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Responsabilidade

civil – slides 3
PROF MESTRE EVA CRISTINA SANTOS
A conduta humana: primeiro
elemento da responsabilidade civil
 Um fato da natureza não gera responsabilidade civil por não poder
ser atribuível ao ser humano

 Apenas o ser humano poderá ser civilmente responsabilizado

 A ação ou omissão humana voluntária é pressuposto para a


configuração de responsabilidade civil
 A conduta humana e a voluntariedade
Ex: Paco foi num museu consultar um documento antigo
Ao abrir o livro, a poeira o fez espirrar, com isso, estragou uma folha do
livro
O livro era valioso. Paco terá de indenizar?
Há voluntariedade?
 Voluntariedade não é apenas intenção de causar o dano, mas
também a consciência daquilo que se está fazendo

 A voluntariedade incide não apenas na responsabilidade civil


subjetiva, em que há culpa, mas ainda não objetiva (risco) porque
mesmo nessa última, se fala em consciência do risco, há portanto,
invariavelmente uma voluntariedade.
Classificação da conduta humana
 Positiva: comportamento ativo, o embriagado que arremessa seu
veículo contra o muro do vizinho
 Negativa: é a atuação omissiva geradora de dano, um não fazer,
simples abstenção, é a enfermeira que deixa de ministrar os
medicamentos
 Mesmo na ação omissiva há voluntariedade
da conduta

 Art 186 CC

 Porém, nas omissões, nem sempre haverá


responsabilização, veja o caso de alguém
que passa por uma crise histérica enquanto
outro cego ruma para um precipício. A
pessoa que passa pela crise histérica tem
dever de avisar, mas por sua histeria, está
incapacitada pelo seu choque emocional.
omissivas
 Ex: empresas também têm sido condenadas ao pagamento dos
danos morais quando a inscrição no cadastro de inadimplentes é
mantida mesmo após a quitação do registro desabonador. Nessas
circunstâncias, a jurisprudência tem entendido que se a empresa se omite
de excluir o apontamento em até cinco dias úteis do pagamento, a
inscrição deve ser reputada indevida, ensejando o dever de reparar o dano
moral sofrido pela vítima.

 demonstrou descumprimento do dever de dar quitação regular


em razão do adimplemento da obrigação. (art 319 CC)
E quanto à ilicitude?
 Nem sempre uma conduta humana será ilícita no dever de indenizar, pode haver
dever de indenizar por condutas lícitas, é o caso do vizinho que precisa passar pelo
prédio do outro, senão não terá caminho, em que a indenização está até prevista em
lei (art 1285, CC) ou o caso da indenização devida por expropriação, por motivo de
interesse público.

 Nos casos acima, o dever de reparar o dano decorre de atuação lícita do infrator

 A responsabilidade civil por ato lícito, por fugir à regra, depende sempre de norma
legal que a preveja.
Responsabilidade civil indireta
 Por ato de terceiro:
 Art 932 I: os pais pelos filhos menores; II o tutor e curador; III o
empregador por seus empregados; IV os donos de hotéis pelos
hóspedes; V os que gratuitamente participarem nos produtos do
crime

 Por fato do animal:


 Art 936: o dono ou detentor ressarcirá, se não provar culpa da
vítima ou força maior

 Por fato da coisa:


 Art 937: o dono do edifício pelos danos de sua ruína se provier
de falta de reparos de necessidade manifesta
 Art 938: o que habitar prédio responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem
Dano

 “Sin dano, en derecho privado, no hay


stricto sensu acto ilícito, pues este
derecho tiene por finalidad resarcir, no
reprimir o punir”
 Santos Cifuentes
Dano

 O dano é requisito indispensável para a configuração da


responsabilidade civil.

 Não haveria que se falar em indenização sem dano. Pode haver


responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade
sem dano.

