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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DE

BELÉM/PA.
PROCESSO nº 000000000000
NOME DO CLIENTE, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de sua advogada
que esta subscreve, vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 593, inciso II,
do Có digo de Processo Penal, interpor RECURSO DE APELAÇÃ O, por nã o se conformar com
a Decisão Interlocutória de Mérito constante no ID 27712040 nos autos digitais em
epigrafe.
Informa-se que o presente Recurso está sendo apresentado para que nã o preclua o prazo
para tal, porém, espera-se que o pedido de reconsideraçã o já protocolado seja deferido por
V. Exa.
Requer o recebimento e processamento do presente, com as anexas razõ es recursais.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Belém, 12 de junho de 2021.
Dra. Michelle de Oliveira Bastos
Advogada
OAB/PA 13429

RAZÕES DE APELAÇÃO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DO ESTADO DO PARÁ
Processo nº 000000000000
Comarca de Belém
Apelante: NOME DO CLIENTE
Apelado: Justiça Pública do Estado Do Pará
DOUTOS JULGADORES,
COLENDA CÂMARA.
A r. Decisão Interlocutória de Mérito constante no ID 27712040 dos autos digitais, nã o
traz aos autos a correta e eficaz aplicaçã o dos preceitos legais, conforme será demonstrado
pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:
1. DOS FATOS.
O Recorrente foi preso em flagrante, apó s sessã o de constrangimentos, humilhaçõ es e
extorsã o cometidas pelas autoridades policiais que efetivaram sua prisã o em flagrante
fundamentada no Art. 14 da Lei 10.826/2003.
Tal contexto, constrangimentos, humilhaçõ es e extorsã o, perpetrados durante o flagrante já
aniquilam o tal ato, tornando a prisã o ilegal e pró prio procedimento realizado.
No momento da lavratura do flagrante o Recorrente se viu obrigado a pagar fiança para nã o
ser efetivamente recolhido ao presídio, tendo efetuado o pagamento do valor de R$
7.700,00 (sete mil e setecentos reais), valor este a nosso ver exorbitante para as
circunstâ ncias em que o caso ocorreu.
A extorsã o sofrida pelo corrente foi em valor um pouco menor, R$ 6.000,00 (seis mil reais),
de tal modo que o Recorrente, caso tivesse cedido a extorsã o, estaria livre de estar sendo
processado, contudo, preferiu agir corretamente, NÃ O CERDER A EXTORÇÃ O e ser
apresentado na Delegacia, contudo, perante a Delegada de Polícia que presidiu o flagrante,
o Recorrente, também foi constrangido e humilhado e para ser ver solto teve que pagar
uma fiança exorbitante.
Ressalte-se que o motivo da prisã o do Recorrente foi única e exclusivamente o fato de
ter dentro do seu veículo uma arma de uso permitido, devidamente registrada em
seu nome e com registro de posse válido, nada mais foi apresentado, demonstrado,
relatado ou comprovado contra os Recorrente. Situaçã o que deixa claro que o ú nico fato
considerado ilegal foi a arma de propriedade do Recorrente, pois este possui o registro de
posse e nã o de porte, mas esclareça-se desde já que a arma estava acondicionada em
maleta apropriada para transporte e desmuniciada.
Dessa forma, nã o há nenhuma situaçã o agravante que se relacione ao tipo penal imputado
ao Recorrente, nã o houve nenhuma situaçã o que ensejasse perigo a coletividade ou alguém
em específico, nã o houve disparo da arma, a arma nã o estava na cintura do Recorrente e
sim a arma estava desmuniciada, acondicionada em maleta apropriada para transporte no
interior do veículo do Recorrente, pois este estava dirigindo-se para sua residência.
O Recorrente ajuizou pedido de restituiçã o da arma fundamentando-se no aspecto legal
no art. 120 do CPP e nas razõ es de direito de ser arma de fogo de uso permitido,
devidamente registrada em nome do Recorrente, ou seja, nã o há dú vidas quanto a
propriedade do bem e ainda demonstrando que utiliza a referida arma para defesa pessoal
no Estabelecimento de sua propriedade, inclusive juntou comprovantes de Boletins de
Ocorrência das vezes que já teve seu estabelecimento assaltado.
Assim como fundamentou o pedido de restituiçã o nas circunstâncias de fato, por ter sido
VÍTIMA DE ABUSO DE PODER por parte do Policias que efetivaram sua prisã o, tendo em
vista que a arma que se pretende a restituiçã o, estava desmuniciada e devidamente
acondicionada na maleta dentro do veículo do Requerente, ou seja, este NÃO FOI
FLAGRADO COMENTENDO NENHUM CRIME POTENCIALMENTE LESIVO, SEJA
DISPARANDO A ARMA DE FOGO OU AMEAÇANDO ALGUÉM COM ARMA OU
UTILIZANDO-A PARA O COMETIMENTO DE OUTROS CRIMES.
Por ora da aná lise do pedido de restituiçã o, tais circunstâ ncias nã o foram validadas pelo
Ministério Pú blico, eis que nada confrontou em seu parecer, e pela Magistrada a quo, que
nã o mencionou nenhum desses itens por ora do indeferimento do pedido e sim apenas
acatou a alegaçã o apresentada pelo Parquet.
O MP apenas alegou que o objeto apreendido ainda interessa para o processo, contudo nã o
justificou tal alegaçã o, nã o demonstrou nos autos a real necessidade de manter o bem
apreendido, ou seja, ignorou todas as circunstâ ncias trazidas e comprovadas nos autos pelo
Recorrente.
Dessa forma, o indeferimento do pedido de restituiçã o torna-se incompatível com o
contexto processual e com a legislaçã o pertinente, daí o inconformismo do Recorrente.
O tipo penal que se imputa ao Recorrente é passível de aplicaçã o do instituto da nã o
persecuçã o penal, inclusive o MP já se manifestou nos autos neste sentido, pedindo o
encaminhamento dos autos sem prazo para que se proceda as tratativas de acordo com o
Recorrente.
A arma objeto do pedido de restituiçã o já foi periciada e como já mencionado nã o houve
qualquer açã o que permita agregar ilicitudes, periculosidades ao fato, pois trata-se de arma
de uso permitido, devidamente registrada e de propriedade comprovada, ou seja, nã o há
qualquer motivo ou necessidade de manter o bem apreendido, pois nã o existe nos autos
qualquer necessidade de comprovaçã o futura ou pendência processual.
O delito que ora se imputa ao Requerente nã o é considerado crime propriamente dito e sim
trata-se de CRIMES DE MERA CONDUTA que, embora, teoricamente, possam reduzir o
nível de segurança coletiva, nã o se equiparam aos crimes que acarretam lesã o ou ameaça
de lesã o à vida ou à propriedade.
No presente caso, reforça-se que o MP fará proposta de nã o persecuçã o penal e o
Recorrente nã o teve qualquer atitude que pudesse tornar o fato perigoso, de reprovaçã o
social ou que gerasse perigo concreto a coletividade, pois a arma nã o foi disparada, estava
desmuniciada, guardada em maleta apropriada e nem mesmo estava na cintura ou junto
com o Recorrente.
2. DO DIREITO.
2.1. CRIME DE MERA CONDUTA
O crime previsto no Art. 14 e suas consequências para o agente devem ser analisadas
levando-se em consideraçã o as circunstâ ncias do caso concreto, pois trata-se de um crime
de mera conduta e aplicar o confisco de uma arma legalizada e de propriedade comprovada
e que nã o foi sequer disparada ou estava em punho, ou seja, que nã o teve qualquer grau
mínimo de lesividade a coletividade parece data má xima vênia, injusto.
