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5.3.2.

PARTICIPAÇÃO SUCESSIVA 19
CONCURSO DE PESSOAS
5.3.3. PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO 20
5.3.4. PARTICIPAÇÃO NEGATIVA OU
2a EDIÇÃO/2022
CONIVÊNCIA 20
5.3.5. PARTICIPAÇÃO DE MENOR
1. DEFINIÇÃO 3
IMPORTÂNCIA 20
2. REQUISITOS 4 5.3.6. PARTICIPAÇÃO INÓCUA 21
2.1. PLURALIDADE DE AGENTES CULPÁVEIS 4
6. CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS
2.2. RELEVÂNCIA CAUSAL E JURÍDICA DAS 21
CONDUTAS 4
2.3. VÍNCULO SUBJETIVO ou CONCURSO DE 7. COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU
VONTADES 5 DESVIO SUBJETIVO DA CONDUTA 22
2.4. UNIDADE DE INFRAÇÃO PENAL PARA TODOS
8. COMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E
OS AGENTES (NATUREZA JURÍDICA DO CONCURSO
DE PESSOAS) 5 CIRCUNSTÂNCIAS 23
8.1.ELEMENTARES 23
3. AUTORIA 7 8.2. CIRCUNSTÂNCIAS 23
3.1. TEORIAS SOBRE AUTORIA (CONCEITOS DE 8.3. DA (IN)COMUNICABILIDADE 23
AUTOR) 7
3.1.1. TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO 9
3.1.2. JURISPRUDÊNCIA E TEORIA DO
DOMÍNIO DO FATO 10
3.1.3. TEORIA DAS AÇÕES NEUTRAS 11
3.2. ESPÉCIES DE AUTORIA 12
3.2.1. AUTORIA MEDIATA 12
3.2.2. AUTORIA DE DETERMINAÇÃO (Zaffaroni)
14
3.2.3. AUTOR DE ESCRITÓRIO 14
3.2.4. TEORIA DO DOMÍNIO DA
ORGANIZAÇÃO (ROXIN) 15
3.2.5.AUTORIA COLATERAL ou PARALELA 15
3.2.6. AUTORIA INCERTA 15
3.2.7. AUTORIA IGNORADA 16
3.2.8. AUTORIA ACESSÓRIA ou SECUNDÁRIA
ou AUTORIA COLATERAL COMPLEMENTAR 16
3.2.9. AUTORIA DE RESERVA 16
3.2.10. AUTORIA SUCESSIVA 16
3.2.11. AUTORIA POR CONVICÇÃO 16

4. COAUTORIA 16
4.1. ESPÉCIES DE COAUTORIA 16
4.1.1. COAUTORIA CONJUNTA 16
4.1.2. COAUTORIA ADITIVA 16
4.1.3. COAUTORIA PARCIAL OU FUNCIONAL 17
4.1.4. COAUTORIA DIRETA OU MATERIAL 17
4.1.5. COAUTORIA SUCESSIVA 17
4.1.6. COAUTORIA ALTERNATIVA 17

5. PARTICIPAÇÃO (ANIMAS SOCII) 18


5.1. REQUISITOS 18
5.2. TEORIAS QUANTO À PUNIÇÃO DO PARTÍCIPE
18
5.3. ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO 19
5.3.1. PARTICIPAÇÃO EM CADEIA /
PARTICIPAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO 19
CONCURSO DE PESSOAS - 1
O concurso de pessoas demanda adesão de
1. DEFINIÇÃO
vontade do concorrente até a consumação (depois
da consumação, a adesão pode configurar crime
Trata-se de pluralidade subjetiva, ou seja,
autônomo). Ex: favorecimento real.
criminosos (concursus delinquentium) e não se
confunde com o concurso de crimes (concursus
delictorum), tema atribuído à teoria da pena. 2. A participação na modalidade de

Segundo Cleber Masson (2020, p. 425), co-autoria sucessiva, em que o partícipe

concurso de pessoas é a colaboração empreendida resolve aderir à conduta delituosa após o

por duas ou mais pessoas para a realização de um início da sua execução, exige, além do

crime ou de uma contravenção penal. liame subjetivo comum a todo


concurso de agentes, que a adesão
O delito pode ser ocorra antes da consumação do delito.
CRIMES
praticado por uma ou (STJ, REsp n. 1.449.266/PR, relatora
UNISSUBJETIVOS ou
várias pessoas Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
MONOSSUBJETIVOS ou
associadas. Sexta Turma, julgado em 6/8/2015, DJe
DE CONCURSO
É a regra no CP (exs.: arts. de 26/8/2015.)
EVENTUAL
121, 155, 157, 213 CP.)

Excepcionalmente a contribuição pode ser


Necessariamente
prestada depois da consumação do crime, mas desde
teremos concurso de
que tenha havido ajuste prévio (STJ).
pessoas, ou seja, nunca
será praticado por
apenas uma pessoa. 4. Por oportuno, registre-se, ao contrário
Tratam-se da exceção. do que sustenta a impetração, mesmo
Como exemplo temos os que o paciente não tenha sido o
crimes associativos (art. responsável pela efetuação dos disparos
CRIMES 288, CP, por exemplo). de arma de fogo que culminaram no
PLURISSUBJETIVOS OU óbito de uma das vítimas, deve
DE CONCURSO responder como coautor pelo roubo
OBSERVAÇÃO
NECESSÁRIO seguido de morte.
Para efeitos da
5. Isso porque ficou bem demonstrada,
quantidade para formar
na espécie, a existência de liame
o número mínimo (para
subjetivo e ajuste prévio do paciente
os casos em que a lei
com os demais agentes, assumindo ele
exige número mínimo),
também o risco, com a participação na
não importa se todos os
empreitada delituosa, de que alguma
membros que integram o
vítima fosse morta em virtude de disparo
crime são imputáveis.
de arma. (STJ, HC n. 185.167/SP, relator
Ministro Og Fernandes, Sexta Turma,
ATENÇÃO julgado em 15/3/2011, DJe de 8/2/2012.)

CONCURSO DE PESSOAS - 2
2. REQUISITOS
2.2. RELEVÂNCIA CAUSAL E JURÍDICA DAS

Cleber Masson (2020, p.425), afirma que o CONDUTAS

concurso de pessoas depende de 5 requisitos: Deve-se ter a contribuição efetiva de mais de


um agente. Essa contribuição não precisa ser
unicamente a contribuição material, mas pode ser a
intelectual.

Segundo Cleber Masson (2020, p. 427), não


pode ser considerado autor ou partícipe quem
assume em relação à infração penal uma atitude
meramente negativa, quem não dá causa ao crime,
quem não realiza qualquer conduta sem a qual o
resultado não teria se verificado. A participação
inócua, que em nada concorre para a realização do
crime, é irrelevante para o Direito Penal.

