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SEBENTA 2021
2021
JOANA MOSER
Responsabilidade Civil | Joana Moser
Índice
INTRODUÇÃO 3
I. A RESPONSABILIDADE CIVIL 3
II. TRAÇOS FUNDAMENTAIS 3
I. TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL 5
III. CONCEITO DE DANO 6
1. Apuramento do dano 7
RESPONSABILIDADE EXTRA-OBRIGACIONAL 7
I. ART. 483º - CLÁUSULA GERAL POR FACTO ILÍCITO EXTRA -OBRIGACIONAL 7
1. Requisitos cumulativos 8
1.1. Voluntário 8
1.1.1. Incapacidade Acidental - danos provocados p/motivos de força maior 8
1.2. Ilícito 9
1.2.1. El. Objetivo 10
1.2.2. El. Subjetivo 11
1.2.3. Casos em que a distinção entre uma pessoa que atue com dolo ou negligência é
relevante 12
2.1.1.1. Art. 494º - Limitação da indemnização no caso de mera culpa 12
2.1.1.2. Art. 496º-4 – Danos não patrimoniais (na fixação o T considera o 494º); 12
2.1.1.3. Art. 570º - Culpa do lesado 13
1.2.4. El. de verificação negativa: ausência de uma causa ou justificação para que a
violação tenha sido de facto “ilicitamente” cometida. 14
2.1.1.4. Figuras que apesar do dolo o OJ afirma não haver facto ilícito 15
1.3. Culposo 15
1.3.1. Só se pode considerar objeto de censura o que for imputável à decisão do agente.
16
1.3.2. Art. 488º - Imputabilidade 17
1.3.3. Tipos de culpa 18
1.3.4. Critério da exigibilidade 18
1.4. Danoso 19
1.4.1. Teoria da Causalidade Adequada 20
2. Requisitos verificados = obrigação de indemnizar (arts. 562º e ss.) 21
1.5. Como se faz esta reparação dos danos? 21
1.5.1. Danos não patrimoniais 21
1.5.2. Danos patrimoniais 21
1.6. Prescrição (art. 227º-2 que remete para o art. 498º): 22
II. AUTONOMIZAÇÃO DE SITUAÇÕES DE RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRA -OBRIGACIONAL 23
1. Ofensa do crédito e bom nome (Art. 484º) 23
2. Conselhos, recomendações, informações (Art. 485º) 23
3. Omissões (Art. 486º) 24
III. IMPUTAÇÃO ESPECÍFICA (DESVIO AO ART. 483º) 24
1. Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem (Art. 491º) 24
2. Danos causados por edifícios ou outras obras (Art. 492º) 25
3. Danos causados por coisas, animais ou atividades (Art. 493º) 25
4. Indemnização em caso de lesão ou morte de animal (Art. 493º-A) 26
5. Indemnização a terceiros em caso de morte ou lesão corporal - danos patrimoniais (Art.
495º) 26
6. Danos não patrimoniais - ressarcibilidade do dano morte (Art. 496º) 26
7. Responsabilidade Solidária 27
I. ESQUEMA FINAL DA RESPONSABILIDADE EXTRA-OBRIGACIONAL 28
RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 29
I. ARTS. 798º E SS. 29
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Introdução
I. A responsabilidade civil
A RC é uma das fontes das obrigações pelo que, a base legal principal está presente no CC,
arts. 483º ss. A RC distingue-se de muitas outras figuras devido a:
Contudo, existem situações particulares em que o OJ se desvia desta regra geral, por
um conjunto de razões variadas. Neste sentido, o OJ considera que a solução adequada
não é que cada um de nós comporta mas que tenha, pelo menos, a possibilidade de
imputar aos outros a consequência a que esses danos se reportam acabam por não ser
absorvida na esfera jurídica inicial, mas sim na esfera jurídica de outro.
1Crela doutrinária: no direito português não é permitido defender os danos punitivos. O professor VN
acredita que não há espaço para tal e, que tal regime pode constituir um incentivo à prática de
consequências negativas. Aqueles que creem que seja possível defender os danos punitivos incorrem de
um erro – erro de procurar que a RC dê aquilo que ela não quer dar.
2 O Direito Privado não trabalha com sanções: a resposta civil, ainda que uma consequência negativa, não
é um castigo. Para além disso, importa notar que por muito censurável que um comportamento seja, se
não houver danos, a RC “não é chamada.” A obrigação de indemnizar nunca vai para além dos danos.
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Contudo, isto pode ter desvantagens no caso de o dano ser de tal forma elevado e
pessoa em causa não tem forma de responder patrimonialmente, não irá fazê-lo. Isto
porque, o dano só irá ser respondido na medida do patrimonialmente possível da pessoa
que causou o resultado negativo. Neste sentido, é demonstrada a função
exclusivamente reparadora da RC.
a. É preciso que exista uma norma que imponha, naquelas situações concretas, que
alguém responda pelos danos causados. Se não identificarmos esse título de
imputação a RC não existe.
ii. RC pelo risco: o OJ diz “tu não fizeste nada de mal i.e., não praticaste nenhum
comportamento contrário ao que te impunha. Contudo, no âmbito do que
podes fazer concretizaste um risco para os outros e criaste um dano para o
lesado. Assim, se suportaste e criaste um risco deves reparar o dano do outro”.
“Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei”
Art. 483º-2
✓ O que o OJ visa aqui dizer não é que possa haver RC nos outros casos não especificados
na lei. Contudo, mostra uma situação em que os títulos de imputação podem ter duas
características diferentes: tipos de imputação abertos ou fechados.
Mas temos de ter sempre um título de imputação na responsabilidade por factos ilícitos.
Assim, temos aquilo a que chamamos um título de imputação aberto porque está
construído em termos que determinam a sua a culpabilidade num OJ.
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I. Tipos de responsabilidade civil
situações de
fronteira/transição entre a RC
Tipos de RC 3ªvia
extra-obrigacional e a
obrigacional.
iv. Pós-contratual (menos falada) - quando existem deveres que vão para além do
contrato pelo princípio da boa-fé e estes são violados.
Ex.: acidente automóvel geral poderá cair neste tipo de responsabilidade. Ora, se o sujeito
estiver a conduzir embriagado poderá cair na responsabilidade por facto ilícito.
A diferença entre as duas, é aquilo a que se chama dano, de acordo com o artigo 564º-1 podem
ser:
> Danos emergentes: prejuízo causado/aquilo que se perde;
> Lucro cessante: benefícios que deixou de se ter em função do facto; aquilo que se
deixou de ganhar.
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Estes danos são indemnizáveis, obrigação que nasce para os reparar3. Quando a reparação é
integral e é perfeita, anula-se a diferença que existe entre a situação real e a situação hipotética.
O melhor que o lesado pode ficar é nesta situação hipotética, aquela em que estaria se não fosse
o facto gerador de responsabilidade.
O lesado não pode, nunca e em caso algum, ficar melhor após a indemnização do que estaria
na situação hipotética.
1. Apuramento do dano
Não se confunde com a violação de situações jurídicas ativas. Não posso dizer que violar o
direito de propriedade é um dano. Isto porque, dano são as consequências práticas que resultam
dessa violação.
A distinção entre danos presentes e danos futuros surge no artigo 564º-2. Todos estes danos
são indenizáveis, porque os danos futuros, por definição, hão de tornar-se, no futuro, em danos
presentes. Os danos presentes são aqueles que já se concretizaram num momento em que eu
identifico as consequências danosas de um determinado facto4. Os futuros só são ressarcíveis
se for previsível a sua superveniência.
É diferente fazer a análise quando está em causa:
(a) um direito - eu escolho os interesses que quero prosseguir com esse direito. Assim, em
abstrato tudo vai ser restituído porque todos os interesses que se queira prosseguir estão
ao abrigo do direito.
(b) uma norma legal determinada a proteger interesses alheios, apenas estes são protegidos e
mais nenhum. Assim, os danos ressarcíveis são apenas os que a norma em concreto visa
proteger. Todos os outros não são ressarcíveis.
Responsabilidade Extra-obrigacional 5
3Ex.: Uma pessoa atira uma pedra contra um vidro de um táxi e parte-o. O proprietário do táxi vai à
oficina para pôr o vidro de novo. A despesa que tem na oficina corresponde a um dano emergente:
aquilo que ele vai despender no sentido de reparar aquilo que perdeu. Enquanto o táxi está na oficina,
o taxista não conseguiu trabalhar: para além do que perdeu na oficina, perdeu o que deixou de ganhar
no dia de trabalho (lucro cessante).