Neste sentido o Ministro Gilmar Mendes manifestou-se sobre a característica do tipo penal
previsto no art. 14 da Lei 10.826/2003, por ser classificado doutrinariamente como CRIME
DE PERIGO ABSTRATO. Faremos alguns destaques no julgado abaixo, para comprovar que
as circunstâncias concretas de como o “crime” ocorreu devem servir como
parâmetro para sanar situações injustas:
HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DESMUNICIADA. (A) TIPICIDADE DA
CONDUTA. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. MANDATOS
CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃ O E MODELO EXIGENTE DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS EM MATÉ RIA PENAL. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO
EM FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. LEGITIMIDADE DA CRIMINALIZAÇÃ O
DO PORTE DE ARMA DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA.1. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. 1.1. Mandatos Constitucionais de
Criminalizaçã o: A Constituiçã o de 1988 contém um significativo elenco de normas que, em
princípio, nã o outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalizaçã o de condutas
(CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º). Em todas essas normas é possível
identificar um mandato de criminalizaçã o expresso, tendo em vista os bens e valores
envolvidos. Os direitos fundamentais nã o podem ser considerados apenas como proibiçõ es
de intervençã o (Eingriffsverbote), expressando também um postulado de proteçã o
(Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam nã o apenas uma
proibiçã o do excesso (Ü bermassverbote), como também podem ser traduzidos como
proibiçõ es de proteçã o insuficiente ou imperativos de tutela (Untermassverbote). Os
mandatos constitucionais de criminalizaçã o, portanto, impõ em ao legislador, para o seu
devido cumprimento, o dever de observâ ncia do princípio da proporcionalidade como
proibiçã o de excesso e como proibiçã o de proteçã o insuficiente. 1.2. Modelo exigente de
controle de constitucionalidade das leis em matéria penal, baseado em níveis de
intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis ou graus de intensidade do controle de
constitucionalidade de leis penais, consoante as diretrizes elaboradas pela doutrina e
jurisprudência constitucional alemã : a) controle de evidência (Evidenzkontrolle); b)
controle de sustentabilidade ou justificabilidade (Vertretbarkeitskontrolle); c) controle
material de intensidade (intensivierten inhaltlichen Kontrolle). O Tribunal deve sempre
levar em conta que a Constituiçã o confere ao legislador amplas margens de açã o para
eleger os bens jurídicos penais e avaliar as medidas adequadas e necessá rias para a efetiva
proteçã o desses bens. Porém, uma vez que se ateste que as medidas legislativas adotadas
transbordam os limites impostos pela Constituiçã o – o que poderá ser verificado com base
no princípio da proporcionalidade como proibiçã o de excesso (Ü bermassverbot) e como
proibiçã o de proteçã o deficiente (Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um rígido
controle sobre a atividade legislativa, declarando a inconstitucionalidade de leis penais
transgressoras de princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO. PORTE
DE ARMA. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALDIADE. A Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento) tipifica o porte de arma como crime de perigo abstrato. De acordo com a
lei, constituem crimes as meras condutas de possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depó sito, transportar, ceder, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador penal nã o toma como
pressuposto da criminalizaçã o a lesã o ou o perigo de lesã o concreta a determinado bem
jurídico. Baseado em dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes de açõ es
que geralmente levam consigo o indesejado perigo ao bem jurídico. A criaçã o de crimes de
perigo abstrato nã o representa, por si só , comportamento inconstitucional por parte do
legislador penal. A tipificaçã o de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes,
acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz para a proteçã o de bens jurídico-
penais supraindividuais ou de cará ter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a
saú de etc. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliaçã o e de
decisã o, definir quais as medidas mais adequadas e necessá rias para a efetiva proteçã o de
determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificaçã o pró prias de
um direito penal preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa hipó tese, transborde
os limites da proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional. 3. LEGITIMIDADE
DA CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há , no contexto empírico legitimador da
veiculaçã o da norma, aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a segurança
pú blica (art. 6º e 144, CF) e indiretamente a vida, a liberdade, a integridade física e psíquica
do indivíduo etc. Há inequívoco interesse pú blico e social na proscriçã o da conduta. É que a
arma de fogo, diferentemente de outros objetos e artefatos (faca, vidro etc.) tem, inerente à
sua natureza, a característica da lesividade. A danosidade é intrínseca ao objeto. A
questão, portanto, de possíveis injustiças pontuais, de absoluta ausência de
significado lesivo deve ser aferida concretamente e não em linha diretiva de
ilegitimidade normativa.
4. ORDEM DENEGADA.
(STF - HC N. 104.410-RS (Informativo 660) RELATOR: MIN. GILMAR MENDES).
No caso analisado no julgado a questã o centrava em pleitear a atipicidade da arma
desmuniciada, fato que nã o é mais controvertido, pois o Estatuto do desarmamento
criminaliza até o porte isolado de muniçã o.
Porém, no presente caso, não se questiona se a conduta imputada ao Recorrente é
atípica, pelo fato de se argumentar que a arma estava desmuniciada e acondicionada em
maleta para transporte, nã o trata-se dessa discussã o, e sim, argumenta-se que por tais
razõ es (ausência de perigo concreto, ausência de lesividade a coletividade) a arma de
propriedade do Recorrente nã o deve ser confiscada e nem permanecer apreendida no
processo, sob o argumento de “ainda interessar a instruçã o processual”, eis que nã o houve
concretamente nenhuma açã o que enseje a necessidade da arma permanecer apreendida.
A Lei 10.826/2003 que dispõ e sobre registro, posse e comercializaçã o de armas de fogo e
muniçã o, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá outras
providências, popularmente conhecida como Estatuto do Desarmamento, já ameniza o tipo
penal previsto no Art. 14, ao autorizar expressamente o arbitramento de fiança quando
arma de fogo estiver registrada em nome do agente.
“Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depó sito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
arma de fogo, acessó rio ou muniçã o, de uso permitido, sem autorizaçã o e em desacordo
com determinaçã o legal ou regulamentar:
Pena – reclusã o, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de
fogo estiver registrada em nome do agente.”
O bem jurídico precipuamente tutelado pela Lei 10.826/2003 é a incolumidade pú blica. Em
ú ltima aná lise, o que o Diploma Legal pretende proteger é o direito à vida, à integridade
corporal, e, com isso, garantir a segurança do cidadã o em todos os aspectos. Para atingir
esse objetivo, o legislador procurou coibir o ataque a tã o relevantes interesses de modo
bastante amplo, punindo a conduta perigosa ainda em seu está gio embrioná rio. Com efeito,
tipifica-se a posse ilegal de arma de fogo, o porte e o transporte dessa arma em via pú blica,
o disparo, o comércio e o trá fico de tais artefatos, com vistas a impedir que tais
comportamentos, restando impunes, evoluam até se transformar em efetivos ataques. Em
outras palavras, pune-se o perigo, antes que se convole em dano.
Perigo abstrato ou presumido é aquele cuja existência dispensa a demonstraçã o efetiva de
que a vítima ficou exposta a uma situaçã o concreta de risco. Contrapõ e-se ao perigo
concreto, que exige a comprovaçã o de que pessoa determinada ou pessoas determinadas
ficaram sujeitas a um risco real de lesã o. Trata-se de situaçã o de real modificaçã o no
mundo exterior, perceptível naturalisticamente e consistente na alteraçã o das condiçõ es de
intangibilidade do bem existentes antes da prá tica da conduta. O perigo concreto deflui de
dada situaçã o objetiva em que o comportamento humano gerou uma possibilidade
concreta de destruiçã o do bem jurídico tutelado, até entã o nã o existente (antes da conduta
nã o havia risco de lesã o, e depois se constatou o surgimento dessa possibilidade).