A relevância causal depende de uma


2.1. PLURALIDADE DE AGENTES CULPÁVEIS1 contribuição prévia ou concomitante à execução, isto
O concurso de pessoas depende de pelo é, anterior à consumação. A concorrência posterior à
menos duas pessoas, e, consequentemente, de ao consumação configura crime autônomo, mas não
menos duas condutas penalmente relevantes. Tais concurso de pessoas. Ressalta-se que a contribuição
condutas podem ser principais, no caso de coautoria, pode até ser concretizada após a consumação, desde
ou então uma principal e uma acessória, praticadas que tenha sido ajustada previamente.
pelo autor e pelo partícipe, respectivamente. Para André Estefam (2022, p. 403), “a relação
Os coautores ou partícipes, devem ser de causalidade somente pode ser considerada como
culpáveis, ou seja, dotados de culpabilidade, sendo a requisito para a figura do concurso de pessoas em
culpabilidade dos envolvidos fundamental, sob pena crimes materiais ou de resultado, vez que nos delitos
de caracterização da autoria mediata. formais e de mera conduta não se exige qualquer

No concurso de pessoas não basta a mera ligação ou liame entre a conduta do agente e algum

pluralidade de agentes, mas que todos sejam resultado naturalístico (este, inclusive, inexiste nos

culpáveis. delitos de simples atividade).”

OBSERVAÇÃO 2.3. VÍNCULO SUBJETIVO ou CONCURSO DE


VONTADES
UNIDADE DELITIVA: é necessário que os
agentes pratiquem o mesmo crime ou os mesmos É necessário um acordo de vontade entre os

crimes. Do contrário teremos crimes diferentes, agentes, que pode ser anterior ou concomitante à

aplicando a cada um o seu próprio crime. prática criminosa.

Cleber Masson (2020, p. 428) afirma que os


agentes devem revelar vontade homogênea, visando
a produção do mesmo resultado. É o que se
1
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14.
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. convencionou chamar de princípio da convergência.
425-426.
CONCURSO DE PESSOAS - 3
Logo, não é possível a contribuição dolosa para um Autor e partícipe
crime culposo, nem a concorrência culposa para um respondem pelo
delito doloso. mesmo crime,
conforme o art. 29 do

OBSERVAÇÃO CP. Todos os


coautores e partícipes
O vínculo subjetivo não depende de prévio
se sujeitam a um
ajuste entre as partes (pactum sceleris), bastando a
único tipo penal: há
ciência de um agente no tocante ao fato de concorrer
um único crime com
para uma conduta de outrem (scientia sceleris ou
diversos agentes.
scientia maleficii), chamada pela doutrina de
consciente e voluntária cooperação, vontade de É a regra no Direito

participar, adesão a vontade de outrem ou brasileiro.


TEORIA UNITÁRIA ou
concorrência de vontades2.
MONISTA ou MONÍSTICA
OBSERVAÇÃO
ou IGUALITÁRIA
ATENÇÃO: Faltando liame subjetivo, desaparece o Segundo Luiz Regis
concurso de pessoas, podendo configurar: AUTORIA Prado, o CP adotou a
COLATERAL ou INCERTA. teoria monista de
forma matizada ou
CONCURSO DE AUTORIA COLATERAL
temperada, já que
AGENTES OU INCERTA
estabeleceu certos
graus de participação
Pluralidade de agentes e Pluralidade de agentes e
e um verdadeiro
de conduta de conduta
reforço do princípio
Relevância causal das Relevância causal das constitucional da
condutas condutas individualização da
pena.
Liame subjetivo entre os Não há liame subjetivo
agentes entre os agentes. A cada um dos
agentes se atribui
conduta, razão pela
2.4. UNIDADE DE INFRAÇÃO PENAL PARA TODOS OS qual cada um
AGENTES (NATUREZA JURÍDICA DO CONCURSO DE responde por delito
TEORIA PLURALISTA ou
PESSOAS) autônomo. Haverá
PLURALÍSTICA ou
Trata-se de uma consequência jurídica frente tantos crimes quanto
CUMPLICIDADE DO CRIME
às outras condições. sejam os agentes que
DISTINTO ou AUTONOMIA
concorrem para o
Quanto à unidade de infração penal e sua DA CUMPLICIDADE
fato. Cada um
natureza jurídica, existem algumas teorias que tratam
responde pelo seu
sobre o tema. Vejamos:
crime.

Para essa teoria,


2
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14.
temos vários crimes
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 428.
CONCURSO DE PESSOAS - 4
distintos, seja para “O direito concursal é
autores, seja para uma soma de delitos
partícipes. Na lei singulares, cada um
brasileira, temos dos quais pode ser
alguns exemplos: chamado delito em

➽ Aborto (gestante concurso. Entre o

responde pelo crime delito em concurso e

do art. 124 e o médico o concursal há a

responde pelo art. mesma diferença que

126); existe entre a parte e


o todo. E o traço
➽ Crime de
característico do
contrabando ou
primeiro reside em
descaminho e o crime
que ele não constitui
de facilitação ao
uma entidade
descaminho (crime
autônoma, mas
cometido pelo
elemento de um
funcionário público);
delito complexo que é
➽ Corrupção ativa e
o concursal3"
passiva.

Os autores
3. AUTORIA
respondem por um
crime e os partícipes
por outro. 3.1. TEORIAS SOBRE AUTORIA (CONCEITOS DE
AUTOR)
Crime único para
autores principais
TEORIAS UNITÁRIAS
(participação
primária) e outro
Todo aquele que
TEORIA DUALISTA crime único para os
concorre para o crime é
autores
seu autor.
secundários/partícipe
TEORIA SUBJETIVA ou Não existe distinção
s (participação
entre autor e
secundária). UNITÁRIA
partícipe. Assim, todo
Adotado no Brasil de (conceito subjetivo)
aquele que de alguma
forma excepcional.
forma contribui para a
Ex:: art. 29,§1° e §2°
produção do resultado
do CP.
é autor.

Foi proposta por


TEORIA MISTA
Francisco Carnelutti.

