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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RR-736-95.2017.5.12.0023

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ACÓRDÃO
(3ª Turma)
GMMGD/rat/lnc/ef

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017.
ACIDENTE NO TRABALHO. ÓBITO DO
TRABALHADOR AUTÔNOMO. TOMADOR DE
SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. TRABALHO EM
ALTURA. MANUTENÇÃO DE ELEVADOR DE
GRÃOS EM SILO. ATIVIDADE DE RISCO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.
Demonstrado no agravo de instrumento que o
recurso de revista preenchia os requisitos do
art. 896 da CLT, dá-se provimento ao agravo de
instrumento, para melhor análise da arguição
de violação do art. 927, parágrafo único, do
CCB. Agravo de instrumento provido.
B) RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI
13.467/2017. ACIDENTE NO TRABALHO.
ÓBITO DO TRABALHADOR AUTÔNOMO.
TOMADOR DE SERVIÇOS PESSOA FÍSICA.
TRABALHO EM ALTURA. MANUTENÇÃO DE
ELEVADOR DE GRÃOS EM SILO. ATIVIDADE DE
RISCO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.
Registre-se, inicialmente, que o TRT concluiu
que restou comprovado nos autos que a
relação existente entre o “de cujus” e o
Reclamado (pessoa física) decorreu de
contrato de prestação de serviços, sendo o
Obreiro, trabalhador autônomo. Com efeito,
a condição de trabalhador autônomo não
afasta, por si só, a responsabilização do
tomador de serviços, pois a indenização por
danos morais e materiais resultantes de

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acidente do trabalho tem natureza jurídica


civil, conforme previsto nos artigos 186 e 927,
caput, parágrafo único, do Código Civil. Assim,
para que se possa imputar responsabilização
ao Reclamado pelo alegado acidente, mister se
faz a conjugação dos seguintes requisitos: o
dano; o nexo causal (que traduz a causalidade
entre a conduta antijurídica e o dano sofrido);
e, regra geral, a culpa. Não é o caso, contudo,
de culpa presumida, que só pode ser
reconhecida nas relações de emprego, em
virtude de o empregador ter o controle e a
direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão
e a operação do estabelecimento em que
ocorrer o evento danoso. Nesse sentido,
conforme leciona o professor Sebastião
Geraldo de Oliveira: “Se ocorrer acidente de
qualquer natureza, tanto com o empregado
doméstico quanto com o simples prestador de
serviços sem vínculo de emprego, a vítima pode
ter direito à indenização por responsabilidade
civil, se estiverem presentes os pressupostos do
dano, nexo causal e culpa do empregador ou
tomador de serviços. O direito de qualquer lesado
à reparação dos danos está consagrado de modo
amplo no ordenamento jurídico nacional, em
especial no código civil. Assim, não há
fundamento legal ou lógico para afastá-lo nos
danos oriundos dos acidentes ocorridos com os
trabalhadores domésticos ou sem vínculo de
emprego, a não ser que haja alguma das
excludentes da responsabilidade, tais como a
culpa exclusiva da vítima (ou fato da vítima), o
caso fortuito ou força maior e o fato de terceiro.
(...).” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de.
Indenizações por acidente do trabalho ou
doença ocupacional. 12 ed. Salvador: Editora
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Juspodivm, 2021, pg. 607). No caso dos autos,


segundo os dados que se extrai do acórdão,
conclui-se como aplicável a responsabilidade
objetiva, uma vez que a atividade
desempenhada pelo Autor efetivamente
representa um risco maior do que o vivenciado
pelo indivíduo médio. O Tribunal Regional
registrou ser: "Incontroverso nos autos que
Zelázio Jeremias sofreu acidente do trabalho
fatal em 09/07/2017, enquanto realizava
serviços de serralheria de manutenção de um
elevador de grãos em silo de armazenagem de
cereais na propriedade rural do reclamado,
Antônio Taurino Patrício (fotos às fls. 34-36).
Segundo consta do boletim de ocorrência
anexado aos autos, "a vítima realiza
manutenção na estrutura de ferro quando ao
pisar na escora de madeira a mesma quebrou
ocasionando a queda". Enfatize-se, ademais,
que a Corte Regional anotou que a “análise do
acidente de trabalho realizada pelo auditor
fiscal do trabalho (fl. 281), que imputou ao
demandado o dever de aplicação das normas
de segurança do trabalho” – dever esse,
todavia, que não foi respeitado pelo
tomador de serviços demandado, no caso
dos autos. Anota-se que a controvérsia deve
ser examinada sob o enfoque da
responsabilidade objetiva da tomadora ante o
risco acentuado a que estava exposto o de
cujus (art. 927, parágrafo único, do CC c/c art.
7º, caput, da CF). Não há dúvida de que a
atividade em altura, no exercício de
manutenção de elevador, expõe o trabalhador
a riscos mais acentuados do que aquele a que
se submete a coletividade. No exercício de tais
atividades, o trabalhador fica sujeito à
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possibilidade de quedas, muitas vezes fatais, o


que potencializa o risco de acidentes. No
acórdão recorrido, constata-se, ainda, o
posicionamento firmado pelo Delegado de
Polícia no relatório de investigação do acidente
de trabalho, que vitimou o "de cujus", no
sentido de que "os indicativos apontaram-no
como sendo um dos responsáveis pela própria
empreitada. Não bastasse esse mar de dúvidas
aqui relatadas, ainda resta claro e previsível que
qualquer um que ande por cima de tábuas, as
quais se encontram posicionadas em cima de um
poço, se autocoloca em uma situação de risco de,
não sendo a mera entrega de equipamento
individual suficiente a impedir a causa da morte".
Com efeito, resulta patente tratar-se de
atividade de risco a ensejar a responsabilidade
objetiva. Pode-se entender que, inclusive nas
relações de trabalho autônomo, há a
possibilidade de aplicação da teoria da
responsabilidade civil objetiva, haja vista que a
incidência da diretriz constante no art. 927,
parágrafo único, do Código Civil, não se limita
às relações jurídicas envolvendo os contratos
de emprego. Por outro lado, esclareça-se,
quanto à suposta culpa exclusiva da vítima,
que o fato da vítima (denominado como culpa
da vítima no CCB/2002 - art. 936) é fator
excludente da reparação civil, por inexistência
de nexo de causalidade do evento danoso com
o exercício da atividade laboral. Nesse norte, a
caracterização da culpa exclusiva da vítima é
fator de exclusão do elemento "nexo causal"
para efeito de inexistência de reparação civil no
âmbito laboral quando o infortúnio ocorre
por causa única decorrente da conduta do
trabalhador, sem qualquer ligação com o
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descumprimento das normas legais,


contratuais, convencionais, regulamentares,
técnicas ou do dever geral de cautela por parte
de quem o contratou, ou também sem
qualquer ligação com os fatores objetivos do
risco da atividade – o que não é o caso dos
autos, haja vista que o acidente não ocorreu
tendo como causa única conduta do
trabalhador, estando diretamente atrelada aos
fatores objetivos do risco da atividade, além do
descumprimento do dever geral de cautela por
parte do tomador de serviços. Logo, não há
falar em culpa exclusiva da vítima. Ademais, a
presença de culpa concorrente não é fator de
exclusão da responsabilidade civil da
tomadora, devendo ser considerada, no
entanto, no momento do arbitramento dos
valores das indenizações. Recurso de revista
conhecido e provido no aspecto.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista


n° TST-RR-736-95.2017.5.12.0023, em que são Recorrentes NÁDIA ANA VOIDILA E
OUTROS e é Recorrido ANTÔNIO TAURINO PATRÍCIO.

