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1.

INTRODUÇÃO

O conceito de responsabilidade civil está respeito a obrigação de


reparar o dano que uma pessoa causa a outra, assumindo os encargos de
toda ação ou omissão que acarrete a violação de uma norma jurídica legal ou
contratual. Para Sergio Cavalieri Filho, a responsabilidade civil é um dever
jurídico sucessivo que se originou da violação de dever jurídico originário.

A obrigação é sempre um dever jurídico originário, já a


responsabilidade é um dever sucessivo, consequente à violação do primeiro
instituto. Inicialmente, toda ação ou omissão gera responsabilidade ou o
dever de indenizar, podendo utilizar o termo "responsabilidade" para toda
situação na qual qualquer pessoa, natural ou jurídica, deva reparar as
consequências de ato, fato ou negócio danoso.

O ordenamento jurídico brasileiro determina normas que dedica-se a


responsabilidade civil, garantindo a repação de danos, por meios amigáveis
ou judiciais, assim protegendo pessoas prejudicadas e punindo aqueles que
desobedeçam a norma e tragam prejuízo a outrem.

2. DO DANO.

2.1. Conceito de dano

O dano é considerado requisito essencial para que haja


responsabilidade, é a violação, por ação ou omissão, de um interese jurídico,
patrimonial ou extrapatrimonial. A reparação de danos decorre da
responsabilidade civil do agente causador do infortúnio, que deve sempre
repará-lo. Dano é toda lesão a um bem juridicamente protegido, causando
prejuízo de ordem patrimonial ou extrapatrimonial. Sem que tenha ocorrido
dano a alguém, não há que se cogitar em responsabilidade civil. Ao contrário
do que ocorre na esfera penal, aqui o dano sempre será elemento essencial
na configuração da responsabilidade civil; não há responsabilidade civil por
‘tentativa’, ainda que a conduta tenha sido dolosa.

2.2. Espécies de danos

Os danos podem ser dividios em patrimoniais, que são aqueles


avaliáveis em dinheiros; ou não patrimoniais ou morais, sendo os que se
verificam em relação a interesses insusceptíveis de avaliação pecuniária. A
distinção entre o dano patrimonial e o expatrimonial não se faz apenas com
base no direito ofendido.

Dano patrimonial é aquele que pode ser avaliado em valores por


critérios objetivos, podendo ser reparado diretamente, mediante a
restauração natural ou reconstituição específica da situação anterior à lesão,
ou ainda que não se possa voltar ao estado anterior das coisas (status quo
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ante) será possível fixar uma quantia pecuniária a título de compensação.
Ainda em se tratando de dano, no quesito patrimonial, é possível dividi-lo em
dois tipos, dos quais cabível breve explanação. O artigo 402 do Código Civil
dispõe acerca do dano emergente e o conceitua como sendo aquilo que a
vítima efetivamente perdeu. Menciona, ademais, o segundo tipo de dano, ao
mencionar como dano também aquilo que a vítima “razoavelmente deixou de
lucrar”, conhecido por lucro cessante

Para Aguiar Dias (1960,p-771-772), conceitua dano por exclusão, o


que não pode considerado como dano patrimonial é considerado dano
expatrimonial (moral). De tal forma que, a diferença não decorre da natureza
do direito, bem ou interesse lesado, mas sim do resultado da lesão, do
caráter de sua repercussão sobre lesado. Portanto, a característica principal
do dano expatrimonial seriao não o bem protegido, mas a impossibilidade de
se efetuar uma avaliação objetiva do dano. O dano moral consiste na lesão
direito de personalidade. Segundo Cavaleiri Filho " só deve ser reputado
como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à
normalidade, interfira no comportamento psicológico do indivíduo, causando-
lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensabilidade exarcebada estão fora da
órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do
nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente
familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo”.

2.3. Extensão dos danos

No Artigo 944, estabelece apenas que “a indenização mede-se pela


extensão do dano”. Parágrafo único: “Se houver excessiva desproporção
entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a
indenização. Desta forma, não existe um critério objetivo. Portanto, a
jurisprudência estabeleceu alguns critérios pontuais para levar em
consideração no cálculo do dano: deverá ser feito com moderação e
razoabilidade; deverá levar em conta o grau de culpa; deverá levar em conta
o nível socioeconômico das partes; deverá levar em conta a experiência e o
bom senso do juiz; deverá desestimular o ofensor; deverão ser avaliadas as
circunstâncias fáticas e circunstanciais.

2.4. Responsabilidade por perda de chance

A responsabilidade civil por perda de uma chance acontece quando a


vítima se vê privada de oportunidade séria e real de obter um ganho ou de
evitar a perda.

Aqui, é importante destacar que, nesses casos, não existe uma

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certeza sobre os acontecimentos futuros, e sim uma chance real de que eles
aconteçam. Portanto, é caracterizado pela frustração de uma oportunidade
de ganho patrimonial ou de redução de uma vantagem por ato ilícito de um
terceiro.