3
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 429.
CONCURSO DE PESSOAS - 5
Tem como fundamento tipo.
a teoria da equivalência COAUTORIA:
dos antecedentes conjuntamente realizam
causais. o núcleo do tipo –
princípio da imputação
Não distingue autor do
recíproca.
partícipe, mas permite o
Concepção
estabelecimento de
majoritariamente
graus diversos de
adotada.
autoria. Assim, todos
aqueles que concorrem Exposição de motivos

para o mesmo evento do Código Penal – item

TEORIA EXTENSIVA são autores. No 25 (adotou teoria

entanto, a depender da objetivo formal)


(Mezger)
contribuição temos OBSERVAÇÃO: não
graus diversos de explica as questões que
autoria. envolvem a autoria

Tem como fundamento mediata.

a teoria da equivalência
dos antecedentes 🔴 TEORIA
causais. OBJETIVO-MATERIAL
(CONCEITO
TEORIAS DIFERENCIADORAS EXTENSIVO)

AUTOR: contribui de
Estabelece clara
forma mais efetiva para
distinção entre autor e
a concorrência do
partícipe. Conceito
resultado (sem
restritivo de autor.
necessariamente
Divide-se em:
praticar o núcleo do
🔴 TEORIA tipo)
OBJETIVO-FORMAL
PARTICIPE: concorre de
TEORIA OBJETIVA ou (CONCEITO
forma menos relevante
DUALISTA RESTRITIVO)

AUTOR: realiza o núcleo Elaborada por Hans


do tipo. Executa, total Welzel, é com Claus
TEORIA DO DOMÍNIO
ou parcialmente, a Roxin que a teoria do
DO FATO
conduta que realiza o domínio do fato ganhou
(CONCEITO OBJETIVO-
tipo. sua expressão mais
SUBJETIVO)
PARTICIPE: concorre acabada.

sem realizar o núcleo do “Enquanto para Welzel

CONCURSO DE PESSOAS - 6
a teoria do domínio do alcance do resultado,
fato seria um não exerça domínio
pressuposto sobre a ação.
(requisito) material
para determinação da
Na concepção de Roxin,
autoria, para Roxin
o domínio do fato pode
essa teoria consistiria
se dar de 3 formas:
em um critério para
a) Domínio da
delimitação do papel
ação (autor
do agente na prática
imediato): o
delitiva (como autor
autor realiza
ou partícipe). Assim,
pessoalmente
para Roxin, a teoria
os elementos
representou uma forma
do tipo.
de distinguir autor de
partícipe. Roxin não b) Domínio da

utilizou a teoria para vontade (autor

encontrar mediato): é

responsabilidade penal autor aquele

onde ela não existe. que domina a

Usou apenas para vontade de um

diferenciar o papel terceiro que é

desempenhado por utilizado como

cada agente no delito.4” instrumento.

A teoria surgiu para c) Domínio

diferenciar o autor do funcional do

executor do crime. fato (autor


funcional): em
uma atuação
AUTOR5: é quem
conjunta
controla
(divisão de
finalisticamente o fato,
tarefas) para a
ou seja, quem decide a
realização de
sua forma de execução,
um fato, é autor
seu início, cessação e
aquele que
demais condições.
pratica um ato
PARTÍCIPE: aquele que, relevante na
embora colabore execução (não
dolosamente para o na fase
preparatória) do
plano delitivo
4
SANCHES (2020), pag. 459
5
SANCHES (2020), pag. 459.
CONCURSO DE PESSOAS - 7
global. AUTOR: O sujeito que
realiza o verbo nuclear
COAUTOR: O sujeito
Para Sanches, ainda há
que pratica atos de
o controle final do TEORIA RESTRITIVA
execução
fato:
PARTÍCIPE: Auxílio
a) aquele que, por
moral ou material, fora
sua vontade,
dos casos acima
executa o
núcleo do tipo AUTOR: O sujeito que
(autor detém o domínio da
propriamente ação ou da vontade
dito); COAUTOR: O indivíduo
TEORIA DO DOMÍNIO que possui o domínio
b) aquele que
DO FATO
planeja a funcional

empreitada PARTÍCIPE: Auxílio

criminosa para moral ou material, fora

ser executada dos casos acima

por outras
pessoas(autor
3.1.1. TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO
intelectual);
“Dada a necessidade de distinguir as figuras
c) aquele que se
do autor e do partícipe, Roxin desenvolveu uma tese
vale de um não
inovadora, calcada na premissa de que autor é a
culpável ou de
figura central no acontecer típico. A participação,
pessoa que
nessa medida, tanto material quanto moral
atua sem dolo
(induzimento ou instigação), configura uma forma
ou culpa para
de extensão da punibilidade, que só se caracteriza
executar o tipo,
quando o sujeito não é autor, isto é, não ocupa essa
utilizada como
posição central ou de protagonismo na realização da
seu
figura típica; o partícipe é, destarte, uma figura lateral,
instrumento
coadjuvante. A teoria do domínio do fato deriva,
(autor mediato).
portanto, da tese central de que autor é a figura
central no acontecer típico. (ESTEFAM, 2022)”
A teoria se expressa concretamente nas
AUTOR: Todo aquele seguintes hipóteses7:
que concorre para o 🔴 Domínio da ação (autoria imediata ou
TEORIA EXTENSIVA 6 crime direta): Segundo Estefam, “há domínio da ação
COAUTOR: É a quando o sujeito realiza pessoalmente todos os
pluralidade de autores elementos do tipo, consciente de que o faz.

Estefam, André Araújo L. Direito Penal - Vol. 1. Disponível em:


6
Estefam, André Araújo L. Direito Penal - Vol. 1. Disponível em:
7

Minha Biblioteca, (11th edição). Editora Saraiva, 2022. P. 406 Minha Biblioteca, (11th edição). Editora Saraiva, 2022. P. 421
CONCURSO DE PESSOAS - 8
Trata-se do autor imediato ou direto. Isto é, o uma função determinante em sua realização. Os
sujeito que realiza a conduta descrita no tipo penal, sujeitos não detêm, cada qual, o domínio total do fato
tendo total domínio sobre a configuração central do criminoso, mas assumem o controle sobre a tarefa
fato.” que lhe foi atribuída, como num roubo a banco, em
🔴 Domínio da vontade (autoria mediata que os sujeitos compartilham as responsabilidades,
ou indireta): “ocorrendo quando alguém, embora incumbindo-se um deles de dominar os seguranças e
sem realizar a conduta típica, se vale de um terceiro os clientes, o outro de render os funcionários,
como mero instrumento de sua vontade.” enquanto um terceiro subtrai o numerário de caixas e
cofres.”
“Para Pierangeli e Zaffaroni, contudo, a
teoria do domínio do fato, no que tange Delitos aos quais não se aplica a teoria do
à autoria mediata, somente tem lugar domínio do fato9
quando o sujeito se utiliza de outra ✓ Delitos de dever (ou de violação de
pessoa que age sem dolo, atipicamente dever), “que são aqueles em que o legislador
ou justificadamente, sem incluir, fundamenta a maior punibilidade do fato na ofensa a
portanto, os casos de emprego de um dever especial imposto ao agente (como ocorre
pessoas atuando sem culpabilidade nos crimes próprios, isto é, os que exigem uma
(inculpavelmente). Segundo eles, “a falta qualidade especial do sujeito ativo). É o caso, por
de reprovabilidade da conduta do exemplo, do peculato (CP, art. 312), da corrupção
interposto não dá o domínio do fato ao passiva (CP, art. 317), da concussão (CP, art. 316).”
determinador”395. Nesses casos, há a ✓ Delitos de mão própria ou atuação
figura da instigação, que é, para eles, pessoal, que são “aqueles nos quais há a infração de
espécie de participação. Uma das um dever personalíssimo (como no falso testemunho
consequências práticas desse ponto de – CP, art. 342). O autor somente será aquele que
vista é a seguinte: “Há começo de realizar a conduta descrita no tipo, de modo que
execução, portanto, ato executivo ou qualquer tipo de contribuição prestada por outrem
tentativa, quando o determinador que colocará este na condição de partícipe.”
tem o domínio do fato inicia a ✓ Delitos culposos, “pois não se pode
determinação do interposto, ainda que admitir uma ideia de autoria baseada em domínio do
não consiga determiná-lo, posto que aí fato se o indivíduo não atua dolosamente, não tendo
começa a configuração do fato, mas o consciência e vontade de produzir o resultado.”
mesmo não se pode ser dito a respeito
do caso em que o interposto somente 3.1.2. JURISPRUDÊNCIA E TEORIA DO DOMÍNIO DO
será inculpável” 8
FATO

