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Introdução

ao Estudo da Responsabilidade Civil Extracontratual


1. Noção Histórica
1.1. Lei de Talião (olho por olho, dente por dente)

1.1.1. Vingança Privada: admite-se ao ofendido repelir a ofensa com igual ou com superior força

1.2. Lei das XII Tábuas

1.2.1. Adota, em grande parte, o sistema da Lei de Talião

1.2.1.1. Modelo de responsabilidade Pessoal

1.2.1.1.1. Ofensor responde pelo dano que causou com a própria vida ou com a liberdade.

1.3. Lex Poetelia Papiria

1.3.1. Adota o sistema de responsabilidade patrimonial, ou seja, o ofensor passa a responder


pelo dano que causou com seus bens.

1.3.1.1. É o sistema atual.

2. O Direito Civil Constitucional e a Responsabilidade Civil


2.1. A responsabilidade civil deve ser interpretada à luz dos princípios constitucionais

2.1.1. Dignidade humana


2.1.1.1. Sendo certo que a dignidade é o princípio maior, todas as condutas passíveis de
violar a dignidade da vítima devem ser objeto de reparação, ainda que da violação não tenha
decorrido um dano material direto. O que se busca com o sistema de responsabilidade é
também a promoção da dignidade humana, valendo-se do instituto como mecanismo viável
para evitar a prática de comportamentos tendentes a diminuir a pessoa em todas as suas
dimensões.

2.1.2. Igualdade ou isonomia

2.1.2.1. A relevância do princípio para o sistema de responsabilidade está em definir


tratamento isonômico para situações isonômicas, ou seja, não autorizar que aspectos
pessoais da vítima possam determinar o reconhecimento e o alcance da reparação. A
dignidade de A não pode prevalecer em detrimento da dignidade de B.

2.1.3. Solidariedade Social

2.1.3.1. A sua aplicabilidade pode ser percebida em dois sentidos

2.1.3.1.1. Solidariedade social no custeio e na reparação dos danos. A tendência mundial


se volta para a prevenção e para a diluição dos danos. Exemplo: seguro obrigatório em
favor das vítimas de acidente provocado por veículos.

2.1.3.1.2. A quebra da solidariedade social deve ser reconhecida como ato ilícito
indenizável. Exemplo: indenização por abandono afetivo.

3. Conceito de Responsabilidade Civil


3.1. Conceito Preliminar
3.1.1. A responsabilidade civil pode ser conceituada como o dever de reparar os danos
materiais, morais, estéticos ... causados por ato ilícito ou por abuso de direito, do qual decorre
prejuízo para a vítima ou para as pessoas que dela dependem (Tradicional).

3.1.2. Embora historicamente o sistema de responsabilidade civil tenha se preocupado em


estabelecer a reparação dos danos decorrentes de ato ilícito ou do abuso de direito, a tendência
é a evolução para um sistema voltado para a prevenção e reparação dos danos. É por isso, que
a nova doutrina denomina o conteúdo como Direito dos Danos.

3.2. É possível afirmar a existência de duas formas distintas de responsabilidade civil, no que se
refere ao responsável pela reparação:

3.2.1. Responsabilidade por ato próprio

3.2.1.1. O agente (o causador do dano) responde pelos efeitos decorrentes da sua conduta.

3.2.2. Responsabilidade por ato de terceiro

3.2.2.1. Existe uma distinção entre o causador do dano e o responsável pela reparação.

3.2.2.1.1. Fundamento da responsabilidade por ato de terceiro

3.2.2.1.1.1. Lei (Art. 932)

3.2.2.1.1.1.1. Pais por atos praticados por filhos menores

3.2.2.1.1.1.2. Empregador por ato praticado pelo empregado

3.2.2.1.1.1.3. Estado por ato praticado pelo agente público no exercício da sua
função
3.2.2.1.1.1.4. O tutor por ato praticado por animal que esteja sob a sua tutela

3.2.2.1.1.2. Contrato

3.2.2.1.1.2.1. As partes de um contrato podem estabelecer o dever de outrem, ou


seja, de pessoa distinta daquela que foi a causadora do dano, de responder pelos
prejuízos eventualmente configurados.

3.2.2.1.1.2.1.1. Exemplo: A instituição de um fundo garantidor para responder por


eventuais danos decorrentes de algumas vacinas empregadas no combate a
COVID-19.