O Tribunal Regional do Trabalho de origem denegou seguimento


ao recurso de revista da parte Recorrente.
Inconformada, a Parte interpõe o presente agravo de
instrumento, sustentando que o seu apelo reunia condições de admissibilidade.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do
Trabalho, nos termos do art. 95, § 2º, do RITST.
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI
13.467/2017.
PROCESSO ELETRÔNICO.
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É o relatório.

VOTO

Tratando-se de recurso interposto em processo iniciado


anteriormente à vigência das alterações promovidas pela Lei n. 13.467, de 13 de julho
de 2017, e considerando que as relações jurídicas materiais e processuais produziram
amplos efeitos sob a normatividade anterior, as matérias serão analisadas com
observância das normas então vigorantes, em respeito ao princípio da segurança
jurídica, assegurando-se a estabilidade das relações já consolidadas (arts. 5º, XXXVI, da
CF; 6º da LINDB; 912 da CLT; 14 do CPC/2015; e 1º da IN 41 de 2018 do TST).

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO

I) CONHECIMENTO

Atendidos todos os pressupostos recursais, CONHEÇO do apelo.

II) MÉRITO

ACIDENTE NO TRABALHO. ÓBITO DO TRABALHADOR


AUTÔNOMO. TOMADOR DE SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. TRABALHO EM ALTURA.
MANUTENÇÃO DE ELEVADOR DE GRÃOS EM SILO. ATIVIDADE DE RISCO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

O Tribunal Regional manteve a sentença que julgou


improcedentes os pleitos indenizatórios.
Nas razões do recurso de revista, os Autores requerem a
reforma da decisão. Apontam violação aos arts. 5º. V e X, 7º, XII e XXVII, da CF/88; 186,
187 e 927, parágrafo único, 932 e 934 do CCB, bem como divergência jurisprudencial.

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Por ocasião do primeiro juízo de admissibilidade, o Tribunal


Regional denegou seguimento ao recurso de revista. No agravo de instrumento, a parte
reitera as alegações trazidas no recurso de revista, ao argumento, em suma, de que
foram preenchidos os requisitos de admissibilidade do art. 896 da CLT.
Demonstrado no agravo de instrumento que o recurso de revista
preenchia os requisitos do art. 896 da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento
para melhor análise da arguição de violação do art. 927, parágrafo único, do CCB.
Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao agravo de instrumento
para determinar o processamento do recurso de revista.

B) RECURSO DE REVISTA

I) CONHECIMENTO

Atendidos todos os pressupostos comuns de admissibilidade,


examino os específicos do recurso de revista.

ACIDENTE NO TRABALHO. ÓBITO DO TRABALHADOR


AUTÔNOMO. TOMADOR DE SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. TRABALHO EM ALTURA.
MANUTENÇÃO DE ELEVADOR DE GRÃOS EM SILO. ATIVIDADE DE RISCO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

Para melhor compreensão do tema, transcreve-se o acórdão


recorrido:

“Trabalhador autônomo. Acidente do trabalho. Responsabilidade


civil do tomador dos serviços
Incontroverso nos autos que Zelázio Jeremias sofreu acidente do
trabalho fatal em 09/07/2017, enquanto realizava serviços de serralheria
de manutenção de um elevador de grãos em silo de armazenagem de
cereais na propriedade rural do reclamado, Antônio Taurino Patrício (fotos
às fls. 34-36). Segundo consta do boletim de ocorrência anexado aos
autos, "a vítima realiza manutenção na estrutura de ferro quando ao pisar
na escora de madeira a mesma quebrou ocasionando a queda" (fl. 31).
Em razão do falecimento do marido e pai, esposa e filhos pretendem a
condenação do reclamado no pagamento de danos morais e materiais.

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O Magistrado de primeira instância julgou improcedente o pedido. Nos


termos da sentença objurgada, o reclamando e Márcio José Luiz Pedro ME
(firma individual) firmaram contrato para a manutenção de silo de secagem
de arroz, sendo que Márcio José Luiz Pedro e o falecido Zelázio Jeremias
trabalhavam e foram contratados juntos para a execução dos serviços,
atuando o "de cujos" na condição de trabalhador autônomo.
Desta feita, o Juiz a quo analisou a eventual responsabilidade do
reclamado sob a ótica da responsabilidade subjetiva (arts. 186 e 927 do CCB),
afastando a hipótese de responsabilidade objetiva, por considerar que a
atividade desenvolvida, comparativamente a outras atividades
econômicas, não possui um grau mais acentuado de ocorrências lesivas à
saúde do trabalhador.
Nessa linha, reputou que o reclamado se desincumbiu a contento de
seu encargo probatório, comprovando a culpa exclusiva da vítima pelo
acidente. No particular, são estes os fundamentos da sentença:
Primeiro, registro que a prova produzida demonstra que o
obreiro falecido tinha experiência na atividade desenvolvida,
tanto que era conhecido na região pelo trabalho que fazia
juntamente com o Sr. Márcio José Luiz Pedro.
Segundo, depreendo do contrato de empreitada que a
questão da responsabilidade técnica e utilização de
equipamentos de segurança do trabalho ficaram a encargo
da própria contratada, que no caso eram o obreiro falecido e
o Sr. Márcio (cláusula 2, fl. 97).
Logo, tendo em vista os termos do contrato firmado com o
réu, bem como pelo fato de se tratar o obreiro falecido de
trabalhador autônomo, ele assumiu os riscos das atividades
prestadas ao réu, assim como o seu sócio de fato, pelo que
entendo que cabia a eles a adoção de medidas segurança
para evitar a ocorrência de acidentes.
Dos elementos constantes nos autos, verifico que não foi
tomada nenhuma medida nesse sentido, visto que o obreiro
falecido não usava qualquer equipamento de proteção, nem
utilizava andaimes ou cinto de segurança.
Nessa linha, discordo da conclusão da análise do acidente
de trabalho realizada pelo auditor fiscal do trabalho (fl. 281),
que imputou ao demandado o dever de aplicação das normas
de segurança do trabalho, na medida em que o obreiro anuiu
com a prestação de serviços autônomos, bem como quanto à
utilização de equipamentos de proteção.
De outro vértice, compartilho do posicionamento
firmado pelo Delegado de Polícia no relatório de investigação
do acidente de trabalho, que vitimou o "de cujus", no sentido
de que "os indicativos apontaram-no como sendo um dos

