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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR-11409-30.2017.5.18.0008

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A C Ó R D Ã O
(3ª Turma)
GMMGD/dc/lnc/pms

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.015/2014 E ANTERIOR À LEI
13.467/2017. ACIDENTE DE TRABALHO.
TRABALHADOR AUTÔNOMO. TOMADOR DE
SERVIÇOS PESSOA FÍSICA.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS E
MATERIAIS. A condição de trabalhador
autônomo não afasta, por si só, a
responsabilização do tomador de
serviços, pois a indenização por danos
morais e materiais resultantes de
acidente do trabalho tem natureza
jurídica civil, decorrente de culpa por
ato ilícito - conforme previsto nos
artigos 186 e 927, caput, do Código
Civil. Assim, para que se possa imputar
responsabilização ao Reclamado pelo
alegado acidente, mister se faz a
conjugação dos seguintes requisitos: o
dano; o nexo causal (que traduz a
causalidade entre a conduta
antijurídica e o dano sofrido); e, regra
geral, a culpa. Não é o caso, contudo,
de culpa presumida, que só pode ser
reconhecida nas relações de emprego, em
virtude de o empregador ter o controle
e a direção sobre a estrutura, a
dinâmica, a gestão e a operação do
estabelecimento em que ocorrer o evento
danoso. Também, segundo se extrai do
acórdão, não prevalece na hipótese dos
autos a responsabilidade objetiva, uma
vez que a atividade de operador de
retroescavadeira desempenhada pelo
Autor (profissional autônomo) não
representa um risco maior do que o
vivenciado pelo indivíduo médio. No
caso concreto, o Tribunal Regional
reformou a sentença para julgar
improcedentes os pedidos
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indenizatórios, por concluir pela
inexistência de responsabilidade do
tomador de serviços. Nesse sentido, a
Corte de origem registrou que não ficou
comprovado o nexo causal/concausal, bem
como a culpa do Reclamado. Sob esse
aspecto, inclusive, sequer culpa na
contratação do Reclamante restou
comprovada, visto que se infere do
acórdão regional que o Autor detinha
qualificação e domínio técnico para o
desempenho da atividade contratada.
Assim, não constatado, na hipótese, que
o acidente sofrido pelo Autor tenha
decorrido de qualquer conduta do
tomador de serviços, não há falar em
responsabilidade civil do Reclamado.
Nesse contexto, para reverter a decisão
regional, seria imprescindível o
revolvimento de conteúdo
fático-probatório, o que não é viável
nesta instância recursal diante do
óbice da Súmula 126/TST. Agravo de
instrumento desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo


de Instrumento em Recurso de Revista n°
TST-AIRR-11409-30.2017.5.18.0008, em que é Agravante JAILTON FERREIRA
DE OLIVEIRA e Agravado ELIEZER PEREIRA DE SOUZA.

O Tribunal Regional do Trabalho de origem denegou


seguimento ao recurso de revista da Parte Recorrente.
Inconformada, a Parte interpõe o presente agravo de
instrumento, sustentando que o seu apelo reunia condições de
admissibilidade.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público
do Trabalho, nos termos do art. 95, § 2º, do RITST.
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À
LEI 13.467/2017.
PROCESSO ELETRÔNICO.
É o relatório.
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V O T O

Tratando-se de recurso interposto em processo


iniciado anteriormente à vigência das alterações promovidas pela Lei n.
13.467, de 13 de julho de 2017, e considerando que as relações jurídicas
materiais e processuais produziram amplos efeitos sob a normatividade
anterior, as matérias serão analisadas com observância das normas então
vigorantes, em respeito ao princípio da segurança jurídica,
assegurando-se a estabilidade das relações já consolidadas (arts. 5º,
XXXVI, da CF; 6º da LINDB; 912 da CLT; 14 do CPC/2015; e 1º da IN 41 de
2018 do TST).

I) CONHECIMENTO

Atendidos todos os pressupostos recursais, CONHEÇO do


apelo.

II) MÉRITO

ACIDENTE DE TRABALHO. TRABALHADOR AUTÔNOMO. TOMADOR


DE SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS E
MATERIAIS

Para melhor compreensão do tema, transcreve-se o


acórdão recorrido:

“ACIDENTE DO TRABALHO. RESPONSABILIZAÇÃO


CIVIL. TOMADOR DE SERVIÇOS. AUTONOMIA DO
PRESTADOR.
Reconhecida a prestação de serviços na modalidade de trabalho
autônomo, o reclamado recorre aduzindo que „o trabalhador autônomo
como no presente caso possui independência funcional, de forma que as
precauções em relação aos riscos de seu ofício fiquem sob sua
responsabilidade‟ e que „deve-se comprovar junto ao poder judiciário a
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existência nexo causal, isto é, provar a existência de dano e que o tomador de
serviços foi causador do dano, com a presença de conduta comissiva ou
omissiva‟.
Assevera que „apenas se presentes os requisitos legais é que é possível
condenar o tomador de serviços ao pagamento de indenizações‟ e que „o
suposto evento danoso se existiu decorreu de culpa exclusiva do reclamante
ao não tomar as devidas cautelas‟.
Alega a inexistência de culpa de sua parte e que o suposto acidente
noticiado „não é acidente de trabalho, vista que o reclamante não tem vínculo
de trabalho com o reclamado, e também porque o reparo efetuado foi feito de
forma autônoma juntamente com seus ajudantes e pago o valor exigidos
pelos mesmos‟.
Acresce a existência de fato novo (queda de caminhão) não
reconhecido pelo autor, o fato de o perito médico ter relatado que „não há no
processo qualquer documento que mencione que o traumatismo tenha
decorrido das condições de trabalho (relatório de reunião de CIPA, atestado
médico da data do acidente, boletim de ocorrência, prontuário de
atendimento de urgência, etc)‟ e que „a troca da peça que alega ter sido
motivadora do suposto acidente, foi efetuada no pátio de uma oficina onde o
reclamante levou a maquina para ser reparada‟, esta oficina não contratada
pela reclamado.
Pugna pela reforma da sentença que deferiu indenização por dano
material e moral, „posto que nunca incorreu em qualquer conduta que
maculasse a honra objetiva ou subjetiva do Reclamante‟.
O autor, em contrarrazões, aduz a responsabilidade objetiva do
reclamado, alegando que exercia atividade de risco (motorista/operador).
Pois bem.
No que tange à responsabilidade por acidente do trabalho do tomador
de serviços, já manifestei no sentido de sua inocorrência, quando do
julgamento do RO - 0001871-46.2013.5.18.0111, 4ª, Turma, decisão
unânime em 03/03/2016, trecho da decisão que transcrevo abaixo:

„O prestador de serviços que trabalha com organização


própria, sem subordinação funcional, possui ampla autonomia no
exercício das suas atividades e, por consequência, assume os
riscos do seu trabalho.
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As provas dos autos convencem o Juízo de que o falecido
foi contratado pela 1ª ré para prestar serviço determinado e
especializado, presumindo-se que o prestador teria qualificação e
domínio técnicos para executar o serviço contratado.
Não ficou caracterizada qualquer dependência funcional
do falecido com a 1ª ré. Além disso, não houve produção de
prova que afastasse a presunção de domínio técnico antes
mencionada‟.
Cito, ainda, as seguintes ementas a respeito da matéria,
„verbis‟:
„TRABALHADOR AUTÔNOMO -
RESPONSABILIDADE PELOS RISCOS DA ATIVIDADE -
ACIDENTE - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. Por se tratar de trabalhador autônomo, os riscos
do trabalho prestado lhe pertencem, e, por não ser empregado, é
regido por normas de origem civil e não pela legislação
trabalhista. Destarte, não há como atribuir aos Reclamados a
responsabilidade pelo pagamento de indenização por danos
morais e materiais à família da vítima de acidente fatal‟ (TRT 3ª
Região, RO 0130200-74.2007.5.03.0153, 5ª Turma, Rel. Paulo
Roberto Sifuentes Costa, DEJT 09/12/2013). (grifei)
„ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE
CIVIL. TRABALHADOR AUTÔNOMO. O trabalhador
autônomo não sofre a ingerência do tomador de serviço na
atividade profissional. Em regra, ele detém os equipamentos e o
conhecimento para a execução de suas atividades, devendo velar
por sua segurança. Somente em casos excepcionais tem-se
atribuído ao tomador dos serviços autônomo a culpa por
acidentes sofridos por trabalhadores na execução desses
serviços, mormente quando provada a sua negligência em
permitir a realização dos trabalhos por pessoas de visível
incapacidade ou em condições de notória possibilidade de
acidentes, o que não é o caso dos autos‟ (TRT18ª Região, RO -
0010013-56.2012.5.18.0052, 1ª Turma, Rel. GENTIL PIO DE
OLIVEIRA, julgado em 13/12/2013).

Acrescento, aqui, a título de complemento, os fundamentos do voto do


ilustre Des. Mário Sérgio Bottazzo a seguir transcritos:

„Ainda que o vínculo de emprego não tenha sido


reconhecido o fato juridicamente relevante é que a matéria
relativa à indenização por danos materiais e reparação por
danos morais em razão de acidente do trabalho não está
vinculada à existência de contrato de trabalho.
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Explico.
A noção jurídica de culpa é conceito difícil (também)
porque em constante movimento.
Quando predominava a ideologia liberal a culpa era
concebida concreta e subjetivamente, assentada em pressuposto
moral que dela fazia praticamente um „pecado jurídico‟.
Importava, então, investigar se o agente tinha consciência do ato
praticado (ou seja, se tinha feito mau uso da liberdade) e se era
capaz de prever o resultado maléfico - daí a ideia muito próxima
de pecado: uma conduta culpável era uma conduta moralmente
culpável.
Isso submetia o ofendido a uma prova bem adjetivada de
diabólica, porque exigia trazer à luz os impulsos anímicos do
agente e a previsibilidade de sua conduta; essa praticamente
intransponível dificuldade implicava, naturalmente, muitos
danos não indenizados, e a exigência dos tempos trouxe uma
concepção radicalmente oposta, é dizer, puramente abstrata.
Culposa passou a ser a conduta que discrepava daquela
atribuída ao bom pater familias, nos países da civil law, ou ao
reasonable man, nos países da commom law (ao bom pai de
família e ao homem racional, respectivamente). Não surpreende
que essa expectativa referente ao agente abstrato fosse
concretizada na pessoa muito concreta de quem tinha que
compor os litígios emergentes: o julgador. Mas é evidente que
isso não satisfaz, simplesmente porque os padrões de prudência e
racionalidade de cada juiz singularmente considerado não podem
ser impostos a todas as pessoas.
Por isso, mas não só por isso, a noção jurídica de culpa
evoluiu para a consideração das circunstâncias concretas de cada
caso, levando em conta também o agente de uma perspectiva
socioeconômica, o que implicou uma fragmentação dos modelos
de conduta. Nas palavras de Anderson Schreiber (Novos
Paradigmas da Responsabilidade Civil. 5 ed. São Paulo: Atlas,
2013, pág. 41):
Sem abandonar o método in abstrato ou retornar a um
exame de imputabilidade moral, os tribunais têm, em toda parte,
procurado dar ênfase às circunstâncias concretas e à
especialidade das situações submetidas à sua avaliação,
desenhando modelos múltiplos e menos generalizados de
comportamento. Estes modelos levam em consideração não as
características individuais do sujeito (análise in concreto), mas
fatores atinentes à sua formação socioeconômica que, muitas
vezes, se vinculam indissociavelmente à situação analisada.
Superadas as noções de culpa como conduta moralmente
reprovável do agente (considerado in concreto) e de culpa como
conduta esperada de uma pessoa racional (considerada in
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abstrato), considera-se hoje culpado quem tenha aberrado da
conduta esperada numa situação concreta, observada a
„especialidade da situação‟ e os „fatores atinentes à formação
socioeconômica‟ do agente.
A importância da noção de culpa prescinde de justificação
porque o princípio do neminem laedere é substrato de qualquer
ordem jurídica que se pretenda justa, tanto assim que ele está
consubstanciado em vários dispositivos do Código Civil
Brasileiro.
Em primeiro lugar, comete ato ilícito e tem a obrigação de
indenizar quem viola direito e causa dano a outrem „por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência‟ (CCB, art. 186,
cabeça). E „também comete ato ilícito o titular de um direito que,
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes‟ (CCB, art. 187).
A lei também diz que o „dono do edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se estar
provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta‟
(CCB, art. 937).
Além disso, presumindo a culpa, diz a lei que o „dono, ou
detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior‟ (CCB, art. 936)
E o causador do dano tem a obrigação de repará-lo
„independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem‟
(CCB, art. 927, parágrafo único). Impõe a lei também às pessoas
indicadas no artigo 932 do CCB a obrigação de responder pelo
dano praticado por terceiros citados no referido dispositivo,
„ainda que não haja culpa de sua parte‟ (CCB, art. 933).
Isto posto, e na seara trabalhista, salta aos olhos a
especialíssima situação concreta do empregador, que é quem
„assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e
dirige a prestação pessoal de serviço‟ (CLT, art. 2º, cabeça). Esse
prestador pessoal de serviço é o empregado: por definição legal,
empregado é „toda pessoa física que prestar serviços de natureza
não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante
salário‟ (CLT, art. 3º, cabeça).
Por assumir o risco da atividade econômica e por admitir
trabalhadores que lhe são juridicamente subordinados, o
empregador está sujeito ao cumprimento das normas referentes à
segurança e à medicina do trabalho, elencadas no Capítulo V da
CLT, e também de todas as disposições sobre a matéria que
„sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários
dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos
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estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções
coletivas de trabalho‟ (CLT, artigo 154).
Mais explicitamente, o artigo 157, I, da CLT, diz que ao
empregador cabe cumprir e fazer cumprir as normas de
segurança e medicina do trabalho.
É importante destacar que o artigo 200 da CLT diz que
„cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições
complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em
vista as peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho‟, e
essas disposições complementares são materializadas em
Normas Regulamentadoras, cuja observância também é
obrigatória.
A situação concreta do empregador, portanto, é essa: ele
tem a obrigação de cumprir e fazer cumprir todas as normas
referentes à segurança e à medicina do trabalho, autônomas e
heterônomas, de origem legislativa (federal, estadual ou
municipal) ou regulamentar (do Poder Executivo Federal).
O texto legal pode sugerir que a obrigação de cumprir e
fazer cumprir todas as normas referentes à segurança e à
medicina do trabalho só alcança o empregador em sentido
estrito, mas essa falsa impressão não subsiste a um olhar mais
