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DANO : PRESSUPOSTO CENTRAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

PROFª. DEISY SANGLARD


DANO
a) Noções gerais: ELEMENTO CENTRAL, PRIMORDIAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL.
b) Conceito: Lesão a um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou não – causado por ação
ou omissão do sujeito infrator (GAGLIANO, 2018, p. 36).
c) Requisitos do dano indenizável:
- violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou
jurídica
- certeza do dano: somente o dano certo é indenizável.
Não se indeniza dano hipotético. Dano precisa se concretizar para caracterizar a
responsabilidade civil.
 Dano e prejuízo são sinônimos?
Agente causa dano, vítima sofre prejuízo.
EVOLUÇÃO: DA CONCEPÇÃO CLÁSSICA À CONTEMPORÂNEA

1. CONCEPÇÃO CLÁSSICA :
• Patrimônio é o reflexo econômico da personalidade.
• O dano tradicionalmente foi tido simplesmente como o impacto negativo
causado no patrimônio do lesado.
Este impacto poderia se dar tanto pela diminuição efetiva do patrimônio
alheio, quando haveria especificamente danos emergentes, quanto pela
frustração do crescimento patrimonial alheio, quando haveria
especificamente lucros cessantes.
• Assim, segundo a concepção clássica, o conceito de dano alberga não só o
que o lesado efetivamente perdeu, mas também o que poderia auferir e não
auferiu graças à lesão por ele sofrida.
 Essa noção era, portanto, eminentemente econômica.
EVOLUÇÃO: DA CONCEPÇÃO CLÁSSICA À CONTEMPORÂNEA

Concepção Moderna:
• Com o tempo, o direito passou a reconhecer a existência de outra ordem de danos não estritamente
relacionados ao patrimônio, ou seja, danos que não diriam respeito ao aspecto econômico da vida.
• Tais danos vêm sendo denominados não-patrimoniais ou simplesmente morais.
• Embora injustamente causados a outrem, tais danos não afetam DIRETAMENTE o patrimônio do lesado.
 ASSIM, DADA A EVOLUÇÃO DO CONCEITO, A MELHOR DEFINIÇÃO DE DANO TEM ALBERGADO
TODA E QUALQUER DIMINUIÇÃO OU SUBTRAÇÃO DE UM BEM OU INTERESSE JURÍDICO.
Há amplo reconhecimento da existência dos danos morais, seja na esfera doutrinária quanto na
legislativa (art. 5ª, X, CF/88; art. 6º, VI, CDC, art. 186, CC):
Art. 6º, CDC. “São direitos básicos do consumidor: (…) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”
Art. 186, CC. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

NO MAIS...
PARA QUE O DANO, PATRIMONIAL OU NÃO, SEJA RESSARCÍVEL, ELE
DEVE GOZAR DE CERTOS REQUISITOS, COMO CERTEZA, ATUALIDADE E
SUBSISTÊNCIA.

• Certeza. Por se exigir certeza, não se repara o dano hipotético, eventual ou


incerto.
• Atualidade. Por exigir atualidade, não se indeniza dano que ainda venha a
ocorrer no futuro. Note-se, no entanto, que a exigência de atualidade não impede
o ressarcimento integral do dano presente que continuará a se ampliar no futuro,
como são os casos de perda da capacidade laboral.