4Ex.: Estou a fazer este exercício pressupondo que o arranjo do táxi vai demorar uma semana. Pensando
nisso, a partir de quarta-feira, o lucro cessante de segunda, terça e quarta é presente, o de quinta e sexta
é futuro.
5 Também denominada de extracontratual, aquiliana ou delitual.
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1.Requisitos cumulativos
Na responsabilidade civil extra-obrigacional, estamos a falar de factos ilícitos, há uma
reprovação e censura tal do comportamento de alguém que nasce a obrigação de indemnizar.
Mas para isso, é necessário que estejam verificados cumulativamente os requisitos do art. 483º-
1 CC quanto a esse comportamento:
1.1. Voluntário
Se pela experiência e razoabilidade verificarmos que uma ação (ou não ação8) de uma
determinada pessoa corresponde a uma decisão dessa pessoa de fazer ou não aquele ato. Para
o Direito Privado, o que é voluntário?
Note-se que, não é necessária uma predeterminação da conduta. Por exemplo, um nadador
salvador que adormece. Ora, ele controlou o momento em que adormeceu, sabendo que estava
de serviço. Assim, segundo o critério objetivo do art. 236º isso correspondeu a uma decisão sua
pelo que o facto é voluntário9.
Devem ficar de fora da RC todos os casos em que os danos são provocados por motivos de
força maior ou pela atuação irresistível de circunstâncias fortuitas.
No que toca à incapacidade acidental, i.e. a privação da capacidade de entender os seus
próprios atos, só a própria pessoa o pode arguir (serve para se proteger). Os requisitos são:
i. relação causa-efeito entre a decisão e o estado de incapacidade;
ii. o facto era notório – qualquer pessoa repararia.
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Não podemos compreender exatamente o que estava na cabeça do agente, mas segundo
regras de comportamento comum, da situação concreta e dos fatores externos concretos
deduzimos se o comportamento era voluntário ou não.
1.2. Ilícito
Este requisito está presente no nº 1 do art. 483º, latu sensu - “violar ilicitamente”. A ilicitude
é toda a conduta contrária ao ordenamento jurídico. Porém, no âmbito da responsabilidade
extra-obrigacional cabe averiguar 3 requisitos:
Existem assim 3 requisitos que se tem de verificar, para concluir que o comportamento é
contrário ao direito (ilicitude):
El. objetivo
violação do interesse de
outrem
Requisitos da ilicitude
a pessoa sabe da possibilidade de vir
a violar o direito de outrem mas por
negligência consciente não seguir as regras de
cuidado, convence-se que não vai
acontecer nada.
Consentimento do Lesado -
art. 340º
Colisão de Direitos
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Ex.: a infração de uma lei que imponha determinadas providências sanitárias ou proíba
o estacionamento de veículos em certos locais.
i. Que à lesão dos interesses particulares corresponda a ofensa de uma norma legal;
ii. Que se trate de interesses alheios legítimos ou juridicamente protegidos por essa
norma e não de simples reflexos por ela apenas reflexamente protegidos, enquanto
tutela interesses gerais indiscriminados;
iii. Que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse privado que a lei tutela.
Se essa situação jurídica passiva for uma norma de proteção indireta (i.e. considera as
pessoas individualmente), então pode-se aplicar o nº1 do 483.º; se for de proteção reflexa
(i.e. considera a comunidade como um todo, protege um bem público – por ex. vacinação
obrigatória), então não se pode aplicar o nº113.
+
A lei inclui também a obrigação de reparar em consequência de omissões (art. 486º).
10 Constituem exemplos os direitos reais (arts. 1251º e ss.) e os direitos de personalidade (arts. 70º e ss.)
11 Reserva-se para A o bem x, de modo que se gera um dever de respeito pelos demais em relação a esse
bem.
12 Violação de preceito legal tendente à proteção de interesses alheios
13 Ex.: Existe uma norma que diz que ninguém pode perturbar a normal deslocação de transportes
públicos com o objetivo de permitir que os transportes públicos andem a horas. Imagine-se uma pessoa
que impede o autocarro de se deslocar e outra que perde a entrevista de emprego. Isto é uma norma
reflexa ou indireta? Se for uma norma reflexa não há indemnização. Se, ao contrário, estiver em causa
não a proteção e um bem público, mas do conjunto de pessoas que andam de autocarro, estaríamos
perante uma norma de proteção indireta. Havendo proteção indireta, já haveria indemnização.
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O facto que gera a responsabilidade pode ser positivo ou negativo, ambos podem ser
causa de responsabilidade civil.
Além dos requisitos legais que surgem do art. 482º CC, deve existir um dever de praticar
o ato omitido – aquilo que caracteriza a ilicitude é os requisitos gerais desta em conjunção
com o dever de atuar naquele caso concreto. Este dever pode ser resultante da lei ou de
negócio jurídico.
Note-se que, aqui trata-se de lei no sentido amplo, incluindo-se tudo aquilo que uma
pessoa média de boa fé faria. Já por negócio jurídico tem-se apenas os casos de
responsabilidade extra-obrigacional, isto é, quando não existe entre responsável e lesado
qualquer vinculo jurídico direto, ou seja, em que há contratos que beneficiam terceiros e
esses terceiros vêm pedir a responsabilidade pelos danos (se não, seria responsabilidade
obrigacional e não extra-obrigacional.
Ex.: animal que se atravessa na estrada por não haver proteções e estraga o carro, sendo
que o contrato é entre o Estado e a quem foi concedida a estrada, mas o objetivo era a proteção
do terceiro, o condutor, que foi o lesado.
Mais além, a ilicitude não basta somente que eu viole uma norma legal destinada a proteger
os interesses de outrem, é necessário que eu o faça dolosamente ou negligentemente
(elementos subjetivos):
Para muitos autores “o dolo ou a mera culpa” (483º-1) são elementos da ilicitude, no
entanto, não faria sentido dizer que um facto é ilícito sem ter o mínimo de imputação do agente,
bastando ser um resultado indesejado - o facto e a valoração que merece é a circunstância
subjetiva do facto ser resultado da decisão que o agente tomou.
A mera culpa = negligência - não há ligação entre a intenção e o facto (como no dolo), o que
censuramos é a violação dos deveres de cuidado, o desvalor está neste desvio face à diligência
que deveria ter tido na situação concreta. O padrão pelo qual se afere a diligência é o do bom
pai de família (487º-2).
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Ex.: entro num carro bêbado para o conduzir e digo “mas que raio, nunca acontece nada
a ninguém, vou mas é para casa”. O agente prevê a verificação do facto ilícito como
possível, confiando indevidamente que não se produzirá, por precipitação, incúria ou
desleixo, agindo nessa condição.
ii. Negligência inconsciente: a pessoa que nem sequer configura que pode vir a praticar
um ato ilícito, mas que segundo as regras de cuidado, deveria saber dessa eventual
consequência. Atos danosos praticados por distração ou falta de autodomínio não
deixam de construir o agente em responsabilidade.
Ex.: professor que adormece – um homem normal (487º-2) naquelas circunstâncias teria
sido diligente a um nível muito superior.
1.2.3. Casos em que a distinção entre uma pessoa que atue com dolo ou negligência
é relevante
Regra geral, para o direito civil, é indiferente que uma pessoa atue com dolo ou negligência,
já que o resultado será o mesmo: havendo dano, o mal será através deste medido. No entanto
há casos em que a distinção é relevante:
Do ponto de vista subjetivo, o facto é imputado ao agente por mera culpa, ou seja
negligência - apenas quando não há dolo. Pode tratar-se de uma negligência consciente ou
inconsciente. A norma é tendencialmente excecional, uma vez que, regra geral, a medida da
indemnização é a medida dos danos.
Ora, nos casos deste artigo a medida da indemnização é inferior à medida dos danos. A
negligência não impõe a aplicação deste artigo, mas permite-a, não sendo fundamento
suficiente.
É necessário avaliar a situação à luz da equidade, permitindo ver se esta determina uma
diminuição da medida da indemnização face à medida dos danos – elementos a avaliar em
conjunto com a negligência:
o grau de culpabilidade do agente: grau de censura que o comportamento do agente
merece naquele determinado momento/caso concreto – só faz sentido aplicar este
artigo nos casos em que seja menor;
o situação económica do agente e do lesado;
o outras circunstâncias (contributo de terceiro, por exemplo).
