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Prof.

Marcos José de Oliveira

RESPONSABILIDADE CIVIL

Breve histórico:

Toda reflexão em torno dos delineamentos históricos de um instituto traz ao


pesquisador e estudante um ganho expressivo, quiça no campo da responsabilidade
civil.

Na análise de muitos dos institutos de direito civil, nosso ordenamento herdou


do direito romano suas facetas principais. No campo da responsabilidade civil não é
diferente.

É de bom alvitre citar que nas sociedades pré-romanas e numa primeira fase
da sociedade organizada, encontramos uma fase denominada de vingança privada,
que predominava a prática da auto-tutela, em que a força física era o comando
prevalente, como reação pessoal contra o mal sofrido. O ofendido reagia
imediatamente à ofensa e não se cogitava ainda, da existência do direito, muito
menos do Estado, para impor sua força sobre o ofensor.

Se a vítima não pudesse reagir desde logo, ocorria a vindicta imediata, que
sofreu regulamentação posterior, motivo do surgimento da lei de talião, baseada no
“olho por olho dente por dente”.1

Após o período da vindicta surge a possibilidade de composição, momento em


que a vítima percebe vantagens econômicas em substituição à possibilidade da
vingança, face ao “olho por olho dente por dente”, mas ainda subsistindo como forma
de reintegrar o dano sofrido.2

Num estágio adiantado a vítima deixa de ter a possibilidade de fazer a


vingança pelas próprias mãos. A possibilidade de composição perde o seu caráter
voluntário e passa a ser obrigatório, com o realce de ser tarifada. Para cada tipo de
delito uma sanção pecuniária era estabelecida. Nesta fase estava em órbita o Código
das XII tábuas.

Não havia naquele tempo a distinção, como hoje, de pena e de reparação.


Esta só ficou conhecida e devidamente delimitada à época dos Romanos, que
preconizaram a diferença entre delito público e delito privado, com tratamento

1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil Vl.IV, 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008. p.6 e 7.
2
LIMA, Alvino, apud GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., p.7
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diferenciado no que pertine à destinação da sanção econômica: nos delitos públicos


a pena era entregue ao Estado, e, nos privados à vítima.

Quando o Estado tomou para si a função de punir, fazendo surgir a ação de


indenização, é que se materializou a distinção da responsabilidade civil em paralelo
à responsabilidade penal3.

Mas é na Lex aquilia que encontramos um dos marcos mais importantes desta
temática. Informa a doutrina que a Lex Aquilia adveio de um plebiscito, realizado em
torno do final do século III ou no início do século II a.C., que permitia ao proprietário
de bens, receber certa retribuição pecuniária, em desfavor de quem tivesse
provocado prejuízo, fazendo nascer a idéia de culpa.4

A Lex aquilia criou uma espécie de responsabilidade civil que extrapola o


âmbito das relações negociais, fundando a denominada responsabilidade civil
aquiliana ou extracontratual.

Foi constituída por três partes. A primeira tratava da morte de quadrúpedes


que pastavam em rebanhos ou de escravos; a segunda da possibilidade de
abatimento da dívida de um credor acessório em relação ao principal; e, a terceira
parte, de importância significativa, regulava o damnum injuria datum, quando
ocorresse dano a coisa ou bem corpóreo ou incorpóreo de propriedade da vítima.5

Venosa, citando Martinho Garcez Neto faz referência à mudança do


paradigma da idéia prevalente na culpa no processo de indenização, para a noção de
dano, com fundamento na quebra do equilíbrio patrimonial por ele provocado, o que
marca mais um ponto de relevância:

(...) coube à Escola do Direito Natural, no direito intermediário,


ampliar o conceito da Lei Aquilia, até então casuística, a partir
do século XVII. A teoria da reparação de danos somente
começou a ser perfeitamente compreendida quando os
juristas equacionaram que o fundamento da responsabilidade
civil situa-se na quebra do equilíbrio patrimonial provocado
pelo dano. Nesse sentido, transferiu-se o enfoque da culpa,
como fenômeno centralizador da indenização, para a noção
de dano. O direito francês aperfeiçoou as idéias romanas,

3
Mazeaud e Mazeud, apud, GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., p.7.
4
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 8ª.ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.17.
5
GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade
civil, vl.III. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.53.
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estabelecendo princípios gerais de responsabilidade civil.6


(SIC)

O Código Civil Francês, conhecido como Código Civil de Napoleão, teve o


papel de oferecer o suporte necessário que a ideia de culpa, na responsabilidade civil
aquiliana veio trazer, fazendo a abstração da concepção de pena para a de reparação
do dano, influenciando várias legislações no mundo, inclusive a brasileira. Além disso,
teve papel predominante na retirada do critério de enumeração de casos de
composição obrigatória, existentes no direito romano.

