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BULLYING EM AMBIENTE ESCOLAR

Conforme Lei 13.185/2015, que regulamenta o Combate à


Intimidação Sistemática em seu art. 1º , §1º reza:

Art 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação


Sistemática ( Bullying ) em todo o território nacional.

§ 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se


intimidação sistemática ( bullying ) todo ato de violência física ou
psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação
evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais
pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e
angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre
as partes envolvidas.

Ainda neste diapasão a lei esclarece a respeito do que seria intimidação


sistemática em seu art 2º a saber:

Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática ( bullying ) quando


há violência física ou psicológica em atos de intimidação,
humilhação ou discriminação e, ainda:

I - ataques físicos;
II - insultos pessoais;
III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;
IV - ameaças por quaisquer meios;
V - grafites depreciativos;
VI - expressões preconceituosas;
VII - isolamento social consciente e premeditado;
VIII - pilhérias.

E neste contexto a lei discrimina qual classe encontra-se cada espécie de


intimidação sistemática (bullying) em seu art 3º:

Art. 3º A intimidação sistemática ( bullying ) pode ser classificada,


conforme as ações praticadas, como:

I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;


II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;
IV - social: ignorar, isolar e excluir;
V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar,
dominar, manipular, chantagear e infernizar;
VI - físico: socar, chutar, bater;
VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade,
enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em
sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento
psicológico e social.

Conforme verifica-se, para ser caracterizado bullying o ato de


violência latu senso precisa ser intencional, repetitivo sem que a vítima
tenha provocado a ação, vinda de uma relação onde a vítima e o agressor
estão em relação de poder em desequilibrio, ou seja, que o agressor de
alguma forma possua mais poder (força hierarquia etc) que a vítima e o
ato de violência praticado tenha o intuito de intimidar ou agredir a vítima
e com isso gerar nela dor e angústia e cause nesta danos e não mero
aborrecimento.

I - DEVER DE INDENIZAR

Consoante preceitua o art. 186 do Código Civil, "aquele que por ação,
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". No
mesmo sentido, o art. 927, caput, do mesmo diploma legal dispõe
que "aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo".

Logo, aquele que pratica bullying tem dever por lei de reparar o dano.

Sendo o bullying praticado em ambiente escolar a referida lei em seu art


5º diz:
Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das
agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização,
prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação
s i s t e m á t i c a ( b u l l y i n g ) .

A responsabilidade em questão é extracontratual, remetendo ao art. 37,


§ 6º, da Constituição Federal, segundo o qual “As pessoas jurídicas de
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa”............................

No que diz respeito à pratica do bulling em ambiente escolar a doutrina


nos diz:

"Há um dever de vigilância inerente ao estabelecimento de


educação que, modernamente, decorre da responsabilidade
objetiva do Código de Defesa do Consumidor. O aluno é
consumidor do fornecedor de serviços, que é a instituição
educacional. Se o agente sofre prejuízo físico ou moral decorre da
atividade no interior do estabelecimento, este é responsável"
(VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie e
responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2001. p. 545).

É sabido que, em regra, referido dispositivo traduz hipótese de


responsabilidade objetiva do Estado (ou dos agentes privados que
prestem serviço público), plasmada na Teoria do Risco Administrativo.

“Há responsabilidade objetiva quando basta para caracterizá-la a


simples relação causal entre um acontecimento e o efeito que
produz.

Há responsabilidade subjetiva quando para caracterizá-la é


necessário que a conduta geradora do dano revele deliberação na
prática do comportamento proibido ou desatendimento
indesejado dos padrões de empenho, atenção ou habilidade
normais (culpa) legalmente exigíveis, de tal sorte que o direito em
uma ou outra hipótese resulta transgredido.

Por isso é sempre responsabilidade por comportamento ilícito


quando o Estado, devendo atuar, e de acordo com certos padrões,
não atua ou atua insuficientemente para deter o evento lesivo.
(Celso Antônio Bandeira de Melo, “Curso de Direito Administrativo”,
Malheiros, 29ª ed. atualizada, p. 1019/1021).

Em mesmo diapasão a jurisprudencia nos diz:

In casu, "os alunos são consumidores do serviço de prestação de


ensino fornecido pela instituição que frequentam; logo, a legislação
aplicável a esta relação deve ser a específica, qual seja, o Código de
Defesa do Consumidor" (Apelação Cível n. 2014.043817-8, rel. Des.
Gilberto Gomes de Oliveira, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 22-
3-2016).