Para que seja indenizável, a chance perdida precisa ser séria e real.
Deve haver uma concreta possibilidade de que, se não houvesse a perda, a
expectava da vítima de obter determinada vantagem se confirmaria, de
acordo com critérios de razoabilidade.

Diverge a doutrina quanto ao enquadramento dos danos decorrentes


da perda de uma chance, prevalecendo o entendimento de que seriam
espécie de dano patrimonial diversa dos lucros cessantes e dos danos
emergentes. Por outro lado, a jurisprudência encontra decisões em todos os
sendos, admindo, inclusive, que a perda de uma chance ensejaria espécie
de dano moral.

2.5. Dano moral

Entende a doutrina, de forma majoritária, que o dano moral consiste


na lesão à direito da personalidade.

Ressalte-se que o dano moral não é decorrente da origem do dano,


mas sim do tipo de interesse lesado. Assim, é possível que o inadimplemento
gere dano moral, quando o interesse lesado seja referente à personalidade
ou à dignidade da pessoa.

Segundo Cavalieri Filho, “só deve ser reputado como dano moral a
dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira
no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia
e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral,
porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no
trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais
situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio
psicológico do indivíduo”.

Normalmente, o dano moral é fixado em dinheiro. Na omissão do CC,


a jurisprudência (STJ) determina que o juiz deve levar em consideração a
função compensatória (compensação pelo sofrimento) e a função prevenva
(desesmula o comportamento) do dano moral para fixar a indenização.

2.6. Dano à imagem

O Código Civil em seu artigo 20 tutela o direito à imagem, e em


conformidade, no artigo 5º da Constituição Federal, em seus incisos V, X e
XXVIII garantindo a proteção ao direito mencionado. O direito à imagem diz
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respeito à faculdade que o indivíduo tem sobre a exibição de sua integridade,
física ou moral, ante a sociedade, pois, refere-se de um direito facilmente
violável, o que gera grande repercussão no meio jurídico, uma vez que, a
exposição à imagem pode gerar graves danos àquele que sofreu abuso.

Havendo violação do dano, reprodução da imagem sem autorização


do seu titular, existirá uma violação do direito personalíssimo, surgindo a
obrigação de indenizar, de acordo com o disposto no art. 20, caput, do
Código Civil.

Ocorre a violação do dano, pois retratar uma pessoa sem que ela
saiba ou contra a sua vontade é um ato ilícito, ofensivo ao direito à própria
imagem. É imprescindível o consentimento do retratado, por ter ele o direito
de impedir que não se use a líbito, a sua imagem.

2.7. Dano à honra

Tanto a Constituição Federal quanto o Código Civil fundamentam a


reparação dos danos por violação à honra, que é direito da personalidade
composto de dois aspectos: o objetivo, que está relacionado à consideração
social, e o subjetivo, que está ligado à auto-estima do indivíduo. Nesses dois
aspectos está contido o caráter múltiplo da honra: individual, civil,
profissional, política, científica, artística, etc. De modo que a honra pode ser
atingida por diferentes tipos de ilícitos: a injúria, a difamação e a calúnia, as
quais podem gerar conseqüências criminais e civis ao seu autor.

Em relação ao ressarcimento pelos danos sofridos, a possibilidade de


cumulação da indenização do dano moral com o dano material está
pacificada em nosso direito, inclusive por meio da Súmula 37 do Superior
Tribunal de Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato”.

2.9. Liquidação do dano

Liquidação do dano é praticamente quando o dano causado é


restituído. A indenização é a reparação pecuniária de danos morais
patrimoniais causados ao lesado ou o equivalente pecuniário do dever de
ressarcir o prejuízo. Em sentido genérico exprime toda compensação ou
retribuição monetária feita por uma pessoa a outrem, para a ressarcir de
perdas tidas.

O artigo 944 do Código Civil dispunha que “A indenização mede-se


pela extensão do dano”. Era a aplicação do princípio da restituo in integrum,
buscando recolocar a vítima, tanto quanto possível na situação anterior à
lesão. A indenização é proporcional ao dano sofrido pela vitima, e o objetivo
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da indenização é reparar o dano o mais complemente possível indenizável.

Dispõe o artigo 944 do Código Civil que “se houver excessiva


desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização”, de forma que o juiz terá que agir com
razoabilidade na fixação da liquidação da indenização.

A avaliação do dano faz-se pela liquidação, que consiste na fixação do


montante pecuniário da indenização. Essa liquidação pode ser convencional
ou legal, amigável ou judicial. É convencional quando decorre de
entendimento prévio entre as partes, podendo a cláusula penal funcionar
como uma prefixação das perdas e danos. É legal quando realizada na forma
da lei. Quer seja convencional ou legal, pode realizar-se sem litígio
(composição amigável) ou em virtude de decisão judicial (composição
judicial). A reparação ideal consiste na efetiva reposição. Quando impossível
deve a indenização ser paga em dinheiro; conforme a natureza do dano, a
indenização poderá ser paga sob a forma de entrega de um capital ou de
uma renda (art. 947).

