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RESUMOS DE DIREITO

PROCESSUAL CIVIL I

I. COORDENADAS GERAIS 3
1. NOÇÕES PRELIMINARES 3
2. SUJEITOS DO PROCESSO CIVIL 4
2.1 TRIBUNAL 4
A. TIPOS DE TRIBUNAIS 4
B. ATIVIDADE DO TRIBUNAL 6
2.2 PARTES 7
3§ OBJETO DO PROCESSO CIVIL 10
4§ ESTRUTURA DO PROCESSO CIVIL 10
4.1 ATOS PROCESSUAIS 11
A. ATOS DO TRIBUNAL 11
B. ATOS DAS PARTES 12
C. PRAZOS PROCESSUAIS 14
4.2 INVALIDADES PROCESSUAIS 14
5§ MEIO DO PROCESSO CIVIL 17
5.1 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 17
6§ FIM DO PROCESSO CIVIL 20
7§ CLASSIFICAÇÕES DO PROCESOS CIVIL 20
8§ PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 22
8.1 PRINCÍPIO DO PROCESSO EQUITATIVO 22
8.2 DIREITO À AÇÃO 23
8.3 PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE 24
8.4 PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO 24
8.5 PRINCÍPIO DA GESTÃO PROCESSUAL 27
8.6 PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO 28
8.7 PRINCÍPIO DA IGUALDADE DAS PARTES 30
8.8 PRINCÍPIO DA BOA FÉ 31
8.9 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL 33
8.10 PRINCÍPIO DA AUTO-SUFICIÊNCIA 34

II. AFERIÇÃO DOS PRESSUPOSTOS RELATIVOS AO TRIBUNAL 34


9§ COMPETÊNCIA INTERNACIONAL 34
9.1 REGULAMENTO 1215/2012 35
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A. ÂMBITO DE APLICAÇÃO 35
I. MATERIAL 35
II. TEMPORAL 35
III. ESPACIAL 35
- Regras de Competência 35
- Situações de Competência Exclusiva (art. 24 do Reg.) 39
- Pactos de Jurisdição - art. 25 do regulamento 40
- Controlo da Competência 42
9.2 DIREITO INTERNO 42
10§ COMPETÊNCIA INTERNA 44
10.1 COMPETÊNCIA TERRITORIAL 46
10.2 DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA INTERNA DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS 46
A. TRIBUNAL DE COMARCA 47
B. TRIBUNAIS DA RELAÇÃO 50
C. STJ 51
10.2 REGIME DA INCOMPETÊNCIA 51

III. AFERIÇÃO DOS PRESSUPOSTOS RELATIVOS ÀS PARTES 55


11§ PERSONALIDADE JUDICIÁRIA 55
12§ SUJEIÇÃO À JURISDIÇÃO PORTUGUESA 58
13§ CAPACIDADE JUDICIÁRIA 59
13.1 REPRESENTAÇÃO 59
A. ORGÂNICA 59
B. REPRESENTAÇÃO LEGAL 60
13.2 ENQUANTO PRESSUPOSTO PROCESSUAL 64
14§ PATROCÍNIO JUDICIÁRIO OBRIGATÓRIO 67
24.1 MANDATO JUDICIAL 69
15§ LEGITIMIDADE SINGULAR 71
16§ LITISCONSÓRCIO 73
16.1 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO 76
17§ INTERESSE PROCESSUAL 79
18§ MODIFICAÇÕES SUBJETIVAS DA INSTÂNCIA 82
18.1 HABILITAÇÃO 82
18.2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 85

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I. COORDENADAS GERAIS
1. NOÇÕES PRELIMINARES
Processo - Definição: Sequência de atos destinados à apreciação de uma pretensão
formulada por uma parte contra uma outra parte, mediante a intervenção de um tribunal.

★ Sujeitos: Tribunal e as partes

★ Objeto: Pretensão processual

★ Estrutura: Sequência de atos

★ Meio: Justiça pública

★ Fim: Tutela de uma situação subjetiva

Processo Civil: Tem como referência situações subjetivas civis ou comerciais.

★ Necessidade do Processo Civil: Pode resultar de duas situações diferentes, dando


origem a um tipo específico de processo civil:

○ Dúvida sobre a titularidade de um direito ou interesse → Gera um processo


declarativo → Visa esclarecer a dúvida (art. 10/1 e 3 do CPC)

○ Violação de um direito ou interesse por titulares passivos ou não titulares →


Gera um processo executivo → Visa reparar a violação (art. 10/1 e 4 do CPC)

★ Tribunais Competentes: O processo civil compartilha com o processo penal e de


trabalho a competência dos tribunais judiciais (art. 211/1 da CRP)

Direito Processual Civil:

★ Caracterização:

○ Função Instrumental: O direito processual é um meio de tutela do direito


material.

○ Natureza Secundária: Em regra, o titular obtém a satisfação do seu direito ou


o respeito do seu interesse sem o recurso às vias jurisidicionais. No entanto, é
possível que o recurso à atividade jurisdicional seja meio único e
indispensável para o exercício de um direito subjetivo.

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★ Modos de Tutela Individual (art. 2/2 do CPC)

○ Processo Declarativo: Destina-se a obter a apreciação, reparação da violação


ou o exercício de situações subjetivas (art. 10/2 e 3 do CPC)

○ Processo Executivo: Satisfação coativa dos direitos subjetivos violados (art.


10/1 e 4 do CPC)

○ Procedimentos Cautelares: Visam acautelar o efeito útil da decisão que


venha a ser proferida na ação principal (art. 2/2 in fine)

★ Valores Processuais:

○ Licitude da Conduta

○ Validade dos Atos

○ Admissibilidade: Necessidade de preenchimento de determinadas condições


que assegurem a admissibilidade da decisão favorável do autor

2. SUJEITOS DO PROCESSO CIVIL


2.1 TRIBUNAL
Sujeito público, órgão de soberania investido na função jurisdicional (art. 202/1 CRP, 2/1 da
LOSJ 3/1 e 2 do EMJ), imparcial, com competência para proferir decisões obrigatórias para
as entidades públicas e privadas e que prevalecem sobre as de quaisquer outras
autoridades, dotadas de valores próprios.

A. TIPOS DE TRIBUNAIS
Tribunais Estaduais:

★ Comuns ou Judiciais: Tribunais comuns em matéria cível e criminal, exercendo


jurisidição em todas as áreas não atribuídas a outros tribunais (art. 211/1 da CRP e
64 do CPC).

○ Hierarquia: Efeito fundamental desta hierarquia é a possibilidade de recorrer


para um tribunal mais alto na escala das decisões.

1. Supremo Tribunal de Justiça: Órgão superior da hierarquia dos


tribunais judiciais (art. 210/1 da CRP, 29/1a e 31/1 da LOSJ). Está
instalado em Lisboa
● Pode funcionar em plenário ou por secções (art. 48/1 da LOSJ
e 211/4 da CRP)

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2. Tribunal da Relação: Tribunais de 2ª instância (art. 210/4 da CRP,


29/2 e 67/1 da LOSJ)
● Funciona em plenário e por secções em razão da matéria(art.
67/2 LOSJ e 211/4 da CRP)

3. Tribunal da Comarca: Tribunais judiciais de 1ª instância (art. 210/3


CRP, 29/3 e 79 da LOSJ). Podem ser tribunais de competência
territorial alargada e tribunais de comarca (art. 33/1 da LOSJ)
● Tribunais de Competência Territorial Alargada: A sua área
abrange mais do que uma comarca (art. 43/4 e 83/1 da LOSJ)
- ex: tribunal da propriedade intelectual, tribunal da
concorrência, tribual marítimo,...
● Tribunais de Comarca: São tribunais cuja área de competência
é restrita à comarca (art. 33/3, 43/3 e 79 da LOSJ).
Desobram-se em juízos de competência especializada,
genérica e de proximidade (art. 81/1 da LOSJ) - ex: juízo local
cível, juízo de comércio,...

★ Especiais ou Administrativos e Fiscais

Tribunais Arbitrais: A sua competência para o caso concreto depende da aceitação e


vontade de ambas as partes, expressa num negócio jurídico, que o seu nome de “convenção
de arbitragem” (art. 1/1 da LAV). Podem ter competência declarativa, mas não executiva.

★ Permanentes e Eventuais: Os tribunais permanentes encontram-se já constituídos,


estando à disposição das partes que, de comum acordo, a eles queiram recorrer
enquanto que os eventuais se constituem exclusivamente para um litigio,
dissolvendo-se depois

★ Voluntários e Necessários: Os voluntários são instituídos através de uma


convenção de arbitragem (art. 1/1 da LAV), os Nessárois são impostos pela lei (art.
1082 a 1085 do CPC), o que se verifica em situações como na fixação da
indemnização por expropriação (art. 38/1 CExp)

Outros: (menos relevantes)

★ Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE): Inclui o TJ, o TGeral e tribunais


especializados (art. 19/1/1§/2ªp do TUE)..

★ Julgados de Paz (art. 209/2 da CRP): Forma alternativa de resolução de litígios de


natureza exclusivamente cível, com causas de valor reduzido que não envolvam
matéria de direito da família, das sucessões ou do trabalho. Podem ser concelhios,
de agrupamento de conselhos ou constituidos junto de entidades públicas de
reconhecido mérito (art. 4/1 e 3 da LJP).

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○ Competência: Definida em função da matéria, do valor e do território


■ Matéria: exclusiva a ações declarativas (art. 6/1 da LJP).

■ Valor: Exclusiva a ações cujo valor não exceda os 15.000€ (art. 8 LJP)

★ Tribunal de Conflitos (TConf): Compete-lhe conhecer os pedidos de resolução dos


conflitos de jurisdição, as consultas prejudiciais sobre questões de jurisdição e os
recursos previstos no 101/2 CPC (art. 3 LTConf). A decisão de submeter a questão
da jurisdição é irrecorrível (art. 15/3 da LTConf), mas a pronúncia do TConf é
vinculativa (art. 17 da LTConf).

○ Conflitos de Jurisdição (art. 110/2 do CPC)1.

■ Positiva: Duas ou mais autoridades arrogam-se do poder de conhecer


da mesma questão

■ Negativa: Duas ou mais autoridades declinam-se do poder de


conhecer da mesma questão

○ Conflitos de Competência: A sua resolução cabe ao TConf quando se verifica


entre os tribunais comuns e os especiais (art. 8 da LTConf) ou entre o TdC e o
STA (art. 1/3 do LOPTC) e ao Presidente do STJ nos demais conflitos (art.
62/3 da LOSJ) - ex: tribunal judicial vs conservador do registo civil

■ Positiva: Dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional


consideram-se competentes para conhecer da mesma questão

■ Negativa: Dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional


consideram-se incompetentes para conhecer da mesma questão

B. ATIVIDADE DO TRIBUNAL
Decisões de Mérito:

★ Condenação do Réu: Acolhimento do pedido do autor em em processo declarativo

★ Absolvição do Réu: A sentença analisa o mérito da causa e rejeita o pedido do autor

Decisões de Forma: O tribunal não se pronuncia sobre o mérito da causa, mas sim sobre o
preenchimento dos pressupostos proscessuais.

★ Despacho Saneador: Despacho em que o juiz se pronuncia sobre o preenchimentos


dos pressupostos processuais

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ou seja, num conflito entre tribunais de comarca, quem resolve é a relação, não o STJ

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○ Despacho pré-saneador: Despacho em que o juiz convida as partes a corrgir


coisas, de modo a poder reconhecer o mérito da causa

★ Absolvição do Reu da Instância: A sentença não se pronuncia sobre o mérito da


questão, mas absolve o réu por falta de preenchimento dos pressupostos

Valores Inerentes às suas Decisões:

★ Caso Julgado: Indiscutibilidade da decisão

★ Executoriedade: Suscetibilidade da decisão, quando não voluntariamente cumprida,


ser executada em processo próprio

2.2 PARTES
Entidades que pedem ou contra as quais é pedida em juízo a tutela de uma situação jurídica.

Designação:

★ No processo delcarativo: Autor e réu

★ No processo executivo: Exequente e executado

Qualidade de Parte: Pertence ao autor e ao réu, os restantes são terceiros.

★ Partes em Sentido Material: A identidade das partes é aferida pela qualidade


jurídica dos sujeitos (art. 581/2 do CPC), pelo que terceiros que tenham a mesma
qualidade jurídica que alguma das partes, são partes em sentido material.

★ Tereceiros Legitimados: Terceiros que, apesar de não terem a mesma qualidade


jurídica de qualquer das partes, têm uma relação com o objeto do processo, são
terceiros legitimados, porque têm legitimidade para ser partes na causa.

★ Terceiros Não Legitimados: Terceiros que são terceiros perante o processo, as


partes e o objeto.

Dualidade das Partes: Todo o processo exige duas partes - princípio da dualidade das
partes. São proibidos os “processos consigo próprio”, ou seja, processos em que o autor e o
reu são a mesma pessoa. Contudo, tal não impede a admissibilidade de ações entre órgãos
da mesma pessoa coletiva.

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★ Impossibilidade Jurídica: A inobservância do princípio da dualidade das partes


implica a impossibilidade jurídica do processo.

○ Impossibilidade Originária: Verifica-se desde o início da causa

○ Impossibilidade Superveniente: Sobrevém em momento posterior. Constitui


causa para a extinção da instância (art. 277/e do CPC).

Identificação das Partes (art. 552/1a do CPC): As partes devem ser identificadas pelo
autor através da indicação dos seus nomes, domicílios ou sedes, e, sempre que possível,
números de identificação fiscal, profissões e locais de trabalho.

★ Problemas na identificação do reu:

○ Identificação errada do reu: O reu é corretamente identidicado pelo autor,


mas é diferente da pessoa que ele queria demandar2. O erro só pode ser
corrigido através de uma desistência do pedido do autor (art. 283/1 do CPC).
Se tal não suceder, a ação é julgada improcedente.

○ Identificação errada do demandado: O reu é incorretamente identificado pelo


autor, não havendo, contudo, dúvidas sobre a sua identidade3. Se a citação
puder ser dada como realizada na pessoa certa, não há nenhum vício e o erro
pode ser corrigido por analogia com o disposto no art. 614/1, a requerimento
do auto.

○ Citação de um não demandado: O reu é corretamente identidicado pelo


autor, mas é citada uma pessoa diferente4. A citação é inexistente (art.
188/1b), tanto para o verdadeiro demandado como para o indevidamente
citado.

★ Partes Incertas: Em regra, as partes da ação são entidades determinadas. Em certos


casos, porém, quando não é possível identificar os interessados, a lei permite que a
ação possa ser proposta ou continuar contra incertos5.

Espécies de Partes:

★ Partes Principais e Acessórias: Quando se fala em partes, tout court, alude-se às


partes principais

2
Ex: o autor identifca como causador do acidente de viação Manuel, quando o envolvido no acidente foi, não ele,
mas o seu motorista
3
Ex: o autor identifca-o como “João António Silva”, mas ele chama-se “Joel António Silva”
4
Ex: o autor identifca o “João António Silva”, mas é citado o “Joel António Silva”
5
Ex: falecendo uma das partes, são citados, para efeitos de habilitação, os sucessores incertos (art. 351/1 CPC)

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○ Partes Acessórias: Titulares de interesses conexos com os interesses em


causa, e que, por isso, podem auxiliar uma das partes principais. Defendem
no processo um interesse próprio, conexo com o de uma das partes
principais, auxiliando esta parte principal, perante a qual tomam uma posição
de subordinççao

★ Ministério Público (MP): Pode intervir como parte principal ou acessória.

○ Parte Principal: Quando representa o Estado ou assume a defesa e a


promoção dos direitos e interesses das crianças, jovens, idosos ou adultos
com capacidade diminuída

■ Cessação da Representação: Quando o MP representa incapazes ou


ausentes, a sua intervenção principal cessa logo que seja constiuído
mandatário judicial, ou quando, deduzindo o respetivo representante
legal oposição à intervenção do MP, o juiz considere tal oposição
procedente (art. 9/3 do CPC)

○ Parte Acessória: Quando não se jusitifica a sua intervenção como parte


principal

Situações Subjetivas:

★ Ónus: Para que a parte possa adquirir uma determinada poosição para si mais
favorável deve cumprir o ónus, mas se não o cumprir não sofre qualquer
consequência.

★ Deveres: Impõem uma determinada conduta da parte, sob pena da parte sofrer uma
sanção se o violar.

Responsabilidade:

★ Delitual: Decorre da inobservância pela parte de um dever que devia cumprir ou


observar em processo - geralmente decorre da litigância de má fé (art. 542/1 do
CPC)

★ Objetiva - Responsabilidade pelas custas do processo: Mesmo que tenha litigado


de boa fé, a parte que tenha ficado vencida é responsável pelas custas do processo,
que compreendem o que a parte vencedora haja despendido com o processo (art.
529/1 e 4 e 533/1 do CPC)

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3. OBJETO DO PROCESSO CIVIL


Pedido: Para conseguir a tutela de um determinado objeto, o autor tem o ónus de formular
um pedido, ou seja, de indicar a tutela que pretende para a situação que alega (art. 186/2a)
e b) do CPC)

Causa de Pedir: Facto jurídico de que decorre a pretensão processual (art. 581/4 do CPC),
devendo ser a via de investigação através da qual (e só dessa) o tribunal irá apreciar a
procedência do pedido (art. 186/2 e 552/1d do CPC).

Valor da Causa: Toda a causa deve ter um valor certo, expresso em moeda legal, o qual
representa a utilidade económica imediata do pedido (art. 296/1 do CPC).

★ Critérios Atributivos: Os critérios mais importantes são os seguintes (↓):

○ Objeto da Ação: Se a ação tiver por objeto uma quantia certa de dinheiro, o
valor da causa corresponde a esse montante (art. 297/1/1ªp do CPC)6

○ Fim da Ação: Se a ação tiver por fim fazer valer o direito de propriedade, o


valor desta determina o valor da causa (art. 302/1 do CPC)

○ Alçada da Relação: Se a ação versar sobre o estado das pessoas, ou sobre


interesses imateriais, o valor da causa é o equivalente à alçada da Relação e
mais €0,01 (art. 303/1 do CPC).

○ Estipulação das Partes: Se a ação tiver por objeto a apreciação da existência,


validade, cumprimento, modificação ou resolução de um ato jurídico, o valor
da causa é aferido pelo valor do ato determinado pelo preço ou estipulado
pelas partes (art 301/1 do CPC).

○ Renda: Nas ações de despejo, o valor da causa é o da renda de dois anos e


meio acrescido das rendas em dívida e da indemnizção requerida (art. 298/1
do CPC)

4. ESTRUTURA DO PROCESSO CIVIL


Sequência Processual: Formalismo que regula a atividade do juiz e das partes.

★ Modo de Definição da Sequência: A sequência pode ser determinada na lei ou ser


deixada ao critério do juiz que, no caso concreto, determina o que lhe parecer mais
adequado à administração da justiça.

6
Se, em conjunto com o pedido de condenação na prestação de um facto infungível for pedida a condenção do
demandado no pagamento de uma sanção pecuniária compulsória (art. 829-A/1 do CC), este pedido é
irrelevante para a fixação do valor da cusa.

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○ Em Portugal: O processo civil português contém uma tramitação definida na


lei, mas o juiz, como corolário do dever de gestão processual (art. 6/1 do
CPC), tem a faculdade de adequar essa tramitação quando a mesma não se
adaptar a à complexidade da causa (art. 547 do CPC).

★ Princípio da Preclusão: Cada ato processual tem o seu momento próprio para ser
praticado dentro da sequência processual, se não for praticado nesse momento, não
pode ser praticado posteriormente, pelo que a sua realização fica precludida.

4.1 ATOS PROCESSUAIS


Noção: Ato do tribunal ou das partes que constitui uma situação processual, ou seja, todo o
ato que determina o início, influencia o decurso ou implica a extinção do processo.

★ Sujeição a condição: Como conformam o processo na sua sequência, não podem ser
sujeitos a condições, pois os efeitos produzidos em processo não podem permanecer
incertos e inseguros, sob pena de serem inválidos

A. ATOS DO TRIBUNAL
Realizados pela secretaria (art. 157 a 162 do CPC) ou pelo juiz (art. 150 a 156 do CPC).
São, em regra, irrevogáveis depois de proferidos, dado que o poder jurisidcional quanto à
matéria se esgota (art. 613/1 e 3 do CPC)

Modalidades:

★ Atos Rogatórios: Solicitação da prática de atos processuais a outros tribunais ou


autoridades (art. 172/1 do CPC)

★ Mandado: O tribunal ordena a execução de um ato a uma entidade que lhe esteja
funcionalmente subordinada (art. 172/2 do CPC)

★ Citação: Chama os interessados à causa (art. 219/1 do CPC)

★ Notificação: Modo de chamar alguém a juízo quando não deva ser utilizada a citação
(art. 219/2 do CPC)

★ Decisões: Atos pelos quais o tribunal aprecia uma casusa ou um incidente, ou outro
aspeto com eles relacionado (art. 152/1 do CPC)

○ Sentenças - Decisões finais (152/2)

○ Despachos - Decisões interlocutórias

○ De fundo - Pronunciam-se sobre o mérito

○ De forma - Pronunciam-se sobre questões processuais

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Pressupostos:

★ Competência Funcional: Respeita a cada um dos órgãos do tribunal (que são o juiz e
a secretaria judicial) ou a cada um dos juízes do tribunal coletivo.

○ Falta de Competência Funcional: As consequências da falta de competência


funcional dependem da categoria do ato praticado:

■ Ato implica o exercício de poder jurisdicional: A falta absoluta desta


competência determina a inexistência do ato - ex: ser a secretaria, em
vez do juiz, a elaborar um despacho de citação

■ Ato não implica o exercício de poder jurisdicional: Uma falta relativa


desta competência constiui uma nulidade processual (art. 195/1 CPC)
- ex: a secretaria procede à citação num caso em que esse ato
depende de um prévio despacho judicial.

★ Competência Decisória: Competência para os tribunais se pronunciarem sobre


determinadas matérias relevantes para a decisão da causa.

○ Violação desta Competência: A decisão será nula por excesso de pronúncia


(art. 615/1d do CPC)

★ Competência Jurisdicional: Medida de jurisdição de um tribunal.

○ Competência Internacional (art. 59 e 37 da LOSJ)

○ Competência Interna/Territorial: A medida de jurisdição de cada tribunal


português é a sua competência interna, que é delimitada em função dos
seguintes fatores: a matéria do litígio, o valor da causa, a hierarquia judiciária
e o território sobre o qual o tribunal exerce o seu poder jurisdicional.

Lapsos Manifestos: Decorrentes de erro do tribunal, podem ser corrigidos por despacho, a
requerimento das partes, ou por iniciativa do juiz (art. 614/1 do CPC).

B. ATOS DAS PARTES


Atos praticados pelas partes (art. 144 a 149 do CPC).

