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DOENÇA OCUPACIONAL

X. DO DANO MORAL.
Postulou o Reclamante seja a Reclamada condenada ao pagamento da multa
prevista junto ao art. 467, do Texto Consolidado 1. Entretanto, cumpre à Reclamada
observar que aludido dispositivo legal estabelece que em caso de rescisão do contrato de
trabalho, o empregador deverá efetuar, na primeira audiência, o pagamento da parte
incontroversa dos salários. Sob pena de ser condenado a pagá-lo com acréscimo de 50%
(cinquenta por cento).
ASSÉDIO MORAL

VII. DO ASSÉDIO MORAL.

1. O Reclamante afirma ter sofrido humilhação no ambiente de trabalho.


Aduz “que encontrava sérias dificuldades em seu ambiente de trabalho; eis que era
exposto a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de
suas funções, ocasionando desordens emocionais, atingindo a sua dignidade e
identidade, interferindo negativamente na saúde e na qualidade de vida do mesmo. Os
maus tratos eram perpetrados pelo Sr. José, sempre na frente de outros funcionários.
Era perseguido, sendo tratado de forma áspera, com excessivo rigor, recebendo
inúmeras críticas negativas diárias, de motivo torpe, irrelevante à relação entre
empregador e empregado, restando clara a perseguição sofrida e exposição pública de
modo a macular sua imagem e profissionalismo. Relata o reclamante que o aludido
senhor dizia que o mesmo não era produtivo e só trazia prejuízos para a reclamada”
(Id. 0f79851).

2. Ante o alegado requer o reconhecimento do alegado assédio moral e a


condenação da Reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe
de R$ 82.280,00 (oitenta e dois mil, duzentos e oitenta reais).

VII.A. DOS ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS PARA A OCORRÊNCIA DO DANO MORAL.

3. Como se sabe, nesta Justiça Especializada a indenização por danos

1
Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das
verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça
do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta por
cento".
morais tem como fundamentos jurídicos o art. 5º, X, da CF 2, os arts. 1863 1874 e 9275 do
CC e arts. 223-B6 e 223-C7, da CLT.

4. Em apertada síntese, podemos entender o dano moral como uma


ofensa a direito personalíssimo da pessoa (física ou jurídica), causando-lhe tristeza,
mágoa, sofrimento, dor física ou emocional, desdobrando-se em consequências
psicológicas e materiais. Com relação ao assédio moral, Soboll o define da seguinte
forma:

“[...] O assédio moral é uma situação extrema de violência psicológica no


trabalho, de natureza processual, pessoalidade, mal-intencionada e agressiva.
Entendemos que o assédio moral se configura como um conjunto articulado de
armadilhas preparadas, premeditadas, repetitivas e prolongadas. Os
comportamentos hostis ocorrem repetidas vezes e por um período de tempo
estendido. Sua prática é permeada de intencionalidade no sentido de querer
prejudicar, anular ou excluir um ou alguns alvos escolhidos. [...]”8

5. Verificam-se assim a conjunção de quatro requisitos, quais sejam, (i) a


habitualidade; (ii) a violência psicológica; (iii) a intenção de prejudicar; e (iv) a
pessoalidade; acerca dos quais esclarece Lopes Monteiro:

“[...] A habitualidade é um elemento sempre presente no assédio moral. Um ato


isolado não pode ser considerado assédio. É a repetição do comportamento hostil
num período prolongado de tempo e o abuso do poder exercido sistematicamente
que vão configurar a perversidade no local de trabalho. Não há como definir um
período exato de tempo, até porque o assédio se define no tempo. [...]

Ao lado da habitualidade vamos encontrar a violência psicológica. Os ataques


psicológicos não necessariamente devam assumir a forma de conduta. Não é

2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação;
3
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
4
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
5
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
6
Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou
existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação.
7
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde,
o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.
8
SOBOLL, Lis Andréa Pereira. Assédio moral/Organizacional: Uma Análise da Organização do
Trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. P. 32.
incomum, até pela definição do termo “assédio”, traduzirem-se em omissões
induzindo ao desconforto psicológico que ofende, humilha e que apresenta
gravidade significativa. Mas, geralmente, o assédio moral vem acompanhado de
condutas abusivas, intencionais, frequentes e repetidas.