acurado.
No que interessa aqui, e pressupondo sempre a
onerosidade, empregado é a pessoa física que presta serviços de
natureza não eventual em estado de subordinação.
Ao empregador/autônomo cabe o poder de dirigir a
atividade do empregado/subordinado, exatamente porque ele - o
empregador - organiza e controla os fatores da produção. O
contrato de trabalho caracteriza-se pela subordinação, que é o
poder diretivo visto pelo lado do trabalhador. Desta forma,
empregado é quem trabalha em estado de subordinação, porque
alienou o poder de dirigir e orientar a própria atividade. Enfim,
autônomos e subordinados distinguem-se nisto: o poder de
orientar ou direcionar a própria atividade produtiva.
Naturalmente, a dupla autonomia/subordinação está
intimamente ligada à questão do controle dos meios de produção,
isto é, da reunião de condições materiais que possibilitem a
organização da própria atividade. É que o exercício autônomo de
atividade econômica pressupõe o controle dos meios de
produção necessários.
Mesmo que se trate de trabalhador autônomo
(profissionais liberais, técnicos e outros prestadores de serviços),
uma mínima infraestrutura econômica será necessária. Vale
notar, a propósito, que a recíproca não é verdadeira: a
propriedade de instrumentos de trabalho, por exemplo, não
afasta, por si só, a existência de relação de emprego.
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Eis, então, o busílis: quem organiza a própria atividade
produtiva não é hipossuficiente, exatamente por isso (a
autonomia pressupõe a idoneidade econômica); já o trabalhador
hipossuficiente que presta serviços eventualmente só não é
empregado justamente em razão da eventualidade da prestação
de serviços. Corolário é que o autônomo é o responsável por sua
própria segurança, mas não assim o trabalhador hipossuficiente,
mesmo que não seja empregado (por inexistir a habitualidade na
prestação laboral).
Ou seja: o tomador de serviços que admita trabalhadores
economicamente hipossuficientes também tem a obrigação de
cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do
trabalho.
Mas não é só.
Além de obrigado a cumprir e fazer cumprir as normas de
segurança e medicina do trabalho em relação aos empregados e
aos trabalhadores hipossuficientes que admitir sob subordinação
direta, o tomador de serviços também é obrigado a assegurar um
ambiente de trabalho saudável para os que lhe prestam serviços
em regime de subordinação indireta (temporários, vigilantes,
terceirizados), se o trabalho é prestado em suas dependências.
Além disso, o tomador de serviços (seja ou não empresa),
inclusive o dono da obra, está obrigado a indenizar o dano
sofrido por todas as pessoas atingidas por ação ou omissão
voluntária sua, negligência ou imprudência, de acordo com a
cláusula geral do princípio de não causar dano (CCB, artigos 186
e 187), reforçado e particularizado nos artigos 927, parágrafo
único, 932, 933, 936 e 937, para ficar só no Código Civil. Essas
pessoas atingidas podem ser seus clientes, vizinhos, transeuntes,
empregados de outras empresas que lhe prestem serviços, enfim,
qualquer pessoa, humana ou jurídica.
O entendimento acima exposto, com diferenças de alcance
e fundamentação, veio a ser consagrado no âmbito do Tribunal
Superior do Trabalho.
Mais precisamente, o TST firmou entendimento no sentido
de que a OJ nº 191 da SDI-1 não se aplica à responsabilidade do
dono da obra pelo pagamento de indenização decorrente de
acidente de trabalho, já que areparação dos danos morais e
indenização dos danos materiais decorrentes de acidente de
trabalho são pretensões com natureza eminentemente civil, e não
créditos trabalhistas, conforme julgados abaixo transcritos:
„RESPONSABILIDADE. DONO DA OBRA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA
DAS RECLAMADAS CARACTERIZADA.
INAPLICABILIDADE DA OJ Nº 191/SDI-1. Extrai-se do
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entendimento consubstanciado na OJ nº 191 da SBDI-1 desta
Corte que a isenção da responsabilidade do dono da obra se
restringe às obrigações trabalhistas em sentido estrito, e tal se dá
em razão da ausência de dispositivo legal a subsidiar a referida
responsabilização. Já a obrigação de indenização por danos
morais e materiais decorrente de acidente do trabalho, advém da
culpa aquiliana por ato ilícito, com previsão expressa nos arts.
186 e 927, caput, do Código Civil. Muito embora, a obrigação de
indenizar, nesse caso, decorra da existência de vínculo de
emprego, e seja julgado pela Justiça do Trabalho em razão da EC
nº 45, não se constitui uma obrigação trabalhista em sentido
estrito, mas sim civil. Assim, a matéria relacionada à efetiva
responsabilidade pelo acidente de trabalho, e a culpa
direta/indireta do empregador (prestador dos serviços) e do
tomador dos serviços é tema que implica em apreciação
desvinculada da relativa ao status de dono da obra, pois a
proteção ao empregado não decorre da prestação de serviços, em
si, mas principalmente dos elementos que norteiam a
responsabilidade civil por culpa, de quem toma os serviços para
atividade de risco e não adota a precaução necessária à proteção
do empregado (culpas in eligendo e in vigilando). Constatado,
portanto, que a reclamada, dona da obra, não cuidou de tomar as
medidas para diminuir ou eliminar os riscos da atividade,
mormente porque não cuidou de fiscalizar a execução dos
serviços da primeira reclamada, exigindo a presença de
engenheiro para projetar e fiscalizar a execução das suas obras,
bem como pelo fato de que a obra estava se desenvolvendo,
inclusive sem licença do órgão competente, subsiste a sua
responsabilidade pelo acidente, não havendo que falar em
aplicação da OJ nº 191 da SDBI-1. Embargos conhecidos e
providos‟ (E-ED-ED-ED-RR - 120200-67.2006.5.15, Relator
Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, DEJT 25/04/2014).
„RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. DONO DA
OBRA. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MORAIS.
INAPLICABILIDADE DA ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL N.º 191 DA SBDI-I DESTA CORTE
SUPERIOR. 1. Consoante entendimento sedimentado nesta
Corte superior, nos termos da Orientação Jurisprudencial n.º 191
da SBDI-I, a isenção da responsabilidade solidária ou subsidiária
do dono da obra decorre, sobretudo, da ausência de disciplina
legal a regular as responsabilidades do dono da obra de