🔴 Domínio funcional do fato (coautoria):


A teoria do domínio do fato funciona
aplica-se “aos casos de coautoria ou autoria
como uma ratio, a qual é insuficiente,
conjunta/compartilhada. Este ocorre quando duas ou
por si só, para aferir a existência do
mais pessoas dividem tarefas na realização de um
nexo de causalidade entre o crime e o
plano criminoso, individualmente desempenhando

8 9
Estefam, André Araújo L. Direito Penal - Vol. 1. Disponível em: Estefam, André Araújo L. Direito Penal - Vol. 1. Disponível em:
Minha Biblioteca, (11th edição). Editora Saraiva, 2022. P. 423 Minha Biblioteca, (11th edição). Editora Saraiva, 2022. P. 424
CONCURSO DE PESSOAS - 9
agente. É equivocado afirmar que um A teoria do domínio do fato não permite
indivíduo é autor porque detém o que a mera posição de um agente na
domínio do fato se, no plano escala hierárquica sirva para
intermediário ligado à realidade, não demonstrar ou reforçar o dolo da
há nenhuma circunstância que conduta.
estabeleça o nexo entre sua conduta e Do mesmo modo, também não permite
o resultado lesivo. a condenação de um agente com base
Não há como considerar, com base na em conjecturas. Assim, não é porque
teoria do domínio do fato, que a houve irregularidade em uma licitação
posição de gestor, diretor ou sócio estadual que o Governador tenha que
administrador de uma empresa ser condenado criminalmente por isso.
implica a presunção de que houve a STF. 2ª Turma. AP 975/AL, Rel. Min. Edson
participação no delito, se não houver, Fachin, julgado em 3/10/2017 (Info 880)11.
no plano fático-probatório, alguma Segundo o STF, não se pode invocar a
circunstância que o vincule à prática teoria do domínio do fato, pura e
delitiva. simplesmente, sem nenhuma outra
Em decorrência disso, também não é prova, citando de forma genérica o
correto, no âmbito da imputação da diretor estatutário da empresa para lhe
responsabilidade penal, partir da imputar um crime fiscal que teria sido
premissa ligada à forma societária, ao supostamente praticado na filial de um
número de sócios ou ao porte Estado-membro onde ele nem trabalha
apresentado pela empresa para se de forma fixa. Em matéria de crimes
presumir a autoria, sobretudo porque societários, a denúncia deve apresentar,
nem sempre as decisões tomadas por suficiente e adequadamente, a conduta
gestor de uma sociedade empresária ou atribuível a cada um dos agentes, de
pelo empresário individual, - seja ela qual modo a possibilitar a identificação do
for e de que forma esteja constituída - papel desempenhado pelos denunciados
implicam o absoluto conhecimento e na estrutura jurídico-administrativa da
aquiescência com os trâmites empresa. Não se pode fazer uma
burocráticos subjacentes, os quais, não acusação baseada apenas no cargo
raro, são delegados a terceiros. STJ. 6ª ocupado pelo réu na empresa. STF. 2ª
Turma. REsp 1854893-SP, Rel. Min. Turma. HC 136250/PE, Rel. Min. Ricardo
Rogerio Schietti Cruz, julgado em Lewandowski, julgado em 23/5/2017 (Info
08/09/2020 (Info 681) . 10
866)12

11
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O superior hierárquico
não pode ser punido com base na teoria do domínio do fato
se não tiver sido demonstrado o dolo. Buscador Dizer o
10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A teoria do domínio do Direito, Manaus. Disponível em:
fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta
pela prática de qualquer crime, eis que a imputação deve lhes/6dff2291fe2e822de2e8068a182c4759>. Acesso em:
ser acompanhada da devida descrição, no plano fático do 02/06/2022
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado 12
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se pode invocar a
delituoso. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta nenhuma outra prova. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
lhes/327204b057100a1b7c574c2691c9a378>. Acesso em: Disponível em:
02/06/2022 <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta
CONCURSO DE PESSOAS - 10
puníveis as ações neutras. Por outro lado, se a

3.1.3. TEORIA DAS AÇÕES NEUTRAS13 proibição melhorar de modo relevante a situação do

Segundo André Estefam, “trata-se de analisar bem jurídico, dificultando de alguma forma a sua

os limites e os fundamentos da participação lesão, já será ela legítima, e o risco criado

criminal, verificando se ações neutras, ou seja, juridicamente desaprovado. Neste caso, as ações

comportamentos que constituam contribuição a fato neutras serão puníveis14”.

ilícito alheio, os quais são praticados por meio de Como exemplo, tem-se o famoso caso do
ações do cotidiano, em que o sujeito se limita a taxista que leva o passageiro a determinado local,
cumprir seu papel social sem dele desviar, devem mesmo tendo ciência de que ele, passageiro, irá
resultar em punições criminais”. matar alguém, como de fato mata. Para Greco,

