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8.1.

1 ELEMENTOS VINCULADOS DOS ATOS


ATOS ADMINISTRATIVOS DISCRICIONÁRIOS 18
8.1.2. SURGIMENTO DA DISCRICIONARIEDADE
2a EDIÇÃO/2022 19
8.2. ATO VINCULADO 19
1. CONCEITO 3
9. ATRIBUTOS / PRESSUPOSTOS / PRERROGATIVAS
2. SILÊNCIO ADMINISTRATIVO / OMISSÃO DOS ATOS 20
ADMINISTRATIVA / “NÃO ATO” 4
9.1. HELY LOPES MEIRELLES 20
3. EFEITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 5 9.2. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO 21
9.3. MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO 22
4. PERFEIÇÃO, VALIDADE E EFICÁCIA 6
4.1. ATO PERFEITO, VÁLIDO E EFICAZ 6 10. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 23
4.2. ATO PERFEITO, INVÁLIDO E EFICAZ 6 10.1. QUANTO AOS DESTINATÁRIOS 23
4.3. ATO PERFEITO, VÁLIDO E INEFICAZ 6 10.2. QUANTO AO ALCANCE 23
4.4. ATO PERFEITO, INVÁLIDO E INEFICAZ 6 10.3. QUANTO AO OBJETO ou PRERROGATIVAS 24
10.4. QUANTO AO REGRAMENTO OU
5. TEORIA DOS ATOS INEXISTENTES 6 VINCULAÇÃO OU GRAU DE LIBERDADE 24
5.1. CARACTERÍSTICAS QUE OS DIFEREM DOS 10.5. QUANTO À FORMAÇÃO / NÚMERO DE
ATOS ADMINISTRATIVOS NULOS OU INVÁLIDOS 7 VONTADES 24
10.6. QUANTO À EFICÁCIA 26
6. ELEMENTOS OU REQUISITOS DE VALIDADE DO
ATO ADMINISTRATIVO 7 10.7. QUANTO À ELABORAÇÃO OU
EXEQUIBILIDADE 26
6.1. COMPETÊNCIA 8
10.8. ATOS DE EFEITOS REFLEXOS OU
6.1.1. CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA 9
PRODRÔMICOS (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE
6.1.2. DELEGAÇÃO E AVOCAÇÃO DA MELLO) 27
COMPETÊNCIA 9
10.9. QUANTO AOS EFEITOS 27
6.1.2.1 DELEGAÇÃO 9
10.10. QUANTO AO CRITÉRIO DO OBJETO 27
6.1.2.2. AVOCAÇÃO 10
10.11. QUANTO AO CRITÉRIO DA REPERCUSSÃO
6.1.3. VÍCIOS DA COMPETÊNCIA 11 SOBRE A ESFERA JURÍDICA DO PARTICULAR 28
6.2. FINALIDADE 11 10.12. QUANTO AO CRITÉRIO DA
6.3.FORMA 12 RETRATABILIDADE 28
6.3.1. PRINCÍPIO DA SOLENIDADE DAS
FORMAS 13 11. ESPÉCIES DE ATOS 28
6.3.2. PRINCÍPIO DA SIMETRIA DAS FORMAS 13 11.1. ATOS NORMATIVOS 28
6.3.3. FORMALIDADES ESSENCIAIS X 11.2. ATOS ORDINÁRIOS 29
FORMALIDADES ACIDENTAIS 13 11.3. ATOS NEGOCIAIS 30
6.4. MOTIVO 14 11.4. ATOS ENUNCIATIVOS 32
6.4.1. CLASSIFICAÇÃO 14 11.5. ATOS PUNITIVOS 33
6.4.2. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES
12. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 33
15
6.4.3. MOTIVAÇÃO ALIUNDE OU ALHEIA 16 12.1. EXTINÇÃO POR MANIFESTAÇÃO DE
VONTADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 33
6.4.4. TREDESTINAÇÃO 16
12.1.1. CADUCIDADE 33
6.5. OBJETO 16
12.1.2. CASSAÇÃO 34
6.5.1. CLASSIFICAÇÃO 16
12.1.3. REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO 34
7. ELEMENTOS E PRESSUPOSTOS DE CELSO 12.1.3.1. ATOS QUE NÃO ADMITEM
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO 17 REVOGAÇÃO 36
7.1. ELEMENTOS E PRESSUPOSTOS DE CELSO 12.1.3.2. CONTRAPOSIÇÃO / DERRUBADA
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO 17 36
7.1.1. ELEMENTOS 17 12.1.3.3. REPRISTINAÇÃO 36
7.1.2. PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA 17
13. CONVALIDAÇÃO OU SANATÓRIA 37
7.1.3. PRESSUPOSTOS DE VALIDADE 17
13.1. ESPÉCIES DE CONVALIDAÇÃO 38
8. DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO 18 13.1.1. CONVALIDAÇÃO VOLUNTÁRIA 38
8.1. ATO DISCRICIONÁRIO 18 13.1.2. CONVALIDAÇÃO INVOLUNTÁRIA 39
ATOS ADMINISTRATIVOS - 1
margem de discricionariedade e têm
1. CONCEITO competência extraída diretamente da
Constituição Federal. Exemplos:
Conforme Rafael Oliveira, ato declaração de guerra”.
administrativo pode ser conceituado como sendo “a ● Atos meramente materiais: “consistem
manifestação unilateral de vontade da na prestação concreta de serviços,
Administração Pública e de seus delegatários, no faltando-lhes o caráter prescritivo
exercício da função delegada, que, sob o regime de próprio dos atos administrativos.
direito público, pretende produzir efeitos jurídicos Exemplos: poda de árvore, varrição de
com o objetivo de implementar o interesse público” rua”.
(Curso de Direito Administrativo, 2021, p. 348).
● Atos legislativos e jurisdicionais: “são
Para Hely Lopes Meirelles, ato praticados excepcionalmente pela
administrativo é "toda manifestação unilateral da Administração Pública no exercício de
Administração que, agindo nessa qualidade, tenha função atípica. Exemplo: medida
por fim imediato adquirir, transferir, modificar, provisória”;
extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos
● Atos regidos pelo direito privado ou
administrados ou a si própria".
atos de gestão: “constituem casos raros
em que a Administração Pública ingressa
NÃO CONFUNDA em relação jurídica submetida ao direito

🔴 ATOS DA ADMINISTRAÇÃO1: Segundo privado ocupando posição de igualdade

Alexandre Mazza, para a doutrina majoritária atos perante o particular, isto é, destituído do

da administração “são atos jurídicos praticados pela poder de império. Exemplo: locação

Administração Pública que não se enquadram no imobiliária e contrato de compra e

conceito de atos administrativos, como os atos venda”;

legislativos expedidos no exercício de função atípica, ● contratos administrativos: “são


os atos políticos definidos na Constituição Federal, os vinculações jurídicas bilaterais,
atos regidos pelo direito privado e os atos meramente distinguindo-se dos atos administrativos
materiais.” É todo aquele praticado pela que são normalmente prescrições
Administração (toda e qualquer manifestação de unilaterais da Administração.”
vontade praticada pela Administração Pública). Tais
atos poderão seguir o regime público ou privado
(atos privados). Se o ato da Administração está sujeito
🔴 FATOS ADMINISTRATIVOS: A doutrina
aponta dois conceitos possíveis, vejamos:
ao regime público, recebe o nome de ato
● É todo acontecimento que produz
administrativo.
efeitos no mundo
São espécies de atos da administração:
jurídico-administrativo. Fato da
● Atos políticos ou de governo: “não se administração: quando não há
caracterizam como atos administrativos produção de efeitos no mundo
porque são praticados pela jurídico-administrativo.
Administração Pública com ampla
● É sinônimo de ato material/de execução

1
(CARVALHO FILHO). Seria aquele ato que
Mazza, Alexandre Manual de direito administrativo / Alexandre
Mazza. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.p.186
ATOS ADMINISTRATIVOS - 2
implementa um anterior, a exemplo da Celso Antônio Bandeira de Mello observa
implosão de um prédio como que se o ato administrativo for estritamente vinculado
cumprimento de um ato administrativo (mera conferência de requisitos), o juiz poderia
anterior ordenando tal prática. resolver o caso em concreto; mas para a maioria o juiz

José dos Santos acrescenta que os fatos vai fixar um prazo para que o administrador pratique

administrativos podem ser voluntários e naturais. o ato.

Os naturais são aqueles que se originam de


fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na E no caso de omissão ilegítima da
órbita administrativa. Ex.: raio que destrói um bem Administração?
público.
Segundo Rafael Rezende (2021, p. 302), “o
interessado deve pleitear na via administrativa (ex.:
direito de petição) ou judicial (ex.: ação
2. SILÊNCIO ADMINISTRATIVO / OMISSÃO
ADMINISTRATIVA / “NÃO ATO” mandamental) a manifestação expressa da vontade
estatal. É vedado, todavia, ao Judiciário expedir o

Segundo Rafael Rezende (2021, p. 302), “a ato administrativo, substituindo-se à Administração

omissão (...) não é um ato administrativo, pois omissa, tendo em vista o princípio da separação de

inexiste manifestação formal da vontade da poderes. O magistrado deve exigir que a

Administração, razão pela qual deve ser configurada Administração Pública manifeste a sua vontade

como fato administrativo”. (positiva: consentimento ou negativa: denegatória),

🔶 Regra: Não é ato administrativo, pois


dentro do prazo fixado na decisão judicial, sob pena
de sanções (ex.: multa diária).”
inexiste manifestação formal de vontade da
Administração. Outrossim, deve-se observar se o ato é

🔶 Exceção: Representará a manifestação


discricionário ou vinculado, pois sendo o ato
discricionário, não é possível ao judiciário determinar
de vontade administrativa quando houver previsão
o ato a ser praticado, pois a análise dos critérios de
legal expressa nesse sentido (ex.: art. 26, § 3.º, da Lei
conveniência e oportunidade deve ser restrito à
9.478/1997: Decorrido o prazo estipulado no
Administração. Poderá o judiciário apenas estabelecer
parágrafo anterior sem que haja manifestação da
um prazo para o administrador se manifestar sobre o
ANP, os planos e projetos considerar-se-ão
pedido. Entretanto, em se tratando de ato vinculado,
automaticamente aprovados).
poderá conferir o que foi solicitado, na medida em
O silêncio por parte da administração
que a decisão do agente público e o exame feito pelo
significa um NADA JURÍDICO, salvo quando a lei der
judiciário não poderiam ter soluções diversas.
ao silêncio um efeito, ou seja, quando a lei
O STF e o STJ, em determinadas situações,
expressamente atribuir o efeito. Mas o administrado
mesmo tratando-se de ato discricionário, já admitiu
poderá impetrar MS, alegando lesão ao direito líquido
possibilidade de o poder judiciário conferir a
e certo de petição (direito de pedir e de obter uma
autorização pretendida pelo particular em razão da
resposta). O juiz não pode substituir o administrador,
mora administrativa.
ele vai dar um prazo para que a administração
pratique o ato, sob pena de crime de
responsabilidade, multa diária etc. (...)

