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Sumário: 1. Breve Introdução sobre a Responsabilidade Civil (49) 2. Teorias da Responsabilidade (53) 2.1. Responsabilidade Civil subjetiva (53)
2.2. Responsabilidade Civil objetiva (54) 2.2.1. Responsabilidade objetiva fundada no risco (54) 2.2.2. Culpa presumida (54) 3. Classificação da
Responsabilidade Segundo a Figura do Devedor (55) 4. Classificação da Responsabilidade Segundo a Origem (55) 4.1. Responsabilidade contratual
(55) 4.2. Responsabilidade extracontratual (55) 5. Responsabilidade Civil no Código de Defesa do Consumidor (56) 5.1. Responsabilidade
pelo fato do produto e do serviço (57) 5.1.1. Dano (58) 5.1.2. Exclusão da responsabilidade (60) 5.1.3. Responsabilidade do Comerciante
pelo fato do produto (60) 5.1.4. Responsabilidade dos profissionais liberais pelo fato do serviço (61) 5.1.5. Consumidor equiparado (61) 5.2.
Responsabilidade do fornecedor por vício do produto ou do serviço (61) 5.2.1. Vício x Defeito (61) 5.2.2. Responsável pelo vício? (62) 5.2.3.
Classificação dos vícios (62) � 5.2.3.1. Vício de qualidade e vício de quantidade (62)�5.2.3.2. Vício de informação (63) �5.2.3.3. Vício oculto e vício
aparente (63) 5.2.4. Direitos do consumidor x deveres do fornecedor (63) 5.2.5. Reparação de produtos e emprego de componentes originais (64)
6. Fase de Adequação dos Produtos e Garantia (65) 7. Desconsideração da Personalidade Jurídica (66) Referência (69) Anotações (71)
Nesta unidade estudaremos a Responsabilidade Civil no Código Civil Brasileiro, seus conceitos e
diversificações empregadas quanto à classificação (aquiliana e contratual) e às teorias (subjetivas
e objetivas, que se subdividem em teoria do dano objetiva e teoria fundada no risco).
Objetivo
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◆◆ Embora haja certa conexão entre o conteúdo da norma moral e da norma jurídica
relativamente à responsabilidade pela reparação do dano, ao Direito interessa a manutenção
da paz social e não necessariamente a perfeição espiritual do homem. Importa-lhe, muito
mais, o efeito concreto das ações ou omissões do homem em face do outro e/ou da sociedade
– qual seja o dano que turba a vida social, atingindo o indivíduo e/ou a coletividade.
A norma jurídica deve impor a responsabilidade pela reparação, no campo civil, e aplicar ao
ofensor, no campo do direito penal, a devida sanção.
Como não há responsabilidade sem dano, imperiosa seria a sua ocorrência enquanto um
prejuízo material ao patrimônio do lesado ou uma ofensa a valores não patrimoniais que lhe são caros.
Mas a causa motriz do dano teria de ser uma ação ou omissão culposa de alguém dotado de sanidade
suficiente para perceber a ilicitude do ato ou fato lesivo.
Tepedino (2004, p. 195) entende que o Código Civil de 2002 estabeleceu um modelo dualista no
qual convivem regras de Responsabilidade Civil subjetiva e objetiva. Porém, parece-nos mais acertada
a lição de Stoco (2007, p. 131) que, discordando deste posicionamento, argumenta que se manteve a
cláusula geral de responsabilidade subjetiva com a previsão de casos pontuais em que se aplicam a
responsabilidade objetiva (inclusive quando da aplicação da responsabilidade objetiva genérica).
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Direito do Consumidor
◆◆ No Brasil, num primeiro momento, a culpa integra o próprio conceito de ato ilícito
conforme se depreende da dicção do Art.186 e se expressa como um desleixo diante de um
dever legal ou contratual.
Os pressupostos do ato ilícito são a violação de direito por culpa associada à causação de dano
patrimonial ou não patrimonial. A violação de direito decorrente de lei ou de instrumento contratual
por ação ou omissão voluntária (dolo) ou negligência, imperícia ou imprudência (culpa). Mas a mera
violação de direito não é suficiente para configurar o ato ilícito, é necessário que esta violação dolosa/
culposa seja a causa determinante de um dano de natureza patrimonial ou não patrimonial, ou seja, é
necessário o nexo causal entre a violação culposa e o dano.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
É certo que a tipificação do abuso de direito como ato ilícito vai de encontro à moderna
teoria do Direito Civil, para a qual na configuração do abuso de direito não há que perquirir-se
sobre a culpa (CALIXTO, 2008, p. 175).
