Você está na página 1de 13

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA DA COMARCA DE

CIDADE-ESTADO

XXXXXXXX, menor impú bere, inscrito no CPF sob o nº, representado por sua genitora
XXXXXXXXXXXXX, brasileira, divorciada, desempregada, inscrita no CPF sob nº , ambos
residentes e domiciliados na Rua , nº , Bairro , CEP, CIDADE/ESTADO, por seus advogados
constituídos e qualificados no instrumento de procuraçã o que segue anexo, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 186 e 927 do
Có digo Civil c/c art. 37, § 6º da Constituiçã o Federal, propor
AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MATERIAIS, MORAIS, ESTÉ TICO E PELA PERDA DE
UMA CHANCE C/C PENSÃ O VITALÍCIA E TUTELA PROVISÓ RIA DE URGÊ NCIA INAUDITA
ALTERA PARTES
Em face do MUNICÍPIO , pessoa jurídica de direito pú blico, inscrita no CNPJ sob o nº , com
endereço na Rua , nº , Centro, Cidade/Estado, telefone , e-mail: pelos seguintes fatos e
fundamentos jurídicos:
I – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
O requerente afirma, sob as penas da lei, neste ato e nos termos da declaraçã o de
hipossuficiência em anexo, que nã o pode demandar sem prejuízo do sustento pró prio e de
sua família. Vale ressaltar que o requerente é menor impú bere e está representado por sua
genitora, mulher trabalhadora, mas atualmente desempregada, além de divorciada.
Portanto, requer a concessã o dos benefícios da justiça gratuita prevista no artigo 5º, inciso
LXXIV da CRFB/1988.
II – DOS FATOS
Inicialmente é vá lido registrar que o requerente, além de estudante, é atleta de destaque do
time de futebol da categoria sub-11 do Município de XXXX e que possuía muita expectativa
no sentido de alcançar o futebol profissional, como aconteceu com outros meninos que
saíram desta regiã o e estã o brilhando nacional e internacionalmente (ex. RICHARLISSON
do fluminense e JOSSIE no futebol internacional).
Assim, no dia 01 (um) de março de 2017 (dois mil e dezessete), o atleta/requerente estava
parado sob a faixa de pedestres localizada em frente ao restaurante Esquinã o, no Centro do
município de XXXXXX, quando foi vítima de acidente de trâ nsito provocado pelo servidor
pú blico XXXXX, que conduzia o veículo do tipo caminhã o, marca/ modelo Volkswagen
15.180 CNM (nacional), ano fabricaçã o/ modelo 2011/2011, placa XXXXX, pertencente ao
Município de XXXXXXXX, ora requerido.
A responsabilidade do sinistro foi ú nica e exclusiva do Município requerido, eis que o
veículo era de sua propriedade e estava sendo dirigido por seu agente. O mencionado
condutor, que estava falando ao telefone e, portanto, nã o atento à direçã o do veículo, ao
fazer uma curva muito aberta, atingiu o menor, lançando-o para cima da calçada do
estabelecimento/restaurante Esquinã o.
Sabe-se que o sinistro provocou lesões gravíssimas, permanentes e irreversíveis no
pé esquerdo do requerente, conforme se observa nas fotos e documentos inclusos,
além da destruição total de sua bicicleta (dano material), dos danos morais e
estéticos. O menor também vem pleitear a responsabilidade civil e indenização pela
perda de uma chance, já que ficou impossibilitado de fazer carreira no futebol em
decorrência do mencionado sinistro.
A ocorrência foi registrada pela Polícia Civil através do Boletim XXXX (có pia anexa),
demonstrando de forma inequívoca que o motorista (agente público) foi o causador
do acidente que ocasionou gravíssimos danos ao atleta/requerente e razão pela qual
o requerido deverá indenizar o requerente como de direito.
Vale acrescentar que o atleta/requerente buscou acordo administrativamente junto ao
requerido, mas este nunca prestou nenhum tipo de assistência, o que demonstra notó rio
descaso com o ocorrido, nã o restando alternativa se nã o acionar o Poder Judiciá rio.
III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
III.I – DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL
Como é do conhecimento deste Douto Juízo, expressa-se a Constituiçã o Federal no sentido
de que “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa” (art. 37, §
6º da CF).
Observa-se que a Constituiçã o Federal adotou a teoria da responsabilidade objetiva do
Poder Pú blico, mas sob a modalidade do risco administrativo. Desse modo, pode ser
atenuada a responsabilidade do Município, provada a culpa parcial e concorrente da vítima,
e até mesmo excluída, provada a culpa exclusiva da vítima.