3. CAUSA EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE

3.1 Culpa exclusiva da vítima e de terceiro

A atuação culposa da vítima determinante para a produção do


resultado (vítima, com o objetivo de suicidar-se, se joga na frente do veículo)
tem também o condão de romper o nexo de causalidade, excluindo
responsabilidade civil do agente. Note-se que a atuação da vítima deve ser
exclusiva, pois caso ocorra concorrência de culpas (ou causas) a indenização
deverá, via de regra, ser diminuída na proporção da atuação de cada sujeito.

O comportamento do terceiro, que não seja o agente ou a vítima, pode


também quebrar o nexo causal e excluir a responsabilidade. Mas essa
questão não é pacífica e tem encontrado resistência na jurisprudência pátria.
A exemplo cita-se a Súmula 187 do STJ, que não exime a responsabilidade
do transportador por acidente com passageiro causado por terceiro. Em
muitos julgados, tem-se reconhecido a responsabilidade do causador do
dano, a quem caberia depois apenas a ação regressiva contra o terceiro. Ex:
albarroamento provocado por terceiro, que acaba por atropelar um pedestre.
Este entendimento não merece prosperar porque o prejuízo do pedestre não
guarda qualquer relação de causalidade com a atitude do primeiro condutor,
cujo veículo foi mero instrumento da ação culposa do terceiro.

3.2. Fato necessário: caso fortuito e força maior

A característica da força maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a


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causa conhecida (um terremoto, um furacão p. ex.); já o caso fortuito tem por
marca a sua imprevisibilidade, segundo os parâmetros do homem médio (um
atropelamento, um roubo etc).

Na verdade, não há interesse prático na distinção uma vez que o


próprio código não o faz, além do que são tratados igualmente como
excludentes de responsabilidade, pois ambos atacam o nexo causal e não a
culpa (embora este elemento, que é acidental, possa ser também atingido).
“Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de
caso fortuito ou de força maior, se expressamente não se houver
por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no


fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir."

3.3. Cláusula de não indenizar

Primeiramente, há que se esclarecer que tal cláusula só tem aplicação


na responsabilidade civil contratual, pois trata-se de convenção por meio do
qual as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da
obrigação.

Também conhecida como “cláusula de irresponsabilidade”,


hodiernamente não é vista como bons olhos pelos civilistas, pois se
amoldava mais ao direito civil da primeira metade do século XX, imbuído de
ideais individualistas.

Para o novo Direito Civil, mais socializado e vocacionado aos


superiores princípios constitucionais, a cláusula de não indenizar é
condicionada a observância de valores de ordem pública. Exatamente por
isso que o CDC a veda, com vistas à proteção do consumidor, parte mais
vulnerável na relação de consumo.

Todavia, há situações no nosso direito em que essa cláusula tem


validade, quais sejam, naquelas em que as partes envolvidas guardem entre
si uma relação de igualdade, de forma que a exclusão do dever de indenizar
não traduza renúncia da parte economicamente mais fraca.

4. Conclusão

O presente trabalho, em linhas gerais, busca conceituar brevemente a


responsabilidade civil, o dano e suas características, abordando as espécies
de dano e também sua liquidação. Buscou também verificar e analisar os
diversos institutos que afastam a responsabilidade civil, que pode ocorrer
através da exclusão do ato ilícito, por cláusula expressa ou até mesmo por
ausência de requisitos para se configurar a responsabilidade. A culpa da
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vítima e o caso fortuito ou força maior também podem afastar a
responsabilidade. Como já citado anteriormente a responsabilidade civil parte
de um pressuposto de que todo aquele que através de um ato lícito ou ilícito
tem a obrigação de reparar, pois o dever jurídico originário de não causar
dano deve ser respeitado, a não ser que seja um ato danoso, porém não
ilícito como foi citado ao longo do trabalho.

5. Bibliografia

⦁ A responsabilidade civil no direito brasileiro, Caroline Doelle, 2019.

⦁ Reparação de danos: como deve ser feita?, Kahle e Bitencourt


Advogados, 2021.

⦁ Responsabilidade civil: tudo que você precisa saber sobre o tema,


Jaqueline Crestani, 2021.

⦁ O dano na responsabilidade civil, Marcelo Azevedo Chamone, 2008.

⦁ Como calcular danos morais, Tomás M. Petersen, 2020.

⦁ Responsabilidade civil por dano à imagem e a sua proteção


constitucional, Karine A. G.Mota e Danielle Lobato Maya, 2018.

⦁ Responsabilidade civil por danos à honra do indivíduo, Daniela


Vasconcellos Gomes, 2012.

⦁ Introdução conceitual: Responsabilidade civil, Paulo Byron Oliveira


Soares Neto, 2018.

⦁ Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

⦁ FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de responsabilidade civil. 10 ed.


São Paulo: Atlas S. A, 2012;

⦁ Causas excludentes de responsabilidade civil, Cledes Junio e Eliana


Cândida Valério, 2016.

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