Modalidades:

★ Unilaterais (ex: apresentação de articulados)

★ Bilaterais - São contratos processuais, (ex: pacto de competência)

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★ Atos Negociais - Produzem os seus efeitos processuais ex voluntate, isto é,


atendendo à vontade das partes

○ Constitutivos - Produzem diretamente efeitos no processo, sem imporem a


nenhuma parte a obrigação de praticar ou omitir um ato

○ Vinculativos - Impõem o dever de praticar ou de omitir um ato em processo

★ Atos Postulativos: Destinam-se a produzir efeitos no processo através de uma


decisão do tribunal. São livremente revogáveis enquanto não tiver havido uma
decisão pelo tribunal, depois disso, só podem ser revogados nos casos
expressamente previstos na lei (art. 27/2 do CPC)

Interpretação: Devem ser interepretados utilizando do art. 236 do CC (ex vi art. 295 do
CPC), considerando a respetiva fundamentação, em caso de dúvida, o juiz tem o dever de
convidar a parte a fornecer esclarecimentos (art. 7/2 do CPC)

Pressupostos:

★ Subjetivos:

○ Personalidade Jurídica: Suscetibilidade de ser parte (art. 11/1 do CPC)

○ Capacidade Jurídica: Suscetibilidade de praticar o ato pessoal e livremente


(art. 15 do CPC)

○ Patrocínio Judiciário Obrigatório: Necessidade de representação por um


mandatário judicial (art. 40/1 e 58 do CPC)

○ Interesse Processual: Utilidade para a parte da prática do ato

○ Legitmidade Processual: Pressupõe uma relação da parte com o objeto do


ato (art. 30 do CPC)

★ Objetivos:

○ Determinação do Objeto (art. 94/3e) e 95/2 in fine do CPC)

○ Licitude do Objeto, tendo em conta a proibição da litigância de má fé (art. 8 e


542 do CPC) e de simulação processual (art. 612 do CPC)

Suprimento de Deficiências: A parte pode retificar erros de cálculo ou de escrita da sua


peça processual (art. 146/1 do CPC), suprimir ou corrigir vícios ou omissões formais, desde

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que a falta emendada não se deva imputar a dolo ou culpa grave da parte e a sua correção
não prejudique o andamento da causa (art. 146/2 do CPC).

C. PRAZOS PROCESSUAIS
Modalidades (art. 139/1 do CPC):

★ Dilatórios: Difere para certo momento a possibilidade de realização de um ato ou o


início da contagem de um certo prazo (art. 139/2 CPC)

★ Peremptórios: Quando decorrido, extingue o direito de pratica o ato (art. 139/3 do


CPC)

○ Realização do ato fora de prazo:

■ Mediante o pagamento de multa: Pode verificar-se nos 3 dias úteis


subsequentes ao seu termo (art. 138/5 do CPC)

■ Justo Impedimento: Apesar de o prazo peremptório já se encotrar


esgotado, é possível praticar o ato no caso de ter ocorrido, um evento
não imputável à parte nem aos seus representants ou mandatários,
que obste à prática atempada do ato (art. 139/4 e 140/1 do CPC)

Prazos Gerais: Não existem, na lei, prazos especiais, somente estes (↓). Pode ocorrer a
prorrogação destes prazosnmediante disposição legal (art. 141/1 do CPC) ou acordo das
partes (art. 141/2)

★ Para as Partes: 10 dias (art. 149/1 do CPC)

★ Para o Juiz: 10 dias, para os despachos que não sejam de mero expediente (art.
156/1 do CPC), pois esses têm um prazo máximo de 2 dias (art. 156/3)

★ Para o MP: 10 dias (art. 156/2 do CPC)

★ Para a Secretaria: 5 dias (art. 162/1 do CPC)

4.2 INVALIDADES PROCESSUAIS


Determinação das Invalidades: A invalidação de um certo ato implica a invalidação dos
atos posteriores da sequência que o tinham como pressuposto (art. 195/2 do CPC), embora
tal invalidação, em regra, só opere se o vício do ato puder afetar a decisão que o tribunal
tem de proferir ou o ato que esse órgão tem de praticar (art. 195/1 in fine do CPC).

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Tipos de Nulidades7:

★ Nulidades Processuais: Decorre da prática ou da omissão de um ato processual,


sendo desvalores em função da sequência processual, ou seja, são desvios em
relação ao modelo legal da tramitação processual

○ Nominadas (ou Principais) - art. 188 e 194:

■ Falta da Citação do Reu - art. 187 a 190

■ Falta de Vista o Exame do MP - art. 194: Devendo o MP intervir como


parete acessória no processo (art. 5/4 do EMP), não lhe é facultada a
vista ou o exame do processo (art. 194/1 do CPC)

○ Inominadas (ou Secundárias) - art. 195

■ Prática de um ato que a lei não admite

■ Omissão de um ato que a lei prescreve

★ Nulidade dos Atos Processuais: São desvalores em função do próprio ato. O que
vale para a nulidade dos atos constitutivos vale, mutatis mutandis, para a
inadmissibilidade dos atos postulativos.

○ Nominadas (ou Principais) - art. 186 a 194 do CPC:

■ Ineptidão da Petção Inicial (art. 186 do CPC): Verifica-se quando o


objeto do processo não esteja devidamente enunciado ou delimitado
(art. 186/2 CPC)

■ Nulidade da Citação (art. 191 do CPC): Ocorre quando não tenham


sido observadas as formalidades presritas na lei para a citação (art.
191/1 CPC)

■ Erro na Forma de Processo (art. 193 do CPC): verifica-se quando a


parte tenha utilizado uma forma de processo diferente daquela que
resulta da lei

○ Inominadas (ou Secundárias) - art. 195 do CPC: A omissão de uma


formalidade que a lei impõe constitui causa de nulidade do ato processual.

Regime:

7
Apesar de a lei as qualificar como nulidades, estão próximas das situações de anulabilidade, uma vez que só
podem ser invocadas pelo interessado na observância da formalidade, na repetição ou eliminação do ato, dentro
do prazo fixado no art. 199/1 do CPC.

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★ Invalidades Nominadas: São de conhecimento oficioso (art. 196/1ªp do CPC)

★ Invalidades Inominadas: Têm de ser invocadas pelos interessados (art. 197/2 do


CPC) na observância da formalidade ou na repetição ou eliminação do ato (art.
196/2ªp, 198 e 199 do CPC)

○ Exceções:

● Conhecimento oficioso de atos fora de prazo: Apesar de ser uma


nulidade inominada, essa realização contende com a extinção do
direito a praticar o ato que decorre do decurso de um prazo
peremptório (art. 139/3 do CPC)

● Conhecimento oficioso de (alguns) atos postulativos: É de


conhecimento oficioso a falta de articulação quando esta seja
obrigatória (art. 147/2 do CPC) e a deficiência ou falta de conclusões
nas alegações do recorrente (art. 637/2, 639/1 e 3 e 641/2b)

○ Invocação: Qualquer das partes que nisso tenha interesse pode invocar a
nulidade processual decorrente da prática de um ato proibido ou da omissão
de um devido

■ Nulidade cometida por parte que praticou ato proibido ou omitiu ato
devido: A parte interessada na eliminação do ato ou na observância
da conduta tem legitimidade para arguir a nulidade (art. 197/1 CPC)

■ Nulidade por decisão do tribunal que dispensou ato obrigatório ou


impôs ato proibido: A decisão é contra legem e pode ser impugnada
nos termos gerais8.

● Se a decisão recair sobre uma invalidade inominada (art.


195/1 do CPC), a mesma só é recorrível se a alegada
invalidade contender com os princípios da igualdade e do
contraditório (↓), com a aquisição processual de factos ou com
a admissibilidade de meios probatórios (art. 630/2 do CPC)

Renovação: Possível mediante o preenchimento de dois requisitos:

★ 1) Estar a decorrer o prazo: Enquanto estiver a decorrer o prazo para a prática do


ato, a sanação da invalidade processual é sempre possível.

8
Se o tribunal proferir uma decisão depois da omitir um ato obrigatório, a decisão é nula por excesso de
pronúncia (art. 615/1d do CPC), dado que conhece matéria de que, nas circunstâncias em que o faz, não podia
conhecer

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★ 2) A nulidade aproveitar quem não tenha responsabilidade na invalidade: A


renovação do ato é sempre possível se aproveitar a quem não tenha
responsabilidade na invalidade processual (art. 202/2ªp do CPC)

5. MEIO DO PROCESSO CIVIL


Insuficiência de Meios Económicos: O acesso à justiça não deve ser impedido por causa da
insuficiência de meios económicos (art. 20/1 da CRP), pelo que aqueles que se encontram
nessa situação têm direito a proteção jurídica (art. 7/1 e 2, 8/1, 14/1 e 16/1 da LADT)

Proporcionalidade do Meio: Os meios processuais definidos na lei obedecem a um princípio


de proporcionalidade - quando o objeto é mais complexo, a tramitação também é mais
complexa. Está subjacente, aqui, o poder de gestão formal e de adequação formal do juiz
(art. 6/1 e 547 do CPC)

Interpretação Sistemática: As fontes do processo civil devem ser interpretadas em


conformidade com a CRP e com os valores constitucionais próprios desse processo.

5.1 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS


Pressupostos dos Atos Processuais vs Pressupostos Processuais:

★ Pressupostos dos Atos Processuais: Condicionam apenas validade ou a


admissbilidade do atos praticados em processo.

★ Pressupostos Processuais: Condicionam a admissbilidade do processo e, portanto,


o conhecimento do mérito ou a realização de medidas executivas.

Caracterização dos Pressupostos:

★ Função: Os pressupostos processuais tornam admissível o proferimento de uma


decisão de mérito.

★ Controlo dos Pressupostos: Os pressupostos processuais têm de estar preenchidos


desde o ínicio da causa e até ao encerramento da discussão em 1ª instância (art.
604/3e do CPC), com exceção da competência do tribunal que se fixa no momento
propositura da ação (art. 38 do LOSJ)

○ Recursos: Os pressupostos processuais têm de estar preenchidos desde o


momento da sua interposição até aos vistos dos juízes (art. 657/2, 679 e
683/3 do CPC)

★ Modalidades dos Pressupostos:

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○ Atendendo ao Âmbito:

■ Pressupostos Gerais: Respeitam a qualquer processo, ex:


competência do tribunal

■ Pressupostos Especiais: Respeitam a certas situações processuais, ex:


pressupostos relativos à cumulação de pedidos

■ Pressupostos Específicos: Relativos a fases do procedimento, ex:


recorribilidade da decisão

○ Atendendo os Efeitos:

■ Pressupostos Positivos: Têm de estar preenchidos para que a decisão


de mérito ou as medidas executivas sejam admissíveis

■ Pressupostos Negativos: Não podem estar preenchidos para que a


decisão de mérito ou as medidas executivas sejam admissíveis

○ Atendendo à Função:

■ Pressupostos Absolutos: Aqueles sem cuja verificação não é


admissível o proferimento de nenhum decisão de mérito, nem
condenatória, nem absolutória

■ Pressupostos Relativos: Realizam uma função de proteção de uma


das partes, pelo que só condicionam o proferimento de uma decisão
desfavorável a essa parte

Exceções Dilatórias: A falta de um pressuposto processual positivo ou a verificação de um


pressuposto processual negativo consitui uma exceção dilatória (art. 576/1 e 2, e 577 do
CPC) - o tribunal não pode ocupar-se do mérito da causa, mas pode vir a fazê-lo num
momento posterior, pelo que deve absolver o reu da instância (art. 576/2 do CPC).

★ Estrutura:

○ Falta de um pressuposto processual positivo: A exceção dilatória assenta na


impugnação de um facto alegado pelo autor

○ Verficação de um pressuposto processual negativo: A exceção dilatória não


contradiz nenhum facto alegado pelo autor, antes invoca um facto que
impede o conhecimento do mérito da causa - também podem ser designadas
de impedimentos processuais.

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★ Conhecimento Oficioso: São poucas as exceções dilatórias que o tribunal não pode
conhecer oficiosamente, nesses casos, as partes podem renunciar à sua invocação e
o processo é apreciado como se a exceção não se verificasse. Incumbe ao juiz
providenciar pelo suprimento das exceções dilatórias suscetíveis de sanação.

○ Conhecimento das Partes: As exceções dilatórias constituem fundamento


para a contestação do reu (art. 571/2/2ªp do CPC), ou para a oposição à
execução do executado (art. 729/c, 730 e 731 do CPC).

★ Absolvição da Instância: A generalidade das exceções dilatórias conduz à


absolvição da instância (art. 576/2 do CPC), o que produz apenas caso julgado
formal (art. 620/1 do CPC), não obstando a que se proponha outra ação sobre o
mesmo objeto (art. 279/1 do CPC), mediante correção da exceção dilatória.

Ónus da Prova:

★ Regime Geral:

○ Autor: Incumbe a prova dos pressupostos processuais positivos.

○ Reu: Incumbe a prova dos pressupostos processuais negativos.

★ Factos Duplos: Pode suceder que alguns factos controvertidos (alegados por uma
parte e impugnados pela outra) sejam relevantes para a apreciação do mérito da
causa e para o preenchimento de um pressuposto processual positivo, situação em
que o ónus da prova compete à parte onerada, nos termos do art. 342 do CC, com a
prova do facto controvertido.

Apreciação dos Pressupostos:

★ Apreciação Prévia: No processo declarativo, os pressupostos processuais podem


ser apreciados no despacho liminar (quando este for admissível - art. 226/4 e 590/1
do CPC), mas, em regra, são apreciados no despacho saneador (art. 595/1a do CPC).
A decisão final, antes de apreciar o mérito, também deve conhecer das questões
processuais que possam determinar a absolvição da instância (art. 608/1 do CPC)

○ Em caso de Incompetência Absoluta do Tribunal: Esta exceção dilatória pode


ser apreciada oficiosamente e invocada pelas partes até ao trânsito em
julgado da sentença proferida sobre o mérito da causa (art. 96 e 97/1 CPC)

★ Dispensa da Apreciação: Dado que os pressupostos processuais condicionam a


apreciação do mérito da causa, não deve ser proferida nenhuma decisão de mérito
sem que esteja assegurado o seu preenhcimento.

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○ Exceção: A subsistência de uma exceção dilatória não conduz à absolvição da


instância quando, destinando-se a titualr o interesse de uma das partes,
nenhum outro motivo obste a que, no momento da sua apreciação, se possa
proferir uma decisão favorável a essa parte (art. 278/3/2ªp do CPC).

6. FIM DO PROCESSO CIVIL


O processo civil é uma sequência de atos que se destinam ao proferimento de uma decisão
(processo declarativo) ou à satisfação coativa de uma prestação (processo executivo), ou
seja, à tutela de uma situação subjetiva.

7. CLASSIFICAÇÕES DO PROCESOS CIVIL


Ações (art. 10 do CPC):

★ Declarativas

○ Ações de Simples Apreciação: Têm por fim obter unicamente a declaração de


existência ou inexistência de um direito face a um facto

■ Objeto: Factos com relevância jurídica, ou seja, factos dos quais possa
resultar um efeito jurídico

■ Modalidades:
● Ações de Simples Apreciação Positivas: Tem por fim obter a
declaração da existência de um direito ou de um facto
● Ações de Simples Apreciação Negativas: Tem por fim obter a
declaração da inexistência de um direito ou de um facto
- Prof. MTS: Cabe ao autor provar o facto que alega (art.
186/2a e 581/4 do CPC)
- Prof. AdC (Anselmo de Castro): O reu tem o ónus de
provar que a alegação do autor é falsa

■ Apreciação Incidental: Qualquer parte pode requerer que uma


questão que tenha sido suscitada na ação seja decidida com força de
caso julgado material, desde que o tribunal da ação tenha
competência (internacional, material e hierárquica) para tal (art. 91/2)

○ Ações de Condenação: Têm por fim exigir a prestação de uma coisa ou um


facto, pressupondo ou prevendo a violação de um direito. O autor faz valer
uma pretensão material (art. 817 do CC).

■ Ex Praeterito: Pressupõem a violação de um direito e visam obter a


condenação no cumprimento de uma prestação já vencida

■ In Futurum: Prevêem a violação de um direito e procuram obter a

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condenação do réu no cumprimento de uma prestação ainda não


vencida São admissíveis nas condições previstas no art. 557/1 do CC
(prestações periódicas e futuras)

■ Ações Inibitórias: Ações através das quais se exige a alguém a


omissão da violação de um dirieto

○ Ações Constitutivas: Têm por fim autorizar uma mudança na ordem jurídica


exisitente

■ Âmbito:
● Relação Material - Relação Potestativa: O autor exerce um
direito potestativo, estando os efeitos de tal exercício sujeitos
a uma sentença favorável que reconheça e declare o direito e
que, implicitamente, autorize ou desencadeie aqueles efeitos.
São ações constitutivas todas aquelas em que sejam exercidos
direitos potestativos.
● Ações que visam modificar ou impedir a produção de certos
efeitos jurídicos: Também são ações constitutivas

■ Efeitos:
● Ex Tunc: Retroativos - ex: ação de anulação
● Ex Nunc: Não retroativos - ex: ação de divórcio

★ Executivas: O autor requer as providências adequadas à realização coativa de um


dever de prestação

○ Título Executivo: Toda a execução tem por base um título, pelo qual se
determinam o seu fim e os seus limtes (art. 10/5 do CPC), não podendo o
tribunal tomar providências executivas sem primeiro se assegurar de que o
direito assim satisfeito existe realmente.

■ Formas de Apresentação do Título: A lei fixa taxativamente no art.


703/1 do CPC

○ Modalidades de Execução (art. 10/6 do CPC):

■ Pagamento de quantia certa (art. 724 a 858 do CPC)

■ Entrega de coisa certa (art. 859 a 867 do CPC)

■ Prestação de facto (art. 868 a 877 do CPC)

Processo (art. 546/1 CPC):

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★ Comum: Aplicável a todos os casos em que não se aplica o processo especial

○ Regimes Especiais:

■ Ações de valor não superior a metade da alçada da relação:


● A tramitação posterior à fase dos articulados é distinta (art.
597)
● A perícia é realizada por um único perito (art. 468/5)

■ Ações de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância:


● O limite do número de testemunhas é reduzido para metade
do que é admissível das causas de valor superior a essa
alçada (art. 511/1, 2ª parte)
● O tempo previsto para as alegações orais dos advogados e
respectivas réplicas é reduzido para metade daquele que vale
para as demais ações (art. 604/5/2ªp)

★ Especial: Aplica-se aos casos expressamente designados na lei (no livro V do CPC
e no DL 269/98)

○ Regime Legal: Aplica-se as disposições do regime especial e,


subsidiariamente, pelas disposições comuns (art. 549/1 do CPC)

8§ PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
8.1 PRINCÍPIO DO PROCESSO EQUITATIVO
Contrapartida necessária do direito de acesso à justiça, pois nada serve ao particular aceder
à justiça se a sua posição em juízo não se encontrar igualmente protegida (art. 20/4 da CRP
e 6/1, 7/1, 37/2, 411 e 418 do CPC)

Concretização:

★ Indepdenência e Imparcialidade: O tribunal só pode estar vinculado à lei (art 203


da CRP) e não pode beneficiar nem prejudicar nenhuma das partes

★ Observância do Princípio do Juiz Natural: Proibição de desaforamento da causa


pendente do tribunal legalmente competente para qualquer outro tribunal (art. 39
da LOSJ)

★ Possibilidade de participação e iguladade de ambas as partes (art. 4 CPC):


Ambas as partes devem poder usar os mesmos meios, levantar as mesmas
questões e invocar os mesmos argumentos. Umas das consequências desta
igualdade é o princípio do contraditório (art. 3/1 e 2 da CRP) e a consequente
proibição da indefesa.

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★ Deveres de verdade e completude entre as partes (art. 542/1 e 2b)

★ Confiança das partes nos atos do tribunal:

○ O juiz não deve comportar-se de forma contraditória durante o processo e as


partes não podem ser prejudicadas por erros ou omissões do tribunal,
devendo poder confiar nas mesmas.
○ As partes podem confiar que atuam corretamente se atuarem de acordo com
uma aparência que não têm motivos para duvidar que corresponde à
realidade.

★ Obtenção de uma decisão num prazo razoável: Determinado em face das


circunstâncias de cada caso. A violação deste dever é suscetível de jusitificar recurso
ao TEDH (art. 6/1 da CEDH) e de fazer incorrer o Estado em responsabilidade civil
(art. 12 do RRCE)

○ Fundamentação, Previsibilidade e não Arbitrariedade da Decisão (art. 205/1


da CRP, 24/1 do LOSJ e 3/3/2ªp do CPC)

(Possíveis) Consequências da Violação do Processo Equitativo:

★ Nulidade Processual: Se for omitido um ato devido ou praticado um ato não


permitido (art. 195/1 do CPC)

★ Nulidade da Sentença: Se, por exemplo, esta não for devidamente motivada (art.
615/1b do CPC) ou o juiz tiver sido corrompido (art. 696/a do CPC)

★ Recurso para o TC: Se alguma norma ordinária for interpretada contra a garantia
constitucional do processo equitativo

★ Recurso para o TEDH: Com fundamento na violação do art. 6/1 da CEDH

8.2 DIREITO À AÇÃO


Todos têm direito à ação, excepto quando a lei determine o contrário, de modo a reconhecer
os seus direitos em juízo ou a realizá-los coercivamente (art. 2/2 do CPC) - contrapartida da
proibição da autotutela e o correlativo monopólio do Estado na administração da Justiça

≠ de Direito de Ação: O direito de ação é um dirieto do titular da situação subjetiva contra o


Estado, é diferente do direito de ação que é um direito desse titular contra um titular
passivo ou um não titular de um direito.

Vertentes:

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★ Vertente Externa - Direito de Acesso aos Tribunais / Direito à Jurisdição: Direito a


requerer a intervenção dos tribunais para a resolução de um litígio (art. 20/1 da CRP,
10 da DUDH e 26/1 da LOSJ)

★ Vertente Interna do Direito à Ação:

○ Direito a uma tutela jurisdcional equitativa: Concretizado num processo com


garantias fundamentais das partes, e eficaz, traduzido, nomeadamente, no
direito à obtenção de uma decisão em prazo razoável (art. 20/4 da CRP)

○ Direito a uma tutela jurisdicional efetiva: Concretizado no direito a executar


as decisões do tribunal (art. 2/1, in fine) e a obter as providências necessárias
para acautelar o efeito útil da ação (art. 2/2 in fine)

8.3 PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE


Se a vontade das partes não pode conseguir certo efeito jurídico fora do processo, não deve
ser possível à pura vontade das partes conseguir tal efeito através de atuações processuais9

Indisponibilidade Relativa: Em regra, a vontade das partes é determinante na constiuição e


na extinção de relações jurídicas. Há, porém, relações jurídicas cuja constituição ou extinção
está subtraída à vontade das partes: estas são as relações jurídicas indisponíveis - ex: o
direito a alimentos não pode ser renunciado

★ Efeitos da Indisponibilidade: Alguns preceitos legais aplicam-se a qualquer caso de


indisponbildiade do direito, mesmo que seja relativa - ex: art. 4/b do CCiv, relativo à
escolha da equidade como critério de decisão

8.4 PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO


A vontade relevante e decisiva no processo é a das partes, cabendo a estas o dominium litis
e não incumbindo ao tribunal qulquer iniciaitiva própria (non procedat iudex ex officio).