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responsáveis pela própria empreitada. Não bastasse esse mar de


dúvidas aqui relatadas, ainda resta claro e previsível que
qualquer um que ande por cima de tábuas, as quais se
encontram posicionadas em cima de um poço, se autocoloca
em uma situação de risco de, não sendo a mera entrega de
equipamento individual suficiente a impedir a causa da
morte." (fl. morte 308).
Dessarte, tenho que a causa única do acidente do trabalho
foi a conduta do "de cujus".
Logo, apurada a culpa exclusiva do trabalhador falecido,
não há falar em responsabilidade civil do réu. (fl. 350-351).
Os reclamantes recorrem em face dessa decisão. No recurso, alegam
que a vítima fora contratada informalmente, sem anotação em sua carteira de
trabalho, apenas por meio de contrato verbal, juntamente com o colega
Márcio para realizar os referidos serviços de serralheria em favor do
reclamado; e que o "contrato foi mera tentativa de fraudar a realidade dos
fatos" (fl. 365), inclusive, firmado com data retroativa. Nesse sentido,
argumentam que o contrato registra como data de assinatura 01/05/2017,
nele consta o CNPJ da empresa Márcio José Luiz Pedro-ME, todavia, conforme
consta do CNPJ da empresa, essa iniciou suas atividades apenas no dia
12/05/2017.
Referem que o acidente foi investigado pela Delegacia de Polícia de
Turvo, que instaurou o inquérito policial, concluído sem indiciamento; e que,
por outro lado, a Gerência Regional do Trabalho, por meio do auditor
fiscal do trabalho que investigou o referido acidente, constatou uma
série de irregularidades que contribuíram diretamente para o acidente
que ocasionou na morte do trabalhador falecido, sendo que o Magistrado
de primeira instância deixou de acolher a "Análise de Investigação de
Acidente" de trabalho efetuado pelo auditor.
Argumentam que a responsabilidade civil extracontratual está
alicerçada no princípio geral do direito segundo o qual qualquer pessoa que
cause dano a outrem fica obrigada a repará-lo.
Afirmam que, no presente caso, fizeram-se presentes o nexo, o dano,
além do risco da atividade, o que evidenciaria a responsabilidade objetiva
do reclamado.
Não obstante, sustentam que inexiste culpa exclusiva da vítima, uma
vez que a decisão deixou de considerar as informações importantes trazidas
pelo auditor fiscal do trabalho; que o reclamado foi autuado em oito infrações
(destaca); e que o acidente foi causado por erro exclusivo do reclamado, ao
não efetuar a fiscalização ou promover a orientação necessária para que o
trabalho fosse realizado com segurança.
O exame da responsabilidade do reclamado se dá sob a ótica da
responsabilidade subjetiva (arts. 186 e 927 do CCB), e não objetiva, pautada
no risco da atividade, como pretendem os reclamantes.

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Ocorre que os recorrentes não logram êxito em afastar o fundamento


da sentença, no sentido de que a atividade desenvolvida pelo falecido,
comparativamente a outras atividades econômicas, não possui grau mais
acentuado de ocorrências lesivas à saúde do trabalhador; a valer, esse
fundamento sequer é enfrentado especificamente no recurso.
Ademais, a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, em
julgamentos de casos semelhantes, vem se posicionando pela aplicação da
responsabilidade civil subjetiva, a exemplo do seguinte julgado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.
PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017. ACIDENTE DE
TRABALHO. TRABALHADOR AUTÔNOMO. TOMADOR DE SERVIÇOS
PESSOA FÍSICA. PEQUENA EMPREITADA. RESPONSABILIDADE
CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. Infere-se do acórdão
recorrido que o vínculo existente entre o Reclamante e
Reclamado (pessoa física) decorreu de contrato de pequena
empreitada para execução de obra certa na casa de veraneio do
Reclamado, sendo o Obreiro, trabalhador autônomo. Com efeito,
a condição de trabalhador autônomo não afasta, por si só, a
responsabilização do tomador de serviços - dono da obra -,
pois a indenização por danos morais e materiais resultantes
de acidente do trabalho tem natureza jurídica civil,
decorrente de culpa por ato ilícito - conforme previsto nos artigos
186 e 927, caput, do Código Civil. Assim, para que se possa
imputar responsabilização ao Reclamado pelo alegado acidente,
mister se faz a conjugação dos seguintes requisitos: o dano; o
nexo causal (que traduz a causalidade entre a conduta antijurídica
e o dano sofrido); e, regra geral, a culpa. Não é o caso, contudo,
de culpa presumida, que só pode ser reconhecida nas relações de
emprego, em virtude de o empregador ter o controle e a direção
sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do
estabelecimento em que ocorrer o evento danoso. Também,
segundo se extrai do acórdão, não prevalece na hipótese dos
autos a responsabilidade objetiva, uma vez que a atividade de
pedreiro desempenhada pelo Autor (profissional autônomo) não
representa um risco maior do que o vivenciado pelo indivíduo
médio. No caso concreto, o Tribunal Regional manteve a
sentença, que havia julgado improcedentes os pedidos
indenizatórios, por considerar que o acidente foi provocado por
ato inseguro do trabalhador, sem qualquer responsabilidade do
Reclamado. Nesse aspecto, constou do acórdão regional que,
conforme laudo pericial, o Autor encontrava-se em cima de uma
escada de abrir, sem equipamento de proteção individual,
quando solicitou a terceira pessoa (ex-caseiro do Reclamado) que
retirasse uma barra de ferro localizada embaixo da escada, vindo

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a tombar juntamente com esta, sofrendo uma fratura no punho.