Segundo Luís Greco, ações neutras (ou “conduta do taxista não é punível, afinal, o passageiro

cotidianas), são “aquelas contribuições a fato ilícito poderia perfeitamente e sem qualquer dificuldade

alheio que, à primeira vista, pareçam completamente pegar outro táxi para levá-lo até o local onde praticou

normais”, ou melhor, “ações neutras seriam todas as o homicídio. Sendo assim, a proibição da contribuição

contribuições a fato ilícito alheio não manifestamente do taxista seria inidônea para proteger o bem jurídico

puníveis”14. concreto (a vida da vítima do homicídio), vale dizer,


não melhoraria de modo relevante a proteção deste
Para Greco, “a questão das ações neutras
bem jurídico, inexistindo, assim, na conduta do
deve ser solucionada no plano do tipo objetivo,
taxista, risco juridicamente proibido (ou
mais propriamente no segundo componente da
desaprovado). ” 14
imputação objetiva, qual seja, no caráter
juridicamente desaprovado do risco. Neste ponto é
que entra o princípio da proporcionalidade, mas 3.2. ESPÉCIES DE AUTORIA
especificamente, o critério da idoneidade que Luís 3.2.1. AUTORIA MEDIATA
Greco propõe para solucionar o problema das ações
Aquele que, sem realizar diretamente a
cotidianas. Diz, em suma, que as ações neutras só
conduta típica, comete o crime por ato de interposta
podem ser puníveis se a proibição de sua
pessoa, utilizado como seu instrumento.
realização se mostrar idônea para proteger o bem
Os elementos necessários para a realização
jurídico concreto, o que ocorrerá se a não-prática
do tipo penal devem ser reunidos na figura do
da ação proibida melhorar de forma relevante a
autor mediato (“homem de trás”) e não no
situação desse bem jurídico. Assim, conforme Luís
executor.
Greco, as contribuições que podem ser obtidas em
qualquer outro lugar, de qualquer outra pessoa que Nos crimes próprios, o autor mediato deve

age licitamente, sem maiores dificuldades para o possuir as qualidades específicas descritas no tipo.

autor principal, não podem considerar-se proibidas,


porque tal proibição seria inidônea para proteger o
NÃO CONFUNDA: AUTOR MEDIATO ≠ PARTICIPE
bem jurídico concreto. Nesta hipótese, não seriam
AUTOR MEDIATO PARTICIPE

lhes/6dbbe6abe5f14af882ff977fc3f35501>. Acesso em:


02/06/2022 Sua conduta é principal Sua conduta é acessória
13
Estefam, André Araújo L. Direito Penal - Vol. 1. Disponível em:
Minha Biblioteca, (11th edição). Editora Saraiva, 2022. P. 427
14 Detêm o domínio do Não detêm o domínio
https://carlosedoardo.com.br/questoes/cumplicidade-atr
aves-das-acoes-neutras/#_ftn1
CONCURSO DE PESSOAS - 11
✓ Obediência hierárquica (art. 22, CP);
fato do fato
✓ Erro de tipo escusável provocado por
Ambos não realizam o núcleo do tipo terceiro (art. 20, §2.º, CP); e

✓ Erro de proibição escusável provocado


Exemplificando:
por terceiro (art. 21, caput, CP).
“A” convence o menor, “B”, a subtrair o carro de “C”.
A conduta de “A” é principal. “A” tem o controle final
do fato (autor mediato). Cleber Masson (2020, p. 438) afirma que além
dessas hipóteses, há outros casos em que a autoria
“B”, menor, pede auxílio de “A” para subtrair o carro
mediata pode ocorrer, como nos casos em que o
de “C”. A conduta de “A” é acessória. “A” não tem o
agente atua sem dolo ou culpa, tais como na coação
controle final do fato. “A” é um partícipe.
física irresistível, no sonambulismo e na hipnose.

Na autoria mediata, embora haja pluralidade OBSERVAÇÕES


de sujeitos, prevalece o entendimento no sentido de
que não há concurso de pessoas, pois o executor do
🔴 AUTORIA MEDIATA E CRIMES CULPOSOS
Segundo Rogério Sanches (2017, pág. 462),
crime é mero instrumento da vontade do agente.
“autoria mediata não se coaduna com os crimes
culposos, pois o resultado, nestes, é involuntário.
Logo, não há possibilidade de o agente utilizar outrem
AUTOR MEDIATO AUTOR INTELECTUAL
como seu instrumento para a prática de um delito
Vale-se de pessoa sem Planeja o crime para ser cujo resultado sequer assumiu o risco de produzir.”
consciência, vontade ou executado por outros
culpabilidade para (com consciência,
🔴 AUTORIA MEDIATA E CRIMES PRÓPRIOS
executar o crime vontade e culpabilidade).
Segundo Sanches, “admite-se, desde que o
planejado.
autor mediato reúna as condições pessoais exigidas

Exemplificando: pelo tipo do autor imediato”.

“A” planeja o crime para ser executado por “B”,


menor inimputável. “A” é autor mediato. 🔴 AUTORIA MEDIATA E CRIMES DE MÃO

“A” planeja o crime para ser executado por “C”, PRÓPRIA

maior imputável. “A” é autor intelectual. Segundo Sanches, não é possível, visto que o
tipo penal determina diretamente quem deve ser o
sujeito ativo.
O Código Penal possui 5 hipóteses de
aplicação de autoria imediata15. Vejamos:
3.2.2. AUTORIA DE DETERMINAÇÃO (Zaffaroni)
✓ Imputabilidade penal do executor por
menoridade penal, embriaguez ou doença mental Figura criada para resolver a lacuna

(art. 62. inc. III, CP); doutrinária que surge com a situação de não se
admitir autoria mediata nos crimes de mão própria,
✓ Coação moral irresistível (art. 22, CP);
bem como nos crimes próprios quando o autor

15
mediato não reúne as qualidades exigidas no tipo. Na
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14.
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 438.
CONCURSO DE PESSOAS - 12
autoria de determinação, não se aplicam as formas de O que é a autoria de escritório?
autoria, direta ou mediata, nem de participação. Nos termos de Zaffaroni:
Segundo Sanches (2017, pág. 463), “o agente não é
“Esta forma de autoria mediata
autor do crime, mas responde pela determinação
pressupõe uma “máquina de poder”, que
para o crime por exercer, sobre o fato, domínio
pode ocorrer tanto num estado em que
equiparado à autoria.”
se rompeu com toda a legalidade, como
Cleber Masson (2020, p. 440) afirma que numa organização paraestatal (um
deve ser imputado ao autor de determinação o Estado dentro do Estado), ou como uma
resultado produzido, pois a ele de qualquer modo máquina de poder autônoma “mafiosa”,
concorreu, em consonância com a regra prevista no por exemplo. Não se trata de qualquer
art. 29, caput, do CP. associação para delinquir, e sim de uma
organização caracterizada pelo aparato