 O dano significa a diminuição no patrimônio de alguém


 A proteção contra o dano poderá ser :

 Preventiva: tutela específica com multa cominatória, objetivando


evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito

 Repressiva: por meio de imposição de sanção (pagamento de


indenização) em caso de a lesão já haver sido efetivada.
Requisitos do dano indenizável

 Violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial


de pessoa física ou jurídica: todo dano pressupõe a agressão a um
bem tutelado, de natureza material ou não, pertencente a um
sujeito de direito, pode ser moral, patrimonial ou à imagem. Art 186
do Cc c/c art 5°, V da CF, o STJ as indenizações por esses danos
podem ser cumuladas

 Certeza do dano: apenas o dano certo e efetivo é indenizável. Não


pode alguém ter de indenizar a vítima por um dano não concreto.
Mesmo em direitos personalíssimos, o fato de não se poder
apresentar um critério preciso para sua mensuração econômica,
não quer dizer que o dano não seja concreto.
Perdas e Danos

 Perdas e danos: dano emergente + lucro cessante

 além do que ele efetivamente perdeu, o que


razoavelmente deixou de lucrar.

 Dano emergente é o dano que ocasionou efetiva


diminuição patrimonial da vítima.
 Lucro cessante é aquilo que o credor deixou de
lucrar, em decorrência do inadimplemento.
Exemplos – dano emergente

 Caio é jogador de futebol de um time


conhecido
 Tício, revoltado porque seu time perdeu,
resolver esfaquear Caio
 Caio perde o movimento da perna em
decorrência disso
 Além de responder penalmente, na esfera
civil Tício, por ter causado dano certo contra
Caio, o juiz poderá ter a certeza do dano
presente em juízo (dano emergente =
prejuízo efetivamente já sofrido)
Exemplos – lucros cessantes
dano patrimonial
 Píndaro é taxista
 Barnes choca seu carro contra o de
Píndaro
 Píndaro fica um mês sem seu meio de
trabalho em decorrência disso
 Fica demonstrado para o juiz que a
atividade cessou por um mês, com a
não auferição de ganhos
Exemplos –
dano moral
 Em diversas situações o dano moral é
presumido, porque é impossível deixar de
imaginar que o dano aconteceu, como quando
se perde um filho, ou quando se tem o nome
negativado injustamente.

 Márcia levou seu pai no salão para fazer a


barba e foi lesionado na garganta, o que levou
a sua morte uma semana depois.
 O dano moral de Márcia é presumido. É o
chamado dano in re ipsa.
 Em caso do dano moral não ser in re ipsa, é necessário provar que
o dano ocorreu, que foi injusto, despropositado, refletiu na vida
pessoal do autor, que além dos aborrecimentos naturais,
acarretou-lhe dano concreto, nas suas relações profissionais,
sociais e familiares.
Casos reconhecidos pelo stj como
dano in de ipsa – dano moral
presumido
 Cadastro de inadimplentes (pelas restrições financeiras
que sofrerá /a responsabilidade será do banco ou do spc
ou dos dois)

 Atraso de voo (incluindo overbooking, atraso de


transporte de viajantes ou mercadoria e bagagem)

 Multas indevidas por parte da administração pública

 Nome de médico em cadastro de plano de saúde sem


seu consentimento (utilização indevida da imagem do
profissional para fins lucrativos)
Perda da chance

 É preciso analisar se há ou não certeza do dano


decorrente da perda da chance

 Ex: erro do advogado, que deixa de entrar com o


recurso adequado no momento certo
ESPÉCIES DE DANO - patrimonial
 Dano patrimonial e moral são os mais tradicionais
 Seguindo a tendência da despatrimonialização do direito civil, outros danos
além dos simplesmente patrimoniais podem ser indenizáveis, como o dano a
bens personalíssimos

 Dano emergente: o que a pessoa efetivamente perdeu, o desfalque que de


fato é possível perceber no patrimônio de quem perdeu, o que não deixa
dúvida.
 Lucro cessante: o que deixou de ganhar
 Cuidado com a indústria da indenização: em que pleitos absurdos são trazidos
ao juízo, com o propósito de obter lucro abusivo
 Por isso, a prova da existência do dano é pressuposto essencial e indispensável,
é necessário provar que houve de fato prejuízo
 Só se devem indenizar a título de lucro cessante e dano emergente os prejuízos
diretos e imediatos, excluídos os danos remotos que não derivam da conduta
do devedor.
Dano moral