Nã o é o que ocorre com os delitos previstos nos artigos 12 a 18 da Lei 10.826/2003, cujos
tipos penais nã o mencionam, em momento algum, como elemento necessá rio à
configuraçã o típica, a prova da efetiva exposiçã o de outrem a risco. Basta a realizaçã o da
conduta, sendo desnecessá ria a avaliaçã o subsequente sobre a ocorrência, in casu, de
efetivo perigo à coletividade. Assim, por exemplo, um sujeito que sai à noite perambulando
pelas ruas com uma arma de fogo na cinta, sem autorizaçã o para portá -la, cometerá a
infraçã o prevista nos arts. 14 (arma de uso permitido) ou 16 (arma de uso proibido),
independentemente de se comprovar que uma pessoa determinada ficou exposta a
situaçã o de perigo. Nã o fosse assim e o autor de tã o grave infraçã o restaria impune,
bastando alegar que nã o havia ninguém por perto, para ver-se livre da imputaçã o.
Por outro lado, isso nã o significa que a lei possa presumir o perigo em qualquer conduta.
Senã o, vejamos. Na hipó tese de arma absolutamente inapta a efetuar disparos, o fato será
atípico, nã o porque nã o se logrou comprovar a efetiva exposiçã o de alguém a uma situaçã o
concreta de risco, mas porque a conduta jamais poderá levar a integridade corporal de
alguém a um risco de lesã o. A lei nã o pode presumir a existência de perigo para a vida, na
açã o de golpear o peito de um adulto com um palito de fó sforo; nã o pode presumir que a
ingestã o de substâ ncia abortiva é capaz de colocar em risco a vida intrauterina de mulher
que nã o esteja grá vida; nã o pode presumir que a vida já inexistente de um cadá ver foi
ameaçada por um atirador mal informado; nã o pode, enfim, presumir que o porte de arma
totalmente ineficaz para produzir disparos seja capaz de ameaçar a coletividade, de reduzir
o seu nível de segurança. Evidentemente, nesta ú ltima hipó tese, estaremos diante de um
crime impossível pela ineficá cia absoluta do objeto material (CP, artigo 17). A lei só pode
presumir o perigo onde houver, em tese, possibilidade de ele ocorrer. Quando, de antemã o,
já se verifica que a conduta jamais poderá colocar o interesse tutelado em risco, nã o há
como presumir o perigo. Em suma, nã o existe crime de perigo quando tal perigo for
impossível. Coisa bem diferente é sustentar que uma conduta em tese apta a colocar em
risco outras pessoas nã o seja considerada típica apenas porque nã o se comprovou a
exposiçã o de pessoas determinadas a situaçã o de perigo concreto.
É certo que o princípio da ofensividade nã o deve ser empregado para tornar obrigató ria a
comprovaçã o do perigo, mas para tornar atípicos os comportamentos absolutamente
incapazes de lesar o bem jurídico.
É a aplicaçã o pura e simples do artigo 17 do CP, que trata do chamado crime impossível
(também conhecido por tentativa inidô nea, que é aquela que jamais pode dar certo). Assim,
se, por exemplo, um casal de namorados pratica atos libidinosos em local ermo e em
horá rio de nenhuma circulaçã o de pessoas, nã o se pode falar em ato obsceno, uma vez que
o bem jurídico “pudor da coletividade” nã o foi sequer exposto a uma situaçã o real de
perigo.
Quando o artigo 233 do CP tipifica o delito em questã o, pressupõ e que a conduta tenha
idoneidade para, ao menos, submeter o interesse social tutelado a algum risco palpá vel. Se
é impossível o risco de lesã o ao bem jurídico, nã o existe crime.
Do mesmo modo, se o sujeito mantém arma de fogo dentro de casa, sem ter o registro legal
do artefato, está realizando uma conduta descrita como delito pelo artigo 12 do Estatuto do
Desarmamento. No entanto, se essa arma mantida ilegalmente dentro de casa estiver
descarregada, em um baú trancado no só tã o da edícula, no fundo do quintal, nã o se poderá
falar na ocorrência de ilícito penal, uma vez que, nessa hipó tese, a conduta jamais
redundará em reduçã o do nível de segurança da coletividade.
Presumir perigo não significa inventar perigo onde este jamais pode ocorrer. Perigo
presumido não é sinônimo de perigo impossível.
Em suma, entendemos que a ofensividade ou lesividade é um princípio que deve ser aceito,
por se tratar de princípio constitucional do direito penal, diretamente derivado do
princípio da dignidade humana (CF, artigo 1º, III). Sua aplicaçã o, no entanto, nã o pode ter o
condã o de abolir totalmente os chamados crimes de perigo abstrato, mas tã o somente
temperar o rigor de uma presunçã o absoluta e inflexível. A ofensividade deve ser
empregada para afastar as hipó teses de crime impossível, em que o comportamento
humano jamais poderá levar o bem jurídico a lesã o ou a exposiçã o a risco de lesã o. No mais,
deve-se respeitar a legítima opçã o política do legislador de resguardar, de modo mais
abrangente e eficaz, a vida, a integridade corporal e a dignidade das pessoas, ameaçadas
com a mera conduta, por exemplo, de alguém possuir irregularmente arma de fogo no
interior de sua residência ou domicílio.
Depreende-se do pró prio inquérito policial que não houve qualquer situação que
ensejasse significativa lesividade concreta, fato que impede que se aplique ao
Recorrente o perdimento futuro do bem apreendido e neste momento a permanência da
apreensã o.
2.2. APLICAÇÃO DA NÃO PERSECUÇÃO PENAL IN CASU
Como se depreende do Art. 28-A do CPP no presente caso cabe a aplicaçã o da nã o
persecuçã o penal, inclusive, NO PRESENTE CASO o MP já requereu o encaminhamento
dos autos, sem prazo, para tal finalidade.
Vejamos as condiçõ es previstas para a aplicaçã o do Art. 28-A:
“Art. 28-A. Nã o sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prá tica de infraçã o penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Pú blico poderá propor acordo de nã o
persecuçã o penal, desde que necessá rio e suficiente para reprovaçã o e prevençã o do crime,
mediante as seguintes condiçõ es ajustadas cumulativa e alternativamente:
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Pú blico como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades pú blicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execuçã o, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Có digo Penal);
IV - pagar prestaçã o pecuniá ria, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Có digo Penal), a entidade pú blica ou de interesse social,
a ser indicada pelo juízo da execuçã o, que tenha, preferencialmente, como funçã o proteger
bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
V - cumprir, por prazo determinado, outra condiçã o indicada pelo Ministério Pú blico, desde
que proporcional e compatível com a infraçã o penal imputada.”
Dentre as condiçõ es previstas nos incisos do Art. 28-A temos a previsã o de constar como
condiçã o para o acordo “a confissão e renúncia voluntariamente a bens e direitos indicados
pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime”
Vale citar que vem sendo questionada sua constitucionalidade no que diz respeito a
previsã o de que o investigado deve confessar o fato criminoso para dispor do acordo de
nã o persecuçã o penal, violando-se assim o princípio da presunçã o de inocência e o
princípio de que ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo.
A exigência de que tenha “o investigado confessado formal e circunstancialmente a prá tica
de infraçã o penal”, em tese, viola frontalmente a garantia constitucional de que “o
preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado”
(CF/88, art. 5º, LXIII), bem como o enunciado supralegal contido na Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, Pacto de São José da Costa Rica (8º, 2, g), o qual
prevê que “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto nã o se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem
direito, em plena igualdade, à s seguintes garantias mínimas: g) direito de nã o ser obrigado
a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.