3.2.3. AUTOR DE ESCRITÓRIO de seu poder hierarquizado, e pela


fungibilidade de seus membros (se a
O agente se utiliza de pessoa que atua dentro
pessoa determinada não cumpre a
de uma estrutura de poder.
ordem, outro a cumprirá; o próprio
Segundo Cleber Masson (2020, p. 440), é o
determinador faz parte da organização).
autor do escritório o agente que transmite a ordem a
Serviria de exemplo a “SS” no
ser executada por outro autor direto, dotado de
nacional-socialismo alemão, ou um
culpabilidade e passível de ser substituído a qualquer
Estado totalitário que se vale de um
momento por outra pessoa, no âmbito de uma
agente, para cometer um crime no
organização ilícita de poder.
exterior. A particularidade que isto
André Estefam (2022, p. 426) ressalta que apresenta está em que aquele que dá
nesse instituto ”convivem o autor mediato (que é o a ordem está demasiadamente
sujeito que emite a ordem, dá o comando, manda e próximo do domínio do fato, para ser
desmanda em determinado aparato estruturado de considerado um simples instigador,
poder) e o autor imediato (que é o destinatário da com a particularidade de que quando
ordem, o qual funciona como uma engrenagem na o determinador se encontra mais
estrutura de poder ou um soldado no “exército” de distante da vítima e da execução
comandados, muitas vezes sem nenhum contato material do fato mais próximo ele está
direto com o autor mediato e sempre com a das suas fontes de decisão.”16
característica da fungibilidade)”. Ademais, elenca os
seguintes pressupostos:
3.2.4. TEORIA DO DOMÍNIO DA ORGANIZAÇÃO
■ A existência de um grande aparato de
(ROXIN)
poder, com estrutura verticalizada;
Segundo Masson (2020, p. 441), essa teoria é
■ Uma atuação à margem do Estado de
apresentada por Claus Roxin - e funciona como a
Direito (como ocorre em Estados Totalitários e
base do conceito de autoria de escritório fornecido
grandes organizações criminosas);
por Eugenio Raúl Zaffaroni - para solucionar as
■ A fungibilidade dos executores (ou
destinatários da ordem).
16
ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI; José Henrique.
Manual de Direito Penal Brasileiro v.1. 8ª ed. RT, 2006.
p.582-583
CONCURSO DE PESSOAS - 13
questões inerentes ao concurso de pessoas nas Beltrano por tentativa, abstraindo-se o resultado, cuja
estruturas organizadas de poder, compreendidas autoria é incerta (in dubio pro reo).
como aparatos à margem da legalidade. Nas
organizações criminosas, não raras vezes é difícil
3.2.7. AUTORIA IGNORADA
punir os detentores do comando, situados no ápice
Desconhece-se o autor do crime.
da pirâmide hierárquica, pois tais pessoas não
executam as condutas típicas. Ao contrário,
utilizam-se de indivíduos dotados de culpabilidade 3.2.8. AUTORIA ACESSÓRIA ou SECUNDÁRIA ou
para a prática dos crimes. (...) Nesse contexto, o AUTORIA COLATERAL COMPLEMENTAR
penalista alemão tem como ponto de partida a
Duas pessoas concorrem para o mesmo
teoria do domínio do fato, e amplia o alcance da
fato, sem ter ciência disso, e o resultado é efeito da
autoria mediata, para legitimar a
soma das condutas. As condutas isoladas não
responsabilização do autor direto do crime, bem
produziram o resultado.
como do seu mandante, quando presente uma
relação de subordinação entre eles, no âmbito de
uma estrutura organizada de poder ilícito, situada 3.2.9. AUTORIA DE RESERVA

às margens do Estado. Durante a execução do crime, o agente


aguarda para ver se será preciso a sua atuação.
Poderá ser coautor ou partícipe, dependendo do caso.
3.2.5.AUTORIA COLATERAL ou PARALELA

Dois ou mais agentes, sem liame subjetivo


(um ignorando a contribuição do outro) – não há 3.2.10. AUTORIA SUCESSIVA

concurso de agentes), concentram suas condutas Ocorre quando alguém ofende bem jurídico
para o cometimento da mesma infração penal. Ex.: já afetado antes por outra pessoa.
Fulano e Beltrano, um ignorando a presença do outro,
escondem-se esperando Sicrano para matá-lo.
3.2.11. AUTORIA POR CONVICÇÃO
Surgindo a vítima, os dois disparam, atingindo
O agente pratica o delito tendo consciência da
Sicrano. Sicrano morre em razão do disparo de
ilicitude do fato, mas deixa de observar a norma por
Fulano. Solução: cada um responde de acordo com a
convicção referente a questões de consciência,
sua conduta (Fulano – homicídio; Beltrano – tentativa
como no caso de crença religiosa.
de homicídio).

3.2.6. AUTORIA INCERTA 4. COAUTORIA

Dois ou mais agentes, sem liame subjetivo,


concorrem para o mesmo resultado, porém não há Segundo Rogério Sanches, “Verifica-se a

como identificar o real causador. Ex.: Fulano e coautoria nas hipóteses em que dois ou mais

Beltrano, um ignorando a presença do outro, indivíduos, ligados subjetivamente, praticam a

escondem-se esperando Sicrano para matá-lo. conduta (comissiva ou omissiva) que caracteriza o

Surgindo a vítima, os dois disparam, atingindo


Sicrano. Sicrano morre sem apurar qual disparo
causou o resultado.Solução: condenar Fulano e

CONCURSO DE PESSOAS - 14
delito. A coautoria, em última instância, é a própria devem ser capazes de interferir na consumação da
autoria delineada por vários indivíduos”17 infração penal.

4.1. ESPÉCIES DE COAUTORIA 4.1.6. COAUTORIA ALTERNATIVA

4.1.1. COAUTORIA CONJUNTA O resultado pode ser alcançado com a

“Todos os co-autores atuam, desde o conduta de um dos agentes, mas será extensiva ao

princípio, conjuntamente, unindo esforços para outro.

alcançar o objetivo comum”.18

OBSERVAÇÕES

4.1.2. COAUTORIA ADITIVA 🔴 COAUTORIA EM CRIME PRÓPRIO


“Várias pessoas participam da execução do Segundo Sanches, é possível, tanto quando
delito, simultaneamente, porém desconhecendo-se todos os agentes possuem a característica necessária
ab initio qual delas efetivamente alcançará o para incidência da norma específica, quanto se
resultado pretendido” 9
apenas um tiver a característica, mas que seja de
conhecimento dos demais.

4.1.3. COAUTORIA PARCIAL OU FUNCIONAL

Segundo Masson (2020, p. 435), é aquele em 🔴 COAUTORIA EM CRIME DE MÃO PRÓPRIA


que os diversos agentes praticam atos diversos, os Segundo Sanches, “em regra, não comportam
quais, somados, produzem o resultado almejado. a coautoria, pois somente podem ser cometidos por
Exemplo: “A” segura a vítima enquanto “B” a determinado agente designado no tipo
esfaqueia, acarretando na sua morte. penal”.(CUNHA, 2020, pag. 468).

