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Madalena Perestrelo de Oliveira — Direito das Obrigações, 2014/2015

PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DELITUAL

Estas são apenas algumas linhas com os traços generalíssimos e típicos da responsabilidade civil
delitual. Não dispensam o estudo dos Manuais recomendados, que deverá completar eventuais falhas e
omissões.

FACTO
Conduta que pode ser imputada ao agente, por estar no controlo da sua vontade. Não
se exige que seja intencional.
Pode ser uma ação ou uma omissão (486.º: só é juridicamente relevante se resultar da
lei ou de um negócio jurídico um dever de agir).

ILICITUDE
Vertente positiva: Inobservância de um direito
Há duas modalidades:
1. Violação de direitos subjetivos: permissão normativa específica de
aproveitamento de um bem. Ficam excluídos: permissões genéricas, v.g.,
autonomia privada.
2. Violação de normas de proteção (“qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios”: 483.º/1).
Requisitos:
(i) norma de conduta aplicável
(ii) a norma destina-se a proteger interesses privados. (se se destinasse a
proteger um interesse geral não faria sentido que um particular pudesse
pedir uma indemnização).
(iii) Adoção, pelo agente, de um comportamento contrário à norma
(iv) Têm de ser abrangidos os interesses protegidos pela norma violada.

Vertente negativa: há alguma causa de justificação da ilicitude? Exs.: ação direta,


legítima defesa, estado de necessidade, comprimento de um dever, consentimento do
lesado.

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CULPA
Vertente positiva: Juízo de censura formulado pelo direito relativamente à conduta
ilícita do agente.
1.ª pergunta que colocam: qual o padrão para avaliar a culpa: 487.º/2. Bom pai de
família, em face das circunstâncias de cada caso.
2.ª pergunta: o agente é imputável? 488.º1.
São inimputáveis:
(i) interditos por anomalia psíquica (487.º/2).
(ii) crianças até aos 6 anos inclusive (487.º/2).
(iii) Pessoas embriagadas, sob o efeito de estupefacientes que não se
tenham colocado voluntariamente nesse estado (487.º/1).
(iv) Qualquer outra situação que torne o agente incapaz de querer ou
entender.

3.º pergunta: nível de culpa?

Hipóteses:
Dolo — atuação voluntária contra a norma jurídica cuja violação acarreta o dano.
(i) direto: o agente atua diretamente contra a norma. Agente quer a
verificação do facto e dirige a sua conduta para que este se produza.
(ii) Necessário: o agente não dirige a sua atuação diretamente a produzir a
verificação do facto, mas aceita-o como consequência necessária da sua
conduta.
(iii) Eventual: o agente representa a verificação do facto como consequência
possível e atua, conformando-se com a sua realização.

Negligência/ mera culpa — violação objetiva de uma norma por inobservância de


deveres de cuidado.
(i) consciente: agente representa a verificação do facto como consequência
possível da sua conduta, mas atua sem se conformar com a sua verificação.
(ii) Inconsciente: o agente não chega a representar a verificação do facto.

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O Professor MENEZES CORDEIRO analisa este requisito a propósito do pressuposto facto. Qualquer das
opções está correta e será aceite na correção dos casos.

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Exemplo de escola para distinguir dolo eventual de negligência consciente:


A tem uma maçã na cabeça. B tenta atingir a maçã com uma flecha, mas falha e
atinge A num olho.
Temos de perguntar se B pensou “posso acertar em A, mas não me importo”
(dolo eventual) ou “posso acerta em A, mas de certeza que isso não vai acontecer
porque eu tenho ótima pontaria” (negligência consciente).
A distinção entre as duas categorias depende apenas de um juízo subjetivo do
agente.

Vertente negativa: há alguma causa de exclusão da culpa? (i) erro desculpável, (ii)
medo invencível, (iii) desculpabilidade2.

DANO
Supressão ou diminuição de uma situação favorável reconhecidamente protegida pelo
direito.

1.º Perguntar que tipos de danos existem. Há 3 tipos de classificações.


Tipo 1
(i) danos patrimoniais: a vantagem prejudicada tem natureza económica.
(ii) danos morais/ não patrimoniais: reporta-se a vantagens que o direito não
admite que possam ser trocadas por dinheiro.
Estudar: (i) os danos morais são ressarcíveis?; (ii) e o dano morte?

Tipo 2
(i) danos emergentes: frustração de uma vantagem já existente
(ii) lucros cessantes: não concretização de uma vantagem que, de outra
forma, se verificaria.
Estes dois tipos de danos são abrangidos pelo dever de indemnizar: 564.º/1.

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O Professor MENEZES CORDEIRO enquadra a falta de consciência da ilicitude na desculpabilidade.

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Tipo 3
(i) danos presentes: já se verificaram no momento da fixação da
indemnização. (os lucros cessantes podem ser danos presentes se já se
tiverem verificado no momento da sentença)
(ii) danos futuros: ainda não se verificaram no momento da fixação da
indemnização.
São os dois ressarcíveis: 564.º/2.

2.º Como se calcula a indemnização?


(i) dano real: comparação entre a situação patrimonial presente e passado do
lesado. Verifica-se no 562.º: primazia à reconstituição natural.
(ii) Dano de cálculo/ patrimonial: comparação entre duas situações
patrimoniais presentes: a real e a hipotética. É a este dano que se atende na
indemnização em dinheiro: 566.º/2. Só recorremos a uma indemnização
em dinheiro se a reconstituição natural se:
a) a reconstituição natural não for possível,
b) não reparar integralmente os danos
c) for excessivamente onerosa para o devedor.

CAUSALIDADE
563.º. Estabelece-se entre o facto e o dano.

Teoria da causalidade adequada:


1.º passo:
Conditio sine qua non
O facto tem de ter concorrido para a produção do dano
e
a sua não ocorrência implicaria que o evento deixasse de se verificar.

2.º passo:
juízo de prognose póstuma
ex post, o juiz deve colocar-se na posição de um observador objetivo que julgue antes
do facto e possua (i) os conhecimentos de um homem normal do sector do tráfego em

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causa e (ii) os conhecimentos especiais do gente. Se o dano for razoavelmente


provável, há causalidade.

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