• Subsistência. Não se confere indenização ao dano que já tenha sido ressarcido


no passado e, por isso, diz-se que o dano deva ser subsistente.
ESPÉCIES DE DANOS
ESPÉCIES/MODALIDADES:
1) DANO MATERIAL (art. 402, CC):
- Danos emergentes: o que perdeu. Ex. taxista
- Lucros Cessantes: o que deixou de ganhar
- Perda de uma chance: destruição de uma possibilidade de ganho, a qual, embora “incerta”, era razoável.
SÉRIA E REAL.
2) DANO ESTÉTICO: Aquele que atinge o aspecto físico da pessoa, modificando-lhe a aparência de modo
duradouro (ainda que temporário) ou permanente. O dano estético caracteriza-se pela lesão
extrapatrimonial à integridade física com resultados duradouros na aparência da pessoa, com formação
de cicatrizes, deformidades ou aleijão.
• A vítima sofre duplamente, pela integridade e porque sempre, ao olhar-se no espelho e ao ser vista por
terceiros, lembrará do mal que se lhe acometeu.
 Sum. 387 STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
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DANO
3) DANO MORAL:
 Próprio – origem de tudo. Causa dor, angústia, sofrimento, amargura, tristeza.
 Impróprio – gera violação a direito da personalidade. Nome, honra, imagem.
 OBS: Súmula 227 STJ – pessoa jurídica pode sofrer dano moral. APENAS PESSOA
JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO.
 AFETA A CREDIBILIDADE DA PJ.
Obs: Corrente contrária: RJ – Gustavo Tepedino não reconhece dano moral da pessoa
jurídica. Dano institucional
 Subjetivo (regra) – é aquele que precisa ser provado. Art. 373, I, CPC - ônus da prova – de quem
alega, ônus da prova.
 Objetivo (exceção)– dano in re ipsa – dano moral presumido. Ex.: atraso de voo, inclusão indevida,
S. 388 STJ (simples devolução indevida de cheque), pais que demandam perda dos filhos (Filho
perdido da Carminha e do Max, Jorginho, que foi abandonado no lixão). Abandono afetivo.
Presunção relativa – admite prova em contrário (inverter o ônus).
4. DANO DIRETO – atinge diretamente à vítima.
5. INDIRETO/ REFLEXO/ POR RICOCHETE) – atinge terceiros.
Dano moral em ricochete. Ex.: casal vai atravessar o mar de balsa. Apoiou, ferro estava podre.
Perda total da cintura pra baixo. Rapaz ganhou. Tempos depois, esposa ingressou com ação por
dano em ricochete. Perdeu direito ao sexo. Discussão se sexo é direito ou dever, entenderão que era
os 2. TJ condenou em 150.000,00.
EX2:Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INFECÇÃO. BACTÉRIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
ENTE PÚBLICO. OMISSÃO ESPECÍFICA. DANO MORAL CONFIGURADO. 1. In casu, a controvérsia reside na existência de
nexo causal entre um ato omissivo do réu e o dano, ou seja, se o menor contraiu a bactéria devido ao ambiente do Posto de Saúde
estar infectado uma vez que deixou de tomar cuidados necessários com a antissepsia do local e instrumentos médicos utilizados
quando da vacinação. (...) 5. No que tange aos danos morais, decorre do próprio evento danoso, pois inegável a dor e o sofrimento
suportados tanto pelo menor quanto pelos seus genitores em razão da infecção sofrida, sendo necessárias internação e
intervenção cirúrgica no tratamento contra a bactéria, tratando-se, por conseguinte, de dano moral in re ipsa. 6. Quanto ao dano
moral sofrido pelos pais da criança, denomina-se dano moral indireto, ou "por ricochete", pelo qual a pessoa lesada é atingida de
modo reflexo pela conduta ilícita. 7. Levando em conta a gravidade da lesão, o caráter punitivo da medida, a condição social e
econômica do lesado, bem como a repercussão do dano, o quantum indenizatório deve ser fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Valor este devidamente corrigido pelo IPCA-E a contar desta data (arbitramento), nos termos da Súmula nº 362 do STJ, com a
incidência de juros de mora 1% a partir do evento danoso, conforme Súmula nº 54 do STJ. DERAM PROVIMENTO AO
RECURSO, VENCIDO O RELATOR QUE PROVIA EM MENOR EXTENSÃO. (Apelação Cível Nº 70066295437, Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Léo Romi Pilau Júnior, Julgado em 30/09/2015).
ASPECTOS IMPORTANTES: DANO MORAL
 Enunciados e súmulas:
- Enunciado 159, III Jornada DC – “O dano moral, assim compreendido todo o
dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente
a prejuízo material.
- Súmula 498 STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos
morais.
- Sumula 385 STJ: Não cabe indenização por anotação irregular quando
preexistente legítima inscrição.
- POSSÍVEL DANO MORAL INDIRETO POR RICOCHETE): dor sofrida por
familiar de acidentado (divergência)
- Pessoa Jurídica – Súmula 227 STJ – Pessoa Jurídica pode sofrer dano moral.
 Dano à identidade da pessoa (nome, pseudônimo e interesses
diretamente relacionados)
Violação dos arts. 16 a 20 CC
Dano à vida privada, intimidade.
- Esfera da publicidade: atos praticados em público, com objetivo público.