EXCEÇÃO: falsa perícia praticada

4.1.4. COAUTORIA DIRETA OU MATERIAL19 dolosamente por dois ou mais peritos em conluio.

Os agentes realizam atos iguais, visando a


produção de resultado previsto em lei. Exemplo: “A” e NÃO CONFUNDA: CRIME PRÓPRIO ≠ CRIME DE MÃO
“B” golpeiam “C” com uma faca, matando-o. PRÓPRIA

CRIME PRÓPRIO CRIME DE MÃO


4.1.5. COAUTORIA SUCESSIVA
PRÓPRIA
Ocorre quando, após iniciada a conduta
típica por um único agente, houver a adesão de O tipo penal exige O tipo penal também

um segundo agente à empreitada criminosa, sendo qualidade ou condição exige qualidade ou

que as condutas praticadas por cada um, dentro de especial do agente condição especial do

um critério de divisão de tarefas e união de desígnios, agente

17
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte Só admite participação.
geral (arts. 1° ao 120). 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, pag.
467. Admitem coautoria e Não admite coautoria
18
GOMES, Luiz Flávio. Conceito de co-autoria em direito
penal. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 11,
participação. pois trata-se de crime
n. 991, 19 mar. 2006. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/8120. de conduta infungível
19
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14.
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 435.
CONCURSO DE PESSOAS - 15
(ou de atuação pessoal). ACESSORIEDADE seja típico, ilícito e
MÁXIMA culpável.

(EXTREMADA)
5. PARTICIPAÇÃO (ANIMAS SOCII)
Para punir o partícipe, o
TEORIA DA fato principal deve ser
Segundo Masson (2020, p. 442), é a
HIPERACESSORIEDADE típico, ilícito, culpável e
modalidade de concurso de pessoas em que o sujeito
punível.
não realiza diretamente o núcleo do tipo penal, mas
de qualquer modo concorre para o crime. É, portanto,
qualquer tipo de colaboração, desde que não
5.3. ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO21
relacionada à prática do verbo contido na descrição
da conduta criminosa. PARTICIPAÇÃO MORAL PARTICIPAÇÃO
A natureza jurídica da participação é uma das MATERIAL
formas de adequação típica de subordinação
Segundo Masson, Segundo Masson, “a
mediata/indireta.
“terceira pessoa a conduta do sujeito
cometer uma infração consiste em prestar
5.1. REQUISITOS20 penal''. Não há auxílio ao autor da
✓ Propósito de colaborar para a conduta do colaboração com meios infração penal.”
autor (principal); materiais, mas apenas

✓ Colaboração efetiva, por meio de um com ideias de natureza

comportamento acessório que concorra para a penalmente ilícitas.”

conduta principal.
INDUZIR: é fazer surgir AUXILIAR: consiste em
na mente de outrem a facilitar, viabilizar
5.2. TEORIAS QUANTO À PUNIÇÃO DO PARTÍCIPE vontade criminosa, até materialmente a
então inexistente. execução da infração
TEORIA DA Para punir o partícipe,
penal, sem realizar a
ACESSORIEDADE basta que o fato principal
conduta descrita pelo
MÍNIMA seja típico.
núcleo do tipo

Para punir o partícipe,


TEORIA DA INSTIGAR: é reforçar a Como ressalta Masson,
basta que o fato principal
vontade criminosa que “O auxílio pode ser
ACESSORIEDADE MÉDIA seja típico e ilícito,
já existe na mente de efetuado durante os
ou LIMITADA independentemente da
outrem. atos preparatórios ou
(PREVALECE) culpabilidade e da
executórios, mas
punibilidade do agente.
Masson pontua que o nunca após a
“induzimento e a consumação, salvo se
Para punir o partícipe,
TEORIA DA instigação devem ser
basta que o fato principal ajustado previamente.”
relacionados à prática

20
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. 21
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed.
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 442. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 442-443.
CONCURSO DE PESSOAS - 16
de crime determinado e ● Auxílio
direcionados a pessoa posterior à 5.3.3. PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO
ou pessoas consumação O agente podia e devia agir para evitar o
determinadas” previamente ajustado: resultado, mas se omitiu, aderindo ao crime de
caracteriza participação. outrem. Segundo LFG:
● Auxílio
PARTICIPAÇÃO POR CRIME OMISSIVO
posterior à
OMISSÃO IMPRÓPRIO
consumação não
ajustado
O partícipe não tem O autor tem total
antecipadamente: não
co-domínio do fato domínio do fato.
configura participação, e
sim o crime autônomo
de favorecimento Para Damásio de Jesus, o omitente portador
pessoal, definido no art. de dever jurídico de impedir o resultado é autor e não
348 do Código Penal. partícipe.

5.3.4. PARTICIPAÇÃO NEGATIVA OU CONIVÊNCIA


OBSERVAÇÕES
O agente não tem qualquer vínculo com a
■ Só teremos participação se tivermos autoria.
conduta criminosa (não induziu, não instigou e não
Isso porque a autoria é o ato principal. Dessa forma,
auxiliou), nem tampouco a obrigação de impedir o
se um sujeito instigar, induzir ou prestar auxílio a
resultado (não é garantidor). Também chamado de
outro e este nada fizer, não teremos autoria e
concurso absolutamente negativo ou crimen silenti.
também não teremos participação.

■ Não existe participação culposa em crime


doloso. Assim, o partícipe deve agir dolosamente. ATENÇÃO

Não há participação, mas simples


contemplação do crime. Ex: Fulano percebe que a
5.3.1. PARTICIPAÇÃO EM CADEIA / PARTICIPAÇÃO
casa do vizinho está sendo furtada. Fulano nada faz
DE PARTICIPAÇÃO
para impedir ou interromper o crime. Fulano não é
Ocorre quando alguém induz outrem a
garantidor da casa do vizinho. Fulano não induz,
instigar terceira pessoa a praticar crime. Ex: “A”
instiga ou auxilia o furtador. A omissão de Fulano é
convence “B” a convencer “C” a matar “D”.
um indiferente penal.

5.3.2. PARTICIPAÇÃO SUCESSIVA


5.3.5. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA
O mesmo agente é instigado, induzido ou
Participação de menor importância é aquela
auxiliado por duas ou mais pessoas, sem que estas
de pouca relevância causal, devendo-se aferir no caso
tomem conhecimento uma das outras.
concreto, com base no critério da equivalência dos
antecedentes (condítio sine qua non).