Assentou, ainda, a Corte Regional a ausência de qualquer
determinação do Reclamado que tivesse culminado no acidente,
tendo resultado comprovado nos autos que o Reclamado
propiciou a aquisição de todos os equipamentos de proteção.
Diante desses dados fáticos incontroversos, não há dúvidas sobre
a presença dos elementos dano e nexo causal. Todavia, não se
verifica o elemento culpa. Não se observa dos fatos narrados pelo
TRT, qualquer interferência do Reclamado nos fatos que
resultaram no acidente sofrido pelo Autor. Destaca-se que no
tocante à adoção de medidas de segurança no ambiente de
trabalho, em regra, a pessoa física que contrata profissionais
autônomos, para execução de obra certa em imóvel próprio, por
não deter conhecimento técnico necessário para garantir um
ambiente de trabalho seguro e não possuir condições de fiscalizar
o cumprimento de normas de saúde, higiene e segurança do
trabalho, confia na capacidade, perícia e experiência dos
prestadores de serviços contratados. Ademais, consta do acórdão
regional está comprovado nos autos, que o Reclamado propiciou
a aquisição de todos os equipamentos de proteção. Assim, não
constatado, na hipótese, que o acidente sofrido pelo Autor tenha
decorrido de qualquer conduta do tomador de serviços, não há
falar em responsabilidade civil do Reclamado. Outrossim, para
reverter a decisão regional, seria imprescindível o revolvimento
de conteúdo fático-probatório, o que não é viável nesta instância
recursal diante do óbice da Súmula 126/TST. Agravo de
instrumento desprovido. (AIRR - 73500-95.2008.5.02.0242, Relator
Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento:
04/04/2018, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/04/2018, grifos
acrescidos).
Nessa linha, importante ter em conta que não há pedido de
reconhecimento de vínculo empregatício entre o falecido e o reclamado.
Por outro lado, está devidamente fundamentada a decisão do
Magistrado a quo, baseada nas provas carreadas aos autos, especialmente na
prova testemunhal, no sentido de que o falecido, Zelázio, trabalhava em
colaboração com Márcio e juntos foram contratados para prestar
serviços ao reclamado. É o que exsurge dos depoimentos do próprio Márcio,
da testemunha Emerson Lessa, que prestou serviços junto com os dois
primeiros, além da testemunha de defesa Aldair, como apontado na sentença
(fl. 349); provas essas, aliás, não impugnadas especificamente no recurso.
Convém aqui reproduzir os fundamentos da sentença:
[...] verifico que Marcio José Luiz Pedro, quando ouvido na
Delegacia de Polícia Civil de Turvo, declarou que ele (depoente) e
Zelázio (trabalhador falecido) "empreitaram a obra do Cilo

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diretamente de ANTÔNIO, vulgo Tonho e contrataram Emerson


para trabalhar junto [...]" (fl. 98).
Por sua vez, Emerson Lessa, o qual também prestou
serviços de manutenção, em depoimento prestado na referida
Delegacia, informou que "trabalhava no Cilo em Morro do Meio,
Turvo juntamente com MÁRCIO e ZELÁZIO; Que foi convidado por
Márcio para trabalhar com eles mas que quem acertava compras
de material era Zelázio, porém não sabe dizer se ambos eram
sócios mas que sempre os dois estavam juntos quando precisava
negociar algum serviço; Que o cilo pertence ao Sr. Tonho (não
sabe o nome) e que foi empreitado por Márcio e Zelázio [...]", fl.
100.
Corrobora a conclusão acima, o depoimento prestado pela
testemunha ALDIR, trazida em Juízo pelo réu, o qual, apesar de ter
declarado inicialmente que o obreiro falecido era ajudante do Sr.
Márcio, declarou que "Márcio e o Sr. Zelásio eram conhecidos na
região como bons profissionais nessa área de atividade, tanto que o
depoente os contratou; [...]", (grifei, fl. 344). (fl. 349, destaque no
original, grifos acrescidos).
Além da farta prova testemunhal, inclusive o auditor fiscal
do trabalho (citado no recurso) constatou que o "acidentado
e o Sr. Márcio José Luiz Pedro empreitaram o serviço de
manutenção, recuperação e pintura de um silo de secagem de
arroz." (fl. 272).
Oportuno ressaltar que não está configurada hipótese de tentativa de
transferência da prestação de serviços a pessoa jurídica inidônea,
empregadora, sob a tentativa de burlar a legislação trabalhista.
A valer, o que se depreende das provas testemunhais é que, embora a
empresa contratada estivesse apenas em nome de Márcio (firma individual),
ele e o falecido atuavam como sócios de fato, em colaboração, na condição de
autônomos.
A eventual fraude no contrato de prestação de serviços firmado entre
Márcio Luiz Pedro ME (firma individual) e o reclamado em nada altera a
circunstância, só a confirma, de que houve a contratação informal de
Márcio e do falecido, em conjunto, para a prestação serviços de
manutenção.
E não poderia ser outro o entendimento, haja vista que em momento
algum os reclamantes negam esse fato, alegam que o falecido seria
empregado da empresa Márcio Luiz Pedro ME (firma individual) ou pedem o
reconhecimento de vínculo empregatício diretamente com o reclamado
Antônio Taurino Patrício.
Diante do que subsistem incólume a conclusão de primeira instância, de
que o de cujos atuava em colaboração com Márcio na prestação dos serviços
contratados, na condição de trabalhador autônomo.

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Sobre a responsabilidade do reclamado pelo acidente, da jurisprudência


da Corte Superior Trabalhista (como na ementa já citada) extrai-se que, em
regra, a pessoa física que contrata profissionais autônomos, por não deter
conhecimento técnico necessário para garantir um ambiente de trabalho
seguro e não possuir condições de fiscalizar o cumprimento de normas de
saúde, higiene e segurança do trabalho, confia na capacidade, perícia e
experiência dos prestadores de serviços contratados.
Diz-se, em regra, pois as partes podem livremente contratar de modo
diverso. Entretanto, não é a hipótese dos autos. Ao contrário disso, segundo a
cláusula dois do contrato de prestação de serviços firmado entre a empresa
Márcio Luiz Pedro ME (firmal individual) e o reclamado, Antônio Taurino
Patrício, dispõe expressamente que o prestador dos serviços.
[...] obriga-se a desenvolver os serviços acima elencados
[manutenção, recuperação e pintura de um silo de secagem de
arroz], com boa qualidade técnica e sob sua responsabilidade
técnica, no prazo de 30 (trinta) dias, utilizando ferramentas de sua
propriedade, assim como todo o material e equipamentos de
segurança do trabalho" (fl. 97, grifei).
É certo que eventual contrato escrito, com o intuído de fraudar ou
desvirtuar a aplicação da lei trabalhista, por força do art. 9º da CLT, não teria o
condão de afastar a obrigação do empregador, de oferecer treinamento e
fornecer equipamentos de segurança adequados, bem como fiscalizar o seu
uso, entretanto, não há reconhecimento de vínculo de emprego no presente
caso, sequer pedido.
Por sua vez, no trabalho autônomo inexiste subordinação jurídica (isto
é, ao tomador de serviços não é dado impor o modo de concretização do
trabalho pactuado) e o prestador é quem assume, via de regra, o risco da
prestação de serviço. Logo, não se pode presumir que o tomador dos serviços
pessoa física, que contrata trabalhador autônomo, esteja obrigado a prestar
orientação e a fiscalizar do uso de equipamentos de segurança; sobretudo no
presente caso, em que o prestador se obrigou a utilizar os itens de segurança
do trabalho.
Assim, em que pese as considerações feitas pelo auditor fiscal do
trabalho a respeito, das circunstâncias por ele apontadas (ausência de
fiscalização e orientação sobre normas de segurança, etc.) não decorre a
culpa do tomador pelo acidente.
Ao se colocar em situação de risco, de forma autônoma (sem
subordinação) e sem o uso dos equipamentos de segurança adequados
(inclusive após ter se obrigado a tanto), imperioso concluir que o falecido,
exclusivamente, deu causa ao acidente fatal que culminou na sua morte.
Por outro lado, os reclamantes não logram êxito em comprovar,
tampouco apontar, algum ato específico a ser imputado ao reclamado, do
qual se possa inferir a sua culpa pelo acidente.
Ante o exposto, a manutenção da sentença é medida que se impõe.