- Esfera pessoal: abrange as relações com o meio social, embora não haja
interesse na divulgação.

- Esfera íntima: se refere ao modo de ser de cada pessoa. Compreende na


esfera confidencial, de segredo, ou seja, de intimidade.

**** QUANTO MAIS PRÓXIMO AO INDIVÍDUO, MAIOR A PROTEÇÃO.


- DANO À IMAGEM:
Não há relevância se foi desinteressado ou não, ou se foi ofensiva ou
não (mesmo sem repercussão negativa). Dano é presumido.
Obs: Imagem coletiva, para fins policiais INDISPENSÁVEIS, razões
científicas ou interesse público (não tem presunção de dano).
EX: A atriz Maitê Proença, depois de pousar nua para a Revista Playboy, teve o dissabor de ver uma das
fotos publicada em um jornal carioca, sem o seu consentimento. Em razão disso, ingressou com ação de
indenização contra o referido jornal. Alegou ter direito a dano material (já que ela não recebeu qualquer
pagamento pela utilização de sua foto) e a dano moral (já que a foto nua lhe colocava em uma
constrangedora situação, especialmente porque o público que lia o jornal não era o mesmo público que lia a
revista Playboy). Quanto ao dano material, nada demais. É óbvio que a atriz tem direito de receber uma
remuneração pelo uso da sua imagem, já que o jornal vendeu mais exemplares às custas dela. A decisão do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) foi nesse sentido. O problema foi quanto ao dano moral. O
TJRJ, em polêmica decisão, entendeu que não teria havido dano moral. Confira o argumento: “só mulher
feia pode se sentir humilhada, constrangida, vexada em ver seu corpo desnudo estampado em jornais ou
em revistas. As bonitas, não”. Se Maitê Proença fosse “feia, gorda, cheia de estrias, de celulite, de culote e
de pelancas, a publicação de sua fotografia desnuda – ou quase – em jornal de grande circulação,
certamente lhe acarretaria um grande vexame”. Para os desembargadores, “tratando-se de uma das
mulheres mais lindas do Brasil”, nada justificaria o pedido de indenização por danos morais. A atriz recorreu
ao STJ que modificou a decisão do TJRJ.
“Recurso Especial. Direito Processual Civil e Direito Civil. Publicação não autorizada de foto integrante de
ensaio fotográfico contratado com revista especializada. Dano moral. Configuração”.
- Dano à integridade intelectual
- Lei 9610/98 trata de direitos autorais.
- Lei 9279/96 trata de propriedade industrial.

- Dano à honra:
HONRA:
- indivíduo constrói com o tempo;
- advém da identidade pessoal da pessoa (relacionada à conduta proba).

- Dano biológico:
- à saúde
- dano corporal (integridade psicofísica da pessoa: dano ao corpo ou dano estético).
- saúde mental (dano psíquico).
- Danos existenciais:
É a lesão ao complexo de relações que auxiliam no desenvolvimento normal da
personalidade do sujeito, abrangendo a ordem pessoal ou a ordem social. É uma afetação
negativa, total ou parcial, permanente ou temporária, seja a uma atividade, seja a um
conjunto de atividades que a vítima do dano, normalmente tinha incorporado ao seu
cotidiano e que, em razão do efeito lesivo precisou modificar em sua forma de realização, ou
mesmo suprimir sua rotina. Um “ter que agir de outra forma” ou um “não poder fazer mais
como antes”.