ATOS ADMINISTRATIVOS - 3
3. A Lei 9.784/99 foi promulgada
justamente para introduzir no nosso
3. EFEITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
ordenamento jurídico o instituto da Mora
Administrativa como forma de reprimir o
arbítrio administrativo, pois não
🔴 EFEITOS TÍPICOS ou PRÓPRIOS: Efeitos
principais, previstos em lei e que decorrem
obstante a discricionariedade que
diretamente do ato administrativo.
reveste o ato da autorização, não se
pode conceber que o cidadão fique 🔴 EFEITOS ATÍPICOS ou IMPRÓPRIOS:
sujeito à uma espera abusiva que não Efeitos secundários do ato administrativo.
deve ser tolerada e que está sujeita, ⭕ Efeitos Preliminares ou
sim, ao controle do Judiciário a quem Prodrômicos: Segundo Rafael Rezende
incumbe a preservação dos direitos, (2021, p. 303-304), “efeitos produzidos
posto que visa a efetiva observância durante a formação do ato
da lei em cada caso concreto. administrativo (ex.: ato sujeito ao
4. "O Poder Concedente deve observar controle por parte de outro órgão, tal
prazos razoáveis para instrução e como ocorre com determinados
conclusão dos processos de outorga de pareceres que só produzem efeitos após
autorização para funcionamento, não o visto da autoridade superior. Nesse
podendo estes prolongar-se por tempo caso, a elaboração do parecer acarreta o
indeterminado", sob pena de violação dever de emissão do ato de controle pela
aos princípios da eficiência e da autoridade superior);”
razoabilidade. (STJ - REsp: 531349 RS Fernanda Marinela pontua que tal efeito
2003/0045859-1, Relator: Ministro JOSÉ ocorre nos atos complexos ou
DELGADO, Data de Julgamento: compostos, e surge antes do ato
03/06/2004, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data concluir seu ciclo de formação,
de Publicação: DJ 09/08/2004 p. 174) consubstanciando-se em situação de
pendência de alguma outra
formalidade. E exemplifica: o efeito
Segundo o Relator, Min. Marco Aurélio, o
prodrômico do ato se dá, por exemplo,
Estado de São Paulo não apresentou
quando a primeira autoridade se
justificativa razoável para justificar a
manifesta e surge a obrigação de um
mora administrativa: O Poder Judiciário,
segundo também fazê-lo, constatado
em situações excepcionais, pode
neste meio tempo; o efeito prodrômico
determinar que a Administração Pública
independe da vontade do administrador
adote medidas assecuratórias de
e não pode ser suprimido2.
direitos constitucionalmente
reconhecidos como essenciais, sem
que isso configure violação do ⭕ Efeitos Reflexos: “São os efeitos
princípio da separação de poderes. produzidos em relação a terceiros,
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. estranhos à relação jurídica formalizada
Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013
(Info 726). 2

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2603364/o-que-se-entende-por-e
feito-prodromico-do-ato-administrativo-aurea-maria-ferraz-de-sousa
ATOS ADMINISTRATIVOS - 4
entre a Administração e o destinatário
5. TEORIA DOS ATOS INEXISTENTES
principal do ato” (OLIVEIRA, 2021, p.
304).
Os atos inexistentes são aqueles que têm
aparência de vontade de manifestação da

4. PERFEIÇÃO, VALIDADE E EFICÁCIA3 Administração Pública4.

São exemplos de atos jurídicos inexistentes5:

4.1. ATO PERFEITO, VÁLIDO E EFICAZ ● Ato administrativo proibindo e ao mesmo

Ato que concluiu o seu ciclo de formação, tempo permitindo determinado

com a presença de todos seus elementos, em comportamento (ausência de conteúdo);

compatibilidade com a lei e apto para produção dos ● Decreto proibindo a morte (conteúdo
efeitos típicos. materialmente impossível);

● Edital de concurso exigindo domínio de

4.2. ATO PERFEITO, INVÁLIDO E EFICAZ idioma extinto (conteúdo materialmente


impossível);
Ato que concluiu o seu ciclo de formação e,
apesar de violar o ordenamento jurídico, produz ● Promoção de servidor falecido (ausência de

seus efeitos (ex.: contrato administrativo, celebrado objeto).

sem licitação, fora das hipóteses permitidas pela lei,


que foi declarado nulo após três meses de execução). 5.1. CARACTERÍSTICAS QUE OS DIFEREM DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS NULOS OU INVÁLIDOS6

4.3. ATO PERFEITO, VÁLIDO E INEFICAZ ► Para o direito, não há nenhuma

Ato que concluiu o seu ciclo de formação, possibilidade de os atos administrativos

em conformidade com o ordenamento jurídico, mas inexistentes produzirem efeitos jurídicos na esfera

que não possui aptidão para produção de efeitos de interesses do administrado. O ato inexistente é

em razão da fixação de termo inicial ou de juridicamente ineficaz porque a existência é

condição suspensiva, bem como aqueles que condição necessária para produzir efeitos;

dependem da manifestação de outro órgão ► Constituindo um nada jurídico, o ato


controlador (ex.: exoneração a pedido do servidor a administrativo inexistente não gera obrigatoriedade,
contar de data futura). podendo ser ignorado livremente sem qualquer
consequência;

4.4. ATO PERFEITO, INVÁLIDO E INEFICAZ ► Particulares e agentes públicos podem


opor-se contra a tentativa de execução dos atos
Ato que concluiu o seu ciclo de formação,
administrativos inexistentes usando a força física. É a
mas encontra-se em desconformidade com o
chamada reação manu militari;
ordenamento jurídico e não possui aptidão para
produção de efeitos jurídicos (ex.: concurso público,
com exigências inconstitucionais, cujo resultado final
ainda não foi homologado e publicado).

https://www.esquematizarconcursos.com.br/artigo/ato-valido-n
ulo-anulavel-e-inexistente
3 5
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed. Rio MAZZA (2012), p. 201/202
6
de Janeiro: Método, 2021. pág. 304 MAZZA (2012), p. 201/202
ATOS ADMINISTRATIVOS - 5
► Devido à sua extrema gravidade, o vício
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a
de inexistência não admite convalidação ou
matéria de fato ou de direito, em que se
conversão em atos regulares;
fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
► Ato inexistente não possui presunção de juridicamente inadequada ao resultado obtido;
legitimidade;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o
► O defeito de inexistência é imprescritível agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
e incaducável, podendo ser suscitado a qualquer previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
tempo perante a administração e o judiciário. competência.

6. ELEMENTOS OU REQUISITOS DE VALIDADE DO


ATO ADMINISTRATIVO Competência Quem pratica? A lei que dirá.

Para quê? - Interesse público /


Finalidade
A doutrina costuma apontar cinco finalidade na lei.
elementos dos atos administrativos, quais sejam:
competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Tais Forma Como?

elementos são retirados do art. 2.º da lei que


Motivo Qual a razão?
regulamenta a Ação Popular (Lei nº 4.717/65).
Objeto O quê?

Art. 2º, Lei 4717/65. São nulos os atos lesivos ao Mnemônico: CO FI FOR MO OB

patrimônio das entidades mencionadas no artigo


anterior, nos casos de:
6.1. COMPETÊNCIA
a) incompetência;
É o poder dado pela Lei para prática de
b) vício de forma; determinado ato.
c) ilegalidade do objeto; Para ser competente, o agente deve ter
d) inexistência dos motivos; capacidade civil. Assim, no direito administrativo,

e) desvio de finalidade. exige-se que o agente seja capaz e competente


(capacidade + competência).
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de
nulidade observar-se-ão as seguintes normas: A regra de competência tem que estar
prevista na lei – muitas vezes essa regra está na
a) a incompetência fica caracterizada quando o
Constituição, mas é regulamentada por lei – ou seja, a
ato não se incluir nas atribuições legais do agente
fonte da competência são a Constituição e a lei.
que o praticou;
Segundo Rafael Rezende (2021, p. 305), “a
b) o vício de forma consiste na omissão ou na
competência é a prerrogativa atribuída pelo
observância incompleta ou irregular de
ordenamento jurídico às entidades
formalidades indispensáveis à existência ou
administrativas e aos órgãos públicos, habilitando
seriedade do ato;
os respectivos integrantes (agentes públicos) para o
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o
exercício da função pública. Vale destacar que a
resultado do ato importa em violação de lei,
norma jurídica (Constituição, lei e atos
regulamento ou outro ato normativo;
regulamentares) exerce dupla função em relação à

ATOS ADMINISTRATIVOS - 6
competência: de um lado, habilita a atuação do 6.1.2. DELEGAÇÃO E AVOCAÇÃO DA COMPETÊNCIA
agente e, de outro lado, limita essa mesma atuação” Delegação e avocação não são renúncias à
A competência administrativa é de exercício competência9.
OBRIGATÓRIO. Ele tem obrigação de fazer; é um
múnus público. Ex: o prefeito é o competente para
6.1.2.1 DELEGAÇÃO
cuidar dos bens públicos – é obrigado a fazer. Sendo
É a transferência precária, total ou parcial,
assim, é um PODER-DEVER, mas Celso Antônio
do exercício de determinadas atribuições
Bandeira de Mello diz que como o dever é mais
administrativas, inicialmente conferidas ao delegante,
importante chama de DEVER-PODER; é ENCARGO.
para outro agente público.

6.1.1. CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA

São características da competência:


🔴 CARACTERÍSTICAS
► Abrange apenas parte da competência;
🔴 IRRENUNCIÁVEL: O agente tem o dever
► É temporário e precário;
de exercer a função;
► Delega a agente público subordinado ou de
mesma hierarquia;
Art. 11, Lei 9.784/99. A competência é
IRRENUNCIÁVEL e se exerce pelos órgãos
Em regra, presume-se a cláusula de
administrativos a que foi atribuída como própria,
reserva 10
(o agente delegante não transfere a
salvo os casos de delegação e avocação legalmente
competência, mas apenas a amplia, mantendo-se
admitidos.
competente após a delegação juntamente com o
agente delegado, ou seja, o agente delegante se

🔴 IMPRESCINDÍVEL / INCADUCABILIDADE: reserva na competência delegada; Súmula 510, STF;

Não se perde a competência pelo decurso do tempo; art. 14, §3°, Lei 9784/99)

🔴 IMPRORROGÁVEL /
IRRENUNCIABILIDADE: Não há prorrogação de
Art. 12, Lei 9784/99. Um órgão administrativo e
competência para a autoridade incompetente, nem
seu titular poderão, se não houver impedimento
mesmo pela vontade das partes;
legal, delegar parte da sua competência a
🔴 NATUREZA DE ORDEM PÚBLICA : “Sua 7
outros órgãos ou titulares, ainda que estes não
definição é estabelecida pela lei, estando sua lhe sejam hierarquicamente subordinados,
alteração fora do alcance das partes”; quando for conveniente, em razão de
🔴 NÃO DE PRESUME : “O agente somente
8 circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
terá as competências expressamente outorgadas pela jurídica ou territorial.
legislação”; Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo
aplica-se à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes.

9
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed. Rio
de Janeiro: Método, 2021, p. 305.
7
MAZZA (2012), p. 206 10
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 5. ed. -
8
MAZZA (2012), p. 206 Salvador: JusPODIVM, 2018. p.263
ATOS ADMINISTRATIVOS - 7
avocação?
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:

I - a edição de atos de caráter normativo;


🔸1 a
corrente: A regra é a impossibilidade de
modificação de competência, sendo possível
II - a decisão de recursos administrativos;
apenas nas hipóteses taxativamente previstas
III - as matérias de competência exclusiva do órgão pela Lei.
ou autoridade.

OBSERVAÇÃO 🔸2 a
corrente: É possível, em regra, a
modificação de competência não privativas,
● A competência privativa PODE ser delegada.
salvo expressa vedação legal. A delegação e a
● A competência exclusiva NÃO PODE ser
avocação de competências NÃO PRIVATIVAS
delegada.
decorrem do escalonamento hierárquico e
por isso é possível.
6.1.2.2. AVOCAÇÃO Como Rafael Rezende (2021, p. 306) pontua,
É o chamamento, pela autoridade superior, “delegação de competências não privativas
das atribuições inicialmente outorgadas pela lei ao deve ser considerada a regra. Ao revés, o
agente subordinado. ordenamento jurídico veda, em princípio, a
delegação de competências privativamente
atribuídas ao agente público”.
🔴 CARACTERÍSTICAS 11

Exceção: Art. 84, parágrafo único, CF: permite


► Deve haver subordinação (só se pode
a delegação de algumas atribuições do
avocar de agente de hierarquia inferior);
Presidente da República para os Ministros de
► É temporário e precário; Estado, assim como para o Advogado Geral da
► Não se admite a avocação genérica de União e para o Procurador Geral da República.
competências;

► Principal objetivo: evitar decisões 6.1.3. VÍCIOS DA COMPETÊNCIA


contraditórias dentro da atuação administrativa;
🔴 EXCESSO DE PODER / ABUSO DE
► Não é possível a avocação de PODER: Ocorre quando o agente não tem
competências nas hipóteses em que a legislação competência ou vai além de suas atribuições.
proíbe a delegação

🔴 FUNÇÃO / AGENTE / FUNCIONÁRIO DE


Art. 15, Lei 9784/99. Será permitida, em caráter FATO / AGENTE PUTATIVO: É aquele irregularmente
excepcional e por motivos relevantes investido na função. O ato praticado nasce viciado,
devidamente justificados, a avocação mas será mantido para terceiro de boa-fé, aplicando a
temporária de competência atribuída a órgão teoria da aparência.
hierarquicamente inferior. O STF, na ADI 5109, ao julgar a
inconstitucionalidade de uma lei estadual, modulou
os efeitos da decisão para “declarar a validade dos
Há necessidade de lei para autorizar a
atos praticados (ex: contestações, recursos etc.)