Dica
Veja as práticas comerciais abusivas previstas no CDC, na sua configuração não
há que se perscrutar sobre a culpa do fornecedor.
Assim, configura abuso de direito o exercício do direito manifestamente excessivo em relação aos
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes, como descrito
pelo citado artigo 187. Cabe a lembrança de Pedro Baptista Martins (1941, p. 57-58) que já advertia
sobre a função social dos direitos subjetivos e que o seu exercício anormal, a desnaturação da finalidade
social ou econômica do direito, o seu exercício antifuncional e a confiança legítima enganada fugiam ao
aspecto teleológico da norma protetiva e apenas dissimulavam uma aparência de legalidade.
O fato é que para atender as demandas atuais, que cresceram com o avanço do progresso
tecnológico e industrial, ampliaram-se ainda mais os efeitos do princípio romano do neminem laedere,
a fim de facilitar o direito ao ressarcimento dos danos.
Da culpa provada, passou-se a admitir a culpa presumida para, posteriormente, dispensar-se a
culpa na imputação da Responsabilidade Civil, permitindo a ocorrência do que Savatier designou por
hipertrofia da Responsabilidade Civil (apud AGUIAR, 2006, p.16).
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Direito do Consumidor
A partir do final do século XIX, constatou-se que o ônus da prova que se impunha à vítima
findava por impossibilitar a reparação, fundamentando o surgimento das primeiras teorias favoráveis
à presunção da culpa do ofensor pelos danos causados por sua conduta (CALIXTO, 2008, p.150).
O presumível ofensor poderia afastar a culpa, provando que o resultado danoso não
guarda qualquer relação com a sua conduta. Coube às teorias da presunção da culpa transformar
a culpa extracontratual em culpa contratual, justificando que determinados tipos contratuais
seriam geradores de uma obrigação de resultado, como, por exemplo, a garantia de integridade
física do transportado no contrato de transporte.
Atenção
Inverteu-se, aqui, a lógica da responsabilização: seria imperioso não apenas evitar
os danos, mas também inviabilizar os riscos. Ocorrido o dano, o importante não é
identificar o culpado, mas localizar quem não evitou os riscos.
As obrigações têm por fonte, em primeiro momento, a Lei; como fontes imediatas, as
declarações unilaterais da vontade, os contratos e os atos ilícitos.
Atenção
Nesta última hipótese, a obrigação se constitui pela prática de ações ou omissões
culposas ou dolosas do agente, perpetradas com infração a um dever de conduta
e que resultam em dano para outrem. Assim, a obrigação emerge como dever de
indenizar ou ressarcir o prejuízo gerado.
O Código Civil consignou a regra geral da responsabilidade aquiliana nos Arts. 186 e 187. Por
sua vez, estabeleceu a regra básica da responsabilidade contratual no Art. 389, dedicando ainda um
título, “Da Responsabilidade Civil”, para trabalhar dois assuntos inerentes em capítulos distintos: a
obrigação de indenizar (Arts. 927 ao 943) e a indenização (Arts. 944 ao 954).
O dever de indenizar o dano cometido esteve presente em todas as fases da história do homem.
Curiosidade
Nos primórdios valia a vingança privada, tal como expressa no Código de
Hamurabi sob a expressão “olho por olho dente por dente”.
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Direito do Consumidor
Num estágio mais avançado da sociedade, surgia a composição econômica voluntária, que
posteriormente fora transformada em composição econômica obrigatória e sob a interferência do
Estado. Nos tempos de Roma, se delineou a distinção entre pena e reparação, importando também na
distinção entre os delitos públicos e delitos privados.
A lei de Aquilia esboçou o princípio geral da reparação do dano, antecedente da responsabilidade
aquiliana. A doutrina francesa aperfeiçoou as concepções românicas, traçando alguns princípios básicos:
◆◆ O direito à reparação sempre que houvesse culpa;
◆◆ A separação da Responsabilidade Civil e penal;
◆◆ A existência de culpa contratual.
Neste aspecto, a noção de culpa adotada pelo Código Napoleônico admite a diferença entre
culpa delitual (aquiliana) e culpa contratual.
A teoria clássica acerca da Responsabilidade Civil, portanto, apresenta três pressupostos:
◆◆ O dano;
◆◆ A culpa do autor do dano e
◆◆ A relação de causalidade entre o fato culposo e o dano.