- afetação negativa do cotidiano.


- Exemplos:
Pessoa que recebe sangue contaminado (AIDS)
Pessoa vítima acidente de trânsito e fica estéril.
Internet e divulgação de imagens...
Caso Pedrinho (nascido em 1986 – 14 anos após).
Talidomida (Lei 7070 de 1982) Pensão especial. Dano existencial
dos pais e filhos.
Direito do trabalho: DOR/LER e trabalho escravo.
DANO MORAL e DISSABORES:

Enunciado n. 159 do Conselho da Justiça Federal na III Jornada de Direito Civil, pelo qual o dano moral
não se confunde com os meros aborrecimentos decorrentes de prejuízo material. (O dano moral, assim
compreendido todo dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente a
prejuízo material.)

DANO MORAL - Responsabilidade civil - Compra e venda - Entrega de faqueiro acondicionado em caixa
de papelão em vez de estojo de madeira, em desacordo com o que fora adquirido - Posterior entrega
desse produto como presente de casamento - Inocorrência de dano moral - Caracterização como
aborrecimento do dia-a-dia que não dá ensejo à referida indenização, pois se insere nos transtornos que
normalmente ocorrem na vida de qualquer pessoa, insuficientes para acarretar ofensa a bens
personalíssimos - Indenizatória improcedente - Recurso improviso”. (Primeiro Tribunal de Alçada Civil de
São Paulo, PROCESSO: 1114302-1, RECURSO: Apelação, ORIGEM: São José dos Campos,
JULGADOR: 5ª Câmara, JULGAMENTO: 02/10/2002, RELATOR: Álvaro Torres Júnior, DECISÃO:
Negaram Provimento, VU)
Ex: Google deve pagar R$ 250 mil a Daniella Cicarelli por vídeo íntimo.
Apresentadora havia conseguido parecer favorável no Tribunal de Justiça. STJ
julgou que multa diária de R$ 250 mil atingiu 'patamares estratosféricos'.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2015, determinou que o Google deve
pagar multa de R$ 250 mil reais à apresentadora e modelo Daniella Cicarelli por
não impedir que um vídeo íntimo dela fosse publicado no YouTube. O mesmo
valor deve ser pago ao empresário Tato Malzoni, que aparece com ela em uma
praia na Espanha.
Ex: Processo movido por Luana Piovani e Dado Dolabella contra o Programa
Pânico na TV (RedeTV).
O motivo do processo foi a perseguição sofrida pelos atores, em um famoso
quadro do programa, em que os humoristas pretendiam fazer com que a atriz
calçasse as “sandálias da humildade”, destinadas às celebridades mais
antipáticas.
O juiz da causa, convencido de que os humoristas violaram a honra, a privacidade
e a intimidade dos artistas, condenou a RedeTV a pagar uma indenização de R$
250.000,00 para a atriz e de R$ 50.000,00 para o ator
Ex: Atriz Carolina Dieckman já havia sido “homenageada” e convidada a calçar
as “sandálias da humildade”.
No intuito de chamar a atenção da atriz, os humoristas foram ao condomínio
onde ela mora com guindaste e megafone, chamando-a pelo nome. O filho da
atriz, que também estava no apartamento, sentiu-se igualmente constrangido
com a “brincadeira”.
A atriz moveu ação judicial contra o programa, vencendo tanto na primeira
quanto na segunda instância. A indenização fixada na decisão foi de R$
35.000,00. O programa Pânico na TV também foi proibido a usar a imagem da
autora ou a fazer referência a seu nome.
 DANO ESTÉTICO
 Alteração morfológica, pode gerar afeamento (alterar/tornar “mais” feio/ “não agradável “para
vítima) em alguma parte do corpo humano.
*** Autônomo ou espécie de dano moral?
OBS: Maria Helena Diniz diz que é espécie de dano moral; contudo, maior parte da doutrina
entende autônomo, p/ex: Cristiano Farias e Stolze.