construção civil e somente alcança as obrigações de natureza
trabalhista contraídas pelo empreiteiro. Significa dizer que a
caracterização da condição de dono da obra não é fator suficiente
para eximir o tomador dos serviços de toda e qualquer
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responsabilidade, ainda mais quando flagrante o dano causado a
terceiro, advindo da execução do contrato de empreitada. 2. Não
se afigura possível a invocação do entendimento sedimentado na
Orientação Jurisprudencial n.º 191 da SBDI-I, se a controvérsia
diz respeito à responsabilização civil do dono da obra por
acidente do trabalho ocorrido durante o cumprimento do contrato
de empreitada, máxime quando evidenciado que o contratante,
assim como o empreiteiro, não adotou as precauções necessárias
à proteção do obreiro. 3. Inviável, de outro lado, o conhecimento
de embargos, por divergência jurisprudencial, quando
inespecíficos os arestos trazidos a colação, nos termos da Súmula
n.º 296, I, do Tribunal Superior do Trabalho. 4. Recurso de
embargos não conhecido‟ (E-RR - 77500-40.2005.5.17, Redator
Ministro Lelio Bentes Corrêa, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, DEJT 21/03/2014).
„RESPONSABILIDADE DO DONO DA OBRA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO.
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 191 DA SBDI-1
INAPLICÁVEL. Ainda que se conclua pela existência de
contrato de empreitada e que a reclamada Arcelormittal se trata
de dona da obra, ao invés de tomadora de serviços, esse fato não
afastaria sua responsabilidade pela indenização pelos danos
morais e materiais decorrentes de acidente do trabalho.
Conforme jurisprudência desta Corte, a Orientação
Jurisprudencial 191 da SBDI-1 se destina apenas às obrigações
trabalhistas em sentido estrito, não alcançando as obrigações de
natureza jurídica civil, decorrentes de culpa extracontratual ou
aquiliana, o que implica a responsabilidade solidária da dona da
obra pelas indenizações em exame. No caso, foi decretada
apenas a responsabilidade subsidiária, que deve ser mantida, em
atenção ao princípio da non reformatio in pejus. Inviável, assim,
o conhecimento do recurso pela alegada má-aplicação da Súmula
nº 331, IV, desta Corte, permanecendo, ainda, intactos os artigos
5º, II, da Constituição Federal, 579 do CCB e 455 da CLT, bem
como a OJ 191 da SBDI-1 desta Corte. Recurso de revista não
conhecido‟ (ARR - 53600-56.2008.5.17.0001, Relator Ministro
Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DEJT 18/10/2013).
„AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE
REVISTA. NÃO PROVIMENTO. RESPONSABILIDADE DA
EMPRESA DONA DA OBRA PELO PAGAMENTO DA
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS ORIUNDOS DE
ACIDENTE DE TRABALHO. POSSIBILIDADE. NÃO
APLICAÇÃO DA OJ Nº 191 DA SDI-1 DO TST.
PRECEDENTES. A jurisprudência desta Corte Superior tem
reconhecido a responsabilidade solidária pelo pagamento da
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indenização por danos morais, no caso do dono da obra, quando
demonstrada a sua culpa pelo acidente de trabalho, não se
aplicando a OJ nº 191 da SBDI-1 do TST, em face da natureza
dessa indenização (arts. 927, caput, e 942 do Código Civil).
Nega-se provimento a agravo de instrumento pelo qual o
recorrente não consegue infirmar os fundamentos do despacho
denegatório do recurso de revista‟ (AIRR -
359-27.2011.5.04.0551, Relatora Ministra Kátia Magalhães
Arruda, 6ª Turma, DEJT 6/9/2013).
„AGRAVOS DE INSTRUMENTO. RECURSOS DE
REVISTA DAS RECLAMADAS. ANÁLISE CONJUNTA. 1.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 2.
PRELIMINAR DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. 3. COMPANHEIRA DE TRABALHADOR
FALECIDO. COMPROVADA A UNIÃO ESTÁVEL.
LEGITIMIDADE ATIVA. 4. ACIDENTE DO TRABALHO.
PRETENSÃO INDENIZATÓRIA DE NATUREZA CIVIL.
INTERFERÊNCIA DA DONA DA OBRA NA EXECUÇÃO
DO SERVIÇO DE EMPREITADA. INAPLICABILIDADE DA
OJ 191/SBDI-1/TST. 5. DANOS MORAIS E MATERIAIS.
RESPONSABILIDADE CIVIL. QUANTUM ARBITRADO
PARA EX-COMPANHEIRA E FILHO MENOR. DECISÃO
DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. A jurisprudência desta
Corte, consubstanciada na OJ 191 da SBDI-1, é no sentido de
que, diante da inexistência de previsão legal específica, o
contrato de empreitada de construção civil entre o dono da obra e
o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou
subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo
empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa
construtora ou incorporadora. Entretanto, nas lides envolvendo
demandas oriundas de acidente do trabalho e/ou doença
ocupacional ou profissional, por se tratar de pretensões com
natureza eminentemente civil (indenizações por danos morais e
materiais), esta Corte tem se direcionado no sentido de que não
se aplica a regra excludente de responsabilidade referida no
citado verbete, o qual restringe expressamente a abrangência de
sua disposição às 'obrigações trabalhistas contraídas pelo
empreiteiro'. Nessa senda, a SDI-1/TST, em sessão realizada no
último dia 22/11/2012, firmou o entendimento da
responsabilidade solidária do dono de obra pelas indenizações
devidas por danos morais, estéticos e materiais resultantes de
acidente de trabalho decorrentes de culpa por ato ilícito.
Igualmente nesse caminho, precedentes atuais do STF.
Registre-se que a responsabilidade do dono da obra pelos danos
materiais e morais decorrentes de acidente do trabalho resulta
diretamente do Código Civil (art. 932, III; art. 933; parágrafo
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único do art. 942, todos do CCB/2002), sendo, conforme o CCB,
de natureza solidária. No caso concreto, a discussão abrange um
acidente ocorrido no decorrer da execução de contrato de
empreitada celebrado entre a primeira e a terceira Reclamadas. O
TRT consignou que ambas, prestadora e tomadora dos serviços,
incorreram em culpa no acidente que causou a morte do
trabalhador, vítima de um desabamento de terra, em decorrência
de alteração do projeto inicial e inexistência de
redimensionamento técnico na execução do novo projeto. Vale
destacar, por oportuno, que a empresa contratante acompanhou e
interferiu na execução dos serviços contratados, junto à empresa
empreiteira - conforme consta no acórdão -, fato que, por si só,
também afasta a aplicação da OJ 191/SBDI-1/TST. Desse modo,
por qualquer ângulo que se analise a controvérsia, deve ser