O avanço tecnológico e industrial finda por alimentar o surgimento de outras teorias acerca
da Responsabilidade Civil. Mencione-se aqui a responsabilidade objetiva, desligada da ideia da culpa.
Fundamenta-se no princípio de equidade, existente desde o direito romano, cuja essência
implica que aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pela desvantagem dela
resultantes. “Quem aufere os cômodos, deve suportar os incômodos”.
No Direito Moderno, a teoria da responsabilidade objetiva abriga duas ordens específicas de
fundamento: a teoria do risco e a teoria do dano objetivo.
Pela teoria do risco, o exercício de atividade perigosa é por si só o fundamento da Responsabilidade
Civil. Pela teoria do dano objetivo, todo dano deve ser ressarcido, independentemente do elemento culpa.
O Código Civil brasileiro manteve a tradição jurídica nacional em adotar a Responsabilidade
Civil subjetiva como regra geral. Porém, admite a responsabilidade objetiva em duas hipóteses: quando
lei específica assim determinar ou em face do risco da atividade, utilizando-se aqui a teoria do risco
(Art. 927, parágrafo único), além dos casos que enumera.
2 Teorias da Responsabilidade
Como vimos, são duas as teorias sobre a Responsabilidade Civil: a teoria subjetiva e a teoria
objetiva, que inclui a teoria do risco (risco proveito). Vejamos cada uma delas.
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Exemplo
Tem-se um exemplo de responsabilidade com base na culpa presumida o Art. 936,
CC. As excludentes seriam apenas a culpa exclusiva da vítima e a força maior.
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Importante
É possível ainda que a responsabilidade extracontratual advenha do exercício de
atividade perigosa e não da prática de ato ilícito. O exercente de atividade perigosa
responderá pelo dano associado a ela não por ter agido com culpa, mas pelo fato de
ser o beneficiário dos lucros quem suportará os prejuízos.
Pode ainda a obrigação de indenizar nascer de fatos permitidos pela lei que não são abrangidos
pelo chamado risco social, dentre eles, aqueles praticados em estado de necessidade, considerados
lícitos pelo Art.188, II (GONÇALVES, 2003, p. 30).
Atenção
Não se pode falar em qualidade de produtos e serviços sem o respeito aos direitos
do consumidor.
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Direito do Consumidor
Importante
Nota-se que a Responsabilidade Civil pelo fato do produto ou do serviço deriva
de defeito. Quando o dano existe, mas não existe o defeito, não há que se falar em
responsabilidade do fornecedor, pois ele não responderá pelo dano derivado do
mau uso da coisa ou causado por qualquer outra razão que não o defeito.
Não se cogita aqui do elemento culpa, pois não interessa se o fornecedor agiu com diligência,
prudência e perícia. Importa demarcar a existência do dano, a sua relação com o defeito decorrente de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento
de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Veja que o defeito deve ser o causador do dano e isso é o que determinará a responsabilidade
do fornecedor.
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O CDC diz que defeituoso é o produto que não oferece segurança que dele legitimamente se
espera. Veja ainda o Art.12:
§1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido
colocado no mercado.
O CDC define serviço defeituoso, no Art.14, parágrafo primeiro, fazendo-o em semelhança ao
produto defeituoso.
§1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
5.1.1 Dano
O CDC não limita o tipo de dano indenizável. Apenas faz referência a que o dano indenizável,
naquela sessão, deve derivar de defeito.
Assim, entende-se que o CDC determina a reparação dos danos materiais (patrimoniais) e
morais, estéticos e à imagem. Assim, conforme Rizzato Nunes, (2004, p. 162):
◆◆ Dano material: A indenização pelo dano material deve cogitar dos danos emergentes, ou
seja, a perda patrimonial efetivamente sofrida, e dos chamados lucros cessantes, ou seja,
tudo o que o lesado efetivamente deixou de auferir como renda líquida, em virtude do
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dano. Relativamente aos danos emergentes, apura-se o valor real do prejuízo para que o
responsável efetue o pagamento. No caso dos lucros cessantes, calcula-se o que o lesado
deixou de faturar, porém é claro que caberá a ele a prova efetiva dos danos sofridos ou
daqueles que razoavelmente deixou de lucrar.