A intenção de prejudicar encontra-se também entre os elementos do assédio


moral. Não existe assédio sem intencionalidade. O alvo é o próprio indivíduo, com
um interesse maior ou menor de prejudicá-lo. Não se trata de melhorar a
produtividade ou otimizar os resultados, mas de se livrar de uma pessoa porque,
de uma forma ou de outra, ela incomoda. [...]

Por fim, há o elemento pessoalidade. Aqui se diferencia o assédio moral do


assédio organizacional, como relatado. O alvo das agressões é uma pessoa
específica, não se dando de forma generalizada como no assédio organizacional.
[...]”9

6. A responsabilidade civil é um dever jurídico, consequente de violação


de uma obrigação. O fato gerador da responsabilidade civil é o ato ilícito, a conduta
humana antijurídica, contrária ao direito, através de uma ação ou omissão.

7. No campo da responsabilidade civil é assente que a reparação do dano


pressupõe, necessariamente, a conjunção de três elementos, quais sejam, dano efetivo,
culpa (lato sensu) e o nexo de causalidade. Tartuce 10 define o dano como requisito
essencial à responsabilidade civil:

“[...] Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de
culpa ou dolo na conduta é necessário comprovar o dano patrimonial ou
extrapatrimonial suportado por alguém. Em regra, não há responsabilidade civil
sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao autor da demanda, aplicação do art.
373, inc. I, do CPC/2015, correspondente ao art. 333, inc. I, do CPC/1973. [...]”

8. Com relação à culpa, disciplina:

“[...] Esclareça-se que, quando se fala em responsabilidade com ou sem culpa,


leva-se em conta a culpa em sentido amplo ou a culpa genérica (culpa lato sensu),
que engloba o dolo e a culpa estrita (stricto sensu). [...]

Para o Direito Civil não interessa o estudo da classificação do Direito Penal


quanto ao dolo e, consequentemente, dos conceitos de dolo eventual, dolo não
9
Monteiro, Antonio Lopes. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais – 9. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019. P. 160/161.
10
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 747.
eventual ou preterdolo. Em todos esses casos, o agente deverá arcar integralmente
quanto a todos os prejuízos causados ao ofendido. Em suma, repise-se que,
presente o dolo, a indenização a ser paga pelo agente deve ser plena. [...]

A partir das lições do italiano Chironi, a culpa pode ser conceituada como o
desrespeito a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
violar o dever jurídico. Na doutrina nacional, Sérgio Cavalieri Filho apresenta
três elementos na caracterização da culpa: a) a conduta voluntária com resultado
involuntário; b) a previsão ou previsibilidade; e c) a falta de cuidado, cautela,
diligência e atenção. Conforme os seus ensinamentos, “em suma, enquanto no
dolo o agente quer a conduta e o resultado, a causa e a consequência, na culpa a
vontade não vai além da ação ou omissão. O agente quer a conduta, não, porém, o
resultado; quer a causa, mas não quer o efeito”. Concluindo, deve-se retirar da
culpa o elemento intencional, que está presente no dolo. [...]”11

9. Por fim esclarece com relação ao nexo de causalidade:

“[...] O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou


virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a
conduta culposa – ou o risco criado –, e o dano suportado por alguém. [...]

Ora, a responsabilidade civil, mesmo objetiva, não pode existir sem a relação de
causalidade entre o dano e a conduta do agente. Se houver dano sem que a sua
causa esteja relacionada com o comportamento do suposto ofensor, inexiste a
relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. [...]”12

10. Assim, o reconhecimento do assédio moral pressupõe o


reconhecimento cumulativo de 7 (sete) elementos fático-jurídicos: (i) seja
habitualmente; (ii) praticada violência psicológica; (iii) com culpa (lato sensu); (iv) com
intenção de prejudicar; (v) contra pessoa específica; (vi) causando dano; (vii) que
mantém nexo de causalidade com a ação inicial.

11. Ocorre que, na presente demanda, conforme confessado pelo


Reclamante, não há dano – ao menos mensurável.