Subprincípios:

★ Princípio da Aquisição Processual: Factos alegados por qualquer das partes são
sempre factos adquiridos para o processo, não importando se são favoráveis ou
desfavoráveis à parte que os invoca em juízo

9
Proposta uma ação de investigação da paternidade, poderia o reu confessar, não o pedido em si, mas os factos
em que tal pedido se funda, se tal confissão fizesse prova de tais factos (art. 385/1 do CCiv), dar-se-ia, embora
indiretamente, o estabeleciemnto voluntário da paternidade, daí que, em obediência ao princípio da
instrumentalidade, a lei recuse a esta confissão o valor probatório pleno (art. 354/b do CC)

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★ Princípio da exaustividade do conhecimento do tribunal: O juiz deve resolver todas


as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceto aquelas cuja
decisão seja prejudicada pela solução dada a outras.

★ Princípio da Limitação do Conhecimento do Tribunal: O tribunal apenas se pode


ocupar das questões suscitadas pelas partes (e pelas questões que forem de
conhecimento oficioso - estão previstas na lei)

Delimitação do Objeto: Consequência da autonomia das partes no âmbito do dirieto


privado (art. 405 do CC) e da liberadade de disposição e exercício dos dirietos pelos seus
titulares.

Relevância dos Factos: O tribunal deve conhecer de todos os factos alegados pelas partes
no momento processual adequado, sejam eles factos principais ou factos complementares.

★ Factos Principais: Constituem causa de pedir ou fundamentam a exceção. Estes


factos Só podem ser considerados pelo tribunal se forem alegados pelas partes (art.
5/1 do CPC)

★ Factos Complementares: Completam ou concretizam os factos principais,


independentemente de serem favoráveis ou desfavoráveis à parte que os alegou em
juízo (art. 5/2b do CPC).

○ Não alegação dos factos complementares na petição inicial ou contestação:


Não tem qualquer efeito preclsuivo e justifica que o juiz deva convidar10 a
parte a aperfeiçoar o seu articulado (art. 590/2b e 4).

Disponilidade do Processo:

★ Disposição Inicial - Princípio da Disposição sobre o Início do Processo: É sempre a


parte que tem de decidir iniciar o processo (art. 3/1 do CPC). O tribunal superior
também não se ocupa da causa sem a parte legitimada interpor o recurso (art. 637/1
do CPC).

○ Relevância do pedido: São as partes que delimitam e fixam livremente o


pedido (art. 552/1e e 724/1f do CPC), daí que a sentença não possa
condenar em quantidade superior ou em objeto diverso ao pedido (art. 609/1
do CPC), sob pena de nulidade.

■ Absolvição do Reu: Decorre da improcedência do pedido do autor,


pelo que pode ocorrer mesmo sem o demandado o ter pedido.
10
Mesmo que esse convite não seja realizado, o tribunal pode considerar os factos complementares que
resultem da instrução da causa, desde que as partes tenham tido a possibilidade de se pronunciarem sobre eles.

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■ Montante: Por vezes, as partes formulam pedidos emque quantificam


o montante que pretendem conseguir em “pelo menos €…”, nesses
casos, o montante indicado determina o limite da condenação -
exceto se se concluir que esse montante é apenas uma parcela de um
mais elevado e ainda não liquidável no momento de formulação do
pedido.

○ Permissão do minus: A vinculação do tribunal ao pedido da parte não impede


que o tribunal profira uma decisão que atribua menos do que a parte pediu,
salvo nos raros casos de “tudo ou nada”.

■ Minus Quantitativo: É sempre possível.

■ Minus Qualitativo: Em regra só é admissível em três casos:


● 1) se for consequência de um pedido da contraparte;
● 2) se houver base legal;
○ 3) quando o autor tenha formulado um pedido de
condenação (art. 10/3b do CPC) e o tribunal, embora
não possa condenar o réu na realização da prestação,
possa reconhecer o direito alegado (art. 10/3a CPC).

○ Permissão de aliud: Exceções à regra da vinculação do tribunal ao pedido

■ 1) mesmo que o autor tenha formulado um pedido líquido, o tribunal


pode condenar num montante ilíquido (art. 609/2)

■ 2) o tribunal não está adstrito à providência requerida no


procedimento cautelar, podendo decretar uma providênia nominada
ou inominada, diferente da que foi solicitada pelo requerente (art.
376/3 do CPC).

★ Disposição Posterior: Às partes também incumbe o impulso subsequente do


processo. A falta deste impulso pode conduzir, entre outras consequências (art.
281/2, 648/1 e 763/1 do CPC), à deserção da instância. Em regra, as partes também
podem pôr termo ao processo (nomeadamente através de um negócio processual -
art- 277/b e d, 280 e 291 do CPC).

Cooperação com o Tribunal: O tribunal deve convidar as partes a suprir as insuficiências ou


imprecisões na exposição ou concretização da matéria de facto (art. 590/2b e 4 do CPC) -
manifestaçaõ do dever de cooperação do tribunal com as partes (art. 7/1 do CPC).

★ Inquisitoriedade do Tribunal: Tem expressão no âmbito da matéria de facto e


permite que o tribunal considere factos não alegados pelas partes, sendo raro no

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processo civil processos serem submetidos à inquisitoriedade do tribunal existem


alguns casos - ex: casos de jurisdição voluntária (art. 986/2 do CPC)

★ Conhecimento Oficioso:

○ De matéria de Direito: O tribunal conhece oficiosamente do direito aplicável -


iura novit curia; da mihi facta, dabo tibi ius (art. 5/3 do CPC).

■ O tribunal pode corrigir qualificações jurídicas deficientes fornecidas


pelas partes

■ As partes não podem afastar a aplicação pelo tribunal das regras de


carácter imperativo, apesar de poderem dispor das regras de carácter
supletivo - ex: o tribunal não pode julgar o incumprimento de um
contrato cuja forma legal não foi respeitada

○ De factos acessórios:

■ Factos Complementares: Podem ser considerados se forem alegados


pelas partes ou se, surgindo na instrução da causa, as partes tiverem
tido a possibildade de se pronunciar sobre eles (art. 5/2b CPC)

■ Factos Instrumentais (ou Probatórios): Indiciam, através de


presunções legais ou judiciais (art. 349-351 CC) os factos principais
ou complementares, podendo ser considerados oficiosamente se
resultarem da instrução da causa (art. 5/2a do CPC)

8.5 PRINCÍPIO DA GESTÃO PROCESSUAL


Dever de Gestão Processual (art. 6/1 do CPC): O juiz tem o dever de dirigir ativamente o
processo e de providenciar pelo seu andamento célere, promovendo oficiosamente as
diligências necessárias ao prosseguimento da ação, recusando o que for impertinente ou
meramente dilatório e adotando mecanismos de simplifcação e agilização processual.

★ Aspecto Substancial - Dever de Condução do Processo: O juiz deve:

○ Promover as diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação e


recusar o que for impertinente ou meramente dilatório

○ Providenciar oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos


processuais sanaveis, determinando:

■ A realização dos atos necessários à regularização da instância

■ Ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas
partes, convidando-as a praticá-lo (art. 6/2 do CPC)

27
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★ Aspecto Instrumental - Adequação Formal: O juiz deve adotar uma tramitação


processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma
dos atos processuais ao fim que visavam atingir, asseegurando um processo
equitativo (art. 547 do CPC)

○ Nulidades Processuais: Ocorre uma nulidade processual (inominada) quando


for praticado um ato que a lei não admite ou quando for omitido um ato que
a lei prescreve (art. 195/1 do CPC). Verificando-se a adequação formal da
tramitação legal, o parâmetro passa a ser o procedimento definido em função
dessa adequação.

■ Audição das Partes: A adequação requer a prévia audição das partes,


sob pena de nulidade

○ Limites Legais:

■ Plano Externo: A simplificação e a agilização processual deve


assegurar um processo equitativo (art. 547 do CPC).

■ Plano Interno: A tramitação definida pelo juiz deve respeitar os


princípios da iguladade das partes e do contraditório e não contender
com a aquisição processual de factos nem com a admissibilidade de
meios probatórios (art. 630/2 do CPC)

8.6 PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO


As partes e o tribunal devem colaborar entre si na resolução do conflito de interesses
subjacente à ação (art. 7/1 do CPC). Cria um dever de cooperação

Posição das Partes: O dever de cooperação assenta, quanto às partes, num dever de:

★ Litigância de boa fé (art. 8 do CPC)

★ Esclareciemento: Dever de fornecer, a convite do juiz, os esclarecimentos sobre a


matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes (art. 7/2 do CPC).

○ Fundamento:

■ Deveres de verdade e completude que recaem sobre as aprtes na


alegação da matéria de facto (art. 542/2b do CPC)

■ Obrigação de informação que incide sobre quem está em condições


de prestar as informações necessárias sobre a existência ou o
conteúdo de um direito (art. 573 do CC)

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★ Dever Geral de Prestar Colaboração: Na sequência do direito do tribunal à


coadjuvação de outras entidades (art. 202/3 da CRP e 23/1 da LOSJ), todas as
pessoas, partes ou não, têm o dever de prestar colaboração para descobrir a
verdade, respondendo ao perguntado, submetendo-se às inspecções necessárias e
facultando o requisitado (art. 417/1 do CPC)

○ Recusa de Colaboração (art. 417/3 do CPC): É justificada quando importe a


violação da integridade física ou moral das pessoas, a intromissão na vida
privada ou familiar, no domícilio, na correspondência ou nas
telecomunicações ou a violação do sigilo profissional ou segredo de Estado

○ Violação do Dever de Colaboração: Implica, quando seja grave, a litigância de


má fé da parte (art. 8 e 542/2c do CPC)

Posição do Tribunal: Destina-se a incrementar a eficiência do processo, a assegurar a


igualdade de oprtunidades das partes, a promover a descoberta da verdade e a garantir um
processo equitativo, apresentando como limite o princípio dispositivo, não competindo ao
tribunal levantar questões de direito substantivo que as partes não tenham suscitado.

★ Deveres do Tribunal: A sua omissão é uma nulidade processual pois o tribunal


deixa de praticar um ato que não pode omitir (art. 195/1 do CPC) - trata-se uma
decisão nula por excesso de pronúncia, dado que conhece de matéria de que, nas
condições emque o faz, não podia conhecer (art. 615/1d, 666/1 e 685 do CPC)

○ Dever de Prevenção ou Advertência: O tribunal tem o dever de prevenir as


partes sobre a falta de pressupostos processuais sanáveis (art. 6/2 e 590/1)

○ Dever de Esclarecimento: O tribunal tem o dever de se esclarecer junto das


partes quanto às dúvidas que tenha sobre as suas alegações, pedidos ou
posições em juízo (art. 7/2 e 452/1 do CPC)

○ Dever de Auxílio das Partes: O tribunal tem o dever de auxiilar as partes na


remoção das dificuldades ao exercício dos seus direitos ou faculdades ou no
cumprimentos dos seus ónus ou deveres processuais (art. 7/4 do CPC)

○ Dever de Consulta das Partes: O tribunal tem o dever de consultar as partes


sempre que pretenda conhecer (oficiosamente) de matéria de facto ou de
direito sobre a qual elas não se tenham pronunciado (art. 3/3 do CPC)11.

★ Poderes Funcionais do Tribunal: Os poderes que servem de instrumento para o


exercício do dever de cooperação do tribunal são poderes funcionais ou

11
Este dever deve ser cumprido mesmo quando o tribunal considere que só por negligência das partes é que
pode ter houvido a omissão da alegação do facto ou a não atribuição de uma qualificação jurídica, de modo a
obviar a “decisões surpresa”.

29
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poderes-deveres, que o tribunal tem o dever de exercer para cumprir a sua função
assistencial perante as partes.

Posição Comum: O princípio de cooperação também se manifesta na posição recíproca de


qualquer dos sujeitos processuais perante todos os demais, através de, por exemplo,
deveres de correção e urbanidade.

8.7 PRINCÍPIO DA IGUALDADE DAS PARTES


Igualdade de chances e de riscos: ambas as partes devem ter as mesmas chances de obter
uma decisão favorável ou desfavorável - faceta do processo equitativo (art. 20/4 da CRP) e
corolário dos princípios da igualdade perante a lei (art. 13/1 da CRP) e da imparcialidade de
apreciar e decidir a causa.

Ónus das Partes: As partes têm de ser tratadas de forma igual, contudo, as partes poden
criar, através do seu comportamento, situações de desigualdade, consequência direta dos
ónus que sobre elas recaem e das consequências do seu não cumprimento - ex: se o reu
não contestar, o autor é dispensado de provar os factos alegados (art. 567/1 do CPC)

Deveres do Tribunal: O art. 4º do CPC impõe que o tribunal assegure, durante o processo,
igualdade substancial (ou material entre as partes)

★ Igualdade de Tratamento: Dever de tratar de forma igual o que é igual e de forma


diferente o que é diferente.

★ Correção de Desigualdades: É realizada através da função existencial ou auxiliar do


juiz - ex: o art. 590/2b do CPC impõe que o juiz convide as partes a aperfeiçoarem os
seus articulados no caso de algum deles ser deficiente.

Princípio do Contraditório: Implica que, sendo formulado um pedido ou oposto um


argumento, deve dada a oprtunidade da outra parte se pronunciar sobre o pedido ou
argumento (art. 3/1 do CPC in fine)12

★ Audiência Prévia: A não audiência prévia das partes implica a nulidade da decisão
por excesso de proncúncia (art. 615/1d do CPC)

○ Corolários do direito à audiência prévia:

■ Levantamento de questões pelas partes: O juiz deve ouvir a parte


contrária antes de decidir (art. 3/3/1ªp do CPC), sendo exigido que o

12
Este direito de ser ouvido justifica os cuidados que lei coloca na citação do reu (art. 187-192 e 225-246) e o
princípio da audiência contraditória das provas (art. 415/1 do CPC).

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tribunal cumpra previamente o dever de informar a parte e que esta


tenha tempo suficiente para poder responder

■ Decisão de questões pelo juiz: O juiz não pode decidir questões de


direito ou de facto, mesmo se forem de conhecimento oficioso, sem
que as partes tenham a possibilidade de se pronunciarem sobre elas
(art. 3/3/2ªp do CPC)

○ Dever de Consulta: A audiência prévia permite evitar decisões surpresa e


justifica-se noemadamente nas seguintes situações:

■ Quando o tribunal considere relevante matéria de facto ou de direito


que as partes tenham considerado irrelevantes ou que lhes tenha
passado despercebida

■ Quando o tribunal qualifique determinada matéria de facto de


maneira diferente das partes ou entenda que a questão determina a
aplicação de direito estrangeiro

■ Quando o tribunal conhece oficiosamente matéria de facto, em


relação à qual o tribunal tenha poderes inquisitórios (art. 986/2 do
CPC), não alegada pelas partes.

■ Quando o tribunal tenha dado a entender às partes uma determinada


questão de facto ou de direito era irrelevante, mas, entretanto, tenha
mudado de opinião.

■ Quando o tribunal fornece a um meio de prova um valor distinto


daquele que ambas partes lhe atribuem.

★ Contraditório Diferido: O direito à audiência pode ocorrer depois do tribunal proferir


a sua decisãonos casos previstos na lei, não pela vontade das partes (art. 3/2 do
CPC). Geralmente ocorrem no âmbito das providências cautelares (art. 2/2 in fine)

★ Princípio do Contraditório em Relação a Terceiros: Ninguém pode ser afetado nos


seus direitos ou interesses por uma decisão proferida num processo em que,
podendo tê-lo sido, não foi demandado.

8.8 PRINCÍPIO DA BOA FÉ


As partes devem atuar em juízo de boa fé (art. 8 do CPC)

Dever de Atuação de Boa Fé: As partes devem atuar em juízo de boa fé (art. 8 do CPC).
Limte ao domínio das partes sobre o processo resultante do princípio dispositivo e implica a
proibição da litigância de má fé.

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Concretização do Conceito de Má Fé:

★ Bilateral: Ambas as partes agem de má fé com o intuito de prejudicar terceiros -


simulação processual (art. 612 do CPC)

★ Unilateral: Pressupõe que a parte atua, com dolo ou negligência grave, de forma
diferente daquela que é a devida e a esperada, violando, nomeadamente, os deveres
de lealdade e de probidade.

○ Proibição da Mentira: Alteração da verdade ou omissão dos factos relevantes


para a decisão da casusa (art. 542/2b do CPC) - violação o dever de verdade
e o dever de completude nas suas afirmações.

■ Dever de Verdade: A parte não deve alegar factos que sabe que não
são verdadeiros, nem impugnar factos que sabe que são verdadeiros.
● Alegação de factos que parte não pode saber se são
verdadeiros: A afirmação de meras hipóteses ou conjecturas
não viola o dever de verdade se a parte fornecer indícios que
constituam uma explicação plausível do que afirma.

■ Dever de Completude: A parte tem o dever de alegar todos os factos


relevantes para a apreciação da causa, tanto os factos que lhe são
favoráveis, como os que lhe são desfavoráveis.
● Limite: faculdade de recusa da colaboração da parte em
matéria probatória - ex: nenhuma parte é obrigada a revelar
factos da sua vida privada ou familiar (art. 417/3b do CPC)

○ Comportamento Contraditório: Atuar em venire contra factum proprium e


situações de supressio.

○ Omissão de Cooperação (art. 542/2c e 7 do CPC)

○ Abuso de Faculdades Processuais: Uso manifestamente reprovável de meios


processuais para conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da
verdade, entorpecer a justiça ou protelar, sem fundamento, o trânsito em
julgado de uma decisão (art. 542/2d do CPC).

■ Autonomia: Pode perguntar-se se o abuso do processo pode ser


sancionado autonomamente da litigância de má fé.
● Prof. MTS: Ainda que a litigância de má fé pressuponha o dolo
ou a negligência e que o abuso de direito seja aferido
objetivamente, o Prof. MTS tende para uma resposta negativa
à questão pois o abuso de direito à ação só existe com um uso
reprovável de atos processuais

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■ Abuso do Direito à Ação: Não se pode entender que todo o abuso de


direito em processo corresponde a um abuso de direito à ação que
deve ser sancionado com a condenação da parte como litigante de
má fé. A ação pode improceder simplesmente porque o o tribunal
entende que o que o autor pede é abusivo, pelo que deve ser
condenado nos termos do art. 334 do CC.

Consequências legais do ato praticado contra a boa fé: Não produz efeitos em juízo.

★ Regime Comum:

○ Autor demanda sem razão, mas de boa fé e sem culpa: Essa parte vai decair
na ação e, normalmente, pagar as custas (art. 527/1 e 2 do CPC), não
havendo lugar a indemnização, pois o autor não agiu ilictamente

○ Autor demanda sem razão, de boa fé e com culpa - ação leviana: O autor não
investigou suficientemente a situação jurídica, indo perder a ação e,
normalmente, pagar as custas (art. 527/1 e 2 do CPC), mas não deverá
nenhuma indemniação, pois a lei só sanciona a atuação com dolo ou
negligência grave (art. 542/2/2ªp do CPC).

○ Autor demanda e de má fé e sem culpa - ação temerária (ou seja, dolo ou


negligênica grave): Essa parte vai decair na ação e, normalmente, pagar as
custas (art. 527/1 e 2 do CPC) e está sujeita a multa e indemnização como
litigante de má fé (art. 542/1 do CPC).

★ Regime Especial: Previstos nos art. 374/1, 727/4, 858 e 866 do CPC, operam com a
mera negligência, o que aumenta as hipóteses de responsabilização da parte.

○ Taxa Sancionatória Excecional: A parte deve ser condenada ao pagamento


desta taxa se atuar com falta de negligência a propor a ação, deduzir
oposição, formular requerimento, interpor recurso, apresentar reclamação ou
levantar incidente manifestamente improcedente (art. 531 do CPC). A
condenação ao pagamento deste valor preclude a condenação a outras
multas (art. 27/5 do RCP)

8.9 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL


Pode ser visto num plano institucional e individual.

Plano Institucional: O processo não deve implicar custos desnecessários e não


proporcionais à prossecução da sua finalidade

★ Concretização: Necessidade de desonerar os tribunais de processos desnecessários


e o imperativo andamento célere dos processos pendentes.

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○ Institutos processuais decorrentes deste princípio: Exceções de litispendência


e de caso julgado (art. 580/1 e 581/1 do CPC), suspensão da instância por
prejudicialidade (art. 269/1d e 272 do CPC),...

Plano Individual: Plano de cada ato processual.

★ Proibição de Prática de Atos Inúteis: Obsta a que se pratiquem atos tanto


objetivamente como subejtivamente inúteis ou superfluos num processo pendente.

○ Atos Objetivamente Inúteis: Não respeitam à matéria discutida no processo

○ Atos Subjetivamente Inúteis: Nada acrescentam ao que já está adquirido

■ Concretização: A economia processual fundamenta a irrelvência


virtual de um ato na circunstância do juiz já ter adquirido a
convinccção sobre a questão em causa.

8.10 PRINCÍPIO DA AUTO-SUFICIÊNCIA


A mera invocação de um direito permite à parte instaurar uma causa, sem que seja
efetivamente seu titular: o processo vai averiguar esse facto. O mesmo se passa no plano
dos pressupostos proceussuais em que a sua apreciação é realizada na ação em que eles
condicionam o mérito - a parte ilegítima é legítima para sustentar a sua legitimiadade assim
como o tribunal incompetente é competente para decidir a sua competência.

II. AFERIÇÃO DOS PRESSUPOSTOS


RELATIVOS AO TRIBUNAL
9§ COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
Regras de Competência:

★ Regras Atributivas: Tornam os tribunais de um Estado competentes para apreciar


uma causa - generalidade das regras.

★ Regras Privativas: Retiram a competência internacional aos tribunais de um Estado


em situações em que, na sua ausência, os tribunais seriam competentes - decorre da
relevância atribuída a aspectos privativos de juriddição e de regras que bloqueiam a
propositura de ações quando há outro tribunal internacionalmente competente.

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Elementos de Conexão: A atribuição de competência internacional aos tribunais de um


Estado pressupõe que a causa apresenta um ou vários elementos de conexão com a ordem
jurídica desse Estado - ex: lugar da situação dos bens ou do cumprimento da obrigação.

★ Escolha dos Elementos de Conexão: É feita em função de interesse como a boa


administração da justiça e a efetividade da tutela processual.

9.1 REGULAMENTO 1215/2012


A. ÂMBITO DE APLICAÇÃO
I. MATERIAL
Delimitação Positiva: O regulamento é aplicável em matéria civil e comercial,
independentemente do tribunal competente na ordem interna (art. 1/1/1ªp do Reg.).

★ Situações de concurso de pretensões: Se existirem várias pretensões no caso, mas


apenas uma dela cair no âmbito de aplicação do regulamento, este continua a
aplicar-se, mas cabe ao direito interno do Estado verificar se o tribunal também é
competente para as demais pretensões concorrentes.

Delimitação Negativa: O regulamento não abrange o previsto no art. 1/1/2ªp e 1/2 do Reg.

II. TEMPORAL
A generalidade das disposições do regulamento só são aplicáveis a partir de 10/01/2015
(art. 66/1 e 81 do reg.)

III. ESPACIAL
Reconhecimento e Exeucção: O regulamento é aplicável ao reconhecimento e execução de
quaisquer decisões proferidas num dos Estados Membros (art. 2a do reg.), mesmo que
tenham sido proferidas por tribunais cuja competência não foi aferida por aquele
instrumento europeu.

- Regras de Competência
Quando o reu tem domícilio na UE:

★ Regra Geral - Tribunal do Domícilio: O reu deve ser demandado,


independentemente da sua nacionalidade, nos tribunais do Estado do seu domícilio
(art. 4/1 e 6/1 do reg.)