◆◆ Dano moral: Seria aquele não enquadrado na categoria de dano material. Dano moral é aquele
que subtrai a paz, o sossego, traz a angústia, atinge o sentimento, o decoro, o ego, a honra, enfim,
afeta tudo aquilo que não tem um valor econômico. Seria aqui a dor física ou psíquica. Nas letras
de Rizzato Nunes (2004, p. 164), o dano moral tem caráter satisfativo-punitivo e tem de ser fixada
a sua indenização por critérios objetivos. Embora esse mesmo autor ainda acrescente os danos
estéticos e à imagem, pode-se dizer que ambos são também modalidades de danos morais.
Reflexão
Mas a força maior/caso fortuito seria excludente de responsabilidade do fornecedor?
O caso fortuito e a força maior são equiparados no Art. 393, Código Civil. Mas a maioria
da doutrina estabelece a distinção articulando que a força maior é derivada de acontecimentos
externos, sejam naturais ou não, como, por exemplo, inundação, tsunami, terremoto, assalto à
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mão armada (desde que os acontecimento sejam inevitáveis). O caso fortuito, por sua vez, decorre
eventos internos alheios à vontade do agente e, por isso, impossíveis de se impedir ou evitar como
a greve ou doença grave na pessoa do devedor.
Veja que a responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto ou do serviço depende
da relação que o dano tem com a atividade desenvolvida – na hipótese, exige-se que o dano esteja
diretamente relacionado ao defeito do produto ou serviço.
Como visto nos Arts. 12 e 14, o defeito que justifica a reparação do dano é aquele que tem raiz
no processo produtivo, na atividade do fornecedor.
Caso fortuito/força maior e responsabilidade fundada no risco:
Modernamente, na doutrina e na jurisprudência se tem feito, com base na lição de
Agostinho Alvim, a distinção entre “fortuito interno”(ligado à pessoa ou à coisa, ou
à empresa do agente) e “fortuito externo” (força maior ou act of god dos ingleses).
Somente o caso fortuito externo, isto é, a causa ligada à natureza, estranha à pessoa e
à máquina, excluiria a responsabilidade, principalmente se esta se fundar no risco. O
fortuito interno, não. (GONÇALVES, 2003, p.737-738)
Em princípio, o comerciante não responderá no plano civil, pelo fato do produto. Emerge a sua
responsabilidade nas hipóteses do Art.13:
Art. 13 O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de
regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.
Nestas hipóteses, o comerciante passa a ser responsável solidário com o produtor, fabricante, construtor
ou importador. Não desaparece a responsabilidade destes e soma-se a responsabilidade do comerciante,
formando um bloco de sujeitos passivos do dever de reparar o dano. Nos dois primeiros incisos, tem-se a
situação em que o responsável não pode ser encontrado, seja pela impossibilidade de sua identificação e no
último inciso quando o comerciante não conserva adequadamente os produtos perecíveis.
Mesmo na hipótese em que o comerciante não age com diligência no armazenamento dos
perecíveis, não desaparece a responsabilidade do produtor, fabricante ou importador, que são solidários
no dever de reparação do dano.
Posteriormente, após a satisfação do consumidor, aquele que efetuou o pagamento poderá
exercer o direito de regresso contra o ou os demais responsáveis.
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Segundo o Art. 14, §4º, o profissional liberal continua respondendo sob os signos da
responsabilidade subjetiva. Ou seja, para imputar ao profissional liberal (médico, advogado,
engenheiro) qualquer responsabilidade pelo fato do serviço, é necessária a prova de que o mesmo teve
culpa na causação do dano.
§4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Reflexão
Vê-se aqui um reflexo da Responsabilidade Civil extracontratual.
Art. 17 Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Reflexão
Como já referido, a distinção entre vício e defeito não é bem clara nem mesmo no CDC.
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Direito do Consumidor
Embora o Art. 12 e parágrafo primeiro associem defeito ao dano, ao produto inseguro, e o Art.
18 faça referência ao produto viciado como aquele impróprio ou inadequado ao consumo, o Art. 26,
§3º, o legislador confunde os dois termos num só significado.
Art. 26 O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: (...)
§3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.
Nestes termos, entenda-se que, para efeito da Responsabilidade Civil, é mais correto falar em
responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço e não pelo defeito e responsabilidade pelo vício.