12. É sabido que este Ilmo. Poder Judiciário deve adotar postura
extremamente cuidadosa diante de situações rotuladas como causas desencadeadoras de
dano moral sob pena de banalização de seu reconhecimento, o que em nada prestigia as
11
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 726.
12
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 735/736.
reais situações em que tal espécie se verifica eis que compromete a salutar credibilidade
dos direitos imateriais personalíssimos.

13. Por tais motivos em regra impõe-se a produção de prova inequívoca


do prejuízo real sofrido, sem o qual não há o que ser indenizado, não subsistindo ato
ilícito e, consequentemente, responsabilização civil.

14. A Reclamada não reconhece qualquer uma das condutas assediadoras


afirmadas pelo obreiro, a quem incumbe o ônus da prova (arts. 818, I 13, da CLT e 373,
I14, do CPC). Ante a inexistência de qualquer adminículo mínimo de prova – quanto
mais a necessária prova robusta quanto ao tão repudiado assédio moral; não se verifica
nenhum dano causado ao Reclamante.

VII.B. DO ARBITRAMENTO DA INDENIZAÇÃO.

15. Chama a atenção a ora Contestante inexistir no ordenamento jurídico,


até a edição da Lei n.º 13.467/2017, norma que positivasse um critério objetivo para a
fixação de eventual reparação do dano moral, notadamente porque ainda havia
discussão quanto à própria existência do direito.

16. Entretanto, dada a redação do art. 223-A, da CLT 15, no qualificar do


dano moral, deverá – data maxima venia – o julgador atinar para os critérios objetivos
elencados junto ao art. 223-G, da CLT16, mantendo o valor da indenização em patamar
razoável, conforme art. 223-G, §§ 1º17 e 2º18, da CLT.

17. Descendo ao caso concreto verifica-se que a Reclamada não


13
Art. 818. O ônus da prova incumbe: I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
14
Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
15
Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de
trabalho apenas os dispositivos deste Título.
16
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: I - a natureza do bem jurídico tutelado; II - a
intensidade do sofrimento ou da humilhação; III - a possibilidade de superação física ou psicológica; IV -
os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão; V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa; VI
- as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; VII - o grau de dolo ou culpa; VIII - a
ocorrência de retratação espontânea; IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa; X - o perdão, tácito
ou expresso; XI - a situação social e econômica das partes envolvidas; XII - o grau de publicidade da
ofensa.
17
§ 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos,
em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação: I - ofensa de natureza leve, até três vezes o
último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário
contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do
ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
18
§ 2o Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos
parâmetros estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
ocasionou qualquer dano ao Reclamante, sendo certo que a indenização, notadamente
como requerida, não deve se prestar ao enriquecimento sem causa. Mostra-se oportuno
o ensinamento de Caio de Mario da Silva Pereira19, ao enfatizar que:

“[...] a indenização, em termos gerais, não pode ter o objetivo de provocar o


enriquecimento ou proporcionar ao ofendido um avantajamento, por mais forte
razão deve ser equitativa a reparação do dano moral para que não se converta o
sofrimento em móvel de captação de lucro (de ‘lucro capiendo’). [...]”

18. Ou, como verbaliza Flávio Tartuce20:

“[...] Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo
patrimonial para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados. Tal
dedução justifica a não incidência de imposto de renda sobre o valor recebido a
título de indenização por dano moral, o que foi consolidado pela Súmula 498 do
Superior Tribunal de Justiça, do ano de 2012. [...]”

19. Destarte, evidenciada a improcedência do pleito.

20. Em caso de eventual e improvável condenação – o que não se espera,


o arbitramento da indenização reparatória do dano moral há de ser compatível com o
exposto junto ao supramencionado art. 223-G, da CLT, sendo certo que o valor não
deverá exceder quantia equivalente à três vezes a maior remuneração já percebida pelo
Autor (art. 223-G, § 1º, I e § 2º, da CLT).