mantida a condenação solidária. Não há como assegurar o
processamento dos recursos de revista quando os agravos de
instrumento interpostos não desconstituem a decisão
denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos
Agravos de instrumento desprovidos‟ (AIRR -
37100-26.2006.5.02.0251, Relator Ministro Mauricio Godinho
Delgado, 3ª Turma, DEJT 24/5/2013).
„RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI
11.496/2007. ACIDENTE DO TRABALHO. PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA DE NATUREZA CIVIL.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DONO DA OBRA QUE
SE IMISCUIU NA EXECUÇÃO. CULPA COMPROVADA.
NÃO APLICABILIDADE DA OJ 191 DA SBDI-1 DO TST.
Hipótese em que a Turma do TST manteve a responsabilidade
solidária da empresa dona da obra pelo pagamento das
indenizações decorrentes de acidente do trabalho. O Colegiado
afastou a tese de contrariedade à Orientação Jurisprudencial 191
da SBDI-1 do TST por dois fundamentos. O primeiro, por
considerar que o verbete refere-se apenas a obrigação trabalhista
em sentido estrito, não abrangendo, portanto, indenização de
natureza civil. O segundo, relativo ao fato de a recorrente, apesar
de invocar a condição de dona da obra, haver se envolvido
diretamente na execução respectiva e no desenvolvimento das
atividades do reclamante, tendo sido comprovada a sua conduta
omissiva em relação à segurança do ambiente laboral. Quanto a
esse segundo fundamento, a Turma registrou que o trabalhador
laborava na montagem de um silo, caiu de uma altura de dezoito
metros, e, já no chão, foi atingido pelo balancim que se
desprendeu e provocou o acidente. Acrescentou que esse
balancim foi confeccionado com restos de materiais e ferragens
recolhidos no próprio pátio da recorrente onde eram executadas
as obras, sem observância de qualquer norma técnica. Consignou
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não haver provas de que tenham sido fornecidos equipamentos
de proteção individual ao autor, tampouco treinamento para
trabalho em local elevado. Registrou, por fim, que as instruções
gerais de segurança foram passadas por ambas as reclamadas, e a
empresa dona da obra destacou um técnico de segurança para
acompanhar a execução de tais obras e proferiu palestra a
respeito de segurança aos empregados da empresa contratada,
não contemplando, contudo, o treinamento do autor para o citado
labor em local elevado. A decisão da Turma não implica
contrariedade à OJ 191, na medida em que a orientação contém
exegese dirigida ao art. 455 da CLT, dada a ausência de previsão
do dispositivo acerca da responsabilidade do dono da obra. Não
por outra razão, o verbete restringe a sua abrangência às
'obrigações trabalhistas'. O pleito de indenização por danos
morais, estéticos e materiais decorrentes de acidente de trabalho
apresenta natureza jurídica civil, em razão de culpa aquiliana por
ato ilícito, consoante previsão dos arts. 186 e 927, caput, do
Código Civil. Não se trata, portanto, de verba trabalhista stricto
sensu. Ademais, mesmo para aqueles que entendem tratar-se de
verba tipicamente trabalhista, constata-se, pela tese registrada na
decisão da Turma, ter a recorrente efetivamente extrapolado os
limites de sua condição de dona da obra, quando 'se envolveu na
execução das obras e no desenvolvimento das atividades do
reclamante'. Essa conduta é suficiente para demonstrar que a
recorrente abriu mão do eventual privilégio de não responder
pelas obrigações trabalhistas, o qual poderia invocar em seu
favor, pois ficou efetivamente demonstrada a sua culpa no
acidente. Inconteste a responsabilidade da recorrente no evento
que vitimou o autor, nos termos dos arts. 927 e 942, parágrafo
único, do Código Civil. Recurso de embargos não conhecido‟
(E-RR - 9950500-45.2005.5.09.0872, Relator Ministro Augusto
César Leite de Carvalho, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, DEJT 7/12/2012).
Enfim, como se vê na farta jurisprudência, o dono da obra é
responsável pelos danos decorrentes de acidente de trabalho
sofrido por empregado de prestador de serviços por ele
contratado nos termos da lei civil: se decorrente de ato ilícito, por
culpa ou dolo; se decorrente de atividade lícita perigosa, a
responsabilidade é objetiva.
Retomando o caso dos autos, vejo que a prova oral
produzida revela que o reclamante era trabalhador autônomo.
Logo, o obreiro era responsável por sua própria segurança, de
modo que não se pode atribuir ao reclamado responsabilidade
pelo acidente.
No contrato de trabalho o trabalhador oferece sua energia
para o tomador, que tem o poder de modular a prestação laboral;
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já em todos os outros serviços, definidos como "qualquer
atividade fornecida no mercado de consumo" (CDC, art. 3º, § 2º),
o que se entrega não é energia humana, mas resultado,
justamente porque o prestador ativa-se autonomamente, ou seja,
ele organiza a própria atividade produtiva, mesmo que seja uma
pessoa humana (inclusive na empreitada de lavor).
Em outras palavras, no contrato de trabalho a pessoa
humana fornece trabalho modulável pelo tomador; nos contratos
de serviço, o prestador (inclusive a pessoa humana) organiza sua
atividade produtiva e fornece resultado.
No caso, não houve contratação de força de trabalho, mas
sim contratação de um serviço (construção de cerca de arame),
que foi prestado por trabalhador autônomo‟.
Nesse diapasão, mantida a relação de trabalho autônoma entre
reclamante e reclamado, corroborado que o reclamante não sofria
ingerência do tomador de serviço em sua atividade, devendo, ele mesmo,
velar por sua segurança, não há falar-se em responsabilidade deste
último no caso em análise.
Ademais, a título de reforço argumentativo, no caso em testilha
não ficou comprovado de forma indene de dúvida o nexo
causal/concausal e a culpa do tomador/reclamado, tanto porque a
perícia médica afirmou que ‘não é tecnicamente possível afirmar pela
existência de nexo causal ou concausal’, quanto porque incomprovada
negligência do reclamado na permissão de trabalho do qual sabia,
visivelmente, que o reclamante não fosse capaz ou que tivesse condições
notórias de acidente.
Logo, reformo a sentença de origem e julgo improcedentes os
pedidos indenizatórios decorrentes de acidente, pois, inexistente vínculo
de emprego e responsabilidade do tomador de serviços.
Dou provimento.” (destacamos)

