas manobras maioria das vezes, faz-se necessário o uso de um
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torniquete para cessar o sangramento e adotar reflexa, fazendo com que os vasos sanguíneos se
procedimentos para prevenir o choque. Se as con- retraiam e se contraiam, parando a hemorragia.
dições do paciente permitirem, a extremidade le- Esta resposta não é comum em uma separação
sionada deve ser imobilizada e deve-se conduzi-lo parcial, de forma que não é criada a vasoconstrição
com urgência ao hospital. e o sangue continua extravasando pela lesão.
Figura 62 Figura 63
pela lesão e devem cuidar das situações que 6.5. SÍNDROME DE ESMAGAMENTO GLOSSÁRIO
ameacem a vida do paciente a curto prazo,
Coto é a parte restante de um
com foco na avaliação primária. Assim que o Uma extremidade esmagada por um trauma
membro do corpo humano
paciente receber o tratamento adequado, seu pode gerar uma situação denominada rabdomió- amputado.
foco deverá ser a localização da extremidade lise, uma grave condição associada a uma lesão
amputada para condução com o paciente ao muscular na extremidade afetada e consequente A mioglobina é uma pequena
hospital liberação do conteúdo intracelular, incluindo po- proteína transportadora de
tássio e mioglobina em excesso. É comum ocorrer oxigênio encontrada nos
Durante o atendimento de um paciente com esta síndrome em pessoas que fiquem presas em músculos esqueléticos e cardíaco.
amputação, o socorrista deve inicialmente contro- estruturas colapsadas (desabamentos e desmoro-
lar qualquer hemorragia grave presente e prevenir namentos), colisão de automóveis e encarceramen-
o choque, finalizando com um curativo limpo e es- to em máquinas e equipamentos. DICA
téril sobre o coto. No momento em que o membro é esmagado,
No interior das viaturas não há
Feito isto, deve-se cuidar da extremidade am- a rabdomiólise ocorre, porém, o objeto que o está
disponibilidade de gelo. Sendo
putada, limpando-a delicadamente com solução esmagando mantém o conteúdo intracelular preso assim, solicite ajuda de civis
de soro e envolvendo-a em gaze estéril umedecida no interior desta extremidade. Quando o objeto é sempre que possível.
com soro. Por fim, colocá-la em um saco plástico removido, ocorre o restabelecimento da perfusão
ou recipiente, rotulando-o e colocando-o em um sanguínea e as elevadas quantidades de potássio e
recipiente com gelo triturado para transporte junto mioglobina são liberadas na circulação. Níveis ele-
ao paciente. Deve-se ter em mente que o transpor- vados de potássio podem resultar em arritmias car-
te do paciente não deve ser atrasado pela procura díacas potencialmente fatais, enquanto a mioglobi-
da parte amputada. Além disso, a unidade hospi- na livre em excesso poderá produzir insuficiência
talar que receber este paciente deve ser comuni- renal.
cada de forma antecipada à chegada do paciente Para suspeitar de uma síndrome de esmaga-
amputado. mento, o socorrista deve identificar as seguintes
situações:
Não se deve congelar a extremidade amputada • aprisionamento por um período prolongado;
colocando-a diretamente no gelo ou utilizando • lesão traumática da massa muscular;
outro tipo de refrigeração como gelo seco. • comprometimento da circulação na área lesada.
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7. QUEIMADURAS
Figura 68
Figura 66
Figura 70 Figura 72
Por fim, a queimadura de 4º grau é uma quei- 7.2. SUPERFÍCIE CORPORAL TOTAL
madura que ultrapassa as camadas da pele, com- QUEIMADA (SCTQ)
prometendo também o tecido adiposo, os múscu-
los e os ossos, podendo, inclusive, atingir órgãos Para estimar a Superfície Corporal Total Queima-
internos. Caracteriza-se por carbonização do teci- da (SCTQ) de maneira rápida no ambiente pré-hos-
do, este se encontra enegrecido, duro, e não apre- pitalar utiliza-se principalmente a Regra dos Nove.