Note-se que, alguns autores portugueses tentam justificar a aplicabilidade dos danos
punitivos no ordenamento jurídico português através deste artigo, defendendo que a medida
da indemnização pode ir além da medida dos danos, uma vez que o próprio ordenamento
permite que esta seja menor. Contudo, o professor VN discorda ao defender que a função da
responsabilidade civil é meramente reparadora.
2.1.1.2. Art. 496º-4 – Danos não patrimoniais (na fixação o T considera o 494º);
Estes são danos que não têm repercussão patrimonial, mas que devem ser tidos em
consideração consoante a sua gravidade. Estes têm, essencialmente, 2 características:
i. Correspondem a lesões de natureza não patrimonial;
ii. como consequência disso, não têm um equivalente patrimonial imediato – ex.: ofensa
ao bom nome, dor.
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A lei permite criar um crivo para estabelecer os danos não patrimoniais relevantes para a
responsabilidade civil pois têm um caráter subjetivo ao serem intimamente ligados à pessoa em
si.
Relativamente ao ressarcimento por dano morte14, que é um assunto amplamente discutido
por estar relacionado com o limite da personalidade jurídica, é de notar que tradicionalmente,
por regra, não pode ser ressarcido, pois no momento em que é provocado o dano (morte) o
lesado perde a personalidade jurídica, não podendo nascer um direito ao ressarcimento.
Contudo, atualmente, entende-se que este dano não é ressarcível à pessoa que morre, mas
sim àqueles que lhe são próximos.
Este artigo pretende que se reconheça o sofrimento das pessoas pela morte de ente querido
como situação gravosa o suficiente para ser ressarcível, mas, também esclarecer quem pode ser
ressarcido por tal e os critérios para definir a medida do ressarcimento
Art. 570º-1: Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou
agravamento dos danos, cabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de
ambas as partes e nas consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser
totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.
> Caso o lesado atue de acordo com os princípios da boa fé, com vista a mitigar o dano, a
indemnização fica totalmente a cabo do lesado, não podendo ser reduzida ou excluída.
Mas, caso contrário, culposamente, o lesado agir em contradição com as regras de
conduta e adotar um comportamento que contribui para o agravamento dos danos, tal
conduta terá de ser tida em conta aquando a análise e ponderação da responsabilidade
do agente. É o art.570o que nos abre a porta a essa ponderação.
14 Melhor desenvolvido no tópico 6. Danos não patrimoniais - ressarcibilidade do dano morte (Art. 496º)
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> É importante ressalvar que este artigo não nos impõe nenhuma solução, apenas abre a
porta a que façamos uma certa ponderação, de acordo com as circunstâncias do caso
concreto. Esta possibilidade consiste em que possamos responder à responsabilidade
de uma forma diferente à que responderíamos caso o lesado não tivesse intervindo no
processo, pois, nestes casos, a obrigação de indemnizar poderá vir a ser reduzida ou até
mesmo excluída. O lesado, neste caso, não foi culpado pela totalidade dos danos
causados.
> A culpa do lesado exclui o dever de indemnizar. Aqui, é o próprio legislador que nos diz
a solução a ser aplicada, sem necessidade de ponderação do caso concreto.
1.2.4. El. de verificação negativa: ausência de uma causa ou justificação para que a
violação tenha sido de facto “ilicitamente” cometida.
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2.1.1.4. Figuras que apesar do dolo o OJ afirma não haver facto ilícito
1.3. Culposo
Este requisito está presente no nº2 do art. 483º CC: “dolo ou mera culpa”. Em que se traduz a
culpa?
> Para alguns traduz-se para dolo ou negligência (visão mais tradicional).
> Para quem entende que o dolo e a negligência são elementos subjetivos da ilicitude, torna-
se necessário encontrar elementos adicionais para a culpa.
Assim, a culpa é o juízo subjetivo que recai sobre uma pessoa que, de acordo com as
circunstâncias em que se encontrava, é feito face ao comportamento da pessoa que atuou de
forma desconforme ao ordenamento jurídico.
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Ora, para que nós saibamos se existe ou não culpa num caso concreto é necessário que a
pessoa:
i. seja suscetível de culpa16.
ii. tenha atuado com culpa.
Artigo 487º-1
“É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa”.
A culpa teria de ser sempre demonstrada por aquele que invoca o direito, o lesado. Ora, se
ele está a invocar o seu direito à indemnização ele tem de fazer prova de todos os elementos
constitutivos do facto (ilícito, culposo). Este artigo surge porque existem diversas situações em
que a lei presume a existência de culpa; clarifica que não podemos deduzir dessas exceções um
princípio geral, pois esse é o oposto.
Eu só posso censurar uma pessoa que em abstrato seja suscetível de ser censurável17, a
pessoa tem de reunir características suficientes para que algo lhe seja exigível. Nem todas as
pessoas são suscetíveis do juízo de culpa. Como é que isto se concretiza? Imputabilidade.
Ser capaz de culpa, ser capaz de conformar seu comportamento com as exigências do OJ –
arts. 488º e 489º CC. Ter capacidade natural para prever os efeitos e proceder à correta
15 O OJ não visa lidar com pessoas dotadas de super poderes, mas sim com pessoas normais. Assim, há
casos em que uma pessoa normal, em determinadas circunstâncias, “legitimamente” adota um
comportamento em que desobedece ao OJ.
Ex.: O professor vinha dar aulas, chegava a tempo à faculdade. Mas recebeu uma chamada da escola do
filho a dizer que o filho tinha tido um acidente grave. O professor deixa de ter o dever de dar aulas? Não.
Mas o OJ pode censurá-lo por não ter cumprido este dever? Não. Não lhe era exigível que o cumprisse. O
professor não tinha culpa. Há circunstâncias especiais que podem fazer com que não nos seja exigível pôr
o OJ acima de tudo o resto
16 Art. 488º e 489º a propósito da imputabilidade.
17 *Culpa:
Geralmente, se o agente for inimputável, não há responsabilidade. Não é imputável → não há culpa →
não há responsabilidade.
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valoração dos seus atos, e de se determinar em harmonia com o juízo que faça acerca deles (a
contrario do n.º1 do arts. 488.º), isto é, ter a capacidade de entender ou querer os efeitos dos
comportamentos que adotamos – o que varia consoante o comportamento.
> Art. 488º-1: uma pessoa pode ser inimputável por características intrínsecas ou uma
situação temporária em que se encontre.
> Art. 488º-2: uma pessoa entre os 7-18 é inimputável (ainda que sem capacidade de
exercício), pelas suas características intrínsecas. Há pessoas que pelas características
intrínsecas também são imputáveis, deficientes profundos. No entanto, não se presume
que o são, é necessário prová-lo.
Mas para os autores que consideram que o dolo ou mera culpa são elementos da ilicitude,
o que consideram ser a culpa?
A culpa traz então um juízo negativo que é subjetivo, atende à posição individual do agente.
O OJ considera que há casos em que o nosso primeiro critério de decisão não seja cumprir o
dever, que é "legítimo" que uma determinada pessoa não adote o comportamento que OJ exige.
Faz parte de sermos humanos e não super-heróis.
Ex.: O prof está a caminho da faculdade e ligam-lhe da escola a dizer que um filho foi para o
hospital. O prof desviou o caminho e não veio dar aula. O dever de dar a aula (o dever perante
o OJ) não deixou de lá estar, mas houve uma circunstância especial que fez com que não seja
exigível por o OJ acima do resto, ainda que o comportamento seja ilícito, não é censurável.
A solução justa pode ser outra, por exemplo: uma pessoa muito rica, imputável, danifica uma
pessoa muito pobre. Nestas circunstâncias concretas, eu posso impor ao imputável muito rico a
reparação do dano que causou, com o limite estabelecido no art. 489º-2 (“... por forma a não
privar a pessoa não imputável dos alimentos necessários, conforme o seu estado e condição,
nem dos meios indispensáveis para cumprir os seus deveres legais de alimentos.”).
Conceito geral de imputabilidade: ser capaz de entender e querer a decisão que está a ser
imputada àquela pessoa. Só é imputável aquele em que nas circunstâncias em que se encontra
tenha a capacidade de entender que está a praticar um facto que é contrário ao ordenamento
jurídico e tenha a capacidade de querer essa contradição.
18Imputabilidade = atribuir (a alguém); vs. inimputável = não se pode atribuir ou imputar / quem não
pode ser responsabilizado por um facto punível.