11
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed. Rio
de Janeiro: Método, 2021, p. 305.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 8
até a data do julgamento, com base na teoria do pode ocorrer a contrariedade à finalidade
funcionário de fato”. específica do ato sem que se declare a sua
invalidade, desde que seja observado o

🔴 USURPAÇÃO DE FUNÇÃO: É um crime


interesse público primário (interesse da
coletividade). Trata-se da desapropriação,
(art. 328, CP) no qual o usurpador é um indivíduo que
em que, depois de realizada a
não foi investido em cargo, emprego ou função
transferência da propriedade para o
pública12. O agente se apropria da função. A doutrina
domínio público, altera-se a destinação
considera que o ato praticado pelo usurpador foi
inicial específica do ato, denominada
inexistente.
TREDESTINAÇÃO LÍCITA.
Nesses casos, não se aplica a teoria da
aparência, pois o ato é INEXISTENTE.
6.3.FORMA
Assim, não é possível a convalidação de tal
ato. É como o ato administrativo se exterioriza. A
ausência de forma importa a inexistência do ato
administrativo. Ou seja, sem forma não pode haver o
6.2. FINALIDADE
ato.
Trata-se do objetivo de interesse público
Conforme Rafael Oliveira (2021, p. 308), a
buscado com a edição do ato administrativo,
doutrina aponta dois sentidos básicos para a forma:
chamado de “fim mediato” ou “fim maior”, pois o
OBJETO do ato é o fim imediato. Em razão do
🔸 SENTIDO RESTRITO: A forma é o meio pelo
qual o ato administrativo é instrumentalizado
interesse público, a finalidade é um elemento
(ex.: os atos administrativos, em regra, devem
vinculado do ato.
ser editados sob a forma escrita).
A doutrina aponta que para o ato ser válido,
é necessária a conjugação de finalidade genérica
🔸 SENTIDO AMPLO: forma engloba o
revestimento do ato e as formalidades que
(interesse público) com finalidade específica
devem ser cumpridas para sua elaboração
(finalidade estabelecida em lei). Assim, para que o ato
(ex.: necessidade de oitiva de dois ou mais
seja válido, é necessário que observe as duas
órgãos para elaboração do ato
finalidades. Exemplo: Uma remoção utilizada para
administrativo).
efeitos de punição se desvia do fim específico.
Assim, como regra, temos que o ato
Maria Sylvia Di Pietro (2020, NP) traz ainda
administrativo será praticado na forma escrita. Mas,
dois sentidos diferentes para a finalidade:
não sendo possível a escrita, teremos outras formas,
🔸 SENTIDO AMPLO: O ato administrativo
a exemplo de gestos, sons, placas etc.
tem que ter finalidade pública;

🔸 SENTIDO RESTRITO: A finalidade do ato


É possível no Brasil contrato administrativo
administrativo é sempre a que decorre
verbal?
explícita ou implicitamente da lei.
Verdadeiro (a regra é escrita). A exceção se
Exceção: A doutrina e a jurisprudência
encontra na hipótese de pagamento e recebimento
entendem que existe uma hipótese em que
na hora (PRONTA ENTREGA e Pronto PAGAMENTO),

12
até o limite de R$10.000,00. Art. 95 §2º, Lei
ALEXANDRINO, Marcelo. VICENTE, Paulo. Direito
Administrativo Descomplicado. 29 Ed. Rio de Janeiro: Forense; 14.133/2021.
METODO, 2021. Pág. 484.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 9
validade do ato, caso em que será nulo se não
observada a forma legalmente exigida13.
§ 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal
com a Administração, salvo o de pequenas
compras ou o de prestação de serviços de pronto 6.3.1. PRINCÍPIO DA SOLENIDADE DAS FORMAS

pagamento, assim entendidos aqueles de valor Segundo Rafael Oliveira (2021, p. 309), no
não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Direito Administrativo vigora o princípio da solenidade
das formas, no qual se exige do agente público a
edição de atos escritos e a observância das
A forma do ato administrativo deve estar
formalidades previstas em lei.
prevista em lei. A doutrina prevê que o ato
Excepcionalmente, sob a justificativa do
administrativo deve:
princípio da razoabilidade, os atos administrativos
A. Ser uma exteriorização da vontade (para
podem ser editados sob forma não escrita, é o que
Celso Antônio é elemento do ato
ocorre com a edição de atos por meio de sinais, por
administrativo);
exemplo.
B. Devem preencher formalidades específicas
(para Celso Antônio é pressuposto de
6.3.2. PRINCÍPIO DA SIMETRIA DAS FORMAS
validade);
Havendo necessidade de alteração ou
C. Em regra, ser escrito, mas a lei pode autorizar
revogação de um ato administrativo, por razões de
outra forma. Ex.: contrato verbal no caso de
conveniência ou oportunidade, se deve observar o
pronta entrega e pagamento imediato, até
princípio da simetria das formas. Ou seja, a forma
10.000,00 – art. 95, parágrafo segundo, Lei
utilizada para edição do ato deve ser a mesma para
14.133/2021; gestos do guarda de trânsito;
sua edição ou revogação14.
D. Obedecer ao princípio da solenidade de
formas;
6.3.3. FORMALIDADES ESSENCIAIS X
E. Ser praticado em um procedimento
FORMALIDADES ACIDENTAIS
administrativo prévio, respeitando o
contraditório e a ampla defesa - o ato 🔴 FORMALIDADES ESSENCIAIS:

administrativo é resultado de um processo, Determinantes para a produção de efeitos válidos do

assim como a sentença na via administrativa. ato, sob pena de NULIDADE do ato. Exemplos: ampla
defesa e contraditório, motivação no ato de demissão.

Se houver algum vício de forma é possível


que haja convalidação deste ato? 🔴 FORMALIDADES ACIDENTAIS: Não
impedem o resultado final que o agente público
Em regra, o vício de forma é passível de
busca. Assim, é passível de CONVALIDAÇÃO. Exemplo:
convalidação, podendo ser corrigido, porém a
ausência de assinatura ou da data no ato.
convalidação não será possível quando a lei
estabelecer determinada forma como essencial à

13
ALEXANDRINO, Marcelo. VICENTE, Paulo. Direito
Administrativo Descomplicado. 29 Ed. Rio de Janeiro: Forense;
Método, 2021. Pág. 487
14
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed.
Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 309.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 10
Conforme o Rafael Oliveira (2021, p. 310), 6.4.1. CLASSIFICAÇÃO
“as formalidades que não guardam relação direta com 🔴 MOTIVO DE FATO (situação de fato)15:
os direitos dos particulares, inexistindo prejuízo nas A lei elenca diversos motivos que podem justificar a
hipóteses de eventuais irregularidades por parte dos edição de determinado ato e o agente público, no
agentes públicos, devem ser consideradas acidentais, caso concreto, elegerá o motivo mais conveniente
tendo em vista o princípio do formalismo moderado” e oportuno para a prática do ato. A escolha é do
(Grifo nosso). administrador. O ato é discricionário.

6.4. MOTIVO 🔴 MOTIVO DE DIREITO (situação de


É a situação de fato e de direito (a lei indica direito): A lei menciona os motivos que, existentes
o motivo) que autoriza a prática do ato. É a causa do no caso concreto, acarretará, necessariamente, a
ato. Segundo a maioria da doutrina, a motivação é edição do ato administrativo. A escolha é efetivada
obrigatória, porém para José dos Santos Carvalho pelo legislador. O ato é vinculado.
Filho, ela é facultativa. A motivação tem que ser
concomitante ou anterior ao ato. A motivação
Para que o motivo do ato seja legal,
posterior não supre a exigência de motivação.
exige-se:
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, a
1) Materialidade do motivo: o ato tem que ser
motivação integra a “formalização” do ato, sendo um
verdadeiro (a declaração de motivo falso leva
requisito formalístico. É a exposição dos motivos, a
à ilegalidade do ato e que vai comprometer o
fundamentação na qual é enunciada a regra, os fatos
ato administrativo);
em que o agente se estriba para decidir e a
2) Motivo declarado tem que ser compatível
enunciação da relação de pertinência lógica entre os
com o motivo previsto na lei (ex.: usar a
fatos ocorridos e o ato praticado.
remoção para punir, enquanto a lei prevê a
O STF tem entendimento no sentido de que
remoção por necessidade do serviço);
a motivação, em regra, é obrigatória, ressalvada a
3) Compatibilidade entre o motivo declarado
exoneração ad nutumm, mas se ele motivar tem que
e o resultado do ato (ex.: concessão de porte
cumprir o motivo. Segundo já decidiu o STJ, não é
de arma para “A”, “B” e “C”, um tempo depois
lícito ao administrador adotar, à guisa de motivo do
“A” briga e utiliza a arma, por isso a
ato, fundamentos genéricos e indefinidos, como, por
administração retira dele o porte de arma em
exemplo, “interesse público”, “critério administrativo”
razão da briga – a retirada do porte foi
etc.
resultado).

NÃO CONFUNDA
6.4.2. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES
🔴 MOTIVAÇÃO: É a justificação, é a
A validade do ato administrativo depende da
apresentação dos motivos.
correspondência entre os motivos nele expostos e a
🔴 MÓVEL: É a intenção do agente
existência concreta dos fatos que ensejaram a sua
(elemento psíquico) quando pratica o ato. A depender
edição (OLIVEIRA, 2021, p. 313). Assim, quando o ato
da situação, pode anular o ato também.
for motivado, só será válido se os motivos

15
OLIVEIRA (2020), p. 492
ATOS ADMINISTRATIVOS - 11
apresentados forem verdadeiros. Se a motivação for àquela motivação. (STJ, AgInt no RMS
falsa, o ato passará a ser ILEGAL. No caso do motivo ter 62372 / CE AGRAVO INTERNO NO
sido SECUNDÁRIO, nesse caso e só nesse caso RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA
específico, não comprometerá o ato como um todo. 2019/0352346-0, DJe 24/09/2020)
É uma teoria de grande relevância,
especialmente no que tange ao controle operado pelo
Rafael Oliveira lembra que, mesmo naquelas
poder judiciário.
situações excepcionais em que a lei não exige a
motivação (exteriorização dos motivos), caso o agente
"A motivação do ato administrativo deve exponha os motivos do ato, a validade da medida
ser explícita, clara e congruente, dependerá da citada correspondência com a
vinculando o agir do administrador realidade (2021, p. 313). Neste sentido, o STJ já
público e conferindo o atributo de afirmou que:
validade ao ato. Viciada a motivação,
inválido resultará o ato, por força da
Ao motivar o ato administrativo, a
teoria dos motivos determinantes.
Administração ficou vinculada aos
Inteligência do art. 50, § 1.º, da Lei n.
motivos ali expostos, para todos os
9.784/1999" (STJ, RMS 59.024/SC, Rel.
efeitos jurídicos. Tem aí aplicação a
Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe
denominada teoria dos motivos
08/09/2020).
determinantes, que preconiza a
(...) vinculação da Administração aos
II - É sabido que os atos administrativos motivos ou pressupostos que serviram
têm como parte de seus elementos o de fundamento ao ato. A motivação é
motivo e a finalidade, além da forma, que é legitima e confere validade ao ato
competência e objeto. administrativo discricionário (RMS
10165/DF – 2002).
III - O motivo do ato administrativo não
se confunde com a sua motivação, que é
a manifestação escrita das razões que 6.4.3. MOTIVAÇÃO ALIUNDE OU ALHEIA
dão ensejo ao ato, exigida quando a lei
É a motivação que remete a outro ato. Ex:
expressamente determina, mormente
utilização no ato dos motivos apresentados em outro
nos atos vinculados.
ato (parecer, por exemplo) solicitado para o caso.
IV - O ato administrativo, ainda quando Neste caso o parecer passa a integrar o novo ato.
haja margem de decisões opcionais pelo
administrador (discricionariedade),
sempre terá um motivo, podendo, Artigo 50, § 1o, Lei 9784/99. A motivação deve ser
neste último caso, não ser expresso. explícita, clara e congruente, podendo consistir
em declaração de concordância com
V - A teoria dos motivos
fundamentos de anteriores pareceres,
determinantes estabelece que, em
informações, decisões ou propostas, que, neste
havendo motivação escrita, ainda que
caso, serão parte integrante do ato.
a lei não determine, passa o
administrador a estar vinculado