senta sangramento local. A Regra dos Nove ajuda a avaliar a extensão das
queimaduras com distribuição irregular e é a fer-
ramenta preferencial para calcular e documentar a
extensão da queimadura. Esta forma de avaliação
divide o corpo humano em doze regiões, sendo que
cada região representa 9%, ou múltiplos de 9%, da
superfície corporal total e a região genital equivale
a 1%. Existem adequações desta avaliação quando
Figura 70. Vítima de queimadura de 3º
tratamos de crianças, haja vista que as proporções grau
Fonte: Viana (2021)
são diferentes, onde cabeça e pescoço ocupam
Figura 71. Queimadura de 4º grau
uma maior proporção e a região genital encontra-se Fonte: PHTLS (2018)
incluída nos membros inferiores, conforme segue:
Figura 72. Vítima de queimadura de 4º
grau
Figura 71 Fonte: Garrido (2012)
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Criança Adulto
9
Bebê 18
9 9
4,5 4,5
4,5 4,5
18 4,5 4,5 9
9
18 18
18 1
9 9 18
1
9 9 9 9
1 7 7 7 7
13 13
Figura 73
crianças e menos de 20% SCTQ em adultos), sem nhada de intoxicação. Queimaduras nos olhos po- ATENÇÃO
dano ao sistema respiratório, face, mãos, pés, ge- dem causar cegueira, e no períneo, infecção.
Evite submergir a área queimada
nitais e nádegas.
em água corrente, pois pode
Diante desta situação, o socorrista deve expor É importante frisar ainda que a maior causa desencadear um processo de
e resfriar a área queimada imediatamente após de morte precoce é por inalação de fumaça. hipotermia no paciente.
a lesão, sendo que o melhor é submergir a área
queimada em água corrente por aproximadamen- Ao se deparar com queimaduras maiores, o
te 3 a 5 minutos. Feito isso, deve-se retirar anéis, socorrista deve inicialmente deter o processo da DICA
braceletes, cintos de couro, sapatos, entre outros lesão, por abafamento com tecidos grossos ou
Caso não disponha de curativos
acessórios presentes na área lesionada, e cobrir o orientando a vítima a parar, deitar e rolar. Feito isto,
específicos, podem ser utilizadas
ferimento com um curativo úmido, frouxo e estéril, deve-se avaliar o paciente, mantendo as vias aéreas gazes ou compressas umedecidas
a fim de prevenir contaminação e garantir alívio da permeáveis, observando a qualidade e a frequên- em soro fisiológico.
dor ao paciente. Por fim, deve-se conduzir o pa- cia da respiração, ofertando oxigenação com alto
ciente para o hospital adequado. fluxo (15 litros/minuto) e expondo a(s) área(s) quei-
mada(s).
7.3.2. QUEIMADURAS MAIORES Após expor a área queimada, deve-se aplicar
um curativo específico para queimaduras, se dis-
Qualquer queimadura de 2º, 3º e 4º graus que ponível, ou curativo estéril e não aderente, evitan-
cubra toda a área corporal ou áreas críticas, ou ain- do umidificá-lo, pois há o risco de instalação de um
da de 1º grau que cubra todo o corpo ou o sistema quadro de hipotermia. Por fim, deve-se prevenir o
respiratório. choque e transportar o paciente para o hospital,
Queimaduras em mãos, pés, face, olhos e perí- oferecendo suporte emocional.
neo são consideradas lesões graves em áreas críti- Alguns cuidados devem ser tomados a fim de
cas, pois podem levar a diversas complicações de- não agravar a situação de uma vítima de queima-
pendendo da área atingida. Mãos e pés queimados dura maior:
podem trazer incapacidade permanente após cica-
trização, visto que o local queimado fica retraído. A • não aplicar qualquer tipo de creme, pomada
face sofre desfiguração e, por inalação de fumaça, ou antibióticos tópicos convencionais;
as vias aéreas podem sofrer queimadura acompa- • não estourar bolhas;
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• não retirar pedaços de roupa aderidos na A gravidade da lesão química é determi- FATO OU FAKE
pele; e nada por quatro fatores: natureza da substância,
Não se deve utilizar quaisquer
• cuidar para não juntar dedos queimados sem concentração da substância, duração do contato
métodos alternativos de
separá-los com curativos estéreis. e mecanismo de ação da substância. Sendo que
antídotos, pois a reação térmica
as queimaduras por álcalis geralmente são mais com a substância poderá produzir
Dependendo da extensão da queimadura graves pois estes penetram mais profundamente, calor e piorar a queimadura.