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Ex.: Vou para uma festa e bebo muito. É possível que no final da noite faça algo
sem consciência, mas fui eu que me pus nessa situação por isso a culpa não me
pode ser retirada.
Há sempre uma pessoa vigilante pela pessoa imputável que responde pelos factos geradores
de danos (491º) mas há situações em que isso não acontece, o lesado tem que suportar o dano
na sua esfera jurídica. 489º, mas pode haver situações em que pela equidade é possível
encontrar um equilíbrio mais justo, naquele caso concreto, com o limite no nº2.
i. Lata: deixar de observar um dever de cuidado que a generalidade das pessoas observa.
ii. Leve: deixar de observar um dever de cuidado que poucas pessoas observam.
iii. Levíssima: deixar de observar um dever de cuidado que quase ninguém observa (não
tem relevância jurídica).
Ex.: o professor tem 5 filhos. O mais velho tem 17 anos, o mais novo tem 2 anos. O professor
não pode exigir ao filho de 2 anos os mesmos comportamentos que exige ao filho de 17 anos.
Há pessoas a quem não posso exigir determinadas coisas.
↓
É necessário que o sujeito seja imputável (capaz de culpa), ou seja, entender o que são ou
querer produzir factos ilícitos.
Naquelas circunstâncias específicas era exigível que uma pessoa se guiasse pelos critérios da
licitude ou ilicitude? Não? Então praticou um facto ilícito, mas sem culpa. A conduta só é
reprovável quando não só em virtude da capacidade do lesante, como também em face das
circunstâncias do caso, ele pudesse e devesse ter agido de outro modo.
A culpa traz então um juízo negativo que é subjetivo, atende à posição individual do agente19.
O OJ considera que há casos em que o nosso primeiro critério de decisão não seja cumprir o
dever, que é "legítimo" que uma determinada pessoa não adote o comportamento que OJ exige.
19Na opinião do professor, a culpa corresponde a mais um juízo de censura que se soma à ilicitude. Na
culpa, o juízo de censura recai sobre o comportamento individual daquele e traduz-se no facto de aquela
pessoa, naquelas circunstâncias, dever ter agido de outra forma.
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Faz parte de sermos humanos e não super-heróis. Nesses casos, quanto muito pode haver
responsabilidade nos termos do artigo 489º, mas não responsabilidade extra obrigacional.
Mas como saber o padrão de comportamento com que se deve comparar? Com a
generalidade das pessoas (critério abstrato) ou com as pessoas parecidas com ela (critério
concreto)?
Art. 487º-220 resolve adotar o padrão abstrato: pessoa que atua segundo padrões de
honestidade, razoabilidade, não se satisfaz de sacrifícios excessivos que impõe aos outros, tem
em conta os seus interesses, ou seja, conforma o seu comportamento com aquilo que nós
consideramos ser a boa-fé no sentido objetivo.
Art. 487º Culpa
nº1: sendo a culpa um elemento constitutivo da responsabilidade (pressuposto da obrigação de
indemnizar), o que invoca o direito de ser indemnizado tem de provar a existência de culpa do
outro. Na responsabilidade por facto ilícito extra-obrigacional, a culpa não se presume, não
obstante as várias situações em que isso acontece.
nº2: padrão pelo qual medimos a existência de culpa. Um juízo de culpa é sempre um juízo
comparativo. Comparamos o comportamento da pessoa concreta com o comportamento
padrão. Daqui surge um problema: qual é o padrão?
↓
− Eu devo comparar o comportamento de uma determinada pessoa com o comportamento
das pessoas parecidas com ela?
− ou devo comparar o comportamento de uma pessoa com o comportamento da
generalidade das pessoas? Vou adotar um padrão geral ou um que atenda às
especificidades de cada um?
Ora, o nº 2 do art. 487º resolve dizendo: adotem um padrão abstrato (bom pai de família21).
Este artigo trata mais do que a mera culpa: trata de todos os elementos subjetivos dos factos
geradores de responsabilidade.
Também se aplica este artigo aos elementos subjetivos da ilicitude:
No art. 483º, a mera culpa = negligência. A negligência pode ser consciente ou inconsciente.
Na negligência o que está em causa é a violação de regras de cuidado → é necessário comparar
o comportamento daquelas pessoas com o comportamento normal (da generalidade das
pessoas). Pelo art. 487º-2: temos de pensar “O que é que o bom pai de família anda a fazer?” Se
uma pessoa não violar as regras de cuidado que o bom pai de família cumpre, não está a violar
regras de cuidado.
1.4. Danoso
O facto tem de ser danoso. O que é que isto significa? A função da responsabilidade civil é
exclusivamente reparadora - sem danos não há responsabilidade civil. Para que um facto seja
danoso é necessário que, em primeiro lugar, do facto tenham resultado danos. Em segundo
20 Também se aplica este artigo aos elementos subjetivos da ilicitude. Por ex., na negligência há uma
violação das regras de cuidado. E como é que eu sei o que é uma regra de cuidado? As regras que a maioria
das pessoas observa.
21 gere-se pela boa-fé em sentido objetivo (padrões de honestidade, integridade…).
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lugar, é necessário que esses danos sejam elegíveis para efeitos de ressarcimento. A
responsabilidade civil não assenta numa ideia de causalidade natural. É necessário que os danos
satisfaçam determinados requisitos e os tornem elegíveis.
O que é um dano? Uma das formas pelas quais se define dano é que o mesmo corresponde
à supressão ou à limitação de uma situação de vantagem tutelada pelo Direito. O dano tem
assim como característica fundamental a circunstância de retirar a uma determinada pessoa
uma vantagem que o ordenamento lhe tinha atribuído. É dano se alguém danificar uma coisa
alheia, o que implica que terceiro deixe de aproveitar essa coisa. Dano é toda a situação de
desvantagem que é trazida a uma pessoa e que antes estava numa situação de vantagem
atribuída pelo Direito.
O objetivo da indemnização é reparar os danos. Sem danos, não há RC. A existência de dano
significa a supressão ou limitação de uma posição de vantagem protegida pelo direito.
1) do facto têm que ter resultado danos (ou prejuízos): limitação (ou supressão total) de
uma situação de vantagem tutelada pelo direito, que o OJ lhe tinha atribuído. Estar privado
do aproveitamento daquela coisa. (Art. 564.º extensão do conceito de dano – no início).
2) esses danos têm de ter determinadas características que os tornem ressarcíveis. O dano
só é elegível se:
> Art. 563º - nexo de causalidade - “só existe”- Este artigo não se basta com um conceito
puramente natural de causalidade: introduz a ideia de probabilidade, só não há a
indemnização pelos danos que provavelmente não teriam acontecido se não fosse a
lesão.
O dano é consequência normal do facto. Como é que eu sei se é normal? Porque é previsível,
corresponde a uma sequência habitual do desenrolar da vida. Se não houver a coincidência
causal mínima, não pode haver ressarcimento24.
22 Esta situação de vantagem era tutelada pelo direito que eu digo que está a ser violado? Se a resposta é
não, o dano não pode ser ressarcido por esta via.
23 Este nexo de causalidade entre o facto e o dano, assume uma dupla função: surge como pressuposto e
limite da indemnização.
24 Ex.: aquele acidente dos jovens que vinham a conduzir e bateram num poste. 1. Se em vez do poste
fosse num carro, e as pessoas desse carro morressem, eles são responsáveis. 2. Se batessem num carro,
a pessoa ficasse só ferida e acabasse por morrer no hospital, não. 3. No que aconteceu, bateu no poste e
o poste caiu num carro e as pessoas morreram, sim, pois naquelas circunstâncias era previsível.
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De acordo com esta teoria, não basta que, em concreto, uma determinada causa tenha sido
condição de determinado efeito, sendo também de exigir, em abstrato que ela se revele
adequada para o produzir tal e qual as regras normais da experiência e da vida. Mas como saber
isto? Existem, quanto a esta teoria, duas formulações diferentes:
2) Formulação negativa: tem por objetivo alargar o âmbito dos danos ressarcíveis. Como? A
adequação deve assentar num juízo negativo, o que é relevante é eu dizer que deixam de
ser ressarcíveis aqueles danos que não sejam consequência normal do facto 25.
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O princípio geral é que esta reparação deve ser feita em espécie, in natura: o lesado deve
ser colocado exatamente na situação que estaria se não tivesse ocorrido a lesão. Ex.: é lhe tirado
um livro, dá-se lhe um livro.