ATOS ADMINISTRATIVOS - 12
6.4.4. TREDESTINAÇÃO deixar espaço para análises subjetivas por parte do

Mudança de motivo autorizada em lei, agente público. É vinculado.

desde que mantida uma razão de interesse público –


exceção à teoria dos motivos determinantes. É a NÃO CONFUNDA
mudança do motivo, desde que mantida uma razão
🔹 FINALIDADE: É o efeito MEDIATO do ato.
de interesse público.
🔹 OBJETO: Efeito IMEDIATO. Exemplo: Na
desapropriação, o objeto é a perda da
​6.5. OBJETO propriedade.
É aquilo que o ato produz de forma
imediata. É o efeito prático ou jurídico do ato. É o
ATENÇÃO
conteúdo do ato.
De acordo com José dos Santos Carvalho
Conforme Fernanda Marinela,
Filho, é possível que o ato administrativo tenha mais
corresponde ao efeito jurídico imediato do ato, ou
de um objeto, situação na qual o objeto será
seja, o resultado prático causado em uma esfera de
“plúrimo”.
direitos. Representa uma consequência para o mundo
fático em que vivemos e, em decorrência dele, nasce,
extingue-se, transforma-se um determinado direito. 7. ELEMENTOS E PRESSUPOSTOS DE CELSO
Ex: dissolvo, concedo, defiro, anulo; licença para ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO

construir – quando o poder público diz “defiro a licença”,


esse é o objeto do ato; “nomeio Fulano para o cargo” etc. 7.1. ELEMENTOS E PRESSUPOSTOS DE CELSO
O objeto deve ser lícito, possível, ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
determinado e moral (de acordo com os padrões Para Celso Antônio Bandeira de Mello, os
éticos). elementos são intrínsecos ao ato administrativo,
ou seja, são partes componentes da conduta, não se
confundindo com os pressupostos que são
E quanto ao vício do objeto?
extrínsecos ao ato, ainda que necessários à sua
O vício de objeto é insanável acarretando
edição de forma regular. Os pressupostos podem ser
nulidade do ato.
ainda necessários à existência do ato ou à sua
validade17.
6.5.1. CLASSIFICAÇÃO

🔴 OBJETO INDETERMINADO 7.1.1. ELEMENTOS


(discricionário) : Lei não define de maneira
🔹 CONTEÚDO (resultado): Corresponde à
16

exaustiva o objeto do ato administrativo, conferindo


disposição do ato.
margem de liberdade ao administrador para delimitar
o conteúdo do ato. É discricionário.
🔹 FORMA: Exteriorização da vontade do ato
administrativo praticado.
🔴 OBJETO DETERMINADO (vinculado): A
lei delimita o conteúdo do ato administrativo sem

16 17
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed. CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 5. ed.
Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 315. - Salvador: JusPODIVM, 2018. p.289.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 13
ATENÇÃO: A ausência de um dos elementos significa
a ausência do próprio ato. São elementos discricionários:

🔸 Motivo;
7.1.2. PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA 🔸 Objeto.
🔹 OBJETO: Coisa ou relação jurídica sobre o
qual recai o ato.
8.1. ATO DISCRICIONÁRIO
A ausência do objeto impede a existência do
É aquele ato em que há espaço para fazer
ato administrativo, por impossibilidade fática no que
um juízo de conveniência e oportunidade. A
tange à sua produção de efeitos18.
autoridade terá, pela lei, uma margem de liberdade
para escolher o que é mais conveniente e oportuno
🔹 PERTINÊNCIA DA FUNÇÃO para aquela situação.
ADMINISTRATIVA: O ato deve ser praticado no
exercício da função administrativa. Conteúdo de
ATENÇÃO
direito administrativo.
No ato discricionário temos o chamado
MÉRITO ADMINISTRATIVO, que está relacionado com
7.1.3. PRESSUPOSTOS DE VALIDADE as questões de conveniência e oportunidade do
🔹 SUJEITO COMPETENTE (pressuposto ato. Como afirma Fernanda Marinela, os atos
subjetivo) discricionários são aqueles em que a lei prevê mais de

🔹 MOTIVO (pressuposto objetivo um comportamento possível a ser adotado pelo

🔹 REQUISITOS PROCEDIMENTAIS:
administrador em um caso concreto. Portanto, há
margem de liberdade para que ele possa atuar com
Observância de determinados procedimentos em
base em um juízo de conveniência e oportunidade,
alguns atos. Exemplo: licitação e concurso
porém, sempre dentro dos limites da lei.
[ato-condição].

🔹 FINALIDADE PÚBLICA (pressuposto


teleológico) Se meu ato é vinculado, ele terá elementos

🔹 CAUSA (correlação entre motivo e


vinculados. Se meu ato é discricionário, teremos
elementos discricionários (motivo e objeto) e
conteúdo)
vinculados (competência, forma e finalidade).
🔹 FORMALIZAÇÃO (ou formalidades)
8.1.1 ELEMENTOS VINCULADOS DOS ATOS
8. DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO DISCRICIONÁRIOS

Sujeito competente, forma e finalidade.


São elementos vinculados: Esses elementos estão definidos em lei e, em regra, o

🔸 Competência; administrador não pode modificá-los, não tendo

🔸 Finalidade; opção de escolha. Todavia, nesses atos, o motivo e o


objeto são, em regra, discricionários. É na análise
🔸 Forma desses elementos que o administrador deve avaliar a
conveniência e a oportunidade, realizando um juízo
18
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 5. de valor, sem desrespeitar os limites previstos pela lei.
ed. - Salvador: JusPODIVM, 2018. p.28.0
ATOS ADMINISTRATIVOS - 14
Exceção: “esses dois elementos (motivo e discricionariedade: novas reflexões sobre os limites e
objeto), quando forem regulamentados de forma controle da discricionariedade. 4. ed. Rio de Janeiro:
objetiva pela lei, sem deixar margem de escolha ao Forense, 2001. p. 15) e com Andreas J. Krell
administrador, serão vinculados e o ato emanado terá (Discricionariedade administrativa e proteção
natureza de vinculado (…) Dessa forma, admite-se o ambiental: o controle dos conceitos jurídicos
controle judicial incidente, (…) desde que a análise indeterminados e a competência dos órgãos
do Poder Judiciário se limite às regras legais ambientais: um estudo comparativo. Porto Alegre:
impostas ao agente, como parâmetros a serem Livraria do Advogado, 2004. p. 22-23). Segundo o
observados em relação a estes elementos.”19 autor:

8.1.2. SURGIMENTO DA DISCRICIONARIEDADE Entendemos que a tradicional dicotomia

● A lei apresenta opções a serem discricionariedade (atos discricionários) x

adotadas, possibilitando ao administrador a escolha vinculação (atos vinculados) deve ser

da mais adequada; adaptada à realidade, especialmente a


partir do fenômeno da
● A lei permite escolha do melhor
constitucionalização do Direito
momento para a prática do ato;
Administrativo. Por um lado, a atividade
● A lei é clara ao determinar que o
administrativa totalmente livre e fora do
conteúdo do ato a ser praticado será definido por
alcance do controle judicial seria
juízo de conveniência e oportunidade do
sinônimo de arbitrariedade. Por outro
administrador;
lado, não se pode conceber que a
● A Lei utiliza conceitos jurídicos atuação do administrador seja
indeterminados. exclusivamente vinculada e mecanizada,
Para Di Pietro, a discricionariedade também pois sempre existirá alguma margem
decorre da AUSÊNCIA DE LEI. interpretativa da norma jurídica.

Portanto, a diferença fundamental


entre os denominados atos
8.2. ATO VINCULADO
administrativos “vinculados” e
É o ato em que a autoridade não tem
“discricionários” deve ser traçada a
nenhuma margem de liberdade. No ato vinculado, a
partir de um critério quantitativo, e
lei já determina todos os elementos.
não qualitativo, na medida em que, em
verdade, o que vai variar é a intensidade
OBSERVAÇÕES do grau de liberdade conferido pelo

A constitucionalização do Direito legislador ao administrador (Grifo nosso).

Administrativo teve impacto na forma como a


doutrina atual enxerga os fenômenos da FORMA: Alguns autores entendem que a
discricionariedade e vinculação. Interessante lição é forma é um elemento que pode ser discricionário. Di
trazida pelo professor Rafael Oliveira (2021, p. Pietro cita como exemplo o art. 22 da Lei 9.784/99 (Lei
315-316), que dialoga com os ensinamentos de Diogo do processo administrativo federal).
de Figueiredo Moreira Neto (Legitimidade e

19
CARVALHO (2018) p. 278.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 15
têm imperatividade (exemplos: certidão, atestado,
Art. 22. Os atos do processo administrativo
parecer).
não dependem de forma determinada senão
quando a lei expressamente a exigir.
🔴 Autoexecutoriedade: é a execução
direta do ato administrativo pela Administração
9. ATRIBUTOS / PRESSUPOSTOS / Pública, sem necessidade de ordem prévia do
PRERROGATIVAS DOS ATOS
Poder Judiciário.

Nem todo ato goza da autoexecutoriedade.


Segundo Alexandrino (2021, p. 499),
Exceções: cobrança de multas, cobrança de
atributos dos atos administrativos “são qualidades ou
tributos, desapropriação, servidão administrativa,
características dos atos administrativos”.
interceptação telefônica

9.1. HELY LOPES MEIRELLES


9.2. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
O ato nasce com três atributos: presunção
(de legitimidade e veracidade), imperatividade e Celso Antônio utiliza a teoria de Hely Lopes

autoexecutoriedade. Meirelles, mas acrescenta dois outros atributos:


exigibilidade e executoriedade. ►
Presunção de legitimidade: é a presunção
de que o ato nasceu e está de acordo com a lei. Já a Sendo assim a autoexecutoriedade se divide

presunção de veracidade é a presunção relativa aos em:

fatos, presunção de que os fatos apresentados são ► Exigibilidade: Onde todo ato
verdadeiros, de que eles realmente aconteceram. administrativo tem. Decidir sem o poder judiciário. É

Todo ato nasce com a presunção de que é meio de coerção indireto. Estamos decidindo sem o

legítimo, não há exceção. A presunção de legitimidade Poder Judiciário. Significa o poder que tem a

e de veracidade é o atributo que permite a imediata administração de decidir sem o Poder Judiciário.

operatividade de um ato. TODO ATO ADMINISTRATIVO TEM.

► Executoriedade: Executar sem o poder


judiciário, só pode acontecer se prevista em lei e em
OBSERVAÇÕES
situação urgente. Meio de coerção direto. Significa o
🔴 A presunção é relativa ou juris tantum, poder de executar sem o poder Judiciário – nem todo
pois admite prova em contrário, mas transfere para o
ato administrativo tem executoriedade, só terá
particular o ônus de fazer a prova (decorrência da
quando estiver previsto em lei ou quando houver
presunção de veracidade).
urgência (enchente, tumulto etc.). Ex.: sanção
A presunção de legitimidade decorre do pecuniária não tem executoriedade. NEM TODO ATO
princípio da legalidade. ADMINISTRATIVO TEM.

🔴 Imperatividade/ coercibilidade: é a CUIDADO: Todo ato administrativo tem exigibilidade,


imposição do ato ao particular independentemente mas não executoriedade.
da sua concordância.

Exceção: nem todo ato nascerá com a


imperatividade. Atos negociais e enunciativos não

ATOS ADMINISTRATIVOS - 16
Hipóteses em que existe a Imperatividade significa coercitividade ou
autoexecutoriedade: poder extroverso, obrigatoriedade, nem todo ato

🔴 Quando houver expressa previsão tem imperatividade, mesmo sendo a regra. São

legal (princípio da legalidade) praticados de forma impositiva.