○ Determinação do Domicílio:

■ Pessoas Singulares: O juiz da casa aplica a sua lei interna para


determinar se uma parte tem domicílio no seu próprio Estado (art.
62/1 do reg.) e aplica a lei interna de um outro Estado para
determinar se a parte tem domícilio nesse Estado (art. 62/2 do reg.)

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■ Pessoas Colectivas e Sociedades Comerciais: Têm domícilio no lugar


em que tiverem a sua sede social, administração central ou
estabelecimento principal (art. 63/1 do reg.)

★ Regras Especiais: O reu pode ser demandado perante os tribunais de um outro EM


se tal resultar de uma regra especial (art. 5/1 do reg.). A competência fixada pelo
critério especial concorre com o critério geral (art. 4/1 do reg.), de modo a que o
autor possa escolher qualquer dos tribunais (art. 5/1 do reg.)

○ Art. 7 a 9 do Regulamento:

■ Matéria Contratual (art. 7/1a do reg): É competente o tribunal do


lugar onde a obrigação (voluntária) foi, ou devia, ser cumprida.
● Venda de bens ou prestação de serviços: Releva o local onde
os bens ou serviços foram/deviam ser entregues ou prestados
(art. 7/1b reg.)
- Várias prestações realizadas em vários EM: É
competente o tribunal do lugar da prestação principal
- Plurailidade de lugares de entrega no mesmo EM: É
competente o tribunal do lugar da entrega principal,
em função de critérios económicos.
- Na falta de fatores de decisão, o autor pode demandar
o reu no tribunal do lugar de entrega da sua escolha

■ Matéria Extracontratual13 (art. 7/2 do reg.): O reu pode ser


demandado no tribunal onde ocorreu o facto danoso.
● Se o lugar do facto danoso não coincidir com o lugar onde se
possa produzir o dano (ex: cyberbullying), ação também pode
ser instuarada no tribunal do local onde se produzirá o dano

■ Ação Cível (art. 7/3 do reg.): Nas ações de indemnização ou


restituição fundadas em infração penal, é competente o tribunal onde
foi intentada a ação pública, se a lei desse Estado permitir conhecer
da ação cível
● Em Portugal: O pedido deve ser deduzido no processo penal
respectivo (art. 71 do CPP), só podendo ser pedido em
separado perante os tribunais civis, nos casos previsitos no
art. 72/1 do CPP

■ Objeto Cultural (art. 7/4 do reg.): A ação destinada a recuperar um


objeto cultural, fundada no direito de propriedade da pessoa que
reclama o direito, pode ser proposta no tribunal do lugar em que se
encontra o objeto no momento da sua instauração.

13
Cabe neste conceitotudo o que não se inclui no conceito de matéria contratual do art. 7/1

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■ Exploração de Sucursal (art. 7/5 do reg.): Nas ações relativas à


exploração de uma sucursal, agência ou de outro estabelecimento, o
tribunal da sua situação tem competência para conhecer de uma ação
proposta contra a casa-mãe com sede num outro EM.
● Elemento de Conexão: Os litígios têm de decorrer da
exploração da sucursal, devendo referir-se aos direitos e às
obrigações relativas à gestão da sucursal.

■ Ação relativa a trust (art. 7/6 do reg.): Se a ação disser respeito às


relações internas de um trust constituído e se o trust não respeitar a
matérias excluídas do âmbito de aplicação do regulamento (art. 1/2
do reg.), o fundador, o trustee ou o beneficiário também pode ser
demandado perante os tribunais do EM em cujo território o trust tem
o seu domicílio.

■ Competência por Conexão (art. 8 do reg.): A competência de um


tribunal pode ser alargda através de uma conexão estabelecida em
função das partes ou do objeto da causa.14.
● Pluralidade de Demandados: Se a ação for demandada contra
vários réus, todos podem ser demandados no tribunal de
domicílio de um deles, desde que os pedidos estejam ligados
● Intervenção de terceiros (art. 8/2 do reg): Qualquer terceiro
pode ser chamado a intervir numa ação pendente, salvo se a
escolha do tribunal tiver tido o intuito de subtrair o terceiro à
jurisdição do tribunal que seria competente
● Pedido Reconvencional (art. 8/3 do reg): É competente o
tribunal onde facto de ondeo pedido deriva está pendente

○ Proferimento de Medidas Provisórias e Cautelares: As medidas provisórias


ou cautelares previstas na lei de um EM podem ser requeridas nos tribunais
deste Estado e de acordo com as suas regras de competência, mesmo que,
por força do regulamento, um tribunal de um outro Estado seja competente
para conhecer da ação principal, contudo a decisão só pode incidir sobre os
bens situados no seu território,

■ “Medidas Provisórias”: Medidas que se revestem de uma natureza


antecipatória, destinando-se a manter uma situação de facto ou de
direito a fim de salvaguardar direitos cujo reconhecimento é pedido
ao juiz da questão de fundo.

■ Condições de Aplicação:
● 1) As medidas cautelares devem caber no âmbito de aplicação
material determinado pelo art. 1/1 e 2 do reg.
14
Este regime não tem relevância quando o demandado tenha domicílio no EM do tribunal de ação, pois esse
tribunal já era competente nos termos gerais (art. 4/1 do reg)

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● 2) O requerido deve ter domicílio num dos EMs - ou então tem


de ser uma das situações do do 6/1 do do reg.

○ Normas que visam proteger a parte mais fraca:

■ Matéria de seguros (art. 10 a 16 do reg)


● Local de Demanda:
- Segurado: Local do seu domicílio (art. 14/1 do reg)
- Segurador: Local do seu domicílio, do domicílio do
segurado (art. 11/1 do reg) onde ocorreu o facto
danoso (art. 12 do reg).
● Competência Convenional: Um pacto de jurisdição só é válido
se estiver preenchida uma das condições do art. 15 do reg

■ Contratos de consumo (art. 17 a 19 do reg): Ações relativas a


contratos de consumo (art. 17/1/1ªp), ou seja, celebrados por uma
pessoa singular para uma finalidade que possa considerar-se
estranha à sua atividade comercial, com outra pessoa que esteja no
quadro da atividade comercial15
● Local de Demanda:
- Consumidores: Local do seu domicílio (art. 18/2 do reg)
- Contraparte do contrato de consumo: Local do seu
domicílio ou do domicílio do consumidor (art. 18/1 do
reg), mesmo que seja fora dos EMs
● Competência Convenional: Um pacto de jurisdição só é válido
se estiver preenchida uma das condições do art. 19 do reg

■ Contratos de trabalho (art. 20 a 23 do reg): Ações que têm por


fundamento contratos que regulam uma atividade laboral realizada
com dependência, sujeita a orientação e que tem como contrapartida
o recebimento de uma remeneração.
● Local de Demanda
- Trabalhadores: Local do seu domicílio (art. 22/1 do reg)
- Entidade Patronal: Local do seu domicílio ou no
tribunal do lugar onde ou a partir do qual o
trabalhador efetua habitualmente o seu trabalho ou no
tribunal onde se situa ou situava o estabeleciemnto
que contratou o trabalhador (art. 21/2 do reg.)
● Competência Convencional: Um pacto de jurisdição só é válido
se estiver preenchida uma das condições do art. 23 do reg.

15
Este regime não se aplica a ações contenciosas preventivas ou a contratos de transporte (excepto viagens
organizadas - art. 17/3 do reg)

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Quando o reu não tem domícilio na UE: A competência é regulada pela lei interna do
Estado do foro, sem prejuízo das situações em que não se exige que o requerido tenha
domícilio num EM (art. 6/1 reg)

★ Situações em que não se exige domicílio: Situações de competência em matéria de


contratos de consumo (art. 18/1 do reg.) e individuais de trabalho (art. 21/2 do reg.)
e competência convencional (art. 25 do reg.)

Quando o domícilio do reu é desconhecido: O regulamento é aplicável quando for


intentada uma ação contra um nacional de um outro EM, cujo domicílio é desconhecido,
mesmo que haja indícios de prova que permitam concluir o demandado está domiciliado
fora do EM

★ Situações em que se exige domicílio num EM: Casos referidos no art. 7º e o 8º do


regulamento (↑)

Forum non conveniens: Não é admitido que um tribunal se possa considerar incompetente
por entender que um outro tribunal se encontra mais bem colocado para resolver o litígio,
contudo, o tribunal do EM pode suspender a instância se considerar que tal é necessário
para a correta admnistração da justiça (art 33/1b e 34/1c do reg.)

- Situações de Competência Exclusiva (art. 24 do Reg.)


Prevalecem sobre a competência determinada por quaisquer outros critérios, gerais ou
especiais (art. 4 e 7-23 do reg.), impedindo a celebração de um pacto de jurisdição.

Enunciado:

★ Ações Reais: São exclusivamente competentes os tribunais do Estado onde se


encontre o imóvel para açãoes que se basearem em direitos reais (art. 24/1/1§ reg)

○ Exeção: Nos contratos de arrendamento celebrados para uso pessoal


temporário por um período máximo de 6 meses, em que o arrendatário seja
uma pessoa singular com domicílio no mesmo EM que o arrendatário (art.
24/1/2§ do reg) também são competentes os tribunais do EM do domicílio
do demandado.

★ Execução de Decisões: São apenas competentes os tribunais do Estado do lugar da


execução (art. 24/5 reg).

★ Decisões Relativas a Sociedades e Pessoas Coletivas: São exclusivamente


competentes os tribunais do Estado da sede da sociedade ou pessoa coletiva (art.
24/2/1ªp do reg.)

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Luísa Braz Teixeira

★ Matéria de Validade de Inscrições em Registos Públicos: São exclusivamente


competentes os tribunais do EM em cujo território estejam conservados os registos
(art. 24/3 do reg) - a ação tem de respeitar ao próprio registo, não às consequências.

★ Matéria de Inscrição ou Validade de Patentes, Marcas, Desenhos, Modelos e


Direitos Análogos: São exclusivamente competentes os tribunais do EM em cujo
território o depósito ou registo tiver sido requerido, efetuado, ou considerado
efetuado (art. 24/4 do reg).

Violação da Competência Exclusiva: É de conhecimento oficioso e constitui um


impedimento ao reconhecimento de uma decisão proveniente de um outro EM (art. art.
45/1/e/ii do reg).

- Pactos de Jurisdição - art. 25 do regulamento


Âmbito de Aplicação: O regime previsto no art. 25 do regulamento é aplicável sempre que
o acordo atribua competência ao tribunal(ais) de um Estado Membro (art. 25/1/1ªp do reg)

★ Delimitação:

○ Ambas as Partes são domiciliadas no mesmo EM:

■ Se é atribuída competência aos tribunais de outro EM, ele inclui-se no


âmbito de aplicação do art. 25

■ Se é atribuída competência aos tribunais desse EM, só se inclui no


âmbito do art. 25 se derrogar a competência dos outros tribunais

○ É concedida competência aos tribunais de um Estado terceiro: A convenção é


fora do âmbito do art. 25 do reg.

Condições de validade: O pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes, pelo


que deve respeitar todos os requisitos exigidos quanto à formação dos contratos.

★ Direito Interno: Os requisitos que não constem (nem sejam incompatíveis) do art. 25
do regulamento, são regulados pela lei interna do Estado do foro.

★ Objeito: O pacto deve indicar a relação jurídica da qual surgiram ou poderão surgir
os litígios que serão objeto do processo e o tribunal ou os tribunais competentes
para a apreciação da causa (art. 25/1/1ªp do reg.)

★ Requisitos Formais:

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Luísa Braz Teixeira

○ Forma Escrita (art. 25/1/3ªp/a do reg.): É equivalente à forma escrita qualquer


comunicação por via eletrónica que permita um registo duradouro do pacto
(art. 25/2 do reg.) - ex: aceitação por clic das condições de compra e venda

■ Verbalmente, com Confirmação Escrita: Se for só celebrado


verbalmente nunca é suficiente (art. 25/1/3ªp/a do reg.)

○ Conformidade com usos que as partes estabelecerem entre si (art.


25/1/3ªp/b do reg.)

○ Conformidade com usos do comércio internacional (art. 25/1/3ªp/c reg.)

★ Autonomia do Pacto: Os pactos atributivos de jurisdição que façam parte de um


contrato são independentes dos outros termos, não podendo a sua validade ser
contestada apenas com fundamento na invalidade desse contrato (art. 25/5/1 e 2§)

Efeitos:

★ Processuais:

○ Efeito Atributivo: Atribuição de uma competência exclusiva, ou alternativa, ao


tribunal designado (art. 25/1/2ªp do reg.)

○ Efeito Derrogatório: Nenhum outro tribunal será competente

★ Substantivos: O pacto de jurisdição é vinculativo para as partes e, em certos casos,


para terceiros - ex: o segurado, quando não coincide com o tomador do seguro, fica
vinculado ao contrato celebrado por este com o segurador.

- Controlo da Competência
Controlo Oficioso: No regulamento, é possível em duas situações:

★ Violação da competência exclusiva do art. 24 do regulamento (art. 27 do reg)

★ O réu, domiciliado num EM, não foi demandado nos tribunais do Estado do seu
domícilio e não compareceu em juízo (art. 28/1 do reg.)

Pacto Tácito (art. 26/1 do reg.): Se a parte comparecer em juízo e não arguir a
incompetência do tribunal, este torna-se comeptente para conhecer do litítigio, havendo
uma extensão da sua comeptência.

★ Requisitos:

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Luísa Braz Teixeira

○ A ação foi intentada violando as disposições do regulamento, incluindo-se a


hipótese da incompetência do tribunal resultar de um pacto de jurisdição.

○ Não se exige que as partes tenham domicílio num EM.

★ Dever de Preveção: Nos casos em que se trata de normas que visam proteger a
parte mais fraca (↑), o tribunal deve assegurar que o demandado é informado do seu
direito de contestar a competência e das consequências de não comparecer em juizo
(art. 26/2 do regulamento)

★ Funcionamento do Efeito Atributivo: O efeito atributivo de competência


internacional não se produz se o réu comparecer em juízo para arguir a
incompetência do tribunal ou se houver um outro tribunal exclusivamente
competente (art. 26/1/2ªp)16

○ Num EM que não era internacionalmente competente: O pacto tácito atribui


competência internacional e territorial, não sendo as regras internas sobre os
pactos de competência aplicáveis.

○ Num EM que era internacionalmente competente, mas não no tribunal


territorialmente competente:

■ Se a competência territorial também é regulada pelo regulamento: O


pacto tácito atribui competência territorial ao tribunal da causa.
● Teoria da dupla funcionalidade (Prof. MTS): Embora o
regulamento só tenha em vista dar-nos a compentência
internacional em algumas normas da também a competência
territorial, como será o caso do art. 7/5 (que diz “lugar”), mas
não do art. 24 (que diz “do Estado”)

■ Se a competência territorial não é regulada pelo regulamento:


Importa aferir a validade do pacto tácito de acordo com o direito
interno do Estado - em Portugal o art. 95/1 e 104/1 do CPC

Consequências da Incompetência: O regulamento não define as consequencias da


incompetência, pelo que estas devem ser procuradas no dirieto interno dos Estados.

9.2 DIREITO INTERNO


Regime Legal: Incumbe à lei de processo fixar os fatores de que depende a competência
internacional dos tribunais judiciais (art. 37/2 da LOSJ). Os tribunais portugueses têm
competência internacional quando se verifique alguma das circunstâncias mencionadas nos
art. 62, 63 ou 94 do CPC.

16
O demandado pode contestar a competência do tribunal e apresentar de forma subsidiária a sua defesa

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★ Âmbito de Aplicação: O regime interno só é aplicável quando não deva ceder


perante instrumentos internacionais e atos de direito europeu (art. 59/1 do CPC)

Critérios de Conexão: Para que um tribunal português seja competente para apreciar um
litígio, é necessário que entre o litígio e a ordem jurídica haja um elemento de conexão que
seja suficientemente relevante para justificar o julgamento desse litígio.

★ Elementos de Conexão: (altenativos)

○ Critério da Coincidência - art. 62/a e 63 do CPC: A ação deva ser proposta


em Portugal, segundo as regras de competência territorial estabelecidas na
lei portuguesa

■ Regras com Dupla Funcionalidade: Os art. 70 a 84 do CPC fixam para


cada litígio uma sede territorial e indicam como competente o tribunal
do lugar onde se situa a sede, que se for Portugal torna os tribunal
internacionalmente competente

■ Competência Exclusiva (art. 63 do CPC): A competência exclusiva dos


tribunais portugueses obsta à validade do pacto privativo de
jurisidição (art. 94/3d do CPC e 25/4 do reg.) e ao reconhecimento em
Portugal de uma decisão proferida por um tribunal estrangeiro (art.
980/c do CPC e 45/1/e)/ii do reg.)
● Matéria de Direitos Reais e Arrendamento de Imóveis em
Território Português - al. a), 1ª p
● Matéria de Validade da Constituição, Dissolução ou Decisões
de Sociedades ou Outras Pessoas Coletivas com sede em
Portugal- al. b)
● Matéria de Execução sobre Imóveis em Território Português -
al. d)
● Matéria de Insolvência ou Revitalização de pessoas
domiciliadas em Portugal ou de pessoas colectivas ou
sociedades cuja sede seja em Portugal - al. e)

○ Critério da Causalidade - art. 62/b do CPC: A competência resulta de ter sido


praticado em território português o facto que serve de causa de pedir na
ação ou algum dos factos que intergrem essa causa petendi.

■ Prof. MTS: Considera que é díficil que este critério não conduza a uma
competência exorbitante destes tribunais

○ Critério da Necessidade - art. 62/c do CPC: O direito só se pode tornar efetivo


por meio de ação proposta em tribunal português ou é para o autor muito
difícil propor a ação no estrangeiro.

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Luísa Braz Teixeira

■ Impossibilidade Jurídica: Pela conjugação das regras de competência


internacional dos vários países, o litígio fica sem tribunal competente
para o dirimir - conflito negativo de competências internacionais.

■ Mera dificuldade prática: Em virtude de um facto natural ou material


(ex: uma guerra). Esta dificuldade, aliada a uma relação do objeto ou
das partes com a ordem jurídica portuguesa, torna o tribunal
português um forum conveniens.

○ Critério da Vontade das Partes / Convencional - art. 94 do CPC: Conexão


resultante da vontade das partes.

■ Admissibilidade do Pacto: Se a relação controvertida tiver conexão


com várias ordens jurídicas, as partes podem convencionar qual é a
jurisdição competente para apreciar um litígio determinado ou os
litígios eventualmente decorrentes dessa relação (art. 94/1 do CPC)
● Presunção do art. 94/2 do CPC: Se as partes nada disserem,
presume-se que a competência que é atribuída ao tribunal
(estrangeiro ou português) é exclusiva, pelo que, a celebração
do pacto de jurisidição obsta a que a ação possa ser
instaurada num outro tribunal.

■ Condições de Validade:
● Dispoibilidade do objeto do processo pelas partes - art. 94/3a
● Aceitação da atribuição da competência pela lei do tribunal
designado - art. 94/3b do CPC
● Existência de um interesse sério de pelo menos uma das
partes, que não seja inconveniente para a outra - art. 94/3c
● Respeito pela competência exclusiva dos tribunais
portugueses - art. 94/3d do CPC
● Celebração através de forma escrita - art. 94/3e do CPC
● Requisitos substantivos dos negócios jurídicos- o pacto é um
negócio jurídico

10§ COMPETÊNCIA INTERNA


Toda a causa tem um tribunal onde deve ser proposta, havendo entre essa causa e o
tribunal um nexo jurídico. A competência interna reparte-se em função da matéria, do valor,
da hierarquia e do território (art. 37/1 da LOSJ). Verificadas determinadas condições, as
partes podem convencionar o tribunal competente para apreciar o litígio (art. 94 e 95 do
CPC), sendo essa convenção autónoma do contrato em que se insere.

★ Regra Kompetenz-Kompetenz: Qualquer tribunal tem competência para apreciar a


sua própria competência.

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Princípio da Perpetuatio Iurisdictionis: O nexo de competência fixa-se no momento em


que a ação se propõe em atenção à lei e à situação nesse momento dos fatores atributivos
de competência. Esse nexo mantém-se ainda que mude a lei ou a situação de tais fatores
(art. 38/1 da LOSJ). Vale enquanto princípio não escrito no âmbito do processo civil europeu.

★ Modificação Legal: As modificações de facto são sempre irrelevantes, mas as


modifiações de dirieto podem ser relevantes em duas situações (art. 38 LOSJ):

○ Supressão do órgão judiciário a que a causa estava afecta: O tribunal era


competente e deixa de o ser, incumbindo ao juiz ordenar oficiosamente a
remessa dos processos para o tribunal que seja competente (art. 64 do CPC)

○ Atribuição de competência ao órgão ao qual a causa estava (indevidamente)


afeta: O tribunal não era competente e passa a sê-lo

★ Modificação convencional: Se é possível uma atribuição tácita de competência a um


tribunal incompetente, então, por maioria de razão, também é possível essa
atribuição através de uma convenção das partes (art. 97/1, 103/1 e 104/1 e 2 CPC)

Extensão da Competência: Alargamento da competência do tribunal atribuída para certa


questão, a outras que se encontram em conexão com ela.

★ Casos de Extensão da Competência: Encontram-se regulados nos art. 91-93, 267 e


268 do CPC. As hipóteses de intervenção de terceiros (art. 311-350 do CPC)
implicam a mesma extensão.

★ Extensão Múltipla: O tribual competente para a ação também é competente para


conhecer dos meios incidentes que nela se levantem e das questões que o réu
suscite como meio de defesa (art. 91/1 do CPC).

○ Critério de Competência Abrangidos: Pode abranger qualquer um, exceto:

■ Critério do Valor da Causa: Em certos casos, pois este critério pode


implicar a remessa do processo no juízo local cível para o juízo central
cível (art. 117/3 da LOSJ)

■ Critério Material: Os tribunais civeís não conhecem, em regra, de


questões prejudiciais que sejam de competência dos tribunais
ciminais ou administrativos, podedo abster-se de decidir até ao
tribunal competente se pronunciar (art. 92/1 do CPC)
● A suspensão do processo fica sem efeito se a ação não for
exercida em 1 mês ou se o processo estiver parado, por
negligência das partes, por 1 mês, decidindo o juiz da ação a
questão prejudicial, embora a sua decisão não produza efeitos
fora do processo em que foi proferida (92/2 CPC)

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★ Forum Reconventionis: O tribunal que é competente para a ação é igualmente


competente para a reconvenção deduzida pelo réu (art. 93/1 e 266/1 CPC)

★ Competência Territorial: Verifica-se uma extensão de competência territorial


quando se proponha uma ação, das que devam ocorrer no tribunal do domicílio do
réu, contra vários réus (art. 82/1 do CPC), tal como no caso de cumulação simples de
pedidos (art. 555/1 do CPC)

10.1 COMPETÊNCIA TERRITORIAL


Os tribunais portugueses podem ser internacionalmente competentes por força dos
critérios da causalidade, necessidade ou vontade das partes (↑), não ficando determinado
qual o tribunal territorialmente competente, pelo que tal deverá ser feito através dos art.
80/1 e 2, 81 e, em úlima análise, 80/3 do CPC.

Regras de Competência - Art. 80 do CPC:

★ Nº1 - Regra primária de atribuição de carácter geral: Em todos os casos não


previstos em disposições especiais é competente o tribunal do domicílio do réu.