Embora o CDC não defina o produto impróprio ou inadequado, exemplifica o termo no art.18,
parágrafo sexto. A validade compromete a adequação do bem, assim como a informação insuficiente. Lembre-
se que o desatendimento às normas técnicas também importa em vício, conforme anuncia o caput do artigo:
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
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Direito do Consumidor
§2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles
se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
Diz respeito à falha no que toca à informação sobre dados relevantes do produto ou do
serviço. É sabido que a informação é um dos direitos do consumidor. Na medida em que o fornecedor
desatende esse direito, traz para o seu produto ou serviço a qualificação de viciado.
◆◆ Assim, o vício aparente e o vício oculto são abordados no Art. 26, para efeito da contagem
do prazo para a reclamação. Enquanto o prazo para reclamar do vício aparente começa
a contar da data em que o consumidor recebe o produto, o prazo para reclamar do vício
oculto inicia a partir do momento em que este restar evidenciado.
Importante
Não espere qualificar como vício oculto qualquer falha que o produto venha
a apresentar no futuro, em vista do uso. É preciso ter-se em mente que tanto
o vício oculto quanto o aparente são aqueles decorrentes de falha no processo
produtivo ou no processo de fornecimento.
O vício tem de ter um elo que o ligue ao momento em que o produto ou serviço foi elaborado
pelo fornecedor. Se não se pode estabelecer um nexo causal entre o surgimento do vício e o processo
produtivo, não se trata ali de vício de adequação. Quer-se aqui que o fornecedor garanta que o produto
é adequado, daí a imputação da responsabilidade pelo vício que surge no período razoável que se
qualificaria como período de adequação do bem. Não se deve incluir na categoria, repita-se, falhas
decorrentes do obsoletismo do produto ou de seu mau uso. Por exemplo, ninguém intentará qualificar
como vício o entupimento nas velas de um fusca, ano 1968.
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Direito do Consumidor
Não sendo o vício sanado em trinta dias ou no prazo que foi convencionado, o consumidor
poderá exigir, alternativamente, e à sua escolha, conforme o Art. 18, §1º:
§1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
Se optar pela alternativa prevista no inciso I e não sendo possível a substituição do bem,
poderá haver a substituição por outro de mesma espécie, marca ou modelo diversos, mediante
complementação ou restituição de qualquer diferença no preço (Art. 18, §4º).
Em se tratando de vício no serviço, dispõe o Art. 19 que o consumidor poderá exigir
imediatamente e a sua escolha:
Na linguagem do CDC, são considerados impróprios os serviços inadequados aos fins econômicos
e aqueles que não atendem as normas da prestabilidade, senão veja-se o Art. 20, parágrafo segundo:
§2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles
se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
Art. 21 No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto
considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição
originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante,
salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.
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São três fases distintas: a primeira é o período de vida útil de um bem (adequação); a segunda
é a fase de deterioração, ou seja, o produto ainda pode durar, mesmo saindo da vida útil; e a última é
a fase de obsoletismo, em que o bem naturalmente estará completamente deteriorado.
Essas três fases existem para que possamos explicar os vícios redibitórios.
Quando o vício se manifesta na primeira fase, que é resultado eventual de descuido na produção
e não devido a mau uso, esse se chama vício de adequação.
A garantia legal do produto independe de qualquer termo expresso e deriva tão somente
do CDC, norma de ordem pública que, por esta natureza, não permite a sua derrogação pela
vontade das partes (Art. 24).
Veja-se que a garantia legal também é diferente da garantia contratual.
A garantia contratual é um bônus que o fornecedor oferece. Na verdade, é um instrumento
para afeiçoar o cliente ou garantir fidelidade, não sendo obrigatória por lei. Contudo, a lei impõe que
a garantia contratual seja estabelecida por termo expresso, justamente para tornar mais transparente a
relação entre fornecedor e consumidor. Diz a Lei, ainda, que a garantia contratual é complementar da
garantia legal (ver Art. 50, CDC).
Assim, o prazo de adequação é o período em que a razoabilidade não espera o surgimento
de falhas que não sejam oriundas do processo produtivo. Por esta razão, nesse período, chama-se a
responsabilidade do fornecedor. Mesmo assim, é preciso demonstrar que o vício é de adequação, ou
seja, tem um nexo causal com a etapa do processo produtivo.
Por exemplo, um automóvel novo, no período de adequação, que apresenta problemas no
sistema elétrico, sem que o consumidor haja feito mau uso. Muito provavelmente, a falha decorre do
processo de produção do bem.
Em vista do dever de garantia da qualidade, o fornecedor responderá pelos vícios. Dispõe o
Art. 26 que:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do
término da execução dos serviços.