Só depois, é que a indemnização deve ser em dinheiro. Ex.: destrói-se um livro que era o
último no mundo, dá-se o valor do livro. A maneira de o fazer está enunciada no 566º-2.
Com 2 exceções:
Existe tal culpa sempre que o comportamento daquele que pede a indeminização se
interpõe no processo causal entre facto do responsável e o dano ou seja, o lesado contribui de
alguma forma para o dano.
Ex.1: se alguém atire um apedra contra o vidro do meu carro e eu fico com o carro a apanhar
chuva naturalmente o interior vai ficar danificado mas ai o responsável pode dizer é verdade
que eu parti o vidro mas os danos no interior foram resultados não só de eu ter partido o carro
mas também do dono do carro não ter atuado para evitar tal situação.
Ex.2: num prédio uma determinada pessoa, este nota que existe uma infiltração da casa de cima,
como sabe que o outro é que o tem de reparar, não diz nada e vai trabalhar. Quando volta tem
a casa inundada, exige que o outro lhe pague a mobília nova toda. NÃO! O lesado não atuou no
sentido de mitigar os danos, como manda a boa-fé. Isso é valorado quando se mede a
responsabilidade do agente.
i. Ser irrelevante;
ii. Levar a uma redução da indeminização;
iii. Levar a uma exclusão da indeminização.
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para adiante. Um prazo de 3 anos (especial) que se começa a contar do conhecimento do facto
danoso por parte do lesado – 498º-1.
Se este prazo acabar primeiro a prescrição dá-se ao fim destes 3 anos e não dos 20. Há
prescrição quando acabar o primeiro prazo.
Ex.: imaginemos que há danos em casa de alguém que é imigrante, que não vem a Portugal
habitualmente. Este regressa após 19 anos e vê que danos lhe foram causados, então contámos
3 anos a partir e como os 20 anos acabam, neste caso antes dos 3 anos, é nessa data que se dá
a prescrição.
A ofensa ao crédito e ao bom nome corresponde a um facto objetivamente ilícito para efeito
do art. 482º, mas não prescinde dos requisitos gerais do 483º, apenas se preenche o el. objetivo
da ilicitude. Abrange tanto quem cria informação, como que a difunde (divulga). Um facto
verdadeiro também pode ser ofensivo, não tem nada a ver com a falsidade dos factos, ser
verdadeiro não desculpa. A única desculpa poderá ser algum interesse legítimo na divulgação
da informação.
✓ nº1: não somos responsáveis pelos conselhos que damos a alguém, sem pensar –
princípio geral da irresponsabilidade.
✓ nº2 - exceções:
> Em que nos vinculamos à informação que damos, assumimos a responsabilidade
perante o outro;
> Quando temos o dever juridicamente exigível de dar conselho, não é espontâneo.
Se eu violo regras de cuidado, não sou diligente, posso ser civilmente
responsabilizado;
> Por uma interpretação teleológica, se atuo com intenção de prejudicar, com dolo,
isso implica responsabilização. Esta norma pretende regular a vida em sociedade, o
que também implica responsabilizar quem aconselha com intenções contrárias à
boa-fé;
> Certos casos em que a prestação de informação falsa constitui relevância civil.
26 Todavia, se tivermos perante um facto ilícito que constitui crime (ofensa à integridade física por
negligência, nos termos do art. 148.º do Código Penal, por exemplo), o prazo de prescrição será de 5 anos
– art. 118.º, n.º1, al. c), do CP – e não de 3 anos.
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Mas aqui está uma obrigação extracontratual. Aplica-se este artigo apenas aos casos em que
mesmo não existindo contrato, há a obrigação de dar conselho. Numa relação advogado-cliente
há contrato. Se existir relação contratual, vamos ao regime da responsabilidade obrigacional.
O facto ilícito culposo pode ser uma ação ou omissão. Se existir a obrigação de praticar um
ato, e a não prática desse ato preencher os requisitos do 483º, há indemnização.
Sempre que seja uma omissão que esteja na causa do dano, na ilicitude em sentido objetivo
temos que cumular os requisitos do 483º (violação de direito alheio ou de qualquer disposição
legal destinada a proteger interesses alheios) com o requisito do 486º (violação do dever de
agir).
Requisitos:
● Dever jurídico de vigilância (pais, babysitter, creche, tem que existir um contrato)
● vigiado causa danos a 3.º
Regra geral: o vigiado causa danos → o vigilante paga pelos danos causados a terceiros.
Presume-se a culpa e a ilicitude para os terceiros. Quanto aos danos do vigiado, cabe-lhe
provar esses elementos.
No entanto, neste artigo, há inversão do ónus da prova. Isto porque, é o vigilante que tem o
ónus de provar que não houve violação do dever de vigilância que vigiou adequadamente.
Alguns autores falam aqui de uma presunção de culpa. Temos mais do que isso, temos a
ilicitude do comportamento do vigilante.
Este artigo parte do princípio de que o que vamos ter é a violação de um dever. Assim, na
segunda parte do artigo (a partir de “salvo se…”), temos 2 causas de exclusão da
responsabilidade do vigilante: (temos sempre de excluir a exclusão para justificar o
ressarcimento)
i. cumpriu os deveres de vigilância: “... salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de
vigilância…”, ou seja, permite ao vigilante que demonstre que fez tudo o que devia,
vigiou adequadamente, mas mesmo assim o vigilado causou danos.
ii. os danos teriam acontecido na mesma: “... salvo se (...) os danos se teriam produzido
ainda que o tivessem cumprido”, ou seja, permite ao vigilante demonstrar que de facto
não cumpriu os seus deveres de vigilância, que o “vigiado” de facto causou danos, mas
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que esses danos ter-se-iam produzido de qualquer forma, mesmo que ele tivesse
cumprido o seu dever de vigilância. Logo, não deve ser responsabilizado.
Quando isto se verifica, o dever de indemnizar não recai sobre ninguém (risco de viver em
sociedade).
A esta (ii) causa está associada a matéria da relevância da causa virtual - são casos que
poderiam ter produzido um certo dano, não fosse o facto histórico.
Ex.: Uma pessoa A quer matar outra (B). Por isso, convida B para jantar em sua casa e põe
veneno no seu prato. No entanto. quando a pessoa B está a caminho da casa da pessoa A, leva
um tiro e morre. Se tivesse ido a casa da pessoa A, teria morrido envenenada.
● Relevância positiva: quando responsabilizamos pelo dano o autor da causa virtual (a pessoa
A que ia envenenar a pessoa B). Não existe lugar para a relevância positiva no Direito
Português.
Vamos responsabilizar a pessoa que envenenou? Não, porque a morte não resultou do
envenenamento. Responsabilizamos apenas quem deu o tiro.
Princípio Geral do Direito Português: a relevância da causa virtual não existe. No entanto,
existem casos especiais em que o legislador atribui relevância negativa à causa virtual. É o caso
da (ii) causa de exclusão da responsabilidade, contemplada no art. 491º.
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!!! - Não é por este artigo existir que não continua a haver animais em que aplica a valorização
do animal como coisa, de direito tradicional, em que o animal é um valor económico, e se algo
acontece a esse animal, tem direito ao seu valor económico. O art.493º-A é uma tutela
acrescida.
ii. É necessário também fazer um controle objetivo: devemos ver se o homem médio naquelas
situações cria ou não um impacto como aquele, devemos chegar à conclusão que o homem
médio também teria resultado afetar.
Note-se que, uma lesão pode ter simultaneamente danos patrimoniais e não patrimoniais (por
exemplo, uma depressão e a necessidade de ir a um psicólogo).
Conclui-se que, aquilo que faz o direito intervir é o desconforto individual que seja
objetivamente justificado.
> Nº2: delimita o universo de pessoas que podem exigir ressarcimento pelo sofrimento que
a morte de uma pessoa lhes trouxe.
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Ex.: há uma determinada pessoa que causa uma lesão a outrem no entanto, não causa a morte
do mesmo - antevendo que vai morrer e fica no hospital internado. Há aqui dois tipos de dano:
i. Dano da pessoa que está a sofrer - o dano morte não é ressarcível a ela mas todo o
sofrimento que esta tem durante 1 mês e antecipar a sua morte com a angústia deve ser
considerado um sofrimento relevante. Por isso, este dano dá direito a uma indemnização
porque vai integrar a esfera jurídica daquela pessoa e quando essa pessoa morrer esse dano
vai passar para os seus sucessores.
ii. Dano daqueles que vêem tal pessoa naquela circunstâncias - sentimos antecipação e
desconforto da morte daquela pessoa e ver o sofrimento dos outros durante aquele mês
também ele é ressarcível como dano não patrimonial (nº 4).