★ Nº2/1ªp - Regra subsidiária ao nº1 (↑): Se o reu não tiver residência habitual, for
incerto ou ausente, a ação pode ser intentada no tribunal do domicílio do autor-

★ Nº3 - Regra de Recurso (Forum Necessitas): Se não existirem critérios de conexão


relevantes com o litgio, o tribunal português competente será o de Lisboa.

○ Condições de Aplicação: Este artigo não pode ser conjugado com o art. 62/a,
uma vez que este artigo só se pode aplicar depois de se saber que o Portugal
é internacoinalmente competente.

10.2 DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA INTERNA


DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS
Divisão Territorial:

★ Tribunais Judiciais:

○ 1ª Instância: O território nacional divide-se me 23 comarcas (art. 33/2 da


LOSJ e 3 da RLOSJ), em cada uma exerce jurisdição um tribunal de comarca
(art. 33/3 e 79 da LOSJ)

○ 2ª Instância: Atualmente, estão em funcionamento as Relações de


Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora.

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○ STJ: Exerce competência sobre todo o território (art. 43/1 da LOSJ)

★ Julgados de Paz: Podem ter, como área de competência, um concelho ou um


agrupamento de concelhos (art. 4/1 da LJP), pelo que exercem jurisidção numa área
que, normalmente, não coincide com a da comarca.

Determinação dos Recursos: Os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para o


efeito de recurso das suas decisões (art. 42 da LOSJ)

★ STJ: Reconhece o recurso das causas cujo valor exceda a alçadas das relações

★ Relação: Reconhece o recurso das causas cujo valor exceda a alçada da 1ª instância

★ Tribunal de Comarca: Reconhece dos recursos das sentenças proferidas pelos


julgados de paz (art. 62/1 da LJP) e pelos notários e conservadores.

A. TRIBUNAL DE COMARCA
Estrutura: Os tribunais de comarca desdobram-se em juízos de competência especializada,
de competência genérica e de proximidade (art. 81/1 da LOSJ)

Competência Material: O tribunal de comarca tem competência para todas as causas não
abrangidas pela competência de outros tribunais - art. 210/3 CRP e 80/1 da LOSJ).

★ Juízos Centrais Cíveis: Comprorta juízos (comuns) de competência especializada


(art. 81/1 e 3 da LOSJ)

○ Ações Declarativas: Preparam e julgam ações de processo comum de valor


superior a 50mil€ (art. 117/1a da LOSJ), desde que não caibam na
competência de um tribunal de comeptência territorial alargada.

○ Ações Executivas: Exercem ações executivas de natureza cível comum de


valor superior a 50mil€ (art. 117/1b da LOSJ), desde que não caibam na
competência de um outro juízo ou tribunal.

○ Procedimentos Cautelares: Preparam e julgam procedimentos cautelares que


correspondem a ações que preenchem os requisitos dos art. 117/1 a) e b) da
LOSJ

○ Juízo de Comércio: Nas comarcas onde não há juízo de comércio, a


competência desse juízo pertence, quando o valor da causa é mais de 50mil€
e o processo comum, ao juízo central cível (art. 117/2 LOSJ)

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★ Juízos Local Cível: Preparam e julgam os processos relativos a causas (especiais)


não atribuídas a outros juízos ou a tribunal de competência territorial alargada (art.
130/1 da LOSJ). São residuais aos juízos centrais.

Competência Territorial: O país divide-se em comarcas, pelas quais se dividem os


processos

★ Base Legal dos Critérios:

○ Processo Declarativo: Art. 70 a 84 do CPC

○ Processo Executivo: Art. 85 a 90 do CPC

★ Critério Geral: Recorre-se a este critério quando o caso não seja previsto noutra
norma (ex: ação de nulidade de um ato jurídico)

○ Pessoa Singular: Para a ação declarativa, é competente o tribunal do


domicílio do réu. Se o reu não tiver residência habitual ou domícilio (art. 82
CC), deve ser demandado no domícilio do autor (art. 80/1 e 2/1ªp do CPC).

○ Pessoa Coletiva: Se o reu for uma pessoa coletiva será demandado no


tribunal da sede da adminsitração principal, ou da sucursal. A ação contra
pessoas coletivas estrangeiras com representação em Portugal, pode ser
proposta no tribunal da sede destas, ainda que a ação seja proposta contra a
sociedade-mãe (art. 81/2 do CPC)

■ Estado: Se o réu for o Estao, este é demandado no tribunal do


domícilio do autor (art. 81/1 do CPC), pois o Estado não tem sede.

○ Pluralidade de Réus: Se houver mais de um réu na mesma causa (e forem


aplicáveis os critérios gerais), devem ser todos demandados no domicílio do
maior número, se for igual o número nos diferentes domicílios, o autor pode
escolher o de qualquer um deles (art. 82/1 do CPC)

■ Exceção do regime de cumulação de pedidos:


● Cumulação simples ou alternativa de pedidos: A ação deve ser
proposta no tribunal cuja competência relativa seja
determinada por um elemento de conexão de conhecimento
oficioso (art. 82/2 e 104/1 e 2 do CPC)
● Cumulaçao de pedidos em que se verifica uma relação de
prejudicialidade ou subsidiariedade (art. 554): A ação deve ser
instaurada no tribunal competente para o pedido principal
(art. 82/3 do CPC)

★ Critérios Especiais:

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○ Direitos Reais: Ações referentes a direitos reais ou pessoas de gozo sobre


imóveis devem ser instauradas no local onde se situa o objeto do direito (art.
70/1 do CPC)

○ Cumprimento de Obrigações: A ação deve ser proposta no tribunal do


domícilio do reu (art. 71/1/1ªp do CPC)

■ Reu é uma pessoa coletiva: O credor pode optar pelo tribunal do


lugar em que a obrigação devia ser cumprida,

○ Facto Ilícito: Se a ação se destinar a efetivar responsabilidade civil abseada


em facto ilícito, o tribunal competente é o correspondente ao lugar onde o
facto ocorreu (art. 71/2 do CPC)

■ MTS: Se o facto ilícito não reporta a sua ocorrência a um lugar


especíifico (ex: programa de TV), o autor da ação de responsabilidade
pode escolher o tribunal onde o facto ilícito tenha sido cometido

○ Divórcio e Separação: É competente o tribunal do domicílio ou da residência


do autor (art. 72)

○ Matéria Sucessória: Em matéria sucessória é competente o o tribunal do


lugar da abertura da sucessão (art. 72-A/1 do CPC), ou seja, o local do
úlitmo domíclio do autor da sucessão (art. 2031 do CC)17.

■ Se o úlitmo domícilio não for em Portugal: É competente o tribunal


em cuja circunscrição esse autor teve o seu último domícilio
português (art. 72-A/2 do CPC)

■ Se não for possível determinar o tribunal competente mas o autor da


sucessão tiver nacionaldiade portuguesa ou bens sitos em Portugal: É
competente o tribunal onde se situarem o maior número de imóveis,
ou, se estes não existirem, o tribunal de Lisboa (art. 72-A/3 do CPC)

○ Impedimento do Juiz: Na hipótese de impedimento do juiz (art. 115 do CPC),


e não havendo na circunscrição em que a açaõ deva ser proposta nenhum
outro juiz, torna-se competente o tribunal da circunscrição a menor distância
(art. 84/1 do CPC).

★ Pacto de Competência (art. 95 do CPC): São válidos na medida em que derroguem


regras de competência em razão do território, salvo nos casos em que a
incompetência territorial deva ser conhecida oficiosamente (art. 95/1 do CPC), por
ser violada uma regra de carácter imperativo (art. 294 do CC).
17
O Prof. MTS considera que teria sido preferível que se tivesse definido logo o último domiíclio do autor da
sucessão.

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○ Requisitos:

■ Forma: Do contrato de que emerge o litígio, devendo, no mínimo, ser


escrita (art. 95/2/1ªp do CPC)

■ Conteúdo: O pacto deve designar as questões a que se refere e o


critérios de determinação do tribunal que fica competente

○ Violação do Pacto: Conduz à incompetência do tribunal no qual a ação foi


indevidamente proposta (art. 102)

○ Cláusulas Contratuais Gerais: São relativamente proibidas quando


estabeleça um foro competente que envolva graves inconvenientes para uma
das partes, sem que os interesses da outra o justifiquem (art. 19/g da LCCG)

★ Relevância do Município: Surge relevantes em (apenas) duas situações:

○ 1) Existe mais do que juízo de competência especializada na mesma comarca,


servindo o município para determinar qual o juízo competente;

○ 2) A área de competência de juízo de competência especializada não coincide


com toda a área da comparca, cabendo a competência para apreciar esse
juízo ao juízo local cível (art. 130/1 da LOSJ)

B. TRIBUNAIS DA RELAÇÃO
As relações são dívididas pelo menos em relações de matéria cível e em matéria penal (art.
67/3 e 4 da LOSJ), embora também possam funcionar em plenário e por secções (art. 67/2 e
71 da LOSJ).

Critério Material: Compete às secções cíveis das Relações julgar as causas que não estejam
atribuídas às demais secções (art. 74/1 e 54/1 da LOSJ) - competência material residual

★ Critério Hieráriquico: As Relações são competentes, através das respectivas


secções cíveis, para os julgamentos de:

○ Recursos interpostos dos tribunais de 1ª instância (art. 68/2 do CPC e 73a e f


da LOSJ)

■ Critério do Valor: Desde que o valor da causa exceda a alçada do


tribunal recorrido (art. 629/1 CPC)

○ Ações propostas contra juízes de direito, juízes militares de 1ª instância,


procuradores da república e procuradores adjuntos por causa das suas
funções (art. 73/b da LOSJ)

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○ Processos de revisão e confirmação de sentença estrangeira (art. 73e da


LOSJ e 978 a 985 do CPC).

★ Matéria Excluída: Em regra, não cabe às relações:

○ Questões de 1ª instância

○ Executar as próprias decisões (art. 86 e 88 do CPC)

○ Executar sentenças estrangeiras, por elas reconhecidas (art. 90 CPC)

Critério Territorial: A competência territorial das Relações deriva da pertença do tribunal


recorrido à respectiva área de competência (art. 83 do CPC) ou da partença a esta área do
tribunal onde o magistrado judicial ou do MP praticou o facto ilícito (art. 968 do CPC)

★ Revisão de Sentenças Estrangeiras: É competente a Relação da área do domícilio


da pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença (art. 80 a 82, ex vi 979)

C. STJ
Compreende secções especializadas em matéria cível, em matéria penal e em matéria
social, às quais acresce uma secção paea o julgamento dos recursos das deleberações do
CSM (art. 47 da LOSJ). O STJ pode funcionar em plenário, em plenário das secções
especializadas e por secções (art. 48/1 da LOSJ).

Critério Material: Compete às secções cíveis do STJ julgar as causas que não estejam
atribuídas às demais secções (art. 54/1 da LOSJ).

★ Matéria Excluída do Âmbito Material: Tal como as Relações, o STJ também não tem
competência executiva (art. 86 e 88 do CPC)

Critério Hieráriquico: Cabe ao STJ:

★ Uniformizar a Jurisprudência (art. 53c da LOSJ e 69/2, 686/1, 688/1 e 691 do CPC)

★ Julgar os recursos que não sejam da competência do pleno das secções


especializadas (art. 55a e g e 53 da LOSJ 69/2 do CPC)

○ Critério do Valor: Não é possível recorrer de decisões proferidas em causas


cujo valor caiba na alçada da Relação (art. 44/1 da LOSJ)

★ Julgar as ações propostas contra juízes do STJ e dos Tribunais da Relação e


magistrados do MP que exerçam funções junto destes tribunais, ou equiparados por
causa das suas funções (art. 55c da LOSJ).

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Critério Territorial: O STJ não tem limites de competênica em razão do território (art. 43/1
da LOSJ)

10.2 REGIME DA INCOMPETÊNCIA


O nexo de competência é um pressuposto processual relativo a um dos sujeitos processuais
(o tribunal), pelo que se faltar, a proposta é inadmissível.

Incompetência Absoluta (art. 96-101 CPC):

★ Motivos (art. 96 do CPC):

○ Preterição das regras da competência em razão da matéria e da hierarquia e


das regras da competência internacional

○ Preterição de tribunal arbitral

★ Conhecimento: Pode ser arguida pelas partes e, excepto se decorrer da violação de


um pacto privativo de jurisidção ou da preterção de um tribunal arbitral voluntário,
deve ser suscitada oficiosamente pelo tribunal (art. 97/1 e 578 do CPC).

○ Despacho Saneador: Se ainda não o fez18, neste despacho, o tribunal tem de


verificar a sua competência absoluta (art. 595/1a do CPC)

★ Arguição: A questão da incompetência absoluta pode ser levantada e decidida em


qualquer estado do processo, enquanto não houver sentença com trânsito em
julgado proferida sobre o fundo da causa (art. 97/1 do CPC).

○ Momento de Arguição (art. 98 do CPC):

■ Se for arguida antes de proferido o despacho saneador: Pode


conhecer-se imediatamente ou reservar-se a sua apreciação para
aquele despacho (art. 98/1ªp CPC)
● “conhecimento imediato”: Sendo arguida pelo réu na
contestação, o seu conhecimento tem de aguardar o
funcionamento do contraditório (art. 3/4 do CPC)

■ Se for arguida depois de proferido o despacho saneador: Deve


conhecer-se logo da arguição (art. 98/2ªp)

○ Exceção (art. 97/2 do CPC): A violação das regras de competência em razão


da matéria que apenas respeitem aos tribunais judiciais só pode ser arguida,
ou oficiosamente conhecida, até ao despacho saneador, ou, se a tramitação

18
A incompetência absoluta, quando seja manifesta, é, quando haja despacho liminar (art. 226/4 do CPC), causa
de indeferimento liminar (art. 590/1 do CPC).

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RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

não o comportar, até ao início da audiência final - ex: ação de competência do


tribunal de família é interposta no de trabalho (são ambos tribunais judiciais)

★ Efeitos:

○ Dependendo do Momento de Arguição:

■ Se for arguida antes de proferido o despacho saneador: Indeferimento


liminar (art. 99/1 do CPC)

■ Se for arguida depois de proferido o despacho saneador: O reu é


absolvido da instância
● O autor pode requerer a remessa do processo para o tribunal
em que a ação devia ter sido proposta, o que só não é deferido
se o reu oferecer uma justificação19 (art. 99/2 do CPC)
- Este regime não é aplicável nos casos de violação do
pacto privativo da jurisdição e de preterição de tribunal
arbitral (art. 99/3), pois é impossível remeter o
processo para um tribunal arbitral ou estrangeiro.

○ Caso Julgado Formal: Qualquer decisão sobre incompetênia absoluta só


consitui caso julgado formal quanto às questões concretamente apreciadas
(art. 595/3/1ªp do CPC).

○ Valor: A decisão sobre a competência de um tribunal só tem valor no próprio


processo em que for decretada (art. 100), exceto se for pronunciada pelo STJ
ou pelo TConf.

○ Preterição de Tribunal Arbitral Voluntário: A absolvição da instância por


preterição de tribunal voluntário não implica o reconhecimento da validade
da convenção e da competenência dos tribunais arbitrais (art. 5/1 LAV).

■ Processo Arbitral: O reu que, tendo invocado esta preterição, alegar


no processo arbitral a incompetência do tribunal arbitral, é
considerado litigante de má fé.

★ Recurso: A decisão sobre a incompetência absoluta do tribunal é sempre passível


de recurso até ao STJ (art. 629/2a do CPC)

○ Crítica do Prof. MTS: O regime é aplicável mesmo que ambas as instâncias


tenham decidido no mesmo sentido e, por isso, em regra, a revista não devia
ser admitida pela regra da dupla conforme (art. 671/3)

19
ex: alega que poderia ter apresentado uma defesa mais ampla se a ação já se encontrassse pendente no
tribunal competente

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RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

Incompetência Relativa (art. 102-108 CPC):

★ Motivos: Infração das regras da competência relativa do tribunal.

○ Incompetência em função do valor: São violado critérios determinativos da


competência dos juizos centrais cíveis e dos juízos locais cíveis (art. 117/1 e
130/1 da LOSJ)

■ Incompetência em função da forma: Na aferição da competência do


juízo central cível, há que considerar o valor e a forma do processo,
dado que este juízo só tem competência para processos comuns (art.
117/1a da LOSJ).
● Prof. MTS: Se o juízo central cível for competente em função
do valor, mas não da forma, aplica-se, por analogia, o regime
da incompetência relativa, por considerar a remessa do
processo para o juízo local cível a solução mais adequada (art.
105/3 do CPC).

○ Incompetência em função do território: Pressupõe a violação do critérios dos


art. 70 a 84 do CPC

○ Incompetência em função da violação do pacto de competência: A ação é


proposta num tribunal diferente daquele que as partes combinaram (art.
95/3 do CPC)

★ Conhecimento: Tem sempre legitimidade para a arguição da incompetência relativa


o réu (art. 103/1 do CPC) e deve ser conhecida oficiosamente (art. 578 do CPC), nos
casos previstos no art. 104 (incompetência em função do território ou do valor)

★ Arguição:

○ Prazo (em 1ª instância): Prazo fixado para a contestação, oposição ou


resposta, quando nenhuma desta esteja previstam para outro meio de defesa
que o réu tenha a faculdade de deduzir.

■ Incompetência arguida pelo reu na contestação: O autor pode


responder no articulado subsequente da ação (a réplica, processo
comum - art. 584/1), ou, não havendo este, em articulado próprio
dentro de 10 dias após a notificação da entrega do articulado do réu
(art. 103/2 do CPC)

○ Decisão do Juiz: Ambas as partes devem indicar as provas com o articulado


da arguição de incompetência (art. 103/3 do CPC). Depois da produção de
prova, o juiz decide a questão (art. 105/1 do CPC), podendo fazê-lo em
depacho próprio ou no despacho saneador (art. 595/1a do CPC).

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Luísa Braz Teixeira

■ Remissão do Processo: O tribunal que for considerado competente e


para o qual foi remetido o processo (art. 105/3 do CPC) está
vinculado a aceitar essa competência - exceção à regra
kompetenz-kompetenz.

○ Tribunal de Recurso: Se a incompetência relativa se verificar num tribunal de


recurso, o prazo para arguição é 10 dias a contar da primeira notificação feita
ao recorrido ou da sua primeira intervenção no processo. Aplicam-se,
adaptadas, as disposições da apreciação em 1ª instância. (art. 108 do CPC).

★ Efeitos:

○ Translatio Iudicii: O efeito da procedência da exceção dilatória de


incompetência relativa é a remissão do processo para o tribunal competente
(art. 576/2 e 105/3 do CPC)

○ Pluralidade de Réus: Se a ação for proposta contra vários reús, a decisão


sobre a competência relativa produz efeitos em relação a todos eles, mas, se
a incompetência for arguida por apenas um dos réus, os demais podem
contestar essa arguição (art. 106 do CPC), defendendo a competência
daquele tribunal.

■ Litigância de Má Fé: Se o autor demandar alguém estranho à causa


para desviar o verdadeiro réu do tribunal territorialmente competente,
a decisão que julge incompetente o tribunal deve condenar o autor
em multa e indemnização como litigante de má fé (art. 542/1 do CPC)

★ Apreciação: Mesmo que falte a competência relativa, é admissível proferir uma


decisão de mérito favorável ao demandado (art. 278/3/2ªp do CPC), pois não teria
sentido remeter o processo para o tribunal competente se a ação não pode ser
julgada procedente neste tribunal - a falta de um facto duplo (relevante para
apreciar a competência e o mérito da causa) determina a improcedência da causa.

III. AFERIÇÃO DOS PRESSUPOSTOS


RELATIVOS ÀS PARTES
11§ PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
Suscetibilidade de ser parte - art. 11/1 do CPC

Função: Pressuposto dos restantes pressupostos processuais subjetivos relativos às partes,


pois todos eles pressupõem uma parte, sendo atributos dela.

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Natureza Jurídica: É controvertido o recorte da personalidade judiciária que não é


acompanhada de personalidade jurídica.

★ Consequências: Se a sociedade demandante ou demandada adquirir personalidade


jurídica durante a pendência da causa deve verificar-se a substituição da sociedade
não registada pela registada, que devem ser consideradas a mesma parte sob o
ponto de vista da qualidade jurídica (art. 581/2 do CPC)20.

Critérios de Atribuição:

★ Critério da Coincidência (art. 11/2 do CPC): Quem tiver pesonalidade juídica tem
personalidade judiciária - faceta do princípio geral da coincidência entre a
personalidade jurídica e a personalidade judiciária

★ Critérios de Diferenciação Patrimonial (art. 12 do CPC)

○ al. a): Têm personalidade judiciária a herança jacente, ou seja, a herança


aberta que ainda não foi aceite nem declarada vaga para o Estado, e os
patrimónios autónomos semelhantes, cujo titular não esteja determinado
(art. 2046 do CC)

■ Graus de Indeterminação do Titular:


● Resultante da indeterminação dos sucessíveis21
● Resultante da indeterminação dos sucessores22

■ Habilitação da Herança: Morta a parte no decorrer do processo, este


pode contiunar com a herança jacente, representada pelo sucessível,
pelo curador ou pelo cabeça-de-casal (art. 2047, 2048 e 2079 CC)
● Casos em que a herança não pode suceder ao de cuius: Ações
respeitantes a direitos pessoais, não contidos na própria
herança, como as ações de investigação de paternidade.

■ Patrimónios Autónomos: Patrimónios cujo titular não esteja


determinado, o que pode incluir patrimónios cuja multipilicade de
titulares os aproxima da indeterminação, mas exclui, por exemplo, o
estabelecimento individual de responsabilidade limitada e a massa
insolvente.

○ Patrimónois dotados com personalidade judiciária por disposição legal (art.


12b-f do CPC)

20
Ex: condenada a sociedade não registada a pagar uma dívida, esta pode ser cobrada à sociedade que
entretanto se registou
21
A morre sem testamento e não sabemos se tem descendência
22
A morre sem testamento, mas tem um filho, que não sabemos se aceita

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Luísa Braz Teixeira

★ Critério da Afetação do Ato (art. 13/1 do CPC): Atribui personalidade judiciária às


sucursais, agências, filiais, delegações ou representações em ações cuja causa de
pedir seja um ato ou facto por elas praticado, de modo a facilitar a tutela de
interesses do demandante

○ Litsiconsórcio: O autor também pode, no mesmo processo, accionar


simultaneamente a sociedade e a sua agência, como litsiconsortes (art.
32/1/1ªp do CPC), escolhendo depois a entidade a executar

■ Prof. MTS: Depois de condenada a agência, o autor pode mover a


execução contra a sociedade, pois esta é a única titular de bens
penhoráveis e a agência e a sociedade não podem ser consideradas
partes distintas segundo a sua qualidade jurídica (art. 581/2 do CPC)

★ Critérios Avulsos (ex: art. 57/2 e 59/1 do CSC)23

Consequências da Falta de Personalidade Judiciária:

★ Sanação do Vício:

○ Regime Geral: Não é possível a sanação deste vício, exceto no caso das
sucursais, agências, filiais, delegações ou representações, pela intervenção
(inominada24) da adminsitração principal e a ratificação ou repetição do
processado (art. 14 do CPC)

■ Se a falta de personalidade sanada afetar a parte:


● Ativa: Exige-se que a administração principal ratifique ou
repita o processado, porque não é possível manter uma ação
sem petição inical.
● Passiva: Não se exige a retificação do processado para manter
o processo, que subsiste sem a contestação do réu e demais
atos deste demanadado, faltando apenas um pressuposto de
atos processuais, o que não inquina todo o processo.