Tem-se aqui uma espécie de garantia legal. Pois qualquer vício manifesto neste prazo gera
para o fornecedor deveres em relação ao consumidor.
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Direito do Consumidor
Importante
Vê-se que o prazo para reclamar dos vícios ocultos e dos vícios aparentes é
exatamente o mesmo. Difere apenas o termo inicial da contagem. Relativamente
aos vícios aparentes, conta-se o prazo a partir do fornecimento do produto ou
do serviço: 30 dias, tratando-se de fornecimento de serviços e de produtos não
duráveis e 90 dias, tratando-se de fornecimento de produtos e de serviços duráveis.
Conforme, ainda, o Art. 26, parágrafo segundo, obsta a decadência, ou seja, interrompe a
contagem do prazo para reclamar:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos
e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
Conceito
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) consiste
em afastar a limitação da responsabilidade dos sócios nas obrigações contraídas pela
pessoa jurídica quando existir, em regra, a conduta dolosa dos sócios.
Assim, estando o consumidor ciente de que o dano sofrido resulta de ato praticado pelo sócio
com abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
ou do contrato social pode acioná-los (sócios e pessoa jurídica) conjuntamente em sede cognitiva,
obtendo contra ambos um título judicial.
Por outro lado, nada obsta que o sócio tenha incorrido em alguma das hipóteses de
responsabilização pessoal (Art. 28, CDC), sendo acionado somente na fase de execução, depois de
verificada a debilidade patrimonial da empresa.
Assim, sempre que a personalidade jurídica for utilizada como anteparo da fraude e do abuso
de direito, é justo indagar se os juízes devem fechar os olhos para essa circunstância.
Nos dizeres de Roberto Requião:
Ora, diante do abuso de direito e da fraude no uso da personalidade jurídica, o juiz brasileiro
tem o direito de indagar, em seu livre convencimento, se há de consagrar a fraude ou o abuso
de direito, ou se deva desprezar a personalidade jurídica, para, penetrando em seu âmago,
alcançar as pessoas e bens que dentro dela se escondem para fins ilícitos ou abusivos. (In:
REQUIÃO, Rubens. “Disregard Doctrine”. Revista dos Tribunais, v. 410, p. 12-24, dez 1969).
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Direito do Consumidor
Pelo exposto, percebe-se que a tendência cada vez mais frequente, em nosso Direito, está em
desfazer o mito da intangibilidade da pessoa jurídica sempre que a mesma for usada para acobertar a
fraude à Lei ou o abuso do direito. Ao acolher em suas disposições (Art. 28, CDC) os postulados da
desconsideração da personalidade jurídica, o Código de Defesa do Consumidor outra coisa não fez
senão seguir os passos dessa tendência, rompendo com o esquema rígido da autonomia patrimonial.
O Art. 28 do CDC encontra-se assim, redigido:
“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em
detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da
pessoa jurídica provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for,
de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.”
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Direito do Consumidor
Fácil perceber que as razões do veto, em virtude de um equívoco remissivo, foram direcionadas
ao §1º, mas inicialmente formuladas contra o §5º do referido Art. 28, pois, com excessivo rigor, permite
que “sempre que a sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo de ressarcimento de prejuízos
Pelo exposto, e até por razões didáticas e metodológicas, o dispositivo vetado deve ser utilizado
pelas partes interessadas e pelo aplicador da norma, para deslinde das questões de legitimidade passiva.
Atenção
Por outro lado, a existência do §5º, do Art. 28 do CDC (que deveria ter
sido vetado, repita-se) passou a permitir a adoção da “teoria menor da
desconsideração” (em contraposição à teoria maior prevista no Art. 50 do CC),
pois o consumidor poderia, invocando o §5º do Art. 28 do CDC, requerer a
desconsideração sem a demonstração de um critério subjetivo, caracterizado pela
fraude à lei ou o abuso de direito ou, ao menos, a conduta culposa dos sócios.
Enfim, com essas informações, você pode analisar como deve ser a
Responsabilidade Civil do fornecedor de produtos e/ou serviços e ainda
encontrar informações sobre os vícios de qualidade tanto por inadequação
quanto por insegurança, a responsabilidade do profissional liberal,
decadência e prescrição, desconsideração da personalidade jurídica assim
como os serviços públicos relacionados a este assunto.
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Referência
CALIXTO, Marcelo Junqueira. A Culpa na Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
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Créditos
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