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Os pedidos acessórios (honorários) seguem a sorte do principal.


Nego provimento.” (Destacamos.)

Nas razões do recurso de revista, os Autores requerem a


reforma da decisão. Apontam violação aos arts. 5º. V e X, 7º, XII e XXVII, da CF/88; 186,
187 e 927, parágrafo único, 932 e 934 do CCB, bem como divergência jurisprudencial.
Com razão.
Registre-se, inicialmente, que o TRT concluiu que restou
comprovado nos autos que a relação existente entre o “de cujus” e o Reclamado (pessoa
física) decorreu de contrato de prestação de serviços, sendo o Obreiro, trabalhador
autônomo.
Com efeito, a condição de trabalhador autônomo não afasta,
por si só, a responsabilização do tomador de serviços, pois a indenização por
danos morais e materiais resultantes de acidente do trabalho tem natureza
jurídica civil - conforme previsto nos artigos 186 e 927, caput, parágrafo único, do
Código Civil.
Conforme leciona o professor Sebastião Geraldo de Oliveira:

“Se ocorrer acidente de qualquer natureza, tanto com o empregado


doméstico quanto com o simples prestador de serviços sem vínculo de
emprego, a vítima pode ter direito à indenização por responsabilidade
civil, se estiverem presentes os pressupostos do dano, nexo causal e
culpa do empregador ou tomador de serviços.
O direito de qualquer lesado à reparação dos danos está consagrado de
modo amplo no ordenamento jurídico nacional, em especial no código civil.
Assim, não há fundamento legal ou lógico para afastá-lo nos danos
oriundos dos acidentes ocorridos com os trabalhadores domésticos ou sem
vínculo de emprego, a não ser que haja alguma das excludentes da
responsabilidade, tais como a culpa exclusiva da vítima (ou fato da vítima), o
caso fortuito ou força maior e o fato de terceiro. De todo modo serão
necessárias determinadas adaptações da regra geral, em razão da natureza
do vínculo (empregado ou autônomo), da mensuração ampla da culpa
(deveres do empregador ou do simples tomador) ou ainda critérios a
considerar na fixação do valor da indenização (caráter compensatório e
punitivo), como veremos a seguir.” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo
de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 12 ed.
Salvador: Editora Juspodivm, 2021, pg. 607)

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Assim, para que se possa imputar responsabilização ao


Reclamado pelo alegado acidente, mister se faz a conjugação dos seguintes requisitos:
o dano; o nexo causal (que traduz a causalidade entre a conduta antijurídica e o dano
sofrido); e, regra geral, a culpa.
Não é o caso, contudo, de culpa presumida, que só pode ser
reconhecida nas relações de emprego, em virtude de o empregador ter o controle e a
direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do estabelecimento em
que ocorrer o evento danoso.
No entanto, segundo os dados que se extrai do acórdão,
aplicável, na hipótese dos autos, a responsabilidade objetiva, uma vez que a
atividade desempenhada pela vítima representa um risco maior do que o vivenciado
pelo indivíduo médio.
Nas palavras do professor Sebastião Geraldo de Oliveira::

“O fundamento da reparação dos danos, nas atividades de risco,


repousa na violação do dever jurídico de garantir segurança ao
trabalhador. Quanto maior a probabilidade de ocorrer acidentes do
trabalho, pela natureza da atividade exercida, maior deverá ser a
diligência patronal na adoção das medidas preventivas. Pontua Sérgio
Cavalieri que o dever jurídico violado, no caso de responsabilidade objetiva, é
o dever de segurança que a lei estabelece, implícita ou explicitamente,
para quem cria risco para outrem.
(...)
Em síntese, na atividade de risco, o empregador indeniza o acidentado
porque violou o dever de segurança dos trabalhadores, que ficaram expostos
a uma maior probabilidade de sofrer danos. Considerando que não é possível
garantir totalmente a segurança do trabalhador, procura-se proporcionar
relativa segurança jurídica. Se na sociedade atual os riscos são crescentes e
alguns danos praticamente inevitáveis ou mesmo previsíveis, é necessário,
pelo menos, assegurar aos prejudicados que não lhes faltarão a solidariedade,
a cooperação e a reposição dos prejuízos.” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo
de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 12 ed.
Salvador: Editora Juspodivm, 2021, pg. 132)

No caso concreto, o Tribunal Regional registrou que:


"Incontroverso nos autos que Zelázio Jeremias sofreu acidente do trabalho fatal em
09/07/2017, enquanto realizava serviços de serralheria de manutenção de um elevador
de grãos em silo de armazenagem de cereais na propriedade rural do reclamado,
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Antônio Taurino Patrício (fotos às fls. 34-36). Segundo consta do boletim de ocorrência
anexado aos autos, "a vítima realiza manutenção na estrutura de ferro quando ao
pisar na escora de madeira a mesma quebrou ocasionando a queda".
Enfatize-se, ademais, que a Corte Regional anotou que a “análise
do acidente de trabalho realizada pelo auditor fiscal do trabalho (fl. 281), que imputou
ao demandado o dever de aplicação das normas de segurança do trabalho” – dever
esse, todavia, que não foi respeitado pelo tomador de serviços demandado, no
caso dos autos.
Anota-se que, ao contrário do que sustentou as instâncias
ordinárias, a controvérsia deve ser examinada sob o enfoque da responsabilidade
objetiva da tomadora ante o risco acentuado a que estava exposto o de cujus (art. 927,
parágrafo único, do CC c/c art. 7º, caput, da CF).
Não há dúvida de que a atividade nas alturas expõe o
trabalhador a riscos mais acentuados do que aquele a que se submete a
coletividade. No exercício de tais atividades, o trabalhador fica sujeito à possibilidade
de quedas, o que potencializa o risco de acidentes.
Nesse sentido:

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA


LEI 13.015/2014. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ACIDENTE DE
TRABALHO. TRABALHADORA COLHEDORA DE LARANJA. QUEDA DE
ESCADA NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO . Demonstrada possível violação do art.
927, parágrafo único, do Código Civil, impõe-se o provimento do agravo de
instrumento para determinar o processamento do recurso de revista. Agravo
de instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI
13.015/2014. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ACIDENTE DE TRABALHO.
TRABALHADORA COLHEDORA DE LARANJA. QUEDA DE ESCADA NO EXERCÍCIO
DA FUNÇÃO . 1. No caso, conforme se extrai do acórdão recorrido, o perito
judicial, ao descrever o local de trabalho da reclamante, informou que as
laranjeiras possuem de 2,5m a 3,0 m de altura. Informou também que,
para a colheita das laranjas, o reclamante tinha que subir em escadas que
possuíam 17 degraus, sendo que a distância entre o seu pé e o solo era
de 1,90m. Além disso, ainda de acordo com o expert do juízo, "a atividade de
colheita é fletida e torcida". 2. Tais aspectos fáticos revelam que a
atividade desenvolvida pela reclamante implicava maior exposição a
risco em comparação com outras atividades profissionais, ante a imensa
probabilidade de ocorrer infortúnios trabalhistas (quedas), em face do
labor sobre escadas a uma altura considerável e em postura totalmente
inadequada . 3. Assim, restando incontroverso nos autos o dano e o nexo
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causal, deve a empregadora responder pelo acidente que vitimou a obreira,


com base na responsabilidade civil objetiva. Precedente. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-479-20.2013.5.15.0058, 2ª Turma, Redatora Ministra
Delaíde Miranda Arantes, DEJT 01/02/2019). (Destacamos.)

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA


EMPRESA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS
LEIS 13.015/2014 E 13.467/2017. Quanto à PRELIMINAR DE
NULIDADE POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL,
embora a empresa afirme que foram transcritos os trechos da
petição dos embargos de declaração por meio da qual
provocada a manifestação do Tribunal a quo, da leitura atenta de
seu recurso de revista (id 5a7c29b), vê-se que a única transcrição
efetivada é da decisão proferida em sede de embargos de
declaração, restando bem aplicado o óbice do artigo 896, § 1º-A,
IV, da CLT pela Presidência do TRT para denegar seguimento ao
apelo principal, no particular. Por sua vez, no tocante ao tema
“RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR”, ressalta-se que
a Corte Regional reformou a sentença, que entendera ter
havido culpa exclusiva da vítima no infortúnio (queda de
nível elevado. causas: choque hemorrágico, abdome agudo
hemorrágico, esplenectomia, fratura úmero esquerdo) e que
culminara com a morte do trabalhador (instalador de
equipamento de comunicação). Decidiu aquela Corte que, no
caso, houve culpa concorrente e não exclusiva do trabalhador,
considerando, de um lado “o dever do empregador de ofertar
aos seus empregados meio ambiente do trabalho devidamente
equilibrado, bem como a adoção de medidas destinadas à
redução dos riscos inerentes ao labor (art. 7º, XXII, XXIII e XXVIII,
da CF)”, e, de outro, que “o de cujus utilizou equipamento do
cliente, recebeu os EPIS necessários para o desenvolvimento das
suas tarefas, inclusive escada de uso profissional e houve
orientação para trabalho em altura, ainda que não nos moldes
preconizados pela NR 35” (Grifamos). Explicitou, ainda, que
“restou demonstrado o descumprimento de normas relativas
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à segurança do trabalhador por parte da ré de forma


concorrente com o de cujus, ante a falta de comprovação de
certificado de capacitação de trabalho em altura e anotação
na ficha de registro, nos moldes preconizados na NR 35”
(g.n.). Ademais, concluiu pela aplicabilidade da responsabilidade
objetiva, firme no entendimento de que “a atuação profissional
como instalador de equipamentos de comunicação sujeita o
empregado ao convívio diário com intercorrências, em
especial, pela necessidade de labor em altura. O acidente de
trabalho discutido nos autos ocorreu quando do exercício de
atividades laborais que cotidianamente expunham o
acidentado a riscos acima daqueles a que ordinariamente
são expostos os trabalhadores em geral” e, também, da
subjetiva, ao concluir, além da ocorrência da culpa concorrente,
ser incontroversa a ocorrência do acidente de trabalho no
exercício das atividades de instalador de equipamentos de
comunicação, levando a óbito o trabalhador, em decorrência
de queda de nível elevado (causas: choque hemorrágico,
abdome agudo hemorrágico, esplenectomia, fratura úmero
esquerdo). Ora, em que pese não haver norma expressa a
disciplinar a responsabilidade objetiva do empregador, entende
esta Corte Superior que a regra prevista no artigo 7º, XXVIII, da CF
deve ser interpretada de forma sistêmica aos demais direitos
fundamentais, e a partir desta compreensão, admite a adoção da
teoria do risco (artigo 927, parágrafo único, do CCB), sendo,
portanto, aplicável a responsabilização objetiva do empregador
no âmbito das relações de trabalho para as chamadas atividades
de risco, assim como fez a Corte Regional. No caso dos autos,
não resta dúvida quanto à correta aplicação da
responsabilização objetiva, diante da negligência do
empregador em orientar o trabalhador vitimado quanto às
normas de segurança de trabalho em altura, nos moldes
preconizados pela NR-35, que exige a comprovação de

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certificado de capacitação de trabalho em altura e anotação


na ficha de registro. E, não se diga, como faz a empresa, que a
prova oral (“Sr. Rhonnye Ricardo Pereira, inquirido a convite da
parte ré”) demonstrou que foi realizada a orientação exigida,
uma vez que a empresa não se desincumbiu do ônus de
apresentar a prova documental que se refere a NR-35. Ademais,
a responsabilidade do empregador, também pela regra geral
subjetiva (artigos 186 e 927, caput, do CCB), deve ser mantida,
porquanto presentes os três requisitos necessários à sua
configuração. Os dois primeiros (dano e nexo causal), como já
referido, restou patente pela constatação incontroversa de que o
acidente de trabalho ocorreu no exercício das atividades de
instalador de equipamentos de comunicação, levando a óbito o
trabalhador, em decorrência de queda de nível elevado (causas:
choque hemorrágico, abdome agudo hemorrágico,
esplenectomia, fratura úmero esquerdo) e, o terceiro, pela
inequívoca culpa concorrente aqui já manifestada, em razão
da falha no “dever do empregador de ofertar aos seus
empregados meio ambiente do trabalho devidamente
equilibrado, bem como a adoção de medidas destinadas à
redução dos riscos inerentes ao labor (art. 7º, XXII, XXIII e
XXVIII, da CF)”, como ressaltado pela Corte Regional. Assim, por
todos os ângulos que se analise, mostram-se irreparáveis
tanto o acórdão regional quanto o despacho primeiro de
admissibilidade, devendo, ainda, ser registrado que,
considerando as circunstâncias presentes na decisão regional, as
quais denotam que a negligência do empregador na
administração dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho
concorreu para a ocorrência do acidente que vitimou o de cujus,
conclui-se que a hipótese é de incidência do óbice da Súmula
126/TST. [...] Agravo de instrumento conhecido e desprovido"
(AIRR-0001099-26.2016.5.09.0662, 3ª Turma, Relator Ministro
Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 06/08/2021).