Percebe-se a total ausência de razoabilidade na exigência de que o investigado/acusado
confesse, formal e circunstancialmente, a prá tica delitiva, para o fim de obter uma benesse
legal que lhe é conferida, em regra, antes mesmo do oferecimento da denú ncia.
De outra banda, a confissã o nã o é requisito para a pactuaçã o da transaçã o penal e da
suspensã o condicional do processo, institutos jurídicos bastante semelhantes ao acordo de
nã o persecuçã o penal, o que denota, de forma ainda mais flagrante, sua indevida exigência.
De mais a mais, é evidente a possibilidade de o acordo de nã o persecuçã o ser pactuado sem
a necessidade da confissã o do investigado, que, até mesmo, poderia se sentir mais
propenso a firmá -lo, tendo em vista que a finalidade desse instituto nã o é a redençã o moral
de indiciados/acusados, mas, sim, atender aos reclames da política criminal e, ainda, da
justiça criminal, que se vê abarrotada de processos tratando de crimes de menor
gravidade.
Portanto, a inconstitucionalidade material do requisito da confissã o formal e
circunstanciada é latente, visto que afronta o direito à nã o autoincriminaçã o, sendo que já
existe Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI 6304) em trâmite no Supremo
Tribunal Federal que trata acerca do tema.
Urge ressaltar, entretanto, que as condiçõ es impostas ao investigado/acusado no acordo de
nã o persecuçã o penal NÃO PODEM SER ENCARADAS COMO REPRIMENDAS, mas, apenas,
como efetivas condicionantes para o gozo de referido benefício processual.
As ideias de necessidade e suficiência, igualmente, demonstram a preocupaçã o do
legislador em relaçã o ao respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
A razoabilidade restará satisfeita se houver a devida equivalência entre as condiçõ es da
proposta apresentada pelo Ministério Pú blico e a gravidade concreta do delito,
supostamente, perpetrado pelo indiciado. Nessa senda, exige-se “uma relaçã o de
equivalência entre a medida adotada e o critério que a dimensiona” (Á VILA, 2016, p. 201).
“Nessa hipó tese, nã o há uma relaçã o de causalidade, mas sim de correspondência entre
duas grandezas (critério e medida)” (NOVELINO, 2017, p. 308).
Por sua vez, a proporcionalidade exigirá uma aná lise acerca da adequaçã o, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito das condiçõ es a serem ofertadas ao investigado. A
adequaçã o é verificada a partir da aná lise entre os meios e os fins pretendidos, ou seja,
devem ser analisados se os meios eleitos sã o adequados para atender aos fins pretendidos.
De outro lado, a necessidade ou exigibilidade é a busca pela adoção do meio menos
gravoso e mais efetivo possível para o atingimento do fim colimado.
Por fim, a proporcionalidade em sentido estrito representa “um raciocínio de sopesamento
(balanceamento) que se dá entre a intensidade da restriçã o que o direito fundamental irá
sofrer e a importâ ncia da realizaçã o do outro direito fundamental que lhe é colidente e que,
por isso, parece fundamentar a adoçã o da medida restritiva” (FERNANDES, 2019, p. 268).
Inclusive, nos termos do § 5º do art. 28-A do Có digo de Processo Penal, o juiz poderá
devolver os autos ao Parquet para que seja reformulada a proposta caso considere
inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições apresentadas, bem como, pelos
mesmos motivos, recusar a homologaçã o do termo de acordo de nã o persecuçã o penal (art.
28-A, § 7º, do CPP), disposiçõ es legais que encampam as duas vertentes do princípio da
proporcionalidade, quais sejam: a vedação à proteção insuficiente e a proibição do
excesso.
Quanto a condiçã o expressa no inciso II do artigo 28-A, percebe-se a importâ ncia e
relevâ ncia de o acordo de nã o persecuçã o penal possuir cará ter de negó cio bilateral, uma
vez que, em conformidade com a redaçã o legal, o investigado deve renunciar
voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Pú blico como instrumentos,
produtos ou proveitos do crime.
Por ser negó cio bilateral, permite a “barganha” entre promotor e investigado
(acompanhado de sua defesa), pois nem tudo aquilo que for indicado pelo Ministério
Pú blico necessariamente configura instrumento, produto ou proveito do crime, sendo
aceita, inclusive, prova em contrá rio, o que torna possível, por exemplo, que a
proposta/contraproposta seja mais vantajosa para uma ou outra parte.
Necessá rio destacar que os instrumentos do crime sã o os objetos e materiais utilizados
na prá tica do delito e, em regra, com a sentença penal condenató ria transitada em julgado,
devem ser declarados perdidos em favor da Uniã o “desde que consistam em coisas cujo
fabrico, alienaçã o, uso, porte ou detençã o constitua fato ilícito” (art. 91, II, a, do CP).
O produto do crime “é o objeto diretamente obtido com a atividade criminosa” (TÁ VORA e
ARAÚ JO, 2020, p. 367), como, por exemplo, o dinheiro subtraído do caixa do supermercado
no crime de roubo.
Por sua vez, o proveito do crime “é o fruto da utilizaçã o do produto, leia-se, é originado da
especializaçã o deste” (TÁ VORA e ARAÚ JO, 2020, p. 367), como, por exemplo, o celular
adquirido com o dinheiro subtraído do caixa do supermercado.
A problemá tica surge quando no caso concreto nã o há bens e direitos como instrumentos,
produtos ou proveitos do crime.
No tipo penal previsto no Art. 14 da Lei 10.826/2003 no caso de arma devidamente
registrada, o registro da arma afasta a aplicaçã o do Art. 91, inc. II do CP, em virtude de se
tratar de bem LÍCITO, devidamente registrado e com propriedade comprovada.
Portanto, por ora do acordo de nã o persecuçã o penal nã o há que se condicionar em
renú ncia a arma de fogo registrada em nome do Recorrente, motivo que corrobora para
comprovaçã o da desnecessidade de manter o respectivo apreendido, nã o havendo
interesse processual concreto por parte do MP.
2.3. APLICAÇÃO PENAL NO CASO CONCRETO DE ARMA DEVIDAMENTE REGISTRADA,
DESMUNICIADA E ACONDICIONADA EM MALETA APROPRIADA PARA TRANSPORTE
Diante da ausência de circunstâ ncias qualificadoras ou que indiquem periculosidade do
Recorrente, na hipó tese de nã o realizaçã o do acordo de nã o persecuçã o penal, com a
consequência instruçã o processual, restará comprovado que o tipo penal imputado ao
Recorrente derivou de abuso de autoridade e extorsã o pelos Policias que lhe apresentaram
na Delegacia.
Dessa forma, se o MP, de fato apresentar a Denú ncia, desprezando a possibilidade de
arquivamento em decorrência da nulidade do inquérito policial e crimes cometidos pelos
Policiais em comento, a aplicaçã o da Suspensã o Condicional do Processo se impõ em, nos
termos do art. 77 do CP, podendo ainda ser aplicado o Art. 44 do mesmo diploma legal,
como se observa:
“Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado nã o seja reincidente em crime doloso
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como
os motivos e as circunstâ ncias autorizem a concessã o do benefício
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.”
“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu nã o for reincidente em crime doloso; (Redaçã o dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâ ncias indicarem que essa substituiçã o seja suficiente.”
“Art. 43. As penas restritivas de direitos sã o:
I - prestaçã o pecuniá ria;
II - perda de bens e valores;
II - limitaçã o de fim de semana.
IV - prestaçã o de serviço à comunidade ou a entidades pú blicas;
V - interdiçã o temporá ria de direitos;
VI - limitaçã o de fim de semana.”
Na hipó tese de aplicaçã o desses artigos, diante da total ausência de elementos que
agreguem lesividade concreta e periculosidade do agente as penas restritivas de direito
devem ser aplicadas levando em consideraçã o tais condiçõ es.