 Prejuízo ou lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem


comercialmente redutível a dinheiro, como é o caso dos direitos da
personalidade, a saber, o direito à vida, integridade física (corpo,
vivo ou morto e a voz), integridade psíquica (liberdade,
privacidade, segredo), integridade moral (honra, imagem,
identidade)

 São danos em razão da esfera da subjetividade, do plano


valorativo da pessoa na sociedade

 Art 186 do CC: a indenização é devida, ainda que por dano


exclusivamente moral c/c art 5°, V e X da CF em que assegura-se o
direito à honra e imagem
Dano reflexo ou em ricochete

Vem do direito francês


Prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima à vítima direta da
atuação ilícita

Ex: Segurança de banco inábil atira contra pai de família


A mulher e filhos ficaram sem o sustento
É caso de dano em ricochete
 Não confundir dano em ricochete, com dano indireto

 o dano direto ou indireto se referem ao interesse tutelado: Uma


difamação gera dano moral direto, essa difamação pode gerar de
maneira indireta, dano patrimonial

 Já o dano em ricochete, se refere a sujeitos vitimados

 Essas classificações podem coexistir


Nexo de causalidade

 Liga o resultado danoso ao agente


 É indispensável para que se possa concluir pela responsabilidade
jurídica do agente
 Elo etiológico que une a conduta do agente (comissiva ou omissiva)
ao dano.

 Três teorias sobre o nexo:


Teoria da equivalência das
condições
 Tudo aquilo que concorre para o evento é considerado como
causa,

 Não especifica qual fato, no encadeamento de fatos do


evento danoso, provocou de verdade o prejuízo

 É uma teoria de espectro amplo, considera elemento causal


todo antecedente
 Problema: a cadeia incessante de fatos antecedentes pode
levar o número de causas ao infinito, as concausas acabariam
sendo imputadas a um sem número de agentes, cada homem
seria responsável pelos problemas de toda a humanidade, no
fim. (Gustavo Tepedino)
 É adotada no direito penal
Teoria da causalidade adequada
 Para os adeptos dessa teoria, não se pode considerar como
causa toda e qualquer condição que contribua para que se
efetive o resultado

 Cavalieri: causa é o antecedente não só necessário, mas


também adequado à produção do resultado, nem todos os
antecedentes serão causa, mas apenas aqueles que forem
apropriados para produzir o evento
 Problema: dá muito poder ao julgador de dizer se algo foi ou não
causa adequada

 Ex: alguém marcou passagem para o avião das 8hs.


 O taxista atrasou e a pessoa chegou atrasada no aeroporto,
teve que pegar o avião das 9hs.
 O avião das 9hs caiu.
 O taxista não terá que indenizar, porque sua conduta não era
adequada para produzir o efeito na caída do avião.
Teoria da causalidade direta ou
imediata (necessariedade da
causa)
 Desenvolvida no Brasil pelo professor Augustinho Alvim
 Causa para essa teoria, seria apenas o antecedente fático que,
ligado ao vínculo de necessariedade ao resultado danoso,
determinasse esse último como uma consequência sua, direta e
imediata.
 É indenizável todo dano que se filie a uma causa, ainda que
remota, desde que ela lhe seja causa necessária, por não existir
outra que explique o mesmo dano.
 A causa anterior deixa de ser considerada, não por ser remota,
mas pela interposição de outra causa, responsável pela produção
do feito. (Tepedino)
 Ex: Caio é ferido por Tício (lesão corporal)
 Caio é socorrido por Johnes.
 No caminho pro hospital, o carro de Johnes capota. Ambos
falecem.
 Pela morte da vítima só responde Johnes, se não for reconhecida
alguma excludente em seu favor.
 Tício não responderia pelo evento uma vez que seu
comportamento como efeito direto e imediato, apenas a lesão
corporal.
E o CC do Brasil?
 A doutrina e a jurisprudência confundem as teorias da
causalidade adequada e da causalidade direta e imediata

 Art. 403, CC. “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor,


as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros
cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.”

