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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO

BACHARELADO EM DIREITO

ADRIELE DE JESUS SILVA SOAR


ALANA TARSILA DA SILVA BAHIA
ANA LUIZA BARRETO NUNES
JUAN DIAS LIMA
PAULA VITÓRIA ROCHA FERNANDES

SALVADOR
2023
ADRIELE DE JESUS SILVA SOAR
ALANA TARSILA DA SILVA BAHIA
ANA LUIZA BARRETO NUNES
JUAN DIAS LIMA
PAULA VITÓRIA ROCHA FERNANDES

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Produção de uma peça processual: Ação de


indenização por danos morais. Atividade
realizada como avaliação de aprendizado da
disciplina Estágio Supervisionado II - Prática
Cível ministrada pelo docente Ângelo
Boreggio.

SALVADOR
2023
AO DOUTO JUÍZO DA ____ VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA
COMARCA DE ______

João, nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG nº, inscrito no CPF sob
o nº, residente e domiciliado na Rua __, nº, Bairro, CEP, Cidade, Estado, com
endereço eletrônico registrado como ___, por intermédio de seu advogado que esta
subscreve (procuração anexa), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
com fulcro nos arts. 186 e 927 do CC e art. 37, § 6º da CF, propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de Transportadora Maré, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ sob o nº ___________, com sede na Rua _______, nº _____, Bairro ____,
CEP: ____, Cidade _____, Estado ______, com endereço eletrônico registrado
como ________, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

1. PRELIMINARMENTE.

1.1 – DO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, requer, com fulcro na Lei 1.060/50, combinada com os artigos 98 a 102
do Código de Processo Civil, o deferimento da assistência jurídica gratuita, uma vez
que a parte autora da presente ação não possui condições de arcar com os
pagamentos das despesas processuais, assim como os honorários de
sucumbência, sem que isto lhe cause prejuízo próprio ou para seus familiares, já
que hipossuficiente na forma da lei, (declaração de hipossuficiência em anexo).

1.2– DA COMPETÊNCIA

Conforme disciplina o artigo 53, no seu inciso V, do Código de Processo Civil, será
competente o juízo do domicílio do autor ou do lugar do ato ou fato nas ações em
que se discuta reparação de dano, decorrentes de acidente de veículos. Nesta
senda, é competente o juízo da Comarca de ..., para processamento e julgamento
do presente feito, tendo em vista o fato ter ocorrido nesta cidade, conforme cópia do
Boletim de Ocorrência anexado a presente exordial.

2. DOS FATOS

No dia __/__/__, às __:__h, o autor da presente demanda foi vítima de agressão


verbal e física enquanto utilizava o transporte público pertencente a empresa ré para
realização de atividades cotidianas, tendo sido surpreendido ao ouvir ofensas
transfóbicas e palavras de baixo calão proferidas pelos agressores dentro do
coletivo, além de agredirem fisicamente o autor, causando-o lesões (laudo médico
anexado aos autos).

Diante dessa situação, o autor esperou que o condutor do ônibus parasse o coletivo
para conter a situação, no entanto, o motorista que trabalha para empresa ré
mencionou para o autor que não poderia interromper o trajeto para expulsar os
agressores do veículo, dessa forma, o autor registrou um boletim de ocorrência
contra a ré que alega não ter nenhuma responsabilidade referente ao ocorrido,
tendo em vista que não podem controlar as ações dos passageiros e que não deve
ser responsabilizada por atitudes de terceiros.

3. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

3.1 - DO DANO MORAL


Dano moral é a lesão ou ofensa causada a aspectos da personalidade de um
indivíduo, como sua honra, reputação, integridade emocional, dignidade e bem-estar
psíquico, ISTO É, afetam a esfera emocional, psicológica e social da vítima,
resultando em sofrimento, angústia, constrangimento ou diminuição do seu
equilíbrio psíquico.

Para Maria Helena Diniz, o dano moral vem a ser: “a lesão de interesses não
patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo”. Para a
doutrina, existem inúmeras definições do dano moral. Pablo Stolze e Rodolfo
Pamplona o conceituam como “lesão de direito cujo conteúdo não é pecuniário, nem
comercialmente redutível a dinheiro” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 55).

Como é sabido, o instituto jurídico da indenização por dano moral ou


extrapatrimonial possui três funções básicas: compensar alguém em razão de lesão
cometida por outrem à sua esfera personalíssima, punir o agente causador do dano,
e, por último, dissuadir e/ou prevenir nova prática do mesmo tipo de evento danoso.
Tais finalidades são dirigidas à pessoa que sofreu o dano, ao responsável pela
ocorrência do dano e que o responsável pelo evento danoso, bem como a
sociedade, não pode ou não deve voltar a repetir a sua prática.

Conforme relatado nos fatos, a humilhação e as agressões físicas e morais sofridas


pela parte autora dentro de um ambiente público revelam um forte abalo psíquico do
autor, gerado pelas reações desproporcionais e ofensivas dos réus. A ação de
proferir ofensas transfóbicas e palavras de baixo calão violou a intimidade e a honra
do autor, causando-lhe, sem dúvidas, dano exclusivamente moral, isto é, ato ilícito,
conforme explicitado nos artigos 186 e 187 do Código Civil:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito."

"Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao


exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes."
Com igual importância, e de mesmo cunho transfóbico, além das ofensas à honra
ocorreram ofensas à integridade física da vítima, as quais por si só já representam
relevante dano.