e da distância do local da ocorrência, alguns exemplos de álcalis cáusticos podem ser a
não hesitar em acionar apoio de equipes soda cáustica e a potassa cáustica.
para medicação do paciente, visando Para prestar um atendimento pré-hospitalar ade- ATENÇÃO
especialmente controle da dor. quado deve-se atentar para os seguintes aspectos:
Algumas substâncias químicas
1. Dimensionar a cena atentando para a seguran-
não podem ser retiradas com o
ça da equipe e da cena, usando EPIs apropria- uso de água, por conta do risco
7.4. CASOS ESPECIAIS dos; de reação e agravamento da
2. Limpar e remover substâncias químicas da pele situação. Para saber mais sobre
A seguir serão apresentados alguns aspectos do paciente e das roupas (removendo-as) antes este assunto, consulte o Manual
específicos relativos a casos especiais de queima- de iniciar a lavação; de Capacitação em Produtos
duras, como as químicas, as elétricas e a inalação 3. Lavar o local queimado com água limpa corren- Perigosos!
de fumaça. te por aproximadamente 15 a 20 minutos;
4. Cobrir com curativo estéril toda a área de lesão;
7.4.1. QUEIMADURAS QUÍMICAS 5. Se a lesão ocorrer nos olhos, deve-se lavar o
olho com água corrente, colocar um curativo
Consideramos uma queimadura química sobre ele e umedecê-lo a cada 5 minutos;
quando o tecido vivo da vítima é exposto a alguma 6. Prevenir o choque e transportar oferecendo su-
substância cáustica (corrosiva), vindo a lesioná-lo. porte emocional.
Este tipo de queimadura é comum não apenas em 7. Se possível, conduzir amostra da substância em
ambientes fabris, mas também no ambiente resi- invólucro plástico.
dencial, onde estão presentes diversos produtos
domésticos (ex.: desinfetantes, desodorizantes,
branqueadores etc.).
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7.4.2. QUEIMADURAS ELÉTRICAS 1. dimensionar a cena, gerenciar riscos e, se ne- SAIBA MAIS
cessário, acionar suporte avançado;
Você sabia que existem
Uma queimadura elétrica é ocasionada por 2. realizar a avaliação primária, estando sempre equipamentos para identificação
uma corrente elétrica que passa pelos tecidos, preparado para realizar manobras de ressus- rápida de linhas energizadas?
queimando-os. As queimaduras elétricas frequen- citação; Mesmo em fios de alta
temente são mais graves do que parecem à inspe- 3. atentar para a possibilidade de outros trau- tensão! Faça contato com a
ção externa, e as extremidades, especialmente os mas associados, como quedas com fraturas concessionária de energia do
dedos, estão particularmente propensos à lesão. de membros, trauma cranioencefálico etc; município da sua OBM para
saber mais e realizar parcerias de
Além disso, a corrente passa por vasos sanguíneos 4. identificar o local das queimaduras, sendo
treinamentos!
e nervos, podendo causar tromboses locais e le- dois pontos (um de entrada e um de saída da
sões nervosas. fonte de energia);
Uma vítima de queimadura elétrica apresenta 5. aplicar curativo estéril sobre as áreas queima-
queimaduras externas nos pontos de contato com das;
a fonte elétrica e com o chão, porém a extensão do 6. prevenir o choque;
aparente dano tecidual de uma queimadura elétri- 7. conduzir a vítima com monitoramento cons-
ca não reflete precisamente a magnitude da lesão. tante.
