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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA - UNEC

RDR - REGIME DE DEPENDÊNCIA REGULAR

MÓDULO: PRÁTICA JURÍDICA

Ana Claudia Fernandes

AO JUÍZO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE …

MARIA MARIANA, nacionalidade, profissão, estado civil, residente e


domiciliado na rua…, cidade de …, Estado de …, CEP…, titular do RG…, inscrito
no CPF…, e-mail …., por seu advogado, conforme instrumento de mandato anexo,
com escritório profissional situado na rua…, e-mail…., vem, respeitosamente,
perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de JOÃO JOAQUIM , nacionalidade, profissão, estado civil,


residente e domiciliado na rua…, cidade de …, Estado de …, CEP…, titular do
RG…, inscrito no CPF…, e-mail …., pelas fatos e fundamentos que passa a
expor:

DOS FATOS

Aproveitando-se de um descuido da Sra. Maria Mariana, o Sr. João


Joaquim tomou para si algumas de suas fotos.

Com o uso de aplicativos, ele realizou diversas alterações no conteúdo


das fotos com a finalidade de expor a Sra. Maria ao ridículo.

Ele publicou as fotos, devidamente alteradas, nos grupos de mensagens


(Whatsapp) da empresa em que trabalhavam.

A Sra. Maria ficou profundamente envergonhada com todo o ocorrido e


precisou passar por tratamentos, com vistas a superar o trauma experimentado.

Isto posto, a fim de se ver compensada pelos transtornos, prejuízos e


constrangimentos sofridos, a autora propõe a presente demanda visando a
condenação do réu ao pagamento de indenização pelos danos materiais e morais
sofridos.
DO DIREITO

A moral é reconhecida como bem jurídico, recebendo dos mais diversos


diplomas legais a devida proteção, inclusive amparada pelo Art. 5º, V, da
Constituição Federal/88.

Em consonância expressam os artigos 186 e 927 "caput" do atual Código


Civil Brasileiro:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Ocorre que, o dano moral, deriva de uma dor íntima, uma comoção
interna, um constrangimento gerado naquele que sofreu e que repercutiria de igual
forma em outra pessoa nas mesmas circunstâncias. Esse é o caso em tela, onde a
requerente se viu submetida a um estresse constante, indignação e
constrangimento, decorrentes da divulgação e repercussão que a divulgação de
suas imagens causaram, posto, ainda, ter o requerido se utilizado de um grupo
reservado para assuntos de trabalho.

Ainda corroborando com antedito, o Pacto de San José da Costa Rica, do


qual o Brasil é signatário, em seu capítulo 11, protege a honra e a dignidade da
pessoa humana, in litteris:

1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao


reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas


em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências


ou tais ofensas.

É sabido que a função reparadora tem viés de desencorajar práticas


reiteradas, inibindo, por óbvio, que atitudes idênticas sejam repetidas.
Nesse viés, pretende-se desestimular ou, ao menos, esmaecer a
incitação ou propensão às atividades aptas a causar danos morais a outrem.

Punir é impor reprimenda, é castigar. O desestímulo é o fim almejado; a


punição é o meio utilizado. Pune-se o ofensor para desestimulá-lo da prática
infracional.

Quando se fala em valorações de quantum indenizatório, de pouca ou


grande monta, é notório que está se referindo a pecúnia.

Eis alguns entendimentos que norteiam o embasamento desta peça


inaugural, mormente no que tange ao dever de indenizar por imagens expostas sem
autorização. Senão, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR MORAIS. OFENSAS
PROFERIDAS POR APLICATIVOS DE TEXTOS.
DIVULGAÇÃO DE IMAGENS ÍNTIMAS EM REDE SOCIAL.
DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. QUANTUM
MAJORADO. O pedido de reparação de ordem moral deve
conter a comprovação da conduta do causador (ação ou
omissão), nexo de causalidade (relação de causa e efeito entre
conduta e dano) e dano (prejuízo sofrido). No caso em tela, o
ocorrido com a parte autora é caracterizador de dano moral
puro porque atinge a dignidade da pessoa humana no seu
sentido mais amplo. Parte autora submetida à exposição de
suas fotos íntimas em rede social, além de humilhações e
xingamentos por aplicativos de mensagens de texto; e no
local de trabalho, através de ligações telefônicas. Quantum
majorado. APELO DA RÉ DESPROVIDO E RECURSO
ADESIVO DO AUTOR PROVIDO. UNÂNIME.

(TJ-RS - AC: XXXXX20188210039 RS, Relator: Gelson Rolim


Stocker, Data de Julgamento: 31/03/2022, Sexta Câmara
Cível, Data de Publicação: 04/04/2022)

INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO


MORAL. OCORRÊNCIA. DIFAMAÇÃO DA AUTORA EM
GRUPO DE WHATSAPP. MENSAGEM DIRIGIDA A
PESSOAS PERTENCENTES AO NÚCLEO SOCIAL DA
AUTORA. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE
CIVIL CONFIGURADOS. VERBA ARBITRADA A TÍTULO DE
DANOS MORAIS BEM FIXADOS PELO JUÍZO A QUO
(R$8.000,00). RECURSO DA RÉ DESPROVIDO. RECURSO
DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO.

(TJ-SP - AC: XXXXX20198260400 SP


XXXXX-89.2019.8.26.0400, Relator: Vito Guglielmi, Data de
Julgamento: 27/07/2020, 6ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 27/07/2020)

Com base nos dispositivos acima, a exposição ou a utilização sem


autorização da imagem, ainda que não cause dano material, resultará em dano
moral pelo simples fato da publicação da imagem não autorizada. No caso em tela
bastou a divulgação não autorizada da imagem no aplicativo Whatsapp para
configurar a violação do direito e o consequente dever de indenizar.

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Consoante o disposto nas Leis 1.060/50 e 7.115/83, o Promovente


declara para os devidos fins e sob as penas da lei, ser pobre na forma da lei, não
tendo como arcar com o pagamento de custas e demais despesas processuais, sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família.

Por tais razões, pleiteiam-se os benefícios da Justiça Gratuita,


assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015 (
NCPC), artigo 98 e seguintes.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) citar o réu, para, querendo contestar a ação, sob pena de revelia;


b julgar procedente o pedido e condenar o réu no pagamento ao
requerente do valor de R$ … por danos morais, consoante prudente juízo equitativo
de Vossa Excelência;

c) requer, ainda, a concessão dos benefícios da justiça gratuita ao autor,


por não ter condições de arcar com os custos do processo sem prejuízo de seu
próprio sustento, conforme declaração em anexo, nos termos do artigo 98 e
seguintes do CPC.

d) condenar o réu no pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, arbitrados à razão de 20% sobre o valor da condenação;

e) protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ … (...)

Termos em que,

pede deferimento.

Local… data…

Advogado…Oab…

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