Dessa forma, a indenização por dano moral significa, portanto, a imposição de pena
pecuniária de caráter compensatório para a vítima, tendo em vista o dano causado
pela omissão voluntária (descrita no artigo 186, do CC) da empresa Ré diante da
discriminação e lesões sofridas pelo autor dentro do transporte público.

Ademais, a ofensa foi tamanha que, além de simples dano, se desdobra, no âmbito
penal, em crime de Injúria, o que por serem crimes, em essência, são atos ilícitos.
Nos termos do artigo 140 do Código Penal, com agravamento descrito no parágrafo
3°.

“Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa

(...)

§3° Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a


raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência: Pena – reclusão de um a três anos e
multa”

Observando que o agravamento decorre do cunho transfóbico das ofensas a honra


proferidas, ofensas deste tipo são enquadradas na tipificação de injúria racial de
acordo com o definido em sessão de julgamento do Supremo Tribunal Federal
ocorrida em 21 de agosto de 2023, na qual julgaram o embargo de declaração
contra acórdão do Mandado de Injunção 4733, seguindo o entendimento do próprio
STF de que a discriminação por identidade de gênero configura o crime de racismo
(Lei 7.716/89).

Nesse contexto, destaca-se que a injúria acarreta a necessidade de indenizar a


vítima de forma a reparar os danos causado pela ofensa e, ainda, mesmo que desta
não seja possível comprovar dano material expressivo seguirá mantida tal
necessidade e seu valor sendo fixado pelo juízo conforme as circunstâncias do
caso. Conforme sustentado pelo artigo 953 do Código Civil:

“Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá


na reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material,


caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na
conformidade das circunstâncias do caso.”

Portanto, conclui-se que o Autor merece ser indenizado já que sofreu lesão à sua
integridade física e psíquica decorrente do dano moral que poderia ter sido evitado
caso a empresa ré não tivesse se omitido. Em decorrência do fato ocasionado
contra a sua honra e integridade física, a Requerente experimentou e experimenta
situação dolorosa, angustiante, além de muita tristeza e sofrimento, tendo sua moral
e honra abaladas face a situação que enfrentou, sem ao menos obter apoio da
empresa responsável pelo transporte, sendo suficiente a ensejar danos morais, a
qual não pode ser compensada por valor inferior ao quantum indenizatório de
R$ ..... (.......), que se apresenta como quantia equilibrada, razoável e suficiente a
amenizar a dor sofrida pelo Requerente, sem implicar no seu enriquecimento sem
causa, constituindo também em sanção pecuniária ao causador do acidente, além
de atender ao caráter compensatório e punitivo inerentes à reparação pecuniária
moral, tal como definido pela doutrina e jurisprudência pátrias.

3.2 - DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA CONCESSIONÁRIA


PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO:

Nesse sentido, a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito privado


prestadoras de serviços públicos pelos danos causados a terceiros, com base na
teoria do risco administrativo, é objetiva, conforme preceitua o art. 37, § 6º, da
Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Vejamos o que diz a jurisprudência:

"PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - REDE DE ESGOTO DA SABESP –


VAZAMENTO CONTÍNUO – PREJUÍZO OCASIONADO À AUTORA
– RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS –
SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO. A
responsabilidade da concessionária, como empresa prestadora de
serviços públicos (art. 37, § 6º, da Constituição Federal), é objetiva.
Basta que se comprove a existência do dano e sua relação de
causalidade para arcar com os prejuízos causados ao consumidor,
não se cogitando do fator culpa".

(TJ-SP - AC: 00183032920108260223 SP 0018303-


29.2010.8.26.0223, Relator: Renato Sartorelli, Data de Julgamento:
26/09/2019, 26ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
27/09/2019)

Por consequência, fica a empresa ré incumbida de indenizar e reparar o dano


ocorrido, conforme artigo 927 do Código civil, a seguir transcrito:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.”

3.3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

A entidade federativa responsável pela concessão de serviço público deve figurar no


polo passivo desta demanda como responsável subsidiário por eventuais créditos
que sejam inadimplidos pelos demais acionados, em razão de ter este outorgado à
prestação do serviço de transporte urbano do ... de sua responsabilidade mediante
concessão ao litisconsorte.

Dessa forma, conclui-se que a resposta do Direito é mais do que aplicável à


requerida, portanto, o deferimento é necessário, diante dos danos morais que
provocou a negligência dos empregados da empresa Ré, que desencadearam
diversos traumas ao Autor.

4. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer a este Douto Juízo:

1. A concessão da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de


Processo Civil, por ser o Autor pessoa pobre na acepção jurídica do termo e
não possuir condições de arcar com o pagamento das custas e despesas
processuais sem prejuízo de seu sustento e de sua família;

2. A total procedência da ação para que seja a Ré condenada ao pagamento


do quantum indenizatório por danos morais de, no mínimo, R$ .... (........);

3. A condenação da Ré ao pagamento de honorários advocatícios a serem


fixados com base no artigo 85, § 2º do Código de Processo Civil.

4. Seja a Ré citada para, querendo, apresentar contestação no prazo legal;

5. Manifesta a intenção de utilizar todos os meios de prova legalmente


aceitos, com destaque para o depoimento pessoal do representante da parte
ré, a convocação de testemunhas a serem devidamente apresentadas
quando apropriado, e a inclusão de outros documentos relevantes.

6. Manifesta-se interesse na audiência de conciliação.


Dá-se à causa o valor de R$ ........ (........), para os devidos efeitos, nos termos do
art. 292, III, do Código de Processo Civil.

Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Cidade _____, data ______

Advogado - OAB/UF

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