Nã o se exige, pois, comportamento culposo do funcioná rio. Basta que haja dano, causado
por agente do serviço pú blico agindo nessa qualidade, para que decorra o dever do Estado
de indenizar. A jurisprudência nesse sentido, inclusive a do Pretó rio Excelso, é pacífica.
Confira-se:
“A responsabilidade civil das pessoas de Direito Público não depende de prova de culpa,
exigindo apenas a realidade do prejuízo injusto”.
RTJ, 55/516; JTJ, Lex, 203/79; RT, 745/278.
Pode-se falar, assim, que considerando que a responsabilidade civil do Estado é objetiva, ou
seja, independe de dolo ou culpa. Assim, passaremos a demonstrar a existência da conduta
e do dano causado por agente do serviço pú blico.
III.II – DA REPARAÇÃO CIVIL PELO DANO MORAL
Nitidamente impõ e-se ao requerido a obrigaçã o de indenizar de acordo com os
mandamentos legais. A esse respeito, vejamos o que determina o Có digo Civil Brasileiro:
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”.
A partir da lesã o à saú de do requerente, nasce a obrigaçã o para o requerido e o direito para
o autor de ver reparado seu prejuízo moral. De imediato, percebe-se que o requerido
deliberadamente atingiu a integridade moral do autor, pelo fato de lhe causar lesã o grave e
permanente ao seu pé esquerdo, prejudicando a simples atividade de caminhar.
Em verdade, frisa-se que diante da conduta do requerido o autor nã o pode mais praticar
atividade física, ou seja, nã o pode mais sonhar com o futebol profissional, que já lhe era tã o
paupá vel. Portanto, o requerente teve seus sonhos expurgados de sua vida em funçã o da
conduta do requerido. Sofre fisicamente com a lesã o ao pé, mas sofre, sobretudo,
internamente, silenciosamente, em funçã o do indiscutível abalo psicoló gico com a conduta
do requerido e suas consequências.
Destarte, os documentos anexos comprovam nitidamente que diante do acidente de
trâ nsito o autor adquiriu lesã o grave permanente no seu pé esquerdo, sem prognó stico de
melhora, conforme se comprova com diversos laudos médicos que seguem anexos.
Pode-se afirmar, assim, que durante todo esse período até a presente data o autor sempre
necessitou de auxílio de terceiros. Portanto, o autor suportou sofrimento incomensurá vel,
pois estava e ainda está incapacitado para as tarefas do diaadia, por mais simples que
sejam, sem mencionar, por fim, as inú meras noites que permaneceu acordado em razã o da
dor que sentia e do mal estar físico.
Diante disso, sobre a reparaçã o do dano moral, nossos doutrinadores sã o unâ nimes em seu
favor, senã o vejamos:
"... lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal,
entendendo-se patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de
tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico."
WILSON DE MELLO E SILVA (O Dano Moral e Sua Reparação)
"Sabe-se que na prática é deveras difícil a estimativa rigorosa em dinheiro que corresponda à
extensão do dano moral experimentado pela família da vítima. O valor deverá ser encontrado,
levando-se em consideração o fato, a mágoa, o tempo, a pessoa ofendida, sua formação sócio-
econômica, cultural, religiosa, etc. Reflita-se sobre a fixação de um "quantum" indenitário a
um pai pela morte, por ato ilícito, de um filho. É preciso considerar o patrimônio não apenas
em função das coisas concretas e dos bens materiais em si, mas do acervo de todos os direitos
que o titular possa dele desfrutar, compreendendo em especial ao "homo medius", além do
impulso fisiológico do sexo, a esperança de dias melhores com satisfações espirituais,
psicológicas e religiosas que a família (mulher e filhos acima de tudo) pode proporcionar-lhe
durante toda sua existência."
IRINEU A. PEDROTTI (O Dano Moral e Sua Reparação)
"... dano moral é portanto, o constrangimento que alguém experimenta em conseqüência de
lesão em direito personalíssimo, ilicitamente produzido por outrem... Não obstante, prevalece
atualmente a doutrina da ressarcibilidade do dano moral."