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"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS . Demonstrado
no agravo de instrumento que o recurso de revista preenchia os
requisitos do art. 896 da CLT dá-se provimento ao agravo de
instrumento, para melhor análise da arguição de violação do art.
927, parágrafo único, do CCB, suscitada no recurso de revista.
Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE
DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. O pleito de
indenização por dano moral, estético e material resultante de
acidente do trabalho e/ou doença profissional ou ocupacional
supõe a presença de três requisitos: a) ocorrência do fato
deflagrador do dano ou do próprio dano, que se constata pelo
fato da doença ou do acidente, os quais, por si sós, agridem o
patrimônio moral e emocional da pessoa trabalhadora (nesse
sentido, o dano moral, em tais casos, verifica-se pela própria
circunstância da ocorrência do malefício físico ou psíquico); b)
nexo causal ou concausal, que se evidencia pela circunstância de
o malefício ter ocorrido em face das circunstâncias laborativas; c)
culpa empresarial (a qual é presumida, relativamente aos temas
do meio ambiente laboral e infortunística do trabalho).
Naturalmente que, em se tratando de atividade empresarial ou
de dinâmica laborativa (independentemente da atividade da
empresa) fixadoras de risco para os trabalhadores envolvidos,
desponta a exceção ressaltada pelo parágrafo único do art. 927
do Código Civil, tornando objetiva a responsabilidade
empresarial por danos acidentários (responsabilidade em face
do risco). No caso concreto, é incontroverso o acidente de
trabalho sofrido pelo Autor - queda do telhado da varanda
de residência em decorrência da quebra das telhas de
amianto. Foi consignada, ainda, a incapacidade parcial e

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temporária do Autor para realizar atividades em altura,


como a que exercia antes do seu acidente. Cinge-se, portanto,
a controvérsia à análise da culpa da Reclamada. O Tribunal
Regional deu provimento ao recurso ordinário da Reclamada
para, reformando a r. sentença, julgar improcedentes os pedidos
de indenização por danos morais e materiais , ao fundamento
que não existem elementos que demonstrem culpa ou dolo da
Reclamada (empresa do ramo de distribuição de energia elétrica)
. Contudo, sopesando-se os elementos fáticos transcritos na
decisão recorrida, notadamente o fato de o Autor realizar
atividade em contato com equipamentos elétricos e em altura,
verifica-se que a atividade realizada pela empresa implica,
por sua natureza, risco para os direitos do empregado, o que
enseja o reconhecimento da responsabilidade objetiva.
Presentes os elementos ensejadores da responsabilidade civil, o
Obreiro deve ser indenizado pelo infortúnio ocorrido. Recurso de
revista conhecido e provido" (RR-100100-73.2009.5.12.0038, 3ª
Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT
16/10/2015).

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº


13.015/2014 . INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
PENSÃO MENSAL VITALÍCIA. ACIDENTE DE TRABALHO. QUEDA
APROXIMADAMENTE DE 8M DE ALTURA DE POSTE
TELEFÔNICO. INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DE LINHAS
TELEFÔNICAS. ATIVIDADE DE RISCO. TEORIA DA
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. REFORMA DA DECISÃO
REGIONAL EM QUE SE AFASTOU CULPA (RESPONSABILIDADE
SUBJETIVA). RETORNO DOS AUTOS. O caso envolve acidente de
trabalho ocorrido com empregado na função de instalador de
linhas telefônicas e de transmissão de dados, que sofreu uma
queda de aproximadamente oito metros de altura, enquanto
trabalhava em poste telefônico. Depois de passar por

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tratamento cirúrgico e ortopédico, o trabalhador ficou com


sequela física, o que implicou perda parcial da sua capacidade
laboral. O Tribunal Regional reformou a decisão de origem e
afastou as parcelas que haviam sido deferidas ao reclamante,
por entender que não ficou demonstrada a culpa da reclamada
pelo acidente ocorrido. O Tribunal Regional do Trabalho
consignou que o próprio reclamante confirmara ter recebido
treinamento de prevenção de acidente de trabalho e os
respectivos equipamentos de proteção individual, além de ter
confessado que não seguira corretamente os procedimentos de
segurança ao não atrelar o talabarte ao cinto de segurança e não
ter amarrado a escada móvel para realizar a tarefa que
executava no momento da queda. No entanto, o artigo 927,
parágrafo único, do Código Civil preconiza que a
responsabilidade independerá da existência de culpa quando a
atividade desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem. Está-se diante da
responsabilidade objetiva, em que, mesmo ausente a culpa
ou o dolo do agente, a reparação será devida (precedentes).
Decisão regional que merece reforma. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-20682-59.2014.5.04.0030, 2ª Turma,
Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 04/05/2018).

"I-RECURSO DE REVISTA. RECLAMADAS. ANÁLISE CONJUNTA


. IDENTIDADE DE MATÉRIA. ANTERIORES ÀS LEIS NOS
13.015/2014 E 13.467/2017. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS
MORAIS E MATERIAIS. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.
CONFIGURAÇÃO. DONO DA OBRA. INAPLICABILIDADE DA OJ Nº
191 DA SBDI-1 1 - No caso é incontroversa a queda do
empregado de um andaime de 8 metros de altura, da qual
decorreu a sua morte. 2 - o TRT, embora tenha feito amplas
considerações sobre responsabilidade objetiva e inversão do
ônus da prova, decidiu também com base na prova pericial que

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demonstrou a responsabilidade subjetiva decorrente da culpa


por omissão por falta de fiscalização do correto uso dos EPIs
fornecidos, e de treinamento dos empregados para tanto. 3 -
Foram constatados, pois, todos os elementos que ensejam a
indenização por danos morais e materiais decorrentes do
acidente de trabalho: o dano, o nexo causal e a culpa da
empresa. 4 - Nesse contexto, não há utilidade em seguir na
discussão sobre responsabilidade objetiva. E, para que esta
Corte pudesse decidir de modo contrário, seria necessário o
reexame de fatos e provas, procedimento inviável, ante o óbice
da Súmula nº 126 do TST. 5 - Quanto à reponsabilidade solidária
das reclamadas, a decisão do TRT está em consonância com a
jurisprudência desta Corte Superior, a qual tem reconhecido a
responsabilidade solidária no caso do dono da obra pelo
pagamento da indenização por danos morais, quando
demonstrada a sua culpa pelo acidente de trabalho, porque não
se trata de responsabilidade pelos direitos trabalhistas em
sentido estrito, hipótese da OJ nº 191 da SBDI-1 do TST, mas pela
indenização de natureza civil (arts. 927, caput , e 942 do Código
Civil). 6 - Recursos de revista de que não se conhece. [...]
II-RECURSO DE REVISTA. ICEC . ANTERIOR ÀS LEIS NOS
13.015/2014 E 13.467/2017. DANOS MORAIS. ACIDENTE DO
TRABALHO. MORTE DO TRABALHADOR. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. MONTANTES DEVIDOS À COMPANHEIRA E AOS
FILHOS DA VÍTIMA. No caso concreto, não está demonstrada a
falta de proporcionalidade entre a fixação dos montantes das
indenizações por danos morais em R$ 39.676,00 para os autores
da demanda (companheira e filhos do de cujus) ante os fatos
comprovados. Constou do acórdão recorrido que o
trabalhador morreu em decorrência de queda de 8º andar de
andaime, sem os equipamentos de segurança devidos.
Recurso de revista de que não se conhece.. [...]