○ Regimes Especiais:

■ Instauração do processo contra uma parte falecida: O vício sana-se


pela habilitação dos sucessores (art. 351/2 do CPC)

23
Atribui legitimidade ao órgão de fiscalização de uma sociedade para a propositura, contra a sociedade, de
uma ação de declaração de nulidade ou de anulação de deliberação social de um órgão da sociedade - esta
concessão de legitimidade ativa pressupõe que o orgão de fiscalização tem personalidade judiciária
24
A interveção não pode ser realizada nos termos do art. 311 (intervenção de um litisconsorte), pois não se
trata de constituir uma pluralidade de partes, mas de subsittuir uma parte sem presonalidade judiciária, por
outra parte dotada dessa personalidade.

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Luísa Braz Teixeira

■ Ações em que uma sociedade, entretanto liquidada, seja parte:


Continuam após a sua extinção, que é substiuída pela generalidade
dos sócios, representados pelos liquidatários (art. 162/2 do CSC)

■ Jurisprudência: Aceita a sanação da falta de personalidade judiciária


ativa em casos em que a mesma pode ser sanada através da
intervenção dos interessados em substiuição da identidade
desprovida dessa personalidade25

★ Cessação do Vício: Relevância da cessação da causa do vício26.

★ Subsitência do Vício: Quando a falta de personalide judiciária for insuprível e


manifesta logo na petição inicial, esta deve, quando haja despacho liminar (art.
226/4 do CPC), ser objeto de indeferimento liminar (art. 590/1, 577/c e 578 do CPC).
Se tal não ocorrer, o reu é absolvido da instância (art. 278/1c do CPC).

Inexistência da Parte: Pode imaginar-se que seja proposta uma ação por uma entidade
inexsitente (ex: sociedade comercial que já não existe), ou contra uma pessoa ou entidade
inexsitente (ex: pessoa já falecida).

★ Consequência da Inexistência: Sob o ponto de vista processual, não há distinção


entre a parte sem personaldiade judiciária e a parte inexistente, faltando em ambas
as situações a suscetibilidade de ser parte.

○ Não suspensão da instância após a extinção da parte: Consubstancia uma


nulidade processual, pelo que devem ser anulados os atos subsequentes ao
falecimento ou extinção (art. 195 do CPC). O trânsito em julgado não implica
a sanação do vício, pelo que a decisão tem de ser considerada ineficaz.

12§ SUJEIÇÃO À JURISDIÇÃO PORTUGUESA


Uma sentença proferida em Portugal com violação pela jurisdição portuguesa é ineficaz e
não constiui título executivo, tal como uma sentença proferida no estrangeiro em relação a
uma parte não sujeita à jurisdição do foro não pode ser reconhecida em Portugal.

Imunidades: Entidadesque não podem ser, sem o seu consentimento, sujeitos à jurisdição
portuguesa..

★ Estados Estrangeiros:

25
Ex: A falta de personalidade judiciária da herança indivisa pode ser sanada através da intervenção na ação de
todos os herdeiros.
26
Ex: Mesmo depois de efetuado o registo da sociedade, o contrato de sociedade pode padecer de vícios que
determinam a sua nulidade, se estes vícios forem sanados por deliberação dos sócios, cessa a falta de
personalidade judiciária.

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○ Âmbito da Imunidade:

■ Atos de Império: Não se pode demandar um Estado estrangeiro, a


menos que este se submeta a tal - podem cumprir finalidades de
soberania, envolver atos de guerra, de controlo alfandegário,...

■ Atos de Gestão: O Estado fica, como qualquer pessoa coletiva, sujeito


à jurisdição - pratica atos como compra de mercadorias, contratação
de empreiteiros,...

○ Renúncia: A propositura por um Estado estrangeiro de uma ação nos


tribunais de outro Estado envolve necessariamente sujeição à jurisdição do
mesmo e, portanto, renúncia tácita à imunidade.

★ Organizaçaões Internacionais: São reconhecidos privilégios e imunidades para a


realização dos seus objetivos (Nações Unidas, BCE,...)

★ Imunidades Pessoais: Gozam de imunidade de jurisdição (civil e criminal) certos


representantes de Estados estrangeiros: Chefes de Estado em visita, agentes
diplomáticos e consulares. Estas imunidades só valem relativamente a atos
praticados no exercício das suas funções oficiais.

○ Renúncia: O agente diplomático e o funcionário consular podem renunciar à


sua imunidade, mas não têm de renunciar para intentar uma ação. Contudo,
se o fizerem, não podem alegar a imunidade para pedidos de reconvenção
ligados à demanda principal. A renúncia à imunidade de ação civis ou
administrativas não implica a renúncia quanto a medidas de execução da
sentença (art. 32 CRelDipl e 45 do CRelCons)

13§ CAPACIDADE JUDICIÁRIA


Noção (art. 15/1 do CPC): Capacidade de exercício de direitos e deveres. Suscetibilidade de
a pessoa, por si, pessoal e livremente, decidir sobre a orientação da defesa dos seus
interesses em juízo, em aspetos que não são de mera técnica jurídca

★ Patrocínio Obrigatório (art. 40/1 e 58): Fenómeno de incapacidade de exercício,


pois a parte não pode estar por si em juízo, só representada pelo seu advogado.
Todavia, esta incapacidade limita-se à técnica do processo, quanto à sua política, a
parte guarda o seu poder de disposição sobre as grandes linhas da defesa

13.1 REPRESENTAÇÃO
A. ORGÂNICA
Pessoas Coletivas:

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★ Representação Normal:

○ Estado: Representado pelo MP (art. 24/1 CPC e 4/1b e 9/1a e 2 EMP)

○ Pessoas Colectivas e Sociedades: Representados por quem a lei, os estatutos


ou o pacto social designarem.

■ Pessoas Coletivas Stricto Sensu: Cabe ao órgão determinado nos


estatutos e, na sua falta, à administração ou a quem ela designar (art.
163 do CC)

■ Sociedades Civis: Representadas pelos seus administradores, nos


termos do contrato e das regras legais (art. 985 do CC)

■ Sociedades Comericias:
● Em Nome Coletivo e Por Quotas: Representadas pelos
gerentes (art. 192/1 e 252/1 do CSC)
● Anónimas: Representadas pelo conselho de administração
(art. 405/2 e 408/1 do CSC)

★ Representação Especial: Quando a pessoa coletiva ou sociedade não tiver


representante ou quando for com o seu representante que surja o litígio, a
representação é atribuída a um representante especial (art. 25/2 e 3 do CPC)

Pessoas Judiciárias (↑):

★ Patrimónios Autónomos: São representados pelos seus administradores27.

★ Sociedades e Associções sem Personalidade Jurídica, Sucursais, Agências e


Filiais: Representadas pelas pessoas que atuam como diretores, gerentes ou
administradores28.

B. REPRESENTAÇÃO LEGAL
Aferição da Incapacidade:

★ Critérios Possíveis: A capacidade judiciária tem por base e medida a capacidade


exercício de direitos (art. 15/2 do CPC).

○ Prática de Atos Jurídicos: A capacidade judiciária resulta da capacidade ou


incapacidade para a prática do ato jurídico substantivo que é causa de pedir

27
Herança Jacente - art. 2047, 2048 e 2079 do CC; Condomínio - art. 1437 do CC; Navio - art. 28/2 do DL
352/86
28
Associações Sem Personalidade Jurídica - art. 163/1 e 195/3 do CC; Sociedades Civis - art. 996 do CC;
Sociedades Comerciais Não Registadas - art. 38-40 CSC

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○ Provocar Efeitos Jurídicos: A capacidade judiciária resulta da capacidade ou


incapacidade para, voluntariamente, provocar efeitos jurídicos idênticos aos
efeitos possíveis da ação.

■ Critério Preconizado pelo Prof. MTS: Basta que um dos efeitos não
possa ser produzido pela pessoa, tendo em conta o princípio da
instrumentalidade (aquilo que se não pode fazer por vontade das
partes por negócio jurídico, também não se pode fazer por processo)

★ Aplicação do Critério:

○ Parte Ativa: Se alguém não pode dispor de um bem, também não o pode pôr
em jogo através de ação, sem estar representada ou autorizada.

■ Regra da Representação: Quem não pode celebrar negócios jurídicos


sem ser por intermédio de representante legal, também não pode
propor ações senão através de representante legal (art. 16/1 do CPC)

■ Regra da Autorização: Se certa pessoa pode praticar atos certos atos


pessoal, mas não livremente, carecendo de autorização (art. 145/2d
do CPC) também vai precisar de autorização para propor um processo
que possa ter um efeito semelhante ao desse ato
● Autorização: Tem de ser prévia à ação (art. 283 e 290 do CPC)

○ Parte Passiva: A posição de reu não pode ficar dependente de autorização,


mas se a lei substantiva impõe representação, o incapaz terá de ser
representado (art. 16/1 do CPC).

■ Maior Acompanhado: Pode estar por si, pessoal e livremente, como


reu numa ação (art. 19/1 do CPC), mas um menor não.

Formas de Suprimento da Incapacidade: Os incapazes só podem estar em juízo por


intermédio dos seus representantes ou autorizados pelo seu acompanhante, exceto quanto
aos atos que possam exercer livreemnte (art. 16/1 e 19/2 do CPC).

★ Menores: É menor quem ainda não tiver completado 18 anos (art. 122 do CC)

○ Representação pelos progenitores (art. 1901/1 do CC): Pressupõe que


ambos se encontrem na titularidade do poder paternal. Na representação em
juízo têm ambos de conferir procuração a mandatário judicial e assinar as
peças processuais (art. 16/2 do CPC)

■ Em caso de desacordo dos progenitores:

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● Sobre intentar a ação: Podem requerer ao tribunal competente


para resolver o diferendo (art. 18/1 CPC)29
● Sobre a orientação da representação: Podem requerer ao juiz
da causa que providencie sobre a forma do menor ser
representado, que pode atribuí-la a um só representante ou ao
MP (art. 18/2 e 3 do CPC)

■ Casos em que os progenitores não podem representar o menor,


carecendo de autorização do MP: art. 1889/1a), n) e o) do CC

○ Capacidade do Menor:

■ Capacidade Judiciária por Efeito da Capacidade Substantiva: A


capacidade de exercício de direitos e deveres substantivos, é
acompanhada, em medida igual de capacidade judiciária30

■ Capacidade Natural: São válidos os negócios jurídicos próprios da


vida corrente do menor que impliquem despesas ou disposições de
bens de pequena importância (art. 127/1b do CC), contudo isso não
implica uma extensão da capacidade judiciária, pois tal não estará ao
alcance da sua capacidade natural31
● Art. 126 do CC: Também não prevê uma extensão da
capacidade de exercício do menor, apenas paralisa a
anulabilidade, gerada pela incapacidade.

★ Maiores Acompanhados:

○ Quando o Maior Acompanhado é o Autor:

■ Se estiver sujeito a representação ou a administração de bens (art.


145/2b e c do CC): O maior tem de ser representado na ação pelo
acompanhante (art. 16/1 do CPC)

■ Se os seus atos estiverem sujeitos a autorização (art. 145/2d CC): O


acompanhado pode estar pessoal e livremente em juízo, mas
necessita da auotorização do acompanhante (art. 19/1 do CPC)
● Divergência entre o acompanhante e o acompanhado:
Prevalece o entendimento do acompanhante (art. 19/2 CPC).

○ Quando o Maior Acompanhado é o Réu:

29
Será um juízo de família e menores - art. 123/1d da LOSJ
30
Ex: O menor pode intentar ações e conduzi-las livremente sobre os bens que adquiriu através do seu trabalho
(art. 127/1a do CC)
31
o menor consegue comprar um pão, mas não consegue conduzir uma ação sobre a ação de reinvidicação
desse pão

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■ Se estiver sujeito a representação ou a administração de bens (art.


145/2b e c do CC): O maior tem de ser representado na ação pelo
acompanhante (art. 16/1 do CPC) - ou seja, não se impõe a citação do
maior acompanhado (art. 19/1 a contrario, do CPC)

■ Se os seus atos estiverem sujeitos a autorização (art. 145/2d CC) -


Semi capacidade judiciária: O acompanhado pode estar pessoal e
livremente em juízo, apesar de necessitar da auotorização do
acompanhante para praticar atos (art. 19/1 do CPC) - se a parte não
for devidamente representada aplica-se o art. 29 do CPC por
analogia, apesar de este ser desnehado para as pessoas coletivas

○ Incapacidade Superveniente: Não será necessário autorização para


prosseguir a ação, a menos que o maior em causa se torne incapaz em
termos de carecer de representação.

Curador Especial: A sua nomeação deve ser promovida pelo MP (art. 17/4 e 5 do CPC) e
justifica-se quando:

★ O incapaz não tem representante geral e a ação é urgente: Deve requerer-se a


nomeação de um curador provisório logo que a ação for proposta, cujas funções
cessam assim que o representente geral, entretanto nomeado, assumir as suas
funções no processo (art. 17/1 e 2 do CPC)

★ Existe um conflito de interesses entre:

○ Os interesses do representante e do representado - art. 17/3 CPC

○ Os interesses de vários representados pelo mesmo representante - art. 17/3


do CPC e 1881/2 do CC

■ Tutor: O regime estabelecido para os progenitores no art. 1881/1 do


CC é aplicável à tutela de menores, por força do art. 1935 do CC. E,
por sua vez, as regras quanto ao tutor de menores são aplicáveis,
mutatis mutandis, ao administrador de bens de menores (art. 1971/1
e 2 do CC) e ao acompanhante do maior (art. 145/4 do CC).

★ Citação de Incapaz: Se a citação se frustrar por o citado estar impossiblitado de a


receber em consequência de notória anomalia psíquica ou de outra incapacidade de
facto (art. 234/1/1ªp do CPC) e o agente ou funcionário der conta da ocorrência (art.
231/4/2ºp do CPC) e o juiz reconhecer a incapacidade, é lhe nomeado um curador
provisório (art. 234/3 e 29/1 do CPC)

Subsuprimento pelo MP:

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★ Requisitos - Incapazes: Aplica-se, mutatis mutandi, o regime descrito para os


incapazes (↓) para os ausentes - art. 21/1 do CPC.

○ 1) O representente do incapaz não contesta;

○ 2) Não se constiui um mandatário judicial

○ 3) O representante legal não se opõe, com a concordância do juiz, a essa


intervenção. (art. 21 do CPC)

13.2 ENQUANTO PRESSUPOSTO PROCESSUAL


Ónus da Prova:

★ Se a incapacidade se basear num facto duplo: Ou seja, assente numa incapacidade


de exercício que seja relevante para a apreciação dessa incapacidade e do mérito da
causa. A distribiução é realizada nos termos gerais do art. 342/1 e 2 do CC:

○ Se a incapacidade de uma das partes é um facto constitutivo: Cabe ao autor


provar a sua incapacidade (art. 342/1 do CC)32

○ Se a incapacidade de uma das partes é um facto impeditivo: Cabe ao reu


provar a incapacidade do reu (art. 342/2 do CC)33

★ Se a incapacidade não se basear num facto duplo: Se a capacidade judiciária da


parte relevar apenas para a aferição desse pressuposto processual, o ónus da prova
cabe ao autor34.

Sanação da Incapacidade: A incapacidade viciou o processo, mas a lei faculta um meio de


fazer cessar retroativamente os efeitos do vício

★ Incapacidade Judiciária em Sentido Estrito: Alguém que carece de representação


está, por si, em juízo, contra o o art. 16/1 do CPC.

○ No lado ativo:

■ Momento em que é detectada:

32
Ex: A propoõe uma ação de anulação contra B, alegando a sua incapacidade de exercício. B impugna a
capacidade de exercício de A, e a necessidade da sua representaçaõ em juizo. Cabe a A provar a sua
incapacidade de exercício
33
Ex: C propoõe uma ação de cumprimento contra D, D invoca a anulabilidade do negócio com base na sua
incapacidade. Cabe a D provar a sua incapacidade.
34
Ex: E propoõe uma ação de cumprimento contra F, F invoca a incapacidade de E. Cabe a E provar a sua
capacidade.

64
RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

● Se a incapacidade for manifesta, o juiz (poderes do art. 6/2 do


CPC) deve ordenar a notificação de quem deva representar o
autor
● Se o juiz não reparar logo, deve, quando se aperceber ordenar
a citação do representante, fixando-lhe um prazo para tomar
uma atitude (art. 27/1 e 28/1 e 2)

■ Após a citação do representante legal do autor: Este pode (↓)


● Não ratificar os atos praticados pelo seu representado e
processo termina por absolvição do reu da instância (art.
278/1c, 576/2 e 577/c do CPC)
● Ratifica todos os atos e o processo segue como e o vício não
existisse (art. 27/2 do CPC)
● Negae a ratificação desde uma certa altura do processo,
senodo lhe reconhecido o direito de intervir desde esse
momento, ou seja, de praticar de novo os atos irregulares

○ No lado passivo:

■ Momento em que é detetada35


● Se a incapacidade for manifesta, o juiz (poderes do art. 6/2 do
CPC) deve ordenar a citação de quem o deva representar
● Se o juiz não reparar logo, deve, quando se aperceber ordenar
a citação do representante, fixando-lhe um prazo para tomar
uma atitude (art. 27/1 e 28/1 e 2)

■ Após a citação do representante legal do reu: Este pode (↓)


● Ratifica todos os atos e processo segue como e o vício não
existisse (art. 27/2/1ªp do CPC)
● Praticae de novo os atos que foram irregularmente praticados,
ou parte deles (art. 27/2/2ªp do CPC)
● Não ratificar todos os atos praticados pelo seu representado e
o processo segue à revelia, ficando sem efeito a contestação,
procedendo-se à citação do MP (art 21/1 e 3)

★ Irregularidade da Representação: Está em juízo um incapaz ou uma pessoa


colectiva representada por alguém que a quem não compete a representação36 - art.
27 e 28 do CPC

○ No lado ativo:

■ Momento em que é detectada:

35
Quer dizer que o o autor desrespeitou o ónus de indicar o representante legal do incapaz ou não cumprir, por
exemplo, o art. 17/1 e 3 sobre o curador especial
36
ex: avô que, em discordância com o pai quanto aos interesses do neto, põe uma ação em seu nome

65
RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

● Se a irregularidade for detectada na petição inicial (art. 226/4


do CPC) dá origem a um despacho de citação do verdadeiro
representante legal, que pode tomar qualquer dar atitudes do
representante legal, em caso de incapacidade judiciária stricto
sensu (↑) - art. 27/1 e 28/2 CPC
- Os prazos de prescrição e caducidade podem ser
prorrogados se faltarem menos de dois meses e o
processo ter sido anulado desde o início (art. 27/4)
● Se passar o momento do despacho liminar: O juiz manda
proceder à citação do representante legal (art. 27/1 e 28/2 do
CPC), tudo se passando como na hipótese de incapacidade
judiciária.

○ No lado passivo:

■ Momento em que é detectada:


● É corrigida a irregularidade, ordenando o juiz a citação do
verdadeiro representante legal - art. 27/1 e 28/2 CPC
● Se passar o momento do despacho liminar: O juiz manda
proceder à citação do representante legal (art. 27/1 e 28/2 do
CPC), tudo se passando como na hipótese de incapacidade
judiciária.

○ Caso Especial dos Progenitores: Se tiver sido preterido algum dos


progenitores, tem-se por ratificado o processo anterior quando o preterido,
depois de notificado, nada diga dentro do prazo fixado (art. 27/3/1ªp do CPC)

■ Em caso de desacordo dos progenitores aplica-se o regime do art. 18


(art. 27/3/2ªp do CPC)

★ Falta de autorização, deliberação, ou consentimento exigido por lei e do seu


suprimento judicial (art 29 do CPC)

○ No Lado Passivo: Só pode constituir falta de pressuposto de atos


processuais, e nunca de um pressuposto processual. Assim, se, depois de o
representante ter sido notificado para obter autorização ou deliberação (art.
29/1) a falta não for sanada, o processo segue como se o reu não tivesse
deduzido oposição (art. 29/2/2ªp do CPC)

○ No Lado Ativo:

■ Falta de autorização exigida ao tutor: O tribunal deve ordenar


oficiosamente a suspensão da instância, depois da citação, até que
seja concedida a autorização necessária (art. 1940/3 CC)
● Esta solução também vale para o administratdor de bens (art.
1971 CC) e para o acompanhante do maior (art. 145/3 CC)

66
RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

■ Restantes hipóteses: O tribunal fixa o prazo dentro do qual o


representante deve obter a autorização ou deliberação (art. 29/1 CC),
não sendo obtida, o reu é absolvido da instância (art. 29/2/1ªp,
278/1c e 577/d do CPC)

○ Extensão do Regime: O regime descrito para a falta de autorização do


representante também vale para a hipótese em que a autorização deve ser
obtida pela prórpria parte e quando a incapacidade vicia atos processuais,
mutatis mutiandi

Cessação da Incapacidade: Verfica-se, por exemplo, quando, no decorrer do processo, o


menor antige a maioridade.

★ Notificação do Ex-Incapaz: O ex-incapaz deve ser notificado para tomar uma das
decisões que, nos termos do art. 28/2, cabe ao seu representante.

★ Ratificação Tácita: A prática de qualquer ato no processo posteriormente à


maioridade, emancipação ou levantamento do acompanhamento, sem qualquer
reserva, significa a ratificação tácita de tudo o que foi irregularmente praticado.

Consequências da falta de Capacidade Judiciária:

★ Enquanto Pressuposto Processual Conduz à absolvição do réu da instância (art.


27-29, 278/1c, 576/2 e 577/c do CPC)

○ Autor Incapaz: O processo vai nascer inquinado, pois o autor é incapaz.

○ Réu Incapaz: Para evitar esta incapacidade, o autor tem o ónus de indicar a
incapacidade do reu e o modo do seu suprimento.

★ Enquanto Pressuposto de Atos Processuais: A incapacidade atinge apenas uma


extensão da atuação, viciando um dos seus atos, que será inválido ou inadmissível

14§ PATROCÍNIO JUDICIÁRIO OBRIGATÓRIO


Noção: Representação das partes por profissionais do foro (advogados, solicitadores) na
condução e orientação técnico-jurídica do processo, mediante a prática de atos processuais.
É um direito constitucionalmente garantido (art. 20/2 da CRP e 26/2 da LOSJ).

★ Jusitificação da Necessidade de Representação:

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Luísa Braz Teixeira

○ Razão Técnica: A não ser quando elas próprias sejam licenciadas em Direito e
em práticas e assuntos forenses, as partes carecem de preparação e de
conhecimentos para saberem conduzir a prossecução dos interesses em juízo

○ Razão Psicológica: As partes não têm, em regra, a serenidade suficiente para


ajuizarem objetivamente das situações e ponderarem com inteira
racionalidade os seus direitos e deveres.