CONCURSO DE PESSOAS - 17
Art. 29.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, 6. CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES


OMISSIVOS23
a pena pode ser diminuída de 1/6 sexto a 1/3.

CRIME OMISSIVO CRIME OMISSIVO


A minorante só tem aplicação para o
PRÓPRIO IMPRÓPRIO
PARTÍCIPE (não existe coautoria de menor
importância).
COAUTORIA
Não se aplica, segundo Masson (2020, p.
445), “ao autor intelectual, embora seja partícipe,
🔸 1a Corrente Para Sanches (2020, p.
pois, se arquitetou o crime, evidentemente a sua
(Mirabete): Não é 473), “Apesar de haver
participação não se compreende como de menor
possível. “Se dois corrente em sentido
importância”
agentes, diante de contrário, nos parece
situação em que alguém perfeitamente possível
A redução da pena é faculdade do juiz ou se encontra em perigo, a coautoria em crimes
direito subjetivo do réu? decidem não prestar omissivos impróprios,

🔸1 a
Corrente (Mirabete): faculdade do juiz.
socorro, embora desde que os vários
pudessem fazê-lo sem garantes, com dever
Para Mirabete pode “o juiz deixar de aplicá-la, mesmo
risco pessoal, jurídico de evitar
convencido da apoucada importância da contribuição
respondem aquele determinado
causal para o delito.”
individualmente pela resultado, de comum
🔸 2a Corrente (Maioria da doutrina):
omissão, sem que se acordo, deixem de
direito subjetivo do réu. Para Bitenourt, “A faculdade
caracterize o concurso agir.”
resume-se ao grau de redução entre um sexto e um
de pessoas”.
terço da pena. Reconhecida a participação de menor
importância, a redução se impõe”.
🔸 2a Corrente
(Bitencourt): É possível.
“Se duas pessoas
5.3.6. PARTICIPAÇÃO INÓCUA deixarem de prestar
Na lição de Cléber Masson: socorro a uma pessoa
gravemente ferida,
podendo fazê-lo, sem
“É aquela que em nada contribuiu para o risco pessoal, praticarão,
resultado. É penalmente irrelevante, pois se não individualmente, o crime
deu causa ao crime é porque ele não concorreu. autônomo de omissão
Exemplo: "A.' empresta uma faca para "B" matar de socorro. Agora, se
"C': Precavido, contudo, "B" compra uma arma de essas duas pessoas, de
fogo e, no dia do crime, sequer leva consigo a faca comum acordo,
emprestada por "X: cuja participação foi, assim, deixarem de prestar
inócua”.22 socorro, nas mesmas

22
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 445. 23
SANCHES (2020), pag. 472.
CONCURSO DE PESSOAS - 18
circunstâncias, serão ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
coautoras do crime de aumentada até 1/2 (metade), na hipótese de ter
omissão de socorro. O sido previsível o resultado mais grave.
princípio é o mesmo dos
crimes comissivos:
houve consciência e Segundo Sanches, “a aplicação da pena

vontade de realizar um relativa ao crime menos grave de que o agente quis

empreendimento participar tem como finalidade impedir a

comum, ou melhor, no responsabilidade objetiva no concurso de pessoas,

caso, de não realizá-lo pois, se o crime mais grave não integrou a esfera

conjuntamente"” volitiva do agente, não é possível lhe atribuir o


resultado daí advindo. Na realidade, em virtude da
ausência de liame subjetivo, sequer se pode
PARTICIPAÇÃO
considerar perfeito o concurso de pessoas, existente
Segundo Sanches (2020, Para doutrina apenas sobre o delito menos grave.”
p. 473), “admite-se. majoritária, é possível. Situações:
Dá-se por meio de Sanches exemplifica: ● O agente queria praticar o crime menos
atuação positiva que “JOÃO instiga ANTÔNIO
grave e o resultado mais grave não lhe é
permite ao autor a não alimentar o filho.
previsível: o agente responderá apenas pelo
descumprir a norma que ANTÔNIO se omite, crime menos grave.
delineia o crime como instigado.
● O agente queria praticar o crime menos
omissivo. É o caso do ANTÔNIO comete o
grave, mas o resultado é previsível: o
agente que induz o crime de homicídio por
agente responderá pelo crime menos grave e
médico a não efetuar a omissão, já que tinha o
sobre a pena desse crime incidirá causa de
notificação compulsória dever jurídico de evitar o
aumento de pena (até metade).
da doença de que é resultado (garante).
portador” JOÃO será partícipe”.
8. COMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E
CIRCUNSTÂNCIAS

7. COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU


DESVIO SUBJETIVO DA CONDUTA
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando
Para Sanches (2020, pág. 475), “percebe-se o
elementares do crime. (participação impunível)
desvio subjetivo de condutas entre os agentes, em
que um dos concorrentes do crime pretendia integrar
ação criminosa menos grave do que aquela 8.1.ELEMENTARES
efetivamente praticada”.
Essentialia delicti: são os elementos

Art. 29. constitutivos do crime.

§ 2º - Se algum dos concorrentes (coautor e


partícipe) quis participar de crime menos grave,

CONCURSO DE PESSOAS - 19
8.2. CIRCUNSTÂNCIAS

Também chamadas de “acidentais”: são os


dados acessórios ao crime, dispensáveis para a
configuração da figura penal básica, embora causem
influência sobre a quantidade de pena.

As circunstâncias ou elementares podem ter:

⭕ CARÁTER NÃO PESSOAL (OBJETIVAS): são


as que se relacionam com aspectos objetivos do
crime, como os meios e modo de execução, tempo,
ocasião e lugar, bem como com as qualidades da
vítima.

⭕ CARÁTER PESSOAL (SUBJETIVAS): são


dados referentes ao agente e não ao fato, como os
motivos do crime, qualidades específicas do autor e
relações pessoais que possua com a vítima.

8.3. DA (IN)COMUNICABILIDADE

Segundo Cleber Masson (2020, p. 448),


circunstâncias incomunicáveis são as que não se
estendem, isto é, não se transmitem aos coautores ou
partícipes de uma infração penal, pois se referem
exclusivamente a determinado agente, incidindo
apenas em relação a ele.

🔴 ELEMENTARES: sempre comunicáveis,


tanto as objetivas como as de caráter pessoal, desde
que sejam do conhecimento do outro agente.

🔴 CIRCUNSTÂNCIAS OBJETIVAS: sempre


comunicáveis, desde que sejam do conhecimento do
outro agente.

🔴 CIRCUNSTÂNCIAS SUBJETIVAS: são


incomunicáveis, salvo quando elementares do
crime e de conhecimento do outro agente.

CONCURSO DE PESSOAS - 20

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