Súmula 37 STJ – São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato

Súmula 387 STJ – É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
Ementa: ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO ENTRE AUTOMÓVEL E MOTOCICLETA. RÉU
QUE NÃO OBSERVA A CAUTELA NECESSÁRIA AO CONVERGIR À ESQUERDA. LESÕES
FÍSICAS. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM ARBITRADO MANTIDO. DANO ESTÉTICO
AFASTADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 387 DO STJ. Caso em que resta incontroversa a culpa do
condutor do veículo do réu no sinistro, porquanto pretendendo conversão à esquerda, deveria
atentar ao fluxo de veículos que transitavam na via, buscando assegurar-se da inexistência de
tráfego a impedir a manobra pretendida. Em razão da colisão, verifica-se que o autor sofreu fratura
no primeiro metacarpo esquerdo e fratura proximal na fíbula direita, necessitando de tratamento
médico e intervenção cirúrgica, razão pela qual correta a fixação de indenização extrapatrimonial no
valor de R$ 4.000,00. Todavia, no que tange ao alegado dano estético, embora possibilitada a
cumulação dos pedidos de indenização por dano moral e estético, quando autonomamente
identificados, nos moldes da Súmula 387 do STJ, na hipótese dos autos, não se verifica lesão
estética, já que a cicatriz apresentada (fotografia da fl. 37) não se afigura sequer aparente,
mostrando-se incapaz de macular a autoestima do requerente ou causar sentimento de vergonha.
Demais disso, não há comprovação de que após a recuperação do demandante, tenha
ele permanecido com cicatriz ou deformidade física permanente, seja total ou parcial. Sentença
parcialmente reformada. RECURSO PROVIDO EM PARTE. (Recurso Cível Nº 71005284526,
Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Marta Borges Ortiz, Julgado em
24/03/2015)
PERDA DE UMA CHANCE
PERDA DE UMA CHANCE: DANO CERTO?
- Hipótese autônoma. Não se enquadra no lucro cessante.
- Advém da teoria francesa.
- Recente: menos de 10 anos.
- Primeiro caso Show do Milhão. STJ. 15 de junho de 2000.
- Requisitos:
* CHANCES SÉRIAS E REAIS.
* Análise da álea (possibilidade de vantagem/probabilidade de uma perda) contida
na chance perdida: Haverá indenização proporcional a perda da vantagem.
Ementa: RECURSO INOMINADO. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
EM DECORRÊNCIA DA PERDA DE UMA CHANCE. RESPONSABILIDADE CIVIL
SUBJETIVA. RÉU QUE, NA CONDIÇÃO DE PROCURADOR CONSTITUÍDO DO
AUTOR, DEIXOU DE APRESENTAR DEFESA EM PROCESSO DE BUSCA E
APREENSÃO DE VEÍCULO PARA O QUAL FOI CONTRATADO. CONSIDERANDO AS
REAIS POSSIBILIDADES DE ÊXITO, O VALOR DA INDENIZAÇÃO DEVERÁ SER
MINORADO PARA R$ 2.000,00 (DOIS MIL REAIS). DANO MORAIS CONFIGURADOS E
QUE DEVEM SER MANTIDOS EM R$ 2.000,00 (DOIS MIL REAIS). PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO. (Recurso Cível Nº 71005336771, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Gisele Anne Vieira de Azambuja, Julgado em 22/09/2015).
Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONSUMIDOR.
CONCURSO ENEM. ERRO DO FUNCIONARIO DO BANCO RÉU NO
MOMENTO DE DIGITAR O NÚMERO DO CÓDIGO DE BARRAS.
INSCRIÇÃO NÃO REALIZADA. PERDA DE UMA CHANCE. INDENIZAÇÃO
DEVIDA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO DE
R$ 1.000,00 (MIL REAIS) QUE NÃO COMPORTA MAJORAÇÃO.
SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO NÃO PROVIDO. (Recurso Cível Nº
71005467337, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Gisele Anne Vieira de Azambuja, Julgado em 22/09/2015)
NOVOS DANOS? DANO MORAL COLETIVO E DANO MORAL SOCIAL?