Patrocínio Judiciário:

★ Obrigatório: A obrigatoriedade do patrocínio não envolve a prática de atos


eminentemente pessoais das partes, designadamente os negócios processuais que
extinguem total ou parcialmente a instância - como a confissão e a desistência do
pedido, a desistência da instância e a transação (art. 283 e 295)

○ Causas com valor superior a 5.000€ (art. 40/1a CPC): Causas de


competência de tribunais com alçada em que admissível recurso ordinário

○ Causas em que seja sempre admissível recurso ordinário,


independentemente do valor da causa (art. 40/1b CPC): Situações do art.
629/3a do CPC - ações em que se aprecie a validade, subsistência ou
cessação de contratos de arrendamento, com exceção dos arrendamentos
para habitação não permanente ou fins especiais transitórios.

○ Recursos e causas propostas nos tribunais superiores (art. 40/1c CPC)

★ Não Obrigatório: As partes podem pleitear por si ou fazer-se representar por


advogado estagiário ou solicitador nos restantes casos (art. 42 CPC)

Vícios do Patrocínio:

★ Arguição: O reu pode invocar a falta de constituição de advogado pelo autor, ou a


falta, insuficiência ou irregularidade do mandato concedido por essa mesma parte
(art. 41 e 48 do CPC).

★ Modalidades:

○ Não haver advogado constituído: No caso do patrocínio judiciário ser


obrigatório (art. 41 do CPC)

■ Forma de sanação: Constituição de advogado (art. 41 do CPC)

○ Insuficiência ou irregularidade do mandatário judicial: Haver um mandatário


judicial meramente aparente, ou por não ter sido validamente conferido, ou

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Luísa Braz Teixeira

por ter sido revogado, ou pela sua extensão não justificar a ação do
mandatário e não ser um caso de gestão de negócios (art. 48 do CPC)

■ Forma de sanação: A necessidade de sanar a falta e o prazo marcado


pelo juiz nos termos do art. 6/2 do CPC devem ser notificados à parte
e ao mandatário aparente (art. 48/2 do CPC) e consiste 1) no
suprimento da falta ou insuficiência do mandato ou correção do vício;
2) e na ratificação pela parte do processado indevidamente

○ Irregularidade de Representação: O mandato pode ser inválido pela falta de


poderes de representação de quem o concedeu em nome da parte
representada (art. 27 do CPC)

■ Forma de sanação: Consiste 1) no suprimento da falta ou


insuficiência do mandato ou correção do vício; 2) e na ratificação pela
parte do processado indevidamente

★ Efeitos: Quando não sanados

○ Relativamente à petição incial: Não pode haver indeferimento liminar da


petição inical, pois nenhum desses vícios constitui uma exceção dilatória
insuprível (art. 590/1 do CPC). O regular patrocínio judiciário é um
pressuposto processual.

■ Juiz: Deve ordenar a notificação à parte para constituir mandatário


(art. 41 do CPC) ou corrigir o vício do mandato (art. 48/2 do CPC). Se
o vício não for sanado, o réu é absolvido da instância (art. 41 e 577/h
do CPC).

○ Relativamente a outros atos: Os vícios determinam a invalidade do ato (art.


41 e 48/2 do CPC). O regular patrocínio judiciário quanto a qualquer outro
ato de parte, que não a de demanda, é pressuposto apenas desse ato

24.1 MANDATO JUDICIAL


O mandato judicial é uma espécie de mandato forense, tendo sempre representação, ainda
que mandatos forenses não tenham de ser representativos.

★ Enquanto contrato: Na grande maioria dos casos, o patrocínio judiciário é uma


representação voluntária, que deriva, portanto, de um contrato.

Procuração: Ato unilateral em que a parte confere poderes de representação. Desde o


momento em que é passada, o mandatário pode praticar atos judiciais em nome do
representado.

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Luísa Braz Teixeira

★ Formas de Atribuição:

○ Instrumento público avulso (art. 43/a do CPC)

○ Documento particular (art. 43/b do CPC)

○ Declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no


processo (art. 43/b do CPC) - procuração apud acta

○ Requerimento, no caso dos assistentes técnicos

★ Escolha do mandatário: Em regra, é uma escolha pessoal e livre do mandatário,


contudo, há casos em que a escolha não é feita por ele:

○ Nomeação pela OA (Ordem dos Advogados): Se tiver sido concedida à parte


apoio judiciário na modalidade de nomeação do patrono (art. 30/1 da LADT),
se tal for solicitado pelo juiz da causa (art. 641/3 do CPC) ou se a parte não
encontrar na circunscrição judicial quem aceite voluntariamente o seu
patrocínio (art. 51/1 do CPC)

○ Nomeação pelo Juiz: Pode ocorrer em casos de urgência (art. 51/3 do CPC)

Apoio Judiciário: A todos é assegurado o acesso aos tribunais para a defesa dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser negada por
insuficiência de meios económicos (art. 20/1 da CRP).

★ Beneficiários: Cidadãos nacionais e da UE, estrangeiros apátridas, estrangeiros, sem


título de residência válido no EM, na medida em que ele seja atribuído aos
portugueses pelas leis dos respectivos Estados (art. 7/1 e 2 da LADT)

○ Condições de Concessão: Tem de ser demonstrado pela pessoa, pelo seu


rendimento, património e despesa, estar numa situação de insuficiência
económica, sendo incapaz de suportar os custos do processo (art. 8/1 LADT)

★ Exclusão: Estão, em princípio37, excluídas as pessoas coletivas com fins lucrativos e


os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada.

Extinção do mandato judicial: O mandato judicial pode ser revogado pelo mandante e o
mandatário pode renunciar ao mandato (art. 47/1 do CPC) - o mandato judicial pode ser
revogado pelo mandante, mesmo sem o consentimento do mandatário.

37
O TC declarou a inconstitucionalidade com força obrigatória geral da norma do art. 7/3 da LADT, na parte em
que recusa proteção jurídica a pessoas coletivas com fins lucrativos, sem consideraçaõ concreta pela sua
situação económica.

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Luísa Braz Teixeira

Extensão do Mandato Judicial:

★ Extensão Normal: O mandato confere poderes de representação em todos os atos e


do processo principal e respectivos incidentes, mesmo perante os tribunais
superiores, sem prejuízo, porém, das disposições que exijam a outorga de poderes
especiais por parte do mandante (art. 44/1 e 45/2 do CPC)

○ Poder de Substabelecer o Mandato (art. 44/2 e 3 do CPC): A lei presume que


está incluído nos poderes do mandatário o poder de investir outra pessoa,
igualmente habilitada, nos poderes de representação forense.

■ Substabelecimento sem reserva: Envolve uma renúncia ao mandato,


que deve ser notificada ao mandante e à contraparte (art. 44/3, 47/1)

★ Especial:

○ Atos Processuais: Os mandatários judiciais só podem confessar o pedido,


transigir sobre o seu objeto ou desistir do pedido ou da instância quando
estejam munidos de procuração que os autorize a praticar desses atos (art.
45/2 e 283 do CPC)

○ Ação Executiva: A procuração para a ação declarativa não vale para a


(eventual) posterior ação executiva.

15§ LEGITIMIDADE SINGULAR


Legitimiadade Processual Singular: Possibilidade de estar em juízo quanto a certo objeto,
independentemente de qualquer titularidade efetiva do objeto do processo.

★ Modalidades:

○ Legitimidade Direta: Reconhecida ao alegado titular da situação objetiva e a


alguém que tem interesse em discutir com ele a titualridade dessa situação.
Visa assegurar a que estão em juízo os sujeitos que são titulares da situação
subjetiva litigiosa.

○ Legitimidade Indireta: Concedida a alguém que se substitui ao alegado titular


do obejto do processo. Visa definir as condições em que um sujeito que não é
titular da situação subjetiva pode litigar - assenta numa regra ou convenção
negocial que permite a substiuição do titular do direito.

■ Substituto processual: Parte legitimada que não é titular do objeto


processual

■ Parte substituída: Titular do objeto processual

71
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Luísa Braz Teixeira

Substituição Processual:

★ Fundamento:

○ Legal (art. 30/3 do CPC): A legimtidade pode ser reconhecida a quem não
seja o alegado titular do objeto da ação

■ Razões de substituição previstas: Contitularidade do direito litigado


(art. 512/1 do CPC e 1405/2 do CCiv); titularidade de poderes de
administração ou disposição sobre um património pertence a um
terceiro (art. 81/3 do CIRE); posição de transmitente ou cedente da
coisa litigada (art. 263/1 CPC)
● Oposição à habilitação do substituto processual: Como a
substituição tem na sua base um ato negocial de transmissão
ou cessão, a parte contrária pode opor-se a essa habilitação,
com o argumento de que essa transmissão ou cessão foi feita
para tornar mais difícil a sua posição no processo, alegando
má fé (art. 356/1a e 542/2d do CPC)

○ Negocial: Só pode verificar-se quanto à parte ativa e tem de ser autorizada


antes da propositura da ação. Se for revogada pela parte substituída durante
a pendência da causa, essa parte tem de ser reabilitada (art. 356/1 do CPC,
analogicamente).

★ Tipologia:

○ Representativa (ou Altruísta) vs Não Representativa (ou Egoísta):

■ Representativa: O substituto processual defende, primordialmente,


interesses alheios - ex: administrador da insolvência (art. 85/3 CIRE)

■ Não Representativa: O substituto age na defesa, não exclusiva, de


interesses próprios - ex: legitimidade dos herdeiros do doador para a
ação de revogação, por ingratidão, da doação (art. 976/3 do CCiv).

○ Própria vs Imprópria:

■ Própria: O substituto processual pode estar em juízo sem a presença


simultânea do titular do direito litigioso. Maioria substituições
processuais - ex: legitimidade de cada um dos credores ou devedores
solidários para demandar e ser demandado (art. 512/1 do CCiv).

■ Imprópria: Exige a presença simultânea do subsituto e da parte


substituída - ex: a sub-rogação judicial requer a citação do devedor

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Luísa Braz Teixeira

(art. 608), logo a ação sub-rogatória deve ser proposta não só contra
o devedor do autor, mas também contra a parte substituída.

★ Efeitos:

○ Caso Julgado: Extensão, à parte substituída, do caso julgado formado na


ação em que intervém o substituto processual.

○ Habilitação: Perante a morte do substituto deve habilitar-se a ocupar a sua


posição como parte, não os seus herdeiros, mas a parte substituída -
aplicação analógica dos art. 351-354 do CPC.

Legitimidade Direita: Deve ser apreciada em função de dois elementos, cuja falta se traduz
na falta de legitimidade singular, o que constitui uma exceção dilatória (art. 577/e do CPC),
e conduz à absolvição da instância (art. 278/1d 576/2 do CPC), que não é possível sanar:

★ Elemento Processual - Interesse em demandar e em contradizer: Interesse na


obtenção de uma tutela favorável através de uma decisão de procedência ou
improcedência

○ Regra de Coincidência (art. 30/1 e 3 do CPC): Os alegados titualres do direito


são partes legítimas numa ação cujo objeto seja esse mesmo direito.

○ Interesse na tutela: Os interesses em demandar e em contradizer do art. 30/2


do CPC são aferidos pela utilidade ou prejuízo que uma decisão de
procedência importa para a parte ativa e para a parte passiva - o autor tem
interesse em demandar se aquela tutela lhe atribuir vantagem e o réu tem
interesse em contradizer se aquela tutela representar, para si, uma
desvantagem

★ Elemento Material - Poder de produção, pela parte, dos efeitos que podem
decorrer da decisão: É necessário que a parte, ativa ou passiva, possa produzir, sem
a presença na ação de qualquer outra parte que a acompanhe, os efeitos
substantivos que decorrem da procedência ou improcedência da ação.

○ Legitimidade Ativa: Importa averiguar se o autor da ação é o sujeito que, no


caso de o direito ser disponível, tem poderes de disposição sobre ele.

○ Legitimidade Passiva:

■ Efeito Dispositivo: A titularidade do direito nem sempre é


acompanhada do poder de disposição. Se o titular do direito não tem
legitmidade para demandar, também não a possui para ser
demandado

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Luísa Braz Teixeira

■ Efeito Vinculativo: Pode ser produzido pelo sujeito que contraiu a


obrigação, no entanto, por vezes tal não é suficiente, como nos casos
em que não coincide a titularidade do sujeito que contraiu a obrigação
com o património por ela responsável.

○ Substituição Processual: A legitimidade é atribuída a uma parte que não


possui nenhum poder de disposição sobre o direito litigioso. Situação que só
podem ocorrer no âmbito de uma substituição processual.

16§ LITISCONSÓRCIO
Na sua forma mais simples, o processo tem duas partes: demandante e demandado, porém,
pode suceder que o processo tenha mais de duas partes principais, situações que se
chamam de “cumulação subjetiva” ou “pluralidade de partes”.

≠ Coligação: No litisconsórcio pode haver uma pluralidade de pedidos, mas, quando se


verifique esta pluralidade, todos os liticonsortes formulam os mesmos pedidos ou os
mesmo pedidos são formulados contra todos os litisconsortes, enquanto que na coligação
há sempre uma pluralidade de pedidos e cada um deles é formulado por, ou contra, partes
distintas

Modalidades:

★ Litisconsórcio Inicial e Sucessivo:

○ Litisconsórcio Inicial: Verifica-se logo desde o início do processo.

○ Litisconsórcio Sucessivo: Verifica-se só a partir de um momento posterior da


marcha do processo, resultando de uma intervenção de terceiros numa ação
pendente (art. 311, 316 e 333/1 do CPC).

★ Litisconsórcio Simples e Recíproco:

○ Litisconsórcio Simples: Existe apenas uma questão em jogo. Os litisconsortes


pode ser todos representados pelo mesmo representante legal e mandatário
judicial

■ Litisconsórcio Simples Ativo: Mais do que um demandante

■ Litisconsórcio Simples Passivo: Mais do que um demandado

■ Litisconsórcio Simples Misto: mais do que um demandante contra


mais do que um demandado

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○ Litisconsórcio Recíproco: Existem várias questões em jogo38. Não é


admissível que as partes sejam todas representadas pelo mesmo
representante, pois não são todas contrárias entre si.

■ Litisconsórcio Recíproco Material: Continua a haver, na estrutura do


processo, autor ou autores e reu ou réus39.

■ Litisconsórcio Recíproco Formal: O litisconsorte excede o quadro


autor-réu. É o caso do oponente no incidente de oposição (art. 333/1
e 338 do CPC).

★ Litisconsórcio Horizontal e Subsidiário:

○ Litisconsórcio Horizontal: Os litisconsortes estão todos no mesmo plano

○ Litisconsórcio Subsidiário: Há uma parte principal que deduz ou contra é


deduzido um pedido e uma parte subsidiária que formula ou contra a qual é
formulado outro.

○ Litisconsórcio alternativo: O autor pode estabelecer uma diferença entre uma


parte principal e uma parte subsidiária ou indicar ambas em alternativa (art.
29)

★ Litisiconsóricio Voluntário e Necessário:

○ Litisconsórcio Voluntário: Existe uma pluralidade de partes principais porque


a lei concede a vários sujeitos a possibilidade, sem a necessidade, de agir em
conjunto num juízo único.

■ Ação Plúrima: Há tantas relações processuais quanto litisconsortes. A


regra é sempre a autonomia de cada um dos litisconsortes.

■ Regime Jurídico: Pode ter por base três situações:


● Divisibilidade do Direito
● Legitimidade Concorrente: Verifica-se nas situações de
substituição processual em que, havendo uma pluralidade de
titulares, a parte substituta é um desses titulares e substitui
todos os demais titulares do direito ou interesse.
● Litisconsórcio Conveniente: A lei faz depender, não como
pressuposto processual, a produção de certos efeitos da
presença dos vários interessados em juízo

38
ex: A demanda B, pedindo a declaração de propriedade de x. Considera-se ele o proprietário de x. A lei
permite que ele deduza um incidente de intervenção de terceiros, entrando na ação.
39
ex: no caso de ação de divisão de coisa comum proposta por D contra E e F, D é o autor, E e F réus, mas os
interesses destes opõem-se entre si, tanto como os de cada um com D. A ação poderia ter sido proposta
também por D e E contra F ou por E contra D e F

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RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

○ Litisconsórcio Necessário: Existe uma pluralidade de partes principais porque


a lei, o contrato, que é fonte da relação controvertida, ou o efeito útil da ação
o impõe. Previsto por regra técnica.

■ Consequência da Violação deste ónus: Absolvição da instância (ou


indeferimento liminar) por ilegitimidade (art. 33/1 do CPC), isto é, a
ausência de uma parte origina a ilegitimidade do autor ou do reu
presente em juízo.
● Formas de sanação da ilegitimidade:
- Intervenção espontânea de terceiro (art. 311 CPC),
pode ser uma intervenção adesiva (art. 313/1) ou
autónoma (art. 314)
- Intervenção do terceiro provocada por alguma das
partes até ao termo da fase de articulados (art. 316/1
e 318/1a do CPC)

★ Litisconsórcio Parciário e Unitário: Não aparece esta distinção expressamente


consagrada na lei processual civil, contudo, está subjacente a algumas soluções
legais, como o art. 288.

○ Litisconsórcio Parciário: A decisão da causa pode ser distinta para cada um


dos litisconsortes.

○ Litisconsórcio Unitário: A decisão da causa tem de ser uniforme para todos os


litisconsortes, pode decorrer de tanto litisconsórcio necessário como
voluntário.

16.1 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO


Fonte:

★ Legal: Litisconsórcio necessário legal (art. 33/1 do CPC). Verifica-se nas hipóteses
em que a lei impõe, sob pena de ilegitimidade, a intervenção dos vários interessados
- art. 34 do CPC, 419/1 do CC,...

★ Contrato: Litisconsórcio necessário convencional ou contratual (art. 33/1 do CPC)

★ Necessidade de assegurar o efeito útil normal da decisão da ação: Litisconsórcio


necessário natural (art. 33/2 e 3 do CPC)

Litisconsórcio Conjugal Ativo:

★ Justificação: A necessidade de comparticipação no ato ou a autorização que o direito


substantivo prevê para produzir certos efeitos deve manter-se em processo civil.

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Luísa Braz Teixeira

★ Âmbito - Ações Patrimoniais: Ações de que possa resultar a perda ou oneração de


bens que só por ambos possam ser alienados ou a perda de direitos que só por
ambos possam ser exercidos, tendo em conta os bens próprios e os bens comuns do
casal - art. 34 do CPC

○ Bens Próprios: O cônjuge tem legitimidade para propor sozinho as ações


referentes aos seus bens próprios, por ser ele que tem o poder de os
administrar (art. 1678/1 do CC) e de os alienar (art. 1682/2 do CC)

■ Exceções:
● Móveis utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na
vida do lar ou como instrumento comum de trabalho (art.
1682/3a) do CC)
● Móveis pertencentes exclusivamente ao cônjuge que os não
administra, salvo atos de administração ordinaria (art.
1682/3b) e 1678/2e) e g) do CC)
● Imóveis, salvo vigorando o regime de separação de bens (art.
1682-A/1a) do CC)
● Estabelecimento comercial, salvo vigorando o regime de
separação de bens (art. 1682-A/1b) do CC)
● Casa de morada de família (art. 1682-A/2 e 1682-B do CC)

○ Bens Comuns:

■ Bens comuns administrados por um só dos cônjuges (art. 1678/2b)-e)


do CC): A possibilidade de alienar vai unida à administração, logo o
regime dos bens comuns administrados por um só dos cônjuges é o
regime acima dos bens próprios(art. 1682/2 do CC)

■ Bens comuns administrados por ambos os cônjuges: É a regra


relativamente aos bens comuns, ou seja, aos bens adquiridos a título
oneroso após o casamento (art. 1678/ do CC)
● Atos de administração ordinária: Não põem em causa a
titularidade dos bens, mas apenas a sua utilização jurídica.
Qualquer um dos cônjuges pode administrar
● Atos de administração extraordinária: Põem em risco a
titularidade dos bens40. A administração tem de se realizar
conjuntamente, ou por autorização (art. 1684/3 do CC)

Litisconsórcio Conjugal Passivo:

★ Dívidas Comunicáveis e Incomunicáveis:


40
De acordo com o prof. MTS o arrendamento é um ato de administração extraordinária, mesmo
independentemente dos 6 anos a que se referem os art. 1024 e 1889/1m) do CC

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Luísa Braz Teixeira

○ Dívidas Comunicáveis: São da responsabilidade de ambos os cônjuges (art.


1692 do CC) e constam dos art. 1691 e 1694 do CC, logo respondem por
elas os bens comuns do casal e, na insuficiência deles, solidariamente, os
bens próprios de qualquer dos cônjuges (art. 1695/1 do CC)

■ Prof. MTS: Para que a execução possa vir a incidir sobre bens comuns,
a ação tem de ser movida contra os dois cônjuges.
● Exceções (art. 1696/2 do CC)
- Bens que no momento em que a ação foi contraída
eram próprios do cônjuge executado, ou que foram
sub-rogados no lugar destes
- Bens comuns adquiridos posteriormente por um dos
cônjuges a título gratuito, ou pelo trabalho ou exercício
de direitos de autor

■ Prof. LdF (Lebre de Freitas): A regra do art. 1695/1 do CC é uma regra


de proteção ao cônjuge devedor, que a ela pode renunciar, permitindo
que os seus bens próprios sejam penhorados antes dos comuns.
Entende-se que renuncia se não cumprir o ónus que a lei lhe impõe
de chamar o outro cônjuge a intervir na ação (art. 316/1 do CPC)

○ Dívidas Incomunicáveis: São da exclusiva responsabilidade do cônjuge a que


respeitam (art. 1692 do CC). Constam dos art. 1692 e 1692 do CC, e por
elas respondem os bens próprios do cônjuge devedor (art. 1696/1 do CC)

★ Regime Processual (art. 34/3 do CPC): Os cônjuges devem estar ambos em juízo
como réus em três casos:

○ Ações emergentes de facto praticado por ambos os cônjuges (art. 33/ CPC):
As dívidas provenientes de ato praticado por ambos são comunicáveis, (art.
1692/1a do CC)

○ Ações emergentes de facto praticado por um dos cônjuges, mas em que se


pretenda vir a executar o património comum: Estes atos podem ser atos
dispositivos ou atos vinculativos ou obrigacionais. Casos previstos nos
artigos 1691 do CC (excluindo a alínea a) do n.º1) e 1695 do CC.

■ Atos dispositivos: Transmissão de direitos sobre os bens comuns ou


próprios do outro cônjuge (art. 1682 a 1683 do CC)

■ Atos vinculativos ou obrigacionais: Atos constitutivos de obrigações


patrimoniais, a que os bens do devedor estão afetados como garantia
comum.

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○ Ações de que possa resultar a perda ou oneração de bens ou direitos que só


por ambos possam ser alienados ou exercidos (art. 34/1 do CPC): Nenhum
cônjuge pode colocar em risco sozinho, como autor ou reu, bens de cuja
titularidade não pode dispor sozinho.

Litisconsórcio Necessário Convencional: Pressupõe que a vontade das partes imponha que
o direito só possa ser exercido por todos ou contra todos, ou por todos contra todos.
Reflexo de um pacto substantivo.

★ Limites: Não é possível uma convenção meramente processual, tendo em conta o


princípio da correspondência do direito à ação41

Litisconsórcio Necessário Natural: É necessária a intervenção de todos os interessados


quando, pela própria natureza da relação jurídica, ela seja necessária para que a decisão a
obter produza o seu efeito útil normal (art. 33/3 do CPC)42.