🔴 Quando as circunstâncias exigem: A lei


não é capaz de descrever todas as situações OBSERVAÇÃO
enfrentadas pela Administração, assim, quando a O que é "poder extroverso"?20 Poder que o
Administração se depara com situações não previstas Estado tem de constituir, unilateralmente, obrigações
em lei, terá que tomar uma decisão, porque o para terceiros, com extravasamento dos seus
interesse público exige. Nesses casos, entende-se que próprios limites. São serviços em que se exerce o
a autorização legal para agir é implícita em razão do poder extroverso do Estado - o poder de
interesse público. Exemplo: pandemia da COVID-19. O regulamentar, fiscalizar, fomentar.
Estado restringe direitos individuais em benefício do
interesse público.
Segundo Maria Sylvia (2020. p.471),
A Imperatividade é a imposição do ato ao
Imperatividade é o atributo pelo qual os atos
particular, mas Celso Antônio alerta que a
administrativos se impõem a terceiros,
imperatividade não garante que o particular
independentemente de sua concordância. Decorre
execute a ordem enunciada no ato. Assim, para
da prerrogativa que tem o Poder Público de, por meio
garantir que o ato será praticado, a exigibilidade é
de atos unilaterais, impor obrigações a terceiros; é o
um complemento em relação à imperatividade,
que Renato Alessi chama de “poder extroverso”, “que
que utiliza meios indiretos de coerção. Como
permite ao Poder Público editar atos que vão além da
exemplo, podemos citar a multa.
esfera jurídica do sujeito emitente, ou seja, que
Celso Antônio B. de Mello, a partir da doutrina interferem na esfera jurídica de outras pessoas,
do processo civil, classifica os atos administrativos constituindo-as, unilateralmente, em obrigações”
em: (apud Celso Antônio Bandeira de Mello, 2004:383).
🔴 Ampliativos – são aqueles que criam Não existe em todos os atos administrativos,
direito. Exemplos: concessão de CNH – cria para o mas apenas naqueles que impõem obrigações;
interessado o direito de dirigir; autorização para quando se trata de ato que confere direitos
portar arma de fogo; licença para construir; etc. São solicitados pelo administrado (como na licença,
desprovidos de imperatividade. autorização, permissão, admissão) ou de ato apenas
🔴 Restritivos - são aqueles que impõem enunciativo (certidão, atestado, parecer), esse
uma obrigação: Exemplos: multa, suspensão, atributo inexiste. (Di Pietro, 2020).
cassação da CNH, tombamento, requisição
administrativa etc. São providos de imperatividade.
OBSERVAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIALÓGICA:


9.3. MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO Segundo o Prof. Alvaro Veras21, é um modelo de
Maria Sylvia entende que o ato nasce com
presunção de legitimidade e veracidade, 20

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/91227/o-que-e-poder-extroverso-
imperatividade, autoexecutoriedade. Ela ariane-fucci-wady
21
acrescenta, também, o atributo da tipicidade. https://projetoquestoescritaseorais.com/direito-administrativo/admin
istracao-dialogica/
ATOS ADMINISTRATIVOS - 17
atuação estatal em que há uma maior aproximação Não existe em todos os atos administrativos,
entre a Administração e os particulares, existindo somente sendo possível nos seguintes casos23:
uma verdadeira participação desses últimos tanto na ► Quando expressamente prevista em lei;
defesa de interesses próprios como interesses
► Quando se trata de medida urgente que,
metaindividuais, prestigiando princípios como o da
caso não adotada de imediato, possa ocasionar
segurança jurídica e da confiança legítima.
prejuízo maior para o interesse público.
A partir do conceito de Administração
Pública Dialógica, percebe-se que há uma mitigação
do atributo da imperatividade, em razão do diálogo 10. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
24
entre Administração e administrado (princípio da
consensualidade). Assim, ao invés de imposição dos
atos, abrem-se portas para tomada de decisões 10.1. QUANTO AOS DESTINATÁRIOS

consensuais. 🔴 ATOS GERAIS: Não possuem destinatário


determinado, mas alcançam todos que estão em
idêntica situação, ou seja, atinge a coletividade como
Tipicidade é a necessidade de o ato
um todo. Prevalecem sobre os atos individuais
atender apenas ao seu fim legal, sendo uma
anteriormente expedidos, ainda que provindos da
proteção para o particular. Para Maria Sylvia22,
mesma autoridade. São os atos normativos
“Tipicidade é o atributo pelo qual o ato administrativo
praticados pela Administração aplicáveis erga omnes
deve corresponder a figuras definidas previamente
e são considerados abstratos e impessoais.
pela lei como aptas a produzir determinados
resultados. Para cada finalidade que a Administração
pretende alcançar, existe um ato definido em lei". 🔴 ATOS INDIVIDUAIS ou ESPECIAIS:

Decorre do princípio da legalidade, que Possuem destinatários certos. Dirigem-se a

afasta a possibilidade de a Administração praticar destinatários específicos, criando-lhes situação

atos inominados (Di Pietro, 2020). jurídica particular. O mesmo ato pode abranger um
(singular) ou vários sujeitos (plúrimo), desde que
Só existe nos atos unilaterais, pois, como
sejam individualizados.
assevera Maria Sylvia, nos contratos não há imposição
de vontade da Administração, pois depende sempre
da aceitação do particular. 10.2. QUANTO AO ALCANCE

O ato administrativo corresponde a uma 🔴 ATOS INTERNOS: São atos destinados a


descrição legal, cujos efeitos estão tipificados na lei. produzir efeitos, como regra, dentro das repartições
administrativas, e que, por isso mesmo, incidem,
normalmente, sobre os órgãos e agentes da
Por fim, a Autoexecutoriedade consiste no
Administração que os expediram.
atributo pelo qual o ato administrativo pode ser posto
em execução pela própria Administração Pública, sem
necessidade de intervenção do Poder Judiciário. (Di 🔴 ATOS EXTERNOS: Destinados a produzir
Pietro, 2020). efeitos, como regra, fora da Administração. São todos
aqueles que alcançam os administrados, os

23
DI PIETRO,Maria Sylvia Zanella - Direito Administrativo. ed.2020
24
22
DI PIETRO,Maria Sylvia Zanella - Direito Administrativo.São Gustavo Scatolino e João Trindade (Manual Didático de Direito
Paulo,Atlas,21 ed.2008 Administrativo, 2020)
ATOS ADMINISTRATIVOS - 18
contratantes e, em certos casos, os próprios de sua realização. Nessa categoria de atos, as
servidores, provendo sobre seus direitos, obrigações, imposições legais absorvem, quase que por completo,
negócios ou conduta perante a Administração Pública. a liberdade do administrador, uma vez que sua ação
fica adstrita aos pressupostos estabelecidos pela
norma legal para a validade da atividade
10.3. QUANTO AO OBJETO ou PRERROGATIVAS
administrativa.
🔴 ATOS DE IMPÉRIO: são aqueles que a
Administração impõe coercitivamente aos
administrados. A Administração pratica usando de 🔴 ATOS DISCRICIONÁRIOS: São aqueles

sua supremacia sobre o administrado ou o servidor e em que a lei permite ao agente público realizar um

lhes impõe obrigatório atendimento. Expressam a juízo de conveniência e oportunidade (mérito) para

vontade soberana do Estado e seu poder de coerção. decidir a solução mais adequada ao caso concreto.

Na prática de atos de império, a Administração utiliza


toda a sua supremacia em relação ao administrado, 10.5. QUANTO À FORMAÇÃO / NÚMERO DE
impondo medidas que geram o dever de pronto VONTADES26
atendimento, como, por exemplo, desapropriação,
🔴 ATO SIMPLES: para existir, depende da
interdição de atividades, multa, apreensão de
manifestação de um único órgão.
mercadorias.

🔴 ATO COMPOSTO: depende da


🔴 ATOS DE GESTÃO: São os que a
manifestação de vontade de mais de um órgão, onde
Administração pratica sem usar de sua supremacia
é possível identificar a existência de uma vontade
sobre os administrados. São atos típicos de
principal e outra meramente acessória. Existe um ato
administração, assemelhando-se aos atos praticados
principal e outro(s) ato(s) acessório(s) que apenas
pelas pessoas privadas. São exemplos de gestão a
confirma(m), aprova(m), ratifica(m) o ato principal. Na
alienação ou aquisição de bens pela Administração, o
verdade, são dois atos: principal e acessório.
aluguel de imóvel de propriedade de uma autarquia25.

ATENÇÃO: O professor Gustavo Scatolino faz o


🔴 ATOS DE EXPEDIENTE: São todos
seguinte alerta:
aqueles que se destinam a dar andamento aos
A autora Maria Sylvia Di Pietro entende
processos e papéis que tramitam pelas repartições
que um exemplo de ato composto é a
públicas, preparando-os para a decisão de mérito
nomeação do procurador-geral da
final, a ser proferida pela autoridade competente. Não
República, pois há o ato do presidente,
possuem conteúdo decisório.
que indica a pessoa para ser o PGR, e
esse ato dependerá de aprovação do
10.4. QUANTO AO REGRAMENTO OU VINCULAÇÃO Senado Federal. No entanto, o autor José
OU GRAU DE LIBERDADE dos Santos Carvalho Filho entende como
🔴 ATOS VINCULADOS: São aqueles para exemplo de ato complexo a investidura
os quais a lei estabelece os requisitos e as condições de ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF), que tem o mesmo procedimento
25

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2041685/o-que-sao-atos-de-imp
26
erio-de-gestao-e-de-expediente-no-direito-administrativo-marcelo-al Torres, Ronny Charles Lopes de. Neto, Fernando Ferreira Baltar.
onso Direito Administrativo. Coleção sinopses para concursos. 10Ed.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 19
do PGR – indicação do presidente e pensão. Manutenção da jurisprudência
aprovação do Senado. Ele entende que quanto a este ponto. 3. Princípios da
essa aprovação do Senado, na verdade, segurança jurídica e da confiança
tem o mesmo nível do ato principal. Não legítima. Necessidade da estabilização
é um ato meramente acessório. das relações jurídicas. Fixação do prazo
de 5 anos para que o TCU proceda ao
registro dos atos de concessão inicial de
Em provas do CESPE, quando uma questão
aposentadoria, reforma ou pensão, após
perguntar sobre qualquer ato que tem a indicação do
o qual se considerarão definitivamente
presidente da República e aprovação do Senado, a
registrados. 4. Termo inicial do prazo.
tendência é que seja ato complexo, se não citar os
Chegada do processo ao Tribunal de
exemplos dos autores. No entanto, se citar o exemplo
Contas.” (STF, RE 636553)
da autora Maria Sylvia Di Pietro, é preciso seguir o
entendimento dela.
ATENÇÃO

🔴 ATO COMPLEXO: São os atos que, para O STJ já decidiu que um ato complexo não

existirem, dependem da manifestação de vontade de se revoga por uma só autoridade. Se o ato dependeu

mais de um órgão. Ressalte-se que, apesar de mais de várias vontades para ser formado, para ser

de um órgão expressar sua vontade, na verdade, revogado também é preciso haver a junção das várias

um único ato será produzido. vontades.

O processo de outorga dos serviços de 10.6. QUANTO À EFICÁCIA27

radiodifusão é ato complexo formado 🔴 VÁLIDO: É o ato que está em


pela conjunção de atos independentes conformidade com a lei, preenche todos os requisitos
do Presidente da República - agindo jurídicos.
como seu mandatário o Ministro de
Estado das Comunicações - e do
🔴 NULO: é o ato que embora reúna os
Congresso Nacional, dispondo o § 3º do
elementos necessários a sua existência, foi praticado
art. 223 da Constituição Federal que "o
com violação da lei, a ordem pública, bons costumes
ato de outorga ou renovação somente
ou com inobservância da forma legal. O ato nulo
produzirá efeitos legais após deliberação
precisa de decisão judicial para a retirada da sua
do Congresso Nacional". (STF, MS n.
eficácia.
16.099/DF, relatora Eliana Calmon,
Primeira Seção, DJe de 2/10/2013.)
🔴 ANULÁVEL: apresenta defeitos sanáveis,
passível de convalidação, desde que não seja lesivo ao
Aposentadoria. Ato complexo.
interesse público, nem cause prejuízo a terceiros.
Necessária a conjugação das vontades
do órgão de origem e do Tribunal de
Contas. Inaplicabilidade do art. 54 da Lei
27
9.784/1999 antes da perfectibilização do
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/34654/ato-nulo-anulavel-invalido-
ato de aposentadoria, reforma ou e-inexistente e
https://www.esquematizarconcursos.com.br/artigo/ato-valido-nulo-a
nulavel-e-inexistente
ATOS ADMINISTRATIVOS - 20
🔴 INEXISTENTE: é aquele que não reúne os
elementos necessários à sua formação. Ele não 10.8. ATOS DE EFEITOS REFLEXOS OU
produz qualquer consequência jurídica. Embora dos PRODRÔMICOS (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE
atos inexistentes não decorra nenhum efeito, MELLO)
eventuais terceiros de boa-fé podem vir a ser
🔴 ATOS DE EFEITOS REFLEXOS: São os
indenizados pelo Estado em razão de que este deveria
efeitos atípicos que atingem a órbita de direito de
ter cumprido o seu dever de vigilância e não
terceira pessoa, alcançam terceiros não objetivados
permitido que alguém usurpasse função pública.
pelo ato. Alcançam terceiros, pessoas que não fazem
parte da relação jurídica travada entre a
10.7. QUANTO À ELABORAÇÃO OU EXEQUIBILIDADE administração e o sujeito passivo do ato . 29

🔴 PERFEITO: A perfeição ou existência do


ato administrativo decorre do cumprimento das 🔴 ATOS DE EFEITOS PRODRÔMICOS: São
etapas necessárias à formação do ato. O ato os efeitos preliminares, que ocorrem antes da
administrativo é perfeito quando cumpre todos os conclusão do ato administrativo. Ocorre quando o ato
trâmites previstos em lei para a constituição. administrativo depende de duas manifestações de
Completou o ciclo de formação, tendo sido esgotadas vontade, seja ele composto ou complexo. Quando a
as etapas do seu processo constitutivo (CARVALHO, primeira autoridade se manifesta, surgindo para a
2020). segunda o dever/obrigação de se manifestar, há o
efeito prodrômico. Como ocorre antes do

🔴 IMPERFEITO: aquele que ainda está em aperfeiçoamento do ato, cuida-se de efeito

formação, sem que tenham sido concluídas as preliminar.

etapas definidas em lei para que exista no mundo Os efeitos prodrômicos independem da
jurídico (CARVALHO, 2020). vontade do agente emissor, e não podem ser
suprimidos.