Faz-se tal aná lise para demonstrar que no presente caso a manutençã o da arma de fogo nã o
se justifica, pois em nada interessa ao processo, tendo em vista que nã o houve
cometimento de nenhum outro crime; a arma está devidamente identificada e possui
registro vá lido, assim como a propriedade é inequívoca.
2.4. PRÍNCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO CASO E POSSIBILIDADE DE ARQUIVAMENTO
DO FEITO.
O princípio da insignificâ ncia foi incorporado ao Direito Penal na década de 1970, por Claus
Roxin, e, fundamentado em valores de política criminal, “destina-se a realizar uma
interpretaçã o restritiva da lei penal” (MASSON, 2015, p. 28), possuindo natureza jurídica de
causa de exclusã o da tipicidade material.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fixou requisitos de ordem objetiva
(mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade social da açã o, reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesã o jurídica produzida) e
subjetiva em relaçã o ao agente do crime (primá rio, nã o ser criminoso habitual ou militar)
e à vítima (importâ ncia do objeto material para o ofendido, condiçõ es econô micas da
vítima, extensã o do dano e valor sentimental do bem) que devem ser aferidos diante do
caso concreto para a aná lise da possibilidade de reconhecimento da insignificâ ncia da
infraçã o penal.
Diante do contexto fá tico que se apresenta no presente caso, é possível a aplicaçã o do
princípio da insignificâ ncia, tendo em vista a total ausência de lesividade concreta a
coletividade ou a uma vítima em específico, pois a arma que motivou a lavratura do
flagrante estava desmuniciada e acondicionada em maleta apropriada, tendo em vista que o
Recorrente estava dirigindo a sua residência.
O presente caso poderia ser arquivado com base em princípios como o da
insignificância e pela valorizaçã o do GARANTISMO PENAL, tendo em vista que o
flagrante decorreu da negativa do Recorrente em ceder a extorsã o efetivada pelos Policiais
Militares.
Mais uma vez argumenta-se nesse sentido para demonstrar a desnecessidade de
manutençã o da apreensã o da arma de fogo de propriedade do Recorrente, eis que além da
propriedade devidamente comprovada, possui registro vá lido, fatos que corroborados à s
circunstâ ncias apresentadas pelo Recorrente, comprovam que nã o houve qualquer
lesividade concreta, portanto nã o houve vítimas, mesmo em cará ter coletivo e sem haver
vítimas, em tese, tratar-se-ia de crime impossível e tais constataçõ es direcionam para o
entendimento de que nã o há justificativa pata a manutençã o da apreensã o da arma,
devendo assim o indeferimento prolatado pelo Juízo a quo ser reformado para que o
Recorrente tenha sem bem restituído.
Nã o apresenta-se razoá vel considerar que o perigo pode ser presumido de modo absoluto,
de maneira a considerar delituosos comportamentos totalmente ineficazes de ofender o
interesse penalmente tutelado, menoscabando o chamado crime impossível, em que a açã o
jamais poderá levar à lesã o ou à ameaça de lesã o do bem jurídico, em face da
impropriedade absoluta do objeto material, ou à ineficá cia absoluta do meio empregado,
pois in casu a arma estava desmuniciada e guardada na maleta apropriada para o
transporte.
Segundo interpretaçã o sedimentada pela 1ª Turma do STF, haveria a atipicidade do porte
de arma desmuniciada e sem que o agente tivesse nas circunstâ ncias a pronta
disponibilidade de muniçã o, à luz dos princípios da lesividade e da ofensividade, porquanto
incapaz a conduta de gerar lesã o efetiva ou potencial à incolumidade pú blica.
Assim temos que analisar as circunstâ ncias em que o fato ocorreu, pois se o agente traz
consigo a arma desmuniciada, mas tem a muniçã o adequada à mã o, de modo a viabilizar
sem demora significativa o municiamento e, em consequência, o eventual disparo, tem-se
arma disponível e o fato realiza o tipo; ao contrá rio, se a muniçã o nã o existe ou está em
lugar inacessível de imediato, nã o há a imprescindível disponibilidade da arma de fogo,
como tal - isto é, como artefato idô neo a produzir disparo - e, por isso, nã o se realiza a
figura típica
Posto todas as ponderaçõ es acima, NÃO HÁ DE SE CARACTERIZAR o confisco, pois trata-
se de arma de uso permitido, devidamente registrada e com a propriedade definida nos
termos da Lei 10.826/2003, combinando-se tal razã o com o Art. 120 do CPP, por nã o haver
qualquer necessidade de manutençã o da apreensã o do bem, eis que em nada acarretará ao
processo, sendo a restituiçã o ao proprietá rio medida que se impõ em.
Dessa forma, resta demonstrado que por ora do indeferimento do pedido de restituiçã o
houve ofensa aos direito de propriedade do Recorrente, aos permissivos legais contidos na
Lei 10.826/2003 no que tange a licitude do uso de arma de fogo quando registrada e
vedaçã o de confisco e ao permissivo legal constante no Art. 120 do CPP, eis que a arma nã o
interessa ao processo, pois nã o há nenhuma pendência a ser apurada ou produzida,
descaracterizando qualquer hipó tese de interesse processual.
2.5. DO PERMISSIVO CONTIDO NO ART. 120 DO CPP DIANTE DA AUSÊNCIA DE
INTERESSE DO BEM APREENDIDO AO PROCESSO
A Lei 10.826/2003 foi considerada inconstitucional em diversos dispositivos pela ADIN
3.112-1. O plená rio do STF declarou a Inconstitucionalidade dos artigos 14 e 15 em seus
respectivos pará grafos ú nico no artigo 14 foi declarada inconstitucional a proibiçã o da
concessã o de liberdade mediante o pagamento de fiança no caso de porte ilegal de armas e
no artigo 15 o disparo de armas de fogo. O STF entendeu que os artigos eram
inconstitucionais porque apesar de os crimes reduzirem a segurança coletiva, sã o crimes
de mera conduta e nã o se equiparam aos crimes de grave ameaça, lesã o à vida ou
propriedade. O STF acolheu o entendimento do Ministério pú blico.
O Estatuto foi elaborado com intuito de conter os crimes com armas de fogo, mas nã o se
cometem apenas crimes com estas, é necessá rio analisar o lado positivo e o real intuito de
se ter uma arma que é para se defender, seja sua vida ou a de outrem, casa, carro ou
qualquer patrimô nio.
Recentemente houve um caso e Goiá s, o comerciante que carregava em seu
estabelecimento uma arma, pois já tinha sofrido assaltos em seu estabelecimento, dois
meliantes entraram para assaltar a loja, percebendo que estavam armados e foram abordar
uma vítima, imediatamente sacou o revó lver e atirou, salvando sua vida, a vida de terceiros
e seu patrimô nio. No entanto o delegado do caso disse que ele poderá ser julgado pelo
porte ilegal de armas. Abaixo a matéria do Globo relatando o caso de Goiá s:
“Câ meras de segurança registraram o momento em que dois ladrõ es foram mortos
enquanto assaltavam um supermercado em Caldas Novas, na regiã o sul de Goiá s. As
imagens foram cedidas ao G1pelo Jornal Local nesta quarta-feira (23) e mostram o
comerciante atirar nos assaltantes no momento em que um cliente do estabelecimento é
abordado. O crime aconteceu por volta das 14h30 de segunda-feira (21), no Setor Belo
Vista, em Caldas Novas. A filmagem mostra o comerciante, no caixa, recebendo o
pagamento de um cliente. Ele nota a presença de um jovem armado, vestido de camisa
verde, abordando um homem que aguardava para passar as compras. Imediatamente o
dono do local saca uma arma e atira no ladrã o. O criminoso corre para o lado de fora, onde
o outro comparsa começa a atirar contra o comerciante, que revida e também o atinge. De
acordo com a Polícia Civil, Mikael da Silva Alves, de 18 anos, e Igor Teodoro Gomes de
Carvalho, de 19, morreram na rua do estabelecimento. O delegado Wllisses Valentim
Menezes, responsá vel pelo caso, afirmou ao G1 que um cliente foi baleado no braço pelos
assaltantes, mas foi submetido a uma cirurgia na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da
cidade e passa bem. “Os dois chegaram para assaltar, e tinha um cliente fazendo compra.