DANO MORAL COLETIVO: Quando há violação a direitos da personalidade em


seu aspecto individual homogêneo ou coletivo em sentido estrito, em que as
vítimas são determinadas ou determináveis. A indenização é destinada a elas,
vítimas, diferentemente do dano social.

DANO MORAL SOCIAL: Aqueles que causam um rebaixamento no nível de vida


da coletividade e que decorrem de conduta socialmente reprováveis. Tal tipo de
dano dá-se quando as empresas praticam atos negativamente exemplares, ou
seja, condutas corriqueiras que causam mal estar social. Envolvem interesses
difusos e as vítimas são indeterminadas ou indetermináveis. Indenização
derivada do dano social não é para a vítima, sendo destinada a um fundo, a
critério do juiz (Função social da RC)
DANO MORAL COLETIVO
“(...) O dano moral coletivo é espécie autônoma de dano que está relacionada à integridade psico-física da
coletividade, bem de natureza estritamente transindividual e que, portanto, não se identifica com aqueles
tradicionais atributos da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico), amparados pelos danos
morais individuais. “O dano moral coletivo não se confunde com o somatório das lesões extrapatrimoniais
singulares, por isso não se submete ao princípio da reparação integral (art. 944, caput, do CC/02), cumprindo,
ademais, funções específicas. “No dano moral coletivo, a função punitiva - sancionamento exemplar ao ofensor - é,
aliada ao caráter preventivo – de inibição da reiteração da prática ilícita - e ao princípio da vedação do
enriquecimento ilícito do agente, a fim de que o eventual proveito patrimonial obtido com a prática do ato irregular
seja revertido em favor da sociedade. “O dever de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho que é
atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do CDC, tem um conteúdo coletivo implícito,
uma função social, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis na
sociedade, entre eles, o tempo.
“O desrespeito voluntário das garantias legais, com o nítido intuito de otimizar o lucro em prejuízo da qualidade do
serviço, revela ofensa aos deveres anexos ao princípio boa-fé objetiva e configura lesão injusta e intolerável à
função social da atividade produtiva e à proteção do tempo útil do consumidor. “Na hipótese concreta, a instituição
financeira recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei municipal e
federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e intolerável ao interesse
social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente para a configuração do dano moral
coletivo. (REsp 1737412/SE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe
08/02/2019)
DANOS COLETIVOS E DIFUSOS
- ART. 81 CDC

- DANOS COLETIVOS LATO SENSU (DIFUSOS, COLETIVOS STRICTU SENSU E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS).

Interesses DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Base legal Art. 81, parágrafo único, I, CDC Art. 81, parágrafo único, II, CDC Art. 81, parágrafo único, III, CDC