ORLANDO GOMES
" O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um
bem jurídico extra-patrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a
integridade corporal, etc.). "
MARIA HELENA
Sabe-se que a reparaçã o do dano moral é, em regra, pecuniá ria, ante a impossibilidade do
exercício do" jus vindictae ", visto que ele ofenderia os princípios da coexistência e da paz
social. A reparaçã o em dinheiro serviria para neutralizar os sentimentos negativos de
má goa, dor, tristeza e angú stia, pela superveniência de sensaçõ es positivas de alegria e
satisfaçã o, pois possibilitaria ao ofendido algum prazer que, em certa medida, poderia
atenuar seu sofrimento. Ter-se-ia, entã o, como já compensaçã o da dor com a alegria.
O dinheiro seria tã o somente um consolo, que facilitaria a aquisiçã o de tudo aquilo que
possa concorrer para trazer ao lesado uma compensaçã o por seu sofrimento. O dano moral
pode ser demonstrado por todos os meios de provas admitidos em direito, inclusive pelas
presunçõ es estabelecidas para determinadas pessoas da família da vítima.
Da mesma forma, seja qual for a conseqü ência advinda do ato ilícito, justifica-se a
indenizaçã o, pois, p. ex., em decorrência da lesã o a vítima perdeu movimentos de uma
perna, sua prá tica esportiva. Com muito maior razã o se justifica o dever de indenizar, se da
lesã o resultou a impossibilidade para continuar exercendo a sua atividade anteriormente
praticada, como é o caso do autor que jamais poderá voltar a exercer a prá tica esportiva
que tanto gostava e a qual tinha esperança de exercer profissionalmente e mudar de vida.
Levando-se em conta, portanto, a extensã o das consequências do dano sofrido, a vítima do
ato ilícito faz jus ao direito de ser indenizado, eis que o dano moral está cristalino e
comprovado.
Somado a isso, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera
personalíssima da pessoa (direitos da personalidade), violando, por conseguinte, a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente e de forma ilimitada.
A Magna Carta em seu art. 5º consagra a tutela do direito à indenizaçã o por dano moral
decorrente da violaçã o de direitos fundamentais, tais como a honra e a imagem das
pessoas. Vejamos:
"Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;(...)”
Excelência, nitidamente o requerido atingiu a integridade moral do autor no momento em
que lhe causou lesã o gravíssima no seu pé esquerdo, retirando dele a possibilidade de
alcançar o futebol profissional e afastando-o das suas atividades escolares e esportivas por
tempo indeterminado.
Percebe-se nitidamente que a conduta praticada pelo requerido pode ser definida
claramente como ato ilícito e, portanto, geradora do dever de indenizar, eis que os
documentos anexos e demais provas que serã o oportunamente produzidas revelam que os
danos irrepará veis que estã o sendo suportados pelo autor sã o fruto do acidente provocado
pelo agente pú blico.
Dessa forma, o requerido violou a integridade moral do autor no momento em que praticou
tais condutas danosas, causando profundo sentimento de angú stia, dor e tristeza no
requerente, razã o pela qual o requerente merece ser ressarcido pela lesã o à sua intimidade
e à sua vida privada no quantum de 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) a título de
dano moral.
Por isso, bem como diante de recente decisã o proferida pelo Juízo da 1ª Vara da Fazenda
Municipal de Vila Velha – ES, proferida em açã o indenizató ria proposta em face do
Município de Vila Velha – ES (processo nº. 0035945-56.2014.8.08.0035) em que o
referido Município foi condenado a pagar R$ 262.000,00 (duzentos e sessenta e dois mil
reais) em favor de família de vítima atropelada por veículo pertencente a Fazenda Pú blica
Municipal, é totalmente razoá vel a fixaçã o da indenizaçã o pelo dano moral no quantum de
R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Vejamos um trecho da supracitada Sentença:
“Considerando os elementos expostos nos autos, tenho que restou configurado a dor e o
sofrimento indenizável. Isso porque os autores eram filhos da vítima fatal do acidente.
A perda do pai em razão de acidente, ainda mais de forma súbita e que poderia ter sido
evitada, é capaz de gerar dor que extrapola o que é entendido como mera normalidade. Fala-
se da dor gerada pela ausência, pelo luto e pelos anos que se seguirão privados da convivência
daquela que era a figura paterno dentro do lar.
Assim, considerando apurada a responsabilidade do Município, é de rigor a
condenação do mesmo ao pagamento de dano moral. Passando-se, a seguir, a fixação do
valor adequado à reparação dos danos.
Do valor do dano moral.
Neste passo, deve o Juiz considerar a extensão do dano, bem como a capacidade
econômica do causador do dano.