Um dos bandidos rendeu o cliente, colocando a arma na cabeça dele. Neste momento, o
comerciante, que possuía arma de fogo, em virtude de já ter sido vitima de assalto outras
vezes, atirou contra os criminosos, que morreram no local”, contou o delegado. Conforme
relatou o delegado, o dono do supermercado compareceu à delegacia, acompanhado de seu
advogado. Ele levou a arma utilizada, foi ouvido e liberado, já que a atitude é configurada
como legítima defesa. No entanto, o delegado afirma que o comerciante nã o possui porte de
arma. “Em relaçã o à s mortes dos assaltantes, obviamente, ele nã o será responsabilizado,
devido à legítima defesa. Mas nada impede que, ao fim do inquérito ele seja indiciado por
porte ilegal de arma de fogo”, explicou.”
Ora, causa estranheza o cidadã o usar sua arma apenas para proteçã o pró pria e mesmo
assim ser julgado por porte ilegal. Ilegal seria se fosse para cometer crimes e nã o para
proteçã o pró pria. É neste sentido que vem o debate sobre a Constitucionalidade da lei
10826/2003.
Com a possibilidade de nã o oferecimento da Denú ncia pelo Parquet, que poderá propor
acordo de não persecução penal, este acordo nã o deverá conter como uma de suas
clá usulas o perdimento do bem, in casu, a arma, tendo em vista que as circunstâ ncia que
levaram ao flagrante foram abusivas por parte dos policias (abuso de poder e prá tica de
extorsã o) e patente está pelo pró prio inquérito policial que nã o houve qualquer concretude
lesiva que enseje o perdimento do bem.
Não se questiona aqui a materialidade do tipo penal e sim a impossibilidade de
devolução do bem apreendido, pois não há razão para tal, diante das circunstâncias
em que o fato ocorreu, ou seja, a arma não estava sendo portada pelo agente, a arma
estava desmuniciada e acondicionada na maleta apropriada para transporte.
No Inquérito Policial não é feito qualquer registro no sentido de que o Requerente
estava com a arma na cintura, ou que estava disparando-a ou ainda ameaçando
pessoas e muito comento utilizando-a para cometer crimes. No IP está expresso que
os policias encontraram a arma no interior do veículo.
Portanto, Exa., com todo respeito, acreditamos, com base nas questõ es fá ticas e legais
pertinentes ao caso concreto que nã o há razã o para a nã o restituiçã o. Nada precisará ser
comprovado durante a instruçã o processual que necessite do bem apreendido, pois trata-
se de um tipo penal de mera conduta.
Como já explicitado com riquezas de detalhes, o Requerente foi vítima de extorsã o e abuso
de autoridade por parte dos Policias, nã o sendo minimamente justo que além de todo o
constrangimento, humilhaçõ es e até ameaças que passou ainda tenha que perde um bem
que lhe pertence, pelo qual investiu valores com muito esforço, ressaltando-se que o bem
em questã o foi adquirido para segurança pessoal em seu local de trabalho e a aquisiçã o foi
realizada respeitando-se as exigências legais.
O Requerente não é criminoso, não tem passagens pela polícia, não tem nenhum
envolvimento criminoso e nem histórico de violência e sim é um cidadão de bem, que
sente-se refém da criminalidade que assola nossa cidade, pois já teve seu
estabelecimento assaltada diversas vezes.
As situaçõ es que se amoldam ao art. 14 do Estatuto do Desarmamento merecem ser
analisadas à luz do princípio da ofensividade, como forma de temperar o rigor de uma
presunçã o absoluta e inflexível dos crimes de perigo abstrato, sob pena do cometimento de
graves injustiças.
Assim, a ofensividade deverá ser utilizada para rechaçar as hipó teses de crime impossível,
em que o comportamento humano jamais poderá levar o bem jurídico a lesã o ou a
exposiçã o a risco de lesã o. Quando, de antemã o, já se verifica que a conduta jamais poderá
colocar o interesse tutelado em risco, nã o há como presumir o perigo.
Nessa linha de raciocínio, a manutençã o do bem apreendido torna-se inó cua,
desproporcional, levando-se em consideraçã o também o disposto no art. 120 do Código
de Processo Penal, que permite a restituiçã o do objeto apreendido expressando que a
restituiçã o será ordenada nos pró prios autos quando nã o houver dú vida quanto ao direito
do Requerente.
Em suma, a restituiçã o da coisa apreendida pode ser deferida quando se verificar a
inexistência de interesse sobre o bem para a instrução penal, a inaplicabilidade da
pena de perdimento e a demonstração de propriedade do objeto pelo Requerente.
Nesse aspecto em especial, interesse sobre o bem para a instrução penal, o interesse
deve ser concreto, justificado pelo Ministério Público e não apenas alegado.

No presente caso, a pró pria autoridade policial poderia ter procedido a entrega do bem ao
Recorrente, pois nã o houve motivos para a apreensã o, tendo visto trata-se de tipo penal de
mera conduta e como a arma é devidamente registrada em nome do Requerente e estava
com o registro vá lido, nã o havia razõ es para a apreensã o.
Assim como não há razões concretas para o indeferimento do pedido de restituição
do bem pleiteado. Como dito, o r. Parquet não justificou sua alegação de “interesse
sobre o bem para a instrução penal”, situação que atinge as garantias constitucionais
individuais e fere o art. 120 do CPP.
O Estatuto do Desarmamento NÃO ordena a aplicaçã o da pena de perdimento da arma
apreendida nos casos em que a arma é registrada, portanto, no presente caso é
perfeitamente possível a restituiçã o com base no art. 120 do CPP e com base no pró prio
Estatuto do Desarmamento, pois a Lei deve ser interpretada em benefício do réu e nã o no
prejuízo deste, está é a má xima, portanto presente o requisito da inaplicabilidade da
pena de perdimento.
A propriedade do bem está sobejamente comprovada nos autos, assim como a validade do
registro da arma.
A arma apreendida já foi periciada, nã o existindo qualquer ó bice legal ao deferimento da
restituiçã o, daí ora se pretender a Reconsideraçã o da Decisã o exarada por V. Exa.
Ressalta-se que a arma sequer foi disparada, nã o estava municiada e sim acondicionada em
maleta apropriada e guardada no interior do veículo, situaçã o que nã o a torna instrumento
de cometimento de crimes. O Requerente é o legítimo proprietá rio. Além disso, trata-se de
objeto de uso lícito, razã o pela qual sua restituiçã o é permitida.
Inequívoco que somente há impedimento para a restituiçã o de arma de fogo registrada, ou
seja, objeto lícito, quando pairar dú vidas sobre sua propriedade, o que nã o é o presente
caso.
Quanto ao interesse dobem para o processo, o Parquet nã o demonstrou concretamente o
interesse e sendo o tipo penal em questã o, de mera conduto nã o assiste razã o a alegaçã o de
que há interesse para a instruçã o processual.
A arma já foi periciada, como consta nos autos, situaçã o que desvincula o interesse
processual à manutençã o da apreensã o do bem, devendo portanto, ser restituído ao
legítimo proprietá rio.