🔴 PENDENTE: é aquele que, embora Fernanda Marinela explica que o efeito


prodrômico do ato se dá, por exemplo, quando a
perfeito, está sujeito a condição (evento futuro e
primeira autoridade se manifesta e surge a obrigação
incerto) ou termo (evento futuro e certo) para que
de um segundo também fazê-lo, constatado neste
comece a produzir efeitos. É sempre um ato
meio tempo; o efeito prodrômico independe da
perfeito, completamente formado, mas que só
vontade do administrador e não pode ser suprimido30.
poderá iniciar seus efeitos quando ocorrer o evento
futuro.28
10.9. QUANTO AOS EFEITOS

🔴 ATO CONSTITUTIVO: cria uma situação


🔴 CONSUMADO OU EXAURIDO: é aquele
jurídica nova, previamente inexistente, mediante a
que já produziu todos os seus efeitos esperados. Não
criação de novos direitos ou a extinção de
admite a revogação, pois, com a consumação, ele se
extingue naturalmente, uma vez que produziu todos
os seus efeitos. 29

https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/96/Atos-administrativo
s
28 30

https://www.questoesestrategicas.com.br/resumos/ver/atos-adminis https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2603364/o-que-se-entende-por-e
trativos-perfeitos-eficazes-pendentes-e-consumados feito-prodromico-do-ato-administrativo-aurea-maria-ferraz-de-sousa
ATOS ADMINISTRATIVOS - 21
prerrogativas anteriormente estabelecidas 🔴 ATOS RESTRITIVOS: Restringem direitos
(CARVALHO, 2020). ou expectativas dos particulares.

10.12. QUANTO AO CRITÉRIO DA RETRATABILIDADE

🔴 ATO DECLARATÓRIO: É aquele em que a 33

Administração apenas reconhece um direito 🔴 ATOS REVOGÁVEIS (retratáveis): São


preexistente. Tem efeitos retroativos, haja vista o fato aqueles que podem ser revogados a qualquer
de que não constituem situações, mas tão somente as momento pela Administração Pública por razões de
apresentam. conveniência e oportunidade.

🔴 ATO ENUNCIATIVO: é aquele em que a 🔴 ATOS IRREVOGÁVEIS (irretratáveis):


Administração certifica, atesta uma situação ou São os atos que não podem ser revogados pela
profere opinião quando for consultada como, por Administração Pública.
exemplo, o atestado, a certidão e o parecer.

11. ESPÉCIES DE ATOS34


10.10. QUANTO AO CRITÉRIO DO OBJETO31

🔴 ATO-REGRA: É o ato normativo que 11.1. ATOS NORMATIVOS


possui caráter geral e abstrato, aplicável a sujeitos
São aqueles que contêm um comando
indeterminados.
geral, visando à correta aplicação da lei. O objetivo
imediato de tais atos é explicitar a norma legal a ser
🔴 ATO-CONDIÇÃO: É o ato que investe o observada pela Administração (servem para
indivíduo em situação jurídica preexistente, disciplinar, regulamentar uma determinada situação.
submetendo-o à aplicação de certas regras jurídicas. Eles normatizam, regulamentam. Eles estabelecem
comando geral buscando a perfeita e fiel execução da

🔴 ATO-SUBJETIVO: É o ato concreto que


lei).

cria obrigações e direitos subjetivos em relações


jurídicas especiais. ► DECRETOS: são atos administrativos, da
competência exclusiva dos chefes do Executivo,
destinados a prover situações gerais ou individuais,
10.11. QUANTO AO CRITÉRIO DA REPERCUSSÃO
abstratamente previstas de modo expresso, explícito
SOBRE A ESFERA JURÍDICA DO PARTICULAR32
ou implícito, pela legislação. O decreto pode se
🔴 ATOS AMPLIATIVOS: São aqueles que
enquadrar na categoria dos atos normativos (gerais),
reconhecem, constituem ou ampliam direitos dos
mas também pode ter caráter individual, quando for
particulares.
para especificar uma situação determinada, como
ocorre com o decreto expropriatório.

31
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed.
33
Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 323-324.. Gustavo Scatolino (Op. cit. 2020)
32 34
Gustavo Scatolino (Op. cit. 2020) Gustavo Scatolino (Op. cit. 2020)
ATOS ADMINISTRATIVOS - 22
► INSTRUÇÃO NORMATIVA: são atos administrados, mas geram deveres e prerrogativas
administrativos expedidos pelos ministros de Estado para os agentes administrativos a que se dirigem.
para a execução de leis, decretos e regulamentos, ► INSTRUÇÕES: são ordens escritas e
mas são também utilizados por outros órgãos gerais a respeito do modo e da forma de execução de
superiores para o mesmo fim. determinado serviço público, expedidas pelo superior
hierárquico, com a finalidade de orientar os

► REGIMENTOS: são atos administrativos subalternos no desempenho das atribuições que lhes

normativos de atuação interna. Destinam-se a reger o estão destinadas e assegurar a unidade de ação no

funcionamento de órgãos colegiados e de organismo administrativo.

corporações legislativas. Não obrigam os particulares


em geral, atingindo unicamente às pessoas vinculadas ► CIRCULARES: são ordens escritas, de
à atividade regimental. caráter uniforme, expedidas a determinados
funcionários ou agentes administrativos, incumbidos

► RESOLUÇÕES: são atos administrativos de certo serviço ou do desempenho de certas

normativos expedidos pelas altas autoridades do atribuições, em circunstâncias especiais.

Executivo (mas não pelo chefe do Poder Executivo,


que expede decretos) ou pelos presidentes de ► PORTARIAS: são atos internos pelos
tribunais, órgãos legislativos e colegiados quais os chefes de órgãos, repartições ou serviços
administrativos, para disciplinar matéria de sua expedem determinações gerais ou especiais a seus
competência específica. Não se deve confundir a subordinados, ou designam servidores para funções e
resolução editada em sede administrativa com a cargos secundários. Também dão início a sindicâncias
resolução prevista no artigo 59, VII, da Constituição e a processos administrativos.
Federal (CF). Esta equivale, sob o aspecto formal, à lei,
pois é compreendida no processo de elaboração das
► AVISOS: são atos emanados dos
leis, previsto no texto constitucional.
ministros de Estado a respeito de assuntos referentes
aos respectivos ministérios.
11.2. ATOS ORDINÁRIOS

São atos que visam disciplinar o


► ORDENS DE SERVIÇO: são determinações
funcionamento da Administração e a conduta
especiais dirigidas aos responsáveis por obras ou
funcional de seus agentes. São provimentos,
serviços públicos autorizando seu início, ou contendo
determinações ou esclarecimentos que se endereçam
imposições de caráter administrativo ou
aos servidores públicos, a fim de orientá-los no
especificações técnicas sobre o modo de sua
desempenho de suas funções.
realização.
Tais atos só atuam no âmbito interno das
repartições e alcançam somente os servidores
► OFÍCIOS: são comunicações escritas que
hierarquizados à chefia que os expediu. Não
as autoridades fazem entre si, entre subalternos e
obrigam os particulares nem os funcionários
superiores e entre a Administração e particulares, em
submetidos a outras chefias. Não criam,
caráter oficial.
normalmente, direitos ou obrigações para os

ATOS ADMINISTRATIVOS - 23
► DESPACHOS: são decisões que as 3) São sempre necessários para legitimar a
autoridades executivas (ou legislativas e judiciárias, atividade a ser executada pelo
em função administrativa) proferem em papéis, interessado.
requerimentos e processos sujeitos à sua apreciação.
Despacho normativo é aquele em que, embora
► LICENÇA: é o ato administrativo
proferido em caso individual, a autoridade
vinculado e definitivo, por meio do qual o Poder
competente determina que se aplique aos casos
Público, verificando que o interessado atendeu a
idênticos, passando a vigorar como norma interna
todas as exigências legais, possibilita o
da Administração para situações análogas
desempenho de determinada atividade, que não
subsequentes.
poderia ser realizada sem consentimento prévio da
Administração, como, por exemplo, o exercício de
11.3. ATOS NEGOCIAIS uma profissão ou o direito de construir.

São atos praticados contendo uma A licença resulta de um direito subjetivo


declaração de vontade do Poder Público, do administrado, razão pela qual a Administração
coincidente com a pretensão particular. Tais atos, não pode negá-la quando o requerente satisfaz a
embora unilaterais, encerram um conteúdo todos os requisitos legais para sua obtenção. O direito
tipicamente negocial, de interesse recíproco da do requerente é anterior à licença, mas o
Administração e do administrado, mas não desempenho da atividade somente se legitima se o
adentram na esfera contratual. São e continuam Poder Público exprimir seu consentimento favorável
sendo atos administrativos (e não contratos ao administrado. Por essa razão, o ato é de natureza
administrativos), mas de uma categoria diferenciada declaratória.
dos demais, porque geram direitos e obrigações para ATENÇÃO: Licença para construir - doutrina e
as partes e as sujeitam aos pressupostos conceituais jurisprudência a têm considerado como mera
do ato, a que o particular se subordina faculdade de agir e, por conseguinte, suscetível de
incondicionalmente. revogação enquanto não iniciada a obra licenciada,
Os atos negociais são específicos, só ressalvando-se, ao prejudicado, o direito à
ocasionando efeitos jurídicos entre as partes, indenização pelos prejuízos causados.
Administração e administrado, impondo a ambos a
observância das condições de execução, sob pena de
► AUTORIZAÇÃO: é o ato administrativo
cassação do ato.
discricionário e precário pelo qual o Poder Público
torna possível ao pretendente a realização de certa
ATENÇÃO: Segundo Carvalho Filho, temos três atividade ou a utilização de determinados bens
aspectos dos atos de consentimento estatal: particulares ou públicos. Na autorização, assim como

1) Todos decorrem de anuência do Poder ocorre com a licença, o particular necessita do

Público para que o interessado consentimento estatal para que possa realizar a

desempenhe atividade. atividade pretendida, na medida em que estará


praticando conduta ilícita se não possuir anuência
2) Nunca são conferidos ex officio:
prévia da Administração. A autorização é ato
dependem sempre de pedido dos
constitutivo, uma vez que estará estabelecendo uma
interessados.
nova situação jurídica, sendo a licença ato
declaratório, na medida em que o Estado apenas

ATOS ADMINISTRATIVOS - 24
reconhece um direito do particular de realizar a verificando a satisfação de todos os requisitos
atividade. legais pelo particular, defere-lhe determinada

Alguns autores admitem autorização como situação jurídica de seu exclusivo ou

forma de delegar serviços públicos a particulares, em predominante interesse, como ocorre no ingresso

especial os serviços do artigo 21, XI e XII, da CF. aos estabelecimentos de ensino mediante concurso

Também se entende como serviço autorizado o de habilitação.

serviço de táxi.