Os problemas mais graves produzidos por
uma descarga elétrica são: parada respiratória ou 7.4.3. INALAÇÃO DE FUMAÇA
cardiorrespiratória, dano no sistema nervoso cen-
tral e lesões em órgãos internos. Na lesão causada por fumaça há três ele-
Para prestar um atendimento pré-hospitalar mentos causadores de danos, sendo eles a lesão
adequado, o socorrista deve atentar-se para os se- térmica (inalação do vapor), a asfixia por gases
guintes aspectos: liberados pela queima (monóxido de Carbono -
CO e gás Cianeto-CN) e a lesão pulmonar tardia
Pelo risco de choque elétrico, só se deve dar induzida por toxina (principal causa de morte em
início ao atendimento quando a cena estiver incêndios), pelo acúmulo das partículas de fumaça
segura. nos bronquíolos, dificultando as trocas gasosas e
aumentando o risco de pneumonia.
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Nestes casos, a via aérea é muito vulnerável fim, deve-se transportar o paciente para um centro
à obstrução pela exposição ao calor, devendo-se de referência em queimados (caso houver) sob mo-
ficar atento aos sinais e sintomas indicativos de ina- nitoramento constante.
lação de fumaça: Nesta lição, você aprendeu sobre as queima-
1. Queimaduras provocadas em espaços confi- duras, um trauma extremamente preocupante que
nados; pode acometer inclusive um profissional bombeiro
2. Confusão ou agitação e/ou histórico de con- que venha a se acidentar em uma ocorrência de
finamento no local do incêndio; incêndio.
3. Queimaduras em face, região cervical e/ou Foi abordada a classificação das queimaduras
tórax; de acordo com a gravidade e a profundidade de-
4. Explosão com presença de queimaduras na las, sendo categorizadas do 1º ao 4º grau de ma-
região da cabeça e tronco; neira crescente em gravidade.
5. Chamuscamento de sobrancelhas ou pelos Além disso, você aprendeu a calcular a superfí-
nasais; cie corporal total queimada (SCTQ) de acordo com
6. Fuligem no escarro; e a regra dos nove. Este cálculo é um procedimento
7. Rouquidão, perda de voz ou estridor. importante para atribuir à queimadura a classifica-
ção de menor ou maior, adequando o tratamento
Antes de iniciar o atendimento, o socorrista pré-hospitalar de acordo com a dimensão da quei-
deve dimensionar a cena, atuando somente com madura.
EPIs adequados e cena segura e, após isto, remo- Por fim, foram abordados alguns casos espe-
ver o paciente para um local seguro e livre de fu- ciais envolvendo lesões por queimaduras, quais se-
maça. Se não houver suspeita de trauma, deve-se jam as queimaduras químicas, elétricas e a inalação
colocar o paciente em posição sentada ou semi- de fumaça. Cada caso possui suas peculiaridades e
-sentada para o atendimento. É importante manter os cuidados específicos a serem tomados durante
suporte ventilatório e de oxigenação (15 litros/mi- o atendimento.
nuto), aquecer o paciente com manta térmica para Na próxima lição, vamos aprender sobre o
prevenir o choque e estar atento para sinais de di- afogamento, um tipo de trauma bem comum em
ficuldade respiratória, acionando apoio de equipe nosso estado, em virtude do nosso longo litoral de
de suporte avançado, caso exista no município. Por praias bonitas. Vamos “mergulhar” nesse tema?
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Figura 74
tabelecimento rápido da ventilação e da perfusão gidez cadavérica, livor mortis, decomposição cor-
do afogado, de forma a garantir melhores chances poral etc.). Fora isso, todos os esforços devem ser
de sobrevida. envidados para a reanimação do afogado.
As complicações tardias dos indivíduos que so- Em raros casos, obteve-se sucesso na reanima-
brevivem ao episódio de afogamento são aquelas ção de pessoas que permaneceram submersas por
decorrentes da aspiração de água (edema pulmonar longos períodos em águas geladas, permanecendo
e infecções graves), que levam a vítima à morte. Re- cerca de 1 hora sob a água, obtendo ainda recu-
sumindo, se a pessoa é resgatada viva, o quadro clí- peração parcial ou total das funções neurológicas.
nico é determinado predominantemente pela quan- Não restam dúvidas de que estes são pontos fora
tidade de água que foi aspirada, seus efeitos sobre da curva, no entanto, eles ressaltam que existem
o organismo e certos fatores de sobrevivência. alguns fatores que contribuem claramente para so-
brevida e recuperação de um afogado.