Destinatários Indeterminados Determináveis Determinados

Natureza Indivisível Indivisível Divisível

Elemento de Ligação Situação de fato Relação jurídica base Situação de fato

Instrumento de Defesa Ação Civil e Ação Popular ACP e Mandado de Segurança Ação Civil Coletiva
Coletivo
EX: “TOTO BOLA. Sistema de loterias de chances múltiplas. Fraude que
retirava do consumidor a chance de vencer. Ação de reparação de danos
materiais e morais. Danos materiais limitados ao valor das cartelas
comprovadamente adquiridas. danos morais puros não caracterizados.
Possibilidade, porém, de excepcional aplicação da função punitiva da
responsabilidade civil. Na presença de danos mais propriamente sociais do
que individuais, recomenda-se o recolhimento dos valores da condenação ao
fundo de defesa de interesses difusos. Recurso parcialmente provido. TJ/RS,
no Recurso Cível 71001281054, DJ 18/07/2007)
DANO MORAL COLETIVO: “Civil e processo civil. Recurso especial. Ação civil
pública proposta pelo PROCON e pelo Estado de São Paulo. Anticoncepcional
Microvlar. Acontecimentos que se notabilizaram como o 'caso das pílulas de farinha'.
Cartelas de comprimidos sem princípio ativo, utilizadas para teste de maquinário,
que acabaram atingindo consumidoras e não impediram a gravidez indesejada.
Pedido de condenação genérica, permitindo futura liquidação individual por parte das
consumidoras lesadas. Discussão vinculada à necessidade de respeito à segurança
do consumidor, ao direito de informação e à compensação pelos danos morais
sofridos. [...] A mulher que toma tal medicamento tem a intenção de utilizá-lo como
meio a possibilitar sua escolha quanto ao momento de ter filhos, e a falha do
remédio, ao frustrar a opção da mulher, dá ensejo à obrigação de compensação
pelos danos morais, em liquidação posterior. Recurso especial não conhecido.” (STJ,
REsp. 866.636/SP, DJ 06/12/2007, a 3ª Turma)
DICAS SOBRE INDENIZAÇÃO
FUNDAMENTOS LEGAIS:

- Mede-se pela extensão do dano (art. 944,CC)


- Culpa concorrente (art. 945,CC)
- Se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão
solidariamente (art. 942,CC)
- Caso de homicídio (art. 948,CC)
- Caso de lesão ou outra ofensa a saúde (art. 949)
- Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer a sua profissão ou lhe diminua a capacidade de
trabalho (art. 949 e 950,CC)
REQUISITOS DO DANO INDENIZÁVEL:
1 - violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou
jurídica.
2 - certeza do dano:
- Ninguém pode indenizar a vítima de um dano hipotético.
- No que tange à certeza do dano, a doutrina manualista brasileira traz a ideia de que
ninguém será obrigado a compensar a vítima por um dano hipotético ou abstrato. O dano,
portanto, sempre deverá ser necessariamente certo. Quando há violação, por exemplo, a um
direito de personalidade de um indivíduo há um dano certo.
Obs: Dano in re ipsa:
Nos direitos de personalidade e dano extrapatrimonial: não há necessidade de se
provar a dor, vexame, humilhação, tristeza ou qualquer outro sentimento negativo. Configura
dano extrapatrimonial pela simples violação a direito da personalidade. STJ: prova desse
dano é ínsita no próprio fato.
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE
DÍVIDA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO FIRMADO POR TERCEIRA
PESSOA EM NOME DA PARTE AUTORA. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. FRAUDE. RISCO
DO EMPREENDIMENTO. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. 1. Irresignação recursal apreciada de forma
monocrática, nos termos do artigo 557, do Código de Processo Civil. 2. Devem responder civilmente as
empresas demandadas pelos danos experimentados pela parte autora em razão da realização de
contratações de terceiros em seu nome, pois a responsabilidade por danos decorrentes de sua atividade é
objetiva. Ausência de provas de que as instituições financeiras rés tenham tomado as cautelas necessárias
ou suficientes para impedir as fraudes. 3. Presentes os pressupostos da obrigação de indenizar. Evidente se
mostra a ocorrência dos danos morais pelas inscrições indevidas do nome do requerente nos cadastros
desabonadores. Trata-se de danos morais "in re ipsa", que dispensam a comprovação da sua extensão,
sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato. O simples uso desautorizado dos dados do
demandante é, por si só, fato gerador de dano moral. No caso dos autos, a situação se agrava diante da
existência de inscrição do nome do consumidor no rol de maus pagadores. 4. Não basta para o banco
demandado ser eximido de responsabilização a alegação de que também foram vítimas de fraudes, sofrendo
prejuízos maiores que os do autor. Para tanto, seria necessário que demonstrassem a adoção de medidas
consistentes na verificação da idoneidade dos documentos, o que não fizeram. 5. Manutenção do
reconhecimento da inexistência das dívidas, bem como da condenação ao pagamento de indenização por
danos morais. Valor da indenização minorado para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para fins de se adequar as
peculiaridades do caso concreto e aos precedentes deste órgão fracionário. Quantum indenizatório que
deverá ser corrigido monetariamente pelo IGP-M a partir desta data, e acrescido de juros de mora de 1% ao
mês desde a data em que a parte autora tomou conhecimento da existência de restrição creditícia indevida
em seu nome. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação Cível Nº 70066419177,
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em
02/10/2015)
REPARAÇÃO