ATENÇÃO: A Lei Geral de Telecomunicações (Lei n. ► VISTO: é ato administrativo pelo qual o
9.472/1997, art. 131) criou autorização de serviço de Poder Público controla outro ato da própria
telecomunicações como ato vinculado. administração ou do administrado, aferindo sua
legitimidade formal, para dar-lhe exequibilidade.
Incide sempre sobre um ato anterior e não alcança
► PERMISSÃO: é o ato administrativo
seu conteúdo. É ato vinculado.
discricionário e precário, pelo qual o Poder Público
faculta ao particular o uso especial de bens
públicos, a título gratuito ou remunerado, visando ► HOMOLOGAÇÃO: é ato administrativo
ao interesse da coletividade ou à prestação de de controle, pelo qual a autoridade superior
serviços públicos. examina a legalidade e a conveniência, ou

ATENÇÃO: O artigo 40, da Lei n. 8.987/1995, conferiu somente aspectos de legalidade de ato anterior da

à permissão natureza contratual, ao dispor que a “a própria Administração, de outra entidade ou de

permissão de serviço público será formalizada particular, para dar-lhe eficácia. Não admite

mediante contrato de adesão, que observará os alteração no ato controlado pela autoridade

termos desta Lei, das demais normas pertinentes e do homologante, que apenas pode confirmá-lo ou

edital de licitação, inclusive quanto à precariedade e à rejeitá-lo, para que a irregularidade seja corrigida por

revogabilidade unilateral do contrato pelo poder quem a praticou.

concedente.”

► DISPENSA: é o ato administrativo que

► APROVAÇÃO: é o ato administrativo pelo exime o particular do cumprimento de

qual o Poder Público verifica a legalidade e o mérito determinada obrigação até então exigida por lei,

de outro ato ou de situações e realizações materiais como, por exemplo, a dispensa do serviço militar. É

de seus próprios órgãos, de outras entidades ou de ato discricionário.

particulares, dependentes de seu controle, e


consente na sua execução ou manutenção. Pode ► RENÚNCIA: é ato pelo qual o Poder
ser prévia ou subsequente, discricionária consoante Público extingue unilateralmente um crédito ou
os termos em que é instituída, pois, em certos casos, um direito próprio, liberando, definitivamente, a
limita-se à confrontação de requisitos específicos na pessoa obrigada perante a Administração. A
norma legal e, noutros, estende-se à apreciação de renúncia não admite condição e é irreversível, uma
oportunidade e conveniência. vez consumada. Tratando-se de renúncia por parte da
Administração, há dependência, sempre, de lei

► ADMISSÃO: é ato administrativo autorizadora.

vinculado, por meio do qual o Poder Público,

ATOS ADMINISTRATIVOS - 25
► PROTOCOLO ADMINISTRATIVO: é o ato culpa em sentido amplo (dolo ou culpa) ou quando o
pelo qual o Poder Público acerta com o particular a parecer for vinculante. Para o STF, o parecer do artigo
realização de determinado empreendimento ou 38, da Lei n. 8.666/1993, que aprova minutas de
atividade ou a abstenção de certa conduta, no licitação, contratos e convênios tem natureza de
interesse recíproco da Administração e do parecer vinculante.
administrado signatário do instrumento protocolar.
Esse ato é vinculante para todos que o subscrevem,
► APOSTILAS: são atos enunciativos ou
pois gera alterações e direitos entre as partes.
declaratórios de uma situação anterior criada por
lei. Equivale à averbação.
11.4. ATOS ENUNCIATIVOS

São todos aqueles em que a Administração 11.5. ATOS PUNITIVOS


se limita a certificar ou a atestar fato, ou emitir
Constituem uma sanção imposta pela
uma opinião sobre determinado assunto, sem se
Administração em relação àquele que infringe as
vincular ao seu enunciado, isto é, não tem caráter
disposições legais. Visam punir e reprimir as
decisório..
infrações administrativas ou a conduta irregular de
seus servidores ou dos particulares, perante a
► CERTIDÕES: são cópias ou fotocópias fiéis administração. Ex.: multa, interdição, demolição etc.
e autenticadas de atos ou fatos constantes de As sanções podem ser divididas em dois
processo, livro ou documento que se encontre em grupos35:
repartições públicas. Podem ser de inteiro teor, ou
🔸 SANÇÕES DE POLÍCIA: aplicadas com
resumidas, desde que expressem fielmente o que se
fundamento no poder de polícia e relacionadas aos
contém no original de onde foram extraídas. Em tais
particulares em geral.
atos, o Poder Público não manifesta sua vontade,
limitando-se a trasladar para o documento a ser
🔸 SANÇÕES DISCIPLINARES OU
FUNCIONAIS: aplicadas com base no poder
fornecido ao interessado o que consta de seus
disciplinar aos servidores públicos e demais pessoas
arquivos.
que possuem vínculos especiais com a Administração.

► ATESTADOS: são atos pelos quais a


12. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
Administração comprova um fato ou uma situação de
que tenha conhecimento por seus órgãos
competentes. Difere da certidão porque o atestado São espécies de extinção dos atos
comprova um fato ou uma situação existente, mas administrativos, segundo Rafael Oliveira (2021, p.
não constante de livros, papéis ou documentos em 336):
poder da Administração. ● Normal ou natural

● Subjetiva
► PARECERES: são manifestações de ● Objetiva
órgãos técnicos sobre assuntos submetidos à sua
● Por manifestação de vontade do
consideração. Tem caráter meramente opinativo,
particular (renúncia e recusa); e
salvo quando tiver caráter vinculante. Segundo o
STF, o advogado parecerista só responderá no caso de
35
OLIVEIRA (2020), p.520.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 26
● Por manifestação de vontade da
administração pública. ATENÇÃO
A extinção dos atos administrativos de 🔸 Caducidade do contrato de concessão:
forma natural ocorrerá quando este produzir os é a prática de irregularidade do concessionário, ou
seus efeitos ou pelo advento do prazo nele seja, é um ato punitivo.
estipulado.
🔸 Caducidade relacionada ao tempo: na
A extinção subjetiva é o desfazimento do desapropriação, quando é feito um decreto
ato administrativo pelo desaparecimento do expropriatório, a lei fixa prazo para que ela seja
beneficiário (ex.: falecimento do servidor extingue a efetivada, sob pena de o direito caducar.
relação funcional), enquanto na extinção objetiva o
que desaparece é o objeto da relação jurídica36.
12.1.2. CASSAÇÃO
O ato administrativo poderá ser extinto
Segundo Rafael Rezende (2020, p. 338), “é a
ainda a pedido do próprio interessado. É o caso da
extinção do ato administrativo por descumprimento
renúncia, situação a qual a extinção se dá por
das condições fixadas pela Administração ou
vontade unilateral do particular. Há também a
ilegalidade superveniente imputada ao
situação da recusa, quando a extinção do ato
beneficiário do ato”.
administrativo ocorre antes da produção de seus
efeitos.

O estudo mais importante para as provas ATENÇÃO

acerca desse tema é quando há a extinção dos atos 🔸 “Representa verdadeira sanção ao
administrativos por manifestação de vontade da administrado, razão pela qual deve ser precedida de
administração pública. ampla defesa e contraditório”.

🔸 “Em razão do caráter punitivo, a cassação


12.1. EXTINÇÃO POR MANIFESTAÇÃO DE VONTADE deve ser aplicada por prazo determinado, sendo

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA inadmissível a sanção perpétua no ordenamento


brasileiro, na forma do art. 5.º, XLVII, ‘b’, da CRFB”.
12.1.1. CADUCIDADE

Segundo Rafael Rezende (2021, p. 337), “é a


extinção do ato administrativo quando a situação 12.1.3. REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO

nele contemplada não é mais tolerada pela nova 🔴 REVOGAÇÃO: É a extinção do ato
legislação. O ato administrativo, no caso, é editado administrativo legal por razões de conveniência e
regularmente, mas torna-se ilegal em virtude da oportunidade.
alteração legislativa.”
🔴 ANULAÇÃO: É a invalidação do ato
“Incide exclusivamente sobre os atos administrativo editado em desconformidade com a
discricionários e precários, que não geram direitos ordem jurídica.
subjetivos aos particulares, pois os atos vinculados
geram direito adquirido ao administrado que deve ser
ANULAÇÃO/
protegido mesmo na hipótese de superveniência de REVOGAÇÃO
nova legislação, na forma do art. 5.º, XXXVI, da CRFB.” INVALIDAÇÃO

Atos Incide sobre Incide sobre atos


36
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed. Rio
de Janeiro: Método, 2021, p. 336-337.
ATOS ADMINISTRATIVOS - 27
atos legais ilegais isonomia quando houver fundamento
razoável baseado na necessidade de
Conveniência e remediar um desequilíbrio específico
oportunidade entre as partes.
De Legalidade e
Análise (mérito
legitimidade Se os demais estados da Federação
administrativo)
aplicam, indistintamente, o prazo
.
quinquenal para anulação de atos

Da administrativos de que decorram efeitos


Da
Administração favoráveis aos administrados, seja por
Competência Administração
ou do Poder previsão em lei própria ou por aplicação
(REGRA)
Judiciário. analógica do art. 54 da Lei 9.784/1999,
não há fundamento constitucional que
5 anos, salvo justifique a situação excepcional de um
comprovada determinado estado-membro. Com base
Não há prazo
Prazo má-fé, nos nesse entendimento, o Plenário, por
fixado pela lei.
termos do art. maioria, julgou inconstitucional o art. 10,
54, Lei 9.784/99. I, da Lei 10.177/1998 de São Paulo. STF.
ADI 6019/SP, relator Min. Marco Aurélio,
Efeito ex tunc,
redator do acórdão Min. Roberto
Ex nunc, que é retroativo,
Barroso, julgamento em 12.4.2021 (info
o efeito para o desconstituindo
efeito 1012).
futuro, o que o ato
prospectivo gerou no
passado. OBSERVAÇÕES

Segundo Rafael Rezende (2021, p. 339), “em


regra, a Administração Pública tem o dever de anular
O art. 54 da Lei nº 9.784/99 estabelece que o
o ato administrativo que viola a ordem jurídica”, mas,
“direito de anular os atos administrativos que
“não se trata (...) de dever absoluto, admitindo-se que,
decorram efeitos favoráveis para os destinatários
em circunstâncias especiais, a Administração Pública
decai em 5 anos, contados da data em que foram
deixe de invalidar o ato ilegal, para convalidá-lo por
praticados, salvo comprovada má-fé”.
razões de segurança jurídica ou boa-fé, bem como na
Sobre o referido artigo, o STF decidiu que:
hipótese de decadência administrativa (art. 54 da Lei
9.784/1999)”.
É inconstitucional lei estadual que “A anulação, em regra, gera o dever de
estabeleça prazo decadencial de 10 indenizar por parte da Administração Pública, salvo na
(dez) anos para anulação de atos hipótese em que o administrado contribuiu para a
administrativos reputados inválidos prática da ilegalidade”. (OLIVEIRA, 2021, p. 340).
pela Administração Pública estadual.
“Em razão da inexistência de danos ao
O prazo quinquenal consolidou-se como administrado, a revogação não acarreta, em regra,
marco temporal geral nas relações entre indenização, pois dela resulta a extinção de atos
o Poder Público e particulares e o STF discricionários que não geram direitos subjetivos aos
somente admite exceções ao princípio da respectivos beneficiários, detentores de mera

ATOS ADMINISTRATIVOS - 28
expectativa de direito. Todavia, existem situações
excepcionais que podem justificar a indenização E se a obra foi iniciada? Nesse caso, não é
do administrado. Aliás, a indenização na hipótese de possível a revogação. Mas CUIDADO,
revogação de atos administrativos tem sido justificada poderia ocorrer a DESAPROPRIAÇÃO DO
atualmente a partir de princípios jurídicos, com DIREITO DE CONSTRUIR, mediante justa e
destaque para o princípio da confiança legítima.“ prévia indenização.
(OLIVEIRA, 2020, p. 340).