2.6 DO MÉRITO.
2.6.1 DO DIREITO À RESTITUIÇÃO DA ARMA APREENDIDA
Conforme se depreende dos autos nã o há qualquer circunstâ ncia maléfica, ilícita ou grau de
periculosidade que possa ser agregado ao fato de o Recorrente estar com o porte irregular
de uma arma de fogo de uso permitido, da qual possui o registro de posse.
A arma nã o foi disparada e sequer estava na cintura ou nas mã os do Recorrente, pois
estava desmunicada e acondicionada na maleta apropriada para transporte, ou seja, a arma
nã o oferecia nenhum tipo de risco a coletividade ou aos policias que abordaram o
Recorrente.
O Recorrente nã o estava cometendo nenhuma infraçã o de trâ nsito na direçã o de seu
veículo, nã o estava ingerindo bebida alcoó lica e nem com aparência de embriagues, assim
como nã o estava sob nenhum efeito alucinó geno e muito menos portava droga ou algum
objeto produto de crime.
A ú nica e exclusiva situaçã o, em tese, ilícita que havia contra o Recorrente é pelo fato de ser
o proprietá rio de uma arma da qual possui somente o registro de posse e nã o o registro de
porte e como a arma estava na maleta no interior do veículo, os Policias que abordaram o
Recorrente viram nessa possibilidade a oportunidade de lucrar e extorquiram o
Recorrente, praticando assim os crimes de abuso de poder e extorsã o, como se destaca a
seguir.
“Lei 13.869/2019: Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito:
Pena - detençã o, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pará grafo ú nico. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude. ”
“Có digo penal: Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e
com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusã o, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsã o praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo
anterior. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição
é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusã o, de 6 (seis)
a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesã o corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de
2009)”
O Recorrente já procedeu com as devidas denúncias na Corregedoria da Polícia Civil e
Militar, assim como, também, no Ministério Público Militar, pois almeja que os abusos
de autoridade sejam devidamente apurados e reprimidos, seguem em anexo as denú ncias e
respectivos andamentos dos processos administrativos.
O Recorrente almeja também que os Policias Militares que realizaram a abordagem que
desencadeou a prisã o em flagrante sejam processados criminalmente pelo crime de
extorsã o, com consta narrado nas respectivas denú ncias realizadas.
Patente, portanto, o direito do Recorrente em ter a arma de sua propriedade restituída.
A título de argumentaçã o, necessá rio analisar que o próprio inquérito policial é nulo,
pois foi resultado de uma abordagem policial totalmente injustificada combinada
com sequências de abuso de autoridade, constrangimentos e extorsão, resultando
assim em um procedimento na essência ilícito, nulo.
Contudo, com a formalizaçã o do flagrante pela Autoridade Policial esta, por sua vez,
emitindo os documentos essências para a legalidade procedimental, técnica do ato, o
flagrante fora homologado pela 1ª Vara de Inquéritos Policias de Belém, pois adstrito
apenas a aná lise formal.
O Processo Criminal em trâ mite pela 2ª Vara Criminal contra o Recorrente, será tramitado
ao MP para aplicaçã o do Art. 28-A.
Nã o há qualquer pendência processual como perícia pendente, necessidade de
reconhecimento ou outro procedimento que justifique a permanência da apreensã o do bem
de propriedade do Recorrente.
O Juízo a quo indeferiu o pedido de restituiçã o pautado na alegação do Ministério
Público de que o bem apreendido ainda interessa ao processo, contudo o
representante do MP nã o contextualizou, nã o identificou, nã o demonstrou a razã o dessa
necessidade, apenas alegou sem se dar ao mínimo trabalho de demonstrar as razõ es do seu
interesse.
O suposto interesse do MP para a manutenção da apreensão do bem deve ser
justificado sob pena ilegalidade, pois o Art. 120 do CPP permite a restituição quando
o em não interessa amis ao processo, assim, logicamente que o “interesse” deve ser
comprovado, sob pena de ofensa as garantias legais.
“PENAL E PROCESSUAL. RESTITUIÇÃO DE BENS APREENDIDOS. AUSÊNCIA DE
INTERESSE PARA O PROCESSO CRIMINAL. - Recomenda-se a restituiçã o de coisas
apreendidas em inquérito que nã o mais interessam à prova (perícia concluída), cuja posse
nã o constitui fato ilícito e nã o sã o produtos de crime. - Bem objeto de açã o de busca e
apreensã o deferida pelo Juízo Cível. Disponibilizaçã o do bem à Comarca de Rio Formoso.
(TRF-5 - ACR: 4083 PE 0011891-32.2004.4.05.8300, Relator: Desembargador Federal
Ridalvo Costa, Data de Julgamento: 06/04/2006, Terceira Turma, Data de Publicaçã o:
Fonte: Diá rio da Justiça - Data: 23/05/2006 - Pá gina: 402 - Nº: 97 - Ano: 2006)”
A Jurisprudência é farta e uníssona no sentido de autorizar a restituiçã o de arma de fogo
quando comprovada sua propriedade e validade do registro, vejamos:
“APELAÇÃ O CRIMINAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART. 14,
CAPUT, DA LEI N. 10.826/03). ARTEFATO APREENDIDO NO INTERIOR DO VEÍCULO DO
APELANTE. MATERIALIDADE E AUTORIA INCONTESTES. PLEITO VISANDO À
RESTITUIÇÃ O DO ARTEFATO BÉ LICO. AUTORIZAÇÃ O PARA O PORTE COM VALIDADE
EXPIRADA. VIABILIDADE CONDICIONADA AO NOVO REGISTRO. RECURSO PROVIDO
EM PARTE. De acordo com a jurisprudência "nã o sã o todos os instrumentos que podem ser
confiscados, mas somente os que consistem em coisas cujo fabrico, alienaçã o, uso, porte ou
detençã o constitui fato ilícito" (JTJ 184/294). Assim, é possível a restituição da arma de
fogo regularmente adquirida, desde que comprovada a renovação do registro.