Todavia, o crescimento da teoria da responsabilidade civil não ficaria adstrita


a apenas a ideia de culpa. O crescimento tecnológico, econômico e industrial, após a
segunda guerra mundial, trouxe profundas reflexões no universo da responsabilidade
civil. O direito visto pelo prisma social não poderia deixar de cumprir o seu papel,
surgindo daí várias teorias, dentre as quais destacamos a teoria do risco, pela qual
determinadas pessoas são responsáveis pela indenização, mesmo sem terem culpa.

Com a apenas a responsabilidade subjetiva, que se encontrava impotente


frente às várias situações apresentadas, restando sem a devida tutela jurisdicional
vítimas de danos que não obtinham êxito em provar a culpa do responsável, e,
portanto, não eram indenizadas, criou-se uma lacuna, uma brecha pela qual ocorria
violação ao princípio que apregoa que a ninguém se deve lesar.

A objetivação da regra de análise fundada na culpa do agente, resultou na


espécie objetiva que não leva em conta a análise da culpa do responsável e que será
devidamente tratada mais adiante.
No atual sistema jurídico brasileiro temos uma dualidade de regramentos,
coexistindo duas espécies de responsabilidade civil: a subjetiva e a objetiva. A
primeira como representante do ordenamento revogado de 1916, e, a segunda como
retrato do avanço social, com o acréscimo de um novo paradigma, não com rejeição
à culpa, mas com a lente da atividade de risco. Exemplo disso é o disposto no
parágrafo único, do art.927, do Código Civil

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único: haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem. (Grifo nosso)

6
NETO, Martinho Garcez, apud VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., p.19.
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A nossa proposta de pesquisa se baseia na responsabilidade civil pré


contratual, com enfoque na responsabilidade civil subjetiva quanto na objetiva, na
análise do dever de indenizar, o que na atualidade se mostra bastante promissor.

VOCÁBULO
Tem origem no verbo latino respondere, significando a obrigação que alguém
tem de assumir com as consequências jurídicas de sua atividade, contendo, ainda, a
raiz de spondeo, fórmula através da qual se vincula, no Direito Romano, o devedor nos
contratos verbais.
Trata-se de uma obrigação derivada oriunda de um dato jurídico lato sensu,
portanto é um dever sucessivo.
“Responsabilidade, para o direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada
– um dever jurídico sucessivo – de assumir as consequências jurídicas de um fato,
consequências essas que podem variar (reparação de danos e/ou punição pessoal do
agente lesionante) de acordo com os interesses lesados” Pablo Stolze/Roberto
Pamblona.
Respaldo jurídico: está no princípio fundamental da “proibição de ofender”, ou
seja, a ideia de que a ninguém se deve lesar _ a máxima neminem laedere, de Ulpiano
– limite objetivo da liberdade individual em uma sociedade civilizada.
RESPONSABILIDADE JURÍDICA X RESPONSABILIDADE MORAL
RESPONSABILIDADE CIVIL X RESPONSABILIDADE CRIMINAL

CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Quando se cogita do dever de conduta em uma sociedade, temos que o indivíduo


deve zelar para não lesar outrem. A prática de ato ilícito, que quase sempre gera dano,
promove o dever de indenizar. Quando se viola as normas de condutas impostas o
agente violou um dever originário, chamado de primário, gerando um dever jurídico
sucessivo, também denominado de secundário, que é o de indenizar. Por exemplo,
quando determinada pessoa macula a honra e a dignidade de outrem, gerando dano
moral, viola o dever originário que impõe a abstenção de prática ilícita, resultando no
dever de indenizar, que se consubstancia em um dever sucessivo.

A noção de responsabilidade civil advém da ideia de obrigação, encargo ou


contraprestação. Responsabilidade é, portanto,
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o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da


violação de outro dever jurídico. Em apertada síntese,
responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge
para recompor o dano decorrente da violação de um dever
jurídico originário.7

A distinção entre obrigação e responsabilidade decorre justamente da


determinação dos deveres primários e secundários. Obrigação é sempre dever jurídico
primário já a responsabilidade, é tido como dever jurídico secundário.

ELEMENTOS:
- conduta, dano, nexo causal.

ESPÉCIES:
Subjetiva: é a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo.
Objetiva: ocorre independe de culpa.
Contratual: inadimplemento da obrigação prevista em contrato (arts. 389 e s. e 395);
Extracontratual ou Aquiliana: violação direta de norma jurídica (arts. 186 a 188 e 927);

NATUREZA JURÍDICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Será sempre sancionadora, independentemente de se materializar como pena,
indenização ou compensação pecuniária.

Função da Reparação Civil


- Compensatória do dano á vítima (função básica: retorno ao status quo ante;
- Punitiva do ofensor (secundária);
- desmotivação social da conduta lesiva (cunho pedagógico).

7
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.2.

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