Quanto à extensão do dano, é sabido que o dano moral não é padronizado, uma vez que
deve ser fixado diante das especificidades do caso concreto. Dessa forma, tratam-se os
jurisdicionados com isonomia.
O fato causador do dano noticiado nos autos é de extrema infelicidade e pesar. A dor pela
perda súbita do pai dos autores, sem sombra de dúvidas, causa elevado sofrimento emocional
aos descendentes.
Quanto à capacidade econômica do causador do dano, trata-se da Municipalidade.
(...)
Assim, com base nas premissas acima explicitadas e considerando a orientação
jurisprudencial mencionada, fixo como valor do dano R$ 88.000,00 (oitenta e oito mil
reais) para cada um dos Autores, ou seja, 100 (cem) salários mínimos vigentes na data
desta sentença para cada um dos Requerentes”.
Processo nº. 0035945-56.2014.8.08.0035;
Requerentes: CLAUDENIR PEREIRA DE ASSUNÇAO, CLAUDIO PEREIRA DE ASSUNÇAO,
CLAUDIA PEREIRA DE ASSUNÇAO SCHNEIDER;
Requerido: MUNICÍPIO DE VILA VELHA;
Orgão julgador: VILA VELHA - 1ª VARA DA FAZENDA MUNICIPAL;
Data do julgamento: 24 DE OUTUBRO DE 2016;
Magistrado: FERNANDO CARDOSO FREITAS;
Matéria disponível em: http://www.tjes.jus.br/municipio-de-vila-velha-deve-indenizar-
emr264-milafamilia-de-ciclista-atropelado-por-viatura-da-guarda/
III.III – DA QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL
Dú vida que tem gerado grande discussã o na doutrina é a de se o autor deve ou nã o
quantificar o valor da indenizaçã o do dano moral na petiçã o inicial. A esse respeito,
vejamos os ensinamentos de Fredie Didier Jr (2015, pá g. 581):
“O pedido nestas demandas deve ser certo e determinado, delimitando o autor quanto
pretende receber como ressarcimento pelos prejuízos morais que sofreu. Quem, além
do próprio autor, poderia quantificar a “dor moral” que alega ter sofrido? Como um
sujeito estranho e por isso mesmo alheio a esta “dor” poderia aferir a sua existência,
mensurar a sua extensão e quantificá-la em pecúnia? A função do magistrado é julgar se o
montante requerido pelo autor é ou não devido; não lhe cabe, sem uma provocação do
demandante, dizer quanto deve ser o montante. Ademais, se o autor pedir que o magistrado
determine o valor da indenização, não poderá recorrer da decisão que, por absurdo, a fixou
em um real (R$ 1,00), pois o pedido teria sido acolhido integralmente, não havendo como se
cogitar interesse recursal.”
Assim sendo, cumpre observar que o art. 292, inciso V do novo CPC (Lei nº. 13.105/15),
parece ir por este caminho, ao impor como o valor da causa o valor do pedido nas açõ es
indenizató rias, “inclusive as fundadas em dano moral”. Portanto, o requerente da presente
demanda informa a Vossa Excelência que pretende receber R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) a título de indenizaçã o por dano moral, sendo este o montante que
poderá minizar os prejuízos morais provocados pela conduta do requerido.
III.IV – DA REPARAÇÃO CIVIL PELO DANO ESTÉTICO – DEFORMIDADE PERMANENTE
Danos morais e estéticos sã o perfeitamente cumulá veis entre si. Os danos morais alcançam
valores notadamente ideais, ligando-se a um sentimento íntimo de dor e de desespero,
diante de fatos que lhe impingem essas consequências. Enquanto isso, o dano estético
implica na alteraçã o do aspecto morfoló gico do indivíduo, acarretando-lhe, de regra,
deformidades, deformaçõ es ou lesõ es desgastantes, com repercussã o ou nã o sobre a
capacidade laboral.
Coexistem, inegavelmente, as suas espécies de dano, autorizatórias de indenizações
autônomas, quando a vítima do acidente de trânsito é atleta, perdendo
completamente a sua capacidade de trabalho, situação essa que, da mesma forma,
refletindo-se sobre a sua esfera psíquica, lhe gera dor íntima decorrente de seu
atrelamento, ad eternum, não podendo usar o pé para jogar futebol, espelhando,
concomitantemente, danos estéticos, em razão da própria lesão física deformante
que passou a acometê-la.
Conforme veremos, a jurisprudência e pacifica o entendimento de que a cumulaçã o de
danos morais e estético.
