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Marcos José de Oliveira

ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL – DANO

Necessário a existência de dano ou prejuízo para que se configure a responsabilidade


civil.

Na seara da responsabilidade contratual, também se verifica a existência de dano, vez


que a conduta do inadimplente carrega a presunção de dano.

Sem a ocorrência de dano não há o que se indenizar, e efeito, responsabilidade.

Qualquer que seja a espécie de responsabilidade (contratual, extracontratual, subjetiva


ou objetiva), o dano é indispensável para sua configuração.

Sérgio Cavalieri Filho assim se manifesta:

“O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que
se falar em indenização, nem em ressarcimento, se não houvesse o dano. Pode
haver responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem
dano. Na responsabilidade objetiva, qualquer que seja a modalidade do risco
que lhe sirva de fundamento – risco profissional, risco proveito, risco criado etc
-, o dano constitui o seu elemento preponderante. Tanto é assim que, sem dano,
não haverá o que reparar, ainda que a conduta tenha sido culposa ou até
dolosa”.1

CONCEITO DE DANO:

(...) “dano ou prejuízo como a lesão a um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou


não -, causado por ação ou omissão do sujeito infrator” Pablo Stolze, Roberto Pamplona.

Ressalte-se que o dano pode decorrer da agressão a direitos ou interesses


personalíssimos (extrapatrimoniais) Ex. dano moral em face da violação de direitos da
personalidade (dano moral).

“A pessoa, e não o patrimônio, é o centro do sistema jurídico, de modo que se


possibilite a mais ampla tutela da pessoa, em uma perspectiva solidarista que se
afasta do individualismo que condena o homem à abstração. Nessa esteira, não
há, pois, direito subjetivo arbitrário, mas sempre limitado pela dimensão
coexistencial do ser humano. O patrimônio, conforme se apreende do exposto
por Sessarego, não só deixa de ser o centro do direito, mas também a
propriedade sobre os bens é funcionalizada ao homem, em sua dimensão
coexistencial” Luiz Edson Fachin, in Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo,
p.51.

Outro ponto de relevância que se deve repensar é quanto ao dano recair apenas
sobre interesses individuais. É incoerente afirmar que somente o ilícito penal teria repercussões
sociais.

1
Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, 2. Ed, p.70.
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Toda e qualquer dano, mesmo civil e dirigido a um só indivíduo, interessa à sociedade.

REQUISITOS DO DANO INDENIZÁVEL

Como regra todo dano deve ser indenizado, pois mesmo em face da impossibilidade de
retorno do ofendido ao status quo ante, sempre há a possibilidade de fixação pecuniária, a título
de compensação.

No entanto, para que o dano seja reparável (indenizável ou compensável) é necessária


a conjugação dos seguintes requisitos:

a) A violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física


ou jurídica;
b) Certeza do dano – somente o dano certo, efetivo, é indenizável. Ninguém pode ser
compelido a indenizar um dano abstrato ou hipotético; Ex. calúnia (imputação falsa do
fato criminoso a alguém); OBS: a certeza do dano se refere a sua existência e não à sua
atualidade o a seu montante; Ex. lesão corporal que mutile perna de jogador de futebol
é dano certo, proveniente de um fato atual, que gerará inevitáveis repercussões futuras.
OBS: perda da chance.
c) Subsistência do dano – se o dano já foi reparado, perde-se o interesse da
responsabilidade civil. O dano deve subsistir no momento de sua exigibilidade em juízo.

ESPÉCIES DE DANO

PATRIMONIAL ou MATERIAL

O dano patrimonial se verifica na lesão aos bens e direitos economicamente apreciáveis


do seu titular.

Dano emergente: corresponde ao efetivo prejuízo experimentado pela vítima (o que ela
perdeu);

Lucros cessantes: corresponde ao que a vítima deixou razoavelmente de lucrar por força do
dano (o que ela não ganhou). Não se trata de pagar o que se acha razoável (ideia quantitativa),
mas sim o que se se puder, razoavelmente, admitir que houve lucros cessantes (ideia que se
prende a existência de prejuízo)

OBS: os lucros cessantes não podem ser abstratos, devem ser certos.

DANO MORAL

Trata-se do prejuízo ou lesão a direitos, cujo conteúdo não é o pecuniário, nem


comercialmente redutível a dinheiro, com é o caso dos direitos da personalidade: direito à vida,
à integridade física (direito ao corpo vivo ou morto, e à voz), a integridade psíquica (liberdade,
pensamento, criações intelectuais, privacidade e segredo) e à integridade moral (honra, imagem
e identidade).

Segundo BITTAR, Carlos Alberto, qualificam-se “como morais os danos em razão da


esfera da subjetividade, ou no plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato
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violador, havendo-se portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da
personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou da própria valoração da
pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social)” Reparação Civil
por Danos Morais, 1. Ed., p.41.