Assim, quem causa a morte desta pessoa responde perante a própria pessoa (nº1) e pelo
dano não patrimonial face às pessoas que lhe eram próximas (nº4).
7. Responsabilidade Solidária
Note-se que, lida-se apenas com as relações internas dos devedores. Por isso, se forem várias
as pessoas responsáveis pelos danos, é solidária a sua responsabilidade.
O direito de regresso entre os responsáveis existe na medida das respetivas culpas e das
consequências que delas advieram, presumindo-se iguais as culpas das pessoas responsáveis.
Quando não é possível distinguir a culpa de cada um, internamente distribuímos a culpa de
forma equitativa.
Este artigo traz um regime que é excecional, o regime regra é o da não solidariedade
(obrigações parciárias - cada um responde pelo valor da sua parte na obrigação).
Na RC temos aqui um caso onde a lei se afasta do regime regra afirmando a solidariedade
neste artigo. Ora, aqui a lógica é de proteção do lesado e na medida em que ele deve obter, na
máxima extensão possível, a reparação integral do seu dano.
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Responsabilidade Obrigacional 27
1.1. Voluntário
1.2. Ilícito
Como sabemos deste incumprimento? O que é que ele devia ter feito e o que é que ele fez?
> Podemos concluir que a resposta às duas questões são iguais, existindo uma
conformidade pontual -» cumprimento (extinção da obrigação);
> Podemos concluir também que existem divergências entre os dois, maiores ou menores
e aí estamos no domínio -» não cumprimento.
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Nesta fase, a única coisa que é realmente relevante é que ainda não houve cumprimento de
obrigação nenhuma, o que pode gerar ou o não cumprimento ou o incumprimento per se, mas
é prematuro fazê-lo.
Se concluirmos que estamos perante uma situação de não cumprimento, teremos que
concluir porquê. Em abstrato, com diferentes soluções à face do OJ, podemos identificar três
causas alternativas para o não cumprimento:
Existe uma diferença clara entre não cumprimento e incumprimento: aquilo que deveria ter
acontecido nos termos do plano obrigacional não aconteceu e o incumprimento é apenas uma
das modalidades do não cumprimento, que se traduz na circunstância de o incumprimento ser
imputável ao devedor. É o próprio CC a fazer esta distinção de conceitos.
1.3. Culpa
De acordo com o art. 487º a culpa presume-se30. Aquilo que é exigível ao credor demonstrar
para aceder à responsabilidade é apenas a demonstração de uma situação de incumprimento
por parte do devedor. Consequentemente, tudo o resto, se presume nos termos do art. 799º.
1.4. Danos
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A lei regula a obrigação de indemnizar como figura única – art. 562º e ss. – quer seja
obrigacional ou extra obrigacional. A aplicação destes artigos à responsabilidade obrigacional
exige um certo esforço interpretativo adicional, pois foi considerado apenas o regime extra
obrigacional aquando a sua redação. Especialmente em dois artigos:
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A vontade do credor não entra, pelo que a indemnização exigível é relativa à colocação da
situação em que estaria se a obrigação tivesse sido plenamente cumprida.
Se as obrigações não tiverem origem num contrato bilateral, mas sim unilateral, então a
segunda questão desaparece31, pois não existe uma contraprestação.
Não faz sentido falar em interesse contratual, pois não há contrato, a lei é que as impõe em
determinadas situações (ex: ESC, GN). Pelo que, em sede indemnizatória, o credor só pode exigir
o interesse por incumprimento, isto é, ser colocado na situação em que estaria se aquela
obrigação tivesse sido pontual e integralmente cumprida.
O dano de confiança não é relevante nas obrigações de fonte legal uma vez que não é possível
de ser ressarcido.
32Ou seja, a contraprestação do credor (pois se estamos no âmbito de um contrato bilateral, com certeza
que existem obrigações recíprocas e o incumprimento de uma obrigação repercute efeitos na outra).
33Esta pergunta tem sempre de ser a última, pois é uma espécie de reserva face às consequências do
incumprimento, caso as outras soluções falhem.
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2.1.2.1.1. Mora
1. 2. 3.
Que fazer com a prestação que Que fazer com a prestação Que
me é devida e foi incumprida? que eu próprio devo indemnização pedir?
(contraprestação)? (o credor)
INSISTIR – Exigir a realização da
prestação ICP residual (danos de atraso –
CONTINUA OBRIGADO A 804º)
(ou fazer interpelação CUMPRIR (exceção de não
Admonitória – para não chegar ao cumprimento – 428º) A indemnização convive com a
incumprimento definitivo -, se realização da prestação34.
não cumprir este novo prazo
entra numa solução
definitiva)
1. 2. 3.
Que fazer com a Que fazer com a prestação que eu próprio Que
prestação que me devo indemnização pedir?
é devida e foi (contraprestação)?
incumprida?
CONTINUA OBRIGADO A CUMPRIR (exceção de ICP residual (danos do
INSISTIR na não cumprimento – 428) não vai exigir uma atraso)
realização da coisa e não fazer a parte dele. Quanto muito
prestação pode adiar o seu cumprimento para quando Depois de tudo estar
receber a prestação cumprido, só o atraso é
ressarcível
DESISTIR da DESISTIR da realização da contraprestação ICN ou ICP total (com
realização da (resolução – desconto do valor da
prestação 801/2) contraprestação)
34 Assim é porque vamos compensar o credor, ressarci-lo, pelos danos que ele não teria tido se a obrigação
tivesse sido pontualmente cumprida. O interesse contratual positivo pode conviver ou não com a
realização da própria prestação que seja devida. Nos casos em que convive, a indemnização surge no fim
que a realização da prestação em si mesma não permitiu acautelar. Num caso como este, nunca pode
haver interesse contratual negativo porque se pressupõe a manutenção do contrato. A indemnização é
somente pelo interesse residual porque corresponde ao momento da mora, já que a prestação poderá
ser posteriormente cumprida e, assim sendo, simplesmente se indemniza o credor pelo tempo em que o
devedor se encontrou em mora – durante o tempo em que o cumprimento não se verificou. Caso a
indemnização seja pelo interesse total, então é porque o devedor não cumpriu de todo a prestação a que
estava obrigado.
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Ex.: Imagine-se um negócio em que uma pessoa vai trocar o seu carro novo pelo carro velho de
outra. O dono do carro velho entra em mora, depois ultrapassa o prazo admonitório e por isso
entra numa situação de incumprimento definitivo. O dono do carro novo diz que ainda quer o
carro velho (mantém a vontade da realização da prestação) e, por isso, vai recorrer aos meios
coercivos. Se ele exige a prestação, também tem de cumprir a contraprestação (entregar o seu
carro). Se demonstrar que o atraso do devedor lhe trouxe prejuízo, será indemnizado.
Outra solução seria a de o credor pedir ICP (deseja ficar na situação em que estaria se o contrato
tivesse sido celebrado e cumprido). Se o contrato tivesse sido cumprido, o credor teria o carro
velho, mas teria ficado sem o seu carro novo (contraprestação). Por isso, quando se contabiliza
a indeminização, é necessário descontar o carro novo, sob pena de o credor enriquecer.
Outra situação seria de o credor não querer receber o carro velho (desistir da prestação) mas
insistir em dar o carro novo (insistir na contraprestação). Este é um direito potestativo do credor.
Se a outra parte não aceitar, temos uma situação de mora do credor.
5 causas
Legais:
i. Incumprimento da interpelação admonitória;
ii. Perda de objetivo de interesse do credor na prestação;
iii. Impossibilidade imputada ao devedor;
Doutrina e Jurisprudência:
iv. Declaração perentória de não cumprimento;
v. Justa causa;
Pode ser parcialidade quantitativa, ele faz parte daquilo que devia, ou qualidade, ele faz a
prestação total, mas com defeito). Escassa importância. Nestas situações é como se a prestação
se dividisse em 2: prestação realizada e prestação em falta
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Neste caso, o lesado não tem de demonstrar a existência de dolo ou negligência, basta
demonstrar que existiu incumprimento, pela natureza da relação, exige-se mais a um
devedor do que a uma qualquer pessoa. No entanto, não há nenhuma razão para que se
exclua totalmente a aplicação deste artigo. Contudo, esta deve levar-nos a ser mais exigentes
na limitação da responsabilidade do que quando se trate de responsabilidade extra-
obrigacional.