21. Como exposto alhures, o Reclamante requer o pagamento de


indenização por danos morais no importe de R$ 82.280,00 (oitenta e dois mil, duzentos
e oitenta reais). Neste sentido, destaca-se a Exordial (Id. 0f79851):

“Desta feita, com fulcro nos artigos 186 e 927 do Código Civil, e no artigo 5º, inciso
X da Constituição Federal, configurado o ato abusivo da reclamada e o prejuízo do
reclamante, é devida a indenização por dano moral, devendo a Reclamada ser
condenada ao pagamento de indenização no valor de até 50 vezes a última
remuneração do autor, conforme a Lei 13.467/17, art. 223-G. considerando que não
seja inferior ao mínimo de até três vezes o salário do autor, no qual lança apenas
estimativa de valor para fins de estabelecer o rito processual e base de cálculo para
eventual sucumbência.” (grifou-se)

22. Assim e considerando a remuneração para fins rescisórios recebida no


19
Responsabilidade Civil de Acordo com a Constituição Federal de 1988, Forense, 1990, 2ª Ed., p. 339
20
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 753.
valor de R$ 1.645,60 (mil, seiscentos e quarenta e cinco reais e sessenta centavos), o
Reclamante calcula seu abalo moral em R$ 82.280,00 (oitenta e dois mil, duzentos e
oitenta reais) mas limita seu pleito em R$ 4.936,80 (quatro mil. novecentos e trinta e
seis reais e oitenta centavos).

23. Deste modo – e como será enfatizado em tópico próprio; eventual


condenação – que não se espera; deverá se limitar ainda ao valor atrelado ao respectivo
pedido: certo, determinado e líquido; neste caso até três vezes o salário do autor.

24. Sucessivamente, na remota hipótese deste D. Juízo entender de forma


diversa, mister se faz seja ao Reclamante determinado que retifique o valor atribuído ao
pleito (R$ 4.936,80 – quatro mil. novecentos e trinta e seis reais e oitenta centavos) e à
demanda (R$ 18.739,64 – dezoito mil, setecentos e trinta e nove reais e sessenta e
quatro centavos).

VII.C. CONCLUSÃO.

25. Como visto inexistiram as alegadas condutas reputadas pelo obreiro


incumbindo-lhe o ônus da prova que, diante da gravidade do tema, deverá ser
robustamente comprovado sob pena de banalizar-se o assédio moral.

26. Assim, inexistindo dano, não há que se falar em ato ilícito e, via de
consequência, em responsabilidade civil de modo que a Reclamada não deve ser
condenada ao pagamento de qualquer verba a título de dano moral.

27. Em atenção ao princípio da eventualidade, na remota e improvável


hipótese de condenação o valor da indenização deverá atender critérios objetivos
determinados pela legislação vigente, limitando-se em patamar mínimo, três vezes a
remuneração do Autor, conforme postulado em Exordial ou, sucessivamente, seja
compelido a retificar os valores atribuídos ao pedido e à presente demanda.

LESÃO A PATRIMÔNIO DE NATUREZA MATERIAL (EX. INSALUBRIDADE E ACÚMULO


DE FUNÇÕES)

VI. DO DANO MORAL.

28. O Reclamante afirma ter sofrido dano moral, o qual restaria


caracterizado “por inúmeros motivos, o primeiro e mais grave é a exigir o acúmulo de
função para um trabalho tão minucioso, aonde se atuava com diversas irregularidades
e riscos, e principalmente por nunca ao longo dos anos se quer receber uma
insalubridade altamente devida” (Id. f9e0c6f).

29. Ante o alegado requer a condenação da Reclamada ao pagamento de


indenização por danos morais, arbitrados no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

VI.A. DOS ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS PARA A OCORRÊNCIA DO DANO MORAL.

30. Como se sabe, nesta Justiça Especializada a indenização por danos


morais tem como fundamentos jurídicos o art. 5º, X, da CF 21, os arts. 18622 18723 e 92724
do CC e arts. 223-B25 e 223-C26, da CLT.

31. Em apertada síntese, podemos entender o dano moral como uma


ofensa a direito personalíssimo da pessoa (física ou jurídica), causando-lhe tristeza,
mágoa, sofrimento, dor física ou emocional, desdobrando-se em consequências
psicológicas e materiais.

32. A responsabilidade civil é um dever jurídico, consequente de violação


de uma obrigação. O fato gerador da responsabilidade civil é o ato ilícito, a conduta
humana antijurídica, contrária ao direito, através de uma ação ou omissão.