8.3. FATORES DE SOBREVIVÊNCIA
8.3.1. FATORES ASSOCIADOS À VÍTIMA
Uma vítima de afogamento só pode ser decla-
rada morta e sem chances de sucesso com a exe- Mesmo após a submersão, a troca gasosa entre
cução de RCP, se o seu tempo de submersão for oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) continua
Figura 74. Fisiopatologia do
comprovadamente maior do que uma hora ou se ocorrendo nos pulmões, uma vez que uma certa afogamento
Fonte: Vasconcelos (2012)
ela apresentar sinais evidentes de morte (ex.: ri- quantidade de ar atmosférico (volume residual)
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permanece no órgão. Ou seja, ainda que a venti- Esta manobra natural permite que o organismo CURIOSIDADE
lação tenha sido temporariamente interrompida, a sobreviva por mais tempo mesmo em condições
O reflexo mamífero de mergulho
hematose continua a ocorrer nos alvéolos pulmo- críticas de oxigenação, sendo que, quanto mais fria
é mais comum em crianças,
nares e um certo grau de saturação de O2 ainda é a água, mais intensificado é o processo. Em função tendo sua efetividade diminuída
mantido no sangue. Essa quantia de oxigênio dis- disso, uma vítima de afogamento deve receber os com a idade.
ponível no sangue é capaz de garantir uma maior cuidados de reanimação mesmo quando não estiver
chance de sobrevida às células dos sistemas vitais respirando há bastante tempo. Como dito anterior-
do organismo, como o Sistema Nervoso Central. mente, já houve casos de submersão prolongada
Dessa forma, durante as fases iniciais do afo- em águas geladas em que pacientes foram reanima-
gamento, uma vítima que faça um grande esforço dos com sucesso, apresentando recuperação parcial
de luta possui menor risco de ser reanimada com e, por vezes, total da função neurológica.
sucesso e/ou sem sequelas permanentes. O exces- Por fim, outro fator importante a ser levado em
so de esforço muscular proporciona maior produ- consideração são as comorbidades ou lesões as-
ção de calor e aumenta a vasodilatação, fazendo sociadas à vítima de afogamento. O risco de com-
com que se aumente a demanda pelo consumo do plicações futuras em uma pessoa que padeça de
oxigênio residual e, consequentemente, resultando convulsões ou problemas cardiovasculares, e venha
em maior produção de dióxido de carbono e ácido a se afogar, são bem maiores. O mesmo acontece
lático, agravando a hipoxemia e a acidemia. no caso de um TCE que antecipe o afogamento,
Por outro lado, quando submerso no ambien- situação de extrema gravidade e risco de morte ao
te aquático, o ser humano apresenta uma condi- indivíduo.
ção em comum com muitos outros mamíferos,
um processo conhecido como reflexo mamífero 8.3.2. FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO
de mergulho. Durante esta condição, um quadro
de bradicardia é instalado, acompanhado de uma O tempo de submersão é um dos principais
acentuada vasoconstrição periférica, fazendo com preditores de sobrevivência de um afogamento,
que o sangue ainda rico em oxigênio seja direcio- sendo inversamente proporcional ao risco de mor-
nado e utilizado preferencialmente por órgãos no- te e/ou danos celulares permanente causados pela
bres, como cérebro, coração e pulmões. hipóxia, conforme apontado abaixo:
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA • TÓPICOS INTRODUTÓRIOS: EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS 80
situação concreta, os socorristas devem ser capa- no afogamento, uma possível parada respiratória CURIOSIDADE
zes de realizar um atendimento completo desde a isolada ou ainda uma parada cardiorrespiratória re-
Um vasto estudo desenvolvido
abordagem inicial da vítima até o seu transporte à sultam basicamente da falta de oxigênio. Dessarte,
por Szpilman (1997) demonstrou
unidade hospitalar. a oferta de O2 deve ser prioridade no atendimento que a taxa de mortalidade de
do afogado. afogados que apresentaram
8.5.1. AVALIAÇÃO DO AFOGADO sintomas iniciais leves ou
Lembre-se que, até que se prove o contrário, moderados varia de 0,6% a 5%.