DANO MORAL DIREITO

Decorre de uma lesão específica de um direito extrapatrimonial, como os direitos da


personalidade.

DANO MORAL INDIRETO

Este ocorre quando há uma lesão específica a um bem ou interesse de natureza


patrimonial, mas que, de modo reflexo, produz um prejuízo na esfera extrapatrimonial. Ex. furto
de um bem com valor afetivo; ou, o rebaixamento funcional ilícito do empregado, que sofre
prejuízo financeiro, mas também efeitos morais lesivos ao trabalhador.

DANO REFLEXO OU RICOCHETE

Consiste no prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta da
atuação ilícita.

OBS: DIFERENÇA ENTRE O DANO REFLEXO E O DANO MORAL INDIRETO

No indireto tem-se a violação a um direito da personalidade de um sujeito, em função


de um dano material por ele mesmo sofrido; no dano reflexo ou ricochete, tem-se um dano
moral sofrido por um sujeito, em função de um dano (material ou moral) de que foi vítima outro
indivíduo ligado a ele.

DANO ESTÉTICO

Entendido como uma nova modalidade autônoma, o dano estético se caracteriza


quando há uma lesão à beleza física da vítima, ou, ainda, quando, em decorrência do dano, há
deformidades ou modificações na integridade física da pessoa ofendida, acarretando sérios
traumas psicológicos, desgostos com a própria aparência e envergonhamento perante outras
pessoas.
Assim, pode-se dizer que o “dano estético é uma alteração morfológica (de
forma, morfos em grego) permanente, que causa um afeamento à vítima,” repulsa e notório
desagrado com o próprio aspecto exterior do corpo.

São exemplos de danos estéticos: “mutilações (ausência de membros - orelhas, nariz,


braços ou pernas etc.), cicatrizes, mesmo acobertáveis pela barba ou cabeleira ou pela
maquilagem, perda de cabelos, das sobrancelhas, dos cílios, dos dentes, da voz, dos olhos”,
ou seja, qualquer dano que acarrete sofrimento na vítima em decorrência de alteração em sua
beleza física.

DANO EXISTENCIAL

O dano existencial é uma espécie de dano imaterial, é o dano caracterizado pelos


prejuízos sofridos pelo trabalhador devido a condutas ilícitas do empregador, devido as longas
jornadas de trabalho que causam ao empregado uma limitação na vida social do mesmo.
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O dano existencial surge quando violado pelo empregador o direito a concessão de


férias, ou não são cumpridas as pausas para descansos ou são exigidos o cumprimento de uma
jornada habitual e exaustiva maior que a legal, fazendo com que o empregado não tenha um
descanso físico e psicológico adequado, prejudicando com isso sua convivência familiar e
social, como também seu direito ao lazer.
É importante explicar que para caracterização e comprovação do dano existencial, não
se deve apenas comprovar o cumprimento de extensas jornadas de trabalho, mas também os
prejuízos

DANOS COLETIVOS, DIFUSOS e a INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

COLETIVOS LATO SENSU: DIFUSOS, COLETIVOS STRICTO SENSU e INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

A definição legal destes danos se encontra no CDC, que traz norma de natureza geral,
não se limitando às relações de consumo.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercido em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeito deste Código,


os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste


Código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum.

Os direitos difusos e coletivos são designados por José Carlos Barbosa Moreira como
direitos “essencialmente coletivos” - ao revés dos individuas homogêneos, que seriam apenas
“acidentalmente coletivos”, têm em comum o caráter transindividual, de natureza indivisível,
ou seja, que transcendem a esfera de um único sujeito individualizado.

Diferem na titularidade, ou seja, nos primeiros esta se confunde com as “pessoas


indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”, enquanto, nos segundos, se refere a
“grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte a parte contrária por uma
relação jurídica base”.

FORMAS DE REPARAÇÃO DE DANOS

Reposição natural: quando o bem é restituído ao estado em que se encontrava antes do fato
danoso. Constitui-se a mais adequada forma de reparação, mas nem sempre é possível.
Substitui-se por uma prestação pecuniária, de caráter compensatório. A reposição natural é rara
e não pode ser imposta ao a titular do direito à indenização, o que faz com que a prestação
pecuniária seja ordinariamente aplicada.
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OBS: no dano material (onde restou atingido um bem físico, de valor comensurável
monetariamente), a reparação pode ser feita através da reposição natural. Esta possibilidade
não ocorre no dano moral, pois a honra violada jamais poderá ser restituída à sua situação
anterior. Neste caso (dano moral) melhor tratar de compensação e não de reparação.

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