O critério deste artigo é que sejam danos que pela sua gravidade mereçam a tutela do
direito. Se merecerem a tutela do direito em função da sua gravidade, devem considerar-se
ressarcíveis quer na responsabilidade extra-obrigacional, quer na obrigacional.
Há quem defenda que este artigo não se aplica à responsabilidade obrigacional por ser
contraditório ao artigo 513º que diz que a solidariedade só existe nos casos previstos na lei.
No entanto, o argumento não serve porque o artigo 513º trata das obrigações em geral,
e não da obrigação e indemnizar: a circunstância de a primeira obrigação não ser solidária,
em nada implica que a obrigação de indemnizar também não o seja.
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Não há nenhuma razão para que se verifique a incompatibilidade deste artigo com a
responsabilidade extra-obrigacional.
Responsabilidade Pré-Contratual 35
Esta encontra-se prevista no artigo 227º CC. Em primeiro lugar, deve ser claro que a
responsabilidade pré-contratual não é responsabilidade obrigacional. Ou seja, do que falamos é
da responsabilidade de alguém que provoca danos a outrem num contexto pré-contratual.
Na verdade, não podemos deixar de notas as diferenças que existem entre a RPC e a
responsabilidade extra-obrigacional em geral.
Numa visão tradicional, a RPC é contrária ao sentido do princípio da autonomia privada
(plena liberdade onde as pessoas podem tomar decisões – art. 405º CC). O momento da
celebração do contrato seria o de transição entre a liberdade contratual e a responsabilidade
(art. 416º CC) – o contrato deve ser cumprido.
Deste modo, a RPC antecipa para um momento prévio à celebração do contrato algumas
vinculações e restrições. O não respeito dessas determinadas vinculações e restrições pode
levar à responsabilização. O lesado ainda não está vinculado por uma relação obrigacional antes
da prática do ato ilícito e do nascimento da obrigação de indemnizar. No entanto, não se encaixa
na responsabilidade extra-obrigacional, porque também não é certo que previamente à
constituição da obrigação de indemnizar não existia vínculo entre as partes. Existe um vínculo
próprio do negócio que irão celebrar (como a concretização do dever da boa fé – art. 227º), mas
esse vínculo não tem natureza obrigacional.
Ora, a RPC só existe quando identificamos 2 pessoas (lesado e responsável) que estão
numa situação pendente à celebração de um contrato. Só se estivermos nestas circunstâncias
é que há responsabilidade pré-contratual e, consequentemente, se aplica:
O nº1 diz-nos que a RPC pode dar-se ao longo de todo o processo negocial, i.e. durante os
preliminares ou durante a formação do contrato.
> Preliminares: fase inicial em que as partes estão a discutir o que querem até
chegarem a um acordo. Uma vez atingido esse acordo, as partes estão prontas
para emitir as suas declarações negociais.
Mais, este artigo vem esclarecer que em certas situações, o OJ impõe limites a nossa
autonomia e liberdade de ação. É verdade que a regra é a da liberdade mas em determinadas
situações particulares não posso fazer aquilo que o meu arbítrio pretende fazer. Isto porque, o
OJ limita o espetro daquilo que posso fazer. Ora, é destas limitações que trata o artigo 227º CC.
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A possível responsabilização referida neste artigo começa assim que as partes iniciam o
processo negocial.
Nota: no art. 227º encontramo-nos perante a boa-fé em sentido objetivo, ou seja, temos de
comparar o comportamento que estamos a analisar com o comportamento de um homem
médio.
No artigo 227º está boa fé está naturalmente usada em sentido objetivo (corresponde ao
padrão comum da honestidade). Aquilo que o artigo 227º remete é para o tal padrão de
comportamento do homem razoável, homem médio. Não podemos dizer em abstrato que um
determinado comportamento é ou não contrário à boa fé, é um registo que podemos fazer em
concreto, em relação às especificidades do caso concreto.
Os deveres que a boa fé impõe em cada uma das fases negociais é diferente. Uma das situações
é a tutela da confiança (fundamental ao artigo 227º), que vai variando, crescendo à medida que
o processo negocial se aproxima do fim. Não obstante esse conhecimento que a boa fé em
sentido objetivo suscita exatamente os mesmos problemas que por exemplo o 334º, devemos
verificar nas circunstâncias do caso concreto se o comportamento seguiu os ditames da boa fé,
existem determinadas situações típicas que estão cimentadas como concretizações da boa fé.
Diz-se que a boa fé traz como temas principais deveres que são de proteção da confiança,
deveres de informação e deveres de proteção.
Este é essencial para a concretização do princípio da boa-fé, principalmente no 227º. Para além
da comparação do comportamento com o homem médio, a boa fé traz ainda 3 deveres
específicos para a Responsabilidade Pré-Contratual:
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> o objeto não é TUDO. Informação decisiva para celebrar AQUELE contrato, tanto
a celebração em si como na própria negociação.
> exclusividade de informação: quando temos determinada informação que
sabemos que a outra parte só conseguirá obter se nós dissermos.
> profunda desigualdade entre as partes: no esforço que se tem de fazer para aceder
a determinada informação ou a quantidade de informação que se tem.
**Pode ajudar ir buscar critério ao 253º. Se a ilicitude estiver excluída aqui, deverá
estar excluída no 227º.
Uma pessoa adotou um comportamento que normalmente não atoaria? Esta atuação
contribui para o incremento de um qualquer risco?
Sim, então a outra parte tem o dever de fazer o que razoavelmente possa fazer para evitar
que esse risco se torne em dano.
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Uma pessoa deveria ser livre de decidir celebrar ou não os contratos que quisesse até
ao momento de celebração do contrato, aí sim, existindo responsabilidade. O que se diz
aqui, é que nesta fase pré-contratual já há obrigações que resultam do princípio da boa
fé objetiva, limitando esta liberdade total.
Estas limitações impõe-lhe que atue de forma honesta, leal, mas não lhe impõe o dever
de celebrar o contrato (o que de facto poria em causa a autonomia das partes).
Assim, se eu disser que uma pessoa tem o dever de indemnizar pelo ICP, não posso dizer
que tem o dever de celebrar o contrato, pelo que existe aqui uma lógica diferente. Deve
indemnizar a frustração de confiança que causou no outro – ICN.
Ex.: imagine-se que uma das partes omitiu informação. Se o contrato se mantém,
e nesta hipótese mantém-se, a indemnização faz-se nos termos do ICP. (Atenção
o ICN pressupõe a destruição do contrato!).
2. Casos em que, não obstante o contrato ainda não estar celebrado, o único
comportamento conforme à boa fé é a celebração do contrato. É aquilo a que
habitualmente se chama momento posterior ao pré-acordo final.
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Só falta mesmo a formalização. Aí já não existe razão legítima para que depois deste momento
uma pessoa se retire deste acordo final, momento em que a boa-fé tutela a confiança que o
contrato será celebrado, se uma das partes violar este dever, pode-se justificar a indemnização
pelo ICP.
obrigacional. Nessa situação não se responsabiliza a pessoa por ter criado a situação de risco, mas a
responsabilizá-la por faltar ao cumprimento de um dever que o ordenamento jurídico impõe, como a boa-
fé em tomar as medidas necessárias para evitar o risco. Se o incumprimento desse dever for culposo,
determinar dano e estiver num nexo de causalidade com o dano, então há responsabilidade nos termos
dos artigos 483º e 484º.
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Assim, se não for regulado pela Responsabilidade pelo Risco, temos de:
i. ver como é regulado pela Responsabilidade por Factos Ilícitos;
ii. perceber se essa solução é compatível com os princípios e fundamento da RPR.
Um exemplo de uma comissão poderia ser uma obra, em que o comitente é a pessoa que
manda fazer a obra e o comissário é o empreiteiro. No entanto, acaba por não se tratar de uma
comissão porque o comitente não tem o poder jurídico de dizer ao comissario como vai fazer a
obra (pelos conhecimentos/experiência do comissário, por exemplo).
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− Se escolher mal o comissário = culpa in elegendo. Ex.: escolher uma pessoa que nunca
tenha pegado numa grua para o fazer.