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(RR-26100-22.2006.5.01.0521, 6ª Turma, Relatora Ministra Katia


Magalhaes Arruda, DEJT 19/10/2018).

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO APÓS A LEI Nº 13.015/2014. 1. ACIDENTE DO
TRABALHO TÍPICO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. No caso, o TRT,
soberano na analise de fatos e provas, explicitou que o
empregado (coletor de resíduos urbanos - gari) sofreu queda
do caminhão pipa, de uma altura de 2,5 metros, causadora de
fratura do 5º quirodáctilo da mão direita, resultando em redução
temporária de capacidade laboral estimada em 1,2%, quando
estava verificando o nível da água do caminhão. Foi consignado,
no acórdão recorrido: "(...)o autor estava exercendo
atividade de risco (caiu de cima do caminhão pipa), sem
qualquer equipamento de proteção para tal atividade, não
havendo nem mesmo indício de que tais equipamentos (cinto
de segurança, cabos, etc) tenham lhe sido ofertados e ele os
tenha recusado. É inequívoca, portanto, a responsabilidade da
empregadora pela reparação dos danos, independentemente de
adotar-se a teoria da culpa objetiva, ou da culpa subjetiva, pois
está demonstrada a contribuição da empregadora para a
ocorrência do acidente. De todo modo, a atividade
desempenhada no momento do acidente seria apta a atrair
a responsabilidade objetiva, pois expunha o trabalhador a
risco de acidente superior à média, em especial pela falta de
EPIS." (fl. 708) Constato que o elemento culpa emergiu da
conduta negligente da reclamada em relação ao dever de
cuidado à saúde, higiene, segurança e integridade física do
trabalhador (arts. 6º e 7º, XXII, da Constituição Federal e 186 do
Código Civil), sendo certa a ausência de provas de que a
reclamada adotou medidas efetivas para prevenir o acidente que
vitimou o empregado. Ademais, constatada a presença dos

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elementos configuradores da indenização por danos morais -


dano, nexo causal e culpa -, a adoção de entendimento diverso,
como pretendido pela reclamada, a fim de se afastar a existência
do dano e a sua consequente reparação, implicaria,
necessariamente, revolvimento do contexto probatório
delineado nos autos, atraindo, assim, o óbice da Súmula 126 do
TST. 2. QUANTUM . No caso, verifica-se a observância os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade os valores
arbitrados a título de indenização por danos morais (R$3mil
reais) e pensão temporária (1,2%) a ser paga enquanto perdurar
a incapacidade. Agravo de instrumento não provido"
(AIRR-569-55.2012.5.04.0030, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria
Helena Mallmann, DEJT 12/08/2016).

No acórdão recorrido, constata-se, ainda, o posicionamento


firmado pelo Delegado de Polícia no relatório de investigação do acidente de
trabalho, que vitimou o "de cujus", no sentido de que "os indicativos apontaram-no
como sendo um dos responsáveis pela própria empreitada. Não bastasse esse mar de
dúvidas aqui relatadas, ainda resta claro e previsível que qualquer um que ande por cima
de tábuas, as quais se encontram posicionadas em cima de um poço, se autocoloca em
uma situação de risco de, não sendo a mera entrega de equipamento individual
suficiente a impedir a causa da morte".
Como visto, resulta patente tratar-se de atividade de risco a
ensejar a responsabilidade objetiva.
Pode-se entender que, inclusive nas relações de trabalho
autônomo, há a possibilidade de aplicação da teoria da responsabilidade civil
objetiva, haja vista que a incidência da diretriz constante no art. 927, parágrafo
único, do Código Civil, não se limita às relações jurídicas envolvendo os contratos
de emprego.
Por outro lado, esclareça-se, quanto à suposta culpa exclusiva
da vítima, que o fato da vítima (denominado como culpa da vítima no CCB/2002 - art.
936) é fator excludente da reparação civil, por inexistência de nexo de causalidade do
evento danoso com o exercício da atividade laboral.

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Nesse norte, a caracterização da culpa exclusiva da vítima é fator


de exclusão do elemento "nexo causal" para efeito de inexistência de reparação civil no
âmbito laboral quando o infortúnio ocorre por causa única decorrente da conduta
do trabalhador, sem qualquer ligação com o descumprimento das normas legais,
contratuais, convencionais, regulamentares, técnicas ou do dever geral de cautela por
parte de quem o contratou, ou também sem qualquer ligação com os fatores objetivos
do risco da atividade – o que não é o caso dos autos, haja vista que o acidente não
ocorreu tendo como causa única conduta do trabalhador, mas, em verdade,
esteve diretamente atrelado aos fatores objetivos do risco da atividade, além do
descumprimento do dever geral de cautela por parte do tomador de serviços.
Logo, não há falar em culpa exclusiva da vítima.
Assinale-se que a presença de culpa concorrente não é fator de
exclusão da responsabilidade civil da tomadora, devendo ser considerada, no entanto,
no momento do arbitramento dos valores das indenizações.
Pelo exposto, CONHEÇO do recurso de revista, por violação ao
art. 927, parágrafo único, do CCB.

II) MÉRITO

ACIDENTE NO TRABALHO. TRABALHADOR AUTÔNOMO.


TOMADOR DE SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. ATIVIDADE DE RISCO. RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA

Como consequência lógica do conhecimento do recurso por


violação do art. 927, parágrafo único, do CCB, DOU-LHE PROVIMENTO para, declarando
a responsabilidade civil objetiva do Reclamado pelo acidente no trabalho, determinar o
retorno dos autos ao Juízo de origem, para análise e julgamento dos pedidos
formulados pelos Autores, atrelados à responsabilidade civil pelo óbito do trabalhador,
como entender de direito.

ISTO POSTO

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ACORDAM os Ministros da Terceira Turma do Tribunal Superior


do Trabalho, à unanimidade: I - dar provimento ao agravo de instrumento para
determinar o processamento do recurso de revista; II – conhecer do recurso de revista
por violação do art. 927, parágrafo único, do CCB/02, e, no mérito, dar-lhe provimento
para, declarando a responsabilidade civil objetiva do Reclamado pelo acidente do
trabalho, determinar o retorno dos autos ao Juízo da Vara do Trabalho de origem, para
análise e julgamento dos pedidos formulados pelos Autores, atrelados à
responsabilidade civil pelo óbito do trabalhador, como entender de direito.
Brasília, 7 de dezembro de 2021.

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MAURICIO GODINHO DELGADO
Ministro Relator

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