33. No campo da responsabilidade civil é assente que a reparação do dano


pressupõe, necessariamente, a conjunção de três elementos, quais sejam, dano efetivo,
culpa (lato sensu) e o nexo de causalidade. Tartuce 27 define o dano como requisito
essencial à responsabilidade civil:

“[...] Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de

21
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação;
22
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
23
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
24
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
25
Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou
existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação.
26
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde,
o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.
27
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 747.
culpa ou dolo na conduta é necessário comprovar o dano patrimonial ou
extrapatrimonial suportado por alguém. Em regra, não há responsabilidade civil
sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao autor da demanda, aplicação do art.
373, inc. I, do CPC/2015, correspondente ao art. 333, inc. I, do CPC/1973. [...]”

34. Com relação à culpa, disciplina:

“[...] Esclareça-se que, quando se fala em responsabilidade com ou sem culpa,


leva-se em conta a culpa em sentido amplo ou a culpa genérica (culpa lato sensu),
que engloba o dolo e a culpa estrita (stricto sensu). [...]

Para o Direito Civil não interessa o estudo da classificação do Direito Penal


quanto ao dolo e, consequentemente, dos conceitos de dolo eventual, dolo não
eventual ou preterdolo. Em todos esses casos, o agente deverá arcar integralmente
quanto a todos os prejuízos causados ao ofendido. Em suma, repise-se que,
presente o dolo, a indenização a ser paga pelo agente deve ser plena. [...]

A partir das lições do italiano Chironi, a culpa pode ser conceituada como o
desrespeito a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
violar o dever jurídico. Na doutrina nacional, Sérgio Cavalieri Filho apresenta
três elementos na caracterização da culpa: a) a conduta voluntária com resultado
involuntário; b) a previsão ou previsibilidade; e c) a falta de cuidado, cautela,
diligência e atenção. Conforme os seus ensinamentos, “em suma, enquanto no
dolo o agente quer a conduta e o resultado, a causa e a consequência, na culpa a
vontade não vai além da ação ou omissão. O agente quer a conduta, não, porém, o
resultado; quer a causa, mas não quer o efeito”. Concluindo, deve-se retirar da
culpa o elemento intencional, que está presente no dolo. [...]”28

35. Por fim esclarece com relação ao nexo de causalidade:

“[...] O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou


virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a
conduta culposa – ou o risco criado –, e o dano suportado por alguém. [...]

Ora, a responsabilidade civil, mesmo objetiva, não pode existir sem a relação de
causalidade entre o dano e a conduta do agente. Se houver dano sem que a sua
causa esteja relacionada com o comportamento do suposto ofensor, inexiste a
relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. [...]”29

28
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 726.
29
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 735/736.
36. Ocorre que, na presente demanda, os fundamentos fáticos trazidos
pelo Reclamante não demonstram qualquer ofensa moral. Tanto o labor em atividade
insalubre quanto o acúmulo de funções, se reconhecidos – o que não se espera;
constituiriam ofensas de natureza patrimonial, ou seja, material.

37. O – improvável – reconhecimento judicial da ocorrência de labor em


atividade insalubre e/ou acúmulo de funções, por si só, não configura ofensa
moralmente indenizável, mormente quando o dano não ultrapassa as meras alegações
genéricas e indeterminadas.

38. É sabido que este Ilmo. Poder Judiciário deve adotar postura
extremamente cuidadosa diante de situações rotuladas como causas desencadeadoras de
dano moral sob pena de banalização de seu reconhecimento, o que em nada prestigia as
reais situações em que tal espécie se verifica eis que compromete a salutar credibilidade
dos direitos imateriais personalíssimos.

39. Por tais motivos em regra impõe-se a produção de prova inequívoca


do prejuízo real sofrido, sem o qual não há o que ser indenizado, não subsistindo ato
ilícito e, consequentemente, responsabilização civil.

VI.B. DO ARBITRAMENTO DA INDENIZAÇÃO.

40. Chama a atenção a ora Contestante inexistir no ordenamento jurídico,


até a edição da Lei n.º 13.467/2017, norma que positivasse um critério objetivo para a
fixação de eventual reparação do dano moral, notadamente porque ainda havia
discussão quanto à própria existência do direito.