− Se não vigar adequadamente segundo os deveres de diligência que são exigíveis ao bom
pai de família, a atividade do comissário – culpa invigilante
− Se der instruções erradas ao comissário ou se não lhe der instruções necessárias = culpa
nas instruções.
↓
Se houver culpa do comitente, é aplicável o nº2 do art. 497º.
Em abstrato, regra geral, existe uma diferença relevante na capacidade patrimonial para
pagar a indemnização entre o comitente e o comissário: comitente é geralmente mais rico do
que o comissário O que nos diz ao artigo 500º é que o comissário não responde sozinho, mas
juntamente com o comitente. O lesado vai receber exatamente o mesmo que tinha direito a
receber da sua relação com o comissário – este art. funciona como uma garantia do lesado.
i. Que a pessoa tenha direção efetiva do veículo: significa ter a possibilidade jurídica ou
prática de tomar as decisões sobre aquele veículo. Para se ter direção efetiva não é
necessário ter-se um direito real sobre o veículo (possibilidade jurídica) ou ter “o volante
nas mãos”.
Na ausência de prova em contrário, a direção efetiva está com o seu proprietário, ainda
assim, admite-se prova em contrário: que se demonstre que afinal a direção efetiva não
coincide com o direito de propriedade sobre o veículo.
Ex.: Se alguém rouba um carro, apenas tem a possibilidade prática sobre ele. Mesmo
assim, tem a direção efetiva do veículo. O furto quebra a ligação entre o proprietário e o
veículo fazendo com que do ponto de vista prático o proprietário fique impedido de
exercer os poderes materiais que tem sobre as coisas.
ii. Para além da pessoa ter direção efetiva, é necessário que o veículo seja utilizado no seu
próprio interesse: este interesse deve ser interpretado em sentido amplo, não tem de se
tratar de interesse económico. Existe sempre interesse quando o veículo está a ser
utilizado de acordo com a decisão que o titular da direção efetiva tomou. “Interesse” pode
ser tanto um interesse material, como moral ou espiritual.
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Ex.: 1 pessoa tem a direção efetiva de um carro e empresta-o a um amigo durante o fim
de semana. O amigo tem um acidente com o carro. Neste caso, o carro ainda está a ser
utilizado no interesse do dono do carro, pois emprestar o carro ao amigo foi algo
conveniente à sua vontade (queria agradar ao amigo).
Este requisito visa excluir da responsabilidade objetiva aqueles que, como é o caso do
comissário, utilizam o veículo, não no seu próprio interesse, mas em benefício ou às ordens
de outrem (por ex. o comitente).
iii. Que os danos verificados sejam concretização dos riscos próprios do veículo: para
entendermos o que isto significa temos de ver o art. 505º e delimitar pela negativa o que
não são riscos próprios do veículo:
No campo dos danos abrangidos pela responsabilidade objetiva, estas são as únicas causas
de exclusão da obrigação de indemnizar, sendo que a verificação de qualquer uma delas exclui,
a responsabilidade objetiva do detentor do veículo, quebrando o nexo de causalidade entre os
riscos próprios do veículo e do dano, já que este deixa de ser um efeito resultante do risco
próprio do veículo.
No artigo 503º/1 há um titulo de responsabilidade objetiva.
(2) responsabilidade objetiva, - 503º-1, se existe culpa do lesado, também se exclui esta
responsabilidade do comissário, por força do art. 505.º.
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> Mesmo que não existe causalidade com o acidente, mas houver com os danos: temos a
possibilidade de aplicar o artigo 570º, pois apesar de ter sido criado para a
responsabilidade extra-obrigacional, em relação à responsabilidade objetiva, temos
uma remissão direta pelo 505.º., pelo que por força do 570/1 a indemnização pode ser
reduzida.
2. Comissário conduz veículo no seu próprio interesse – parte final 503º-3 remete para a
r. objetiva – aplica-se 503º-1. Comitente não responde.
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Ex.: A sabe que B tem de ir fazer um pagamento num determinado dia. A não quer que B faça o
pagamento. Então fecha-a no quarto, impedindo-a de sair de casa e realizar o pagamento. O
que terá como consequência necessária a violação de um direito subjetivo alheio. O credor tinha
o direito de naquele dia receber aquela prestação, mas por causa de terceiro (A) não a vai
receber. Se o comportamento do terceiro verificar todos os pressupostos do 483.º, é obrigado
a indemnizar.
Não esquecer que é sempre preciso verificar os elementos subjetivos da ilicitude também:
dolo e negligência. Se A não soubesse ou não tivesse de saber que ao fechar B no quarto, este
não conseguiria cumprir uma obrigação, não existiria responsabilidade.
Noutros casos, a atuação de terceiro pode inscrever-se na responsabilidade obrigacional
apesar de ele não ser devedor. Quando? Quando a sua responsabilidade é acessória da do
devedor. No exemplo acima, não existe qualquer colaboração entre o devedor e o terceiro para
a violação do direito de crédito, mas por ex: A promete vender uma bem a B, mas depois vende
a C para que não tenha de vender a B. Há um conluio entre A e C, para que A não cumpra a
obrigação com B. C, atuando de má-fé pode responder pelos danos causados a A.
E C responde como? Pode-se discutir ser obrigacional porque ele é de facto participante
num facto ilícito de A que se traduz num incumprimento de uma obrigação.
Ou seja, a violação do direito de crédito pode cair no âmbito de aplicação do art. 483º
(regime geral), é o que acontece na chamada eficácia externa das obrigações, embora ainda aí
se possa distinguir entre:
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> Os casos em que imputamos ao terceiro uma colaboração com o devedor na prática do
facto em que o incumprimento se traduz: responsabilidade obrigacional.
3ª via da responsabilidade
I. Exemplo paradigmático
Responsabilidade pré-contratual. Situações que não são bem de R. Obri ou R. ExtraObri,
não podemos dizer que existe uma ligação prévia que ligue o lesado ao responsável, mas
também não podemos dizer que o lesado e o responsável eram completamente desconhecidos
um do outro – requisito da resp. extra obrigacional.
Num âmbito pré-contratual, não são completamente desconhecidas, já há deveres de boa-
fé, por exemplo, mas ainda não há vinculo obrigacional. A uma parte já é juridicamente exigido
que atue no interesse da outra. Se se desviar destas obrigações, há presunção de culpa.
Isto verifica-se em muitas outras situações. Por exemplo, o caso dos auditores nas
sociedades comerciais ou as agências de rating. As sociedades comerciais têm estruturas
internas que fiscalizam a vida da sociedade. E porque é que o legislador consagrou a exigência
de existência deste órgão interno? Porque a forma como uma sociedade é gerida tem impacto
em terceiros. Os auditores são entidades independentes que controlam estes órgãos. Mas há
vezes em que o trabalho da auditoria é feito muito deficientemente, como é o caso do BES!
Ninguém sabia a verdadeira situação do banco. Vivia confiando numa situação que não era real.
Estes auditores constituem-se na obrigação de indemnizar perante terceiros se estes agirem no
pressuposto da informação (errónea) que lhes é dada mas que eles consideram ser verdadeira.
Não existe relação obrigacional. Mas existe uma relação prévia que obrigava o auditor a agir
de determinada maneira, tendo em consideração o interesse do lesado, podendo-se discutir a
responsabilidade obrigacional. Há presunção de culpa dos potenciais responsáveis?
Por qualquer uma das duas vias, em princípio, iria obter indemnização. Existe alguma
razão para que digamos que, por existir opção de ir pelo contrato de empreitada, só pode
recorrer a essa via, em vez de ir pelos artigos 483º e ss? Não. O lesado que opte por uma
delas e responsabilize o responsável.
Ex.2: um contrato de empreitada que tem uma cláusula em que o empreiteiro diz que,
em caso algum, responde por danos superiores a 50% da obra - disposição válida, não é
excludente da responsabilidade (não suscita problemas com o art. 809º).
Se os danos excederem este montante e o lesado quiser uma indemnização total pelos
danos, pode seguir o caminho da responsabilidade extra-obrigacional, onde esta limitação
não existe?
Depende da interpretação que nós fizermos da cláusula contratual, ao abrigo dos arts.
236 e ss do CC. Qual foi o objetivo das partes? Limitar apenas a RO, ou também a extra-
obrigacional? Sendo que, à partida, nada impede que limitem ambas.
As partes só não podem limitar essa responsabilidade em relação aos direitos que
assumamos como indisponíveis Tem que se ver atendendo ao caso concreto.
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