A Parte, em suas razões recursais, pugna pela reforma


do acórdão regional quanto ao tema em epígrafe.
Sem razão.
Registre-se, inicialmente, que o TRT concluiu que
restou comprovado nos autos que a relação existente entre o Reclamante
e Reclamado (pessoa física) decorreu de contrato de prestação de
serviços, sendo o Obreiro, trabalhador autônomo.
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Com efeito, a condição de trabalhador autônomo não
afasta, por si só, a responsabilização do tomador de serviços, pois a
indenização por danos morais e materiais resultantes de acidente do
trabalho tem natureza jurídica civil, decorrente de culpa por ato ilícito
- conforme previsto nos artigos 186 e 927, caput, do Código Civil.
Assim, para que se possa imputar responsabilização ao
Reclamado pelo alegado acidente, mister se faz a conjugação dos seguintes
requisitos: o dano; o nexo causal (que traduz a causalidade entre a
conduta antijurídica e o dano sofrido); e, regra geral, a culpa.
Não é o caso, contudo, de culpa presumida, que só pode
ser reconhecida nas relações de emprego, em virtude de o empregador ter
o controle e a direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação
do estabelecimento em que ocorrer o evento danoso.
Também, segundo se extrai do acórdão, não prevalece,
na hipótese dos autos, a responsabilidade objetiva, uma vez que a
atividade de operador de retroescavadeira desempenhada pelo Autor
(profissional autônomo) não representa um risco maior do que o vivenciado
pelo indivíduo médio.
No caso concreto, o Tribunal Regional reformou a
sentença para julgar improcedentes os pedidos indenizatórios, por
concluir pela inexistência de responsabilidade do tomador de serviços.
Nesse sentido, a Corte de origem registrou que não ficou comprovado o
nexo causal/concausal, bem como a culpa do Reclamado. Sob esse aspecto,
inclusive, sequer culpa na contratação do Reclamante restou demonstrada,
visto que se infere do acórdão regional que o Autor detinha qualificação
e domínio técnico para o desempenho da atividade contratada.
Assim, não constatado, na hipótese, que o acidente
sofrido pelo Autor tenha decorrido de qualquer conduta do tomador de
serviços, não há falar em responsabilidade civil do Reclamado.
Ademais, à míngua de premissas fáticas que viabilizem
conferir enquadramento jurídico distinto do constante no acórdão do TRT,
conclui-se que para reverter a decisão regional, seria imprescindível
o revolvimento de conteúdo fático-probatório, o que não é viável nesta
instância recursal diante do óbice da Súmula 126/TST.