 Apesar desse artigo falar em direto e necessário, ora há confusão


entre as duas teorias, ora há uma elasticidade, chegando a uma
teoria dos resultados mais graves, no geral em favor da vítima
Teoria do resultado mais grave
(thin skull rule)
 O agente não sabia que a vítima era hemofílica, ou diabética, deu-
lhe uma pancada, que em uma pessoa normal, faria a mesma
apenas sentir dor, no caso do hemofílico ou diabético, pode vir a
falecer

Muitos tribunais acreditam, por essa teoria, ser justo que o autor da
agressão compense a vítima

Em suma: essa teoria está em oposição às teorias mais tradicionais, mas


vem sendo aplicada, porém, não é a regra
Causas concorrentes
 Quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência de
dano
 O CC adotou a culpa concorrente como critério de
proporcionalidade da indenização
 Art 945 do CC
 Em outros direitos em que se está diante de vulneráveis, apenas a
culpa exclusiva da vítima pode levar a interferir na
responsabilidade civil, dissolvendo a responsabilidade do polo forte;
não há que se falar em culpa concorrente, porém, se houver
caracterização de culpa concorrente, na verdade, ocorrerá a
responsabilidade integral do polo forte.
concausas
 A concausa não inicia e nem interrompe o nexo
causal, ela apenas junta-se à primeira causa e
concorre, portanto, para o resultado
A grande questão da concausa é se ela rompe ou não o
nexo de causalidade dos atos do primeiro agente.

 Causas absolutamente independentes: Nesses casos, rompe-se o


 Causa superveniente: pessoa foi alvejada, e depois nexo de causalidade
ocorreu um terremoto, e a pessoa morreu pelo entre os atos do primeiro
terremoto agente e o resultado
danoso
 Causa preexistente: a pessoa bebeu veneno antes de
falecer pelo tiro de outrem
 Causa concomitante: um derrame cerebral fulminante
por força de diabetes ao tempo em que é atingido por Consequência: não há
projétil. responsabilização do
primeiro agente
concausas
 Causas relativamente independentes:
 Incide no curso do processo naturalístico causal, somando-se à
Não excluem o
conduta do agente nexo causal, e
 Podem ser: portanto, não
excluem a
obrigação de
 Concausa preexistente: Caio, portador de doença genética, é indenizar
atingido por Tício, em função da doença anterior, caio vem a
falecer
 Concausa concomitante: alguém vem a falecer de parada O nexo
cardíaca por susto ao mesmo tempo em que foi alvejado, poderá ser
rompido se
essa causa
 Concausa superveniente: o sujeito foi ferido por outrem, é levado por si só
ao hospital, e a ambulância capota. Ele falece por força do determinar a
tombamento do veículo. ocorrência do
evento
danoso
Teoria da imputação objetiva e a
responsabilidade civil
 Só pode ser responsabilizado por um fato, se ele criou ou incrementou
um risco proibido relevante e, ademais, se o resultado jurídico decorreu
desse risco.

 Note-se, contudo, que se o risco criado é permitido, tolerado ou


insignificante, não haverá imputação objetiva e, por conseguinte,
atribuição de resultado.
 Não há imputação objetiva quando: o risco criado é permitido, nas
situações de risco normal (caso do instrutor de voo que deu aulas ao
terrorista da WTC), nas intervenções médicas, nas lesões corporais
esportivas, na teoria da confiança, quando o risco é tolerado, quando o
risco é insignificante (caso de alguém que joga um copo de água na
represa que vem a transbordar)

 Essa teoria é um mecanismo limitador do nexo de causalidade, é uma


teoria excludente do nexo causal
 A teoria do nexo de causalidade é um peneira por onde tudo passa, mas
a imputação objetiva conta com orifícios menores que limitam a
imputação.

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