"RESPONSABILIDADE CIVIL – Acidente de trânsito – Danos estéticos e morais.
Administrativo. Responsabilidade Civil. União Federal. Acidente de veículo. Danos estéticos e
morais. Obrigação de indenizar. Incontestado o fato (abalroamento de veículos) do qual
resultaram lesões graves e irreversíveis na pessoa da autora, ocasionando-lhe danos de
natureza estética no rosto, e não tendo a União Federal, proprietária do veículo causador do
evento e guiado por preposto seu, provado a culpa da vítima ou de terceiros, tem a pessoa
jurídica direito público responsável à obrigação de indenizar a autora pelos danos por esta
suportados. Não se trata propriamente de danos materiais, e sim de danos estéticos sofridos
pela autora, constantes de lesões gravíssimas em seu rosto que, antes dito ‘de notável beleza’,
tornou-se irreconhecível de modo a clamar por várias cirurgias. De danos estéticos como
esses, que agride de tal forma a beleza e a vaidade feminina, naturalmente advêm danos de
ordem moral, cuja reparação também se faz imprescindível. Apelação e Remessa desprovidas.
Sentença confirmada." [10]
(Ac. Da 1ª T. do TRF da 5ªR.; Ac. 9391 – RN; Rel. Juiz Orlando Rebouças; j. 03.10.1991;
Apte: União Federal; Apda.: Carolina dos Santos; - DJU II 25.10.1991, p 26.749;
ementa oficial) (Repertório IOB de Jurisprudência 23/91, p. 498 e 499).
"AÇÃO INDENIZATÓRIA – Dano moral e estético – Admissibilidade da cumulação dos
pedidos, ainda que derivados de mesmo fato, desde que passíveis de apuração em
separado.
Ementa da Redação: É perfeitamente possível a cumulação de pedidos indenizatórios por
dano moral e estético, ainda que derivados do mesmo fato, desde que passíveis de apuração
em separado." [11]
(Resp. 116.372-MG – 4ª T. – j. 11.11.1997 – rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira –
DJU 02.02.1998 – RT 751/230).
"DANO MORAL. DANO ESTÉTICO MORFOLÓGICO. CUMULAÇÃO ADMISSÍVEL. DOR MORAL
E FÍSICA. –"DANO ESTÉTICO SE CONSUBSTANCIA NO FATO DE TER, A VÍTIMA,
DEFORMADA SUA MÃO COM A PERDA DE UM DEDO; O DANO MORAL É A DOR QUE
ADVIRÁ À VÍTIMA AO LONGO DE SUA VIDA"
(TJSP – 4ª C. Dir. Público – Ap. 259.123-1 – Rel. Eduardo Braga – j. 17.10.96)".
Obviamente o Superior Tribunal de Justiça também vem admitindo a cumulaçã o do dano
estético com o moral, inexistindo bis in idem. Vejamos:
“Nos termos em que veio a orientar-se a jurisprudência das Turmas que integram a Seção de
Direito Privado deste Tribunal, as indenizações pelos danos moral e estético podem se
cumuladas, se inconfundíveis suas causas e passíveis de apuração em separado. A amputação
traumática das duas pernas causa dano estético que deve ser indenizado cumulativamente
com o dano moral, neste considerados os demais danos à pessoa, resultantes do mesmo fato
ilícito”.
Resp 116.372-MG, 4ª T., rel. Min, Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 2-3-1998, RSTJ
105/331.
Conforme demonstram os documentos anexos e a prova pericial que será oportunamente
produzida, as lesõ es sofridas pelo autor resultaram em deformidade permanente, qual seja,
lesã o grave e definitva no pé esquerdo.
No aspecto físico, referida deformidade se sobrepõ e ao ritmo normal de vida do autor, o
qual sofre atualmente relevante constrangimento, em especial por nã o conseguir mais se
locomover sem a ajuda de terceiros e nã o poder mais praticar atividade esportiva com os
amigos. O exemplo mais contundente é o simples fato de ter o autor abdicado de todo e
qualquer lazer.
O autor não possui mais o estado natural de liberdade nato às pessoas,
enclausurando-se em si mesmo, em razão da deformidade que resultou do ato ilícito
praticado pelo requerido, modificando sensivelmente sua maneira de convivência
social, passando a usufruí-la de forma restrita, haja vista que o requerente necessita
da ajuda de terceiros para realizar qualquer atividade.