• O dever de reparar pode ser satisfeito tanto pela:


(i) reposição natural, que significa a reposição do bem lesado ao seu
estado inicial (o denominado retorno ao status quo ante);
(ii) ) indenização propriamente dita, que implica o pagamento in
pecunia da exata quantia equivalente a perda patrimonial sofrida pelo
lesado quando há impossibilidade de reparação in natura; Artigo 947
do Código Civil, que assim dispõe: “Se o devedor não puder cumprir a
prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em
moeda corrente”.
(iii) pela compensação dos danos não-patrimoniais, que, não
podendo ser reduzidos a uma expressão econômica, devem ser
ressarcidos de alguma forma.
Observações Gerais

• O dever de reparar pressupõe o dano.


• O dano exerce papel central na regra de responsabilidade civil pois, ele é a
fattispecie mínima que, existindo em conjunto com os demais requisitos da
responsabilidade civil, ensejará a imposição do dever de ressarcimento sobre um
terceiro, que usualmente o causa.
• Mesmo que uma certa atividade coloque em risco certos bens juridicamente
protegidos, se este risco não se concretiza em dano, não há que se falar em
responsabilidade civil.
• Ainda que haja infração dolosa a uma norma legal, como o excesso de
velocidade ao trafegar por vias públicas, se daí não advier danos, não se cogita
de responsabilidade civil.
 Exceção: Penas Civis. Em três casos, pelo menos, há reparação sem dano:
• a cobrança de cláusula penal (art. 416, CC),
• os juros moratórios
• devolução em dobro imposta aquele que cobra dívida já paga *
(DIVERGÊNCIA)(art. 940, CC)
Observações Gerais
*** Caráter Lenitivo (que abranda, ameniza) – reparar o mal pelo bem. Ex. TJSC – laboratório
falso resultado de HIV. Expectativa entre o resultado positivo e o novo resultado da contraprova.
Condenação a uma semana com as despesas pagas numa viagem para Paris. (antes do corona)
QUANTUM INDENIZATÓRIO : ** Verifica extensão do dano; condição da vítima e agente;
natureza repressiva/punitiva/pedagógica/educativo.
NÃO HÁ NO NOSSO ORDENAMENTO QUALQUER TIPO DE “TARIFAÇÃO”/TABELA DO
DANO MORAL .
A REPARAÇÃO DEVE SER INTEGRAL.. A doutrina e jurisprudência vêm entendendo que o
dever de reparar, por ter caráter constitucional, não pode ser limitado por força de lei. “A
Constituição de 1988 emprestou à reparação decorrente do dano moral tratamento especial,
desejando que a indenização decorrente desse dano fosse a mais ampla. Posta a questão
nesses termos, não seria possível sujeitá-la aos limites estreitos da lei de imprensa. Se o
fizéssemos, estaríamos interpretando a Constituição no rumo da lei ordinária, quando é de
sabença comum que as leis devem ser interpretadas no rumo da Constituição (…)” (STF, RE
396386/SP – Rel. Min. Carlos Velloso – Julgado em 29/06/2004 - Segunda Turma – Publicado no
DJ em 13.08.2004, p. 285).
 Vale lembrar que o Código Civil é expresso ao mencionar que a indenização mede-se pela

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