(TJ-SC - APR: 20140911074 Coronel Freitas 2014.091107-4, Relator: Moacyr de Moraes
Lima Filho, Data de Julgamento: 31/03/2015, Terceira Câ mara Criminal)”
“APELAÇÃ O CRIMINAL - INCIDENTE DE RESTITUIÇÃ O DE COISAS APREENDIDAS -
PISTOLA TAURUS COM MUNIÇÕ ES, APARELHO CELULAR E RÁ DIOS COMUNICADORES -
CERTIFICADO DE REGISTRO DA ARMA DE FOGO E GUIA DE TRANSPORTE DO ARTEFATO
COM PRAZOS DE VALIDADE EXPIRADOS E SEM DOCUMENTAÇÃ O VISANDO A
RENOVAÇÃ O - CELULAR DE PROPRIEDADE DE TERCEIRO - RÁ DIOS COMUNICADORES
NECESSÁ RIOS PARA APURAÇÃ O DA OCORRÊ NCIA DE OUTRA INFRAÇÃ O PENAL -
PROCESSO PRINCIPAL AINDA EM FASE INSTRUTÓ RIA, PENDENTE DE SENTENÇA -
EXEGESE DO ART. 118 DO CPP - RECURSO DESPROVIDO. I - Tratando-se de arma
apreendida em razã o da prá tica do delito previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/03, inviá vel
se mostra a sua restituiçã o quando não comprovado o regular registro do artefato. II -
A restituiçã o das coisas apreendidas, mesmo apó s o trâ nsito em julgado da açã o penal, está
condicionada tanto à ausência de dúvida de que o requerente é seu legítimo
proprietário, quanto à licitude de sua origem, conforme as exigências postas nos
arts. 120 e 121 do Código de Processo Penal, c/c o art. 91, II, do Código Penal (STJ, RE
no RMS n. 50.550, Min. Humberto Martins, j. 12.12.2016). III - A teor do disposto no art. 118
do Có digo de Processo Penal, antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas
apreendidas nã o poderã o ser restituídas enquanto interessarem ao processo. (TJ-SC - APR:
00055471820158240045 Palhoça 0005547-18.2015.8.24.0045, Relator: Luiz Antô nio
Zanini Fornerolli, Data de Julgamento: 03/05/2018, Quarta Câ mara Criminal)”
“RECURSO DE APELAÇÃ O CRIMINAL – APREENSÃ O DE VEÍCULO AUTOMOTOR NO
INTERESSE DE AÇÃ O PENAL QUE VISA APURAR OS CRIMES DE ASSOCIAÇÃ O CRIMINOSA,
ROUBO CIRCUNSTANCIADO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO –
PEDIDO DE RESTITUIÇÃ O FORMULADO POR TERCEIRO “SUPOSTAMENTE” DE BOA-FÉ E
INDEFERIDO PELO JUÍZO SINGULAR – CONTROVÉRSIA ACERCA DA PROPRIEDADE DO
BEM APREENDIDO – ORIGEM LÍCITA DO BEM QUE NÃO FOI CRISTALINAMENTE
COMPROVADA – VEÍCULO QUE AINDA INTERESSA AO PROCESSO – IMPOSSIBILIDADE DA
RESTITUIÇÃ O DE COISA APREENDIDA ANTES DO TRÂ NSITO EM JULGADO –
INFRINGÊ NCIA AO DISPOSTO NO ART. 118, DO CPP – DECISÃ O MANTIDA – APELO
DESPROVIDO. Em se tratando de pedido de restituiçã o de coisa apreendida no interesse de
açã o penal, e havendo sérias dúvidas sobre a propriedade do bem, as partes serão
remetidas ao juízo cível, onde a questão será examinada com maior amplitude,
descabendo cogitar-se de discussã o quanto à pertinência da almejada restituiçã o em
recurso de apelaçã o criminal, desprovido que é de dilaçã o probató ria. Além do mais, antes
de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas nã o poderã o ser restituídas
enquanto interessarem ao processo [art. 118, do CPP]. Logo, considerando que a origem
lícita do automóvel não foi cristalinamente comprovada, tampouco sua propriedade,
e levando-se em consideraçã o ainda o fato de que o bem interessa ao processo principal,
que nã o se encontra sob o manto da coisa julgada, a permanência da constriçã o judicial é
medida que se impõ e. (TJ-MT - APL: 00014535820168110011 MT, Relator: GILBERTO
GIRALDELLI, Data de Julgamento: 04/10/2017, TERCEIRA CÂ MARA CRIMINAL, Data de
Publicaçã o: 16/10/2017)”
“Apelaçã o Criminal. Recurso visando restituiçã o de arma apreendida. Inquérito Policial
arquivado. Só é justificável o confisco de arma quando não acompanhada da
documentação exigida, expedida pela autoridade competente. Inviável o confisco, em
face da exibição do registro comprobatório de propriedade e autorização legal.
Recurso provido. (TJ-SC - APR: 876577 SC 1988.087657-7, Relator: José Roberge, Data de
Julgamento: 11/12/1995, Segunda Câ mara Criminal, Data de Publicaçã o: Apelaçã o criminal
n. 33.902, de Videira.)”
“PROCESSUAL PENAL. RECURSO DE APELAÇÃ O EM INCIDENTE DE RESTITUIÇÃ O DE
COISA APREENDIDA. PERÍCIA REALIZADA. PERDA DO INTERESSE NA MANUTENÇÃO
DO BEM E DOCUMENTOS APREENDIDOS. APELO PROVIDO. 1. Nos termos do artigo 118 do
Có digo de Processo Penal, antes de transitar em julgado a sentença, as coisas apreendidas
nã o poderã o ser restituídas enquanto interessarem ao processo. 2. Se a apreensão
justificava exclusivamente para o fim de possibilitar a realização de perícia no curso
da ação penal, a finalização dos exames técnicos torna possível a devolução
pleiteada, desde que a coisa seja lícita e não constitua produto, proveito ou
instrumento de crime, justamente por não mais interessar ao processo. 3. Apelo
provido, para determinar a devoluçã o das coisas apreendidas. (TRF-3 – ACR: 11574 SP
2003.61.05.011574-3, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARÃ ES, Data de
Julgamento: 19/10/2010, SEGUNDA TURMA)”
“APELAÇÃ O CRIMINAL – RESTITUIÇÃ O DE COISA APREENDIDA EM PROCESSO CRIME –
RECEPTAÇÃ O E ADULTERAÇÃ O DE SINAL IDENTIFICADOR – VEÍCULO AUTOMOTOR DE
PROPRIEDADE DE TERCEIRO – PERÍCIA JÁ REALIZADA – DESNECESSIDADE DE
MANUTENÇÃO DA APREENSÃO – BEM QUE NÃO INTERESSA À INSTRUÇÃO DO FEITO –
RECURSO PROVIDO. Sendo o veículo apreendido pertencente a terceiro estranho ao feito
criminal, não havendo qualquer elemento probatório de que tenha sido adquirido
com dinheiro proveniente de algum delito e, mais ainda, por não se vislumbrar
qualquer interesse na manutenção de sua apreensão para a elucidação de crime ou
de sua autoria, já tendo sido objeto de perícia, não há falar em qualquer
impedimento à pretendida restituição do bem. COM O PARECER – RECURSO PROVIDO.
(TJ-MS – APL: 08014015620128120006 MS 0801401-56.2012.8.12.0006, Relator: Des.
Dorival Moreira dos Santos, Data de Julgamento: 25/11/2013, 1ª Câ mara Criminal, Data de
Publicaçã o: 04/12/2013)”
“PENAL E PROCESSUAL. RESTITUIÇÃ O DE BENS APREENDIDOS. AUSÊ NCIA DE INTERESSE
PARA O PROCESSO CRIMINAL. – Recomenda-se a restituição de coisas apreendidas em
inquérito que não mais interessam à prova (perícia concluída), cuja posse não
constitui fato ilícito e não são produtos de crime. – Bem objeto de açã o de busca e
apreensã o deferida pelo Juízo Cível. Disponibilizaçã o do bem à Comarca de Rio Formoso.
(TRF-5 – ACR: 4083 PE 2004.83.00.011891-0, Relator: Desembargador Federal Ridalvo
Costa, Data de Julgamento: 06/04/2006, Terceira Turma, Data de Publicaçã o: Fonte: Diá rio
da Justiça – Data: 23/05/2006 – Pá gina: 402 – Nº: 97 – Ano: 2006)”
3. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer seja o presente recurso conhecido e provido, sendo reformada a
r. Decisão Interlocutória de Mérito constante no ID 27712040, com fulcro no Art. 120 do
CPP, ordenando assim que se proceda a restituiçã o do bem apreendido, Pistola marca
Taurus PT 938, calibre 380 ACP, N, KMR21651, com carregador contendo 15
(quinze) cartuchos intactos e mais um carregador contendo 14 (quatorze) cartuchos
intactos, devidamente registrada pelo Certificado de Registro Federal de Arma de
Fogo nº 902669448, de propriedade do Requerente como se comprova pela nota
fiscal em anexo, para o ora Requerente, como medida de justiça.
Termos em que,
Pede e Aguarda Deferimento.
Belém, 12 de junho de 2021.
Dra. Michelle de Oliveira Bastos
Advogada
OAB/PA 13429

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