3.3. A responsabilidade civil é especialmente Patrimonial

3.3.1. Surge da violação de um dever jurídico ou de um contrato

3.3.1.1. Violação de um dever jurídico

3.3.1.1.1. Responsabilidade Extracontratual

3.3.1.1.1.1. Art. 927 a 965

3.3.1.2. Violação de um contrato

3.3.1.2.1. Responsabilidade Contratual

3.3.1.2.1.1. Art. 389 a 420 do CC

3.3.2. Qual é a diferença entre a responsabilidade contratual e a responsabilidade


exrtracontratual?

3.3.2.1. É a MANIFESTAÇÃO DA VONTADE.

3.3.2.1.1. Se o fundamento da responsabilidade contratual é a manifestação da vontade, é


juridicamente possível fazer constar do contrato uma cláusula que estabeleça o "direito de
não indenizar"?

3.3.2.1.1.1. É juridicamente possível inserir em um contrato uma cláusula que


estabeleça uma limitação no dever de reparar os danos decorrentes de eventual ato
ilícito? Podem as partes limitar a aplicação do art. 927 do CC mediante cláusula que
afaste o dever de reparação decorrente da prática de ato ilícito (art. 186)?

3.3.2.1.1.1.1. Depende

3.3.2.1.1.1.1.1. Do tipo de responsabilidade civil/ do tipo de dever jurídico violado

3.3.2.1.1.1.1.1.1. Responsabilidade Civil Contratual

3.3.2.1.1.1.1.1.1.1. É sim possível a a criação de uma cláusula que


estabeleça a limitação do dever de reparar os eventuais danos decorrentes
do inadimplemento do contrato. Isso porque, sendo o contrato o resultado da
manifestação da vontade, as partes podem, observados os limites da Lei,
dispor sobre as obrigações decorrentes do negócio jurídico.

3.3.2.1.1.1.1.1.1.1.1. É preciso ter CAUTELA


3.3.2.1.1.1.1.1.1.1.1.1. 1 - A jurisprudência entende que, em se
tratando de relação de consumo, não é cabível a previsão/ aplicação de
cláusula que estabeleça, em detrimento do consumidor, o direito de
não indenizar.

3.3.2.1.1.1.1.1.1.1.1.2. 2 - Mesmo nos contratos paritários (Civis e


Empresariais), a cláusula que estabelece o direito de não indenizar (ou
que limita a responsabilidade do causador do ato ilícito) não pode
afastar/violar a Lei e, em especial, os princípios da função social dos
contratos e da boa-fé.

3.3.2.1.1.1.1.1.1.1.1.3. Conclusão: A melhor doutrina, com fundamento


na jurisprudência atual, tem sustentado, salvo nas hipóteses descritas
nos itens 1 e 2, a viabilidade da previsão de cláusula que tenha como
efeito a restrição/mitigação do dever de reparar/indenizar decorrente de
ato ilícito quando se tratar de responsabilidade contratual.

3.3.2.1.1.1.1.1.1.1.1.3.1. Mas é possível cláusula que "isenta" o dever


de reparar? Não, posto não ser admitida cláusula de
"irresponsabilidade", permitindo-se apenas a mitigação/limitação do
dever de reparar. Conclusão: uma cláusula que elimine a
responsabilidade civil não será permitida, posto violar a função social
do contrato.

3.3.2.1.1.1.1.1.2. Responsabilidade Extracontratual


3.3.2.1.1.1.1.1.2.1. É essencial registrar que a responsabilidade
extracontratual tem fundamento na prática de ato ilícito (art. 186 e 187) que,
por sua vez, conforme consta do art. 927, faz surgir para o agente o dever de
indenizar. Portanto, faz-se juridicamente inviável a tentativa de afastar
eventual responsabilidade civil extracontratual através de cláusula/ pacto
que estabeleça o "direito de não indenizar". Não pode o agente, por ato
próprio, negar a aplicação de norma de ordem pública (art. 927).

3.3.2.1.1.1.1.1.2.1.1. Uma vez configurado o dano decorrente da prática


de ato ilícito, a vítima deverá buscar a justa reparação mediante o
propositura de ação judicial no prazo prescricional previsto no art. 206,
§3º, V:

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