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Nesse sentido, cita-se o seguinte julgado desta Corte
Superior:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017. ACIDENTE DE
TRABALHO. TRABALHADOR AUTÔNOMO. TOMADOR DE
SERVIÇOS PESSOA FÍSICA. PEQUENA EMPREITADA.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS.
Infere-se do acórdão recorrido que o vínculo existente entre o Reclamante e
Reclamado (pessoa física) decorreu de contrato de pequena empreitada para
execução de obra certa na casa de veraneio do Reclamado, sendo o Obreiro,
trabalhador autônomo. Com efeito, a condição de trabalhador autônomo não
afasta, por si só, a responsabilização do tomador de serviços - dono da obra -,
pois a indenização por danos morais e materiais resultantes de acidente do
trabalho tem natureza jurídica civil, decorrente de culpa por ato ilícito -
conforme previsto nos artigos 186 e 927, caput, do Código Civil. Assim, para
que se possa imputar responsabilização ao Reclamado pelo alegado acidente,
mister se faz a conjugação dos seguintes requisitos: o dano; o nexo causal
(que traduz a causalidade entre a conduta antijurídica e o dano sofrido); e,
regra geral, a culpa. Não é o caso, contudo, de culpa presumida, que só pode
ser reconhecida nas relações de emprego, em virtude de o empregador ter o
controle e a direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do
estabelecimento em que ocorrer o evento danoso. Também, segundo se
extrai do acórdão, não prevalece na hipótese dos autos a responsabilidade
objetiva, uma vez que a atividade de pedreiro desempenhada pelo Autor
(profissional autônomo) não representa um risco maior do que o vivenciado
pelo indivíduo médio. No caso concreto, o Tribunal Regional manteve a
sentença, que havia julgado improcedentes os pedidos indenizatórios, por
considerar que o acidente foi provocado por ato inseguro do trabalhador, sem
qualquer responsabilidade do Reclamado. Nesse aspecto, constou do
acórdão regional que, conforme laudo pericial, o Autor encontrava-se em
cima de uma escada de abrir, sem equipamento de proteção individual,
quando solicitou a terceira pessoa (ex-caseiro do Reclamado) que retirasse
uma barra de ferro localizada embaixo da escada, vindo a tombar juntamente
com esta, sofrendo uma fratura no punho. Assentou, ainda, a Corte Regional
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a ausência de qualquer determinação do Reclamado que tivesse culminado
no acidente, tendo resultado comprovado nos autos que o Reclamado
propiciou a aquisição de todos os equipamentos de proteção. Diante desses
dados fáticos incontroversos, não há dúvidas sobre a presença dos elementos
dano e nexo causal. Todavia, não se verifica o elemento culpa. Não se
observa dos fatos narrados pelo TRT, qualquer interferência do Reclamado
nos fatos que resultaram no acidente sofrido pelo Autor. Destaca-se que no
tocante à adoção de medidas de segurança no ambiente de trabalho, em regra,
a pessoa física que contrata profissionais autônomos, para execução de obra
certa em imóvel próprio, por não deter conhecimento técnico necessário para
garantir um ambiente de trabalho seguro e não possuir condições de
fiscalizar o cumprimento de normas de saúde, higiene e segurança do
trabalho, confia na capacidade, perícia e experiência dos prestadores de
serviços contratados. Ademais, consta do acórdão regional está comprovado
nos autos, que o Reclamado propiciou a aquisição de todos os equipamentos
de proteção. Assim, não constatado, na hipótese, que o acidente sofrido pelo
Autor tenha decorrido de qualquer conduta do tomador de serviços, não há
falar em responsabilidade civil do Reclamado. Outrossim, para reverter a
decisão regional, seria imprescindível o revolvimento de conteúdo
fático-probatório, o que não é viável nesta instância recursal diante do óbice
da Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR -
73500-95.2008.5.02.0242 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado,
Data de Julgamento: 04/04/2018, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
06/04/2018)

Ressalte-se que as vias recursais extraordinárias


para os tribunais superiores (STF, STJ, TST) não traduzem terceiro grau
de jurisdição; existem para assegurar a imperatividade da ordem jurídica
constitucional e federal, visando à uniformização jurisprudencial na
Federação. Por isso seu acesso é notoriamente restrito, não permitindo
cognição ampla.
Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de
instrumento.

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ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Terceira Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, à unanimidade, negar provimento ao agravo de
instrumento.
Brasília, 28 de maio de 2019.

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MAURICIO GODINHO DELGADO
Ministro Relator

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