A doutrina que melhor analisa o fato, está implícita na obra de Carlos Roberto Gonçalves:
“Para que se caracterize a deformidade, é preciso que haja o dano estético. O que se
indeniza, nesse caso, é a tristeza, o vexame, a humilhação, ou seja, o dano moral
decorrente da deformidade física. Não se trata, pois, de uma terceira espécie de dano, ao
lado do dano material e do dano moral, mas apenas de um aspecto deste. Há situações em
que o dano estético acarreta dano patrimonial à vítima, incapacitando-a para o
exercício de sua profissão (caso da atriz cinematográfica ou de TV, da modelo, da cantora
que, em virtude de um acidente automobilístico, fica deformada), como ainda dano moral
(tristeza e humilhação). Admite-se, nessa hipótese, a cumulação do dano patrimonial
com o estético, este como aspecto do dano moral”.
Direito Civil Brasileiro, volume IV : responsabilidade civil / Carlos Roberto
Gonçalves. – 3. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2008, pág. 419
Como se observa, o conceito de deformidade repousa na estética e só ocorre quando causa
uma impressã o, se nã o de repugnâ ncia, pelo menos de desagrado, acarretando vexame ao
seu portador, motivo pelo qual Vossa Excelência deverá analisar o caso particular do autor
e imaginar qual teria sido a carreira do mesmo, se ele nã o tivesse sido incapacitado para o
exercício de suas atividades habituais em decorrência da conduta praticada pelo requerido.
Verifica-se, em conclusã o, que a condiçã o física do autor, a partir da lesã o causada pelo ato
ilícito praticado pelo réu, resultou em considerá vel incapacidade, qual seja, lesã o grave e
definitva no pé esquerdo.
Por fim, podemos afirmar que diante da tristeza, vexame e humilhaçã o suportada pelo
autor em decorrência da sua deformidade física provocada pelo requerido, a fixaçã o da
indenizaçã o por dano estético deve corresponder ao quantum de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais).
III.V – DA REPARAÇÃO CIVIL PELO DANO MATERIAL
Com o acidente provocado em decorrência da açã o do agente pú blico, o
atleta/requerente sofreu gravíssimos danos, como a destruiçã o total de sua bicicleta e a
impossibilidade de fazer carreira no futebol, conforme se vê pelos documentos e fotos que
seguem em anexo.
É importante destacar que, além das requeridas terem se negado a fazer acordo
adminstrativamente, as mesmas nã o prestaram qualquer tipo de ajuda no tratamento do
mesmo. Logo, o requerente, além de ter perdido a sua bicicleta que custava em torno de R$
1.000,00 (mil reais) também teve custos com o deslocamento para o tratamento e cirurgia
(que foram feitos na cidade de Barra de Sã o Francisco – ES), além de alguns medicamentos
nã o fornecidos pelo SUS, em torno de R$ 270,00 (duzentos e setenta reais), conforme se
comprova com os cupons fiscais em anexo, motivo pelo qual o requerido deve indenizar os
danos materiais causados ao atleta/requerente.
III.VI – DA REPARAÇÃO CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE
Por se tratar de um tema relativamente novo no ordenamento jurídico brasileiro, o
instituto da perda de uma chance ainda nã o está previsto de forma expressa na legislaçã o,
sendo admitido por analogia pelo artigo 5º, incisos V e X da CRFB/1988, onde salienta-se a
busca incessante da reparaçã o de danos como dogma constitucional, abraçando também as
hipó teses das chances perdidas.
O artigo 186 c/c 927 do Có digo Civil de 2002 prevê a obrigaçã o de reparar o dano causado
a outrem decorrente de ato ilícito. Deste modo, é totalmente aceitá vel que se estenda a
obrigaçã o prevista neste dispositivo à s demais espécies de dano existentes na atualidade,
provenientes do avanço das relaçõ es sociais.
O artigo 402 do Có digo Civil estabelece que “as perdas e danos devidos ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
Neste caso, se a perda da chance for vista como uma terceira modalidade de dano, a
indenizaçã o decorrente estará enquadrada na segunda parte deste artigo.
Assim, apó s um longo processo de evoluçã o doutriná ria, muitos foram os fundamentos da
responsabilidade civil, passando da fase subjetiva em que a culpa era a o fundamento
principal do instituto, para a fase objetiva. Tal evoluçã o é caracterizada pela ampliaçã o de
situaçõ es que possam dar ensejo à reparaçã o por parte do responsá vel pelo dano.