🔴 Ato exaurido ou consumado, pois já


Para Celso Antônio Bandeira de Mello, no extinto.
caso de ANULAÇÃO, temos o seguinte cenário:
🔴 Ato que gera direito adquirido;
🔸 Ato ampliativo (beneficia): Efeitos ex
🔴 Ato integrativo de um procedimento
nunc;
administrativo: exemplo: revogar o edital já na fase
🔸 Ato restritivo (prejudica): Efeitos ex de habilitação.
tunc.
🔴 Meros atos administrativos ou atos
enunciativos: não possui juízo de conveniência e
12.1.3.1. ATOS QUE NÃO ADMITEM REVOGAÇÃO oportunidade (exemplo: parecer)

🔴 Ato vinculado: não há juízo de


conveniência e oportunidade.
12.1.3.2. CONTRAPOSIÇÃO / DERRUBADA
Exceção reconhecida na jurisprudência:
Para Rafael Rezende (2021, p. 343), “é a
extinção do ato administrativo em razão de sua
Licença para construir. Revogação. incompatibilidade material com ato
Obra não iniciada. Legislação estadual administrativo posterior.”
posterior. I. Competência do estado
federado para legislar sobre áreas e
12.1.3.3. REPRISTINAÇÃO
locais de interesse turístico, visando a
Segundo Rafael Rezende (2021, p. 343), “a
proteção do patrimônio paisagística (CF,
revogação do ato revogador (‘revogação da
art. 180). Inocorrência de ofensa ao art.
revogação’) não acarreta efeitos repristinatórios”.
15 da Constituição Federal; II. Antes de
“A revogação dos atos jurídicos em geral não tem
iniciada a obra, a licença para
efeitos repristinatórios, salvo disposição expressa em
construir pode ser revogada por
sentido contrário, conforme dispõe o art. 2.º, § 3.º, da
conveniência da Administração
LINDB”. “Por essa razão, o ato revogado deixa de
Pública, sem que valha o argumento
existir no mundo jurídico e a eventual restauração de
do direito adquirido. Precedentes do
sua vigência dependerá de manifestação expressa da
supremo tribunal. Recurso
Administração Pública. A intenção de restaurar a
extraordinário não conhecido (RE
vigência do ato anteriormente revogado deve ser
105634, Relator: Min. Francisco Rezek,
expressamente mencionada no ato que revoga o ato
Segunda Turma, julgado em 20.09.1985,
revogador”.
DJ 08.11.1985, PP-20107, Ement
Vol-01399-02, PP-00399). 13. CONVALIDAÇÃO OU SANATÓRIA

ATOS ADMINISTRATIVOS - 29
pode anular, quer dizer que o ato se convalidou”.
Seria a chamada convalidação tácita,
Conforme Rafael Rezende (2021, p. 344), “o
salvamento do ato administrativo que apresenta A partir dessa premissa, parte da doutrina

vícios sanáveis. O ato de convalidação produz efeitos distinguiu a convalidação em duas espécies: a

retroativos (ex tunc), preservando o ato ilegal expressa e a tácita.

anteriormente editado.” REQUISITOS:

● Não causa prejuízo a terceiros;

● Não causar lesão a interesse público;


Art. 55, Lei 9784/99. Em decisão na qual se
evidencie não acarretarem lesão ao interesse ● Ser um vício sanável (competência e

público nem prejuízo a terceiros, os atos que forma).

apresentarem defeitos sanáveis poderão ser ● Boa-fé do administrado


convalidados pela própria Administração.

OBSERVAÇÕES

Segundo a doutrina tradicional, 🔸 Competência exclusiva ou em razão da


convalidação é o ato administrativo pelo qual a matéria não é passível de convalidação, bem como
Administração ou particular interessado corrige uma a falta de formalidade essencial.
ilegalidade de um ato administrativo anulável, de um 🔸 Quem convalida o ato é a própria
vício sanável. Analisando esse conceito, a administração pública ou o legislativo por meio de Lei.
convalidação trata-se de um ato expresso. A
🔸 STF e STJ utilizam “frequentemente o
Administração, diante de um ato ilegal e diante da
princípio da segurança jurídica para limitar a
constatação que a ilegalidade é corrigível/sanável,
autotutela administrativa e resguardar os efeitos dos
pratica um ato – que é manifestação de vontade – de
atos ilegais que beneficiem particulares”.
convalidação.

Às vezes a correção da ilegalidade não


13.1. ESPÉCIES DE CONVALIDAÇÃO37
depende da Administração. Em algumas ocasiões, a
correção da ilegalidade depende do interessado e, 13.1.1. CONVALIDAÇÃO VOLUNTÁRIA

para que a Administração pratique o ato de forma Decorre da manifestação da Administração


correta, é necessário que o administrado manifeste a Pública.
sua vontade. Exemplo: a correção de um cadastro São modalidades da convalidação
para fins de concessão de um benefício, que depende voluntária:
da informação do administrado, que eventualmente
🔳 RATIFICAÇÃO: é a convalidação do ato
mudou de endereço, de estado civil, etc.
administrativo que apresenta vícios de competência
Esse é o conceito de convalidação trazido ou de forma. O ato de convalidação é praticado pela
pela doutrina tradicional, mas algumas pessoas mesma autoridade que praticou o ato administrativo
pensaram de outra forma: “a Administração Pública ilegal, convalidado. A autoridade competente pratica o
dispõe de 5 anos para anular o ato administrativo ato, este ato é ilegal, ele assim o reconhece de ofício
ilegal (Princípio da Autotutela). Assim, se a ou mediante provocação, revê e corrige o ato.
Administração praticou um ato ilegal, tem 5 anos para
anulá-lo, mas não o fez. Se, depois de 5 anos, não se
37
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 8ª Ed.
Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 346-348..
ATOS ADMINISTRATIVOS - 30
que, a reversão desse quadro

🔳 REFORMA: o agente público retira o implicaria inexoravelmente em danos

objeto inválido do ato e mantém o outro objeto desnecessários e irreparáveis ao

válido. servidor. Em outras palavras, o STJ


entende que existem situações
excepcionais nas quais a solução
🔳 CONVERSÃO: é a reforma com o
padronizada ocasionaria mais danos
acréscimo de novo objeto.
sociais do que a manutenção da
situação consolidada, impondo-se o
Segundo Celso Antônio Bandeira de Melo, distinguishing, e possibilitando a
temos ainda outras duas hipóteses de convalidação, contagem do tempo de serviço
quais sejam: prestado por força de decisão liminar,

🔳 CONFIRMAÇÃO: é a convalidação feita


em necessária flexibilização da regra.
Caso concreto: determinado indivíduo
por autoridade superior àquela que praticou o ato. A
prestou concurso para o cargo de Policial
Administração reconhece a ilegalidade, mas decide, a
Rodoviário Federal e foi aprovado nas
partir de um juízo de razoabilidade,
provas teóricas, tendo sido, contudo,
proporcionalidade, mérito, oportunidade e
reprovado em um dos testes práticos. O
conveniência, que é mais vantajoso a manutenção
candidato propôs mandado de
do ato ilegal do que sua anulação. Desse contexto,
segurança questionando esse teste. O
extrai-se a TEORIA DO FATO CONSUMADO, que
juiz concedeu a liminar determinando a
estabelece que “as situações jurídicas consolidadas
nomeação e posse, o que ocorreu em
pelo decurso do tempo, amparadas por decisão
1999. Em sentença, o magistrado
judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do
confirmou a liminar e julgou procedente
princípio da segurança jurídica e da estabilidade das
o pedido do autor. Anos mais tarde, o
relações sociais” (STJ, REsp n.º 709.934/RJ, Rel. Min.
TRF, ao julgar a apelação, entendeu que
HUMBERTO MARTINS, J. 21/06/2007).
a exigência do teste prático realizado não
continha nenhum vício. Em virtude disso,
Em regra, o STJ acompanha o reformou a sentença. O servidor,
entendimento do STF e decide que é contudo, continuou cautelarmente no
inaplicável a teoria do fato consumado cargo até 2020, quando houve o trânsito
aos concursos públicos, não sendo em julgado da decisão contrária ao seu
possível o aproveitamento do tempo de pleito. O STJ assegurou a manutenção
serviço prestado pelo servidor que definitiva do impetrante no cargo. STJ. 1ª
tomou posse por força de decisão Turma. AREsp 883574-MS, Rel. Min.
judicial precária, para efeito de Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
estabilidade. Contudo, em alguns 20/02/2020 (Info 666). STJ. 2ª Turma.
casos, o STJ afirma que há a AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og
solidificação de situações fáticas Fernandes, julgado em 08/10/201938.
ocasionada em razão do excessivo
decurso de tempo entre a liminar 38
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em casos excepcionais, em
concedida e os dias atuais, de maneira que a restauração da estrita legalidade ocasionaria mais danos
sociais que a manutenção da situação consolidada pelo decurso do
tempo, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de admitir a
ATOS ADMINISTRATIVOS - 31
vista o decurso do tempo. Nesse caso, os princípios

O STF, no Ag no RE 740029, decidiu que no da segurança jurídica, da confiança legítima e da

caso de aposentadoria, aplica-se a teoria do fato boa-fé, prevalecem sobre o princípio da legalidade

consumado. Isto porque a superveniência da por opção do próprio legislador que estabelece prazo

aposentadoria voluntária pelo servidor seria para a anulação de atos ilegais.” (OLIVEIRA, 2021, p.

suficiente, por si só, para assegurar a incidência da 347)

teoria do fato consumado. “Necessário se faz,


portanto, o distinguish com os termos do RE 608.842,
Art. 54, Lei 9.784/1999: O direito da Administração
que não abriga a hipótese em que o afastamento da
de anular os atos administrativos de que
teoria do fato consumado do caso concreto retira a
decorram efeitos favoráveis para os destinatários
aposentadoria do servidor mantido no cargo por força
decai em cinco anos, contados da data em que
de decisão precária em processos cuja duração não
foram praticados, salvo comprovada má-fé.
observa o art. 5º, LXXVIII, da CARTA MAGNA, que
assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo,
a razoável duração do processo e os meios que
A convalidação é obrigatória ou
garantam a celeridade de sua tramitação”39.
facultativa?

Vamos supor que a autoridade se deparou


🔳 SANEAMENTO: é a convalidação quando com ato ilegal hoje, confere a natureza da ilegalidade
a correção do ato depende do administrado. Para que e percebe que o vício é na forma e pode ser sanado.
o ato seja convalidado, é necessária a manifestação Neste momento, a autoridade se vê diante de uma
de vontade do administrado. decisão: ela pode decidir convalidar ou decidir anular.
Diante dessa situação, a autoridade é obrigada a
corrigir, a convalidar? Ou ela pode, se achar
OBSERVAÇÃO
oportuno ou conveniente, optar com
🔸 Reforma e conversão: referem-se aos
discricionariedade por anular? Duas posições se
vícios em um dos objetos do ato administrativo.
formaram:
🔸 Reforma e a conversão: o elemento
🔹 1ª Posição: a Administração teria
viciado é retirado do ato (não é convalidado),
discricionariedade para avaliar se convalida ou anula.
preservando o restante do seu conteúdo.
Caberia à autoridade, a partir de um juízo de
oportunidade e conveniência, decidir se vai corrigir ou
13.1.2. CONVALIDAÇÃO INVOLUNTÁRIA não, e sim anular, pois a ilegalidade não pode

Opera-se pelo decurso do tempo e sobreviver, em razão do princípio da ilegalidade.

independe de manifestação administrativa. Trata-se 🔹 2ª Posição (majoritária): se é possível


da decadência administrativa. convalidar, acabando com a ilegalidade e mantendo

“A decadência administrativa é a perda do os efeitos do ato (efeitos ex tunc da validade do ato),

direito de anular o ato administrativo ilegal, tendo em por que a autoridade anularia? Convalidar preserva a
legalidade e a segurança jurídica, porque nada será

aplicação da teoria do fato consumadoo. Buscador Dizer o Direito, alterado. Tudo que o ato produziu/gerou é mantido e
Manaus. Disponível em:
a ilegalidade é aniquilada, ao passo que anular acaba
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f
8e6ba1db0f3c4054afec1684ba8fb26>
39
com a ilegalidade, mas é prejudicial à segurança
https://dotti.adv.br/aplicacao-da-teoria-do-fato-consumado-em-conc jurídica porque os efeitos do ato ilegal vão
urso-publico/
ATOS ADMINISTRATIVOS - 32
desaparecer. A convalidação é obrigatória, porque
traz mais vantagens do que desvantagens e garante a
eficiência administrativa, a segurança jurídica e
preserva, também, a legalidade.

Exceção: a convalidação é obrigatória,


salvo no ato discricionário praticado por sujeito
incompetente, pois nesse caso a convalidação é
facultativa.

ATOS ADMINISTRATIVOS - 33

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