É incumbência da prestadora de serviços comprovar o apoio total ao


aluno para que posteriormente haja a condição de afastar-se da pena em
caso de procedência da ação ao qual participa como polo passivo. (arts.
333, II, do CPC/1973 e 6º, VIII, CDC).
Assim sendo, não somente o agressor mas a instituição de ensino poderá
torna-se réu em caso de bullying dentro de seu estabelecimento.

Em se tratando de ato omissivo, embora esteja a doutrina dividida entre


as correntes dos adeptos da responsabilidade objetiva e aqueles que
adotam a responsabilidade subjetiva, prevalece na jurisprudência a teoria
subjetiva do ato omissivo, de modo a só ser possível indenização quando
houver culpa do preposto. (REsp 602.102 -2a Turma - Ministra Eliana
Calmon).

2- QUANTO À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL PROVINDO DE BULLYING


Não há no ordenamento jurídico pátrio parâmetros estabelecidos rígidos
para a fixação de indenização por dano moral, prevalecendo na doutrina
e jurisprudência o entendimento de que a delimitação
do quantum devido fica adstrita ao prudente arbítrio do magistrado, que
levará em consideração os critérios de razoabilidade e proporcionalidade,
além de analisar as peculiaridades do caso concreto e a prova produzida
nos autos.

Quanto a isto Regina Beatriz Tavares da Silva nos diz:

“O critério na fixação do quantum indenizatório deve obedecer à


proporcionalidade entre o mal e aquilo que pode aplacá-lo,
levando-se em conta o efeito, que será a prevenção, ou
desestímulo.”

“A respeito do tema, o eminente Desembargador Rui Stoco,


citando a lição do Prof. Caio Mário de Silva Pereira quanto à
expressão econômica da reparação moral, versa que não pode ser
tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão
pequena que se torne inexpressiva (“Responsabilidade Civil”, RT, 3ª
ed. p. 524). Ainda, em relação ao dano moral é sabido que sua
fixação deve levar em conta as funções ressarcitório e punitiva da
indenização.
Na função ressarcitória, olha-se para a vítima, para a gravidade
objetiva do dano que ela padeceu (Antônio Jeová dos Santos, Dano
Moral Indenizável, Lejus Editora, 1.997, p. 62). Na função punitiva,
ou de desestímulo do dano moral, olha-se para o lesante, de tal
modo que a indenização represente advertência, sinal de que a
sociedade não aceita seu comportamento (Carlos Alberto Bittar,
“Reparação Civil por Danos Morais”, pp. 220/222; Sérgio Severo,
“Os Danos Extrapatrimoniais”, pp. 186/190).

Há uma média de valores acordados entre tribunais que varia entre 6 mil
a 20 mil reais a indenização para cada vítima de bullying a depender da
gravidade do dano sofrido e demais peculiaridades de cada caso em
concreto.
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL
EXTRACONTRATUAL DO ESTADO. DANO MORAL. MUNICÍPIO
DE ANALÂNDIA. BULLYING CONTRA ALUNO EM ESCOLA.
Sentença que julgou procedente o pedido para condenar o
réu ao pagamento de indenização por dano moral no valor
de R$40.000,00. Pretensão à reforma. Questão processual
pendente e preliminar afastadas. Preclusão da impugnação à
concessão da gratuidade de justiça, não havendo
demonstração de mudança na situação fática que ensejou o
deferimento do benefício. Razões de apelação que
impugnam especificamente os termos da sentença, estando
observado o princípio da dialeticidade. No mérito, foram
preenchidos os requisitos para a responsabilização do Estado
por omissão, a saber: ação ou omissão da Administração
Pública; ocorrência de dano; nexo causal entre a omissão e o
dano; e culpa. Elemento subjetivo culposo configurado em
razão da falha da escola em tomar providências para zelar
pela incolumidade física e psíquica do estudante. Autor-
apelado que era constantemente importunado por colega de
sala, através de xingamentos e até agressões físicas, tendo a
escola descumprido seu dever de cuidado. Montante
indenizatório que comporta redução, a fim de não se
transformar em enriquecimento ilícito da vítima. Fixação em
R$20.000,00, como forma de compensar os danos sofridos,
em punir em excesso o ente público, atendendo-se à dupla
finalidade reparatória-punitiva e aos parâmetros de
razoabilidade e proporcionalidade. Sentença reformada.
Recurso parcialmente provido, para readequar o quantum
indenizatório.

(TJSP; Apelação Cível 1000619-39.2020.8.26.0283; Relator


(a): Heloísa Mimessi; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito
Público; Foro de Itirapina - Vara Única; Data do Julgamento:
15/02/2023; Data de Registro: 15/02/2023)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ABALO MORAL.