Nesse sentido, o Judiciá rio, com o intuito de adequar-se à s transformaçõ es oriundas desse
desenvolvimento, buscando influência no Direito Francês, vem admitindo atualmente um
direito que outrora nã o se podia cogitar no campo da responsabilidade civil, aplicando
assim a chamada “teoria da perda de uma chance”, podendo ser vista como um fator
resultante dessa ampliaçã o da responsabilidade, trazendo a possibilidade de indenizaçã o
pela perda da oportunidade de se obter uma vantagem, ou de se evitar um prejuízo causado
por ato ilícito de terceiro.
Contudo, para que haja a concessã o de indenizaçã o pela perda de uma chance através do
Judiciá rio, é necessá rio que tal oportunidade perdida ou prejuízo nã o evitado trate-se de
fato sério e real. O objeto que dará ensejo à indenizaçã o será a chance perdida de se
concretizar ou evitar algo e nã o a vantagem em si, já que esta era incerta.
Assim, a delimitaçã o do valor a ser indenizado pela perda da chance nã o será equiparada à
vantagem perdida, pois o objeto da reparaçã o nã o é a vantagem em si, esperada pela
vítima, já que nã o se pode afirmar que esta ocorreria caso nã o lhe fosse tirada a chance,
mas sim a perda da oportunidade de obtê-la ou de se evitar um prejuízo decorrente da açã o
ou omissã o do agente. Indeniza-se, portanto, o valor econô mico da chance.
Dentre outras possibilidades de aplicaçã o da teoria da perda de uma chance, podem ser
citados os casos de desídia do advogado, fazendo com que seu cliente perca a chance de
vencer a demanda ou de recorrer de eventual sucumbência; o médico que nã o diagnostica
corretamente o paciente com doença grave, retardando o tratamento; o concursando que é
impedido de fazer a prova devido a acidente causado por terceiro durante o trajeto, etc.
Nesse sentido, requer a indenizaçã o no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil
reais) pela chance perdida de se tornar um jogador de futebol profissional.
III.VII – DA PENSÃO VITALÍCIA
O requerido é responsá vel pelo acidente de trâ nsito que gerou ao atleta/requerente
gravíssimas lesõ es no seu pé esquerdo, deixando-o com sequelas permanentes e invá lido
para o trabalho e esporte que praticava.
Nã o se pode olvidar que, tendo o requerido, contribuído para o atual quadro de saú de do
atleta/requerente, deva custear todos os tratamentos médicos até a sua efetiva cura ou até
o fim da vida.
Assim, de acordo com o art. 950 e 951 do Có digo Civil o requerido deve pagar uma pensã o
correspondente à importâ ncia do trabalho para o qual se inabilitou, ou da depreciaçã o que
ele sofreu até sua efetiva cura, ou no caso acima citado, até o fim da sua vida.
Diante do exposto, o requerido deve ser condenado ao pagamento de pensã o vitalícia no
valor correspondente a 3 (três) salá rios mínimos mensais até o fim na vida do requerente,
tendo em vista a depreciaçã o que este sofreu no seu pé esquerdo e a sequela permanente
ocasionada pelo sinistro.
IV - DA TUTELA DE URGÊNCIA (ARTS. 294 E 300 DO NOVO CPC)– DEFERIMENTO
LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
Como é do conhecimento deste Douto Juízo, assegura o art. 300 do novo Có digo de
Processo Civil (Lei nº. 13.105/15) que “a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo”.
Além disso, o § 2º do mesmo dispositivo impõ e que “a tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia”. Assim, certamente o atleta/requerente da
presente demanda fazem jus a concessã o da tutela provisó ria de urgência inaudita altera
parte, em razã o do preenchimento dos pressupostos exigidos pela lei processual, conforme
passaremos a demonstrar.
É sabido que os requisitos da tutela de urgência consistentes na prova inequívoca e
verossimilhança, que se traduzem, conforme a doutrina e jurisprudência, no conceito de
probabilidade, estã o sobejamente atendidos. Nã o é difícil imaginar o dano irrepará vel
suportados pelos requerentes que está com muitas dificuldades financeiras em dos danos
causados pelos requeridos, conforme se comprova com os documentos anexos, razã o pela
qual necessita urgentemente da medida liminar inaudita altera parte para manter os
tratamentos médicos, bem como se manter com as despesas pessoais.