Principalmente se forem os primeiros a chegar toda vítima de afogamento deve ser
na cena, é importante que os socorristas saibam considerada hipoxêmica e hipotérmica.
identificar a gravidade do afogamento de acordo
com os sinais e sintomas apresentados pela vítima, Em virtude dos possíveis danos neurológicos
adequando o tratamento que for conveniente. Em que podem estar associados ao afogamento, o so-
certas situações, uma vítima de afogamento pode corrista deve executar uma avaliação neurológica
não apresentar sintomas consideráveis durante a conforme a Escala de Coma de Glasgow, anotando
avaliação do socorrista e, inclusive, recusar o trans- o resultado que servirá como parâmetro para o esta-
porte até o hospital. Nesses casos, deve-se apro- belecimento de um prognóstico do paciente. Deve-
veitar o momento para explanar sobre a possibili- -se realizar também o correto manejo da hipotermia,
dade do aparecimento tardio de sinais e sintomas, removendo trajes molhados, cobrindo a vítima com
bem como de possíveis complicações secundárias mantas secas e monitorando a sua temperatura.
à lesão pulmonar que podem levar à morte. No caso de um afogamento secundário associado
Devido a hipoxemia ser a principal complicação ao trauma, deve-se suspeitar de possível trauma de
fisiopatológica no afogamento, ao abordar a víti- cabeça e cervical, realizando o correto manejo dessas
ma, o socorrista deve proceder conforme a ordem e de outras lesões que possam estar presentes.
usual do protocolo de pacientes de trauma (vias
aéreas, respiração e circulação), priorizando as in- 8.5.2. CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DO AFOGAMENTO
tervenções que garantam o restabelecimento ade-
quado da ventilação, dos níveis de saturação de De acordo com os sinais e sintomas identificados
oxigênio e da circulação. Deve-se ter em vista que, durante a avaliação, o socorrista terá subsídios para
classificar a gravidade do afogamento e, a partir dis-
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so, adotar as manobras adequadas de suporte bási- GRAU SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO
co de vida para cada caso. A classificação do afoga-
mento pelo nível de gravidade tem caráter evolutivo 2 - Tosse com espuma - Tosse com espuma
na boca e/ou nariz. na boca e/ou nariz.
e deve ser estabelecida no local do afogamento.
-Oxigenoterapia
Caso a vítima resgatada não apresente sinais de (máscara facial ou
cateter nasal) com
tosse, espuma na boca e/ou nariz, nem dificuldade fluxo de 5 L/min.
para respirar, deverá ser liberada no próprio local da - Repouso,
ocorrência. Neste caso, esta ocorrência não se en- aquecimento e
tranquilização.
quadra dentro de um grau de afogamento e é sim-
- Transporte em
plesmente classificada como um resgate. A tabela a posição lateral de
seguir apresenta cada grau de afogamento, os sinais segurança até a
unidade hospitalar.
e sintomas apresentados pela vítima, bem como o
respectivo tratamento que deve ser adotado.
GRAU SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO Lembre-se que, para realizar as manobras SAIBA MAIS
de RCP no afogamento, o CBMSC segue o
6 - Paciente - Manejo de vias A SOBRASA funciona como um
protocolo indicado pela Sociedade Brasileira
irresponsivo. aéreas e avaliação da conselho profissional que tem
respiração. de Salvamento Aquático (SOBRASA), sendo como objetivo principal prevenir
- Parada
cardiorrespiratória. - Se respiração ciclos de 30 compressões por 2 ventilações afogamentos, estabelecer as
ausente, realizar
5 ventilações de
(30x2) quando há apenas um prestador e 15 melhores técnicas e uniformizar
resgate e checar compressões por 2 ventilações (15x2) quando e difundir o conhecimento. Saiba
circulação:
há 2 prestadores. mais em https://www.sobrasa.
a) se circulação org/.
ausente, iniciar
manobras de RCP, Em uma vítima irresponsiva, a realização de
checando circulação
e respiração após ventilações de resgate pode ser o suficiente para
2 minutos de reverter a hipoxemia, a acidemia e até mesmo uma
reanimação.
parada respiratória isolada. Caso ocorra o retorno
b) se retorno
da circulação e espontâneo da respiração, mesmo apresentando
respiração ausente,
tosse e ruídos, e não haja contraindicação, o pa-
tratar como grau 5.
c) se retorno da
ciente deve ser colocado em posição lateral de se-
circulação e da gurança para transporte e monitorado constante-
respiração, tratar
como grau 4. mente sua capacidade ventilatória e de circulação.