"BULLYING" PRATICADO EM AMBIENTE ESCOLAR.
CONIVÊNCIA DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO E DE PROFESSOR.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DOS RÉUS.
AGRAVOS RETIDOS DA EMPRESA RÉ. (1) RECLAMO QUANTO
AO DEFERIMENTO DA CONTRADITA DE TESTEMUNHA QUE
ARROLOU. ACERTO DA DECISÃO. TESTEMUNHA QUE,
SEGUNDO A VÍTIMA, DEU INÍCIO À PRATICA DO ABUSO.
FLAGRANTE INTERESSE NO LITÍGIO. IMPOSSIBILIDADE DE
PRESTAR COMPROMISSO LEGAL. (2) INSURGÊNCIA QUANTO
AO INDEFERIMENTO DE CONTRADITA DE TESTEMUNHA, RÉ
EM PROCESSO DE COBRANÇA. SITUAÇÃO NÃO ELENCADA
NO ROL DE SUSPEIÇÃO. DECISÃO MANTIDA. APELO DA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO. PRETENDO AFASTAMENTO DA
RESPONSABILIDADE CIVIL POR CULPA EXCLUSIVA DE
TERCEIRO, COLEGA DO AUTOR QUE INICIOU AS AGRESSÕES.
ALEGADA ADOÇÃO DE TODAS AS MEDIDAS PEDAGÓGICAS
PARA IMPEDIR O FATO. INACOLHIMENTO. INEXISTÊNCIA
MÍNIMA DE COMPROVAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA
CESSAÇÃO DAS OFENSAS REITERADAS. RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA CARACTERIZADA. DEVER DE INDENIZAR
MANTIDO. APELO DO PROFESSOR. ALEGADA INEXISTÊNCIA
DE ATO ILÍCITO POR DESCONHECIMENTO DO GESTUAL QUE
OFENDIA A VITIMA. INACOLHIMENTO. CONHECIMENTO DA
SITUAÇÃO VEXATÓRIA E DA OCORRÊNCIA DE "BULLYING"
COMPROVADO POR PROVA TESTEMUNHAL. CONIVÊNCIA
COM OS ATOS INACEITÁVEIS PRATICADOS EM AMBIENTE DE
SALA DE AULA. DANO E OFENSAS CORROBORADOS, AINDA
QUE INDIRETAMENTE, PELO PROFESSOR. DANO MORAL
EVIDENCIADO. EXPOSIÇÃO A SITUAÇÃO VEXATÓRIA E
HUMILHANTE INEGÁVEIS. ESPECIFICIDADES DA CAUSA QUE
AUTORIZAM A CARACTERIZAÇÃO DO ABALO ÍNTIMO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. SUBSISTÊNCIA.
VALOR QUE DEVE SER ARBITRADO EM ATENÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE,
OBSERVADO AINDA O CARÁTER INIBIDOR, PEDAGÓGICO E
COMPENSATÓRIO À VITIMA, SEM, CONTUDO, CAUSAR-LHE
ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. RECURSOS CONHECIDOS E
PARCIALMENTE PROVIDOS. "Há um dever de vigilância
inerente ao estabelecimento de educação que,
modernamente, decorre da responsabilidade objetiva do
Código de Defesa do Consumidor. O aluno é consumidor do
fornecedor de serviços, que é a instituição educacional. Se o
agente sofre prejuízo físico ou moral decorre da atividade no
interior do estabelecimento, este é responsável" (VENOSA,
Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie e
responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2001. p. 545). (TJSC,
Apelação Cível n. 0002056-28.2011.8.24.0082, da Capital -
Continente, rel. Rubens Schulz, Segunda Câmara de Direito
Civil, j. 29-11-2018).

Conclusão:

Bullying não precisa ser propriamente agressão física, basta que


seja agressão latu senso sistemática com o intuito de causar dor e
angustia na vítima e que o agressor possua algum tipo de superioridade,
poder em relação à esta para se configurar a prática ilícita.
Sendo em ambiente escolar a instituição tem o dever de fazer tudo
o que preciso for sob pena de ressarcir a vítima por dano praticado por
terceiro dentro de seu estabelecimento se levado a juízo.
A indenização varia conforme entendimento do juízo, mas
magistrados tem seguido valores que variam entre 6 a 20 mil reais.
Partindo-se da premissa de que esses valores são por vítima, o ideal é
que a instituição esteja pronta para sanar quaisquer vestígios exsurgentes
em seu estabelecimento

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