Pelo acima exposto, verifica-se, inequivocamente, a verossimilhança das presentes
alegaçõ es. Comprovado, pois, o fundado receio de dano irrepará vel ou de difícil reparaçã o a
ser suportado pelos requerentes, pois, se mantido o presente status quo, ou seja, caso nã o
seja deferido o pedido liminar de tutela de urgência, o autor continuará passando
dificuldades financeiras, o que lhe seria de grande valia, vez que se encontra inadimplente,
invá lido, causado pelo o transtorno provocado pelos requeridos. Portanto, restam
demonstrados:
1) a ‘probabilidade do direito’, por meio das fundamentaçõ es e documentos anexos, que sã o
totalmente capazes de convencer esse Juízo quanto à procedência do pedido autoral em se
confirmando os danos causados pelo requerido;
2) a ‘verossimilhança da alegação’, uma vez que as provas acostadas e os fatos narrados têm
o poder de nã o deixar qualquer dú vida para esse Juízo quanto à verossimilhança das
alegaçõ es aqui formuladas, nã o havendo condiçõ es de reconstruir os fatos apresentados de
outra forma que nã o seja a apresentada nesta peça vestibular.
3) a ‘reversibilidade da decisão’, a concessã o da tutela de urgência poderá ser reversível a
qualquer momento, sendo sua concessã o plenamente cabível – e necessá ria! – quanto ao
caso em aná lise;
4) o ‘receio de dano irreparável ou de difícil reparação’, face a situaçã o danosa e
extremamente grave que acomete o atleta/requerente Felipe, que está sem poder praticar
o esporte que mais gosta e com o qual almejava carreira profissional.
Desta feita, considerando tais elementos e a verossimilhança das alegaçõ es articuladas
nesta peça processual, requer seja concedida a tutela antecipató ria de mérito com urgência,
inaudita altera partes, para determinar que o requerido seja compelido a pagar
mensalmente o valor de 3 (três) salá rios mínimos, pleiteado a título de pensã o vitalícia, sob
pena de lhe ser imputada multa diá ria de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) até o efetivo
cumprimento.
V – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:
a) Que julgue totalmente procedente a presente demanda em todos os seus termos,
determinando-se a devida condenaçã o do requerido ao pagamento da importâ ncia de R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) a título de indenizaçã o por dano moral e R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) pelo dano estético suportado pelo autor,
considerando a gravidade do dano, as lesõ es, o abalo psicoló gico, a tristeza, bem como as
graves sequelas estéticas permanentes e a incapacidade total e definitiva suportada pelo
requerente, além de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) a título de indenizaçã o
pela perda da chance de se tornar jogador profissional de futebol, nos termos da
fundamentaçã o já apresentada nesta peça;
b) A condenaçã o do requerido ao pagamento da importâ ncia de R$ 1.270,00 (mil duzentos
e setenta reais) a título de danos materiais suportados, conforme fundamentaçã o exposta
anteriormente, além da fixaçã o de pensã o vitalícia na importâ ncia de 3 (três) salá rios
mínimos vigentes;
c) A citaçã o do requerido perante o ó rgã o de Advocacia Pú blica responsá vel por sua
representaçã o judicial, nos termos do que dispõ e o art. 242, § 3º do Có digo de Processo
Civil, para, caso queira, apresentar resposta no prazo legal, sob pena de revelia na falta de
contestaçã o;
d) A condenaçã o do requerido ao pagamento de custas processuais e honorá rios no
percentual no quantum de 20% sobre o valor da condenaçã o, na forma do art. 85, § 2º do
CPC, considerando o grau de zelo profissional, o lugar da prestaçã o do serviço, a natureza e
a importâ ncia da causa, o trabalho realizado pelos advogados e o tempo exigido para a
prestaçã o do serviço;
e) A admissã o de todas e quaisquer provas em direito admitidas, especialmente
documental, testemunhal e pericial, cujo rol e quesitos serã o oportunamente apresentados;
f) Os benefícios da assistência judiciá ria gratuita em favor do requerente, por ser o autor
menor e a sua genitora e representante estar desempregada, ou seja, trata-se de pessoa
pobre na acepçã o jurídica do termo, conforme se comprova com a declaraçã o de
hipossuficiência econô mica que segue em anexo.
Atribui-se à presente causa o valor de R$ 451.270,00 (quatrocentos e cinquenta e um mil
duzentos e setenta reais), nos termos do que dispõ e o art. 292, incisos V e VI do Có digo de
Processo Civil.
Termos em que espera deferimento.
LOCAL, DATA
ADVOGADO
OAB Nº

Você também pode gostar