★ Critério: O litisconsórcio é necessário se tiver de haver uma decisão simultânea para


todos os interessados, ou seja, o que o impõe é a circunstância de uma decisão
parcelar entre apenas alguns dos interessados correr o risco de se tornar
incompatível com outra decisão igualmente parcelar obtida entre todos os
interessados - ex: ação de divisão da coisa comum

17§ INTERESSE PROCESSUAL


Noção: Interesse da parte ativa em obter a tutela jurisdicional e o correspondente interesse
da parte passiva em impedir a concessão daquela tutela. A utilidade da tutela jurisdicional
constitui a referência do interesse processual.

★ Justificação: Uma vez que o art. 20/1 da CRP atribui a todos o direito de acesso aos
tribunais, o interesse processual visa evitar que sejam impostos custos incómodos
ao tribunal e ao demandado, numa situação em que não se justifica o recurso aos
órgãos jurisdicionais.

Utilidade da Tutela: Podemos falar em interesse processual em dois sentidos (↓), contudo,
em Portugal, é apenas relevante a utilidade do resultado a obter - vide art. 535/2 do CPC

41
duvida
42
Por exemplo, A celebra com B, C e D um contrato, que, posteriormente, pretende anular, por dolo. Se
propuser a ação apenas contra B, a sentença de anulação deixa o ato nulo em face de uns e válido em face de
outros, pelo que se entende que para a sentença produzir o seu efeito útil normal tem de ser intentada contra
todos os celebrantes do negócio anulado

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★ Necessidade de um meio processual: Falta o interesse processual se a parte não


necessitar do meio processual concreto para conseguir o resultado, ou seja, se o
puder alcançar pela via extraprocessual ou evitando uma duplicação de processos.

★ Utilidade do resultado a obter: O interesse processual falta se o resultado a obter


for, em abstrato, inútil.

Correlatividade do Interesse (art. 30/2 do CPC): A vantagem do autor é correlativa a uma


desvantagem ou prejuízo para o reu, e vice versa, logo, se o autor tiver interesse em
demandar, ou seja, se conseguir extrair alguma vantagem da concessão de tutela judiciária,
então o reu tem igualmente interesse em contradizer, para não sofrer a desvantagem, pois o
que uma parte ganha é o que a outra perde. O interesse deve ser apreciado no momento da
propositura da ação.

★ Interesse em Demandar: Interesse na obtenção da tutela judicial, aferindo-se pelas


desvantagens decorrentes dessa tutela para a parte ativa

★ Interesse em Contradizer: Interesse na não concessão de tutela e avalia-se pelas


desvantagens impostas ao reu pela atribuição daquela tutela à contraparte.

Legitimidade vs. Interesse: O interesse determina as condições em que a parte pode


recorrer ao tribunal, de modo a evitar ações inúteis, enquanto a legitimidade define qual o
sujeito que pode discutir em juízo certo objeto processual, aferindo se estão em juízo as
partes que têm interesse em obter tutela jurisdicional.

★ Prioridade da Legitimidade: O interesse processual pressupõe a legitimidade


processual, no sentido de que, se as partes da ação não forem partes legítimas, nem
sequer se coloca a necessidade da análise do interesse processual.

★ Prioridade do Interesse: Na situação da tutela de direitos absolutos, isto é, de


direitos que apenas têm “titulares” e “não titulares”43, exige-se que o demandado
sofra algum prejuízo com esse reconhecimento, ou seja, que tenha interesse em
contradizer, sobrepondo-se o interesse processual à legitimidade, pois é através do
interesse que se determina a legitimidade.

Aferição do Interesse:

★ Aspeto Positivo: Sempre que se possa estabelecer a correspondência entre um ius e


a actio, ou seja, sempre que o autor seja titular de um direito de ação (art. 2/2 do
CPC), está assegurado, em princípio, o interesse processual.

43
Nos direitos relativos existem titulares ativos e passivos do mesmo direito, nos direitos absolutos as pessoas
podem apenas ser titulares ou não titulares do direito - ex: se eu sou a única proprietário do imóvel A, todos as
outras pessoas existentes são não titulares desse direito de propriedade

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★ Aspeto Negativo: A ausência de utilidade da tutela judicial implica a falta de


interesse processual.

Aferição do Interesse:

★ Ações Condenatórias:

○ Ações condenatórias in futurum (art. 10/3b do CPC): É reconhecido interesse


processual nas situações previstas no art. 557 do CPC, em que a falta de
título executivo à data do vencimento pode lhe causar grave prejuízo

○ Ações inibitórias: O autor requer a condenação do reu na omissão ou


abstenção da prática de um ato lesivo de um direito de que é titular aquela
parte ativa, que pode ter origem contratual ou legal.

★ Ações Constitutivas:

○ Com fundamento num direito potestativo: O interesse processual está


assegurado se o direito não puder ser exercido fora do processo

○ Com outro fundamento: O autor tem, em princípio, interese processual


porque a ação constitutiva lhe garante a utilidade decorrente da mudança na
ordem jurídca.

★ Ações de Simples Apreciação:

○ Modalidades:

■ Apreciação Positiva: O interesse processual exige que o direito exista


e seja controvertido no momento de propositura da ação, resultante
normalmente da sua negação pelo reu, ou seja, não pode ser um
eventual direito futuro ou um direito eventualmente controvertido no
futuro, neste último caso existe para tal a ação de condenação in
futurum. É também exigida autonomia do efeito jurídico44

■ Apreciação Negativa: O réu imputa de forma expressa, tácita ou


implícita, um dever ao autor que é negado por esta parte, decorrente
de o reu afirmar ser titular de um direito contra o autor.

■ Apreciação incidental: O autor ou o reu pede que uma questão


prejudicial suscitada na ação seja apreciada com força de caso
julgado material (art. 91/2 do CPC), sendo o interesse processual
44
Ex: não se admite uma ação destinada à verificação, sem declaração, de nulidade de um negócio jurídico, dado
que não teria utilidade

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aferido pela incerteza objetiva que se formar sobre a (in)existência do


direito e, portanto, pela utilidade da tutela pretendida45.

○ Consequências:

■ Na pendência da ação de apreciação (positiva ou negativa): A parte


demandada não pode instaurar uma ação condenatória contra o
autor, dado que a citação daquela parte obsta a que ela possa propor
contra o autor uma outra ação destinada à apreciação da mesma
questão jurídica (art. 564/c do CPC), contudo, é possível a dedução de
um pedido reconvencional do reu de conteúdo condenatório do autor
(art. 266/1 e 2d do CPC)

■ Depois da ação de apreciação: Se o autor instaurar contra o mesmo


autor uma ação condenatória, duplicando inutilmente as ações
propostas, pois podia ter instaurado apenas uma ação condenatória
em que podia obter a declaração do direito, fica responsável pelas
custas, pois o reu não deu causa à duplicação das ações (art. 535/1
do CPC)

Funcionamento: O interesse processual é um pressuposto de conhecimento oficioso, como


o são a maioria das exceções dilatórias (art. 578/2 do CPC)

★ Extinção da Instância: O interesse processual tem de existir durante toda a


pendência da causa, ocorrendo a extinção da instância quando o autor perde o
interesse na tutela requerida (art. 277/e e 849/1c do CPC).

★ Absolvição do Reu da Instância: A falta de interesse processual é uma exceção


dilatória, pois corresponde à falta de um pressuposto processual (art. 576/2 do
CPC), implicando a absolvição do réu da instância (art. 576/2 e 278/1e do CPC)

○ Absolvição do Reu do Pedido: Como este pressuposto também visa que o


reu seja inutilmente incomodado, o reu não deve ser absolvido da instância
por falta de interesse processual sem que o tribunal averigue se, nesse
momento, é possível concluir pela improcedência da ação, pois, se houver
elementos nesse sentido, o tribunal deve absolver o reu do pedido, dado que
esse será um resultado mais favorável para o reu (art. 278/3/2ªp do CPC)46.

Pressuposto processual?

45
Ex: O autor pede o pagamento de uma indemnização por violação de uma propriedade de que afirma ser
titular, essa mesma parte pede que o tribunal aprecie e declare a titularidade com força de caso julgado material
46
Ex: O autor condenar o reu ao cumprimento de uma obrigação com base num contrato que se provar ser nulo

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★ Prof. MTS: O interesse processual é um pressuposto processual47.

★ Prof. LdF: Nega a qualificação do interesse processual como um pressuposto


processual, pois a sua falta não implica a inadmissibilidade de conhecer do mérito
da causa, mas a responsabilidade do autor pelas custas da ação, mesmo que a
mesma seja considerada procedente (art. 535/1 do CPC)

18§ MODIFICAÇÕES SUBJETIVAS DA INSTÂNCIA


18.1 HABILITAÇÃO
Morte ou Extinção: Se falecer ou se extinguir uma das partes verifica-se uma das seguintes
hipóteses:

★ Extinção do Processo por Inutilidade Superveniente da Lide (art. 269/3 e 277/e


do CPC): Assim sucede quanto:

○ Ao divórcio ou separação judicial de pessoas e bens por mútuo


consentimento (art. 1775/1 do CC),
○ No processo de acompanhamento de maiores se falecer o requerido
○ ...

★ Continuação do Processo para fins limitados: Verifica-se tal situação:

○ Na ação de divórcio litigioso ou separação de pessoas e bens sem o


consentimento de um dos cônjuges (art. 1785/3 e 1794 do CC)
○ Nas restantes ações de estado civil (anulação de casamento - art. 1639,
1640/2 e 1641 CC, investigação da maternidade - art. 1818 e 1825 CC,
impugnação da paternidade - art. 1844 e 1846/2 CC, anulação da
perfilhação - art. 1862 CC e investigação da paternidade - art. 1873 CC)

★ Extinção do Direito Material: O processo deve extinguir-se por perder o seu objeto.

★ Habilitação-Incidente: Sem ser nos casos supra, o processo não se extingue,


continuando com o mesmo objeto:

○ Fenómenos que vão ocorrer no processo:

■ Comunicação e prova de morte: Qualquer das parte sobrevivas tem o


dever de comunicar esse facto no processo e de o documentar (art.
270/2 do CPC), tal como o mandatário da parte falecida, enquanto
manifestação do dever de colaboração com a justiça, apesar do
mandato caducar com a morte (art. 1174/a e 1175 do CC)

47
O reu que contesta o interesse limita-se a alegar que o autor não retira nenhuma utilidade da tutela judicial
requerida, o reu que contesta o interesse contesta não a utilidade mas a concessão da tutela.

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■ Suspensão da Instância: O juiz deve lavrar despacho, suspendendo a


instância, retroativamente, ao momento da morte em si (art. 269/1a e
270/3 do CPC). São nulos todos os atos praticados no processo
posteriormente à data em que ocorreu o falecimento ou extinção em
relação aos quais fosse admissível o exercício do contraditório pela
parte que faleceu ou se extinguiu (art. 270/3 do CPC)

■ Habilitação (art. 351/1 do CPC): Não é de iniciativa oficiosa, podendo


ser requerida por qualquer das partes sobreviventes e qualquer dos
sucessores

○ Prova da Habilitação: A prova da aquisição, por sucessão ou transmissão, da


titularidade de um direito ou complexo de direitos ou de outra situação
jurídica ou complexo de situações jurídicas demonstra-se de uma das
seguintes formas. A improcedência da habilitação não obsta a que o
requerente deduza outra, com fundamento em factos ou provas diferentes
(art. 352/2 do CPC)

■ Se a qualidade que legitimar o habilitado para a substituição já


estiver declarada noutro processo por decisão transitada em julgado:
A habilitação tem por base a certidão da sentença (art. 353/1 CPC). O
“outro” processo tem de ser um processo em que tenham sido partes
as pessoas a quem se opõe a habilitação, pois a decisão sobre a
habilitação não produz eficácia erga omnes (art. 353/2 CPC)

■ Se a qualidade que legitimar o habilitado para a substituição já


estiver reconhecida em habilitação notorial: A habilitação tem por
base certidão da escritura (art. 353/1 do CPC)

■ Se a qualidade que legitimar o habilitado estiver depedente de


decisão de outro processo: A habilitação não se suspende, sendo
chamados todos os interessados a serem partes (art. 354/2 do CPC)

■ Se correr inventário: Têm se por habilitados os herdeiros que nele


forem reconhecidos (art. 353/4 do CPC)

■ Não se verificando nenhum dos casos anteriores: A habilitação é feita


com base na prova apresentada pelo requerente (art. 351/1 e 293/1)

○ Conteúdo da Habilitação: Em regra, os sucessores recebem todos os direitos


e continuam todas as obrigações do de cuius, mas há situações de ações com
sucessão particular (↓)

■ Sucessão Particular Limitativa: Apenas o cônjuge não separado


judicialmente de pessoas e bens pode prosseguir ações de

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reconhecimento judicial de maternidade ou paternidade (art. 1818 ex


vi 1873 do CC)

■ Sucessão Particular Aumentativa: A sucessão na posição do autor de


uma ação de responsabilidade civil por ofensa ilícita, ou ameaça de
ofensa à sua personalidade física e moral cabe ao cônjuge sobrevivo
ou qualquer descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro do
falecido (art. 73 e 71/2 do CC)
● Outras soluções de idêntica sucessão: Art. 1639/2, 1640/2,
1641, 1819 e 1862 do CC

■ Sucessão Particular Alteradora

Habilitação na Transmissão Entre Vivos:

★ Características: A habilitação do adquirente ou do cessionário é facultativa e não


pode ser suscitada oficiosamente, ou seja, o transmitente continua em juízo como
substituto processual do adquirente ou cessionário (art. 263/1 do CPC), pelo que, se
ninguém solicitar a habilitação, o juiz julga à mesma o mérito (entre as partes
iniciais), ignorando a transmissão.

○ Não havendo habilitação o caso julgado vincula o cessionário ou o


adquirente? Sim (art. 263/2 do CPC)

■ Forma de garantir os interesses dos cessionários ou adquirentes -


Possibilidade de deduzir habilitação: O cessionário ou adquirente
pode ser admitido a substituir o cedente ou transmitente,
promovendo, ele, a habilitação (art. 263/1 e 356/1 do CPC)

○ Havendo habilitação o caso julgado vincula o cedente ou o transmitente?


Sim, pois os sujeitos são a mesma parte do ponto de vista da sua qualidade
jurídica

★ Legitimidade para requerer a habilitação: Podem requerer a habilitação o cedente


ou transmitente, o cessionário ou transmissionário e a parte contrária (art. 356/2 do
CPC)

18.2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS


Pressupostos Processuais: A intervenção do terceiro é um ato processual que exige
personalidade jurídica, capacidade judiciária, legitimidade para intervir e, eventualmente,
representação por mandatário judicial.

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Produção de Efeitos: Aplica-se o art. 564 do CPC analogicamente

Intervenção Principal: Pode intervir na causa pendente como parte principal aquele que em
relação ao objeto da causa tiver um interesse igual ao do autor ou do reu (art. 311 do CPC),
isto é, aquele que for titular de um direito próprio mas parelelo ao do autor ou do reu (art.
312 do CPC) e que, por isso, se possa litisconsorciar com qualquer das partes.

★ Intervenção Espontânea Adesiva: Visa permitir a mera adesão de um terceiro que é


titular de um direito próprio, mas paralelo ao do autor ou do reu, ao articulados de
uma das partes (art. 313/2 do CPC). Pode ter por base um litisconsórcio voluntário
ou necessário (art. 311 do CPC).

○ Posição do Interveniente: Tem de aceitar a causa no estado em que esta se


encontrar e é considerado revel quanto a atos anteriores, mas goza do
estatuto de parte principal a partir do momento de intervenção (art. 313/3 do
CPC). Não pode apresentar articualdo próprio, mas pode participar em todas
as audiências, apresentar e requerer provas, depor como parte, impugnar
decisões e intervir em negócios processuais

○ Momento de Intervenção: É admissivel a todo o tempo enquanto a causa não


estiver definitivamente julgada (art. 313/1 do CPC)

■ Limite: Não é admissível se a parte contrária tiver uma defesa pessoal


a opor ao interveniente e o estado do processo já não lhe permita
valer essa defesa (art. 313/4 do CPC)

★ Intervenção Espontânea Autónoma: O interveniente formula, até ao termo da fase


dos articulados, a sua própria petição, se pretender intervir como autor, ou contesta
a pretensão do autor, se pretender intervir como reu (art. 314 do CPC), fazendo
valer um direito próprio, paralelo ao do autor ou do reu. Ambas as partes primitivas
podem responder à intervenção e se a intervenção for admitida seguem-se os
demais articulados (art. 315 do CPC)

★ Intervenção Provocada Geral: Pode ser utilizada para:

○ Sanar a preterição de um litisconsórcio necessário (art. 316/1 do CPC):


Qualquer das partes pode chamar a juízo o interessado com legitimidade
para intervir na causa (art. 316/1 do CPC) até ao termo da fase de
articulados ou até ao trânsito em julgado da decisão que julgue ilegítima
alguma das partes por não se encontrar em juízo determinada pessoa (art.
318/1a do CPC)

○ Permitir a constituição de um litisconsórcio voluntário (art. 316/2 e 3 do CPC)

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■ O autor pode provocar a até ao termo da fase de articulados a


intervenção de (art. 318/1b do CPC):
● Algum litisconsorte do rei que não haja demandado
inicialmente (art. 316/2 do CPC)
● Terceiro contra quem pretenda dirigir, subsidiariamente o
pedido (art. 316/2 e 39 do CPC)

■ O reu pode provocar na contestação ou, se não contestar, num


requerimento para o efeito, de (art. 318/1c do CPC):
● Outro sujeitos passivos da relação material controvertida (art.
316/3a do CPC)
● Possiveis contitulares do direito invocado pelo autor (art.
316/3b do CPC)

○ Reconhecer um direito de regresso de um co-devedor solidário (art. 317/1 do


CPC) - Intervenção Provocada Especial: O reu demandado como co-devedor
solidário pode chamar para o seu lado outros co-devedores. A intervenção
tem de ser deduzida na contestação ou no seu prazo. A parte contrária deve
ser ouvida antes do tribunal decidir sobre a admissibilidade (art. 318 CPC)

■ Se a intervenção for admitida: O interessado é citado, podendo


oferecer o seu articulado ou fazer seus os articulados existentes. Se a
citação ocorrer depois do prazo da contestação, o interveniente tem
de aceitar os articulados da partes a que se associa (art. 319 do CPC)

Oposição: Estando pendente uma causa pode um terceiro intervir nela para fazer valer um
direito próprio, total ou parcialmente incompatível com a pretensão do autor ou do
reconvinte (art. 333/1 do CPC).

★ Momento: A intervenção do opoente é admitida enquanto não estiver designado dia


para a audiência final em 1ª instância ou, não havendo lugar a esta audiência,
enquanto não estiver proferida a sentença (art. 333/2 do CPC).

★ Modalidades:

○ Oposição Espontânea: O opoente deduz a sua pretensão por meio de petição


(art. 334 do CPC) e assume a posição de parte principal (art. 335/1 do CPC),
podendo verificar-se depois alguma das seguintes situações:

■ Alguma das partes da causa principal reconhece o direito do opoente:


O processo segue apenas entre a outra parte e o opoente (art. 337/1
do CPC).

■ Ambas as partes impugnam o direito do opoente: A instância segue


entre ambas as partes, havendo duas causas conexas, uma entre as

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partes primitivas e outra entre o opoente e aquelas (art. 337/2 CPC),


contudo a decisão tem de ser conjunta.

○ Oposição Provocada: O reu pode requerer, dentro do prazo que tem para
contestar, que um terceiro com um direito incompatível com o do autor seja
citado para deduzir a sua pretensão, desde que antes proceda à consignação
em depósito da quantia ou coisa devida (art. 338 e 916/3 do CPC). Depois da
citação do terceiro pode acontecer o seguinte:

■ Se o terceiro não deduzir a sua pretensão: É proferida sentença a


declarar extinta a obrigação em consequência do depósito realizado
pelo reu (art. 340/1, 567/1 e 568 do CPC), que tem força de caso
julgado relativamente ao terceiro que foi chamado a intervir (art.
349/2 do CPC)

■ Se o terceiro deduzir a sua pretensão: Declara-se extinta a obrigação


do reu, mas a ação continua entre o autor inicial e o opoente (art. 341
e 922/3 do CPC)

○ Embargos de Terceiro: Podem ser repressivos ou preventivos, consistindo


num meio de reação de um terceiro contra um ato, judicialmente ordenado,
de apreensão ou entrega de bens que ofenda a sua posse ou um seu direito
que seja incompatível com a realização ou o âmbito da diligência (art. 342/1
e 350 do CPC). A sentença de mérito proferida nos embargos constitui caso
julgado quanto à existência e titularidade desse direito

Intervenção Acessória: Intervenção de uma parte acessória, ou seja, de alguém que pode
ser atingido pela decisão da causa e que, por isso, auxilia uma das partes principais a evitar
que uma decisão desfavorável venha a ser proferida.

★ ≠ Intervenção Principal Adesiva: A intervenção acessória pressupõe que o


interveniente é titular de uma situação subjetiva dependente daquela que constitui o
objeto do processo, enquanto que a intervenção principal adesiva requer que o
interveniente seja titular de uma situação subjetiva paralela à do autor ou do reu.

★ Modalidades:

○ Intervenção Espontânea (art. 326/1 do CPC): Estando pendente uma causa,


pode intervir nela como assistente quem tiver interesse jurídico, pessoal e
atual, em que a decisão seja favorável a uma das partes principais

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RESUMOS DPC I - REGÊNCIA PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA / JOÃO MARQUES MARTINS - TB - 2022/20223
Luísa Braz Teixeira

■ Fundamento da intervenção:A titularidade de uma relação jurídica


cuja consistência prática ou económica dependa da pretensão do
assistido (art. 326/2 do CPC)48.

○ Intervenção Provocada (art. 321/1 e 325/1 do CPC): O reu que tenha ação de
regresso contra terceiro, para ser indemnizado do prejuizo que lhe cause a
perda da demanda pode chamá-lo a intervir como auxiliar na defesa, sempre
que o terceiro careça de legitimidade para intervir como parte principal. O
chamamento é deduzido na contestação, ou, na sua falta, no seu prazo (art.
322/1 do CPC).

★ Posição do Assistente: O assistente tem de aceitar o processo no estado em que


este se encontrar no momento da intervenção (art. 327/1 do CPC. Como é uma
parte acessória, embora possa praticar os mesmos atos que a parte principal (o que
exclui formular e contestar pedidos de defesa de direitos próprios), exceto aqueles
que possam estar em oposição com os do assitido (art. 328 do CPC). Se o assistido
for revel, o assistente é considerado seu substituto processual (art. 329 do CPC).

★ Cessação da Assistência: Cessa com a extinção da instância ou pela desistência da


parte principal (art. 285/2 do CPC analogicamente).

★ Caso Julgado: A sentença proferida constitui caso julgado em relação ao assistente,


que é obrigado a aceitar os factos e o direito que a decisão judicial tenha
estabelecido, exceto se provar em processo posterior que alguma atitude da parte
principal o impediu alegar os meios de prova que podiam influir na decisão final ou
mostrar que desconhecia a existência de alegações suscetiveis de influir na decisão
final (art. 322 do CPC)

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Ex: situações de extensão de caso julgado, relações de prejudicialidade, direito de regresso,...

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