41. Entretanto, dada a redação do art. 223-A, da CLT 30, no qualificar do


dano moral, deverá – data maxima venia – o julgador atinar para os critérios objetivos
elencados junto ao art. 223-G, da CLT31, mantendo o valor da indenização em patamar

30
Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de
trabalho apenas os dispositivos deste Título.
31
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: I - a natureza do bem jurídico tutelado; II - a
intensidade do sofrimento ou da humilhação; III - a possibilidade de superação física ou psicológica; IV -
os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão; V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa; VI
- as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; VII - o grau de dolo ou culpa; VIII - a
ocorrência de retratação espontânea; IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa; X - o perdão, tácito
ou expresso; XI - a situação social e econômica das partes envolvidas; XII - o grau de publicidade da
ofensa.
razoável, conforme art. 223-G, §§ 1º32 e 2º33, da CLT.

42. Descendo ao caso concreto verifica-se que a Reclamada não


ocasionou qualquer dano ao Reclamante, sendo certo que a indenização, notadamente
como requerida, não deve se prestar ao enriquecimento sem causa. Mostra-se oportuno
o ensinamento de Caio de Mario da Silva Pereira34, ao enfatizar que:

“... a indenização, em termos gerais, não pode ter o objetivo de provocar o


enriquecimento ou proporcionar ao ofendido um avantajamento, por mais forte
razão deve ser equitativa a reparação do dano moral para que não se converta o
sofrimento em móvel de captação de lucro (de ‘lucro capiendo’).”

43. Ou, como verbaliza Flávio Tartuce35:

“[...] Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo
patrimonial para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados. Tal
dedução justifica a não incidência de imposto de renda sobre o valor recebido a
título de indenização por dano moral, o que foi consolidado pela Súmula 498 do
Superior Tribunal de Justiça, do ano de 2012. [...]”

44. Destarte, evidenciada a improcedência do pleito.

45. Em caso de eventual e improvável condenação – o que não se espera,


o arbitramento da indenização reparatória do dano moral há de ser compatível com o
exposto junto ao supramencionado art. 223-G, da CLT, sendo certo que o valor não
deverá exceder quantia equivalente à três vezes a maior remuneração já percebida pelo
Autor (art. 223-G, § 1º, I e § 2º, da CLT).

46. Como exposto alhures, o Reclamante requer o pagamento de


indenização por danos morais no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Considerando a remuneração para fins rescisórios recebida no valor de R$ 1.988,80
(mil, novecentos e oitenta e oito reais e oitenta centavos), eventual condenação deverá
se limitar à R$ 5.966,40 (cinco mil. novecentos e sessenta e seis reais e quarenta

32
§ 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos,
em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação: I - ofensa de natureza leve, até três vezes o
último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário
contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do
ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
33
§ 2o Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos
parâmetros estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
34
Responsabilidade Civil de Acordo com a Constituição Federal de 1988, Forense, 1990, 2ª Ed., p. 339
35
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020. P. 753.
centavos).

VI.C. CONCLUSÃO.

47. Como visto inexistiram as alegadas condutas reputadas pelo obreiro


incumbindo-lhe o ônus da prova (arts. 818, I36, da CLT e 373, I37, do CPC). E, ainda que
por amor ao debate se considere a hipótese deste D. Juízo reconhecer a ocorrência de
atividade insalubre e/ou acúmulo de funções, pela natureza patrimonial do bem jurídico
tutelado seria a Reclamada condenada ao seu pagamento por ofensa à esfera material,
não moral.

48. Assim, inexistindo dano, não há que se falar em ato ilícito e, via de
consequência, em responsabilidade civil de modo que a Reclamada não deve ser
condenada ao pagamento de qualquer verba a título de dano moral.

49. Em atenção ao princípio da eventualidade, na remota e improvável


hipótese de condenação o valor da indenização deverá atender critérios objetivos
determinados pela legislação vigente, limitando-se em patamar mínimo, três vezes a
remuneração do Autor.

36
Art. 818. O ônus da prova incumbe: I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
37
Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

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