- Oxigenoterapia
(BVM) com fluxo de
15 L/min.
A posição lateral de segurança dificulta a aspi- da boca, depois reposicionada à posição anterior FATO OU FAKE
ração de muco e vômito, bem como impede a obs- e a RCP deve ser continuada. A RCP pelos socor-
O soco precordial (golpe com
trução das vias aéreas pela queda da língua. Além ristas só deve ser interrompida se a vítima voltar a
o punho fechado sobre o osso
disso, conforme afirma Szpilman (2019), o decúbi- apresentar os sinais vitais (circulação sanguínea e
esterno) e a compressão do
to lateral direito favorece a drenagem de água do respiração), se os socorristas chegarem à exaustão abdome para drenagem da
pulmão esquerdo para o direito, preservando um ou se uma equipe de suporte avançado chegar ao água aspirada são manobras
dos lados dos pulmões e melhorando a capacida- local e assumir o atendimento. consideradas inadequadas para
de respiratória da vítima. O uso do desfibrilador externo automático serem usadas em campo. A
Deve-se ter em mente que, quanto maior o (DEA) durante as manobras de reanimação de um primeira por não possuir eficácia
grau do afogamento, menores serão as chances afogado pode ser viável em afogamentos secundá- comprovada na reversão da PCR e
a segunda por induzir vômito na
de sobrevivência da vítima. Desse modo, cabe ao rios, pois a parada cardiorrespiratória pode apre-
vítima de afogamento.
socorrista realizar todos os procedimentos adequa- sentar ritmos chocáveis, conforme abordado na
dos, com destaque para a prática de uma RCP de lição de reanimação cardiopulmonar. Não se es-
alta qualidade no local, mantendo a permeabilida- queça que, antes de utilizar o desfibrilador em
de das vias aéreas da vítima, posicionando-a sobre uma vítima de afogamento, o tórax deve estar
uma superfície plana rígida, selando corretamente seco.
a máscara a sua face, garantindo uma profundida-
de adequada durante as manobras e respeitando A obra Tópicos Introdutórios: Suporte
a relação correta entre compressões e ventilações. Básico à Vida descreve a utilização correta
O socorrista deve ficar atento durante a realiza- do desfibrilador externo automático em
ção da RCP, de forma a verificar periodicamente a uma parada cardiorrespiratória, caso tenha
ocorrência de respostas por parte da vítima e de- dúvidas, retorne lá.
cidir pelo prosseguimento ou não das manobras.
Se vier a ocorrer vômito durante a reanimação, a Você aprendeu que o afogamento pode ser
cabeça da vítima deve ser lateralizada para limpeza definido como a aspiração de líquido causada por
submersão ou imersão, e, dependendo da causa,
pode ser classificado em primário ou secundário.
Após isto, foram abordados os principais fatores
de sobrevivência relacionados ao afogamento (rela-
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BERNOCHE, Claudia et al . Atualização da Diretriz de Ressuscitação Car- SOCIEDADE BRASILEIRA DE SALVAMENTO AQUÁTICO (SOBRASA). Afo-
diopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade gamentos. Curso de emergências aquáticas. Manual resumido - 2019
Brasileira de Cardiologia - 2019. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 113, - versão fevereiro. David Szpilman (Org). Disponível em: Acesso em: 25
n. 3, p. 449-663, Sept. 2019. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. set 2020.
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iso>. Acesso em 25 set 2021. Epub Oct 10, 2019. https://doi.org/10.5935/ SZPILMAN, David. Near-drowning and drowning classification: a proposal
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3, p. 660-665, 1997.
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